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APOSTILA MODULO TEORIA DO ESTADO 2016

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USJT – UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU
 DIREITO - MODULO TEORIA DO ESTADO - PROF. IRINEU BAGNARIOLLI JUNIOR
_____________________________________________________________________________
1. TEORIAS SOBRE A ORIGEM DO ESTADO
Existem basicamente duas grandes teorias tradicionais sobre a origem e o surgimento do Estado:
A CONCEPÇÃO ARISTOTÉLICA: MODELO HISTÓRICO OU ALTERNATIVO
Uma das frases mais famosas de Aristóteles é a de que “O homem é um "zóon politikón”, ou seja, um animal político. A partir dessa constatação Aristóteles propõe uma teoria sobre o surgimento do Estado e dos governos, com base na necessidade humana de viver em grupos. Esta teoria é conhecida como modelo NATURAL, alternativo ou modelo histórico. A seguir um resumo dos pontos fundamentais da teoria:
O ponto de partida da análise não é um estado de natureza genérico, no qual os homens teriam vivido antes da consti​tuição do Estado, mas a sociedade natural originária, a fa​mília, que é uma forma específica, concreta, historicamente determinada, de sociedade humana.
Entre essa sociedade originária, a família, e a sociedade úl​tima e perfeita, o Estado, não há uma relação de contra​posição, mas de continuidade, ou desenvolvimento, ou pro​gressão, no sentido de que, do estado de família ao estado civil, o homem passou através de fases intermediárias, que fazem do Estado não a antítese do estado pré-político, mas sim o desfecho natural, o resultado último, das sociedades anteriores.
O estado natural originário é um estado no qual os indiví​duos não vivem isolados, mas sempre reunidos em grupos organizados, como é precisamente o caso das sociedades familiares; como consequência, o Estado deve ser conce​bido não como uma associação de indivíduos, mas como uma reunião de famílias, ou como uma grande família;
Já que os indivíduos vivem desde o nascimento em famí​lias, o estado pré-político não é um estado de liberdade e igualdade originárias, mas um estado no qual as relações fundamentais são as que existem no interior de uma socie​dade hierárquica como a família, isto é, relações entre superior e inferior, do tipo, precisamente, das que existem entre pai (e mãe) e filhos ou entre o dono da casa e os servos;
a passagem do estado pré-político para o Estado, na medida em que ocorre (como vimos) por um processo natural de evolução das sociedades menores para a sociedade maior, não se deve a uma convenção, isto é, a um ato voluntário e deliberado, mas ocorre como efeito de causas naturais, tais como o aumento do território, o crescimento da população, a necessidade de defesa, a exigência de assegurar os meios necessários à subsistência, etc., razão pela qual o Estado não é menos natural do que a família. O princípio de legitimação da sociedade política não é o consenso, mas o estado de necessidade (ou a "natureza das coisas").
Sempre há dificuldade em viver junto ou ter coisas em comum, mas especialmente em ter propriedade em comum. “Os homens prestam logo atenção a utopias e são facilmente induzidos a acreditar que de algum modo milagroso, todos irão se tornar amigos de todos, em especial quando se houve alguém denunciar os males ... que dizem ser causados pela propriedade privada . Esses males , no entanto, são causados por outra fonte completamente diferente – a maldade da natureza humana”. A ciência política não faz os homens, mas tem de aceitá-los como vem da natureza.
O Estado tem, por natureza, mais importância do que a família e o indivíduo, uma vez que o conjunto é necessariamente mais importante do que as partes. Separem-se do corpo os pés e as mãos e eles não serão mais nem pés nem mãos; destruídos, não terão mais o poder e a função que o tornavam o que eram. A prova de que o Estado é uma criação da natureza e tem prioridade sobre o indivíduo é que o indivíduo, quando isolado não é auto-suficiente, no entanto, ele o é como parte relacionada de um conjunto. Mas aquele que for incapaz de viver em sociedade, ou que não tiver necessidade disso, por ser auto-suficiente, será uma besta ou um Deus, não uma parte do Estado. Um instituto social é implantado pela natureza em todos os homens, e aquele que primeiro fundou o Estado, foi o maior dos bem feitores. Isto porque o homem, quando perfeito, é o melhor dos animais; porém quando apartado da lei e da justiça, é o pior de todos; uma vez que a injustiça armada é mais perigosa, e ele é naturalmente equipado com braços, pode usá-los com inteligência e bondade, mas também para os piores objetivos. 
