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resumo 8 poder constituinte originário

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PODER CONSTITUINTE ORIGINÁRIO 
 
1. Conceito 
 É o poder que se revela como uma questão de força ou de 
autoridade política para, em uma determinada situação concreta, 
criar uma nova ordem constitucional, rompendo por completo com 
a ordem jurídica precedente. 
 É o capaz de fazer nascer uma nova constituição, é o poder atravé
s do qual o povo escreve uma nova constituição para conduzir os 
seus destinos. Tem a natureza jurídica política (pré-jurídico), 
antecede a formação. 
 
2. As três experiências histórico-constituintes 
 Inglaterra: poder constituinte como processo histórico de 
revelação da “Constituição da Inglaterra” 
 Aqui, o modo específico e próprio de garantir os direitos e 
de estabelecer limite ao poder não era o de criar uma lei 
fundamental, as sim o de confirmar a existência de privilé
gios e liberdades já previstos no direito costumeiro e num 
reduzido número de documentos escritos. 
 Nesse sentido, a essas Magnas Cartas é estranha a 
dimensão projetante de uma nova ordem política criada por 
um ator abstrato (povo ou nação) 
 Ademais, é possível afirmar que o constitucionalismo histó
rico repugna a ideia de um poder constituinte com força e 
competência para, por si mesmo, desenhar o modelo polí
tico de um povo. 
 
 Estados Unidos: poder constituinte como processo de criaçã
o de normas jurídicas superiores e invioláveis 
 A Constituição não é um projeto para o futuro, mas uma 
forma de garantir direitos e de limitar poderes. Ela é um 
instrumento funcional para estabelecer as regras do jogo. 
O poder constituinte não tem autonomia, não é um poder 
supremo 
 Criação de uma Constituição para registrar em um 
documento escrito um conjunto de regras superiores inviolá
veis em que se afirmasse: a ideia de povo como autoridade 
ou poder político superior; a subordinação do legislador e 
das leis produzidas às normas da Constituição; a inexistê
ncia de poderes supremos ou absolutos e afirmação de 
poderes constituídos e autorizados pela constituição em 
atuação coordenada; a garantia de direitos 
 
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 França: poder constituinte como prerrogativa da nação de 
criação de uma nova ordem de ruptura com o regime anterior 
 Revolução francesa 
 Ideias de poder constituinte e de assembleia constituinte 
 Nação como titular do poder constituinte
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 Nova ordem política e social prospectivamente dirigida ao 
futuro e, simultaneamente, de ruptura com o passado 
 Nação como titular do poder constituinte Nação é 
identidade de língua, cultura e raça. Povo é parte da nação 
que habita determinado território 
 Poder originário, autônomo e onipotente 
 Ideia de assembleia constituinte 
 
3. Teorias sobre o poder constituinte 
 John Locke e o “supreme power” 
 1681 a 1683 
 A expressão “poder constituinte” não surgiu na obra de 
Locke de forma clara. Contudo, esse autor sugeriu a distinç
ão entre: poder do povo, destinado a alcançar uma nova 
forma de governo; e poder ordinário do legislativo e do 
governo, encarregado de prover a elaboração e a aplicação 
das leis 
 Pressupostos teóricos da sugestão de um “supreme power”
: 
 O estado de natureza de caráter social: nele os 
indivíduos tem uma esfera de direitos naturais 
antecedentes ou preexistentes à formação de 
qualquer governo; 
 O poder supremo é conferido à sociedade ou 
comunidade e não a qualquer soberano; 
 O contrato social através do qual o povo consente o 
poder supremo do legislador não lhe confere um 
poder geral, mas sim limitado e específico; 
 Só o corpo político reunido no povo tem autoridade 
política para estabelecer a constituição política da 
sociedade 
 
 Sieyès e o “pouvoir constituant” 
 Luta contra a monarquia absoluta 
 Momentos fundamentais: poder constituinte da nação 
entendido como originário e soberano 
 Liberdade da nação para criar uma constituição, sem 
submissão a limites ou condições preexistentes 
 Teoria desconstituinte e reconstituinte- contra forma moná
rquica 
 Instauração de uma nova ordem política fundamentada 
numa constituição 
 
4. Titularidade 
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 Povo: pluralidade de forças culturais, sociais e políticas, tais como 
partidos, grupos, igrejas, associações, personalidades 
influenciadoras da formação de opiniões políticas nos momentos 
pré-constituintes e nos procedimentos constituintes 
 Não são somente os cidadãos ativos, os que podem votar 
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 Povo em sentido político: grupo de pessoas que agem segundo 
ideias, interesses e representações de natureza política 
 
