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EdiTORA Lúcio Alberto de Miranda Gomide Eduardo Mendes Ramos Paulo Rogério Fontes TECNOLOGIA DE ABATE E TIPIFICAÇÃO DE (ARCACAS LÚ C IO A L B E R T O D E M IR A N D A G O M ID E , Engenheiro de Alimentos e mestre pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) e Ph. D. pela Purdue University (USA), é Professor Associado do Departamento de Tecnologia de Alimentos (DTA/UFV), onde, além de ministrar disciplinas de graduação e pós-graduação, tem atuado como orientador e coorientador de estudantes dos Programas de Pós- Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos e de Zootecnia. É bolsista do CNPq, consultor ad hoc de agências de pesquisa e de pós-graduação, como CNPq, FAPEMIG e FACEPE, além de revisor técnico de diversos periódicos nacionais e internacionais. Coordena o grupo de pesquisa em Ciência e Tecnologia de Carnes da UFV. ED U A R D O M E N D E S R A M O S , Engenheiro de Alimentos, mestre e doutor em Ciência e Tecnologia de Alimentos pela UFV, é Professor Adjunto do Departamento de Ciência de Alimentos (DCA) da Universidade Federal de Lavras (UFLA), onde ministra disciplinas no curso de Engenharia de Alimentos e nos Programas de Pós-Graduação “Stricto Sensu” em Ciência dos Alimentos (PPGCA) e “ Lato Se n su ” em Processamento e Controle de Qualidade em Carnes, Leite e Ovos (CQA). Coordenador Adjunto do PPGCA, tem _como orientador e coorientador antes dos Programas de Pós- Graduação em Ciência dos Alimentos e de Zootecnia da UFLA. É coautor dos livros ‘Ciência e qualidade da carne: fundamentos' e 'Avaliação da qualidade de c a r n e s : f u n d a m e n t o s e metodologias’ . É bolsista do CNPq, Tecnologia de Abate e Tipificação de Carcaças Universidade Federal de Viçosa Reitora Nilda de Fátima Ferreira Soares Vice-Reitor Demetrius David da Silva Pró-Reitor de Extensão e Cultura Gumercindo Souza Lima Diretor da Editora UFV Clóvis Andrade Neves Conselho Editorial Célia Alencar de Moraes (Presidente), Antônio Lelis Pinheiro, Carlos Antônio Moreira Leite, Clóvis Andrade Neves, Joaquim Sucena Lannes, Júlio Maria de Andrade Araújo, Marco Aurélio Marques Ferreira, Marcos Furtado Ribeiro e Mauri Martins Teixeira A Editora UFV é filiada à (Associação Brasileira de Asociación de Editoriales Universitárias Editoras Universitárias) de América Latina y el Caribe Lúcio Alberto de Miranda Gomide Eduardo Mendes Ramos Paulo Rogério Fontes Tecnologia de Abate e Tipificação de Carcaças 2a edição, revista e ampliada EdiTORA UFV Universidade Federal de Viçosa 2014 © 2006 by Lúcio Alberto de Miranda Gomide, Eduardo Mendes Ramos e Paulo Rogério Fontes Uedição: 2006 2a edição: 2014 Direitos de edição reservados à Editora UFV. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, apropriada e estocada, por qualquer forma ou meio, sem autorização, por escrito, do detentor dos seus direitos de edição. Impresso no Brasil Ficha catalográfica preparada pela Seção de Catalogação e Classificação da Biblioteca Central da UFV Gomide, Lúcio Alberto de Miranda, 1958- G633t Tecnologia de abate e tipificação de carcaças / Lúcio Alberto de Miranda Gomide, Eduardo 2014 Mendes Ramos, Paulo Rogério Fontes. - 2. ed. rev. e ampl. V içosa: UFV, 2014. 336p.: il. (algumas color.); 29cm. ISBN: 978-85-7269-488-9 Inclui bibliografia. 1. Matadouros. 2. Carnes. I. Ramos, Eduardo Mendes, 1973-, II. Fontes, Paulo Rogério, 1971-, III. Universidade Federal de Viçosa. IV. Título. CDD 22.ed. 664.902 Capa: Eduardo Mendes Ramos e Miro Saraiva Revisão linguística: Ângelo José de Carvalho Editoração eletrônica: José Roberto da Silva Lana Impressão e acabamento: Divisão Gráfica da Editora UFV - A não citação de fonte em tabelas e figuras nesta obra indica que elas foram elaboradas pelo(s) próprio(s) autor(es). Editora UFV Edifício Francisco São José, s/n Universidade Federal de Viçosa 36570-900 Viçosa, M G Brasil Tel. (0xx31) 3899-2220/3139 Fax(0xx31)3899-2143 E-mail: editora@ufv.br Pedidos Tel. (0xx31)3899-2234 Fax(0xx31)3899-3113 E-mail: editoravendas@ufv.br editoraorcamento @ ufv.br Livraria Virtual: www.livraria.ufv.br Este livro foi impresso em papel couchê fosco 90 g/m2 (miolo) e cartão supremo 250 g/m2 (capa). mailto:editora@ufv.br mailto:editoravendas@ufv.br http://www.livraria.ufv.br Agradecimento Primeiramente, expressamos nossos agradecimentos a Deus, por ter providenciado tudo o que temos e - mos. Também somos gratos às nossas famílias, em especial às nossas esposas e filhos, pelo estímulo incansável, rela compreensão nos momentos de ausência enquanto nos dedicávamos a esta obra e pela partilha do dia a dia. A Universidade Federal de Viçosa e à Universidade Federal de Lavras, prestamos sinceros agradecimentos pela oportunidade de trabalho e aprendizado. Da mesma forma, gostaríamos de agradecer a todos que participaram direta ou indiretamente da publicação deste livro: à Editora UFV, por ter acreditado nesta obra e ser nossa parceira na feitura e divulgação desta segunda edição; e aos nossos colegas professores e alunos de graduação e pós-graduação, pelas críticas e sugestões pertinentes, que nos auxiliaram na tarefa de fazer uma ersão melhor do texto. Nossa gratidão se estende também aos dois revisores anônimos, pelas observações e ' jgestões valiosas, que muito contribuíram para melhorias no conteúdo de cada capítulo. Não poderiamos ceixar de expressar nosso muito obrigado àqueles profissionais, pesquisadores, autores, empresas e organizações > .:ados nas Referências ou que gentilmente permitiram a reprodução de material ilustrativo e o uso das marcas , omerciais registradas. Por fim. uma menção especial ao Professor Eduardo Mendes Ramos, pelo trabalho de _i^ptação e criação de ilustrações, na forma de esquemas, incluídas nesta nova edição. Os Autores Prefácio Esta nova edição de Tecnologia de Abate e Tipificação de Carcaças celebra a ótima acolhida que a obra recebeu desde o seu lançamento. Oito anos depois, a Editora UFV está publicando uma segunda edição revisada e ampliada do livro. Esta nova edição apresenta a mesma organização da anterior, mas difere de modo substancial no conteúdo dos capítulos, que incorporam resultados de novas técnicas e pesquisas e ampliam o escopo do livro. Traz, ainda, importantes alterações em função das sugestões e dos comentários críticos de diversos leitores. Outra novidade foi a inclusão de novas figuras, bem como de novas imagens e esquemas totalmente coloridos. São tratados com rigor, neste livro, aspectos relacionados à qualidade da carne obtida, às questões de bem- estar animal, religiosas e de consequências para a saúde do consumidor, ao manejo e diferenças quanto aos processos de obtenção e, finalmente, aos métodos empregados na avaliação do rendimento, da carcaça e da qualidade geral da carne. Fundamentalmente, procurou-se também fornecer subsídios para o conhecimento de alguns dos principais fatores que influem no processamento, no rendimento e na qualidade da carne dos animais para açougue. Assim, vale ressaltar que, embora cite fatos relacionados à inspeção veterinária, esta obra não constitui referência nesses aspectos, os quais, tendo em vista o conceito de que “carne é todo e qualquer tecido animal propício ao consumo humano”, apenas foram mencionados para uma compreensão mais ampla dos processos de abate, suas etapas e consequências para a saúde humana. No desenvolvimento desta obra utilizaram-se conhecimentos e informações técnicas e práticas resultantes da experiência profissional e de pesquisas de autores nacionais e internacionais, quanto à obtenção de carne de qualidade. Muitas dessas informações foram obtidas a partir da percepção das necessidades de aprofundamento dos conceitos teóricos e práticos. Essas necessidades foram verificadas, ao longo dos anos, após a realização de estágios e atuação profissional de ex-alunos dos cursos de graduação e de pós-graduação em. Engenharia de Alimentos,Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de Viçosa e da Universidade Federal de Lavras. O livro, dividido em duas partes, aborda os aspectos teóricos e as práticas a eles relacionadas. A primeira parte retrata os temas ligados às tecnologias de abate, legislação e inspeção de bovinos, suínos e aves, enquanto a segunda traz informações sobre os aspectos teóricos e práticos relativos ao rendimento em carcaça, carne e cortes, bem como a respeito das técnicas para sua avaliação visual e instrumental, visando à classificação e tipificação de carcaças, como forma de padronizar e reconhecer as características de rendimento e qualidade da carne. No final de cada texto encontra-se uma listagem de referências pertinentes, de modo a permitir aos leitores uma prospecção de detalhes que julgarem necessários. Os autores procuraram abordar os temas de maneira prática, objetiva, atualizada, aprofundada e com linguagem acessível, o que faz da obra ferramenta valiosa de consulta para professores e pesquisadores da área de Ciência e Tecnologia de Carnes e, especialmente, para estudantes de graduação e pós-graduação, bem como para os profissionais que atuam na fiscalização, comércio e indústria da came. Entretanto, reconhecem que, tendo em vista os constantes avanços do conhecimento científico, esta segunda edição não se pretende completa, devendo ser continuamente enriquecida com a incorporação de novas informações relacionadas à produção de came de qualidade. Esperamos sinceramente que esta nova edição vá ao encontro dos desejos manifestados pelos leitores e sirva como uma referência essencial em tecnologia de abate e de produção de came. Os Autores Sumário PARTE I Inspeção e Tecnologia de Abate Capítulo 1 - Legislação e Inspeção Sanitária em Estabelecimentos de A b a te ..................................... 15 Matadouros-frigoríficos........................................................................................................................................... 