 É por isso que, se o ser humano não for excelente, será o mais perverso e selvagem dos animais, o mais repleto de luxúria e gula. Mas a justiça é o veículo dos homens, nos Estados; porque a administração da justiça, que é a determinação daquilo que é justo, é o princípio da ordem numa sociedade política. ( Aristóteles , Política, Livro I, Cap.2). Aristóteles concebe o surgimento do Estado, como uma evolução natural, uma continuidade da natureza humana. Assim o Estado inicia-se com o núcleo familiar, avança pela criação das tribos, aldeias e cidades. No entanto o Estado não se sobrepõe aos interesses dos indivíduos, mas está em sintonia com esses, através da noção de bem comum: 
"Para Aristóteles, a mais evoluída forma de vida em sociedade, está no cidadão político, ou seja aquele que vive na Polis (Cidade Estado grega). Quando comenta o livro " Política" de Aristóteles , Tomás de Aquino retoma a ideia aristotélica segundo a qual a cidade é a suprema comunidade humana. Segundo a leitura de Tomás de Aquino, Aristóteles teria defendido que toda associação humana estaria ordenada de modo a visar a algum bem. E a cidade seria a mais geral dessas associações porque englobaria todas as outras. A razão pela qual seria possível sustentar que a cidade fosse uma comunidade tão geral poderia ser o fato de que o bem para o qual a cidade estaria ordenada seria o mais fundamental de todos os bens: O BEM COMUM. Afinal a cidade não estaria ordenada para alcançar o bem de algum indivíduo ou de algum grupo isolado, de indivíduos, mas estaria ordenada para alcançar o bem de todos, sem distinção. Por isso destaca T. de Aquino, o próprio Aristóteles teria defendido que, ao englobar os bens mais fundamentais entre os bens humanos , o bem comum é ainda maior ...afinal ele estaria mais próximo da semelhança da causa universal de todos os bens."(RAMOS, 2012, p.57/58)
CONCEPÇÃO CONTRATUALISTA: ESTADO NATURAL X ESTADO CIVIL
"De um modo geral, o trmo CONTRATUALISMO designa toda teoria que pensa que origem da sociedade e do poder polçítico está num contrato, um acordo tácito ou explícito entre aqueles que aceitma fazer parte dessa sociedade e se submeter a esse poder. Embora não se trate de uma posição estritamente moderna, nem restrita as filosofias de Hobbes, Locke e Rousseau, o Contratualismo adquiriu o estatuto de um movimento teórico ou corrente de pensamento precisamente com esses autores...O ponto de partida de todos esles(autores contratualistas) é a ideia de que o poder político ou as relações de poder de natureza política podem e devem ser legitimads pelo pelo recurso à noção de contrato. O pressuposto comumn é de que o poder político, para ser legítimo, possa ser pensado como se tivesse sido instituido ppor um ato contratual, mesmo que efetivamente não tenha sido. (RAMOS, 2012, p.96/98)
O modelo dos contratualistas, como se sabe, é construído com base na grande dicotomia "estado (ou sociedade) de natureza /estado (ou sociedade) civil. Ele contém alguns elementos caracterizadores, que podem ser enumerados do seguinte modo:
O ponto de partida da análise da origem e do fundamento do Estado é o estado de natureza, ou seja, um estado não político e antipolítico. Entre o estado de natureza e o Estado político, há uma relação de contraposição, no sentido de que o Estado político surge como antítese ao estado de natureza (do qual é cha​mado a corrigir ou eliminar os defeitos);
O estado de natureza é um estado cujos elementos consti​tutivos são, primária e principalmente,os indivíduos singu​lares não associados, embora associáveis (podem ter lugar, mesmo no estado de natureza, sociedades naturais, como a família); os elementos constitutivos do estado de natureza (ou seja, os indivíduos), são livres e iguais uns em relação aos ou​tros, de modo que o estado de natureza é sempre figurado como um estado no qual reinam a liberdade e a igualdade (nas dife​rentes acepções com as quais os dois termos são empre​gados).