5. Procedimento e forma de seu exercício 
 O desencadeamento de procedimentos constituintes tendentes à 
elaboração de constituições associa-se a momentos 
constitucionais extraordinários, como revoluções, nascimentos de 
novos estados, transições constitucionais, golpes de Estado e etc. 
 Nesse momento, estabelecem-se também as linhas orientadoras 
do procedimento constituinte propriamente dito: regras quanto à 
iniciativa, discussão, votação, promulgação e etc da nova 
constituição. 
 Decisões pré-constituintes: decisões de iniciativa de elaboração e 
aprovação de uma nova constituição; decisão atributiva do poder 
constituinte a uma assembleia constituinte; definição do 
procedimento jurídico 
 a) Outorga: caracteriza-se pela declaração unilateral do agente 
revolucionário. Ex: Constituições de 1824, 1937 e EC 1/69; 
 b) Assembleia nacional constituinte ou convenção: nasce da 
deliberação popular. Ex: Constituições de 1891, 1934, 1956 e 
1988. 
 Assembleia constituinte soberana: procedimento constituinte 
representativo 
 Assembleia constituinte não soberana: referendo ou plebiscito 
 
6. Limites ao seu exercício 
 Alguns autores defendem a existência dos seguintes limites ao 
poder constituinte originário: 
 Princípios de justiça , suprapositivos, supralegais 
 Princípios éticos e sociais 
 Princípios de direito internacional 
 
7. Características 
 
O poder constituinte originário é: 
 
a) Inicial – não existe nem poder de fato e nem direito acima dele; inicia toda a 
normatividade jurídica. 
 
b) Autônomo – não convive com nenhum outro poder que tenha a mesma 
hierarquia; só o soberano, o titular, pode dizer o seu conteúdo. 
 
c) Incondicionado – não se sujeita a nenhuma outra norma jurídica. 
 
d) Ilimitado – nenhum limite de espécie alguma, muito menos imposto pela 
ordem jurídica anterior. Obs: alguns autores defendem a existência de alguns 
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limites, tal como exposto acima. 
 
e) Permanente: é permanente, já que o poder constituinte originário não se 
esgota com a edição da nova Constituição, sobrevivendo a ela e fora dela como 
forma e expressão da liberdade humana, em verdadeira ideia de subsistência. 
 
