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Magistratura e Ministério Público CARREIRAS JURÍDICAS Damásio Educacional MATERIAL DE APOIO Disciplina: Direito Civil Professor: José Simão Aula: 17 | Data: 11/05/2015 ANOTAÇÃO DE AULA SUMÁRIO 1. Afetividade como valor jurídico 1. Afetividade como valor jurídico Trata-se de analisar o afeto como forma de criação de vínculo jurídico de parentesco. Desde 1980 o professor João Baptista Villela construiu doutrinariamente a noção pela qual o parentesco não é apenas uma construção biológica, mas também sociológica baseada no afeto – artigo: “da desbiologização da paternidade”. O código civil, no artigo 1597 determina que o parentesco será natural se for consanguíneo e civil se de outra origem, admitindo-se, então, que o parentesco socioafetivo é forma de parentesco civil. Também a jurisprudência reconhece que o afeto forma parentesco e tal permissa não se questiona – RESP 450.566/RS. Na sequencia o TJPE pelo provimento 9/2013 admite o reconhecimento administrativo pelo pai socioafetivo sem necessidade de ação judicial, desde que o filho não tenha o nome do pai indicado na certidão de nascimento, em igual sentido provimentos do TJMA e TJCE. O STF vai analisar a questão do afeto no REXT com Ag 692.186/PB que foi admitido por ter repercussão geral. Na construção da socioafetividade a doutrina se utilizou da conhecida “posse do estado de filho” que servia para provar a filiação em caso de extravio da certidão de nascimento. A posse do estado de filho se baseia em três elementos: 1) nominativo/nomen: o filho tem o sobrenome do pai; 2) tractatio/tractus: filho e pai se tratam como tal; 3) reputatio/fama: a sociedade os reconhece como pai e filho. Atualmente o elemento do nome não é relevante, bastando o trato e a fama. Casuística: 1º caso - homem que reconhece como seu filho biológico de terceiro e conhece tal fato. É a chamada adoção “a brasileira”, pois não há um processo de adoção, mas apenas uma falsa declaração pelo pai afetivo. O STJ entende que a ação negatória será improcedente, pois aquele que criou o vínculo afetivo não pode desfazê-lo em prejuízo do filho – RESP 1.244.957/SC. 2º caso – homem que acredita que o filho é seu quando na realidade não o é. A paternidade se formou a partir de um erro (falsa noção da realidade). Os tribunais admitem indenização por dano moral a ser paga pela mulher que traiu o marido e este criou filho alheio. Contudo, o precedente do STJ indica que o amante não responde pelos danos, pois não é dele o dever de fidelidade – RESP 922.462/SP. Há ainda ação negatória promovida pelo homem para desfazer a paternidade, já que nasceu com base em erro, o STJ entende que a ação é procedente, já que houve erro como vício do consentimento – RESP 1.330.404/RS. Obs: a consanguinidade prevalece sobre o afeto e a criança fica sem pai (a criança fica órfã com pai vivo). Página 2 de 2 3º caso – um terceiro (que não o pai ou o filho socioafetivo) propõe ação anulatória para desconstituir o vínculo afetivo e obter vantagem sucessória. A ação tem um único objetivo: o patrimonial. O STJ não admite que terceiros desfaçam o vínculo, pois não fizeram parte de sua constituição. A ação anulatória é improcedente – RESP 1.259.460/SP. 4º caso – pessoa que descobre ser filha biológica de terceiro, mas já tem seu pai socioafetivo. Segundo o STJ cabe à pessoa optar entre a verdade biológica e a afetiva, sendo que a biológica prevalece sobre a afetiva se esta for a vontade do filho – RESP 1.167.993/RS e RESP 1.401.719/MG. Obs: não se pode confundir o direito à ascendência genética com a paternidade. O primeiro é direito à informação que não gera parentesco, já o segundo é direito de família com todos os seus efeitos, se fossem sinônimos, no caso da adoção ou da técnica heteróloga o filho poderia buscar a paternidade do ascendente genético. 5º caso – multiparentalidade: o TJSP admitiu multiparentalidade na seguinte hipótese: sujeito fica viúvo, tem filho pequeno quando se casa novamente. A madrasta (ascendente de primeiro grau por afinidade) passa a ocupar posição de mãe. Nesta hipótese admite-se dupla maternidade ao lado da paternidade. Obs: não são rompidos os vínculos com a família biológica materna. No mesmo sentido temos decisão do TJRS e do TJDFT. Há também o caso do homem que ignora ser pai e quando descobre ingressa com ação investigatória de paternidade, mas o filho já foi criado por outro homem (pai socioafetivo). Os precedentes de primeira instância admitem a dupla paternidade ao lado da maternidade. O melhor fundamento é a pluralidade de formas familiares, não havendo vedação à multiparentalidade. Obs: o melhor interesse da criança não pode ser invocado para filhos maiores e pode não estar presente no caso concreto. Próxima aula: casamento.