A passagem do estado de natureza ao estado civil não ocorre necessariamente pela própria força das coisas, mas através de uma ou mais convenções, ou seja, através de um ou mais atos voluntários e deliberados dos indivíduos interessados em sair do estado de natureza, com a consequência de que o estado civil é um ente "artificial", ou, como se diria hoje, como um produto da "cultura" e não da "natureza". O princípio de legitimação da sociedade política, diferen​temente de qualquer outra forma de sociedade natural, em particular da sociedade familiar e da sociedade patronal, é o consenso (a convenção, o contrato social). 
 2. THOMAS HOBBES 1588-1697
 INTRODUÇÃO 
Thomas Hobbes (Malmesbury, 5 de abril de 1588 – Hardwick Hall, 4 de dezembro de 1679) foi um matemático, teórico político, e filósofo inglês, autor de Leviatã (1651) e Do cidadão (1651). Até nossos dias sua teoria política foi negligênciada como simples justificativa para o ABSOLUTISMO MONARQUICO. Se por um lado esta interpretação é verdadeira, há muito mais a ser considerado em toda a obra hobesiana.
Na obra Leviat�ã, explanou os seus pontos de vista sobre a natureza humana e sobre a necessidade de governos e sociedades. No estado natural, enquanto que alguns homens possam ser mais fortes ou mais inteligentes do que outros, nenhum se ergue tão acima dos demais por forma a estar além do medo de que outro homem lhe possa fazer mal. Por isso, cada um de nós tem direito a tudo, e uma vez que todas as coisas são escassas, existe uma constante guerra de todos contra todos (Bellum omnia omnes). No entanto, os homens têm um desejo, que é também em interesse próprio, de acabar com a guerra, e por isso formam sociedades entrando num contrato social.
De acordo com Hobbes, tal sociedade necessita de uma autoridade à qual todos os membros dessa sociedade devem render o suficiente da sua liberdade natural, por forma a que a autoridade possa assegurar a paz interna e a defesa comum. Este soberano, quer seja um monarca ou uma assembléia (que pode até mesmo ser composta de todos, caso em que seria uma democracia), deveria ser o Leviatã, uma autoridade inquestionável. 
Thomas Hobbes defendia a idéia segundo a qual os homens só podem viver em paz se concordarem em submeter-se a um poder absoluto e centralizado. Para ele, a Igreja cristã e o Estado cristão formavam um mesmo corpo, encabeçado pelo monarca, que teria o direito de interpretar as Escrituras, decidir questões religiosas e presidir o culto. Neste sentido, critica a livre-interpretação da Bíblia na Reforma Protestante por, de certa forma, enfraquecer o monarca.
Hobbes falece em 1679. Dois anos depois de sua morte, relata Kenyon em The Stuart Constitution, a Universidade de Oxford manda queimar sua obra como subversiva - porque ele fora contrário ao direito divino dos reis, a tese fundamental dos monarquistas da época, sobretudo nesse período, em que o rei Carlos II, não tendo sucessor legítimo com sua esposa a rainha Catarina, sabe que vai deixar o trono para o irmão católico romano, o futuro Jaime II de Inglaterra. Assim, é curioso que um autor que desde o seu próprio tempo é visto como favorável ao absolutismo régio tenha a obra perseguida justamente por defender teses como a do contrato social fundando tanto a sociedade quanto o Estado, do direito de cada súdito a lutar pela própria vida até mesmo contra o soberano e do direito de um governante a seu ofício baseado, não em ser ele vigário de Deus na Terra, mas no benefício que proporciona aos cidadãos: afinal, Hobbes termina o cap. XIII do Leviatã, uma das passagens mais importantes de toda a sua obra, dizendo que "as paixões que conduzem os homens à paz são o medo da morte, o desejo das coisas que são necessárias para uma vida confortável e a esperança de, por sua indústria [no sentido de trabalho, diligência, operosidade] obtê-las. E a razão sugere artigos de paz adequados com base nos quais os homens possam ser levados a um acordo." Essa passagem, como tantas outras, é muito racional para admitir uma interpretação favorável ao direito divino dos reis.