15 Inspeção higiênico-sanitária em matadouros..........................................................................................................16 Inspeção ante mortem.......................................................................................................................................... 17 Inspeção e cuidados com bovinos...................................................................................................................... 18 Inspeção e cuidados com suínos........................................................................................................................21 Inspeção e cuidados com aves.................................................................. 21 Inspeção durante o sacrifício............................................................................................................................... 22 Inspeção post mortem .......................................................................................................................................... 23 Inspeção e cuidados com bovinos......................................................................................................................23 Inspeção e cuidados com suínos........................................................................................................................29 Inspeção e cuidados com aves.......................................................................................................................... 30 Legislação sobre carnes..........................................................................................................................................31 Referências............................................................................................................................................................... 36 Capítulo 2 - Abate Humanitário e Bem-Estar Animal..................................................................................38 Introdução....................................................................................................................................... 38 Procedimentos de abate............................................................................................ 40 Recepção e m anejo.............................................................................................................................................. 40 Insensibilização e sangria......................................................................................................................................41 Insensibilização................................................................................................................................................... 41 Concussão cerebral.........................................................................................................................................42 Eletronarcose................................................................................................................................................... 50 Atmosfera controlada......................................................................................................................................69 Outros métodos................................................................................................................................................ 76 Sangria................................................................................................................................................................. 78 Abates religiosos............................................. 83 Produtos kasher.....................................................................................................................................................84 O ritual schechita..............................................................................................................................................86 Produtos ha la l........................................................................................................................................................88 O ritual islâmico de abate................................................................................................................................88 Referências............................................................................................................................................................... 89 Capítulo 3 - Abate de Bovinos...........................................................................................................................93 Instalações e manejo adequados............................................................................................................................. 94 Instalações.............................................................................................................................................................94 Manejo......................... 95 Operações pré-abate............................................................................................................................................... 98 Embarque e transporte.........................................................................................................................................99 Recepção e seleção............................................................................................................................................ 102 Descanso e dieta hídrica..................................................................................................................................... 104 Condução ao abate..............................................................................................................................................105 Banho de aspersão............................................................................................................................................106 Seringa...............................................................................................................................................................107 Operações de abate..................................................................................................................... 109 Insensibilização.................................................................................................................................................... 110 Sangria.................................................................................................................................................................. 110 Estimulação elétrica.............................................................................................................................................113 Esfola.................................................................................................................................................................... 118 Evisceração......................................................................................................................................................... 123 Serragem de carcaças e toalete.........................................................................................................................127 Pesagem, classificação e lavagem.................................................................................................................... 128 Refrigeração, estocagem e expedição............................................................................................................... 129 Referências............................................................................................................................................................. 134 Capítulo 4 - Abate de suínos............................................................................................................................138 Operações pré-abate..............................................................................................................................................139 Jejum e dieta hídrica........................................................................................................................................... 139 Coleta e embarque...............................................................................................................................................140 Transporte............................................................................................................................................................ 145 Recepção, seleção e espera...............................................................................................................................147 Condução ao abate..............................................................................................................................................151 Banho de aspersão........................................................................................................................................... 151 Seringa................................................................................................................................................................152 Operações de abate................................................................................................................................................154 Insensibilização.................................................................................................................................................... 154 Sangria..................................................................................................................................................................156 Escaldagem e depilação...................................................................................................................................... 159 Lavagem.............................................................................................................................................................. 