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1 NOTAS DE AULA - MODELO IS/LM 1 – Introdução O modelo IS/LM, apresentado inicialmente por Hicks em 1937 no artigo “Mr Keynes and the classics, procura ser uma interpretação do que Keynes produziu na Teoria Geral. A novidade em relação ao modelo Keynesiano simples é a introdução do mercado monetário e da interação entre o mercado de bens e o mercado monetário. O elemento mediador entre os dois mercados, e que permite atingir o equilíbrio, é a taxa de juros. Como será visto, a taxa de juros mostrará que uma política fiscal expansionista não terá um efeito total sobre o nível de renda do tipo GY ( a não ser 2 em um caso especial) pois afetará o mercado monetário. Assim, uma POF expansionista, por exemplo, elevaria inicialmente a despesa e a renda. Tal elevação de renda, contudo, afetará o mercado de ativos, ao elevar a demanda por moeda e, com isso, a taxa de juros. “A taxa de juros mais alta (...) amortecerá o impacto da POF.” 2 – O mercado de bens e a curva IS Enquanto no modelo Keynesiano simples estudamos que os investimentos eram autônomos, a partir de agora vamos admitir que eles sejam induzidos pela taxa de juros, não obstante ainda mantenham um componente autônomo. 3 As despesas com investimentos estão inversamente relacionadas com a taxa de juros, uma vez que – como o objetivo último dos investimentos é a obtenção de lucro – uma taxa de juros muito alta tenderia a desincentivar os investimentos, já que seria mais consciente uma aplicação alternativa no mercado financeiro. Daí: I = f(i), supondo uma função linear biII onde b é a sensibilidade dos investimentos à taxa de juros. O mercado de bens, a partir de agora será: biTRcAY biIGtYTRYcY biIGcYCY GICY D )( onde: 4 IGCA tc )1(1 1 Não é difícil perceber que uma elevação das taxas de juros, dado b, conduz a uma diminuição do nível de renda. 3 – A derivação da curva IS A curva IS, que é o lugar geométrico dos pontos de equilíbrio entre poupança e investimento no mercado de bens, é obtida a partir da curva de demanda agregada já vista no modelo keynesiano simples. 5 DA Y YY1 Y2 i E1 E2 1bicTRA 2bicTRA IS 4 – A inclinação da IS A inclinação da IS depende da sensibilidade dos investimentos à taxa de juros e do multiplicador. onde: IGCA tc )1(1 1 biTRcAY 6 e, fazendo algumas manipulações temos: Y b tc b TRcA i YtcTRcAbi 11 11 (1) A inclinação da IS é dada pela derivação de: 0 11 tc b i Y inclinação negativa A decomposição da equação: b i I biII (2) tcI Y 11 1 (3) I Y i I i Y (4) Substituindo (2) e (3) em (4), temos: 7 tc b i Y 11 (5) Se b for grande, a IS será bem achatada. De fato, se b for grande, a elasticidade juros dos investimentos será alta, o que mostra que pequenas variações nas taxas de juros são capazes de promover aumentos significativos na renda. Em suma, quanto maior a sensibilidade dos investimentos em relação à variação na taxa de juros – b – então maior será a resposta do produto em relação à uma variação dos juros – a equação (5) tenderá para o infinito – a curva será horizontal. Exemplo 1: Dar um exemplo no quadro negro em que um b grande represente uma Is menos inclinada 8 Exemplo 2: Alterando o multiplicador, ceteris paribus, a DA mudará a inclinação, bem como a IS. 5 – Fatores de deslocamento da IS O fator de deslocamento da IS é tão somente uma alteração nos gastos autônomos (G, I ou TR). Neste caso, ocorrerá um deslocamento da curva Is sem mudança na sua inclinação (uma vez que não houve alteração nesse em c, t ou b). 9 A IS se desloca horizontalmente por uma distância igual ao multiplicador vezes a alteração nos gastos autônomos. 