Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
ACIDENTES OFÍDICOS (Picada de cobra) INTRODUÇÃO A importância de conhecer a clínica dos ofidismos é a de reconhecer o quadro para dar o soro específico para o veneno, fugindo do soro polivalente. Para saber qual acidente o paciente sofreu, há 2 caminhos, que podem se complementar: Examinar o animal (ou ouvir a descrição) Observar a clínica O exame do animal observa: Malha – a presença de aspecto ‘desenhado’ sugere cobra peçonhenta. Anéis – cobra coral. Cabeça – fosseta loreal = entre os olhos e as narinas das cobras peçonhentas (exceto coral). Atua como receptor térmico para localizar a presa. JARARACA X CASCAVEL? A cascavel tem guizo (“chocalho) na sua cauda. A jararaca não tem. CORAL VERDADEIRA X CORAL FALSA? No RN, a coral falsa não tem voltas completas (“barriga branca”). Além disso, o outro pilar dos ofidismos é a clínica! Acidentes com laquéticos não são documentados no RN. Mas a surucucu (Lachesi) tem cauda eriçada. Assim, os acidentes estudados são: Acidente botrópico – jararaca Acidente crotálico – cascavel Acidente elapídico – coral Os acidentes listados estão na ordem de maior incidência para a menor incidência, e da menor potência à maior potência. O uso de garrote/torniquete é um possível complicador local – dor e edema. FISIOPATOLOGIA VENENO BOTRÓPICO Coagulante – ação tipo trombina coagulopatia de consumo. Como o fibrinogênio é consumido, o paciente passa a ter incoagulabilidade sanguínea. Proteolítica – necrosante = ação citotóxica nos tecidos lesões locais => resposta inflamatória – dor (também se deve a aminas biogênicas). Hemorrágica – ação de hemorraginas + coagulopatia sangramentos locais VENENO CROTÁLICO Miotóxica – liberação de hemoglobina para sangue e urina = rabdomiólise (quebra de musculatura esquelética). Nefrotóxica – lesão renal aguda relacionada com a mioglobulinúria desencadeada pela rabdomiólise. Neurotóxica – bloqueio da transmissão neuromuscular = ação pré-sináptica. Ação coagulante ocorre em menor grau. VENENO ELAPÍDICO Neurotóxica – ação pré ou pós-sináptica com rápido desenvolvimento do bloqueio neuromuscular. Se o mecanismo for pós-sináptico, reverte com anticolinesterásicos. CLÍNICA VENENO BOTRÓPICO Localmente – dor, edema, calor, rubor, equimoses. Sistemicamente – hemorragias: epistaxe, gengivorragia, podendo ser mais grave. Alteração do tempo de coagulação = incoagulável. Complicações Locais – necrose, síndrome compartimental, abscesso. Sistêmicas – IRA (raro), outras hemorragias (HSA, hemoperitônio, hemotórax). Letalidade = ~0,3% OBS: é possível que as espécies do RN que causam acidente botrópico predominem o quadro hemorrágico, de modo que se trata quadros leves relacionados com a ação proteolítica, porém gravemente hemorrágicos, como um acidente grave! VENENO CROTÁLICO Localmente – sintomas discretos ou ausentes. Sistemicamente Gerais: mal-estar, prostração, sudorese, náuseas, vômitos, sonolência. Neurológicos: fácies miastênica, com ptose, paralisia facial periférica, miose/midríase, oftalmoplegia e visão turva e/ou diplopia. Musculares: mialgia generalizada, urina escura/avermelhada = mioglobinúria. A principal complicação é a insuficiência lesão renal aguda, com necrose tubular em geral de instalação nas primeiras 48h. VENENO ELAPÍDICO Localmente – sintomas discretos ou ausentes Sistemicamente – inicialmente, vômitos. Em seguida, fraqueza muscular progressiva no sentido crânio-caudal, com ptose palpebral, oftalmoplegia fácies miastênica. Sialorreia e dificuldade de deglutição podem ocorrer. Paralisia flácida da musculatura respiratória = insuficiência respiratória aguda precoce. EXAMES LABORATORIAIS ESPECÍFICOS DIAGNÓSTICO ELISA – veneno no sangue, urina, etc. INESPECÍFICOS COMPLEMENTARES Botrópico e crotálico – leucocitose com neutrofilia (não significa infecção!!), desvio à esquerda e, por vezes, granulações tóxicas, além de linfopenia. Tempo de coagulação – aumentado ou incoagulável no botrópico. Sangramento pedir plaquetas, TAP e PTT. Oligúria pedir ureia, creatinina e ácido úrico. Crotálico – determinar CPK e LDH. Em função da evolução: perfil eletrolítico, gasometria, glicemia, urina EAS e mioglobina, clearence creatinina, culturas, ECG, PFP, LCR. TRATAMENTO TRATAMENTO ESPECÍFICO = SOROTERAPIA Dose depende da gravidade do acidente, e não da idade ou peso do paciente. Administração intravenosa – diluído em glicose 5% ou em soro 1:2 a 1:5. Não se faz teste de sensibilidade ao soro – prevenção Pré-medicação = prevenção de anafilaxias Hidrocortisona Prometazina (antagonista H1) Cimetidina ou ranitidina (antagonista H2) TRATAMENTO INESPECÍFICO MEDIDAS GERAIS Decúbito dorsal, membro afetado em posição mais elevada, lavagem. GARROTE OU TORNIQUETE CONTRAINDICADO. Analgésicos, anestésico local. Prevenção de insuficiência renal aguda = hidratação precoce, alcalinização da urina (já que meio ácido favorece deposição de mioglobina) – bicarbonato de sódio, ↑ diurese osmótica – manitol (furosemida). TRATAMENTO DAS COMPLICAÇÕES Antibióticos quando há evidência de infecção secundária. Com insuficiência renal aguda, avaliar se faz diálise ou hemodiálise. Síndrome compartimental fasciotomia. Insuficiência respiratória aguda – fase inicial = atropina e neostigmina; sinais de insuficiência = respiração mecânica. Profilaxia do tétano; desbridamento de tecido necrosado. Choque = vasoplégico; fisioterapia; necrose extensa => avaliar amputação. PROFILAXIA Uso de botas e/ou luvas em plantações e atividades de risco. Cuidado com locais quentes, escuros e úmidos, como tocas abandonadas de outros animais e cupinzeiros. Manter o terreno em volta da casa limpo, sem frestas nas portas. Evitar o acúmulo de lixo. Armazenar alimentos de forma adequada para não atrair roedores e os ofídeos.
Compartilhar