163 Evisceração......................................................................................................................................................... 163 Serragem de carcaças e toalete.........................................................................................................................165 Pesagem, tipificação, lavagem e carimbagem.................................................................................................. 167 Resfriamento....................................................................................................................................................... 167 Desossa, estocagem e expedição...................................................................................................................... 170 Linhas de abate automatizadas..............................................................................................................................170 Referências............................................................................................................................................................. 172 Capítulo 5 - Abate de Aves...............................................................................................................................175 Operações pré-abate..............................................................................................................................................175 Jejum e dieta hídrica............................................................................................................................................177 Apanha e embarque.............................................................................................................................................178 Transporte............................................................................................................................................................ 183 Recepção, seleção e espera...............................................................................................................................184 Pendura................................................................................................................................................................ 186 Operações de abate................................................................................................................................................189 Insensibilização....................................................................................................................................................189 Sangria..................................................................................................................................................................191 Escaldagem.......................................................................................................................................................... 194 Depenagem.......................................................................................................................................................... 196 Lavagem.............................................................................................................................................................. 199 Evisceração e toalete.......................................................................................................................................... 199 Lavagem.............................................................................................................................................................. 204 Pré-resfriamento............................................................... 204 Imersão em água.............................................................................................................................................. 205 Câmaras de ar frio............................................................................................................................................ 207 Aspersão com água..........................................................................................................................................208Sistemas combinados.................................................................................................................... 209 Gotejamento.......................... 210 Classificação........................................................................................................................................................210 Espostejamento e desossa..................................................................................................................................210 Embalagem, estocagem e expedição.................................................................................................................213 Referências.............................................................................................................................................................214 PARTE II Classificação, Tipificação e R endim ento em C arne e dos C ortes da C arcaça Capítulo 6 - Tipificação e Rendimento em C a rn e ......................................................................................219 Classificação e tipificação da carcaça..................................................................................................................219 Novas tecnologias de avaliação......................................................................................................................... 219 Ultrassonografia................................................................................................................................................ 220 Imagens de vídeo (VIA)...................................................................................................................................222 Condutividade elétrica.......................................................................................................................................224 Outras tecnologias............................................................................................................................................ 227 Qualidade e rendimento em carne........................................................................................................................ 230 Cortes comerciais.................................................................................................................................................. 231 Referências.............................................................................................................................................................232 Capítulo 7 - Avaliação e Rendimento de Bovinos......................................................................................234 Classificação e tipificação.....................................................................................................................................234 Sistema brasileiro (BRASIL)............................................................................................................................. 235 Sistema de classificação...................................................................................................................................236 Sistema de tipificação.......................................................................................................................................239 Sistema americano (USDA).............................................................................................................................. 241 Avaliação por rendimento (Yield Grade)....................................................................................................... 241 Avaliação por qualidade (Quality Grade)..................................................................................................... 246 Sistema canadense ............................................................................................................................................. 251 Avaliação por qualidade (Quality Grade)..................................................................................................... 251 Avaliação por rendimento (Yield Grade)....................................................................................................... 252 Sistema da União Européia (S-EUROP).......................................................................................................... 254 Sistema australiano............................................................................................................................................. 256 Sistema AUS-MEAT........................................................................................................................................256 Sistema MSA.................................................................................................................................................... 260 Sistema japonês.................................................... 265 Outros sistemas.................................................................................................................................................. 270 Cortes e rendimento em carne.............................................................................................................................. 272 Cortes primários.................................................................................................................................................. 272 Cortes x tipos de cozimento.................................. 274 Cortes comerciais............................................................................................................................................... 276 Referências.............................................................................................................................................................294 Capítulo 8 - Avaliação e Rendimento de Suínos 297 Qualidade da carne suína................................................................................................................ 