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DIREITO CIVIL VI DIREITO DE FAMÍLIA Unidade I. Direito das Famílias I.1. Conceito e Evolução histórica de Família: Família é agrupamento humano de pelo menos duas pessoas que, em torno dos laços de afetividade, resolve, à luz da dignidade da pessoa humana, desenvolver a sua felicidade. Centro da realização dos preceitos fundamentais; lato sensu, o vocábulo família abrange todas as pessoas ligadas por vínculo de sangue e que procedem, portanto, de um tronco ancestral comum, bem como as unidas pela afinidade e pela adoção. Compreende os cônjuges e companheiros, os parentes e os afins. Para determinados fins, especialmente sucessórios, o conceito de família limita-se aos parentes consanguíneos em linha reta e aos colaterais até o quarto grau. As leis em geral referem-se à família como um núcleo mais restrito, constituído pelos pais e sua prole, embora esta não seja essencial à sua configuração. Trata-se de instituição jurídica e social, resultante de casamento ou união estável, formada por duas pessoas de sexo diferente com a intenção de estabelecerem uma comunhão de vidas e, via de regra, de terem filhos a quem possam transmitir o seu nome e seu patrimônio. No direito romano a família era organizada sob o princípio da autoridade. O pater familias exercia sobre os filhos direito de vida e de morte (ius vitae ac necis). Podia, desse modo, vendê- los, impor-lhes castigos e penas corporais e até mesmo tirar-lhes a vida. A mulher era totalmente subordinada à autoridade marital e podia ser repudiada por ato unilateral do marido. O pater exercia a sua autoridade sobre todos os seus descendentes não emancipados, sobre a sua esposa e as mulheres casadas com manus com os seus descendentes. A família era, então, simultaneamente, uma unidade econômica, religiosa, política e jurisdicional. O ascendente comum vivo mais velho era, ao mesmo tempo, chefe político, sacerdote e juiz. Comandava, oficiava o culto dos deuses domésticos e distribuía justiça. Havia, inicialmente, um patrimônio familiar, administrado pelo pater. Somente numa fase mais evoluída do direito romano surgiram patrimônios individuais, como os pecúlios, administrados por pessoas que estavam sob a autoridade do pater. Com o tempo, a severidade das regras foi atenuada, conhecendo os romanos o casamento sine manu, sendo que as necessidades militares estimularam a criação de patrimônio independente para os filhos. Com o Imperador Constantino, a partir do século IV, instala-se no direito romano a concepção cristã da família, na qual predominam as preocupações de ordem moral. Aos poucos foi então a família romana evoluindo no sentido de se restringir progressivamente a autoridade do pater, dando-se maior autonomia à mulher e aos filhos, passando estes a administrar os pecúlios castrenses (vencimentos militares). Em matéria de casamento, entendiam os romanos necessária a affectio não só no momento de sua celebração, mas enquanto perdurasse. A ausência de convivência, o desaparecimento da afeição era, assim, causa necessária para a dissolução do casamento pelo divórcio. Os canonistas, no entanto, opuseram-se à dissolução do vínculo, pois consideravam o casamento um sacramento, não podendo os homens dissolver a união realizada por Deus: quod Deus conjunxit homo non separet. Durante a Idade Média as relações de família regiam-se exclusivamente pelo direito canônico, sendo o casamento religioso o único conhecido. Embora as normas romanas continuassem a exercer bastante influência no tocante ao pátrio poder e às relações patrimoniais entre os cônjuges, observava-se também a crescente importância de diversas regras de origem germânica. Podemos dizer que a família brasileira, como hoje é conceituada, sofreu influência da família romana, da família canônica e da família germânica. É notório que o nosso direito de família foi fortemente influenciado pelo direito canônico, como consequência principalmente da colonização lusa. As Ordenações Filipinas foram a principal fonte e traziam a forte influência do aludido direito, que atingiu o direito pátrio. No que tange aos impedimentos matrimoniais, por exemplo, o Código Civil de 1916 seguiu a linha do direito canônico, preferindo mencionar as condições de invalidade. Só recentemente, em função das grandes transformações históricas, culturais e sociais, o direito de família passou a seguir rumos próprios, com as adaptações à nossa realidade, perdendo aquele caráter canonista e dogmático intocável e predominando “a natureza contratualista, numa certa equivalência quanto à liberdade de ser mantido ou desconstituído o casamento”. I.2. A família na CF/88: Foi a primeira Constituição a tratar de família. Reconheceu que a família é a principal célula do Estado e ofereceu proteção integral a esta. I.3. Princípios constitucionais do direito de Família o Dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, CF): O princípio do respeito à dignidade da pessoa humana constitui, assim, base da comunidade familiar, garantindo o pleno desenvolvimento e a realização de todos os seus membros, principalmente da criança e do adolescente. (capacidade normogenética = um macro princípio, constrói princípio e regra). o Isonomia (art. 5º, “caput”, art. 226, § 5º CF): A mulher divorciada perdeu o foro privilegiado; o homem deixou de ser considerado a cabeça da casa (pátrio poder passou a ser poder familiar); igualdade entre as entidades familiares (casamento, união estável, família monoparental, coparental, anaparental e reconstituída/mosaico); isonomia entre cônjuges/companheiros na constância da entidade familiar; perda da preferência da mulher na guarda dos filhos; isonomia entre os filhos (proibição de discriminação seja por sexo, idade ou por não serem filhos de sangue). o Solidariedade familiar (art. 228, CF): Dever de cuidado e assistência entre todos os membros da entidade familiar. o Planejamento familiar (art. 226 § 7º, CF): (paternidade responsável + dignidade da pessoa humana); liberdade de ter ou não prole; proibição da intervenção estatal ou privada no desejo do casal de ter filhos. OBS: O EPD (estatuto da pessoa com deficiência) em seu art. 6º veda a esterilização compulsória de pessoas com deficiência. É vedada a esterilização compulsória, mas é possível desde que sejam preenchidos os requisitos legais, quais sejam: + de 35 anos, pelo menos 02 filhos vivos e maiores de um ano de idade, consentimento do cônjuge/companheiro por escritura pública. É livre decisão do casal, fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável. Essa responsabilidade é de ambos os genitores, cônjuges ou companheiros. A Lei n. 9.253/96 regulamentou o assunto, especialmente no tocante à responsabilidade do Poder Público. O Código Civil de 2002, no art. 1.565, traçou algumas diretrizes, proclamando que “o planejamento familiar é de livre decisão do casal” e que é “vedado qualquer tipo de coerção por parte de instituições públicas e privadas”. o Proteção integral aos membros das entidades familiares (art. 227, §§, CF): Criação de microssistemas jurídicos (ECA, Estatuto da 1ª infância, Estatuto do Idoso, Estatuto da juventude: 16-26 anos); criação de varas especializadas; criação de processo com ritos especiais; prioridade de tramitação dos feitos; criação do foro privilegiado; criação de estabelecimentos prisionais próprios, de acordo com a idade e o sexo. I.4. Princípios Civis do Direito de Família o Afetividade (união estável, monoparental, coparental, decorrente de família reconstituída): Reconhece que o afeto, mesmo que presumido no casamento, é elemento caracterizador de família. Entende-se que casamento + afeto = força motriz e caracterizadora das entidades familiares. RE898060- Multiparentalidade o Monogamia (art. 1566, I, CC): Decorre do dever de fidelidade entre cônjuges e companheiros. OBS: Na união estável (art. 1724)a expressão LEALDADE (boa-fé objetiva - confiança) é entendida também como dever de fidelidade. Unidade II. Do Casamento II.2. Conceito: É a união formal (precedida por processo de validação) entre 02 pessoas, independentemente do sexo (RES 175, CNJ; ADIN 4277; ADPF 132), que através de ato solene resolvam estabelecer plena comunhão de vida (mancomunhão), por força de expressa manifestação de vontade (SIM), perante uma autoridade competente (juiz de paz ou juiz da VRP ou autoridade eclesiástica) ao qual o Estado empresta validade e eficácia jurídicas. OBS: No Brasil não se admite (ainda) que o casamento seja celebrado por autoridade espírita ou de religião afrodescendente. OBS: Se o casamento acontece num local onde a autoridade se encontra são duas testemunhas, se for fora, paga-se um preço considerável e passam a ser 4 testemunhas. Ocorre sempre de portas abertas para que a qualquer momento possa-se entrar alguém alegando impedimentos. II.2. Natureza jurídica do casamento Instituição: É regido por preceito de ordem pública; Contrato: É regido por princípio de direito privado; Mista: Ora se comporta como instituição, ora como contrato. II.3. Requisitos para casamento Capacidade núbil (16 anos completos). OBS: Entre 16 e 18 anos incompletos é necessária a autorização de ambos os pais, ou de um, na falta do outro, ou mesmo dos representantes legais (tutores/curadores). A autorização é REVOGÁVEL até a data da celebração. OBS: No caso de recusa injustificada por parte dos pais, é possível o suprimento judicial da vontade (recusa justificada = inimigos capitais, por exemplo, no caso de o pretendente do relativamente incapaz ser a pessoa que matou o seu pai); OBS: Até o advento da lei 13.811/19 era possível o casamento abaixo da idade núbil, nesses casos: 1) mulher grávida menor de 16 anos; 2) para afastar sanção penal (menino de 19 que engravidava