A teoria do Estado de Hobbes é a seguinte: quando os homens primitivos vivem no estado natural, como animais, eles se jogam uns contra os outros pelo desejo de poder, de riquezas, de propriedades. É o impulso à propriedade burguesa que se desenvolve na Inglaterra: "homo homini lupus", cada homem é um lobo para o seu próximo. Mas como, dessa forma, os homens destroem-se uns aos outros, eles percebem a necessidade de se estabelecerem entre eles um acordo, um contrato. Um contrato para constituírem um Estado que refreie os lobos, que impeça o desencadear-se dos egoísmos e a destruição mútua. Esse contrato cria um estado absoluto, de poder absoluto (Hobbes apresenta nuanças que lembram Maquiavel).
A noção do Estado como contrato releva o caráter mercantil, comercial das relações sociais burguesas. Os homens, por sua natureza, não seriam propensos a criarem um Estado que limitasse a sua liberdade; eles estabelecem as restrições em que vivem dentro do Estado, segundo Hobbes, com a finalidade de obter dessa forma sua própria conservação e uma vida mais confortável. Isto é, para saírem da miserável condição de guerra permanente  que é a conseqüência necessária das paixões naturais. Mas os pactos, sem espadas, não passam de palavras sem força: por isso o pacto social, a fim de permitir aos homens a vida em sociedade e a superação de seus egoísmos, deve produzir um Estado absoluto, duríssimo em seu poder.
 Rousseau, posteriormente, vai opor a Hobbes uma brilhante objeção: ao dizer que o homem, no estado natural, é um lobo para seus semelhantes, Hobbes não descreve a natureza do homem mas sim os homens de sua própria época. Rousseau não chega a dizer que Hobbes descreve os burgueses de sua época; mas, na realidade, Hobbes descreve o surgimento da burguesia, a formação do mercado, a luta e a crueldade que o caracterizam.
 A TEORIA DO ESTADO SEGUNDO THOMAS HOBBES:
O homem natural de Hobbes não é um selvagem. É o mes​mo homem que vive em sociedade. Melhor dizendo, a natureza do homem não muda conforme o tempo, ou a história, ou a vida social. Para Hobbes, como para a maior parte dos autores de antes do século XVIII, não existe a história entendida como transforman​do os homens. Estes não mudam.
A natureza fez os homens tão iguais, quanto às faculdades do corpo e do espírito, que, embora por vezes se encontre um homem manifestamente mais forte de corpo, ou de espírito mais vivo do que outro, mesmo assim, quando se considera tudo isso em conjunto, a diferença entre um e outro homem não é suficientemente considerá​vel para que qualquer um possa com base nela reclamar qualquer be​nefício a que outro não possa também aspirar, tal como ele. 
Pois a natureza dos homens é tal que, embora sejam capazes de reconhecer em muitos outros maior inteligência, maior eloquência ou maior saber, dificilmente acreditam que haja muitos tão sábios co​mo eles próprios. Mas isto prova que os homens são iguais quanto a esse ponto, e não que sejam desiguais. Pois ge​ralmente não há sinal mais claro de uma distribuição equitativa de alguma coisa do que o fato de todos estarem contentes com a parte que lhes coube.
Todo homem é opaco aos olhos de seu semelhante — eu não sei o que o outro deseja, e por isso tenho que fazer uma suposição de qual será a sua atitude mais prudente, mais razoável. Como ele também não sabe o que quero, também é forçado a supor o que farei. Dessas suposições re​cíprocas, decorre que geralmente o mais razoável para cada umé atacar o outro, ou para vencê-lo, ou simplesmente para evitar um ataque possivel: assim a guerra se generaliza entre os homens. Por isso, se não há um Estado controlando e reprimindo, fazer a guer​ra contra os outros é a atitude mais racional que eu posso adotar (é preciso enfatizar esse ponto, para ninguém pensar que o "homem é o lobo do homem" (HOMMO HOMMINI LUPUS), em guerra contra todos, é um anormal; suas açòes e cálculos são os únicos racionais, no estado de natureza).