297 Classificação e tipificação.....................................................................................................................................301 Sistema brasileiro................................................................................................................................................ 302 Sistema americano (USDA).............................................................................................................................. 304 Sistema da União Européia (S-EUROP).......................................................................................................... 307 Sistema canadense............................................................................................................................................. 307 Sistema japonês...................................................................................................................... 308 Sistema de Qualidade NPPC............................................................................................................................. 308 Cortes e rendimento em carne...............................................................................................................................311 Cortes comerciais............................................................................................................................................... 312 Rendimento industrial..........................................................................................................................................320 Referências............................................................................................................................................................. 321 Capítulo 9 - Avaliação e Rendimento de Aves............................................................................................323 Classificação e tipificação.....................................................................................................................................323Sistema americano (USDA).............................................................................................................................. 324 Cortes e rendimento em carne.............................................................................................. 326 Cortes comerciais............................................................................................................................................... 329 Referências............................................................................................................................................................. 335 Parte I Inspeção e Tecnologia de Abate Capítulo 1 Legislação e Inspeção Sanitária em Estabelecimentos de Abate Matadouros-frigoríficos Os matadouros-frigoríficos, estabelecimentos que processam produtos de origem animal, estão sujeitos à legislação e à fiscalização, exigindo normas sobre as condições mínimas para a sua implantação e funcionamento. 0 Decreto n2 7.889, de 23 de novembro de 1989, estabelece as competências dessa fiscalização segundo o tipo de comercialização a ser efetuado: Secretarias Municipais de Agricultura, no caso da comercialização municipal; Secretarias Estaduais de Agricultura dos Estados, Territórios e Distrito Federal, em se tratando de comercialização intermunicipal; e Ministério da Agricultura, no caso de comercialização interestadual ou internacional, devendo os estabelecimentos estar previamente registrados no órgão competente antes de entrar em funcionamento. Em âmbito nacional, entre outras competências, é responsabilidade da Secretaria de Defesa Agropecuária 1 SDA), do Ministério da Agricultura, Pecuária e do Abastecimento (MAPA), a normatização e supervisão, na forma de legislação específica, das atividades de defesa sanitária animal e, por meio do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (DIPOA), a inspeção de produtos e derivados de origem animal. Essa regulamentação é feita por meio de portarias, instruções normativas e regulamentos técnicos. O principal documento que normatiza o abate de animais no Brasil é o Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária dos Produtos de Origem Animal (RIISPOA), que abrange aspectos higiênico-sanitários e tecnológicos relativos a carnes, aves, pescados, ovos, leite, mel e cera de abelha. O RIISPOA, criado pelo Decreto n° 30.691, de 20 de março de 1952, e que em quase 60 anos passou por poucas atualizações, define apenas o termo “matadouro”, embora a terminologia “abatedouro” seja bastante conhecida no Brasil, seja do ponto de vista científico ou legal. Entende-se por “matadouro-frigiorífico” o estabelecimento dotado de instalações completas e equipamentos adequados ao abate, manipulação, elaboração, preparo e conservação das espécies de açougue sob variadas formas, com aproveitamento completo, racional e perfeito, de subprodutos não comestíveis; possuirá instalações de frio industrial (RIISPOA, Art. 21, § l 2). Os matadouros ou abatedouros são caracterizados, segundo o destino dos produtos comercializados, em: • Interestadual e Internacional: deverão, obrigatoriamente, ter inspeção federal (Serviço de Inspeção Federal - SIF). • Intermunicipal e Municipal: deverão, respectivamente, ter inspeção estadual (Serviço de Inspeção Estadual - SIE) e municipal (Serviço de Inspeção Municipal - SIM). 16 Gomide, Ramos e Fontes As inspeções nos estabelecimentos produtores e no transporte de produtos de origem animal são competência do Ministério da Agricultura e das secretarias estaduais e municipais de agricultura, ao passo que a fiscalização no varejo compete à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) da Secretaria da Saúde, que pode ser estadual ou municipal. O principal produto oriundo do matadouro é a carcaça dos animais de abate, que é comercializada para açougues e similares com vistas ao fornecimento de carne ou, especialmente os dianteiros, para as indústrias de processamento de produtos derivados (salsicha, presunto, mortadela etc.). “O anim al abatido , form ado das m assas m usculares e ossos, desprovidos da cabeça, m ocotós, cauda, couro, órgãos e vísceras torácicas e abdom inais tecnicam ente preparado, constitu i a carcaça. Nos suínos a carcaça pode ou não inclu ir o couro , cabeça e pés” . (RIISPOA, Art. 18, § Ia). A carcaça deve ser distribuída em cortes padronizados, devidamente embalados, identificados e rotulados, que serão transportados sob refrigeração (temperatura de no máximo 7 °C) para os entrepostos, chegando ao varejo já desossados e fracionados, conforme estabelecem as Portarias 304 e 145 da Secretaria de Defesa Agropecuária (BRASIL, 1996, 1998). Para mais informações, veja, ainda neste capítulo, o item Legislação sobre carnes. São também comercializados os subprodutos comestíveis, em especial as vísceras vermelhas (fígado, rins, coração e pulmão), as vísceras brancas (tripas e bucho), além dos mocotós e rabada, que podem ser utilizados para comercialização direta, como carne, ou na formulação de produtos derivados. A carne pode ser definida como todo e qualquer tecido animal, principalmente o muscular, propício para consumo humano, incluindo também as glândulas e os órgãos: língua, fígado, coração, rins, cérebro, pele, entre outros. Todo produto processado ou elaborado a partir desses tecidos está incluído nessa definição. Finalmente, são comercializados os subprodutos não comestíveis, para fabricação de rações (farinhas de osso e, ou, carne e de sangue), de produtos farmacêuticos (bile, glândulas de secreção interna, placentas etc.), de adubos (fezes, pelancas etc.) e de produtos industrializados ou de artesanato (couro, chifres, cascos, cerdas etc.). O sangue, desde que recolhido em condições higiênicas (sistema fechado) e de animais com saúde comprovada, pode ser usado de maneira mais nobre (formulação de subprodutos cárneos, laboratoriais, entre outros.). Instalações completas de um matadouro-frigorífico envolvem currais e anexos, sala de matança e subseções, instalações frigoríficas e sanitárias. Inspeção higiênico-sanitária em matadouros A inspeção industrial e sanitária de produtos de origem animal, regulamentada pelo Decreto n° 2.244, de 4 de julho de 1997, é responsável pela inspeção e reinspeção dos animais de açougue e de caça e seus produtos derivados; abrange, sob o ponto de vista industrial e sanitário, a inspeção ante mortem e post mortem dos animais, recebimento, manipulação, transformação, elaboração, preparo, conservação, acondicionamento, embalagem, depósito, rotulagem, trânsito e consumo de quaisquer produtos e subprodutos, adicionados ou não de vegetais e destinados ou não à alimentação humana. A inspeção abrange ainda os produtos afins, como coagulantes, condimentos, fermentos, corantes e outros, usados na indústria de produtos de origem animal. A inspeção sanitária visa evitar que carnes contaminadas por microrganismos e doenças, nos animais vivos, cheguem ao consumidor. Para evitar contaminações exógenas e endógenas na carne, é preciso efetuar boa sanitização nos matadouros, nas câmaras frigoríficas, nos equipamentos de transporte, assim como boa higiene na venda e comercialização. O músculo oriundo de animais sadios é essencialmente estéril, livre de contaminações, as quais só são possíveis de ser transmitidas através do próprio homem, durante ou após o sacrifício do animal. Para evitar ou -i-çislação e inspeção sanitária em estabelecimentos de abate 17 minimizar essas contaminações, é efetuada uma inspeção rigorosa, realizada por pessoal qualificado, desde a chegada do animal ao matadouro até a comercialização da carne ou produto desta. Nessa inspeção, todas as prevenções sanitárias devem ser tomadas para evitar que animais doentes contaminem os animais sadios e para que as carcaças suspeitas sejam