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4. Presídio e APAC

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PRESÍDIO E APAC
VIGIAR – PUNIR – CORRIGIR – EDUCAR
	Há tempos o ser humano vem aprendendo a ser civilizado e a organizar regras para a sua convivência social. Porém, nem todos aderem, entendem ou participam dos benefícios advindos do sacrifício de ceder de sua liberdade. Alguns transgridem, subvertem, desobedecem, questionam, agridem, ou seja, desviam e extraviam para a margem social. Daí surgem as crises de valores morais, falência de ideais, enfraquecimento da esperança e a decadência espiritual, fatores que desestabilizam a ordem social; a barbárie se instala e a vida se torna banal. O medo, a desesperança, o caos, a incompetência e a insegurança revelam a desordem na confusão da lei.
EDUCAR E SOCIALIZAR x PUNIR E CASTIGAR
	Houve o tempo dos Suplícios (século XVIII); o delinquente era levado a pedir perdão publicamente, numa carroça, nú, carregando uma tocha de cera acesa e, em seguida, sobre o patíbulo era atenazado nos mamilos, braços, coxas e barrigas das pernas e aplicavam-lhe chumbo quente nestas partes. Seus membros eram amarrados a quatro cavalos que puxavam, cada um para um lado, até arrebentar o indivíduo. Ocorre que muitas das vezes não o conseguiam fazê-lo de imediato, provocando somente deslocamento dos membros, causando uma dor terrível. Então, para desmembrar as coxas do infeliz, era necessário cortar-lhe os nervos e retalhar-lhe as juntas e, em seguida, seus membros e corpo eram jogados ao fogo.
	Percebeu-se que tal método era muito violento e chegava próximo à barbárie, então mudou-se para a forma de Decapitação, seja por machado ou guilhotina. No entanto ainda se dava em praça pública, e era da mesma forma violento.
	Optou-se então pelo Enforcamento, também em público. Todos esses métodos eram concorridos pelas pessoas para assistirem ao “espetáculo”, jogarem alimentos estragados e pronunciarem injúrias contra o condenado.
	Por volta do final do século XIX, a forma de punir começou a passar da pena sobre o corpo para a alma do indivíduo criminoso. A cadeia passa a ser a opção de penalizar o erro. Verifica-se, assim, uma atuação sobre o que é mais caro ao ser humano: a restrição de sua liberdade.
	Ao longo dos últimos séculos a pena foi afrouxando sua severidade, pautando por menos sofrimento e mais “humanidade”, mais “respeito”. Saem de cena o sangue e o corpo morto, termina a tragédia e começa a comédia, com atores e entidades amparadas por um “sistema de justiça”.
	As penas de morte e as cadeias têm demonstrado que não são solução para regular as ações associais, sendo conhecidas as péssimas condições dos presídios. Precisamos passar por uma reforma, “humanizar” esses espaços e transformá-los em lugar de reeducação social. Contudo, se a cadeia não é solução, como substituí-la? Qual o próximo passo? A solução é construir mais presídios? Diminuir a idade penal? Voltar às práticas da pena de morte? Ou investir na educação social para uma civilização harmônica, a fim de reduzir a quantidade de pessoas que não se adequam às normas?
	A Organização Mundial da Saúde define saúde como o bem-estar físico, mental e social. Por isso, quando ficamos doentes do corpo vamos ao hospital clínico para recuperarmos a saúde física; ao adoecermos psiquicamente, vamos aos serviços de atenção psicossocial para recuperarmos a sanidade mental. Assim, quando ficamos doentes sociais deveríamos ir à um local onde recuperaríamos a condição saudável, uma espécie de hospital social; mas os nossos presídios e similares estão longe disso. Ao contrário, estão adoecendo ainda mais aqueles que ali adentram.
	Estamos apostando numa ressocialização dentro do espaço estragado dos presídios, o que não produz resultados abrangentes. E observamos um novo formato: o centro de recuperação dirigido pela APAC.
APAC E CENTRO DE RECUPERAÇÃO
1 - Associação de Proteção e Assistência ao Condenado – APAC
	Modelo de presídio que nasceu em São José dos Campos, em 18/11/1972, idealizado pelo advogado Mário Ottoboni e um grupo de voluntários como psicólogos, assistentes sociais e médicos. É uma entidade civil, sem fins lucrativos, amparada pela Constituição Federal para atuar na recuperação de condenados. Possui seu estatuto resguardado pelo Código Civil e pela Lei de Execução Penal (LEP). É dedicada à recuperação e reintegração social dos condenados a penas privativas de liberdade, através de métodos de valorização humana nos chamados "Centros de Recuperação". A APAC somente pode existir com a participação da comunidade organizada, com o objetivo de introduzir o método nas prisões e de reunir forças na sociedade em prol deste ideal. Opera como entidade auxiliar na execução penal e na administração do cumprimento das penas privativas de liberdade nos regimes fechado, semiaberto e aberto. A função da APAC é humanizar a pena e garantir a reinserção dos condenados à sociedade. As principais diferenças entre a APAC e o sistema Prisional são:
na APAC, os próprios recuperandos (como são chamados aqueles que lá cumprem suas penas) são co-responsáveis pela sua recuperação, que é bem maior do que no sistema prisional comum;
O custo financeiro é três vezes menor na APAC do que no sistema prisional comum, devido a participação da sociedade.