menina de 13, casava e isso afastava o estupro). Inexistência de impedimentos matrimoniais (art. 1521, CC) Submissão ao processo de habilitação II.4. Hipóteses de impedimentos matrimoniais (art. 1521, CC): Impedem a contração das núpcias pelos nubentes que não detém legitimidade casamentaria. Ascendentes com descendentes, seja o parentesco natural ou civil; Afins em linha reta (parentes do cônjuge/companheiro). OBS: “ex” cunhados podem se casar, uma vez que a parentalidade COLATERAL se extingue (não é em linha reta, como é o caso de sogro/sogra/genro/nora). O adotado com o cônjuge (padrasto/madrasta) do adotante e o adotante com o cônjuge do adotado (genro/nora) O adotado com o filho do adotante; Os colaterais entre si, sejam bilaterais (no caso dos irmãos, quando filhos do mesmo pai e da mesma mãe) ou unilaterais (no caso dos irmãos, quando filhos em comum de apenas um dos pais), até 3º grau inclusive. *Primo é 4º grau, por isso é permitido; *Tio e sobrinho é permitido, desde que façam exame de compatibilidade genética e com esse consigam provar que não vão gerar uma prole defeituosa ou demonstrar que não estão mais aptos biologicamente a gerar filhos, seja por idade ou em virtude de laqueadura ou vasectomia (casamento ‘avuncular’: continua em vigor o Decreto-lei 3.200/1941, no sentido de que o casamento entre colaterais de terceiro grau pode ser realizado se não houver risco à prole, o que deve ser aprovado por uma junta médica formada por dois profissionais da área). No caso de uniões homoafetivas não há a necessidade de realizar essas demonstrações. *Caso jogador Hulk? A menina é sobrinha DELA e não dele, o que impede que a prole gerada seja defeituosa, uma vez que não possuem laços sanguíneos. As pessoas casadas (sob o nosso ordenamento jurídico, que seguem as regras casametárias brasileiras que são leis pessoais), sob pena do cometimento do crime de bigamia. Viúvo com o condenado pelo homicídio doloso ou tentativa de homicídio do seu consorte (se a pessoa desconhecia que o seu noivo era o responsável pela morte do de cujus, o casamento poderá ser anulado por erro essencial sobre a pessoa). OBS: A violação dessas hipóteses de impedimento gera nulidade absoluta (art. 1548, CC). Atualmente, as hipóteses de impedimento são as únicas causas de nulidade absoluta do casamento. O EPD (Estatuto da Pessoa com Deficiência) revogou a previsão constante no inciso II do Art. 1548 que previa a nulidade do casamento celebrado com pessoa absolutamente incapaz (doente mental grave). OBS: Qualquer interessado, a qualquer tempo, pode ingressar com ação de nulidade. OBS: Se celebrado de boa-fé (casamento putativo) mantém-se os efeitos pessoais com relação às pessoas dos filhos, bem como as relações patrimoniais (respeitado o regime de bens e os terceiros de boa-fé) – art.1561, CC. Caso de 2 irmãos que são adotados por famílias distintas e no futuro, se casam, sem saber que são irmãos (boa-fé). Nesse caso, os filhos não serão prejudicados, continuam tendo nome de pai e mãe (mantem-se os efeitos pessoais) e as relações patrimoniais, entretanto, o casamento deverá ser anulado, com o intuito de se desfazer a conjugalidade e a comunhão, se não pelos “nubentes”, o próprio Estado anula. “poderão viver e regime de união estável?” Não, e se assim o fizerem, esta união não possui nenhum efeito jurídico, pois o Estado não reconhecerá a existência, sendo considerada uma sociedade de fato. OBS: A utilização do termo anulável no Art. 1561, CC não quer dizer que o casamento putativo poderá ser convalidado pelo tempo tornando-se um ato jurídico perfeito. O intuito do legislador ao usar essa expressão foi dizer que o casamento produzirá todos os seus efeitos jurídicos até o momento de decretação de sua nulidade e depois retroagirá até a data de sua celebração. II.5. Causas suspensivas do casamento (Arts. 1523 e 1524, CC) São hipóteses descritas na legislação que determinam a imposição do regime de separação obrigatória de bens em razão de alguma vulnerabilidade presumida. Essas causas não suspendem o casamento em si, apenas determinam essa imposição. Todas as pessoas que se enquadram nessas hipóteses podem casar, porém, com a exigência de que o façam sob o regime de sep. obrigatória. Hipóteses o Pessoas com mais de 70 anos; (é a única hipótese em que não pode haver a alteração futura do regime de bens, em caso de desaparecimento da causa suspensiva, por motivos óbvios). *Exceção: pessoa com mais de 70 anos que já vivia em união estável e deseja converter em casamento, sendo afastada esta causa suspensiva no processo de habilitação do casamento. o Viúvo(a) que contrai segundas núpcias sem celebrar inventário/partilha de bens, havendo herdeiros necessários (para evitar a turbação patrimonial e causar prejuízos aos herdeiros necessários, por exemplo, filhos que sejam fruto de relações anteriores). Eventualmente, sendo feita a prova de ausência de prejuízo para os envolvidos, o casamento poderá ser celebrado por qualquer regime, sem a imposição de sanções (art. 1.523, parágrafo único, do CC). Para essa primeira causa suspensiva, além da imposição do regime da separação legal ou obrigatória de bens, o art. 1.489, inc. II, do CC consagra a imposição de uma hipoteca legal a favor dos filhos sobre os bens imóveis dos pais que passarem a outras núpcias antes de fazerem o inventário do cônjuge falecido. Há, portanto, nessa primeira hipótese de causa suspensiva, uma dupla sanção aos cônjuges. Vale dizer, ainda, que se o filho for apenas do cônjuge falecido, ou seja, não for filho do viúvo ou viúva que pretende se casar novamente, não se impõe a causa suspensiva ao cônjuge sobrevivente. O mesmo ocorre se o filho for apenas daquele que pretende se casar; o Divorciado(a) que não realizou a partilha de bens. Também aqui, não havendo prejuízo patrimonial, o casamento poderá ser celebrado por qualquer regime, cessando a causasuspensiva (art. 1.523, parágrafo único, do CC); o Todas as pessoas que precisam de consentimento para casar (pessoas entre 16 e 18 anos); o Tutor e o curador, bem como seus parentes (descendentes, ascendentes, irmãos, cunhados ou sobrinhos) com a pessoa tutelada ou curatelada, enquanto não cessada a tutela ou curatela, ou não estiverem saldadas as respectivas contas prestadas. Mais uma vez demonstrada a inocorrência de prejuízo para a pessoa tutelada ou curatelada, o casamento poderá ser celebrado por qualquer regime, pois desaparece a causa suspensiva (art. 1.523, parágrafo único, do CC) o Viúva grávida dentro dos 300 dias (10 meses), sem que tenha sido feita partilha de bens - Art. 1597 (para evitar confusão patrimonial da mesma forma, tendo em vista a presunção de que o falecido é o pai do nascituro, que já possui seus direitos sucessórios resguardados pelo Direito Civil antes mesmo do seu nascimento). OBS.: Até a data da celebração do casamento as partes podem levantar as causas suspensivas, bastando a prova em sentido contrário. (ex.: no caso dos 70 anos, prova de união estável pretérita; no caso dos divorciados, sentença de partilha; viúvo(a), formal de partilha; viúva grávida, o nascimento da criança). OBS: A modificação do regime de bens será possível com o desaparecimento das causas suspensivas, mas só é veiculada com ação própria (Ação de modificação de regime de bens). OBS: As pessoas que casaram sob a égide do Código Civil de 1916, o qual não possibilitava a mudança do regime de bens, podem, atualmente, após o Código Civil de 2002, alterar o seu regime de comunhão de bens através de A.M.R.B., por ser o casamento um contrato de obrigações de trato sucessivo, assim como aqueles que à época apresentavam alguma causa suspensiva que desapareceu ou em virtude da obrigatoriedade que vigorava de que o regime de bens no casamento fosse o de comunhão universal, eis que o casamento era indissolúvel e o mesmo raciocínio era aplicado ao regime de bens. II.6. Da habilitação (Arts. 1525 a 1532, CC) Processo de jurisdição voluntária em que se verifica o preenchimento dos requisitos para o casamento e que se processa perante o Cartório do Registro Civil das Pessoas Naturais ou na Vara de Registros Públicos. Fases da habilitação: o 1ª fase: Requerimentos: por petição escrita de próprio punho ou por procurador é feita a solicitação de habilitação. Documentos necessários (1525): Certidão de nascimento ou documento equivalente; Autorização por escrito das pessoas sob cuja dependência legal estiverem, ou ato judicial que a supra; Declaração de duas testemunhas maiores, parentes ou não, que atestem conhecê-los e afirmem não existir impedimento que os iniba de casar; Declaração do estado civil, do domicílio e da residência atual dos contraentes e de seus pais, se forem conhecidos; Certidão de óbito do cônjuge falecido, de sentença declaratória de nulidade ou de anulação de casamento, transitada em julgado, ou do registro da sentença de divórcio, conforme o caso. Esse processo de habilitação é realizado perante o oficial do Registro Civil, após a audiência do Ministério Público (1526). o 2ª fase: Extração do edital (proclamas): Correm durante 15 dias para promover a ampla publicidade do casamento (se afixará durante quinze dias nas circunscrições do Registro Civil de ambos os nubentes, e, obrigatoriamente, se publicará na imprensa local, se houver) e viabilizar que os que tenham conhecimento acerca de algum impedimento possam realizar as impugnações. *Exceção: P. único do Art. 1527 - A autoridade competente, havendo urgência, poderá dispensar a publicação. *Divergência: “O juiz não pode dispensar, mesmo fundamentadamente, a publicação do edital de proclamas do casamento, mas sim o decurso do prazo” (Enunciado n. 513). o No prazo de 15 dias dos proclamas pode ser apresentada impugnação por qualquer interessado. Procedimento (1529-1531, CC + 67, § 5.