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Gado de Corte Juliana Vieira Salles Varallo Leite Manejo sanitário na bovinocultura de corte Rebanho saudável, rebanho rentável C A P Í T U L O 1 1. Introdução 1.1 Introdução Para o sucesso na produção de gado de corte, o manejo sanitário do rebanho é um item extremamente importante para evitar o aparecimento de doenças que possam comprometer os índices de produtividade. O planejamento sanitário possibilita ao produtor a redução dos riscos da produção dentro da porteira e proporciona um produto seguro ao consumidor no final da cadeia produtiva. Entende-se por manejo sanitário, um conjunto de medidas cuja finalidade é pro- porcionar aos animais ótimas condições de saúde. Os componentes do manejo sanitário buscam evitar, eliminar ou reduzir ao máximo a incidência de doenças no rebanho, para que obtenha um maior aproveitamento do material genético e conseqüente aumento da produção e produtividade (Domingues & Langoni, 2001). O Brasil possui o maior rebanho comercial do mundo com 173 milhões de cabe- ças (IBGE, 2006), ocupando as primeiras posições como principal exportador de proteínas animais do mundo, com grandes empresas tornando-se multinacionais Manejo sanitário na bovinocultura de corte Rebanho saudável, rebanho rentável 4 IEPEC produtoras de proteínas animais. O manejo sanitário consiste num conjunto de atividades regularmente planejadas e direcionadas para a prevenção e manutenção da saúde dos rebanhos. Onde visamos: » Prevenção de ação dos agentes patogênicos sobre os animais: medidas de higiene e de profilaxia sanitária (limpeza e higieniza- ção das instalações, desinfecção umbilical de bezerros, ingestão de colostro, destinação adequada de carcaças). » Resistência à ação dos patógenos: são utilizadas as medidas de profilaxia médica (vacinação, vermifugação e banho carrapaticida). 1.2 Programa sanitário para gado de corte Os produtores devem possuir um Programa Sanitário previamente estudado e definido para a propriedade. As medidas de controle devem ser realizadas em função das endemias regionais, do estado sanitário do rebanho, do perfil de sistema de produção e orientação do órgão de defesa estadual. Certas vacinas são aplicadas no rebanho todo, outras são aplicadas somente em certas categorias de animais, selecionando idade e até mesmo o sexo. Capítulo 1 Introdução 5O portal do agroconhecimento 1.3 Importância do controle sanitário (impacto econômico) A ocorrência de doenças e de parasitas, quando não controlados, prejudica o de- sempenho do rebanho. Além disso, comprometem também a qualidade da carne e do couro produzidos, dificultando a comercialização e favorecendo a criação de barreiras sanitárias pelos mercados consumidores. Um exemplo muito discutido é quanto à endo e ectoparasitoses, o impacto eco- nômico das principais parasitoses em bovinos no Brasil é estimado em 3,6 bilhões de dólares. Somente o carrapato Boophilus microplus causa prejuízos estimados em um bilhão de dólares. Os prejuízos causados pelas larvas de Dermatobia hominis (berne), pelas bicheiras, Cocliomya hominivorax, pela mosca do chifre, Haematobia irritans e moscas dos estábulos, Stomoxys calcitrans, somam 400 milhões de dólares. Atribui-se ainda ao carrapato a mortalidade de animais (1,2%), a diminuição do ganho de peso (6 kg/animal/ano). Figura 1: Animal acometido por carrapatos. Manejo sanitário na bovinocultura de corte Rebanho saudável, rebanho rentável 6 IEPEC Já o prejuízo causado pela mosca dos chifres no Brasil, estima-se mais de R$ 800 milhões ao ano, cada inseto chega a picar o animal até 40 vezes ao dia. Isto quando se tem como referência estudos que demonstraram que um bovino infestado com aproximadamente 200 moscas adultas pode ter uma redução de 10 a 15% do seu peso e queda da taxa de prenhez em até 15%. Figura 2: Haemotobia Irritans, infestação mosca do chifre. Grisi et al. (2002) relatam que os principais problemas econômicos, decorrentes destas parasitoses, estão ligados diretamente à ação espoliativa sobre o hospe- deiro ou, indiretamente, pela transmissão de outros patógenos, tais como: vírus, riquetsias, bactérias e protozoários. Figura 3: Berne/ larva de Dermatobia hominis. Capítulo 1 Introdução 7O portal do agroconhecimento Quanto às verminoses nos Estados Unidos calcula-se que os prejuízos causados pelas verminoses estão em torno de 330 milhões de dólares/ano. Na Alemanha, 50 milhões de