8. Direito adquirido em face do poder constituinte originário 
 Inquestionável é que o Poder Legislativo, de qualquer das esferas da 
federação, é destinatário da norma constante do art. 5º, XXXVI, da 
Constituição de 1988 (“A lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurí
dico perfeito e a coisa julgada”). Indaga-se, entretanto, se o referido 
preceito vincula o legislador constitucional, ou seja, se o Poder 
Constituinte Originário e o Poder Constituinte Derivado sujeitam-se a 
alguma espécie de limitação, no que tange ao direito adquirido. 
 Em relação ao Poder Constituinte Originário, o problema refere-se à 
aquisição de direito que se deu por força da ordem jurídica revogada e 
que, com o advento da nova Constituição, passou a contrariar as novas 
disposições constitucionais. Questiona-se, portanto, se é possível a 
alegação de direito adquirido em face da Constituição, tal como 
originariamente posta. 
 Desde muito tempo, já é pacífico na doutrina e na jurisprudência 
brasileiras que o Poder Constituinte Originário não tem a necessidadede 
respeitar direitos adquiridos fundamentados nas normas ordinárias ou 
constitucionais anteriormente em vigor, ou seja, que não há direito 
adquirido contra a Constituição. 
 Alega-se que a norma constitucional é o centro do qual emana a validade 
do ordenamento que se lhe segue. Assim, circunstância alguma, 
anteriormente estabelecida pelo Direito Constitucional Positivo e posta de 
forma diversa pela norma constitucional inaugurada, teria força jurídica 
para manter-se. Nesse sentido, afirma-se que, contra a eficácia plena e 
imediata da norma constitucional, não se pode alegar direito adquirido, 
pois ela é o ato criador de uma nova ordem. 
 Esse foi e continua sendo o posicionamento do STF. Por exemplo, para o 
STF (AI 829502 AgR/RS- DJ de 24/09/2012), o substituto do titular de 
serventia extrajudicial de cartório não tem direito adquirido a ser efetivado 
no cargo de titular na hipótese de ter ocorrido a vacância após a vigência 
da Constituição da República de 1988, que exige a realização de 
concurso público. Ele não tem esse direito adquirido, apesar de 
preencher os requisitos para a efetivação regulamentados pelo art. 208 
da Constituição Federal de 1967, com as alterações introduzidas pela EC 
22/83, pois não se pode alegar direito adquirido em face da nova 
Constituição. 
 Em que pese o posicionamento assentado na doutrina e na jurisprudê
ncia quanto à inexistência de direito adquirido em face da Constituição, 
ouso discordar desta ideia em meu livro “Direito adquirido: uma questão 
em aberto”, publicado pela Editora Saraiva em 2012. 
 É da própria natureza das coisas que todas as normas, enquanto 
expressões de dever ser, sejam prospectivas e irretroativas. A noção de 
irretroatividade precede a qualquer regulação normativa, sendo, portanto, 
oriunda do direito natural e aplicável a qualquer norma, o que inclui as 
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normas constitucionais. Nesse sentido, pode-se dizer que é contrário à 
natureza das coisas que qualquer norma retroaja para prejudicar o direito 
adquirido. 
 Ademais, o princípio do direito adquirido é ínsito ao princípio do Estado 
Democrático de Direito, estruturante do Estado Brasileiro, e considerado 
um dos fundamentos da República (art. 1º, caput, da Constituição de 
1988). Sob esse aspecto, há de se enfatizar que o próprio Poder 
Constituinte Originário, para existir nesse Estado Democrático de Direito, 
tem de ser democrático. E, sob pena de contradição, só o será democrá
tico se respeitar a essência do Estado Democrático de Direito, que 
compreende os princípios da certeza jurídica, da segurança jurídica, da 
irretroatividade das leis e do direito adquirido. 
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 Assim, consiste em tarefa do Poder Constituinte Originário, como poder 
de um Estado Democrático de Direito, dispor sobre normas 
constitucionais que viabilizem, da forma mais perfeita, o cumprimento da 
finalidade desse Estado, que é a efetividade dos direitos fundamentais. 
 O princípio do direito adquirido, como direito fundamental, apresenta-se 
como uma das condições de possibilidade do Estado Democrático de 
Direito. Surge como um dos instrumentos hábeis a proporcionar a 
garantia da certeza jurídica e, consequentemente, de segurança jurídica. 
Ambas as garantias são requisitos essenciais desse Estado para sua 
caracterização tanto como Democrático, quanto de Direito . 
 Nesse sentido, é inconcebível que um ordenamento jurídico que prime 
pela democracia admita que normas constitucionais retroajam para 
prejudicar situações jurídicas consolidadas na ordem jurídica anterior. 
 No que tange ao argumento de que a própria Constituição de 1988 teria 
excepcionado o princípio do respeito ao direito adquirido com a previsão 
do art. 17 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT), da 
Constituição de 1988, tal ilação não merece prosperar. 
 Para sustentar a afirmação, cumpre, inicialmente, rever o teor do 
mencionado art. 
17 do ADCT, que assim dispõe: 
“Art. 17. Os vencimentos, a remuneração, as vantagens e os adicionais, bem como 
os proventos de aposentadoria que estejam sendo percebidos em desacordo com 
a Constituição, serão imediatamente reduzidos aos limites dela decorrentes, não 
se admitindo, neste caso, invocação de direito adquirido ou percepção de excesso 
a qualquer título.” 
 Ora, é de se notar que o ADCT narra uma determinada situação 
(vencimentos, remuneração, vantagens, adicionais e proventos de 
aposentadorias que estejam sendo percebidos em desacordo com a 
Constituição de 1988) e apenas dá-lhe um novo enquadramento diante 
da Constituição de 1988 (imediata redução aos limites decorrentes da 
Constituição de 1988). 
 Registre-se, portanto, que o Constituinte não fez a previsão do 
desrespeito ao direito adquirido naquela situação. Ele tão somente 
inadmitiu a invocação de direito adquirido, o que não significa que a 
percepção de vencimentos, remuneração, vantagens, adicionais e 
proventos de aposentadorias, de acordo com a ordem jurídica anterior, 
seja considerada necessariamente direito adquirido. Ademais, o 
Constituinte em nenhum momento ordenou que se devolvesse o valor 
percebido em desacordo com a Constituição de 1988, o que evidencia o 
caráter prospectivo daquele enunciado. 
 Diante do acima exposto, pode-se concluir que há, sim, direito adquirido 
em face da Constituição, estando, por consequência, o Poder 
Constituinte Originário vinculado não propriamente à norma do art. 5º, 
XXXVI, da Constituição de 1988, mas à ideia de que qualquer norma, em 
um Estado Democrático de Direito, não deve retroagir para prejudicar 
direitos adquiridos. 
 