2 - Características da APAC
	Valorização humana – é a base do método APAC. Os recuperandos são chamados pelo próprio nome, buscando-se colocar o ser humano em primeiro lugar. Todo o trabalho é conduzido no sentido de reformular a auto-imagem da pessoa que errou e estimular a sua capacidade de recuperação.
	Municipalização da execução penal – o condenado cumpre sua pena em local de pequeno porte, dando preferência para que permaneça na sua terra natal ou onde reside sua família. Existe a visão da necessidade da integração dos familiares em todos os estágios da vida penal, como sendo um dos pilares da recuperação do condenado. Nesse sentido, empreende-se grande esforço para que os elos afetivos familiares e de amizade não sejam rompidos.
	Recuperando ajudando recuperando – imperiosa necessidade do recuperando ajudar o seu companheiro em tudo o que for preciso, para que o respeito se estabeleça, promovendo a harmonia do ambiente. Há a representação de cela e a constituição do “Conselho de Sinceridade e Solidariedade” (recuperandos eleitos pelos próprios recuperandos). Busca-se a cooperação de todos para a melhoria da segurança do espaço e para as soluções práticas, simples e econômicas dos problemas e anseios da população apaquiana, primando-se sempre pela disciplina.
	Estudo – os recuperandos participam de aulas expositivas diariamente em escola estadual interna, onde acontecem frequentemente debates, palestras e seminários. Também estudam informática.
	Trabalho – deve fazer parte do contexto e da proposta, mas não deve ser o único elemento fundamental, pois somente ele não é suficiente para recuperar a condição de pessoa honesta. Há também a reciclagem de valores e a melhoria da autoestima, fazendo com que o cidadão apenado se conheça e reformule suas escolhas. O trabalho acontece de forma diferente nos três regimes existentes:
Regime Fechado – o trabalho se dá dentro da própria APAC, em oficinas de marcenaria, serralharia, padaria, confecção (roupas, bolas, redes), artesanato, dentre outros. O objetivo é a melhoria da autoimagem, fazendo aflorar valores intrínsecos do ser humano. Nessa fase, o recuperando pratica trabalhos laborterápicos voltados para sua reabilitação.
Regime Semiaberto – cuida-se da formação de mão-de-obra especializada, através de oficinas profissionalizantes instaladas dentro do Centro de Recuperação, respeitando a aptidão de cada recuperando.
Regime Aberto – o trabalho tem enfoque social, já que o recuperando presta serviço à comunidade, ou seja, fora dos muros do Centro de Recuperação.
3 - Assistências
	Psicológica – a ansiedade e a angústia são sintomas recorrentes nas pessoas que recebem penas de privação de liberdade e de restrição de alguns de seus direitos como cidadãos. A distância e o isolamento dos familiares, do trabalhoe do projeto de vida acarretam transtornos psicológicos que necessitam serem acolhidos e auxiliados para que não se perca a condição humana, mantendo-se a capacidade de recuperação e a esperança.
	Pedagógica, Odontológica e Médica – o atendimento a essas necessidades é vital, criando-se assim um clima de confiança e segurança.
	Assistência familiar – as famílias dos recuperandos são atendidas em “Grupos de Família” pelo setor psicossocial.
	Assistência Jurídica – a grande maioria da população apaquiana não reúne condições para contratar um advogado e a ansiedade aumenta, especialmente na fase de execução da pena, quando o recuperando toma conhecimento dos inúmeros benefícios facultados pela lei.
	Espiritualidade – importância de se desenvolver a espiritualidade sem qualquer imposição de credos.
4 - Controle
Não há presença de policiais e agentes penitenciários.
As chaves de todas as portas, inclusive de entrada e saída, ficam em poder de um recuperando membro do “Conselho de Sinceridade e Solidariedade”.
Existem TV’s e jogos para os recuperandos, em salas específicas.
Todo o material confeccionado pelos recuperandos é exposto publicamente e vendido à população.
A APAC se mantém através de contribuições de seus sócios, doações de entidades e de colaboradores. Existem também convênios com o Poder Público (equipe técnica, consultórios e hospitais).
O voluntário que presta serviço à entidade passa por um curso de formação. Nesse período, ele conhece a metodologia e desenvolve suas aptidões para exercer o trabalho com eficácia e espírito comunitário, despertando para a seriedade da proposta.