Da igualdade quanto a capacidade, deriva a igualdade quanto a esperança de atingirmos nossos fins. Portanto se dois homens desejam a mesma coisa, ao mesmo tempo que é impossível ela ser gozada por ambos, eles tornam-se inimigos. E no caminho para seu fim (que é principalmente sua própria conservação, e às vezes apenas seu deleite) esforçam-se por se destruir ou subjugar um ao outro.
De modo que na natureza do homem encontramos três causas principais de discórdia. Primeiro, a competição; segundo, a descon​fiança; e terceiro, a glória. A primeira leva os homens a atacar os outros tendo em vista o lucro; a segunda, a segurança; e a terceira, a reputação. Os primei​ros usam a violência para se tornarem senhores das pessoas, mulhe​res, filhos e rebanhos dos outros homens; os segundos, para defen​dê-los; e os terceiros por ninharias, como uma palavra, um sorriso, uma diferença de opinião, e qualquer outro sinal de desprezo, quer seja diretamente dirigido a suas pessoas, quer indiretamente a seus parentes, seus amigos, sua nação, sua profissão ou seu nome.
Com isto se torna manifesto que, durante o tempo em que os homens vivem sem um poder comum capaz de os manter a todos em respeito, eles se encontram naquela condição a que se chama guer​ra; uma guerra de todos contra todos (BELLUM OMNIA HOMNES).
Hobbes tem perfeita consciência de que essa definição há de chocar seus leitores, que se prendem à definição aristotélica do ho​mem como zoon politikon, animal social. Para Aristóteles, o ho​mem naturalmente vive em sociedade, e só desenvolve todas as suas potencialidades dentro do Estado. Esta é a convicção da maioria das pessoas, que preferem fechar os olhos à tensão que há na con​vivência com os demais homens, e conceber a relação social como harmónica.
Os desejos e outras paixões do homem não são em si mesmos um pecado. Nem tampouco o são as ações que derivam dessas paixões, até ao momen​to em que se tome conhecimento de uma lei que as proíba; o que se​rá impossível até ao momento em que sejam feitas as leis; e nenhu​ma lei pode ser feita antes de se ter determinado qual a pessoa que deverá fazê-la. Em todos os lugares onde os homens viviam em pe​quenas famílias, roubar-se e espoliar-se uns aos outros sempre foi uma ocupação legítima.
O que equivale a dizer: designar um homem ou uma assembleia de homens como re​presentante de suas pessoas, considerando-se e reconhecendo-se cada um como autor de todos os atos que aquele que representa sua pessoa praticar ou levar a praticar, em tudo o que disser respeito à paz e segurança comuns; todos submetendo assim suas vontades à vontade do representante, e suas decisões a sua decisão. Isto é mais do que consentimento, ou concórdia, é uma verdadeira unidade de to​dos eles, numa só e mesma pessoa, realizada por um pacto de cada homem com todos os homens, de um modo que é como se cada ho​mem dissesse a cada homem: Cedo e transfiro meu direito de gover​nar-me a mim mesmo a este homem, ou a esta assembleia de ho​mens, com a condição de transferires a ele teu direito, autorizando de maneira semelhante todas as suas ações 'Feito isto, à multidão as​sim unida numa só pessoa se chama Estado, em latim civitas. 
A essência do Estado, a qual pode ser assim definida: Uma pessoa de cujos atos uma grande multidão, mediante pactos re​cíprocos uns com os outros foi instituída por cada um como auto​ra, de modo a ela poder usar a força e os recursos de todos, da ma​neira que considerar conveniente, para assegurar a paz e a defesa comum. Por isso, o poder do governante tem que ser ilimitado. Pois, se ele sofrer alguma limitação, se o gover​nante tiver de respeitar tal ou qual obrigação (por exemplo, tiver que ser justo) — então quem irá julgar se ele está sendo ou não jus​to?