marco/ano, e na Itália aproximadamente 30 milhões de lira/ano. Figura 4: Carcaça com cisticerco. Doenças infecto contagiosas causam então prejuízos imensuráveis, as doenças infecciosas crônicas ou subclínicas representam os maiores prejuízos em um rebanho. O programa de controle de doenças infecciosas, que chama de biosseguridade, vem ganhando cada vez maior dimensão na pecuária de países especializados na atividade. Nem todas as doenças conhecidas podem ser incluídas em um programa de biosseguridade, assim como não se pode criar um programa que seja apropriado para todos os rebanhos. Manejo sanitário na bovinocultura de corte Rebanho saudável, rebanho rentável 8 IEPEC Um programa de prevenção de doenças infecciosas depende de cuidados na compra de animais, no controle de doenças e de práticas que envolvem a vaci- nação do rebanho. A falta de controle sanitário no rebanho pode vir a ocasionar não somente prejuízos, mas também problemas de saúde pública. A sanidade do rebanho é um dos aspectos mais importantes que devem ser levados em conta nos sistemas de produção, pois o seu controle através de um bom manejo impede a disseminação de enfermidades, consequentemente aumentando a produtividade e a lucratividade da fazenda. O conjunto de fatores que compõe o manejo sanitário de um rebanho é composto pela vacinação, controle de parasitos,higiene, ações profiláticas e curativas dos animais. Todo o manejo sanitário deve fazer parte de um calendário que previamente deve ser elaborado em conjunto entre o proprietário e o Médico Veterinário da fazenda e adaptado a realidade da região onde se encontra a propriedade. Diante deste contexto, o produtor rural deve ficar cada vez mais atento as ques- tões sanitárias do seu rebanho, pois diante da nova dinâmica que se encontram os processos produtivos, onde as margens são cada vez mais apertadas, a prática do manejo sanitário garantirá a lucratividade de sua produção. 1.4 Instalações Boas instalações facilitam o trabalho no campo, principalmente quando tratamos de grandes rebanhos. As instalações devem ser adequadas ao número de ca- beças contidas no mesmo, a fim de otimizar a construção ou reduzir gastos com construções excessivas. Capítulo 1 Introdução 9O portal do agroconhecimento O planejamento das instalações ainda deve considerar as características da área, tipos de solo, topografia do terreno, distribuição das aguadas e benfeitorias exis- tentes. 1.4.1 Curral ou Mangueira Recomenda-se 2 m² de área disponível para cada animal, o curral seja dividido em curraletes para igual número de animais a por fim, que esteja localizado no centro do grupo de animais, podendo haver mais de um curral dependendo do tamanho da propriedade. Normalmente, os currais contêm seringa, sala de apar- tação, tronco individual, porteiras de apartação, balança, embarcadouro, alguns casos, breque pulverizador ou mesmo banheira de imersão. Exemplo: Dimensionar curral para 100 cabeças por vez Opção: 4 curraletes com 25 cabeças em cada. Área do curralete: 25 cabeças x 2 m2 /cabeça = 50 m2 Manejo sanitário na bovinocultura de corte Rebanho saudável, rebanho rentável 10 IEPEC Figura 5: Exemplo de curralete dimensionado pararebanho de 300 cabeças. 1, 0 - 1, 2 1, 0 - 1, 2 4, 0 - 6, 0 4,0 - 6,0 30º Capítulo 1 Introdução 11O portal do agroconhecimento 1.4.2 Tronco coletivo = 1, 5 m/cabeça; Figura 6: Planta de tronco coletivo 1,0 - 1,2 1, 80 - 2 ,0 0,70 0, 70 0,36 0, 90 - 1 ,2 0 0, 8 - 0, 9 Tábuas 15x30 17x3,5 20x4,0 Esteios 15x15 a 20x20 cm a cada 1,5m Passarela Altura das tábuas superpostas Portão salva vidas 1,35x0,50 Concreto Manejo sanitário na bovinocultura de corte Rebanho saudável, rebanho rentável 12 IEPEC 1.4.3 Sala de Apartação Porteiras com abertura de 1,8 a 2,0 m para saída dos animais. 1.4.4 Banheira (o) de imersão Atualmente em desuso, utilizada para controle de ectoparasitas. Nesta os bovinos imergem completamente num tanque, com grande volume d´água (10 a 16 mil litros). A utilização de banhos de imersão requer uma instalação de custo elevado, exige recargas constantes, e o risco de surgimento de resistência dos carrapatos ao carrapaticida é grande, pois a substituição do princípio ativo se torna cara. Figura 8: Animais ao saírem da banheira de imersão. Capítulo 1 Introdução 13O portal do agroconhecimento 1.4.5 Tronco individual com comprimentos de 3,0 a 4,2 m. Figura 9: Tronco individual. 