Buscar

Legislação Penal Especial Aula 1 01 Material de Apoio Magistratura

Prévia do material em texto

Magistratura e Ministério Público 
CARREIRAS JURÍDICAS 
Damásio Educacional 
MATERIAL DE APOIO 
 
Disciplina: Legislação Penal Especial 
 Professor: Luiz Fernando Vaggione 
Aulas: 01 | Data: 28/04/2015 
 
 
 
ANOTAÇÃO DE AULA 
SUMÁRIO 
 
LEI ANTIDROGAS – 11.343/2006 
1. Artigo 28 
2. Artigo 33 
 
 
LEI ANTIDROGAS – 11.343/2006 
 
1. Artigo 28 
Trabalha com cinco ações, no caput, praticadas com uma finalidade específica que é o consumo pessoal de 
drogas. 
Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou 
trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou 
em desacordo com determinação legal ou regulamentar será 
submetido às seguintes penas: 
I - advertência sobre os efeitos das drogas; 
II - prestação de serviços à comunidade; 
III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso 
educativo. 
 
A simples leitura do título do capitulo onde se encontra o artigo 28 deixa bem claro a intenção do legislador: O 
art. 28 é uma infração penal. Segundo as cortes superiores a tese segundo a qual teria ocorrido uma 
descriminalização dos comportamentos que estão no artigo 28 deve ser repelida, pois se baseia em uma premissa 
falsa, é utilizado o artigo 1º da Lei de Introdução ao Código Penal, que na verdade não conceitua o que é crime, 
simplesmente o distingue das contravenções. Crimes ambientais praticados por pessoas jurídicas não são 
punidos, evidentemente, com penas privativas de liberdade e não há quem sustente que não se trate de infrações 
penais. 
 
Houve em suma uma simples despenalização no artigo 28, que implica dizer como ausência de penas carcerárias, 
privativas de liberdade, no artigo 28. O artigo 28 é uma infração de pequeno potencial ofensivo, portanto, da 
competência do JECRIM, inclusive para fase de execução da pena. 
 
 Adquirir Crime instantâneo 
 Guardar 
Crime Permanente 
 “caput” Trazer Consigo
1 
 Transportar
1 
Art. 282 Ter em depósito 
 
 Semear 
 § 1º Cultivas 
 Colher 
 
 
 
 Página 2 de 5 
 
Nota1: A ação de trazer consigo condiste no deslocamento da droga junto ou dentro do corpo do agente, 
enquanto que, o verbo transportar é reservado para o mesmo deslocamento da droga, mas usando um meio de 
locomoção. 
 
Nota2: Todas essas ações (“caput” e §1º) são orientadas por uma intenção exclusiva do agente, ou seja, consumo 
pessoal de drogas. 
 
Como analisar o fato para averiguar a existência ou não da finalidade de consumo pessoal? 
A analise deve focar todas as circunstâncias do paragrafo 2º do artigo 28 da Lei, a saber: Quantidade e natureza 
de droga apreendida; Local e condições da ação; Circunstâncias sociais e pessoais; Antecedentes e; Conduta do 
agente. 
Art. 28, § 2o – Para determinar se a droga destinava-se a consumo 
pessoal, o juiz atenderá à natureza e à quantidade da substância 
apreendida, ao local e às condições em que se desenvolveu a ação, às 
circunstâncias sociais e pessoais, bem como à conduta e aos 
antecedentes do agente. 
 
Grandes quantidades apreendidas facilita o enquadramento típico, dada a incompatibilidade com o objetivo de 
consumo pessoa de droga. 
 
– Objeto material 
Seja o caput, seja o paragrafo 1º, podemos afirmar que se tratam de tipos penais incompletos, pois exigem um 
complemento externo. São as conhecidas normas penais em branco. No caso da Lei Antidrogas, normas penais 
em branco heterogêneas, porque o complemento está em uma portaria, que como sabemos, é modalidade de 
ato administrativo. A portaria mencionada, atualmente em vigor, é a portaria n.º 344/98, sob a supervisão da 
ANVISA. Nela encontraremos várias listas, por exemplo, lista de substâncias entorpecentes, substâncias 
psicotrópicas, substâncias sob controle especial, substâncias proibidas no Brasil. 
 
Na portaria pode haver a adição de substâncias ou produtos ou a exclusão das mesmas substâncias. A ANVISA 
expede as chamadas RDC –Resoluções da Diretoria Colegiada, dependendo de publicação no Diário Oficial da 
União para gerar efeitos. 
 
Conceito de Droga: São substâncias ou produtos discriminados nas diversas listas da portaria 344/98, capazes de 
gerar dependência física ou psíquica. Esse conceito é resultado da conjugação de dois dispositivos da Lei, o 
paragrafo único do artigo 1º, mais o artigo 66, ambos da Lei 11.343/06. 
 
Art. 1º, Parágrafo único. Para fins desta Lei, consideram-se como 
drogas as substâncias ou os produtos capazes de causar 
dependência, assim especificados em lei ou relacionados em listas 
atualizadas periodicamente pelo Poder Executivo da União. 
 
Art. 66. Para fins do disposto no parágrafo único do art. 1o desta Lei, 
até que seja atualizada a terminologia da lista mencionada no 
preceito, denominam-se drogas substâncias entorpecentes, 
psicotrópicas, precursoras e outras sob controle especial, da Portaria 
SVS/MS no 344, de 12 de maio de 1998. 
 