Portanto, àqueles que estão submetidos a um monarca não podem sem licença deste renunciar à monarquia, voltando á confusão de uma multidão desunida, nem, transferir sua pessoa daquele que dela é portador para outro homem, ou outra assembleia de homens. Pois são obrigados, cada homem pe​rante cada homem, a reconhecer e a ser considerados autores de tudo quanto aquele que já é seu soberano fizer e considerar bom fazer.
A opinião segundo a qual o monarca recebe de um pacto seu poder, quer dizer, sob certas condições, deriva de não se compre​ender esta simples verdade: que os pactos, não passando de palavras e vento, não têm qualquer força para obrigar, dominar, constranger ou proteger ninguém, a não ser a que deriva da espada pública.
Num Estado, cada indivíduo é autor de tudo quanto o soberano fizer, por consequência aquele que se quei​xar de uma injúria feita por seu soberano estar-se-á queixando daquilo de que ele próprio é autor, portanto não deve acusar ninguém a não ser a si próprio; e não pode acusar-se a si próprio de in​juria, pois causar injúria a si próprio é impossível. 
Mas, dando poderes ao soberano, a fim de instaurar a paz, o homem só abriu mão de seu direito para proteger a sua própria vida. Se esse fim não for atendi​do pelo soberano, o súdito não lhe deve mais obediência — não porque o soberano violou algum compromisso (isso é impossível, pois o soberano não prometeu nada), mas simplesmente porque de​sapareceu a razão que levava o súdito a obedecer. 
Por outro lado, o consentimento de um súdito ao poder sobera​no está contido nas palavras eu autorizo, ou assumo como minhas, todas as suas ações, nas quais não há qualquer espécie de restrição a sua antiga liberdade natural. Porque ao permitir-lhe que me mate não fico obrigado a matar-me quando ele mo ordena. 
É a constituição do meu, do teu e do seu. Isto é, numa palavra, da propriedade. E em todas as espécies de Estado é da competência do poder soberano. Porque onde não há Estado, conforme já se mostrou, há uma guer​ra perpétua de cada homem contra seu vizinho, na qual portanto ca​da coisa é de quem a apanha e conserva pela força, o que não é pro​priedade nem comunidade, mas incerteza. O que é a tal ponto eviden​te que até Cícero (um apaixonado defensor da liberdade), diz: "Suprimi as leis civis, e ninguém mais sabe​rá o que é seu e o que é dos outros". Visto portanto que a introdu​ção da propriedade é um efeito do Estado, que nada pode fazer a não ser por intermédio da pessoa que o representa, ela só pode ser um ato do soberano, e consiste em leis que só podem ser feitas por quem tiver,o poder soberano. Bem o sabiam os antigos, que chama​vam Nómos (quer dizer, distribuição) ao que nós chamamos lei, e de​finiam a justiça como a distribuição a cada um do que é seu.
Compete portanto ao Estado, isto é, ao soberano, determinar de que maneira devem fazer-se entre os súditos todas as espécies de contrato (de compra, venda, troca, em​préstimo, arrendamento), e mediante que palavras e sinais esses con​tratos devem ser considerados válidos.
3. JOHN LOCKE (1632-1704)
 INTRODUÇÃO
“A liberdade dos homens sob um governo consiste em ter uma regra estabelecida para viver, comum a todos os membros da mesma sociedade, e decretada pelo poder legislativo erigido por esta sociedade; e a liberdade de seguir a minha própria vontade em tudo o que não for prescrito por regra; e não ter que me submeter à vontade inconstante, incerta, desconhecida e arbitrária de um outro homem.”
John Locke (Wringtown, 29 de Agosto de 1632 – Harlow, 28 de Outubro de 1704) foi um filósofo predecessor do Iluminismo tinha como noção de governo o consentimento dos governados diante da autoridade constituída, e, o respeito ao direito natural do homem, de vida, liberdade e propriedade.Influencia, portanto, nas modernas revoluções liberais: Revolução Inglesa, Revolução Americana e na fase inicial da Revolução Francesa, oferecendo-lhes uma justificação da revolução e a forma de um novo governo. Para fins didáticos, Locke costuma ser classificado entre os "Empiristas Britânicos", junto com David Hume e George Berkeley, assim chamados devido a abrirem espaço para a ciência junto à filosofia, valorizando a experiência como fonte de conhecimento.. Em ciência política, costuma ser enquadrado na escola do direito natural ou jusnaturalismo. Para ele, o direito de propriedade é a base da liberdade humana "porque todo homem tem uma propriedade que é sua própria pessoa". O governo existe para proteger esse direito.