1.4.6 Brete de Pulverização Utilizado para o banho de aspersão, seja com bomba fixa ou mesmo costal. Figura 10: Brete de Aspersão - Bomba fixa. Manejo sanitário na bovinocultura de corte Rebanho saudável, rebanho rentável 14 IEPEC Deve-se atentar para legislação ambiental vigente, cuidando para que não haja construções ou qualquer intervenção nas Áreas de Preservação Permanente (APP). Leitura Complementar sobre o Código Florestal: PARECER Nº. 1.358, de 2011 da Comissão Diretora- Redação final do Substitutivo do Senado ao Projeto de Lei da Câmara nº. 30, de 2011. 1.5.Equipamentos e utensílios Mais comumente utilizados são: 1.5.1 Bomba costal – utilizada para controle de ectoparasitas Figura 11: Bomba Costal. Capítulo 1 Introdução 15O portal do agroconhecimento 1.5.2 Seringa plástica Utilizada de acordo com quantidade de rebanho, podem ser descartáveis ou não. 1.5.3 Seringa tipo pistola (revolver) dosificadora de fluxo continuo- Comumente utilizadas, otimizando o tempo de manejo. Figura 12: Seringa Tipo Pistola. Figura 13: Dosificadora de fluxo continuo. Manejo sanitário na bovinocultura de corte Rebanho saudável, rebanho rentável 16 IEPEC 1.5.4 Agulhas Antes de aplicar a vacina, verificar se a agulha é a indicada e se a seringa está calibrada para o volume da dose, tomando precauções para evitar bolhas de ar. Na aplicação subcutânea de vacinas aquosas, usar de preferência agulhas 10 x 15; para vacinas oleosas, escolher agulhas 15 x 18 na aplicação subcutânea e 30 x 15 na intramuscular. Figura 14: Agulhas. Capítulo 1 Introdução 17O portal do agroconhecimento Tabela 1: Recomendação de uso agulhas. Animais Subcutânea (debaixo da pele) Intramuscular Endovenosa Bovinos e equinos Axilas (detrás da paleta) tá- bua do pescoço Músculo das nádegas / Mús- culo do pescoço Veia jugular Calibre de agulhas 12x18 - 15x18 - 20x20 30x15 - 40 x15 30x15 - 40x15 Suínos Axilas na face interna da coxa Músculo das nádegas Veia safena ou da orelha Calibre de agulhas 20x10 25x10 25x10 - 30x12 Ovinos e Caprinos Axilas na face interna da coxa Músculos das nádegas Veia safena, orelha ou jugular Calibre de agulhas 25x10 - 25x12 30x10 - 30x12 25x10 Cães e gatos Axilas na face interna da coxa Músculos das nádegas Veia safena, orelha ou jugular Calibre de agulas 20x10 25x10 30x10 Aves Pele da asa Músculos do peito Veia axilar asas Calibre de agulhas 20x10 25x10 30x10 Vale ressaltar sobre a importância da higienização e manutenção das seringas e agulhas não descartáveis, deve-se ferver as agulhas e seringas antes e após o uso, sem os cuidados especiais estes materiais que podem tornar-se morada de microorganismos, ou ainda borrachas já deterioradas podem vazar medicamen- tos levando a subdosagem e atraso do trabalho. Não usar desinfetantes para limpeza de seringas e agulhas. Manejo sanitário na bovinocultura de corte Rebanho saudável, rebanho rentável 18 IEPEC 1.5.5 EPI - Equipamento de Proteção Individual EPI é todo dispositivo de uso individual destinado a proteger a integridade física do trabalhador. O empregador é obrigado a fornecer aos empregados, gratuita- mente, EPI adequado ao risco e em perfeito estado de conservação e funciona- mento. São obrigações do empregador: » Adquirir o tipo de equipamento adequado à atividade do empre- gado; » Fornecer somente EPI aprovado pelo Ministério do Trabalho; » Treinar o trabalhador para o uso adequado; » Tornar obrigatório o uso do EPI; » Substituí-lo imediatamente quando danificado; » Responsabilizar-se pela sua higienização e manutenção periódica. São obrigações do empregado: » Usar o EPI apenas para a finalidade a que se destina; » Responsabilizar-se por sua guarda e conservação; » Comunicar ao empregador qualquer alteração que o torne impró- prio para uso. Capítulo 1 Introdução 19O portal do agroconhecimento Ao manusear o agrotóxico, utilizar corretamente o EPI conforme estado físico e indicação do produto utilizado: calça e camisa de mangas compridas, avental, capa impermeável, botas, luvas, chapéu impermeável, máscara, óculos prote- tores e respiradores com filtro adequado. Não aplicar o produto nas horas mais quentes do dia, trabalhar longe do fogo, não aplicar contra o vento e na presença de ventos fortes. Nunca desentupir bicos, orifícios e válvulas dos equipamentos com a boca e nunca tocar o rosto ou qualquer parte da pele com as mãos ou luvas sujas (FUNASA, 2001; GARCIA, 2005; INCA, 2006). Figura 15: EPI. Manejo sanitário na bovinocultura de corte Rebanho