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Direio Civil Aula 19 Material de Apoio Magistratura

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Magistratura e Ministério Público 
CARREIRAS JURÍDICAS 
Damásio Educacional 
MATERIAL DE APOIO 
 
Disciplina: Direito Civil 
 Professor: José Simão 
Aula: 19 | Data: 18/05/2015 
 
 
ANOTAÇÃO DE AULA 
SUMÁRIO 
 
CASAMENTO 
1. Planos do Casamento 
 
REGIMES DE BENS 
1. Princípios dos Regimes de Bens 
 
 
CASAMENTO 
 
1. Planos do Casamento 
 
1) Plano da Existência 
 
2) Plano da Validade 
 
– Casamento Nulo (art. 1.548, CC) 
Infração aos impedimentos matrimoniais (art. 1.521, CC). Não podem se casar: 
 
Inciso III – Adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem foi cônjuge do adotante. Na 
realidade o inciso III traz duas hipóteses de parentesco por afinidade na linha ascendente, logo repete o inciso 
anterior. 
 
A razão história da regra é que no antigo CC existia a adoção simples em que o parentesco se restringia ao 
adotante e ao adotado (parentesco parcial), logo o impedimento era necessário, pois o parentesco por afinidade 
não se estabelecia. 
 
Inciso IV – Os irmãos bilaterais, também chamados de germanos, de mesmo pai e mesma mãe. Os irmãos 
unilaterais: Se de mesmo pai, mas mães diferentes são chamadas de consanguíneos; Se de mesma mãe e pais 
diferentes são chamados de uterinos. 
 
O Código também proíbe o casamento do colateral de 3º Grau inclusive. O casamento entre tios e sobrinhos 
recebe o nome de casamento avuncular. Na vigência do antigo Código a proibição foi afastada pelo Decreto 
3.200/41. A autorização será judicial e dependerá de 2 laudos médicos que atestem não haver riscos para a prole. 
 
O novo Código Civil revogou ou não o Decreto 3.200/41? 
Pelo critério da especialidade o Decreto continua a produzir efeitos, não tendo sido revogado pelo CC que é Lei 
geral (Enunciado 98 do CJF). 
 
Para o casamento avuncular homoafetivo é necessária à realização de exames? 
O Decreto 3.200/41 deixa claro que o único óbice é a eugenia, e não a repugnância social, logo como a eugenia 
não é possível, o exame é desnecessário, pois não haverá reprodução natural. 
 
 
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Obs.: O casamento autorizado pelo juiz se dará por separação obrigatória de bens (art. 1.641, CC). 
 
Inciso V – O adotado com o filho do adotante. 
O inciso é desnecessário, pois não se admite adoção simples atualmente. 
 
. Legitimação para oposição dos impedimentos 
Qualquer pessoa capaz tem legitimidade para oposição dos impedimentos, devendo o oficial do registro e o juiz 
de paz, reconhece-los de ofício. A oposição pode ocorrer até a celebração do casamento e depois só caberá ação 
declaratória de nulidade do casamento (art. 1.522 do CC). 
 
Art. 1.522, CC. Os impedimentos podem ser opostos, até o momento 
da celebração do casamento, por qualquer pessoa capaz. 
Parágrafo único. Se o juiz, ou o oficial de registro, tiver conhecimento 
da existência de algum impedimento, será obrigado a declará-lo. 
 
– Casamento Anulável (art. 1.560, CC) 
São três as questões que suscita o casamento anulável: 
Qual o prazo decadencial para anulação? 
Quem tem legitimidade para anulação? 
Quais são as causas de convalidação? 
 
Nota: As regras de anulabilidade da parte geral não podem ser transpostas para a parte especial, que tem 
preceitos próprios quanto ao casamento. 
 
Ex.: Casamento de pessoa com menos de 16 anos – Pela parte geral o menor impúbere pratica atos nulos quando 
não representado e estes não podem ser confirmados, ratificados. Já o casamento do menor impúbere sem 
autorização judicial é apenas anulável e se convalida em duas hipóteses: 
. Gravidez. 
. Se o menor ao completar 16 anos confirmar o casamento com autorização dos pais. 
 
Ex.: A parte geral admite anulação dos negócios jurídicos por erro, dolo, coação, estado de perigo e lesão. 
Contudo para o casamento só se admite anulação por erro e coação, não se mencionando o dolo, isso porque 
para fins de anulação de casamento erro (engano espontâneo) e dolo (engano induzido) produzem o mesmo 
efeito: Casamento Anulável (art. 1.557, I, CC). 
 