6 – Posição fora da curva IS Como a curva IS representa o equilíbrio no mercado de bens, qualquer ponto fora da curva IS representa desequilíbrio neste mercado, vale dizer, representa EXCESSO DE DEMANDA POR BENS (EDB) OU EXCESSO DE OFERTA DE BENS (EOB). E3: a taxa de juros está muito baixa para permitir o equilíbrio no mercado de bens. A demanda por bens excede a produção. E4: dada a taxa de juros i, o ponto E4 é de excesso da oferta de bens, uma vez que a produção é maior do que a DA. 10 DA Y i E1 E4 i1 i2 E3 E2 Y 7 – Elementos centrais da curva IS A curva IS é a curva de combinação de taxas de juros e nível de renda de forma que o mercado de bens fique equilibrado A curva IS é negativamente inclinada porque um aumento na taxa de juros reduz os gastos de investimento planejados e consequentemente 11 também a DA, resultando na redução do nível de equilíbrio da renda Quando menor e quanto menor b mais inclinada será a IS A curva IS se desloca devido à variação nos gastos autônomos 8 – O mercado de ativos e a curva LM Chamamos de mercado de ativos aquele em que são transacionados dois tipos de ativos (para simplificar): moeda e ativos que rendem juros. A questão em reter moeda ou ativos que rendem juros é uma decisão de portfólio. Como neste modelo supomos 2 tipos de ativos, “dado o nível de riqueza financeira o indivíduo que decidiu quanto manter em títulos implicitamente também decidiu 12 quanto manter em moeda. Há assim uma restrição orçamentária de riqueza, cuja implicação é que a soma da demanda individual por moeda e por títulos deve ser igual à riqueza financeira global do indivíduo”. 9 – encaixes reais “São a quantidade de moeda nominal dividida pelo nível de preços, e a demanda real por moeda é freqüentemente denominada demanda por encaixes reais”. (idem) Continuação P W VL (1) onde: L = demanda por encaixes reais V= demanda real por títulos 13 Sendo que, a decisão de demandar encaixes reais é também uma decisão de manter riqueza real. Pela Lei de Walras, dada a riqueza real, quando o mercado monetário estiver em equilíbrio, o mercado de títulos também o estará. De fato: SV P M P W (2) Onde: M/P é a oferta real de moeda Vs é o valor real da oferta detítulos A distinção entre as equações (1) e (2) é que a equação (1) é a restrição sobre a quantidade de ativos que os indivíduos desejam manter, enquanto a equação (2) é meramente uma relação contábil que nos diz quanto é a riqueza financeira da economia. Substituindo (1) em (2): 14 0)( S S VV P M L VLV P M Se L=M/P V – Vs = 0, por decorrência V = Vs Desta forma, basta observar que é possível operar com o mercado de moeda apenas. Claro, pois – pela Lei de Walras – se o mercado monetário estiver em equilíbrio o mercado de títulos também estará. 4 – A demanda por moeda A demanda por moeda é uma demanda por encaixes reais. Segundo Keynes, a demanda por moeda é dividida em três categorias: 1. Demanda por especulação 15 O elemento central da demanda especulativa de moeda é a incerteza. “Os saldos monetários são demandados em razão de as unidades de gasto especularem com as taxas futuras de juros (...) É a incerteza dos investidores quanto às flutuações em valores de capital que desperta o desejo de as unidades de gastos reservarem dinheiro como um ativo, ao invés de adquirirem títulos de renda”. Desta forma, a demanda especulativa por moeda é função inversa da taxa de juros. i L 16 2. Demanda por precaução Relaciona-se, basicamente, com o nível de renda e com necessidades não previstas. 3. Demanda por transação Também relaciona-se com o nível de renda porque os indivíduos guardam moeda para financiar despesas correntes. Daí: L = f(Y, i), onde poderemos determinar uma função linear como hikYL onde k>0 e h>0 5 – A oferta de moeda e o equilíbrio no mercado monetário “Dada a oferta fixa de encaixes reais, a curva LM terá uma inclinação positiva. Um aumento da tx de 17 juros reduz a demanda por encaixes reais. Para mantê-la igual à oferta constante, o nível de renda precisa, portanto, se elevar”. Retomar construção da LM Como hikYL Se L = M/P Então hikY P M E, P M kY h i 1 Pergunta: o que fará deslocar a LM? A variação da oferta monetária! 