 
 
 Página 3 de 5 
 
Se uma substância ou produto forem excluídos da portaria ocorre o fenômeno da “abolitio criminis”, causa 
extintiva da punibilidade. Para o Supremo isso ocorre porque o complemento das normas penais em branco da lei 
antidrogas tem natureza estável, permanente. Não é o que normalmente ocorre com a maioria das normas 
penais em branco, pois em relação a estas os complementos tem natureza excepcional ou temporária, e como 
sabemos normas excepcionais ou temporárias não retroagem. O Supremo assim manifestou-se ao analisar na 
década de 80 a exclusão do Cloreto de Etila, que a época estava na lista de substâncias de utilização proibida no 
Brasil. Essa substância é utilizada pela delinquência para a fabricação do lança perfume. 
 
O art. 28, caput e seu paragrafo 1º, é também um crime de mera conduta que se consuma independentemente 
de qualquer resultado naturalístico. O que se procura proteger com a Lei Antidrogas é a saúde pública e como 
consequência a saúde individual do nosso povo. Trata-se de um delito de perigo abstrato e doloso. Alias em 
relação ao dolo podemos dizer que ele exige um elemento subjetivo especial: Consumo pessoa de droga. 
 
– Sanções do art. 28 
 
I) Advertência sobre os efeitos das Drogas 
 
II) Trabalho Comunitário 
 
III) Comparecimento obrigatório a cursos ou programas educativos 
 
Nota1: Não há regra legal para a escolha do juiz dentre essas diversas sanções. Ele diante do caso concreto 
decidirá dentre qualquer delas, podendo aplica-las cumulativamente. 
 
Nota2: No caso dos incisos II e III o juiz fixará a duração das penas por até 5 meses, ou por até 10 meses se o 
indivíduo for reincidente – uma reincidência genérica. 
 
Nota3: Se descumprir a sanção imposta, inicialmente o condenado (reeducando) será inicialmente advertido e se 
isso não for suficiente a lei determina que a ele seja imposta uma multa de 40 a 100 dias multa, e valor unitário 
de um trigésimo a três vezes o salário mínimo. 
 
Atenção: Nunca se converte qualquer das penas mencionadas em detentiva, em razão do seu descumprimento. A 
lei, como vimos, dispõe de maneira especial. 
 
– Prescrição (art. 30 da Lei Antidrogas) 
É a prescrição da pretensão punitiva e da pretensão executória, ambas em 2 anos. 
 
Art. 30. Prescrevem em 2 (dois) anos a imposição e a execução das 
penas, observado, no tocante à interrupção do prazo, o disposto 
nos arts. 107 e seguintes do Código Penal. 
 
O prazo mencionado interrompe-se nas situações do artigo 117 do Código Penal e pode ser reduzido nas 
hipóteses do art. 115 do CP. 
 
Obs.: A Lei Antidrogas foi infeliz ou citar o artigo 107 do Código Penal, pois na verdade trata-se do artigo 117 do 
CP. 
 
 
 
 Página 4 de 5 
 
2. Artigo 33 
No artigo 33 temos vários crimes, alguns são crimes de tráfico e outros não, alguns são crimes de menor potencial 
ofensivo (ex.: §3º).Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, 
adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, 
transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a 
consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem 
autorização ou em desacordo com determinação legal ou 
regulamentar: 
Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 
(quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa. 
§ 1o Nas mesmas penas incorre quem: 
I - importa, exporta, remete, produz, fabrica, adquire, vende, expõe à 
venda, oferece, fornece, tem em depósito, transporta, traz consigo 
ou guarda, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em 
desacordo com determinação legal ou regulamentar, matéria-prima, 
insumo ou produto químico destinado à preparação de drogas; 
II - semeia, cultiva ou faz a colheita, sem autorização ou em 
desacordo com determinação legal ou regulamentar, de plantas que 
se constituam em matéria-prima para a preparação de drogas; 
III - utiliza local ou bem de qualquer natureza de que tem a 
propriedade, posse, administração, guarda ou vigilância, ou consente 
que outrem dele se utilize, ainda que gratuitamente, sem autorização 
ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, para o 
tráfico ilícito de drogas. 
§ 2o Induzir, instigar ou auxiliar alguém ao uso indevido de droga: 
Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa de 100 (cem) a 
300 (trezentos) dias-multa. 
§ 3o Oferecer droga, eventualmente e sem objetivo de lucro, a 
pessoa de seu relacionamento, para juntos a consumirem: 
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e pagamento de 700 
(setecentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa, sem prejuízo das 
penas previstas no art. 28. 
§ 4o Nos delitos definidos no caput e no § 1o deste artigo, as penas 
poderão ser reduzidas de um sexto a dois terços, vedada a conversão 
em penas restritivas de direitos, desde que o agente seja primário, de 
bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem 
integre organização criminosa. 
 
 
 
 Página 5 de 5 
 
– Art. 33, “caput” 
Aqui temos 18 verbos, ou seja, trata-se de crime de ação múltipla ou conteúdo nuclear, os verbos são: Importar, 
exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, 
trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo e fornecer. 
 
Destaque para alguns dos verbos: 
 
. Importar e exportar: Importação é o ingresso ilegal de drogas no Brasil e a exportação é a saída de drogas do 
país. Importação e exportação dão origem ao Tráfico Internacional de Drogas, que é crime de competência da 
justiça federal, pois se trata de comportamento típico abordado nas convenções internacionais de Nova York 
(1961), Viena e etc.. Aplica-se o art. 109, inciso V da CF. 
 
Na verdade qualquer ação típica da Lei Antidrogas que sirva, que se preste, ao tráfico internacional assim será 
julgado pela justiça federal.

Continue navegando