3) Plano da Eficácia 
São efeitos produzidos pelo casamento: Os deveres do casamento e os regimes de bens. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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REGIMES DE BENS (art. 1.639 e seg. do CC) 
 
É o estatuto patrimonial dos cônjuges ou companheiros. 
 
1. Princípios dos Regimes de Bens 
 
1) Autonomia Privada: Os cônjuges podem optar por um dos regimes tipificados no Código Civil (comunhão 
universa, comunhão parcial, participação final nos aquestos e separação de bens). Ainda os nubentes podem 
adotar um regime hibrido ou misto em que há um regime básico com variação. Ex.: Comunhão universal, sem 
comunicação dos bens herdados. 
 
– Exceções à autonomia privada 
 
1ª Exceção 
A lei impõe o regime da separação de bens, que é chamada de legal ou obrigatória, em três hipóteses: 
a. Maiores de 70 anos. 
b. Os que casam com autorização judicial. 
c. Os que se casam em infração as causas suspensivas do art. 1.523, CC. 
- O divorciado que não fez partilha de bens quanto ao antigo cônjuge. 
- O viúvo ou viúva que não fez inventário dos bens do falecido, tendo o falecido filhos. 
 
As regras restritivas de direito não podem sofrer interpretação analógica ou extensiva, sob pena de virarem regra 
e não exceção (Carlos Maximiliano). Assim a separação obrigatória do casamento não pode ser transposta para 
união estável. Contudo o STJ entendeu que o casamento não pode ter desvantagem sobre a união estável, razão 
pela qual, aplica a separação obrigatória à união estável (orientação pacífica). 
 
2ª Exceção: Indivisibilidade do regime. 
Como os cônjuges são iguais não pode haver distinção ou fracionamento nos efeitos do regime, ou seja, 
comunhão para um e separação para o outro. 
 
Obs.: A lei pode cindir os efeitos do regime e o faz na hipótese de casamento putativo em que apesar de nulo ou 
anulável o cônjuge de boa fé recebe os seus efeitos. Ex.: O bígamo, ciente da bigamia perde a meação sobre os 
bens do cônjuge enganado, mas o engando de boa-fé mantém a meação sobre os bens do bígamo. 
 
 
2) Princípio da Mutabilidade Justificada ou Motivada 
O regime de bens era imutável no antigo Código, mas passou a ser mutável no atual. A dúvida que surgiu é se nos 
casamentos anteriores o regime poderia ser alterado, como estamos no plano da eficácia, aplicando-se o artigo 
2.035, CC admite-se a mudança, esse entendimento é pacífico (Enunciado 260, CJF e RESP 1.119.462/MG). 
 
DIREITO DE FAMÍLIA. CASAMENTO CELEBRADO NA VIGÊNCIA DO 
CÓDIGO CIVIL DE 1916. REGIME DE BENS. ALTERAÇÃO. 
POSSIBILIDADE. EXIGÊNCIAS PREVISTAS NO ART. 1.639, § 3º, DO 
CÓDIGO CIVIL. JUSTIFICATIVA DO PEDIDO. DIVERGÊNCIA QUANTO À 
CONSTITUIÇÃO DE SOCIEDADE EMPRESÁRIA POR UM DOS 
CÔNJUGES. RECEIO DE COMPROMETIMENTO DO PATRIMÔNIO DA 
 