6 – O equilíbrio no mercado monetário e a curva LM Tomaremos como base uma oferta monetária exogenamente determinada, isto é, o Banco Central 18 será o banco emissor e esta oferta monetária não depende da taxa de juros. i PM M/P i L L = ky -hi O equilíbrio no mercado monetário se dá quando PML i L L = ky -hi 7 – A curva LM A LM é o lugar geométrico dos pontos de equilíbrio entre demanda por moeda e oferta de moeda e relaciona renda e taxa de juros. 19 i L L 1 L 2 M/Pi Y LM Uma Y provocará um deslocamento da curva de demanda por moeda, uma vez que um nível de renda maior corresponde a uma maior demanda por moeda (L = Ky – hi). A consequência é que uma Y deverá vir acompanhado, caso a oferta de moeda permaneça inalterada, de uma Δi. Como Passar para a página 9 k hY i 1 , como Y i é a inclinação da LM, fica claro que (verificar pag 9) P M kY h i 1 20 Retomar A curva LM se desloca caso haja um aumento da oferta monetária i L L 1 (M/P)2M/P i Y LM LM2 LM1 Y LM 7 – A inclinação da LM quanto maior k e menor h mais inclinada a LM quanto menor k e maior h mais horizontal a LM se k é grande e h pequeno inclinação dependerá do tamanho de k e h se k é pequeno e h pequeno inclinação dependerá 21 se k é grande e h grande inclinação dependerá se k é pequeno e h pequeno inclinação dependerá 8 – Pontos fora da curva LM i Y LM LM1 Y2 LM i 1 i 2 A B C i L L 1 M/P A B C 9 – O equilíbrio nos mercados de bens e monetário Taxa de juros e nível de renda são determinados pela interseção das curvas IS e LM supondo um 22 modelo de preços fixos. Este é o ponto de equilíbrio. Alteração no equilíbrio poderá ocorrer quando a IS ou a LM se delocam. Exemplo: um aumento dos investimentos autônomos i Y LM LM1 Y2 LM I IS1 IS2 Por que a renda não se altera em αΔĪ? Porque: 1) quando os gastos autônomos se elevam, em decorrência aumenta a demanda por moeda (deslocando a curva LM). Ora, para que o equilíbrio 23 no mercado monetário seja restabelecido (supondo oferta monetária fixa) é necessário uma elevação das taxas de juros. 2) a variação da taxa de juros implicará em uma queda nos investimentos, portanto, uma queda na renda. Logo, ΔY < αΔĀ. De que dependerá a ΔY resultante? 1) do multiplicador 2) da inclinação de k e h Obviamente se h = 0 só dependerá dele e não haverá aumento de renda (efeito crowding-out total) 10 – O processo de ajustamento Uma economia em steady-state que sofre uma alteração exógena de alguma variável tende a: 24 a) aumentar a produção quando houver excesso de demanda por bens e declinar quando houver excesso de oferta de bens. b) Elevar a taxa de juros quando houver excesso de demanda de moeda e diminuí-la quando houver excesso de oferta de moeda. i Y LM LM1 IS1 É lícito supor que sempre estamos na LM porque o mercado de títulos é mais dinâmico do que o mercado de bens. Desta forma, é sempre a taxa de juros que se altera. 25 11 – A política monetária Podemos admitir, para efeito de simplificação, que o aumento ou diminuição da oferta monetária se dá no âmbito do mercado aberto, isto é, através da colocação ou esterilização de títulos pelo BACEN. i Y LM LM1 IS1 1/kMP LM2 Em que montante que, após uma PM , a renda varia? 1) quanto mais horizontal a LM, menor será a variação na renda. Isto quer dizer que uma PM 26 poderá ser absorvido no mercado monetário com uma pequena taxa de juros (política monetária tem pouco efeito). 2) Se a demanda por moeda for pouco sensível aos juros (h pequeno) uma variação em PM causará uma variação muito grande nas taxas de juros e, obviamente, causará um grande efeito sobre a demanda por investimentos (vai depender também de b) e a renda aumentará mais – este é o caso onde a LM é mais inclinada. i L L 1 (h pequeno) (M/P)2M/P L 1 (h grande) 12 – Política fiscal e efeito deslocamento 27 Efeito deslocamento (crowding-out): ocorre quando uma política fiscal expansionista acarreta em elevação dos juros e inibindo, na margem, os investimentos. A consequência é que ΔY < αΔĀ. i Y LM LM1 Y2 LM IS1 IS2 Y1 LM E D O processo de ajuste: ΔG → excesso de demanda por bens → empresas aumentam produção → aumento na renda → aumento da demanda por moeda → com oferta de moeda fixa → aumento nas taxas de juros para equilibrar o mercado monetário → efeito deslocamento. 