Buscar

Direio Civil Aula 25 Material de Apoio Magistratura


Continue navegando


Prévia do material em texto

Magistratura e Ministério Público 
CARREIRAS JURÍDICAS 
Damásio Educacional 
MATERIAL DE APOIO 
 
Disciplina: Direito Civil 
 Professor: José Simão 
Aula: 25 | Data: 02/06/2015 
 
 
ANOTAÇÃO DE AULA 
SUMÁRIO 
 
1. Sucessão do Companheiro 
 
1. Sucessão do Companheiro 
 
Artigo 1.790, CC. A premissa do atual código civil para a sucessão do companheiro é que existem duas massas 
patrimoniais: 
 
Art. 1.790. A companheira ou o companheiro participará da sucessão 
do outro, quanto aos bens adquiridos onerosamente na vigência da 
união estável, nas condições seguintes: 
 
I - se concorrer com filhos comuns, terá direito a uma quota 
equivalente à que por lei for atribuída ao filho; 
 
II - se concorrer com descendentes só do autor da herança, tocar-lhe-
á a metade do que couber a cada um daqueles; 
 
III - se concorrer com outros parentes sucessíveis, terá direito a um 
terço da herança; 
 
IV - não havendo parentes sucessíveis, terá direito à totalidade da 
herança. 
 
a) bens adquiridos onerosamente na constância da união estável: tais bens pela comunhão parcial do artigo 1.725 
já pertencem a ambos os companheiros em razão da meação. Falecendo o companheiro, além da meação o 
companheiro sobrevivente será herdeiro, em concorrência com os descendentes (artigo 1.790, I e II). Na ausência 
de descendentes concorre com ascendentes (artigo 1.790, III) e, na ausência de descendentes e ascendentes, 
concorre com os colaterais (artigo 1.790, III). Na ausência de descendentes, ascendentes e colateral, o companheiro 
herda a totalidade dos bens (artigo 1.790, IV). 
 
b) massa nº 2 é composta pelos demais bens (exemplo: bens anteriores à união estável) (exemplo: bens havidos 
por doação ou herança). Tais bens são particulares por força da comunhão parcial. Com a morte seguirão a vocação 
hereditária: 1º descendentes, 2º ascendentes e 3º colateral. 
 
 Massa nº 1 – Bens onerosamente adquiridos na constância do casamento: 
Quanto recebe o companheiro? 
 
a) companheiro concorre com descendente comum: artigo 1.790, I – onde se lê filho, deve-se ler descendente que 
é locução mais ampla, incluindo-se netos, bisnetos etc (orientação pacífica). Descendentes comuns são 
descendentes do companheiro falecido e do sobrevivente (exemplo: companheira concorre com seus próprios 
filhos). O companheiro recebe quinhão igual ao do descendente comum que herda por cabeça: 
 
 
 
 
 Página 2 de 4 
 
1 filho + companheira = a quota dela é 1/2 
2 filhos + companheira = a quota dela é 1/3 
3 filhos + companheira = a quota dela é 1/4 
4 filhos + companheira = a quota dela é 1/5 
5 flhos + companheira = a quota dela é 1/6 
 
Obs.: o piso de ¼ previsto no artigo 1.382 não se aplica à união estável. 
 
b) companheiro concorre com descendentes exclusivos do falecido: (exemplo: companheira concorre com filhos 
que o falecido teve em casamento anterior, a companheira é madrasta) artigo 1.790, II – o companheiro recebe a 
metade do que cabe ao descendente: 
 
2x para o filho + 1x para a companheira = 2/3 para o filho e 1/3 para a companheira 
2x para o filho A + 2x para o filho B + 2 x para o filho C + 1 x para a companheira = 1x para cada filho e 1/7 para a 
companheira. 
 
Dica: multiplica-se por 2 o número de filhos e se soma 1, ou seja, para um filho a companheira recebe 1/3, para 
dois filhos 1/5, para três filhos 1/7. 
 
c) companheiro que concorre com descendência híbrida, ou seja, com descendentes comuns e exclusivos do 
falecido: 
 
Há duas correntes: 
 
1ª corrente: aplica-se o inciso I e o companheiro recebe quota igual (Silvio Venosa); 
2ª corrente: (majoritária) o companheiro recebe meia quota. A orientação majoritária evita desigualdade dos filhos 
à médio prazo, pois se o companheiro recebesse quota igual, quando de sua morte, apenas seus filhos (os comuns) 
receberiam esta quota. Ademais, a presunção de afeto indica vontade presumida do falecido em beneficiar os 
descendentes. 
 