 
 
 
 
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PODER CONSTITUINTE DERIVADO 
 
1. Expressões sinônimas 
O Poder Constituinte derivado recebe diversas denominações, a depender do 
doutrinador. É também denominado poder constituinte secundário, instituído, constituí
do, de segundo grau ou remanescente. Alguns autores utilizam como sinônimas as 
expressões poder constituinte derivado e poder constituinte de reforma. Outros 
defendem que o poder constituinte de reforma é uma das espécies do poder 
constituinte derivado. Para fins deste estudo, adotaremos o segundo 
posicionamento e colocaremos o poder constituinte de reforma como uma 
das espécies do poder constituinte derivado. 
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2. Conceito 
É o poder, criado e instituído pelo poder constituinte originário, que tem a 
competência de alterar o texto da constituição, através de emendas 
constitucionais e revisões, em razão da evolução dos fatos sociais exigir, 
muitas vezes, alterações no texto da constituição, para que ela possa 
adaptar-se à realidade. 
Aceita-se, assim, que a Constituição seja alterada, justamente com a 
finalidade de regenerá-la, conservá-la na sua essência, eliminando as 
normas que não mais se justificam política, social e juridicamente. 
Importante destacar que o tema do poder constituinte derivado somente 
ganha relevância quando se está tratando de constituições rígidas, ou 
seja, aquelas que somente são alteráveis por meio de procedimentos 
especiais, mais complexos e difíceis do que aqueles próprios à atividade 
comum do Poder Legislativo. 
 
3. Características 
a. Derivado: decorre do poder constituinte originário e da constituiçã
o; 
b. Subordinado: hierarquicamente em plano inferior, ou seja, está 
abaixo do poder constituinte originário. 
c. Condicionado ou Limitado: só pode ser exercitado nos casos 
previstos pelo poder constituinte originário, que estabelece regras 
que determinam a contenção do seu exercício. É o poder para 
alterar uma ordem constitucional pré-existente. 
 
4. Espécies (reformador, decorrente e revisor): 
a. Poder constituinte derivado reformador: 
i. Conceito 
1. É aquele que tem a capacidade de modificar 
a Constituição Federal, por meio de um 
procedimento específico, estabelecidopelo originá
rio, sem que haja uma verdadeira revolução. 
2. Sua manifestação se dá através das 
emendas constitucionais (art. 59, I e art. 60 da 
CF/88) 
3. É condicionado pelas regras colocadas pelo 
originário. 
 
ii. Limitações 
 Limitações formais ou procedimentais: 
Previsão constitucional: art. 60, I, II, III e §§ 2º, 3º e 5º 
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A CF exige quórum especialmente qualificado para a 
aprovação de emenda à Constituição. É preciso que a 
proposta de emenda reúna o voto favorável de 3/5 dos 
membros de cada Casa do Congresso Nacional e em 
dois turnos de votação em cada uma. Ambas as Casas 
devem anuir ao texto da emenda, para que ela prospere. 
A CF também indica quem pode apresentar proposta de 
Emenda Constitucional: 1/3, no mínimo, dos membros 
da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal; o 
Presidente da República; mais da metade das 
Assembleias Legislativas das unidades da Federação, 
manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa 
de seus membros. Não se prevê a iniciativa popular de 
proposta de emenda. Proíbe-se, por igual, a 
reapresentação, na mesma sessão legislativa, de 
proposta de emenda nela rejeitada ou tida por 
prejudicada. OBS: o STF, no julgamento da ADI 4357, 
em 07/03/2013, sobre a constitucionalidade da EC 
62/2009, que alterou o art. 100 da CF e instituiu regime 
especial de pagamento de precatórios, decidiu, ao 
interpretar o art. 60, § 2º, da CF, que os dois turnos de 
discussão da PEC em cada casa pode ocorrer no 
mesmo dia, com menos de 1 hora de intervalo entre 
ambas. 
 