28 A extensão do efeito deslocamento depende das inclinações da IS e da LM: 1. quanto mais deitada a LM, menor será o efeito deslocamento 2. quanto mais deitada a IS, menor o efeito deslocamento 3. renda tende a aumentar mais quanto maior o multiplicador (mais deitada a IS) 12 – Os casoslimites 1. A armadilha da liquidez Ocorre a armadilha da liquidez quando a taxa de juros estiver em um nível tão baixo que a política monetária não exerce qualquer efeito sobre a economia. 29 Neste caso, o BACEN não é capaz de conseguir baixar mais a taxa de juros. A política fiscal, portanto, exercerá um impacto total sobre a renda. Não há efeito deslocamento LM totalmente elástica ou totalmente horizontal h tende ao infinito ΔY = αΔ G i Y LM LM1 IS1 IS2 2. O caso clássico É o oposto da armadilha da liquidez. 30 A política fiscal não exercerá qualquer efeito sobre o nível de renda. Efeito deslocamento total h tende a zero i Y LM LM1 IS1 IS2 Haverá portanto, um único nível de renda em que o mercado monetário estará em equilíbrio. Normalmente é o nível de pleno emprego. 13 – A política acomodativa 31 Uma política monetária acomodatícia tem o objetivo de evitar que o efeito deslocamento represente elevação das taxas de juros. Neste caso, o BACEN eleva a oferta monetária, produzindo uma elevação ainda mais na renda. “A acomodação monetária também é referida como monetização dos defícits orçamentários, o que significa que o BACEN imprime moeda para comprar títulos com os quais o governo paga pelo seu defícit”. i Y LM LM1 Y2 LM IS1 IS2 Y1 LM LM2 i 1 32 Uma explicação formal para a existência do efeito deslocamento pode ser apresentada como: Sabendo-se que, em uma economia a três setores: S = I + (G + TR – TA) onde: (DeO = G + TR – TA) Lembrete: Em uma economia a dois setores C + I = Y, logo, I = S porque não há governo, portanto não há DeO Como o governo aumenta gastos, coeteres paribus, aumenta-se o DeO (deficit orçamentário). Desta forma, se S fosse constante, uma DeO deve vir acompanhado de uma queda nos investimentos privados. No entanto, esta queda não é total quando 0h . Isto significa que G aumenta a renda. Como S = f(Y), a conseqüência é uma elevação da poupança 33 e, portanto, não há uma transferência de gastos privados por gastos públicos. 14 – Estratégias alternativas de política econômica Economia operando com baixa capacidade ociosa podendo superar o pleno emprego de modo que o governo deve desaquecê-la. i Y LM LM1 Y * LM IS1 IS2 i 1 i 2 1. aumento de impostos: a curva IS muda a inclinação, cai a taxa de juros mas a economia se desaquece. 2. Diminuição dos gastos do governo 3. Contração da oferta de moeda 34 Economia operando com elevada capacidade ociosa: subsídio ao investimento i i2 i1 I i i2 i1 Y LM IS2 IS1 16 – Formalização do modelo IS/LM IS: )( biAY (1) LM: P M kY h i 1 (2) Substituindo (2) em (1) temos: 35 P M h b h bk A h bk Y P M h b AY h bk P M h b A h bkY Y P M h b h bkY AY P M kY h b AY 11 1 chamando h bk 1 Logo, P M h b AY fazendo h b Então, P M AY (3) Não é difícil perceber que o acréscimo da renda depende dos multiplicadores fiscal e monetário - e . A variação na renda depende de , b, k e h 36 17 – O multiplicador monetário Um aumento nos gastos autônomos terá qual efeito sobre a renda? Resposta: AY Supondo 0h e h então Como h bk 1 percebe-se que: 1. Um alto valor de k reduz os efeitos dos gastos autônomos sobre a renda porque este fato implica um grande aumento da demanda por moeda e, por conseguinte, um deslocamento grande da curva de demanda por moeda. A consequência é uma elevação grande das taxas de juros. 37 2. Um alto valor de b implica que uma elevação nas taxas de juros corresponde a uma grande queda nos gastos de investimentos. 3. Quanto maior h, Suponha o caso clássico onde h = 0 Se h0, então, 0 1 lim 0 h bkh , logo, P M k Y 1 Suponha o caso da armadilha da liquidez, onde h = Se h , então, h bkh 1 lim , logo, AY NOTAS DE AULA - MODELO IS/LM
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