º, da Lei de Registros Públicos – L6015/73). Após a defesa o juiz decidirá por habilitar o casamento ou não (ambas as decisões são irrecorríveis, mas permite-se aos nubentes não habilitados que apresentem novas provas a fim de obter resultado positivo). Decidindo pela habilitação, passa-se a 3ª fase. o 3ª fase: Extração da certidão de habilitação e celebração no prazo decadencial de 90 dias (1533ss). No que concerne ao ato solene, este será realizado na sede do cartório, com toda publicidade, a portas abertas, presentes pelo menos duas testemunhas, parentes ou não dos contraentes. Se as partes quiserem, e consentindo a autoridade celebrante, o casamento poderá ser celebrado em outro edifício, público ou particular (art. 1.534 do CC). Nesse último caso, ficará o edifício particular de portas abertas durante o ato (art. 1.534, § 1.º, do CC). O número de testemunhas aumenta para quatro, o que igualmente se aplica se algum dos contraentes não souber ou não puder escrever (art. 1.534, § 2.º, do CC). O ato deve ser presidido pelo juiz de paz. Observe-se que a matéria, até o momento, não está regulamentada de forma uniforme em nosso país. O art. 98, inc. II, da CF/1988 preceitua que a União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados criarão “justiça de paz, remunerada, composta de cidadãos eleitos pelo voto direto, universal e secreto, com mandato de quatro anos e competência para, na forma da lei, celebrar casamentos, verificar, de ofício ou em face de impugnação apresentada, o processo de habilitação e exercer atribuições conciliatórias, sem caráter jurisdicional, além de outras previstas na legislação”. Não há uniformidade quanto à justiça de paz no Brasil, Impugnação escrita (instruída com documentos comprobatórios de impedimento ou causa suspensiva) Comunicação aos nubentes + indicação por estes das provas que pretendem produzir - 3 dias Produção de provas pelo oponente e nubentes em 10 dias ouvid o o MP em 5 dias decisão em 5 dias JUIZ HABILITA - CERTIDÃO DE HABILITAÇÃO NÃO HABILITA - ARQUIVAMENTO sendo certo que cada unidade da Federação tomou um rumo. Providências registrais – vide art. 1536. Suspensão da celebração – vide art. 1538. Celebração de casamento por moléstia grave – vide art. 1539. Celebração de casamento nuncupativo – vide art. 1540 e 1541. Casamento por procuração – vide art. 1542. II.7. Espécies de casamento o Casamento Civil: União formal de duas ou mais pessoas, independente de sexo, que através de ato solene resolvem estabelecer plena comunhão de vida, por força de expressiva manifestação de vontade, perante uma autoridade competente, a qual o Estado empresta validade e eficácia jurídica (02 testemunhas). o Casamento religioso com efeitos civis (1515s): Necessária dupla validação: pelas regras canônicas e pelas regras civis (02 testemunhas). OBS: No casamento religioso em que a habilitação se der após a celebração do ato, o prazo para habilitação e registro será de 45 dias (OBS.*. NO CÓDIGO, FAZ REFERÊNCIA A UM PRAZO DE 90 DIAS – 1516, §2º). OBS: O casamento religioso que não se submete às regras civis (habilitação), para o Direito Civil é visto como União Estável. o Casamento por procuração (a procuração pública com poderes especiais terá prazo de 90 dias). Vide art. 1542, CC. OBS: É possível anular-se o casamento por procuração se esta for revogada antes da data da celebração e não houve coabitação posterior (à celebração) entre os cônjuges. Havendo coabitação, não é possível, pela vedação de conduta contraditória (venire contra factum proprium). o Casamento em caso de moléstia grave: Vide art. 1539, CC. OBS: Exige-se o perfeito juízo dos nubentes (sem alucinações, estado de euforia, etc). OBS: passarão a ser 04 testemunhas caso os nubentes não souberem ler ou escrever (TIRAR DÚVIDA). o Casamento no caso de iminente risco de vida/nuncupativo- “In extremis vitae causae”: Também decorre de moléstia grave, porém, a situação é mais séria. Nesse caso, nem o enfermo pode comparecer à presença da autoridade, nem a autoridade pode comparecer ao local em que o enfermo se encontra. Vide artigo 1540, CC. OBS: O casamento poderá ser celebrado por qualquer pessoa. OBS: A declaração das testemunhas (comprovação formal do casamento) deverá ser feita num prazo de até 10 dias e substituirá a certidão de casamento. Após a realização do termo, a habilitação se iniciará de ofício. o Consular: Casamento celebrado por autoridade consular, mas submetido ao devido processo de habilitação (no próprio consulado e não em cartório). Como é celebrado em território por extensão, o registro do casamento necessitará de convalidação em um prazo de 180 dias (condição suspensiva). Caso nunca tenham vindo ao Brasil, deverá ser feita no primeiro Estado da federação em que se encontrarem; caso estejam retornando, no último domicílio dos nubentes. OBS.: CONDIÇÃO SUSPENSIVA: O entendimento doutrinário majoritário é de que a condição suspensiva é apenas quanto ao registro, mas não quanto ao casamento. o Putativo: É o casamento nulo celebrado de boa-fé e que poderá produzir todos os seus efeitos jurídicos até a sentença anulatória, mas não se mantém perante o ordenamento jurídico brasileiro. OBS.: ART. 1.561 - “ANULÁVEL”: o termo utilizado é “anulável” porque o casamento produz efeitos até a sentença anulatória, retroagindo, posteriormente, à sua celebração e mantendo-se os efeitos quanto aos filhos e terceiros de boa-fé. II.8. Nulidades do casamento II.8.1. Nulidade absoluta: Resulta da violação das hipóteses inafastáveis do Art. 1521, CC, por determinação expressa do Art. 1.548, I, CC. OBS.: EPD - LEI 13.146/15: Revogou a hipótese de nulidade quanto a pessoas deficientes, por ser o casamento o exercício de um direito existencial de todos. A ação de nulidade absoluta pode ser proposta por qualquer interessado e a qualquer tempo (caso não tenham sido levantados os impedimentos no período próprio para impugnações) – art. 1549, CC. O foro competente passou a ser o foro de domicílio do guardião do incapaz, pelo Novo CPC. Não o havendo, o foro competente é o do último domicílio do casal. Por fim, será competente o foro de domicílio do réu, se nenhuma das partes residir no antigo domicílio do casal (art. 53 do Novo CPC). II.8.2. Nulidade relativa: As hipóteses estão presentes em um rol taxativo (Art. 1.550, CC), não se admitindo interpretação extensiva. OBS.: Não veiculam normas de ordem pública, como ocorre nas hipóteses de nulidade absoluta, devendo ser obedecido um prazo que, se ultrapassado, torna o ato jurídico perfeito. A legitimidade é dos representantes legais, do próprio cônjuge menor e de seus ascendentes para a propositura de ação anulatória. (Art. 1552, CC) o Hipóteses: Casamento de quem ainda não cumpriu a idade mínima para casar (menor de 16 anos): Se for celebrado, não será nulo e também não será inexistente (porque no Brasil não se adota a teoria da inexistência), porém, não terá validade jurídica, sendo, portanto, anulável. *Prazo: 180 dias. Se a ação for proposta pelo próprio menor, devidamente representado, o prazo será contado a partir do momento em que completar a idade núbil. Se a ação for proposta pelo representante legal ou ascendente, o prazo será contado da celebração – art. 1560, §1º. *Hipóteses de convalidação: 1) Se a ação anulatória não foi proposta, por lógica; 2) Se do casamento resultou gravidez – art. 1551; 3) Se o menor, ao atingir a idade núbil, confirmou o casamento, com autorização ou suprimento judicial – art. 1553. OBS.: LEI 13.811/19: REVOGOU O ART. 1520, CC: A alteração legislativa trazida pela lei 13.811/19 tornou inadmissível o casamento daqueles abaixo da idade núbil, em qualquer hipótese. Do menor em idade núbil (entre 16 e 18 anos): quando não houver o consentimento dos representantes legais, será anulável. *O prazo para a propositura da ação anulatória é decadencial de cento e oitenta dias, ação essa que somente pode ser proposta pelo incapaz (ao deixar de sê-lo), por seus representantes legais ou por seus herdeiros necessários (art. 1.555, caput, do CC). *Regras de contagem dos prazos: 1) Se a ação for proposta pelo menor, o prazo será contado a partir do momento em que completar 18 anos; 2) Se a ação for proposta pelo representante legal, o prazo será contado a partir da celebração do casamento; 3) Sendo proposta a ação por herdeiro necessário, o prazo será contado da data do óbito do menor. Não proposta a ação, ou se quando à sua celebração do casamento houverem assistido os representantes legais do incapaz, ou tiverem, por qualquer modo, manifestado sua aprovação, o casamento se convalidará – art. 1555. Por vício do consentimento (erro ou coação): ERRO sobre a pessoa do outro, essencial e inescusável; uma causa preexistente ao casamento, mas desconhecida até então, que torna a convivência insuportável. Pode ser (1550): 1) Erro sobre a identidade do outro, que envolva sua honra, imagem e boa fama; 2) Ignorância de prática de crimes infamantes; 3) Defeito físico irremediável que NÃO constitua deficiência (hoje em dia, não há hipóteses práticas desse dispositivo); 4) Doença mental grave (ex.: esquizofrenia) ou doença de fácil contágio (ex.: HIV, sífilis, hepatite) que ponha em risco o cônjuge e sua prole. Nesses casos, o outro nubente não pode conhecer a existência da doença e, após o conhecimento, não pode haver coabitação. OBS.: Antes do EPD era possível anular o casamento por impotência “coeundi”, “gerandi” e “gestandi”. Hoje em dia, não mais. Prazo para anular o casamento/para se convalidar: 3 anos a contar da celebração do casamento e não do conhecimento da doença. COAÇÃO: quando o consentimento de um ou de ambos os cônjuges houver sido captado mediante fundado temor de mal considerável