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ESPOSA. MOTIVO, EM PRINCÍPIO, HÁBIL A AUTORIZAR A 
MODIFICAÇÃO DO REGIME. RESSALVA DE DIREITOS DE TERCEIROS. 1. 
O casamento há de ser visto como uma manifestação vicejante da 
liberdade dos consortes na escolha do modo pelo qual será 
conduzida a vida em comum, liberdade essa que se harmoniza com o 
fato de que a intimidade e a vida privada são invioláveis e exercidas, 
na generalidade das vezes, em um recôndito espaço privado também 
erguido pelo ordenamento jurídico à condição de "asilo inviolável". 2. 
Assim, a melhor interpretação que se deve conferir ao art. 1.639, § 
2º, do CC/02 é a que não exige dos cônjuges justificativas exageradas 
ou provas concretas do prejuízo na manutenção do regime de bens 
originário, sob pena de se esquadrinhar indevidamente a própria 
intimidade e a vida privada do consortes. 3. No caso em exame, foi 
pleiteada a alteração do regime de bens do casamento dos ora 
recorrentes, manifestando eles como justificativa a constituição de 
sociedade de responsabilidade limitada entre o cônjuge varão e 
terceiro,providência que é acauteladora de eventual 
comprometimento do patrimônio da esposa com a empreitada do 
marido. A divergência conjugal quanto à condução da vida financeira 
da família é justificativa, em tese, plausível à alteração do regime de 
bens, divergência essa que, em não raras vezes, se manifesta ou se 
intensifica quando um dos cônjuges ambiciona everedar-se por uma 
nova carreira empresarial, fundando, como no caso em apreço, 
sociedade com terceiros na qual algum aporte patrimonial haverá de 
ser feito, e do qual pode resultar impacto ao patrimônio comum do 
casal. 4. Portanto, necessária se faz a aferição da situação financeira 
atual dos cônjuges, com a investigação acerca de eventuais dívidas e 
interesses de terceiros potencialmente atingidos, de tudo se dando 
publicidade (Enunciado n. 113 da I Jornada de Direito Civil CJF/STJ). 5. 
Recurso especial parcialmente provido. 
 
– Requisitos para mudança do regime 
 
. A mudança deve ser judicial de jurisdição voluntária, sem litigio. Não se admite mudança por escritura pública, 
pois só se admite por sentença, logo é nula a escritura de pacto pós-nupcial. 
 
. O pedido deve ser motivado. A motivação na realidade pode ser de qualquer ordem, como por exemplo a 
divergência conjugal quanto a vida financeira da família (RESP 1.119.462/MG) e na realidade a motivação acaba 
sendo inútil, pois quando ocorre o casamento não se exige motivação para escolha do regime. Por fim se o juiz 
não aceitar a motivação os cônjuges sempre podem se divorciar e casar novamente (TJ/RS 7004.240.10.83, julho 
de 2011). 
 
Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. REGIME DE BENS. MODIFICAÇÃO. 
INTELIGÊNCIA DO ART. 1.639, § 2º, DO CÓDIGO CIVIL. DISPENSA DE 
CONSISTENTE MOTIVAÇÃO. 1. Estando expressamente ressalvados os 
interesses de terceiros (art. 1.639, § 2º, do CCB), em relação aos 
quais será ineficaz a alteração de regime, não vejo motivo para o 
Estado Juiz negar a modificação pretendida. Trata-se de indevida e 
 
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injustificada ingerência na autonomia de vontade das partes. Basta 
que os requerentes afirmem que o novo regime escolhido melhor 
atende seus anseios pessoais que se terá por preenchida a exigência 
legal, ressalvando-se, é claro, a suspeita de eventual má fé de um dos 
cônjuges em relação ao outro. Três argumentos principais militam 
em prol dessa exegese liberalizante, a saber: 1) não há qualquer 
exigência de apontar motivos para a escolha original do regime de 
bens quando do casamento; 2) nada obstaria que os cônjuges, vendo 
negada sua pretensão, simulem um divórcio e contraiam novo 
casamento, com opção por regime de bens diverso; 3) sendo 
atualmente possível o desfazimento extrajudicial do próprio 
casamento, sem necessidade de submeter ao Poder Judiciário as 
causas para tal, é ilógica essa exigência quanto à singela alteração do 
regime de bens. 2. Não há qualquer óbice a que a modificação do 
regime de bens se dê com efeito retroativo à data do casamento, 
pois, como já dito, ressalvados estão os direitos de terceiros. E, sendo 
retroativos os efeitos, na medida em que os requerentes pretendem 
adotar o regime da separação total de bens, nada mais natural (e até 
exigível, pode-se dizer) que realizem a partilha do patrimônio comum 
de que são titulares. 3. Em se tratando de feito de jurisdição 
voluntária, invocável a regra do art. 1.109 do CPC, para afastar o 
critério de legalidade estrita, decidindo-se o processo de acordo com 
o que se repute mais conveniente ou oportuno (critério de 
equidade). DERAM PROVIMENTO. UNÂNIME. (Apelação Cível 
Nº 70042401083, Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, 
Relator: Luiz Felipe Brasil Santos, Julgado em 28/07/2011) 
 
Próxima aula 
- Motivos comumente utilizados para mudança do regime.

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