Obs.: o TJSP tem diversas decisões nesse sentido. 
 
d) concorrência do companheiro com os ascendentes: não havendo descendentes são chamados à sucessão os 
ascendentes em concorrência com o companheiro, artigo 1.790, III. O companheiro recebe 1/3 da herança e o 
ascendente 2/3 da herança. 
 
e) concorrência do companheiro com os colaterais: o colateral só é chamado a herdar na ausência de descendentes 
e ascendentes, artigo 1.790, III. O colateral recebe 2/3 da herança e o companheiro 1/3. 
 
f) na ausência de descendentes, ascendentes e colaterais: o companheiro herda a totalidade dos bens adquiridos 
na constância da união estável, artigo 1.790, IV. 
 
 Questões Controvertidas: 
 
I) casamento x união estável pela comunhão parcial de bens: no casamento, sendo o cônjuge meeiro, não concorre 
com os descendentes quanto à herança, artigo 1.829, I. Já na união estável, além de meeiro, o companheiro 
concorre com os descendentes, artigo 1.790, I e II. 
 
 
 
 Página 3 de 4 
 
Conclusão: a situação do companheiro é mais favorável que a do cônjuge, o que prejudica a regra constitucional 
pela qual a união estável deve ser convertida em casamento. Para resolver a questão existem decisões excluindo o 
companheiro da herança que fica apenas com os descendentes. 
 
Posição divergente: não há hierarquia entre as formas familiares, logo, as regras se aplicam separadamente e não 
há problemas em favorecer a união estável. 
 
II) Concorrência entre o companheiro e o colateral: artigo 2º, lei 8.971/94 (aula passada), por este artigo 
inexistindo descendentes ou ascendentes o companheiro recolheria a totalidade da herança, excluindo os 
colaterais. Contudo, o CC altera a questão: 
 
a) quanto aos bens onerosamente adquiridos, o companheiro recebe 1/3 e os colaterais 2/3; 
b) quanto aos demais bens o colateral recebe tudo e o companheiro nada. 
 
A doutrina majoritária admite que o novo CC gera um retrocesso em prejuízo da união estável que conta com 
proteção constitucional. A família nuclear tem preferência sobre a família extensa. 
 
Conclusão: o companheiro exclui o colateral e fica na terceira classe, recebendo as duas massas patrimoniais. A 
questão nos tribunais é polêmica e os tribunais do RS, SP, DFT e ES decidiram pela constitucionalidade. Já Paraná e 
Rio de Janeiro pela inconstitucionalidade. O STJ em 2012 entendeu ser competência do STF a declaração de 
inconstitucionalidade – Agr. Inst. Resp. 1.135.354/PB. Em 2014, em novo recurso, o julgamento pelo STJ foi 
suspenso, pois, segundo orientação do Ministro Noronha, há recurso extraordinário com repercussão geral no STF 
– REXT 646.721. 
 
III) Interpretação do inciso IV do artigo 1.790, CC: pela literalidade do artigo 1.790, inciso IV, na ausência de 
parentes do falecido, o companheiro herda a totalidade da herança que é composta pelos bens onerosamente 
adquiridos na vigência da união estável, mas os demais bens serão destinados ao município na qualidade de herança 
vacante. Contudo, a interpretação sistemática e teleológica afastam tal conclusão. 
 
Pelo artigo 1844, CC, a herança só é considerada vacante se não houver cônjuge ou companheiro, logo, por 
interpretação sistemática, o companheiro recebe a totalidade dos bens. 
 
Por interpretação teleológica, percebe-se a finalidade da norma: não havendo família, o afeto se transfere à pátria 
(Itabaiana de Oliveira). Logo, havendo família (companheiro ou companheira) o município nada recebe (afinal ele 
não é herdeiro e sim destinatário). 
 
IV) Direito real de habitação do companheiro: o artigo 1.831 do CC só prevê direito real de habitação ao cônjuge 
viúvo e não ao companheiro. 
 
Dois argumentos favoráveis à manutenção do direito em favor do companheiro: 
 
a) o artigo 7º, parágrafo único da lei 9278/96 não foi revogado pelo atual CC, mantendo-se o direito real de 
habitação; 
 
b) o direito real de habitaçãodecorre da proteção da família e a união estável e o casamento merecem igual 
proteção (enunciado 117 do CJF). 
 
 
 
 
 Página 4 de 4 
 
O STJ adotando o segundo fundamento, pacificou entendimento pelo qual o companheiro sobrevivente tem direito 
real de habitação sobre imóvel do falecido em que residia o casal – RESP 1.329. 993/RS e RESP 1.203.144: 
fundamento – “a união estável e o casamento têm igual proteção, não se tratando a união estável de um grau 
inferior”.