e iminente para a vida, a saúde e a honra, sua ou de seus familiares (1558). Na hipótese de casamento contraído por pessoa coacta, a ação só pode ser promovida pelo próprio coato, no prazo de quatro anos a contar da celebração (CC, arts. 1.559 e 1.560, IV). A prova da coabitação pode ser utilizada pelo coator para evitar a anulação do casamento (CC, art. 1.559, segunda parte). Contudo, além de tal prova ser muito subjetiva, a própria coabitação pode ter sido obtida mediante coação. Por conseguinte, somente a coabitação voluntária, devidamente comprovada, mostra-se apta a validar o ato. Art. 1.559. Somente o cônjuge que incidiu em erro, ou sofreu coação, pode demandar a anulação do casamento; mas a coabitação, havendo ciência do vício, valida o ato, ressalvadas as hipóteses dos incisos III e IV do art. 1.557 (defeito físico irremediável, moléstia grave ou doença mental grave) – AÇÃO PERSONALÍSSIMA. Do incapaz de consentir ou manifestar, de modo inequívoco, o consentimento: A incapacidade de consentir, que torna anulável o casamento, abrange a hipótese mencionada no inciso III do art. 4o do Código Civil: “III – aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade”, que exigem assistência do representante legal. A expressão genérica não abrange as pessoas portadoras de doença ou deficiência mental permanentes, referidas no revogado inciso II do art. 3o do Código Civil, mas as que não puderem http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm#art1557 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm#art1557 exprimir totalmente sua vontade por causa transitória, ou permanente, em virtude de alguma patologia (p. ex., arteriosclerose, excessiva pressão arterial, paralisia, embriaguez não habitual, uso eventual e excessivo de entorpecentes ou de substâncias alucinógenas, hipnose ou outras causas semelhantes, mesmo não permanentes). É anulável,assim, o ato jurídico exercido pela pessoa de condição psíquica normal, mas que se encontrava completamente embriagada no momento em que o praticou e que, em virtude dessa situação transitória, não se encontrava em perfeitas condições de exprimir a sua vontade. *Prazo para ajuizar ação anulatória: 180 dias a contar da celebração do casamento. Realizado pelo mandatário, sem que ele ou o outro contraente soubesse da revogação do mandato, e não sobrevindo coabitação entre os cônjuges: Cuida-se de hipótese em que o outorgado, estando de boa-fé, utiliza um mandato já anteriormente revogado, ou reconhecido judicialmente como inválido, sem seu conhecimento. Sobrevindo coabitação dos cônjuges, não se anulará o casamento realizado mediante procuração já revogada, como expressamente dispõe a segunda parte do inciso V do art. 1.550 retrotranscrito. Só se pode entender esse convalescimento em havendo a convivência após conhecer o outro contraente a revogação do mandato. Desse modo, “resguardando a sensibilidade moral do cônjuge enganado, somente se compreende que a coabitação convalida o matrimônio, se o outro contraente se conforma com o procedimento desleal do mandante, que depois de anular a manifestação de vontade contida na procuração condiciona o outro cônjuge a uma vida conjugal que nasceu de um engodo”. Assim, se o varão, por exemplo, revoga a procuração e, por desconhecimento desse ato, o casamento se realiza, a sua convalidação somente se dará se a mulher, cientificada da revogação, com ele coabitar, conformando-se com o seu procedimento desleal, ou apenas indicativo de uma contradição emocional. *Prazo para anular o casamento: 180 dias a contar do conhecimento do mandante da celebração. Ação personalíssima do mandante. Por incompetência da autoridade celebrante: É anulável, no prazo de dois anos a contar da data da celebração (CC, art. 1.560, II), o casamento “por incompetência da autoridade celebrante” (art. 1.550, VI). A lei não distingue se se trata de incompetência em razão do lugar ou da matéria. Predomina na doutrina, entretanto, a opinião de que somente acarreta a anulabilidade a incompetência ratione loci ou ratione personarum (quando o celebrante preside a cerimônia nupcial fora do território de sua circunscrição ou o casamento é celebrado perante juiz que não seja o do local da residência dos noivos). Se, porém, o presidente não é autoridade competente ratione materiae (não é juiz de casamentos, mas promotor de justiça, prefeito ou delegado de polícia, p. ex.), o casamento não é anulável, mas inexistente, salvo na hipótese prevista no art. 1.554 do Código Civil, que considera subsistente o casamento celebrado por pessoa que, embora não possua a competência exigida na lei, exerce publicamente as funções de juiz de casamentos, aplicando, assim, à hipótese a teoria da aparência. Art. 1.562. Antes de mover a ação de nulidade do casamento, a de anulação, a de separação judicial, a de divórcio direto ou a de dissolução de união estável, poderá requerer a parte, comprovando sua necessidade, a separação de corpos, que será concedida pelo juiz com a possível brevidade. Unidade III. Da Dissolubilidade do Casamento III.1. Divórcio: Causa de dissolução do casamento (1571, IV, CC). Precedentes teóricos: Art 226, §6º, CF e Lei 6.515/77, antes da EC 66/10: Não existia divórcio no Brasil até o advento da EC 09/77, pois, como reflexo do direito canônico, o casamento no Brasil era indissolúvel. A partir desta, passou-se a admitir a dissolubilidade do casamento no país (divórcio), porém, o divórcio não era de imediato como se conhece hoje; havia necessariamente um período prévio ao divórcio, chamado de desquite. o Desquite (5 anos): figura necessária e pré-processual de divórcio que quebrava a conjugalidade. Eximia os cônjuges, durante este período, do dever de fidelidade, coabitação e, portanto, não havia a necessidade de que estes, ainda casados, morassem sob o mesmo teto. Aos olhos do legislador, era um período de reflexão para o casal, no sentido de confirmarem o seu desejo em dissolver a entidade familiar. Não havia a possibilidade do divórcio direto como se estuda atualmente, após a EC 66/10. Com a regulamentação pela CF/88, através do Art. 226, passou-se à simplificação do sistema de dissolução do casamento, porque reduziu-se o prazo (requisito formal) para que o cônjuge pudesse se divorciar do outro e deixou-se de lado o desquite, que desaparece do nosso ordenamento jurídico, reformulando a Lei 6.515/77 neste sentido e inaugurando 2 figuras jurídicas: Separação de fato: surge para permitir a figura do divórcio direto se o casal, quando da promulgação da CF/88, já estivesse separado de fato há pelo menos 2 anos, podendo entrar com o pedido de divórcio direto; Separação judicial: Surge para aqueles casais que, à época da promulgação da CF ainda não estavam separados de fato há 2 anos, devendo se submeter a um procedimento de pré-divórcio, assim como ocorria no caso do desquite, chamado de separação judicial, que, da mesma forma, rompia a conjugalidade, mas NÃO dissolvia o casamento. Neste caso, o período de reflexão estabelecido pelo legislador foi reduzido, passando a ser de 1 ano. Depois desse período, o casal poderia pedir o divórcio por conversão. OBS.: Durante esse período, era preciso realizar o pedido de divórcio com base nas causas previstas no Art. 1573, CC, tacitamente revogado pela EC 66/10. À época, não eram as próprias pessoas que decidiam pela sua separação, e sim o magistrado na análise do caso concreto e com base nas causas levantadas. Apenas após a EC 66/10, o divórcio passa a ser, de fato, um direito potestativo e erga omnes, independentemente da comprovação de qualquer causa de dissolução do casamento. III.1. Dissolução da sociedade conjugal: separação judicial (extinta com a EC 66/10) e Divórcio: Com o advento da EC 66/10, veio a máxima simplificação no processo de divórcio, porque, ao regulamentar novamente o divórcio na CF, esta expurgou a necessidade de comprovação do período de 2 anos no caso da separação de fato (divórcio direto) e a figura pré- divórcio, de 1 ano, amparada pela separação judicial para posteriormente realizar o pedido de divórcio - conversão. O divórcio no Brasil não é mais divórcio direto, mas apenas divórcio, e, sendo assim, a todo e qualquer momento após a contração do casamento é possível que o casal de comum acordo ou de forma litigiosa realize o divórcio judicialmente, sem a necessidade de comprovação dos prazos mínimos dos dois tipos de separação que existiam anteriormente. Enunciado 517, CJF: A Emenda Constitucional n. 66/2010 extinguiu os prazos previstos no art. 1.580 do Código Civil, mantido o divórcio por conversão, revogando também os dispositivos do CC que tratam das causas para dissolução do casamento (mantido o divórcio por conversão quanto às situações jurídicas preexistentes, ou seja, quando houver sentença de separação judicial. Sem sentença de separação judicial não há o que se falar em divórcio por conversão). A simplificação que temos hoje do processo de divórcio decorre de 3 princípios, quais sejam: 1) Princípio da máxima efetividade ou da eficiência: não faz sentido exigir do casal um tempo mínimo de reflexão antes da realização do divórcio, pois subtende-se que se o casal decidiu por se divorciar, já foram feitas todas as reflexões necessárias; 2) Princípio da força normativa da CF: aceitar a EC 66/10 com força para revogar os dispositivos supracitados do CC é entender pela força normativa da CF; 3) Princípio da interpretação das leis conforme a CF: ao interpretar o CC com base na CF, entende-se que não cabe mais ao Poder Judiciário exigir do casal que pretende se divorciar o cômputo dos requisitos materiais e formais para a concessão do divórcio. III.2. Lei 11.441/07: Separação e divórciopor escritura pública: Introduziu no Brasil pela primeira vez a figura