É contemporâneo de Thomas Hobbes, mas, ao contrário deste, é liberal e tem convicções parlamentaristas. Foi enorme a influência da obra de Locke. Suas teses estão na base das democracias liberais. No século XVIII, os iluministas franceses foram buscar em suas obras as principais idéias responsáveis pela Revolução Francesa. Montesquieu (1689-1775) inspirou-se em Locke para formular a teoria da separação dos três poderes. A mesma influencia encontra-se nos pensadores americanos que colaboraram para a declaração da independência americana em 1776.
Em política, sua obra mais influente foi o tratado de duas partes, "ENSAIO SOBRE O GOVERNO CIVIL”. A primeira parte descreve a condição corrente do governo civil, enquanto que a segunda parte descreve sua justificação para o governo e seus ideais para as suas operações. Ele advogava que todos os homens são iguais e que a cada deverá ser permitido agir livremente desde que não prejudique nenhum outro. Com este fundamento, ele continuou, fazendo a justificação clássica da propriedade privada ao declarar que o mundo natural é a propriedade comum de todos os homens, mas que qualquer indivíduo pode apropriar-se de uma parte dele ao misturar o seu trabalho com os recursos naturais.
Este tratado também introduziu o "proviso de Locke", no qual Locke afirmava que o direito de tomar bens da área pública é limitado pela consideração de que "ainda havia suficientes, e tão bons; e mais dos ainda não fornecidos podem servir", por outras palavras, que o indivíduo não pode simplesmente tomar aquilo que pretende, também tem de tomar em consideração o bem comum. 
Locke é considerado o protagonista do empirismo, a teoria normalmente chamada da "Tabula rasa" (ardósia em branco). Esta teoria afirma que todas as pessoas começam por não saber absolutamente nada e que aprendem pela experiência, pela tentativa e erro. Além de defensor da liberdade e da tolerância religiosas, Locke, é considerado o fundador do empirismo, doutrina segunda a qual todo o Conhecimento deriva da experiência. Suas obras filosóficas mais notáveis são: o Tratado do Governo Civil (1689); o Ensaio sobre o Intelecto Humano (1690); os Pensamentos sobre a Educação (1693). 
ÉPOCA E TEORIA DE HOBBES POR LUCIANO GRUPPI
Não vivenciou a revolução de 1648, mas a Segunda revolução, que concluiu-se em 1689. Foi uma revolução do tipo liberal, que assinalou um acordo entre a monarquia e a aristocracia, por um lado, e a burguesia, pelo outro. Isso ocasionou o surgimento de normas parlamentares, bem como uma condução do Estado fundada numa declaração dos direitos do parlamento, que foi definida em 1689. Na década anterior, surgira o habeas corpus (que tenhas o teu corpo), dispositivo que dificulta as prisões arbitrárias, sem uma denúncia bem definida. O habeas corpus estabelece algumas garantias que transformam o "súdito" num "cidadão". Nasce assim o cidadão, justamente na Inglaterra, e John Locke é o seu teórico.
Locke observa que o homem no estado natural está plenamente livre, mas sente a necessidade de colocar limites à sua própria liberdade. Por quê? A fim de garantir a sua propriedade. Até que os homens sejam completamente livres, existe entre eles uma luta que não garante a propriedade e, por conseguinte, tampouco uma liberdade durável. Locke afirma que os homens se juntam em sociedades políticas e submetem-se a um governo com a finalidade principal de conservarem suas propriedades. O estado natural (isto é, a falta de um Estado) não garante a propriedade. É necessário constituir um Estado que garanta o exercício da propriedade, a segurança da propriedade. Visando isso, estabelece-se entre os homens um contrato que origina tanto uma sociedade, como também os Estado (para Locke, as duas coisas vão  juntas).
