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Magistratura e Ministério Público CARREIRAS JURÍDICAS Damásio Educacional MATERIAL DE APOIO Disciplina: Direito Civil Professor: José Simão Aula: 12 | Data: 09/04/2015 ANOTAÇÃO DE AULA SUMÁRIO TEORIA GERAL DOS CONTRATOS 1. Suppressio e Surrectio 2. Adimplemento Substancial (Substantial Performance) RESPONSABILIDADE CIVIL 1. Conceito 2. Espécies 3. Responsabilidade Contratual 4. Responsabilidade Extracontratual TEORIA GERAL DOS CONTRATOS 1. Suppressio e Surrectio Suppressio: é o abandono de uma posição jurídica pelo não exercício do seu titular. Surrectio: é a aquisição de uma posição jurídica em decorrência da suppressio. O tempo gera uma expectativa na outra parte de não exercício da posição jurídica. A suppressio evita romper a confiança que a inatividade gera. Exemplo: locador que não aplica correção monetária do aluguel por suppressio não pode corrigi-lo retroativamente. Exemplo: o dia previsto para pagamento do aluguel é dia 05, mas na prática o inquilino só paga no dia 10. Se o proprietário não se opõe, ocorre suppressio quanto ao dia 05 e surrectio quanto ao dia 10. Exemplo: locador notifica locatário para desocupar imóvel, este não desocupa e o locador não propõe de imediato a ação de despejo, necessária será nova notificação em razão da suppressio. 2. Adimplemento Substancial (Substantial Performance) Artigo 330, CC. Pela teoria clássica o contrato pode ser totalmente cumprido ou inadimplido, ainda que o inadimplemento seja de pequena fração. O efeito do inadimplemento é que o credor pode optar por exigir as prestações faltantes mais perdas e danos ou a extinção do contrato mais perdas e danos. A figura do adimplemento substancial impede que o credor resolva o contrato, só possibilitando a cobrança das prestações restantes mais perdas e danos. O adimplemento substancial é aquele quase total, ou seja, há um pequeno descumprimento do contrato, não há no código padrão de cálculo do descumprimento, este decorre da função social e da boa-fé objetiva. Exemplo: o STJ negou busca e apreensão de veículo em que o comprador havia pago a quase totalidade da dívida – RESP 469.577. Também o STJ não admitiu reintegração de posse pelo credor de 135 carretas por adimplemento substancial (30 parcelas de 36) – RESP 1.200.105. Obs: o adimplemento substancial homenageia o princípio da conservação do negócio jurídico. Página 2 de 6 RESPONSABILIDADE CIVIL 1. Conceito É o dever que incumbe a certa pessoa de reparar os danos causados por ato próprio ou por ato de pessoa ou fato da coisa que dela dependa. A regra é que só se responde pelos próprios atos, sendo que a responsabilidade por ato de terceiro depende de expressa previsão legal. Exemplo: artigo 932 do CC. É o estudo do dano e da indenização. Indenizar significa repor o que se perdeu, ou seja, apagar o dano, colocando-se a vítima no estado anterior (a indenização não dá lucro e não incide em imposto de renda). 2. Espécies A responsabilidade se divide em duas espécies: a) Contratual: artigos 389 a 420, CC. É aquela que decorre do descumprimento de um vínculo obrigacional estabelecido pelas partes. Exemplo: inquilino que não paga aluguel. Exemplo: vendedor que não entrega a coisa. b) Extracontratual: chamada de aquiliana pela doutrina (em homenagem a Aquilio). Artigos 927 a 954, CC. É aquela em que há descumprimento do dever de cuidado (responsabilidade subjetiva) ou dano decorrente de uma atividade de risco (responsabilidade objetiva). Exemplo: batida de automóvel. 3. Responsabilidade Contratual São quatro os efeitos do inadimplemento: a) pagamento das perdas e danos: perdas e danos são os danos materiais, morais e estéticos. Cabe ao credor o ônus da prova, a multa é uma prefixação de perdas e danos. Obs: se as partes estipulam cláusula penal há prefixação das perdas e danos. A cláusula penal traz presunção absoluta de dano. Exemplo: multa de 10% para o atraso do aluguel. b) pagamento de juros de mora: são os frutos civis produzidos pelo capital. Trata-se de acessório. c) pagamento de correção monetária: é a reposição do valor de compra da moeda que se altera em razão da inflação. O índice oficial de correção é o IPC (índice de preços ao consumidor). Página 3 de 6 d) pagamento de honorários advocatícios: enunciado 426 do CFJ. Historicamente se tratava de honorários sucumbenciais, ou