do divórcio extrajudicial e separação extrajudicial, como forma de simplificação, também, do instituto do divórcio no país. OBS.: ORDEM DOS MARCOS TEMPORAIS REFERENTES AO DIVÓRCIO: - Antes da EC 9/77 e Lei 6.515/77: impossibilidade de dissolução pelo divórcio. A partir da emenda, a figura do divórcio entra no nosso ordenamento jurídico, precedido pelo desquite; - Art. 226, CF/88: regulamentou o divórcio, devendo este ser precedido ou de uma separação de fato ou de uma separação judicial; - Lei 11.441/07: permitiu a simplificação do divórcio com as figuras do divórcio e separação extrajudiciais. - EC 66/10: máxima simplificação do processo de divórcio, dispensando cumprimento de qualquer prazo prévio ou comprovação de causas de dissolução do casamento. Surgiu tendo em vista que, em casos de consensualidade a respeito do divórcio, não se faz necessária a chancela judicial para que pudesse pôr fim ao casamento, dissolvendo-o. Bastava que o casal demonstrasse os mesmos requisitos para o divórcio direto ou divórcio por conversão. Passou-se, portanto, a partir da referida lei a existirem 4 institutos para dissolução do casamento: 1. Separação de fato (precedida de 2 anos) - divórcio direto; 2. Separação judicial (por mais 1 ano) - divórcio por conversão; 3. Separação de fato (2 anos) - divórcio extrajudicial; 4. Separação extrajudicial (mais 1 ano) - divórcio extrajudicial por conversão. (Ex.: se presentes todos os requisitos, mas, em 2007 o casal não tinha ainda 2 anos de separação de fato para pedir o divórcio direto, poderia aguardar o prazo de 1 ano e pedir o divórcio extrajudicial por conversão). Para que se pudesse realizar o divórcio extrajudicial, era preciso comprovar os requisitos constantes na lei 11.441 e pela Resolução 35 do CNJ. Era preciso comprovar, portanto: - Consensualidade; - Que não há interesse de menores/incapazes; - Ambos os cônjuges devem estar representados por advogados, para que nenhum dos cônjuges possa alegar vício de consentimento, para que a vontade declarada na escritura pública de divórcio seja uma vontade legítima. Vantagens trazidas pela Lei 11.441: redução das custas (que são altíssimas no processo de divórcio) e celeridade. Permite, ainda, a partilha de bens e atribuição de alimentos, desde que os filhos sejam maiores, sem qualquer impedimento. Obs.: A escritura pública de divórcio constituía título (executivo extrajudicial) hábil para inscrição nos cartórios de registros imobiliários competentes. - A EC 66/10 revogou a parte da Lei 11.441 referente à separação extrajudicial como causa prévia para concessão do divórcio extrajudicial por conversão. Contudo, assim como nas situações pré-constituídas no caso do divórcio judicial, serão mantidas as situações jurídicas pré-constituídas do divórcio extrajudicial por conversão até o advento da EC 66/10. *Enunciado 514, CJF: A Emenda Constitucional n. 66/2010 não extinguiu o instituto da separação judicial e extrajudicial (complementa o enunciado 517, CJF). Obs.: O divórcio extrajudicial pode ser realizado em qualquer cartório competente dentro do território nacional. NÃO precisa ser no último domicílio do casal. Ex.: casados e domiciliados em João Pessoa podem se divorciar no Rio de Janeiro. Obs.: É possível, para aquelas pessoas que já tinham sua separação judicial em curso à época da promulgação da EC 66/10 ou da Lei 11.441, retirar seu processo das vias judiciais e levar para uma serventia extrajudicial (cartórios), realizando o divórcio por conversão na via extrajudicial, desde que cumpridos os requisitos. III.3. Efeitos da separação de fato/judicial e do divórcio: Cessação da conjugalidade: rompimento da vivência more uxório (se dá com o fim do desejo de viver como marido e mulher; Cessação da comunicabilidade patrimonial (fim da presunção do esforço comum do casal); Uso ou não do nome de casado(a) - apenas para separação judicial e divórcio (a corrente majoritária entende que não deverá ser retirado o nome de casado, exceto se causar grande constrangimento ao outro cônjuge). Enunciado 107, CJF: Finda a sociedade conjugal, na forma do art. 1.571, a regra do inc. IV somente poderá ser aplicada se houver autorização prévia, por escrito, dos ex-cônjuges para a utilização dos embriões excedentários, só podendo ser revogada até o início do procedimento de implantação desses embriões. (caso daquele casal que tinha um plano familiar, realizou a criopreservação de embriões e acabou se divorciando, restando os embriões excedentários, que sobraram). Unidade IV. Da União Estável IV.1. Conceito e evolução legislativa: O conceito de união estável nasce dentro de uma relação impeditiva de direito, uma vez que aqueles que desejavam se divorciar, à época, necessitavam passar por um período de desquite, no qual continuariam casados, mas poderiam estabelecer relacionamentos outros, pois não estariam mais obrigados a ser fiéis. Portanto, muitas pessoas, durante o período de desquite, estabeleceram relacionamentos com terceiros, muitas vezes de forma pública, notória e por vezes duradoura, ainda que estivessem casadas e, consequentemente, impedidas de casar. Surge, então, ao lado do concubinato, que se estabelece quando os cônjuges, sem que tenha ocorrido a quebra da conjugalidade e, portanto, ainda se exija dever de fidelidade, estabelecem relações outras na constância do casamento. Assim, temos 2 tipos de concubinato antes da CF de 88: 1) Concubinato puro, que é o relacionamento entre pessoas impedidas de casar, mas que já estavam desquitadas; 2) Concubinato impuro, aquele entre pessoas que estavam casadas e viviam a conjugalidade e que, por isso mesmo, não podiam ter relacionamentos outros, Obs.: É muito importante fazer essa distinção porque toda a jurisprudência previdenciária se consolidou com base nessa dicotomia existente antes de 88. Assim, o concubinato PURO cedeu lugar à união estável, enquanto que o concubinato impuro continuou sendo o concubinato adulterino. Não são os concubinos que têm direitos previdenciários e sim aqueles que viviam em concubinato PURO, ou seja, em união estável. Para tentar pôr fim à essa dicotomia, veio o constituinte originário de 88 e incorporou ao nosso ordenamento jurídico o princípio da afetividade, dizendo: “O Estado reconhece a união estável entre homem e mulher e, sempre que possível, promoverá a sua conversão em casamento”. O legislador infraconstitucional concretizou o comando previsto na CF (O Estado reconhece a união estável entre homem e mulher e, sempre que possível, promoverá a sua conversão em casamento): - Lei 8.971/94: o art 1º prevê que a união estável será reconhecida quando firmada entre duas pessoas de sexos diferentes, que de forma pública (relacionamento ostensivo, do conhecimento de todos, viviam como se marido e mulher fossem), notória (reconhecimento por parte da sociedade daquela união) e duradoura, tivessem a intenção de constituir família e pelo prazo mínimo de 5 anos - contados da data de publicação da Lei para trás - (mesmo período do desquite - para provar que aquela união não era concubinato) ou pela existência de prole comum. - Quais os direitos decorrentes da união estável? Ao nome, ao reconhecimento dos filhos comuns, direito a alimentos, no caso de dissolução, direito a pensão por morte, a meação (metade do patrimônio onerosamente adquirido na constância da união estável), direito real de habitação, etc. - Com a Lei 9.278/96, a união estável foi mais uma vez regulamentada, promovendo sua simplificação, eis que continuou sendo dual, pública, notória e duradoura, contudo, o requisito de 5 anos para comprovar a durabilidade do relacionamento deixou de ser exigido, assim como o de existência de prole comum. Isso porque não há tempo mínimo para o casamentoe ambos são reconhecidos constitucionalmente e a exigência de prole comum entrava em rota de colisão com o Pcp do planejamento familiar constitucionalmente previsto, pautado na paternidade responsável e no Pcp da dignidade da pessoa humana. O conceito de durabilidade passou a estar relacionado à estabilidade. - Com o julgamento das ADIN 4277 e ADPF 132 pelo STF, restou decidido que o Brasil admite as uniões estáveis homoafetivas. O Supremo avocou os princípios constitucionais da igualdade, não discriminação, dignidade da pessoa humana, diversidade sexual e não hierarquia das normas para fundamentar sua decisão. A partir desse julgamento, diversos enunciados foram editados confirmando esses: - Enunciado 524, CJF: As demandas envolvendo união estável entre pessoas do mesmo sexo constituem matéria de Direito de Família. (antes do julgamento das ações const. corriam nas varas cíveis) - Enunciado 525, CJF: Os arts. 1.723, § 1º, 1.790, 1.829 e 1.830 do Código Civil admitem a concorrência sucessória entre cônjuge e companheiro sobreviventes na sucessão legítima, quanto aos bens adquiridos onerosamente na união estável. (aplicam-se as mesmas regras sucessórias que se aplicam aos companheiros heteroafetivos) - Enunciado 526, CJF: É possível a conversão de união estável entre pessoas do mesmo sexo em casamento, observados os requisitos exigidos para a respectiva habilitação. - Resolução 175, CNJ: É possível casamento entre pessoas do mesmo sexo. Primeira decorrência do surgimento do instituto da união estável na CF, propriamente: 1. Distinção entre concubinato e união estável: o concubinato puro não deve mais ser assim chamado, mas sim de união estável. 2. A união estável, como persiste até os dias atuais, tem que ser apenas entre duas pessoas. Não se reconhece a união de 3 pessoas; não se aceita a poliafetividade (união de pelo menos 3 pessoas). 