PRESÍDIO
	A Lei 7.210/84 (LEP) instituiu a forma como a pena imputada a uma pessoa condenada à privação de liberdade e restrição de direitos deve ser acompanhada. Dentre os seus artigos, destaca-se o que determina a avaliação realizada pelos técnicos de cada unidade prisional, que compõe a “Comissão Técnica de Classificação” (CTC), como elemento daquilo que a doutrina penal denomina "Individualização Administrativa da Pena", a fim de desenvolver o “Programa de Individualização de Ressocialização” (PIR). Semanalmente, os técnicos da equipe (psicólogos, pedagogos, agentes de segurança, assistentes sociais, dentistas, enfermeiros, advogados, chefia e direção) se reúnem para discutir o caso de cada pessoa presa visando o seu PIR. A cada seis meses, esse caso volta à discussão pela CTC para a avaliação da evolução do PIR daquele sujeito. Após a aplicação da sanção pelo juiz, cabe aos agentes e técnicos do sistema de custódia classificar as pessoas presas com o intuito de determinar o programa "ressocializador" de cada uma delas.
	Assim, às pessoas presas no cumprimento de pena privativa de liberdade, principalmente àquelas que cumprirão em regime fechado, serão submetidos diagnósticos para obtenção de elementos necessários à sua adequada classificação, objetivando estabelecer os parâmetros do tratamento penal.
	Grande parte da população identifica nas penas privativas de liberdade a possibilidade de isolamento daqueles que ameaçam ou violam as normas sociais, lançado mão do discurso oficial de que os infratores precisam ser ressocializados.
	A CTC atua no local da execução penal, como observatório do cotidiano do apenado. Sua determinação é acompanhar a execução das penas privativas de liberdade, devendo propor à autoridade competente as progressões e regressões dos regimes, bem como a conversão de penas. Seu parecer deve voltar-se para a execução, para a terapêutica penal e para o aproveitamento por parte do sentenciado.
	A “Comissão Disciplinar” (CD), formada pelos mesmos técnicos da unidade (exceto psicólogos), tem como intenção avaliar o comportamento do indivíduo durante sua permanência na unidade prisional e determinar se houve faltas, classificando-as em leve, moderada e grave, aplicando os devidos castigos. As faltas e os castigos são determinados pelo “Regimento Disciplinar Prisional” (REDIPRI).
	Uma atividade pautada em programas humanistas de redução de danos possibilitaria construir com o apenado técnicas que minimizassem o efeito deletério do cárcere. Constatados problemas de ordem pessoal ou familiar, deveria o técnico, juntamente com o apenado, colocar em prática um processo de resolução do problema, ou seja, fornecer elementos para a superação da crise e não estigmatizá-la.
	Não basta apenas aplicar as determinações judiciárias; é preciso que seja observado, no próprio preso, um saber que permita alterar a pena vigente conforme sua postura diante dos efeitos da detenção, sua implicação com o processo de mudança e sua tomada de consciência e responsabilidade com o crime cometido, ou seja, o efeito da reclusão sobre o preso é que deverá determinar o período da privação de liberdade. Dessa forma, as recompensas e castigos não são estratégias para fazer com que o sujeito somente respeite o regulamento de funcionamento do sistema, tendo também a função de tornar efetiva a ação de reeducá-lo para que retorne à condição normal de sujeito seguidor das normas sociais.
	Socializar ou ressocializar é a capacidade de internalizar a norma social, fazendo valer a limitação da liberdade, pois o princípio ético básico que rege a convivência pacífica entre os homens é que a liberdade de um termina quando a do outro começa.
Críticas ao sistema prisional
Ainda é utilizado como um depósito de inadequados sociais. Embora os presídios em Minas Gerais estejam sob a administração da Secretaria de Defesa Social, sob a custódia de agentes penitenciários e não mais da Polícia Civil e Militar, a predominância é a segurança e a obtenção da ordem por obediência em detrimento da ressocialização da pessoa presa.
As superlotações são realidade, o que não acontece nas APAC’s, onde o número de vagas é respeitado. Nos presídios não há preocupação com o acúmulo de pessoas.
O trabalho direcionado com a intenção de ser uma atividade voltada para a recuperação de valores é pouco presente, só existindo aqueles que se destinam ao próprio presídio, como faxina, reforma da construção, ampliação do prédio, etc. Outros são os de costura de bolas, repetitivo, sem objetivo, e tido como exploração de mão-de-obra barata, posto que as empresas têm grandes descontos ao destinarem seu trabalho aos presos. Artesanatos são esporádicos e sem direcionamento.
Há uma mistura no mesmo espaço de presos preventivos e condenados por crimes graves, hediondos, banais, leves, moderados e por não pagamento de pensão alimentícia.
A desubjetivação é realizada pelos meios invasivos de retirada da roupa e uniformização, pela raspagem da cabeça, pelos horários e escolhas dirigidos sempre por outrem. Aos presos é subtraída a autonomia e passam a obedecer a uma heteronomia.
A condição humana é interrompida e em seu lugar a institucionalização toma posse. Como pode o preso ser um sujeito social ao sair da cadeia, posto que esta condição lhe foi segregada?

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