eliminadas, evitando que venham a contaminar as carcaças de animais sadios. O técnico encarregado dessa inspeção tem a responsabilidade de decidir sobre o que é apropriadopara o c nsumo e condenar o que for impróprio. Esse técnico, um médico-veterinário, é denominado inspetor sanitário e 'ua responsabilidade pode ser delegada a um técnico de nível médio, o auxiliar de inspeção, que deve possuir requisitos para essa qualificação. O agente sanitário trabalha, geralmente, sob a autoridade do Inspetor, o qual é 'e-ponsável pelas condições higiênico-sanitárias do estabelecimento e pelo parecer final sobre os produtos inspecionados. As doenças transmitidas pelos produtos de origem animal podem ser classificadas em três grupos: • Ia grupo - Doenças de origem química ou toxicológica: compreendem as intoxicações causadas por agentes químicos de conservação (formol, ácido salicílico etc.), agentes químicos usados nas lavouras e pastagens adubos, pesticidas etc.) e medicamentos ou substâncias de ação bioestimulante (hormônios esteroides, antibióticos etc.). • 2a grupo - Doenças endógenas: referem-se às zoonoses transmitidas ao homem pelos animais (através de alimentos de origem animal). Exemplos: carbúnculo hemático, ou antrax, tuberculose, brucelose, ruiva (suínos), cisticercose, equinococose (hidatiose), triquinose (triquinelose) etc. • 3a grupo - Infecções e intoxicações exógenas: são decorrentes da ingestão de alimentos de origem animal contaminado com microrganismos patogênicos e, ou, toxinas microbianas pré-formadas. Exemplos: infecção por salmonelas e intoxicação botulínica e por estafilococos, entre outros. A fim de proteger o consumidor de produtos de origem animal, medidas preventivas devem ser tomadas para evitar essas doenças e intoxicações. Contra as substâncias tóxicas que podem contaminar o animal destinado ao abate, os órgãos responsáveis pela saúde pública devem regulamentar e controlar o emprego de produtos químicos utilizados no animal, na _ nservação do alimento e, até mesmo, na atividade agropecuária (pesticidas, hormônios etc.). A profilaxia coletiva dos animais destinados ao abate representa o meio essencial para eliminar os riscos cr doenças transmitidas ao homem por meio de zoonoses. Além disso, a inspeção dos produtos de origem __rmal. particularmente as inspeções ante mortem e post mortem nos matadouros, é indispensável para eliminar s produtos provenientes de animais atingidos por doenças de origem bacteriana, fúngica, virótica e parasitária. Contra infecções e intoxicações exógenas, é indispensável a aplicação de regras de limpeza e higiene na manipulação dos alimentos e o uso correto de métodos de conservação, uma vez que os alimentos de origem animal são ótimos meios de cultura para grande número de microrganismos patogênicos (complexa composição: r'::eínas, glicídios, lipídeos, vitaminas e sais minerais, umidade, pH etc.). Os alimentos inicialmente salubres r- \iem se contaminar por: mãos sujas (muitas vezes portadoras de estafilococos, salmonela etc.) e secreções 'cnmentos, furúnculos, olhos e ouvidos infectados, tosse, espirro etc.) dos manipuladores; excremento dos _r :mais, que contaminam a carcaça no decorrer da matança e da evisceração inadequadas; sujeira e poeira do >olo. veiculadas pelo ar nos matadouros inapropriados; água poluída, utilizada nas dependências do matadouro e na lavagem dos recipientes e equipamentos que entraram em contato com o alimento; insetos, roedores e outros . etores mecânicos e biológicos de microrganismos patogênicos. Inspeção ante mortem O reconhecimento sanitário dos animais antes do sacrifício é um dos aspectos mais importantes da inspeção ia carne. Com essa avaliação, realizada no momento de chegada dos animais ou nos locais de repouso, pretende - se alcançar os seguintes objetivos principais: 18 Gomide, Ramos e Fontes • Descobrir, no animal vivo, sintomas de enfermidades que dificilmente poderíam ser diagnosticados (por ausência ou escassez de lesões, como é comum em doenças que afetam o sistema nervoso) depois da sua morte, auxiliando a tarefa de inspeção post mortem. • Observar os sintomas clínicos das distintas doenças, visando identificar e isolar os animais afetados, bem como fêmeas com gestação adiantada e recém-paridas (exceto aves), antes do abate, para submetê-los posteriormente a um reconhecimento mais acurado. • Diagnosticar, com ajuda do Boletim Sanitário do lote, eventuais doenças infecciosas e contagiosas (zoonoses) para os animais ou para o homem, com o objetivo de aplicar, no momento oportuno, todas as medidas necessárias para impedir o contágio a outros animais e para proteger a saúde dos funcionários do matadouro. Isso permite evitar o abate em conjunto de animais que tenham sido acometidos de doenças que justifiquem o abate em separado, por meio de matança de emergência (Art. 123, RIISPOA). Liminarmente, a inspeção ante mortem é um exame tão somente visual, de caráter geral, mas em que o médico-veterinário necessita observar, com acuidade, o comportamento dos animais, no intuito de identificar aqueles que, por motivos de ordem sanitária, insuficiência de idade, parto recente etc., deverão ser separados do lote para um exame clínico mais acurado, em local à parte. Inspeção e cuidados com bovinos Assim que os animais chegam ao matadouro, faz-se a identificação do lote, com verificação dos atestados de sanidade e possível anamnese (boletim sanitário) quando do eventual tratamento, acidental ou não, na fazenda - com quimioterápicos, hormônios e bioestimulantes em geral, tranquilizantes, pesticidas e outros. Após o descarregamento, faz-se a limpeza e desinfecção sistemática dos veículos transportadores dos animais. O inspetor faz o reconhecimento geral dos animais, observando a existência de fatores que indiquem uma condição anormal, como animais com respiração acelerada, de cabeça baixa, com pelo eriçado, edematosos etc., separando-os para uma inspeção individual e reconhecimento de possíveis lesões e, ou, doenças, como antrax, listerioses, tétano e pseudorraiva. Nesses casos, os animais suspeitos são confinados em currais de observação, para posteriores exames. Animais febris e com feridas supuradas são rejeitados e colocados em currais isolados até que os sintomas desapareçam, quando então são abatidos, em separado, no final da matança. A Figura 1.1 ilustra os destinos dos animais de acordo com sua condição higiênico-sanitária. Abate normal Figura 1.1 - Fluxograma de destino de bovinos de acordo com sua condição higiênico-sanitária. Fonte: RAMOS et al„ 2010. Legislação e inspeção sanitária em estabelecimentos de abate 19 C urrais de chegada e seleção Os currais de chegada e seleção destinam-se ao recebimento e à apartação do gado para a formação dos lotes, de conformidade com o sexo, a idade e a categoria. Os currais devem estar localizados de maneira que os ventos predominantes não levem em direção ao estabelecimento poeiras ou emanações; devem, ainda, estar afastados, não menos de 80 m, das dependências onde se elaboram produtos comestíveis e isolados dos varais de charque por edificações. Devem ser de piso antiderrapante, impermeável e de fácil higienização (em concreto ou paralelepípedos rejuntados), com declividade mínima de 2% para as laterais e cercas duplas de dois metros de altura, sem cantos vivos que possam danificar os animais, além de bem iluminados (mínimo de 5 watts/m2). Os currais devem ser separados um dos outros, sendo cada um dotado de bebedouros com sistema de boia para abastecimento contínuo e com altura e capacidade apropriada para que pelo menos 20% dos animais possam beber água simultaneamente. Em cada curral deve, _:nda. existir um ponto de água (pressão mínima de 3 atm) de engate rápido, para sua limpeza. C urrais de observação Todos os animais que chegam ao estabelecimento devem ser observados pela Inspeção Federal. Aqueles com sinais suspeitos de doenças infectocontagiosas são colocados em um curral de observação, até que seja c incluído o diagnóstico provável. Esse curral deve distar cerca de três metros dos outros currais, ser de fácil acesso ao Matadouro Sanitárioe ao Departamento de Necropsia, ser de fácil limpeza, higienização e desinfecção e facilmente identificado pela c :>r. normalmente vermelha, com os seguintes dizeres: CURRAL DE OBSERVAÇÃO - PRIVATIVO DA INSPEÇÃO FEDERAL. A área dos currais de observação deve corresponder a 5% da área dos currais de matança e suas características construtivas (piso, cercas, bebedouro etc.), ser as mesmas estipuladas para os currais de chegada e seleção. CL RRAIS DE MATANÇA Os animais considerados aptos para o abate devem permanecer nos currais de matança, em jejum e dieta hídrica, até completar as horas regulamentares de descanso (18 a 24 horas), conforme a distância por eles oercorrida. O Regulamento Federal (Art. 110, RIISPOA) proíbe a matança dos animais que não tenham rermanecido por pelo menos 24 horas de descanso, em jejum e dieta hídrica, a não ser que o tempo de viagem não tenha sido superior a duas horas, quando então este período pode ser reduzido, desde que, sob qualquer hipótese, o tempo de repouso não seja inferior a seis horas. O descanso é preconizado para a reposição do glicogênio muscular consumido pelo animal durante o embarque, transporte e descarregamento no matadouro, objetivando conseguir a necessária e suficiente ^cidificação da carne e, consequentemente, maior prazo de vida comercial. Os efeitos do estresse animal jumentam a sua suscetibilidade às doenças infecciosas, permitindo uma invasão precoce das bactérias do trato gastrintestinal, como também afetam o rendimento da carcaça, o estabelecimento do rigor mortis e a conservação da carne fresca. A carne obtida de um animal abatido sem esses cuidados pode sofrer alterações indesejáveis, como a carne DFD (do inglês Dark, Firm and Dry - escura, firme e seca) em bovinos e PSE ( do inglês Pale, Soft and Exsudative - pálida, flácida e exsudativa) em suínos, além de se deteriorar mais rapidamente