3. O legislador, em 88, estabelece que seja uma relação entre pessoas de sexos opostos. Obs.: Esse conceito do item 3 foi modificado pelo julgamento das ADIN 4277 e ADPF 132. Conceito atual: união entre duas pessoas, que de forma pública, notória e duradoura resolvem constituir família, independentemente de prole e sem que haja um processo de habilitação, pois, em sua natureza, é uma união informal, sendo sua principal diferença quanto ao casamento. - Art. 226, par 3º, CF - Lei 8.971/94 e 9.278/96 - Arts. 1.723 a 1.727, CC - ADIN 4277 e ADPF 132 Cada uma dessas normativas foi complementando a outra ao longo do tempo. IV.2. União estável: o concubinato e seus aspectos controversos: Conceito atual: União entre duas pessoas, independentemente do gênero, que deve ser pública, notória e duradoura, com o intuito de constituir família e vai independer da existência de prole comum. Diferenciações necessárias: o União estável x União concubinária: Não se confundem, pois a união concubinária é adulterina, impeditiva de direito, diferentemente da união estável. Ainda que alguém viva em união estável, não significa dizer que não deve respeitar o princípio da monogamia e da fidelidade, tanto é que o Art. 1.723 diz que se aplicam os impedimentos matrimoniais à união estável, assim como as causas suspensivas não impedem a caracterização da união estável. Apenas o que separa a união estável do casamento é o processo de habilitação e a celebração do casamento, nada mais. Uniões concubinárias não são consideradas entidades familiares, como é o caso da união estável, e sim uma sociedade de fato. Portanto, as ações a esta relativas deverão tramitar nas varas cíveis e não de família, não existindo, para essa união concubinária, a presunção de esforço comum, não fazendo jus o concubino à herança, direitos previdenciários, meação (deverá comprovar a sua participação na construção de eventual patrimônio). Obs.: A jurisprudência se apropriou do termo concubinato puro e se refere até os dias atuais à união estável por este termo. *Vide art. 1801, CC. *União estável simultânea: é a união que se desenvolve em paralelo à outra, preenchido um requisito essencial para o seu reconhecimento: a prova da boa-fé, além daqueles para a união estável em geral (publicidade, notoriedade, duradouro, com o intuito de constituir família) Assim, terá que provar que não conhecia o impedimento, a outra relação paralela. Neste caso, ocorre uma presunção de má-fé, ou seja, que se saiba da existência do impedimento matrimonial. No caso concreto, é muito difícil a sua comprovação. Se reconhecido, esse segundo relacionamento será considerado como união estável putativa, tendo o mesmo tratamento jurídico do casamento putativo (não é reconhecido pelo nosso ordenamento jurídico, mas recebe atribuição de efeitos civis - meação, reconhecimento dos filhos comuns,etc - para o cônjuge de boa-fé). Não se admite o registro de uniões estáveis simultâneas. Hoje, a jurisprudência se comporta de modo a não aceitar as uniões simultâneas. *União poliafetiva: é a união entre mais de duas pessoas, sendo um relacionamento plural, simultâneo, recíproco ou não, com efeito de constituição de família ou não. Essas pessoas têm que conhecer e aceitar esse relacionamento, vivenciando as relações sexuais em conjunto ou não. Juridicamente, não se atribui direitos à essa união. IV.3. União homoafetiva: considerações gerais: Sempre existiram duas correntes a respeito da questão: 1.ª Corrente – Não constitui entidade familiar, mas mera sociedade de fato; 2.ª Corrente – Constitui entidade familiar, aplicando-se por analogia, as mesmas regras da união estável. Em maio de 2011, o STF julgou a questão, concluindo pela aplicação, por analogia, das mesmas regras da união estável para a união homoafetiva (ver Informativo n. 625 do STF). Assim, a segunda corrente consolidou-se no Direito de Família Brasileiro, notadamente pela eficácia erga omnes da decisão superior. Aguarda-se a aprovação de preceitos legais disciplinando a união homoafetiva de forma definitiva, o que não obsta o seu reconhecimento pleno. IV.4. Direitos e deveres dos companheiros Direitos pessoais o Direito ao nome (Art. 1.565, parag. 1º, CC): diferentemente do casamento, em que é feita a opção no processo de habilitação e se dá de forma automática, no caso da união estável não é automático, irá depender de ação própria, qual seja: ação de modificação de registro público. o Direito a alimentos (Art. 1º, da Lei 8.971/94 e Art. 7º da Lei 9.278/96): os companheiros fazem jus aos alimentos, desde que comprovem os requisitos exigidos. o Direito à adoção (Art. 42, parag. 2º, do ECA e 197-A, III): se exige a prova da estabilidade da união estável. Os que vivem em união estável homoafetiva podem também adotar, cumprindo os mesmos requisitos exigidos para os casais heterossexuais. Direitos patrimoniais o Direito à meação: art. 3º, Lei 8.971/94 c/c Art. 5º, “caput” da Lei 9.278/96 - (parcela ideal, correspondente à metade de todo o patrimônio onerosamente adquirido na constância da união estável. Isto se eles escolherem um regime de bens que promova a comunicação (regime de comunhão universal, parcial ou de participação final nos aquestos). o Direito à herança (Art. 2º, “caput” da Lei 8.971/94 c/c Art. ): o companheiro, desde 94, passa a ser considerado herdeiro necessário, contudo, o cônjuge, à época, ainda não o era, só se tornará herdeiro necessário em 2002 (NCC), pois até essa data o cônjuge era apenas meeiro. Desde 94, o companheiro é considerado meeiro e herdeiro necessário. o Direito ao usufruto vidual ou de ¼ dos bens do “de cujus” (filhos comuns ou não) ou da ½ (sem filhos): figura importada do casamento. Ocorria quando o cônjuge não era considerado herdeiro necessário e, portanto, só recolheria a herança se não tivesse descendentes ou ascendentes. Neste caso, o legislador trouxe a figura do usufruto como forma de compensação,tendo o cônjuge direito aos frutos/rendimentos advindos do patrimônio deixado pelo autor da herança, sendo o usufruto correspondente à metade desses rendimentos de não tiver deixado filhos ou ¼ se tiver deixado filhos, que poderão ser comuns ou não. Assim, os companheiros passaram a ter, além da herança, o usufruto vidual, ao contrário dos cônjuges, que ainda não eram considerados herdeiros. o Direito à totalidade da herança (sem descendentes e sem ascendentes): neste caso, estava no mesmo patamar que o cônjuge, sendo-lhe devida a totalidade da herança se o falecido não tivesse deixado ascendentes ou descendentes. o Direito real de habitação (Art. 1º da Lei 8.971/94 c/c Art. 7º, parág. único da Lei 9.278/96): direito de permanecer na casa que servia de residência para o casal até enquanto vida tiver, mesmo que não tenha direito à casa à título de meação ou de herança (ex.: se for o regime de separação obrigatória), terá direito de permanecer naquela morada. Esse direito é erga omnes, contudo, por ser também um direito subjetivo, se o companheiro desejar renunciá-lo, também poderá. o No que concerne aos direitos patrimoniais decorrentes da união estável, o art. 1.725 do Código Civil enuncia que, salvo contrato escrito entre os companheiros, aplica-se à união estável, no que couber, o regime da comunhão parcial de bens. O contrato mencionado nesse artigo é o contrato de convivência, que serve para determinar qual será o regime da união estável, afastando a “comunhão parcial de bens. Assim, podem as partes eleger o regime da separação de bens ou da comunhão universal. A respeito da escolha pelo último regime, reconheceu recente aresto do Superior Tribunal Justiça que “o pacto de convivência formulado em particular, pelo casal, na qual se opta pela adoção da regulação patrimonial da futura relação como símil ao regime de comunhão universal, é válido, desde que escrito” (STJ, REsp 1.459.597/SC, 3.ª Turma, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 01.12.2016, DJe 15.12.2016). Podem os conviventes, ainda, escolher um regime misto. Ademais, o negócio celebrado não tem o condão de interferir nas normas de cunho pessoal ou de ordem pública, como é o caso da própria caracterização da união estável. Justamente por isso é que é nulo eventual contrato de namoro que pretenda afastar os efeitos de uma união estável. Para ter validade e eficácia perante as partes, basta que o contrato de convivência tenha sido feito por instrumento particular. Aliás, a forma do ato é livre, nos termos do princípio da liberdade das formas, estabelecido pelo art. 107 do Código Civil de 2002. Para ter eficácia perante terceiros (erga omnes), poderá ser elaborado por escritura pública ou registrado no Cartório de Títulos e Documentos. Por questão de certeza e segurança, recomenda-se a elaboração de uma escritura, em Tabelionato de Notas, dotada de fé pública, para que não pairem dúvidas sobre a existência da união. o Ainda sobre o regime de bens da união estável, conforme Enunciado n. 115 do CJF/STJ, aprovado na I Jornada de Direito Civil, há presunção de comunhão de aquestos na constância da união mantida entre os companheiros, sendo desnecessária a prova do esforço comum para se comunicarem os bens adquiridos a título oneroso durante esse período. Nota-se que esse efeito é decorrente do próprio regime da comunhão parcial, em que, como demonstrado, a prova do esforço comum é desnecessária. Desse modo, está superada a antiga ideia de prova de esforço comum para a comunicação de bens na união estável, o que remonta à antiga aplicação da Súmula 380 do STF à união estável, antes da Constituição Federal de 1988. Deveres: O art. 1.724 do CC consagra os deveres decorrentes da união estável impostos aos companheiros ou conviventes: o Dever de lealdade, que guarda relação com o dever de fidelidade, mas que com ele não se confunde. Isso porque a fidelidade é decorrência do casamento exclusivamente. Já a lealdade é gênero do qual fidelidade é espécie. Assim, pelo