saudável, rebanho rentável 20 IEPEC Alguns cuidados devem ser tomados para melhorar a eficiência dos EPIs, dentre eles, destacam-se: » As calças devem cobrir os canos das botas para evitar a entrada do produto; » Usar o EPI durante o preparo da calda e sua aplicação, e em situa- ções em que haja risco de contato com o produto; » Nunca manipular produtos tóxicos com as mãos desprotegidas. As luvas de nitrila, que são impermeáveis, são as adequadas para esta finalidade. Para a limpeza do EPI, deve-se: » Começar lavando as luvas contaminadas antes de retirá-las; » Lave o material separado da roupa da família; » Tomar banho com bastante água e sabão; » Em caso de contaminação contatar imediatamente o médico, le- vando rótulo e bula do produto. 1.6 Acondicionamento de medicamentos e vacinas Alguns cuidados importantes devem ser tomados para a correta preservação das vacinas garantindo assim toda sua qualidade na imunização: Capítulo 1 Introdução 21O portal do agroconhecimento » Conservar a vacina refrigerada entre 2 a 8 ºC; » Não congelar; » Observar a data de fabricação e prazo de validade; » Seguir atentamente a via de aplicação e dosagem; » Obedecer ao prazo de carência para o consumo de leite e carne; » Transportar em caixa isopor com gelo, protegendo do calor e sol; » Observar as recomendações técnicas para aplicação, conservação e armazenamento de vacinas e medicamentos; » Não guardar vacinas que necessitam de refrigeração na porta da Geladeira, onde a variação de temperatura é maior; » Manter atualizados os arquivos e as fichas de controle sanitário preventivo e curativo, sejam eles individuais ou por lote, anotando a data da ocorrência, número departida e lote do medicamento utilizado, laboratório e data de validade; » Não utilizar vacinas de frascos já abertos e com sobra de produto; » Após abastecer a seringa, recolocar o frasco da vacina no gelo e tampar a caixa de isopor; » Após vacinar cada grupo de dez animais, substituir a agulha por outra limpa e esterilizada; Manejo sanitário na bovinocultura de corte Rebanho saudável, rebanho rentável 22 IEPEC » Qualquer medicamento que não exija refrigeração de vê ser con- servado longe do alcance de crianças e animais domésticos, em lugar seco, fresco e ao abrigo de luz; » Agitar o frasco antes de usar. 1.7 Aplicação de medicamentos e vacinas Não se deve vacinar animais debilitados ou submetidos a atividades desgastan- tes, como viagens prolongadas, trabalho de parto e outros,Para facilitar o manejo, pode-se utilizar mais de uma vacina na mesma ocasião. Não vacinar em regiões do animal com presença de barro ou esterco. A melhor via de aplicação de vacinas é na tá- bua do pescoço, evitando as regiões de carnes nobres (linha dorso-lombar e posterior) 1.7.1 Principais Vias de Aplicação » Subcutânea: É mais indicada para vacinas e vermífugos. O local ideal de aplicação é a região compreendida atrás ou à frente da paleta. De todo o corpo do animal, essa é uma área fácil de ser atingida, possuindo uma pele frouxa e fina, e apresenta maior segurança para o aplicador. Capítulo 1 Introdução 23O portal do agroconhecimento Figura 16: Subcutânea. » Intramuscular: É melhor aplicada em músculos da região glútea, e no músculo da tábua do pescoço. Na garupa, deve-se evitar as partes próximas à espinha dorsal, pois podem ocorrer lesões no nervo ciático. Vacinas e medicamentos mal aplicados podem ocasionar perdas de carcaça em partes nobres dos animais. Figura 17: Local de Aplicação de Medicamento Intramuscular. Manejo sanitário na bovinocultura de corte Rebanho saudável, rebanho rentável 24 IEPEC Material Complementar .pdf Lei complementar sobre o Código Florestal capitulo-1-arquivo-1.pdf www. i e p e c . c om O Instituto de Estudos Pecuários é um portal que busca difundir o agroconhecimento, realizando cursos e palestras tanto presenciais quanto online. Mas este não é nosso único foco. Com o objetivo principal de levar conhecimento à comunidade do agronegócio, disponibilizamos conteúdos gratuitos, como notícias, artigos, entrevistas entre outras informações e ferramentas para o setor. Através dos cursos on-line, o IEPEC oferece a oportunidade de atualização constante aos participantes, fazendo com que atualizem e adquiram novos conhecimentos sem ter que gastar com deslocamento ou interromper suas atividades profissionais. capa manejo-cap-1 capa manejo-cap-1 contra contra
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