devido a uma sangria incompleta e consumo excessivo de glicogênio. O jejum e a dieta hídrica são realizados com o objetivo de reduzir o conteúdo gástrico e facilitar a evisceração, reduzindo a carga microbiana e a possibilidade de contaminação da carcaça durante essa operação. Embora ainda não se conheça o motivo, o jejum e a dieta hídrica também tornam a sangria mais abundante e eficiente e facilitam a remoção da pele. Deve conter as características construtivas (piso, cercas, bebedouro etc.) estipuladas para os currais de chegada e seleção, possuindo área proporcional à capacidade máxima de matança diária (CMMD) do 20 Gomide, Ramos e Fontes estabelecimento, obtida multiplicando-se a CMMD pelo coeficiente 2,50 nr. Os currais devem ser localizados nos dois lados de um corredor central de, no mínimo, dois metros de largura. Para melhor movimentação do gado, cada curral deve ter duas porteiras da mesma largura. O corredor central deve possuir passarela elevada, para permitir a análise visual dos animais. No momento que antecede o abate, os animais considerados aptos ao abate devem ser banhados, por pelo menos cinco minutos, com água potável, preferencialmente clorada (recomenda-se 15 mg/L) e contendo fungistáticos, sob pressão não inferior a 3 atm. O banho de aspersão agirá como fator higienizante e tem sido apontado como elemento importante em favor da qualidade da carne, dada sua ação tranquilizante e de efeito favorável (vasoconstrição periférica e vasodilatação interna) sobre o ato da sangria. Entretanto, pesquisas recentes têm mostrado que essa etapa não afeta a eficiência da sangria ou o teor de hemoglobina retido no músculo de bovinos. Sua ação se restringe, portanto, ao efeito tranquilizante e à higienização do animal. M atança de emergência Os animais que chegam ao estabelecimento em precárias condições físicas ou de saúde, impossibilitados de atingir a sala de matança por seus próprios meios, como também aqueles que forem retidos para observação após o exame geral, são submetidos à matança de emergência, podendo ser abatidos no matadouro sanitário ou na sala de matança, conforme o diagnóstico e critério do médico-veterinário responsável. A matança de emergência pode ser imediata ou mediata. • Matança de emergência imediata: destinada ao sacrifício, a qualquer momento, dos animais incapacitados de locomoção, certificadamente acidentados, contundidos, com fratura e que não apresentem alteração de temperatura ou outros sintomas que os excluam, regularmente, do abate em comum. Os animais incapacitados de se locomover devem ser conduzidos ao local de abate em carro apropriado. • Matança de emergência mediata: é a que se destina ao abate dos animais considerados doentes após exame clínico e que deve ser efetuada depois da matança normal. No caso de revelarem hipertermia ou hipotermia, os animais serão condenados liminarmente. Se não se tratar de doença infectocontagiosa, esses animais poderão ser recolhidos ao curral de observação para tratamento, às expensas do proprietário, e posterior abate. D epartamento de N ecropsia e M atadouro Sanitário O Departamento de Necropsia, localizado a pelo menos três metros dos currais de chegada e de observação, é composto de: sala de necropsia, forno crematório ou autoclave. Visa detectar a causa mortis de animais que chegam mortos ao estabelecimento de abate ou que venham a morrer nos currais de observação. Também visa à análise dos animais que apresentem sinais de doenças infecciosas graves, hipo ou hipertermia. Os animais necropsiados, e suas vísceras, serão destinados à seção de graxaria, onde serão aproveitados na elaboração de produtos não comestíveis. No caso de apresentarem evidências, ou suspeitas, de doenças infectocontagiosas, ou que já tenham chegado em estado de início de putrefação, serão digeridos no forno crematório. O Matadouro Sanitário é uma instalação destinada ao abate de emergência dos animais que, no exame ante mortern, apresentarem suspeitas de doenças infectocontagiosas, ou que apresentam fraturas e, ou, luxações que os impeçam de seguir para o abate normal. Constitui o local onde se realizam as matanças de emergência mediata e imediata, sempre na presença da autoridade sanitária. As carcaças e vísceras dos animais abatidos no Matadouro Sanitário são liberadas para aproveitamento condicional (salga ou conserva) ou enviadas para a graxaria ou para destruição em forno crematório. O Matadouro Sanitário e a sala de necropsia devem ser construídos com bastante iluminação natural e possuir janelas com telas e portas do tipo “vai-vem”, com cortinas de ar e pedilúvio. Devem ser de fácil limpeza, higienização e desinfecção, com água em abundância, vapor e produtos químicos para essa finalidade. O forno crematório deve ser construído de alvenaria refratária, a uma distância máxima de 3 m da sala de necropsia. O resíduo oriundo do forno crematório poderá ser destinado à produção de adubo ou fertilizante. _?gislação e inspeção sanitária em estabelecimentos de abate 21 Inspeção e cuidados com suínos Os animais são recebidos nas pocilgas de chegada e seleção, onde são examinados, à procura de lesões xasionadas durante o transporte até o matadouro, como: fraturas, abscessos, edemas, tétano, rinites, estados febris, pneumonias etc. De acordo com a doença, o inspetor separa os animais para um exame mais intenso, dberando-os ou não para o sacrifício. As pocilgas, além de estarem localizadas de maneira que os ventos predominantes não levem, em direção ao estabelecimento, poeiras e emanações, devem estar afastadas no mínimo 15 m da área de insensibilização e do bloco industrial. P ocilgas de sequestro Destinam-se a manter os animais que apresentam problemas durante a seleção. Sua capacidade deve ser ie 3% do total da capacidade das pocilgas de matança, que recebem os animais aptos para o abate. Sua dentificação se dará por uma tabuleta que contenha os seguintes dizeres: POCILGA DE SEQUESTRO - PRIVATIVO DA INSPEÇÃO FEDERAL. As pocilgas de sequestro devem ser totalmente pavimentadas, com declividade de 2 a 3% para osmeios ce drenagem, construídas de alvenaria na cor vermelha e com as divisões, feitas com superfície lisa, de no rrinimo 1,10 m de altura. Devem ser cobertas e providas de iluminação artificial, suficientemente ventiladas e distanciadas, no mínimo, 15 m dos locais onde se elaboram produtos comestíveis (área de insensibilização e Noco industrial). Os bebedouros, com água potável corrente, devem ter capacidade para permitir que 30% dos animais bebam simultaneamente. Os matadouros de suínos, a exemplo dos de bovinos, também devem contar com um departamento de necropsia, constituído por uma sala de necropsia e provido de autoclave e, ou, forno crematório. Também possuem um matadouro sanitário. P ocilgas de matança Devem possuir as características de construção estipuladas para as pocilgas de sequestro, apresentando, ainda, pé-direito mínimo de 4 m; ter espaço suficiente para abrigar, no mínimo, um terço da capacidade de abate diário do estabelecimento; e possuir um corredor central com largura mínima de 1,50 m. Os animais aptos para o abate devem permanecer nas pocilgas de matança por um período mínimo de descanso de oito horas, em jejum e dieta hídrica. O repouso poderá ser dilatado, ajuizo da inspeção, quando os animais provierem de zonas distantes ou por razões de ordem sanitária; os animais que permanecerem nas pocilgas por tempo mais prolongado deverão ser alimentados. Atendidas as condições de ordem sanitária, é permitido o abate de leitões sem a obrigatoriedade do jejum. Antes da insensibilização, é obrigatória a aplicação do banho com água tratada, preferencialmente hiperclorada 115 mg/L) e com fungistáticos, sob pressão não inferior a 1,5 atm, por uma duração de, no mínimo, três minutos, de modo que sejam lavadas as regiões dorsal e ventral do suíno. Além das vantagens citadas para os bovinos, esse banho melhora a condução da eletricidade na etapa de insensibilização, quando esta for efetuada por eletronarcose. Inspeção e cuidados com aves A inspeção em aves é feita, principalmente, com o intuito de impedir a entrada no matadouro de animais doentes e muito sujos, que podem padecer de doenças e contaminar o resto do lote durante seu sacrifício e preparo. Logo após o descarregamento dos engradados (gaiolas), estes deverão ser higienizados, juntamente com todo o veículo, com água clorada (3 a 5 mg/L). O pessoal que trabalha na carga e descarga das aves deve usar roupas adequadas e manter-se sempre limpo para evitar contaminação. 