senso comum, a lealdade inclui a fidelidade, mas não necessariamente, o que depende de uma opção dos companheiros; o Dever de respeito ao outro companheiro, em sentido genérico; o Dever de mútua assistência, moral, afetiva, patrimonial e espiritual; o Dever de guarda, sustento e educação dos filhos. IV.5. União estável ou concubinato: os reflexos da repercussão geral tema 526, STF A Repercussão Geral RE nº 883.168/SC (tema 526): A repercussão geral trata da concessão de direitos previdenciários a uma suposta concubina. No caso concreto, não foi verificado que se tratava do concubinato puro (equivale à união estável). Pelo contrário, restou atestado que se tratava de concubinato IMPURO, ou seja, de um relacionamento concubinário, e, portanto, não faz jus à pensão por morte, eis que o Art. 8.213 não elenca como beneficiário da pensão por morte o concubino. Ficou reconhecido no julgado que, se fica comprovado que se trata de concubinato puro (união estável), há de ser reconhecido o direito à “concubina”, que na verdade será companheira. *A Lei 13.135/15 também limita o exercício da pensão por morte quando a união estável/casamento não tiver o tempo mínimo de 2 anos. Ainda que comprovado o referido tempo mínimo, a pensão por morte não será vitalícia, sendo de 4 anos se não houver o recolhimento de ao menos 18 contribuições. Unidade V. Da Guarda V.1. Conceito de guarda: O estudo se trata da guarda prevista no CC e não no ECA. É um atributo que decorre do exercício do poder familiar e propicia a proteção das pessoas dos filhos no caso de dissolução do casamento/união estável. É titularizado por ambos os pais na constância do casamento e precisará ser regulamentado em casos de dissolução do casamento/união estável. É o primeiro instituto que deve ser analisado após uma eventual dissolução e é obrigatoriamente tratada nas ações de divórcio/dissolução de UE quando há consensualidade. V.2. Espécies de guarda o Guarda unilateral: (regra no Brasil até 2008): É o tipo de guarda atribuída a apenas um dos genitores, que passa a ser chamado de genitor guardião, enquanto que o outro genitor passa a ter o direito de visita e de supervisionar as decisões (vide §5º, 1583, CC) quanto à criação do filho. Neste caso, aquele genitor que não estiver com a guarda, deverá contribuir para o sustento do filho, mediante o pagamento de pensão alimentícia. Há a posse exclusiva do filho pelo genitor guardião. o Guarda compartilhada (regra no Brasil a partir de 2008 até os dias atuais): É o exercício conjunto das responsabilidades parentais. Todas as decisões que digam respeito ao filho deverão ser tomadas de forma compartilhada e eventual divergência entre os genitores deverá ser suprida judicialmente. Decorre de vários princípios constitucionais: isonomia, melhor interesse da criança (se verificou ao longo dos anos que com o estabelecimento da guarda unilateral houve um certo distanciamento entre a figura do filho e do genitor não guardião) e o direito à convivência familiar e comunitária - aqui refere-se à convivência com os tios/avós etc. de ambos os lados, materno e paterno. Ambos são genitores guardiões e aquele genitor que não mora com o filho terá livre acesso ao mesmo, sem que seja necessário estabelecer dias e horários fixos de visitação, como ocorre na guarda unilateral. Na guarda compartilhada, a criança NÃO tem moradia alternada. Na guarda compartilhada, a criança tem o referencial de uma casa principal, na qual vive com um dos genitores, ficando a critério dos pais (ou fixado pelo juiz) planejar a convivência em suas rotinas quotidianas e, obviamente, facultando-se as visitas a qualquer tempo. Defere-se o dever de guarda de fato a ambos os genitores, importando numa relação ativa e permanente entre eles e seus filhos. O objetivo do instituto é estreitar os laços parentais com ambosos genitores e evitar a ocorrência de alienação parental (80% dos casos de alienação parental, no Brasil, são realizados pelas mulheres, pois, em regra, no Brasil, era sempre atribuída a guarda unilateral à mulher). Sempre, no entanto, que houver interesses dos pais e for conveniente para os filhos, a guarda compartilhada deve ser incentivada. O artigo 1584, CC, estabelece uma prioridade: se não houver acordo entre os pais, o juiz deve determinar que a guarda seja compartilhada. E abre apenas duas exceções: se o pai ou a mãe declarar não desejar a guarda e se um deles não estiver apto para cuidar dos filhos. o Guarda alternada (não está prevista na legislação - proibida no Brasil): a criança e/ou adolescente mora alternadamente com o pai e mãe dentro de períodos determinados (6 meses na casa de um, 6 meses na casa de outro/ 1 semana na casa de um, 1 semana na casa de outro), possuindo, portanto, dois lares referenciais, de ambos os genitores. o O art. 1.584, CC teve sua redação alterada para explicar que o tempo compartilhamento entre os genitores não era igual (ou seja: 3 dias na casa da mãe e 3 dias na casa do pai). o Guarda por aninhamento: A criança e/ou adolescente tem seu lar referencial próprio e os pais se revezam quanto ao exercício do direito de visitas, sem o deslocamento da criança de sua moradia. V.3. Como se define a guarda? O principal a ser considerado na definição do tipo de guarda a ser adotada no processo de divórcio ou dissolução de união estável é o superior interesse da criança, que deverá prevalecer, sempre, sobre o interesse dos pais. A decisão sobre a guarda será sempre judicial, sob pena de ineficácia, mas ela tanto pode ser requerida por um ou ambos os genitores ou decretada pelo juiz (Art. 1584, do CC). Ainda que haja consenso entre os cônjuges sobre a guarda dos filhos (unilateral ou compartilhada), o acordo precisa ser homologado em Juízo. A participação do Ministério Público será sempre obrigatória. O mesmo ocorrerá na hipótese de o casal divergir sobre a guarda dos filhos. Neste caso, a questão será decidida pelo juiz, após o pronunciamento do Ministério Público, ouvindo-se, sempre que possível, a criança ou adolescente. É possível, ainda, a realização de estudo do caso para que a solução atenda aos superiores interesses da criança ou do adolescente. Após definida, toda e qualquer modalidade de guarda pode ser alterada judicialmente (Art.1584, §4º e 1586, CC). A alteração da guarda pode ser requerida por uma ou ambas as partes ou, ainda, pelo Ministério Público, caso existam circunstâncias que desaconselhem a permanência da criança como detentor da guarda. Nesses casos, as circunstâncias do caso serão apuradas no processo de modo que o juiz decida com quem deverá permanecer a criança. o O que é o direito de visita? O pai ou a mãe, que não estejam com a guarda dos filhos, poderá visitá-los e tê-los em sua companhia, segundo o que acordar com o outro cônjuge ou companheiro, ou for fixado pelo juiz, bem como fiscalizar sua manutenção e educação. A finalidade do direito de visita é evitar a ruptura dos laços de afetividade existentes no seio familiar e garantirá à criança seu pleno desenvolvimento físico e psíquico. A visitação, portanto, não é somente um direito assegurado ao pai ou à mãe. É, sobretudo, um direito do próprio filho de com eles conviver, reforçando, com isso, o vínculo paterno e materno. V.4. A guarda compartilhada: análise do instituto e de seus desdobramentos: A guarda compartilhada hoje é regra no ordenamento jurídico, ainda que haja o dissenso dos pais quanto à sua definição. Princípios que sustentam o compartilhamento como regra: a) Dignidade da pessoa humana; b) Isonomia entre os genitores; c) Melhor interesse da criança; d) Convivência familiar e comunitária. A guarda compartilhada não afasta a necessidade de regulamentação do tempo de convivência entre pais e filhos – vide enunciados 603 a 607, CJF. Unidade VI. Relações de parentesco VI.1. Conceito de parentesco (art. 1591 a 1595, CC): Estabelecimento dos laços entre os diversos membros das entidades familiares, seja em razão da consanguinidade, seja em razão da afetividade ou do vínculo jurídico, trazendo direitos e deveres em razão do reconhecimento do mesmo. “O vínculo existente não só entre pessoas que descendem umas das outras ou de um mesmo tronco comum, mas também entre o cônjuge ou companheiro e os parentes do outro e entre adotante e o adotado” (DINIZ, Maria Helena. Código Civil..., 2005, p. 1.295). Enunciado 111, CJF: A adoção e a reprodução assistida heteróloga atribuem a condição de filho ao adotado e à criança resultante de técnica conceptiva heteróloga; porém, enquanto na adoção haverá o desligamento dos vínculos entre o adotado e seus parentes consangüíneos, na reprodução assistida heteróloga sequer será estabelecido o vínculo de parentesco entre a criança e o doador do material fecundante. VI.2. Espécies de parentesco o Parentesco biológico, consanguíneo ou natural: Aquele existente entre pessoas que mantêm entre si um vínculo biológico ou de sangue, ou seja, que descendem de um ancestral comum, de forma direta ou indireta. o Parentesco por afinidade: Existe entre o cônjuge ou companheiro e seus familiares. O casal (independente de questão de gênero), não tem parentesco entre si, somente com os familiares do outro (1595). o Parentesco civil ou jurídico: Decorrente de outra origem que não seja a consanguinidade ou afinidade. Tradicionalmente, no que tange ao parentesco civil, este sempre foi relacionado com a adoção, que ainda será estudada. Entretanto, diante dos progressos científicos e da valorização dos vínculos afetivos de cunho social, devem ser reconhecidas outras formas de parentesco civil: aquela decorrente de técnicas de reprodução assistida (inseminação artificial heteróloga – com material genético de terceiro) e a parentalidade socioafetiva (Enunciados n. 103 e 256 (+ 529) do