 Limitações circunstanciais 
Previsão constitucional: Art. 60, § 1º 
A Constituição não pode ser alterada em algumas 
circunstâncias, sob o fundamento legitimador de que o 
ânimus do legislador estará alterado: estado de defesa- 
art. 136; estado de sítio- art. 137 a 139 e intervenção 
federal- 34 a 36 (§ 1o. do art. 60). Esse limite é provisório. 
Nas circunstâncias em questão, o país está em uma 
situação crítica, na qual não pode ser modificada a CF. 
O constituinte confiou nos mecanismos que a CF tem 
para atravessar esse momento, inclusive a guerra. O 
constituinte não quer que a CF seja modificada em 
momento de exceção. 
 
 Limitações materiais ou cláusulas pétreas 
-Conceito: São as restrições impostas ao poder de 
reforma no que tange ao conteúdo das emendas 
constitucionais, para que a identidade básica do texto 
seja preservada. Perfazem o núcleo essencial do projeto 
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do poder constituinte originário que se intenta preservar 
de quaisquer mudanças institucionalizadas. 
- Natureza jurídica das cláusulas pétreas: há 3 
correntes doutrinárias: 1) A dos que disputam a sua 
legitimidade e eficácia jurídica→ não há diferença 
substancial ou superioridade entre o poder constituinte 
derivado e o originário; 2) A dos que admitem a restrição, 
mas a têm como relativa, sustentando que ela pode ser 
removida pelo mecanismo da dupla revisão→ aceita-se 
que o poder constituinte originário estabeleça que certas 
cláusulas estejam ao abrigo de mudanças, mas se 
propõe que essa determinação somente deverá ser 
observada enquanto ela própria estiver em vigor, 
podendo ser revogada pelo poder de revisão (dupla 
revisão); 3) A dos que aceitam a limitação material e 
a têm como imprescindível e incontornável→ o poder 
constituinte de reforma, criado pela Constituição, deve 
conter-se dentro do parâmetro das opções essenciais 
feitas pelo constituinte originário. Seu propósito não é 
criar uma nova constituição, mas sim ajustá-la – 
mantendo a sua identidade – às novas conjunturas. As 
cláusulas pétreas, portanto, além de assegurarem a 
imutabilidade de certos valores, além de preservarem a 
identidade do projeto do constituinte originário, 
participam, elas próprias, como tais, também da essê
ncia inalterável desse projeto. Eliminar a cláusula pé
trea seria enfraquecer os princípios básicos do projeto 
do constituinte originário garantidos por ela. Predomina 
no Brasil o entendimento propugnado pela última das 
correntes. 
- Finalidade da cláusula pétrea: seu significado está 
em prevenir um processo de erosão da Constituição. Ela 
tem a missão também de inibir a mera tentativa de abolir 
o seu projeto básico. Pretende-se evitar que a sedução 
de apelos próprios de certo momento político destrua um 
projeto duradouro. 
-Alcance da proteção da cláusula pétrea: a cláusula 
pétrea não tem por escopo proteger dispositivos 
constitucionais, mas os princípios neles modelados. A 
mera alteração redacional de uma norma componente 
do rol das cláusulas pétreas não importa 
inconstitucionalidade, desde que não afetada a essência 
do princípio protegido e o sentido da norma. De acordo 
com o STF (MS 23.047-MC), conquanto fique 
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preservado o núcleo essencial dos bens constitucionais 
protegidos, isto é, desde que a essência do princípio 
permaneça intocada, elementos circunstanciais ligados 
ao bem tornado cláusula pétrea poderiam ser 
modificados ou suprimidos. De toda sorte, saber quando 
uma modificação de tema ligado à cláusula pétrea afete- 
a, ou não, exige avaliação caso a caso. Nesse sentido, 
se deve compreender o art. 60, parágrafo 4º, da CF, 
como proibição à deliberação de proposta tendente a 
abolir, isto é, a mitigar, a reduzir, o significado e a eficácia 
da forma federativa do Estado, do voto direto, secreto, 
universal e periódico, a separação dos poderes e os 
direitos e garantias individuais. 
- Cláusulas pétreas em espécie: 
+ Forma federativa do Estado: 
Não é passível de deliberação a proposta de emenda 
que desvirtue o modo de ser federal do Estado, em que 
se divisa uma organização descentralizada, tanto 
administrativa, como politicamente, erigida sobre uma 
repartição de competência entre o governo central e os 
locais, onde os estados federados participam das 
deliberações da União, sem dispor do direito de 
secessão (direito de retirada dos Estados da federação) 
+ Separação dos poderes: 
A emenda que suprima a independência de um dos 
poderes ou que lhes retire a autonomia é imprópria. O 
STF já decidiu na ADI 3367 que a criação do CNJ pela 
emenda 45 não ofendeu a cláusula pétrea da separação 
dos poderes, pois foi preservada a função jurisdicional 
do Poder Judiciário. Por causa dessa cláusula pétrea, 
alega-se não ser possível a edição de emenda 
constitucional que crie o parlamentarismo no Brasil. 
+ Voto direto, secreto, universal e periódico 
Não é possível eleições indiretas, por meio de colégio 
eleitoral. Uma emenda não pode excluir o voto universal, 
ou seja, do analfabeto, do menor entre 16 e 18 anos. Os 
cargos políticos não podem ser vitalícios ou hereditários, 
em razão do voto ser periódico. 
 