seja, pagos pelo derrotado em razão da sentença. Atualmente amplia-se o conceito para se cobrar também honorários contratuais, ou seja, o devedor inadimplente paga ao credor o que este pagou ao seu advogado. Obs: o sistema prevê tais efeitos apenas para inadimplemento culposo, pois se não houver culpa a obrigação simplesmente se extingue (caso fortuito ou força maior). - Mora x Inadimplemento Absoluto A diferença está na utilidade da prestação para o credor. Se esta se tornou inútil, o inadimplemento é absoluto, se ainda é útil estamos diante de mora. Exemplo: vestido de noiva entrega após o casamento, o inadimplemento é absoluto, afinal o vestido se tornou inútil após o casamento. Exemplo: tenho uma empresa de café, estou esperando os grãos de café para passar nas máquinas, os grãos chegam com atraso de 6 horas, trata-se de mora, afinal os grãos, mesmo com o atraso, serão utilizados, serão úteis. Obs: nas dívidas pecuniárias (em dinheiro) só há mora. Obs: no inadimplemento absoluto a prestação não mais pode ser cumprida, já a mora pode ser purgada (emendada), ou seja, a prestação pode ser cumprida e acrescida de perdas e danos, juros etc. - Incumprimento ou inadimplemento antecipado Pela regra geral do código civil, artigo 133, CC, o termo existe em favor do devedor nas relações contratuais, ou seja, a prestação não pode ser exigida antecipadamente, bem como não pode o credor requerer a extinção da obrigação antes do termo final. Contudo, há hipóteses em que é patente que o devedor não cumprirá a prestação antes mesmo do fim do prazo. Exemplo: construtora tem 3 anos para entregar a obra e, no meio do segundo, ano ainda não a iniciou. O direito admite inadimplemento antecipado, ou seja, que o credor requeira ao juiz a extinção da obrigação antes mesmo do termo final. Obs: o instituto se aplica mais comumente às obrigações de fazer em que fica obvia a impossibilidade de cumprimento nos prazos contratuais. - Violação positiva no contrato É criação alemã (alemão Staub) aplicada às hipóteses em que as partes cumprem as prestações centrais, mas descumprem os deveres anexos ou laterais. Exemplo: vendedor entrega o carro, mas descumpre o dever de informar que este tem problemas. O efeito da violação positiva é o pagamento de perdas e danos por aquele que descumpriu o dever. Página 4 de 6 - Mora O conceito de mora no Brasil é tríplice, pois se refere ao tempo, lugar e forma do pagamento e não apenas ao tempo. Espécies de mora: a) mora do devedor (debitoris, debendi, solvendi): para que haja mora do devedor, ele deve ser necessariamente culpado, sem culpa não há mora. A mora do devedor pressupõe culpa, sem culpa há mero retardo ou atraso, sem qualquer punição ao devedor. Exemplo: greve que impede o pagamento, não há culpa do devedor. b) mora do credor (creditoris, credendi, accipiendi): a lei não exige culpa para que o credor esteja em mora, ou seja, como o devedor seria sacrificado se arcasse com as despesas, o sistema opta por imputá-las ao credor mesmo sem culpa. Trata-se de desdobramento do princípio protetivo do devedor Favor Debitoris. 4. Responsabilidade Extracontratual - Diálogo entre responsabilidade civil e criminal: o mesmo ato ilícito pode repercutirna esfera civil e penal, não há hierarquia entre os juízos cível e criminal, sendo que o mesmo fato pode ser apurado simultaneamente em ambos os juízos. Contudo, existe uma relação entre as decisões: 1ª - se o réu for absolvido pelo juízo penal por negativa de autoria ou inexistência do fato, não poderá ser condenado no juízo cível. Obs: Se a absolvição se der por outros motivos (prescrição penal, ausência de provas etc) não se impede a condenação civil. Obs: o sistema corre o risco de decisões contraditórias. Exemplo: negativa de autoria por decisão penal e condenação do juízo cível, tal risco decorre de opção do sistema, mas na prática isso não se verifica. Pior seria sujeitar a vítima do ilícito à longa demora do processo penal para que esta iniciasse a ação cível. 2ª - a condenação criminal transitada em julgado permite a execução no juízo cível, ou seja, não se discute novamente autoria do ilícito ou culpa, artigo 63 do CPP. 3ª - artigo 387, IV, CPP, o juízo criminal pode fixar valor mínimo de indenização em favor da vítima. Caso haja tal condenação, o valor deve ser abatido da indenização civil. 