22 Gomide, Ramos e Fontes A inspeção tem início na granja, observando-se a dieta e o uso de medicamentos que podem tornar a carne indesejável. Devem ser feitas provas regulares de salmonela. Se durante a inspeção forem observados sintomas de salmonelose, o animal precisa ser afastado até que estes tenham desaparecido. Muitas vezes não é possível fazer a inspeção nas granjas, sendo ela feita no matadouro. A inspeção ante mortem é realizada em duas etapas: a primeira na chegada das aves ao matadouro, quando é submetido a um exame em conjunto, para rápida verificação de seu estado sanitário; e a segunda, momentos antes de seu sacrifício, sendo efetuada pelo mesmo inspetor que procederá à inspeçãopost mortem, permitindo maior clareza e segurança na inspeção. Tanto a primeira quanto a segunda inspeção, feitas nas gaiolas, servem para detectar aves mortas ou que apresentam sintomas anormais de fraqueza e estresse, como: estado de desnutrição, olhar mortiço, crista de cor arroxeada, tremores, tosse, espirros, paralisias, samas etc. As aves suspeitas são separadas para galinheiros especiais, onde passarão por exames mais minuciosos. Se houver suspeita de septicemia ou doença aguda, as aves são retidas. Podem ser encontradas doenças corporais devido a canibalismo, fraturas e hematomas originários da apanha ou transporte - como estas não são infecciosas, não é necessário reter as aves na inspeção ante mortem. A inspeção é realizada observando-se as patas e cabeças das aves retidas, em busca de qualquer sintoma de doença. Na cabeça, presta-se atenção à crista, que pode conter erupções típicas de varíola aviária, anemia e doença de Marek. Se a ave apresentar muita mucosidade no nariz e nos olhos, é possível que seja uma doença respiratória. Nas patas, procuram-se indicações de doenças, como a causada por Mycoplasma sinoviae (patas inflamadas), osteopetroses (engrossamento dos ossos), inflamação nas articulações causadas por estafilococos, entre outras. Nas duas últimas doenças citadas, as aves são sacrificadas e rejeitadas para o consumo. Doenças como New Castle, intoxicações por químicos e ornitoses também tornam as aves não aptas para o consumo. A inspeção ante mortem será feita na plataforma de recepção, que deve possuir área específica e isolada para realização de necropsia, quando for necessário. As aves necropsiadas devem ser incineradas em forno crematório, ou processadas juntas, com subprodutos não comestíveis. M atança de emergência Trata-se do sacrifício imediato das aves cujas condições físicas ou sanitárias indiquem essa providência, como nos casos de agonia, fraturas, hemorragias, estados agudos de enfermidades diversas, entre outras causas, a critério da Inspeção Sanitária. É realizado sempre que se tema a morte antes da hora do abate, ou que se pressuponha a desvalorização da carne pelo agravamento do estado precário do animal. O sacrifício pode ser feito no matadouro sanitário ou na sala de matança, conforme o diagnóstico e critério do veterinário responsável. As aves sacrificadas em caráter de emergência devem ser imediatamente evisceradas, para evitar a contaminação da carcaça por possíveis bactérias intestinais, o que favorecería sua rápida decomposição. Embora nem todos os casos determinantes desse tipo de abate tomem a carne imprópria para o consumo humano, todas as aves que, na inspeção post mortem, apresentarem indícios de enfermidades que exijam a condenação parcial ou total terão, obrigatoriamente, esse destino. Inspeção durante o sacrifício A função da Inspeção Federal durante o sacrifício (insensibilização e sangria) dos animais de abate é conferir a calibragem da pistola de insensibilização (bovino, bubalino e ovino) e a intensidade da voltagem/ amperagem nos insensibilizadores elétricos (suínos, ovinos, caprinos e aves) e verificar se as normas de abate humanitário estão sendo cumpridas. A possibilidade de contaminação da carne durante o sacrifício animal está restrita ao ato da sangria, quando a faca, ou instrumento perfurante, se encontra contaminada, carreando para o tecido perfurado microrganismos localizados na pele do animal. Essa é uma das operações mais importantes no tocante aos aspectos higiênico-sanitário e comercial. _egisiação e inspeção sanitária em estabelecimentos de abate 23 A sangria dos animais deverá ser realizada em recintos exclusivos, e o sangue destinado ao consumo humano, recolhido em recipientes especiais. Entre os cuidados higiênicos a serem seguidos durante esse processo, 'dica-se o emprego de duas facas, uma para a incisão da pele da barbela (no caso de bovinos) e outra para a r mção dos vasos sanguíneos, acompanhado de higienização sistemática das facas em higienizador, bem como Ai' mãos do operador. A sangria deve ser executada em animais suspensos por dispositivos aéreos, para evitar : contato do animal com os microrganismos do piso ou superfícies. Com a sangria, abre-se larga porta para que a carne seja contaminada, através do sangue e da linfa. A rnirior quantidade de sangue possível deverá ser expulsa dos músculos e dos órgãos, uma vez que ele constitui excelente substrato para os microrganismos, e sua retenção proporcionará menor vida útil da carne. Via de regra, para se alcançar uma sangria completa e eficiente, esta deve ser feita logo depois da insensibilização e . : m duração de, no mínimo, três minutos. Durante esse período não se permite realizar qualquer operação. Inspeção post mortem Após a sangria são realizadas diversasoperações com a finalidade de fornecer carnes em condições icequadas, para que sejam logo consumidas, armazenadas ou industrializadas. Entre essas operações, as de maior destaque são as de esfola (depilação em porcos e depenagem nas aves), evisceração e divisão de carcaças. E"es procedimentos requerem maior controle das medidas higiênicas, pois qualquer negligência pode gerar . : maminações da carne. Práticas como as de limpar com panos as sujidades do corpo e a cavidade abdominal i :iimal devem ser abolidas e substituídas pela lavagem por duchas de água potável (mínimo de 5 mg/L de cloro residual) com pressão de 3 atm. Um agente de inspeção faz o exame interdigital das patas dianteiras de nos. para pesquisa de febre aftosa (linha A). Depois da evisceração, as vísceras devem ser examinadas, e cuidados higiênico-sanitários, visando não perfurar o trato gastrintestinal e manter a integridade dos órgãos, são necessários, em face da possibilidade de , maminação da cavidade abdominal e músculos por microrganismos originários dos intestinos. O reconhecimento sanitário post mortem dos animais consiste no exame completo, metódico e minucioso de suas carcaças e -ceras. com o objetivo de constatar a existência de lesões que possam tomar a carne não apropriada ao . : ns amo. Nenhuma parte, víscera ou carcaça, pode ser retirada da inspeção ou do local de matança antes que n'petor sanitário haja emitido seu parecer final. A inspeção sanitária é finalizada com a aplicação, sobre a carcaça e as vísceras, dos selos ou das marcas sanitárias, que servem para comprovar o parecer emitido pelo inspetor, constituindo uma garantia para o consumidor. Inspeção e cuidados com bovinos A inspeção post mortem é efetuada rotineiramente nos animais abatidos por meio de exames —jcroscópicos, realizados por técnicos treinados pelo SIF (agentes de inspeção), das seguintes partes e órgãos: , : _ cnto cabeça-língua, superfícies externa e interna da carcaça, vísceras torácicas, abdominais e pélvicas e roculos linfáticos. Eventualmente, examina-se ainda a arcada dentária para obtenção de dados etários (cronologia den tária), como subsídio para atender ao mercado de exportação e ocasionais programas governamentais (p. ex: abate de novilhos) e estudos zootécnico-econômicos ou zoossanitários. Depois do sacrifício do animal, sangria e esfola, faz-se a abertura do pescoço e liberação do esôfago, na - porção cervical, dos seus ligamentos e da traqueia, sendo sua extremidade cranial atada com um nó cirúrgico Je amarrilho forte, que lhe garanta a perfeita oclusão. Na porção torácica, a continuidade da liberação do esôfago será feita com auxílio de uma sonda metálica terminada em espiral, denominada “saca-rolha”. Propicia- >e. dessa forma, sua retirada juntamente com os estômagos e intestinos, no momento da evisceração. Essa jx mina oclusão do esôfago evita a regurgitação do conteúdo ruminal e consequente contaminação da superfície « terna da cabeça já esfolada e das próprias carcaças ao serem evisceradas. 24 Gomide, Ramos e Fontes Da mesma forma que o esôfago, o reto, antes da evisceração, será atado com barbante resistente, em forte constrição, que lhe garanta oclusão perfeita. Para isso, pratica-se, previamente, uma completa incisão perianal, liberando essa extremidade do trato digestivo de suas conexões naturais. A oclusão prévia do reto é feita durante a esfola da pele e, em face da sua importância higiênica para a evisceração, é de caráter obrigatório. Após a oclusão do esôfago e do reto ocorre a evisceração, precedida da abertura do externo e da desarticulação parcial da cabeça ao nível da primeira vértebra cervical, marcando-se o occipital com um número que identifica o animal. Esse número é também aposto na articulação do carpo, o que garante a perfeita identificação da carcaça. Nessa etapa é feita a retirada do feto, no caso de vacas prenhas, que é encaminhado para a graxaria através de chutes. Em seguida, a cabeça é retirada e lavada. O fígado, os pulmões e o coração são excisados e colocados sobre as respectivas bandejas na mesa da inspeção sanitária para serem examinados, após o que são conduzidos para as respectivas seções. Os rins permanecem aderidos à carcaça. O trato gastrintestinal, juntamente com o esôfago, é, então, removido e as vísceras colocadas nas bandejas da mesa de inspeção. Cuidados devem ser tomados no sentido de não provocar a ruptura do trato gastrintestinal e manter a integridade dos órgãos, evitando- se a contaminação da carcaça. Embora se admita o uso de mesas fixas, aconselha-se que a mesa de inspeção seja rolante dupla, dotada de bandejas paralelas, uma para cabeças e órgãos, considerados limpos, e outra para estômago e intestinos (Figura 1.2). Essas mesas, de maior garantia higiênico-sanitária que as fixas, devem possuir sistema que garanta a lavagem e higienização das bandejas a cada vez que é feita uma rotação da mesa. Logo em seguida à evisceração, as carcaças são serradas ao longo da coluna vertebral, com auxílio de serra elétrica própria (esterilizadas antes, durante e após o trabalho diário), resultando em duas meias-carcaças. Finalmente, as carcaças passam por uma inspeção e toalete final. Os locais ou pontos da sala de matança onde se realizam esses exames são denominados linhas de inspeção, que “caminham” sincronizadas, de modo que, quando houver suspeita de alguma doença apontada por qualquer uma delas, a carcaça e as vísceras possam prontamente ser identificadas (plaquetas vermelhas) e separadas para análise mais minuciosa, realizada por um médico-veterinário, no Departamento de Inspeção Federal (DIF). Estas linhas de inspeção são padronizadas como se segue: Linha A - exame dos pés (em estabelecimentos exportadores) Os quatro mocotós são esfolados, desarticulados e, antes de serem removidos, identificados por uma numeração também colocada nas cartilagens articulares da carcaça. São, então, transportados, por meio mecânico ou manual, para o