CJF/ STJ, das Jornadas de Direito Civil). RE 8988060/SC. o Graus de parentesco (1591 e 1592, CC): O parentesco na linha reta é contado de forma muito simples: à medida que se sobe (linha reta ascendente) ou se desce (linha reta descendente) a escada parental, tem-se um grau de parentesco. Conta-se, na linha colateral, o número de graus também de acordo com o número de gerações, subindo de um dos parentes até o ascendente comum, e descendo até encontrar o outro parente. Assim, a premissa fundamental é a seguinte: deve-se subir ao máximo, até o parente comum, para depois descer e encontrar o parente procurado. O mínimo parentesco colateral existente é de segundo grau, justamente diante da regra de subir ao máximo, até o tronco comum, para depois descer. Não há, portanto, parentesco colateral de primeiro grau. Haverá parentesco por afinidade na linha reta ascendente em relação à sogra, à mãe da sogra, à avó da sogra e assim sucessivamente até o infinito. O mesmo deve ser dito em relação ao sogro, ao pai do sogro, ao avô do sogro, e assim de forma sucessiva. Para baixo, haverá parentesco por afinidade na linha reta descendente em relação ao enteado, ao filho do enteado, ao neto do enteado etc. Aqui estão presentes os impedimentos matrimoniais como visto, eis que não se extingue o vínculo, mesmo que com a dissolução da sociedade conjugal ou da união estável. Obs.: A multiparentalidade é reconhecida no direito brasileiro e o julgamento da repercussão geral no RE nº 898060 estampou não só a constituição de laços simultâneos de parentesco, mas também a ausência de hierarquia entre eles. VI.3. Da filiação (1596-1606, CC; art. 20, ECA): A filiação pode ser conceituada como a relação jurídica decorrente do parentesco por consanguinidade ou outra origem, estabelecida particularmente entre os ascendentes e descendentes de primeiro grau. Em suma, trata-se da relação jurídica existenteentre os pais e os filhos. Princípios norteadores: o Princípio da isonomia dos filhos e da não discriminação (art. 227, §6º, CF): Norma princípio fundamental que se propõe a eliminar todo e qualquer tratamento discriminatório entre os filhos, exaltando-se o princípio da dignidade humana. Assim, há isonomia entre os direitos patrimoniais e sucessórios (além dos direitos de personalidade, haja vista a necessidade de desenvolvimento da personalidade e reconhecimento cidadão) de todos os filhos. o Princípio da afetividade: A posse do estado de filho constitui modalidade de parentesco civil (Enunciado 256, III JDC). A afetividade também possui normatividade e é mola propulsora para o desenvolvimento da parentalidade, desde que esteja presente a posse do estado de filiação. o Critérios para a presunção legal da paternidade (art. 1597): A contagem dos prazos constantes dos incisos I e II inicia com a convivência conjugal e não com a celebração do matrimônio, o mesmo ocorre com a separação de fato. As regras não se aplicam à união estável (*ERRATA – INFORMATIVO 508, STJ [REsp 1194059/SP - Cumpre anotar que julgado do Superior Tribunal de Justiça concluiu que a presunção em questão tem incidência à união estável, desde que seja possível comprovar o seu término]). Incisos III e IV relativos a técnicas de reprodução assistida. ‘Fecundação artificial homóloga’ - material genético próprio dos cônjuges. Enunciado 106, CJF. IV: Embriões excedentários: Esses embriões são aqueles decorrentes da manipulação genética, mas que não foram introduzidos no ventre materno, estando armazenados em entidades especializadas, em clínicas de reprodução assistida. ‘Fertilização in vivo’ - os gametas são introduzidos diretamente na cavidade uterina; ‘in vitro’ - os gametas masculinos e femininos são unidos fora da cavidade uterina (em laboratório). L11105/05, art. 5º; ADI 3510. V: Trata da inseminação artificial heteróloga, ou seja, com material genético de terceiro (prévia autorização do marido). Enunciado 105 do CJF. Os incisos I e II do artigo 1597 e o artigo 1598, CC, atualmente não têm aplicação prática, tendo em vista a possibilidade do exame de DNA. VI.4. Do reconhecimento de filhos (art. 1607 a 1617, CC): Instituto aplicável aos filhos não advindos do casamento. o Reconhecimento voluntário/Perfilhação: Ato espontâneo, solene, público, incondicional (1613, CC), irretratável (1610, CC) e indisponível. Poderá ser feito (1609, p. único, CC): a) antes e após o nascimento da criança (LRP, art. 53); b) posteriormente ao seu falecimento, se deixar descendente (art. 1609, §único, c/c art. 26 §único do ECA) o Da legitimidade no reconhecimento espontâneo Pai ou mãe, em conjunto ou isoladamente, no prazo de até 45 dias (LRP, art. 52 e L13112/15, art. 2º); Mãe biológica (material genético próprio) ou não (material genético alheio), nos casos de maternidade de substituição, desde que porte termo de consentimento informado (documento em que a mãe substituta abre mão da maternidade da criança gerada - escritura pública) - provimento nº 52/63 CNJ. o Formas (art. 1609, CC; art, 1º, L8560/92): a) no registro do nascimento; b) por escritura pública ou escrito particular (este último, devidamente registrado); c) pacto antenupcial (escritura pública); d) testamento; e) por manifestação direta e expressa perante o juiz, ainda que o reconhecimento não haja sido o objeto único e principal do ato que o contém; f) qualquer via idônea. o Impugnação – O artigo 1614 prevê um prazo decadencial de 4 anos a contar da maioridade civil para impugnar o reconhecimento. O prazo, todavia, não é aplicado. Isso porque o direito de impugnar a paternidade não estaria sujeito a prazo decadencial, nem prescricional, por envolver questão referente ao estado de pessoas e à dignidade humana (direito à verdade biológica). O que é aplicado é um prazo prescricional da ação de petição de herança, iniciado após o trânsito em julgado do reconhecimento da filiação (10 anos – artigo 205, CC). o Do reconhecimento judicial (ação investigatória/declaratória de parentalidade e ação de averiguação oficiosa da paternidade): Ato que poderá ser espontâneo ou não, mas dotado de todas as demais características do reconhecimento administrativo. o Ações de filiação Ação investigatória de paternidade: A ação é imprescritível e tem respaldo jurisprudencial desde a edição da súmula 149 do STF. A legitimidade pertence ao filho, mas é possível a interposição por parte de terceiro (neto, bisneto), quando o filho, menor ou incapaz, falece sem o reconhecimento do vínculo. Nesse último caso, a ação a ser proposta corretamente é a declaratória de parentalidade (REsp 807849-RJ). Nesse mesmo viés, também será possível a investigatória de paternidade cumulada com a desconstituição da paternidade registral. Ação negatória de paternidade: Contestação da paternidade presumida. Fundamentos legais: artigos 1601 CC; art. 52 LRP. Características próprias da ação: personalíssima e imprescritível (REsp 1328306/DF). A procedência da ação levará à desconstituição da paternidade, mesmo que haja a paternidade socioafetiva. Ação anulatória de registro de nascimento: O afastamento do falso registral decorrente da "adoção à brasileira". Fundamentos legais: art 1604, CC; art. 52, LRP. Características próprias da ação: a legitimidade é ampla (pai registral e terceiros); a ação é imprescritível. A procedência da ação levará à declaração de nulidade do registro e declarará nulo aquilo que sempre foi falso. Nas ações anulatórias, a ausência do vínculo biológico conhecido e sabido não é fator determinante para a procedência da ação e mesmo que não tenha havido paternidade socioafetiva com o pai registral, a força do registro se mantém em muitas das hipóteses. Ação negatória com paternidade socioafetiva: A renúncia à paternidade socioafetiva reconhecida. Os tribunais devem conferir, primordialmente, o melhor interesse da criança e, no caso da desconstituição, seria viável o controle de convencionalidade, inclusive na forma difusa. Reconhecimento extrajudicial de paternidade socioafetiva: A repercussão geral 622 (RE 8968060) e seus desdobramentos no âmbito no campo da multiparentalidade a partir do provimento 63 e 83, CNJ. É possível o reconhecimento extrajuducial da paternidade socioafetiva, mediante escritura pública, quando preenchidos os requisitos dos provimentos do CNJ. Não permite a desconstituição da paternidade/maternidade biológica e, devido a isto, reflete indiretamente à multiparentalidade extrajudicial. É irrevogável e irretratável, salvo prova de má-fé. Enunciado 632, CJF. Averiguação oficiosa de paternidade (art. 2º, L8560/92 + Provimento 16, da Corregedoria Nacional de Justiça do CNJ): Averiguação, pelo Ministério Público, da paternidade dos filhos sem pai registrado. o OBS1.: A relativização da coisa julgada na ação investigatória: O assunto entra em cena no que concerne às ações relacionadas com a investigação de paternidade julgada improcedente por ausência de provas em situações em que o exame de DNA não foi realizado (não era possível à época do julgamento). Prevê o Enunciado n. 109 do CJF/STJ, da I Jornada de Direito Civil, que: “A restrição da coisa julgada oriunda de demandas reputadas improcedentes por insuficiência de prova não deve prevalecer para inibir a busca da identidade genética pelo investigando”. Precedentes: STJ, REsp 226436/PR, REsp 826698/MS. Informativo 622, STF. o OBS2.: A obrigatoriedade do exame de DNA e a presunção de paternidade: Caso o suposto pai se negue a fazer o exame, correrá contra ele a presunção de que mantém o vínculo, de acordo com as regras previstas nos arts. 231 e 232 do CC/2002, dispositivos que têm as seguintes redações: “Art. 231. Aquele que se nega a submeter-se a exame médico necessário não poderá aproveitar-se de
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