+ Direitos e garantias individuais 
Predomina a interpretação de que esses direitos são os 
enumerados no título II da CF (DOS DIREITOS E 
GARANTIAS FUNDAMENTAIS), o que abrange não só 
os direitos individuais, mas também os coletivos, difusos 
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e sociais, além de outros que não estão previstos no 
catálogo. Ex: para o STF, o princípio da anterioridade 
tributária e o princípio da anterioridade eleitoral são clá
usulas pétreas, ainda que não estejam enumerados no 
capítulo I do título II da CF (Dos direitos e deveres 
individuais e coletivos). 
 
- Criação de novas cláusulas pétreas 
Não faz sentido que o poder constituinte derivado crie 
cláusulas e limite a si próprio. Somente o originário pode 
fazer isso. É possível, contudo, que uma emenda 
constitucional acrescente dispositivos ao catálogo dos 
direitos fundamentais, sem que, na realidade, esteja 
criando novos direitos (Ex: o art. 5º, LXXVIII foi acrescido 
pela emenda constitucional n. 45 e trouxe a previsão 
explícita e específica do princípio da razoável duração 
do processo. Contudo esse direito fundamental já era 
implícito e derivava do direito de acesso à justiçae do 
direito ao devido processo legal, devidamente previstos 
no art. 5º da CF, em sua redação original. 
 
- Cláusulas pétreas implícitas: de acordo com a 
doutrina, existem, no texto constitucional, cláusulas pé
treas implícitas. São elas: a) as normas concernentes 
ao titular do poder constituinte; b) as normas 
concernentes ao titular do poder reformador; c) as 
normas que disciplinam o próprio procedimento de 
emenda. 
 
iii. Poder constituinte derivado reformador e direito 
adquirido 
 
 Existem dois posicionamentos doutrinários quanto à 
necessidade de respeito ao direito adquirido pelo poder 
constituinte derivado reformador. O poder constituinte 
derivado reformador é aquele que tem a capacidade de 
modificar a Constituição Federal, por meio de um 
procedimento específico, estabelecido pelo poder 
constituinte originário. Sua manifestação verifica-se através 
das emendas constitucionais. 
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 De acordo com um primeiro posicionamento doutrinário, 
inexiste a necessidade de respeito ao direito adquirido em 
face das emendas constitucionais, pois somente a lei, em 
sentido formal, estaria proibida de desrespeitar esse tipo de 
direito, e não as emendas constitucionais, que teriam uma 
hierarquia superior à da lei. 
 Para o segundo posicionamento doutrinário, o poder 
constituinte derivado reformador também deve respeitar o 
direito adquirido, quando da edição de emendas 
constitucionais, em razão do disposto no art. 60, § 4º, da 
CF, que trouxe as denominadas limitações materiais do 
poder constituinte derivado, também chamadas cláusulas 
pétreas. 
 Prescreve o referido dispositivo que não será objeto de 
deliberação a proposta de emenda tendente a abolir os 
direitos e garantias individuais. Sendo o direito adquirido 
um direito individual previsto no art. 5º da CF/88, encontra-
se ele amparado pelas limitações materiais ao poder de 
reforma da Constituição e deve ser respeitado pelas 
emendas constitucionais. O Supremo Tribunal Federal 
acolheu o segundo posicionamento doutrinário e entende 
que o poder constituinte derivado reformador deve, també
m, respeitar o direito adquirido, quando da edição das 
emendas constitucionais. Precedentes: MS 24875, RE 
635011-AgR, AI 764942-AgR, MS 27565, RE 464254.

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