4ª – pelo artigo 200 do CC quando a pretensão se originar de fato que deva ser apurado no juízo criminal, não correrá a prescrição até a respectiva sentença penal definitiva. É hipótese de suspensão da prescrição civil. Página 5 de 6 - Elementos da Responsabilidade Civil Extracontratual: Artigo 186, CC + artigo 927, CC: Aquele que por ação ou omissão voluntária (conduta humana) com negligência ou imprudência (culpa) violar direito e causar um dano (nexo causal), ainda que exclusivamente moral, pratica ato ilícito e fica obrigado a reparar o dano (dano). a) conduta humana; b) culpa; c) nexo causal; d) dano. Se um dos elementos não estiver presente desaparece o dever de reparar o dano, não há dever de indenizar. - Conduta Humana: a conduta humana pode ser comissiva (ação) ou omissiva (omissão). A responsabilidade por omissão pressupõe um dever de agir que foi descumprido, se não há dever de agir não há responsabilidade por omissão. Exemplo: na omissão de socorro o dever é de informar a autoridade pública e não de socorrer pessoalmente a vítima. A responsabilidade por ato de terceiros é excepcional no sistema e pode ter duas origens: 1) a vontade da pessoa (exemplo: fiador); 2) por força de lei (artigo 932 do CC). Hipóteses do artigo 932: Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil: I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia; II - o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas condições; III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele; IV - os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se albergue por dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos seus hóspedes, moradores e educandos; V - os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até a concorrente quantia. I) Problema dos pais divorciados e a responsabilidade civil: com o divórcio não se perde a autoridade decorrente do poder familiar, mas o que se discute é a questão da companhia, esta não significa presença física, mas sim pode de direção e dever de vigilância, assim, temos duas correntes: 1ª corrente – se o dano for causado quando o menor estiver com o guardião só este responde. Já se for no dia da visita só o genitor que a detém responde. Razão: ninguém pode ser obrigado ao impossível. Página 6 de 6 2ª corrente – os danos causados por menor decorrem de problemas com a educação (culpa in educando), logo, sempre responderão o pai e a mãe de forma solidária (artigo 942, parágrafo único). Obs: a regra geral é que aquele que paga dívida alheia tem direito de regresso, mas no caso de o ascendente indenizar vítima de dano causado por seu descendente não terá direito de regresso, artigo 934, CC. II) O empregador ou comitente quanto aos danos causados pelo empregado ou preposto no exercício de suas funções ou em razão delas: O empregado tem as características do artigo 3º da CLT e o preposto tem subordinação sem vínculo empregatício. III) Os donos de hotel, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se albergue por dinheiro, mesmo para fins de educação por seus hospedes, moradores e educandos: como resolver a relação entre responsabilidade dos pais e da escola para os danos causados dentro da escola? Pela tese da culpa in educando pais e escola respondem solidariamente, os pais porque educaram mal e a escola porque não vigiou. Pela outra tese apenas a escola responde, pois ela é que tinha a possibilidade de fazer cessar o dano. IV) Os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime até a concorrente quantia: nesta hipótese não temos verdadeiramente responsabilidade civil por ato de terceiro, mas sim terceiros beneficiados pelo ilícito alheio que apenas perdem o benefício que tiverem. Exemplo: sequestrador compra em nome dos pais um imóvel, os pais não respondem por todo o valor do resgate, mas apenas perdem a casa. Obs: regra análoga se encontra no artigo 1.659, IV, em que o cônjuge não responde pelos atos ilícitos praticados pelo outro, mas perde o proveito econômico que teve com o ilícito. Exemplo: marido desvia dinheiro da empresa e compra um imóvel, o cônjuge perde a meação. Conclusão: o inciso V do artigo 932 que trata do ilícito não exige que se apure boa-fé do beneficiário, ou seja, conhecendo ou não o ilícito o cônjuge ou o beneficiário perdem a vantagem econômica. Próxima aula: culpa.
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