local da respectiva inspeção, onde é realizado um exame visual interdigital. _eg 5 ação e inspeção sanitária em estabelecimentos de abate 25 Linha B - exame do conjunto cabeça-língua Promove-se a ablação total do conjunto cabeça-língua, o qual é inicialmente lavado com água clorada -fn imo de 5 mg/L de cloro residual) sob forte pressão (6 atm). Desloca-se a língua, que, juntamente com a cabeça, é inspecionada, observando a existência ou não de condições anormais sobre a superfície, massas musculares e tecidos adjacentes, cavidade bucal (cor das mucosas) e orifícios. A cabeça é preparada para - ?peção fazendo-se uma incisão na cavidade da mandíbula, desprendendo a carne, retirando as glândulas e ceixando a glote exposta sem cortes na língua, a fim de examinar os nódulos para detecção de turbeculose, jcunobaciloses ou abscessos. São examinados língua, lábios e gengivas para detectar estomatites, actinomicoses ; jctinobaciloses, através de palpação e de cortes dos nódulos linfáticos. O agente de inspeção realiza dois _ rtes no músculo masseter e um corte no músculo pterigoide, para a pesquisa de cisticercose, e faz cortes nos cm cLos retrofaríngeo, sublingual e parotideano, para pesquisa de adenite e tuberculose. Linha C - cronologia dentária (facultativa) Tem por objetivo determinar a idade aproximada dos animais abatidos, pela leitura da arcada dentária Fmura 1.3). Quando do seu uso para levantamentos de estudos zootécnico-econômicos ou sanitários, pelo Tienos 60% dos bovinos abatidos devem ter sua idade calculada. (c) (d) - cura 1.3 - Representação esquemática da evolução da dentição de bovino: (a) um ano; (b) de um ano e meio a dois anos; (c) de dois a dois anos e meio; e (d) de três a três anos e meio. As cabeças são apresentadas ao funcionário da Linha C antes dos exames da Linha B. Linha D - exame do trato gastrintestinal, baço, pâncreas, bexiga e útero Examina-se, visualmente e por palpação, o conjunto, sendo feitos cortes dos linfonodos da cadeia naesentéricae longitudinal do baço, quando necessário. As superfícies serosas do estômago e intestinos podem dc 'irar evidências de tuberculose ou actinobaciloses. O retículo pode apresentar danos devido à penetração de c : rpos estranhos. Por fim, faz-se uma incisão rotineira no mesentérico, para observar os nódulos linfáticos com ianos por tuberculose. Linha E - EXAME DO FÍGADO Na evisceração do fígado, deve-se ter o cuidado especial em manter os nódulos linfáticos, que serão bservados na inspeção sanitária, e em não romper a vesícula biliar, prevenindo o derramamento de bile sobre o cão. A inspeção é feita com incisões nos nódulos, visualmente e por palpação, observando danos ocasionados 26 Gomide, Ramos e Fontes por abscessos, actinobaciloses, cirrose e infecções causadas por parasitos, como cisto hidático, Cysticercus bovis, larvas de Oesophagostomum radiatum, entre outros. A vesícula biliar também é examinada visualmente e por palpação, incisando-a se necessário. Os duetos bilíferos também são cortados transversalmente e comprimidos na inspeção, para detecção dos danos e infecções. Linha F - exame de pulmões e coração Os pulmões são retirados da cavidade torácica juntamente com a traqueia e o coração. Na mesa de inspeção são examinados, visualmente e por palpação, para obter evidências de pleurites, pneumonia e tuberculose. Os pulmões têm seus nódulos cortados e os brônquios e bronquíolos abertos, para detectar a tuberculose, sendo o líquido pulmonar também analisado (presença de vômito ou sangue). O coração é separado da traqueia e dos pulmões para análise. O pericárdio é examinado visualmente e por palpação, para constatar traumatismo ou tuberculose. Faz-se uma incisão nos ventrículos, com particular atenção para a presença de hemorragias e cisticercose. Linha G - exame dos rins Sem serem desprendidos da carcaça, os rins são liberados da gordura perirrenal e de sua cápsula e submetidos a um exame visual e por palpação, avaliando a coloração, o aspecto, o volume e a consistência. É examinada visualmente a suprarrenal e, se necessário, corta-se o parênquima, observando o estado das camadas cortical e medular. Linha H - exames das faces medial e lateral da parte caudal das meias-carcaças Após a serragem das carcaças, os rins são removidos e as glândulas localizadas na região pélvica, inspecionadas. Verifica-se a existência ou não de anormalidades nas articulações e massas musculares, examinando, de modo geral, o aspecto e a coloração da peça. Quando verificada a existência de contaminação de origem gastrintestinal, contusões, hemorragias, edemas, pelos e sujidades, é feita a sua remoção física, desde que por corte superficial. Também se removem as gorduras excedentes. Faz-se uma inspeção na cavidade abdominal, em busca de alguma inflamação, abscessos ou tuberculose, na cavidade pélvica, e nos ossos superficiais. O úbere é examinado, incisando-o profundamente, se necessário, e observando-se evidências de mastite ou tuberculose. Quando existentes, são examinados os testículos e as vergas. A seguir, a carcaça segue o seu trajeto. Linha I - exames das faces medial e lateral da parte cranial das meias-carcaças A inspeção na região do pescoço é realizada observando se há rigidez muscular, examinando os nódulos linfáticos, observando as superfícies ósseas expostas e examinando o ligamento cervical, em busca de eventuais lesões secundárias de oncocercose ou de brucelose. O diafragma é removido, juntamente com seus pilares, para inspeção com vistas a detectar a possível presença de cisticercose. No caso de existência de contusões, abscessos ou contaminações superficiais, é feita a ablação das partes atingidas. Linha J - carimbagem das meias-carcaças Após a toalete, as meias-carcaças liberadas para o consumo são pesadas, tipificadas e lavadas com água quente (38 °C) clorada (mínimo de 5 mg/L), a uma pressão mínima de 3 atm. A seguir, elas são marcadas no coxão, no lombo, na ponta de agulha e na paleta com o carimbo elíptico modelo ne 1 do RIISPOA (Figura 1.4), usando tinta adequada,1 aprovada pelo Serviço, e de forma que o carimbo se mostre perfeitamente legível e sem borrões. 1A tinta utilizada na carimbatem deve ser inócua ao consumidor. Várias fórmulas utilizadas nos abatedouros são à base de álcool comercial, água, glicerina, goma arábica, açúcar e corante Violeta de Metila. sgistação e inspeção sanitária em estabelecimentos de abate 27 BRASIL S.I.F. BRASIL S.I.F. BRASIL S.I.F. CONSERVA SALGA SALSICHARIA N2 10 N2 11 N2 12 F _ura 1.4 - Modelos de alguns carimbos usados pelo DIF para identificação de carcaças e vísceras. - n° 1: carcaças ou quartos de bovinos em condições de consumo em natureza; n° 2: carcaças de suínos, ovinos, caprinos, aves ou outras espécies de açougue em condições de consumo em natureza (difere do modelo na 1 apenas no tamanho); n" 3: rótulos de produtos e subprodutos de origem animal utilizados na alimentação humana; n" 4: produtos não-comestíveis ou destinados à alimentação animal; n° 5: carcaças ou partes condenadas (aplicada com tinta de cor verde); n° 10: carcaças ou partes destinadas ao preparo de charque ou carnes enlatadas; n" 11: carcaças ou partes destinadas ao preparo de charque ou carnes salgadas; e n° 12: carcaças ou partes destinadas ao preparo de produtos de salsicharia. F<ne BRASIL. 1997. Se o DIF estiver localizado além dessa linha, será proibido, terminantemente, carimbar as meias-carcaças destinadas a esse departamento (devidamente marcadas). Nesse caso, o DIF também possuirá um carimbo - ceio ny 1, para carimbagem das carcaças que liberar, além, obviamente, dos modelos 5, 10, 11 e 12 (Figura 1 - . reservados para o uso sobre as carcaças destinadas à graxaria, conserva, salga e salsicharia, respectivamente. Os miúdos inspecionados e aptos para consumo seguem para sua seção; caso contrário, são destinados à seção de graxaria. O RIISPOA considera como miúdos coração, pulmão, fígado, rins, miolos, timos, mocotós, " i d a e língua. Comercialmente, os estômagos de bovinos, sobretudo o rúmen e o barrete, são também . -.'iderados miúdos. Vale ressaltar que algumas afecções de partes ou órgãos do animal podem não ter - r.icações com a carcaça (aderência, pericardites, contaminação gastrintestinal da víscera etc.), sendo, então, ^rtnas a parte condenada. As meias-carcaças que, por qualquer razão, forem dadas como suspeitas nas linhas de inspeção sanitária rnncipalmente fígado, coração e cabeça) são marcadas com plaquetas vermelhas e desviadas para o Ferartamento de Inspeção Final (DIF), sem que tenham sofrido toalete prévia. D epartamento de Inspeção F inal (DIF) Instalado na sala de matança, O DIF se destina à recepção de carcaças, órgãos e vísceras, suspeitos nas n . ersas linhas de inspeção, para serem compulsoriamente e minuciosamente examinados pelo médico-veterinário nspeção final) e receberem, depois de firmado seu julgamento, a destinação conveniente. O DIF deve ser devidamente identificado com a legenda PRIVATIVO DA INSPEÇÃO FEDERAL e .-.-talado em local de fácil acesso, com iluminação natural abundante, isolado das diferentes áreas de trabalho da sala de matança, mas, tanto quanto possível, próximo das linhas de inspeção, para receber com facilidade as isceras e os órgãos a ele destinados. 28 Gomide, Ramos e Fontes Caso o médico-veterinário observe possíveis anomalias (doenças) mais graves, é feita a coleta de material para exame de laboratório e as carcaças são retalhadas e encaminhadas para a câmara de sequestro, que é de uso exclusivo do DIF. Nela, as meias-carcaças, previamente desossadas por técnicos do SIF, separadas, embaladas e datadas por lotes, são refrigeradas e, ou, congeladas, permanecendo nas câmaras até o conhecimento do resultado do exame laboratorial, ou por tempo necessário, de acordo com o problema apresentado (aproveitamento condicional pelo frio), quando são então liberadas por fiscais do SIF para o destino determinado. Tendo formado o seu juízo,
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