O Estado também aí surge um contrato. Para Hobbes, porém, esse contrato gera um Estado absoluto, enquanto para Locke o Estado pode ser feito e desfeito como qualquer contrato. Isto é, se o Estado ou o governo não respeitar o contrato, este vai ser desfeito. Portanto, o governo deve garantir determinadas liberdades: a propriedade, e também aquela margem de liberdade política e de segurança pessoal sem o que fica impossível o exercício da propriedade e a própria defesa da liberdade. Já estão implícitos, aqui, os fundamentos de algumas liberdades políticas que devem ser garantidas: a da assembléia, a da palavra, etc. Mas, em primeiro lugar, a liberdade de iniciativa econômica.
 O Estado é soberano, mas sua autoridade vem somente do contrato que o faz nascer: este é o fundamento liberal, sem dúvida progressista, do pensamento de John Locke. O Estado não recebe sua soberania de nenhuma outra autoridade. A relação entre propriedade e liberdade é extremamente evidente: o poder supremo não pode tirar do homem uma parte de suas propriedades sem o seu consentimento. Pois a finalidade de um governo e de todos os que entram em sociedade é a conservação da propriedade.
 Locke afirma que a propriedade é objeto de herança, pois o pai transmite a propriedade aos filhos; o poder político, ao contrário, não se transmite pela herança, deve Ter uma origem democrática, parlamentar.   A sociedade política e a sociedade civil obedecem  a normas e leis diferentes. Todos os direitos de propriedade são exercidos na sociedade civil e o Estado não deve interferir, mas sim garantir e tutelar o livre exercício de propriedade.
DOIS TRATADOS SOBRE O GOVERNO CIVIL 
O Primeiro tratado é uma refutação do Patriarca, obra em que Robert Filmer defende o direito divino dos reis com base no princípio da autoridade paterna que Adão, supostamente o primeiro pai e o primeiro rei, legará à sua descendência. De acordo com essa doutrina, os monarcas modernos eram descendentes da linha¬gem de Adão e herdeiros legítimos da autoridade paterna dessa per¬sonagem bíblica, a quem Deus outorgara o poder real.
O Segundo tratado é, como indica seu título, um ensaio sobre a origem, extensão e objetivo do governo civil. Nele, Locke susten¬ta a tese de que nem a tradição nem a força, mas apenas o consen¬timento expresso dos governados é a única fonte do poder político legítimo. O Segundo tratado é considerado por Norberto Bobbio como a primeira e a mais completa formulação do Estado liberal.
 O ESTADO DE NATUREZA
Juntamente com Hobbes e Rousseau, Locke é um dos principais representantes do jusnaturalismo ou teoria dos direitos naturais. O modelo jusnaturalista de Locke é, em suas linhas gerais, semelhante ao de Hobbes: ambos partem do estado de natureza que, pela mediação do contrato social, realiza a passagem para o estado civil. Em oposição à tradicional doutrina aristotélica, segundo a qual a sociedade precede ao indivíduo, Locke afirma ser a existên¬cia do indivíduo anterior ao surgimento da sociedade e do Estado. Na sua concepção individualista, os homens viviam originalmente num estágio pré-social e pré-político, caracterizado pela mais perfei¬ta liberdade e igualdade, denominado estado de natureza.
O estado de natureza era, segundo Locke, uma situação real e historicamente determinada pela qual passara, ainda que em épo¬cas diversas, a maior parte da humanidade e na qual se encontra¬vam ainda alguns povos, como as tribos norte-americanas. Esse estado de natureza diferia do estado de guerra hobbesiano,baseado na insegurança e na violência, por ser um estado de relativa paz, concórdia e harmonia.
Nesse estado pacífico os homens já eram dotados de razão e desfrutavam da propriedade que, numa primeira acepção genérica utilizada por Locke, designava simultaneamente a vida, a liberda¬de e os bens como direitos naturais do ser humano.
TEORIA DA PROPRIEDADE
Locke utiliza também a noção de propriedade numa segunda acepção que, em mentido estrito, significa especificamente a posse de bens móveis ou imóveis. A teoria da propriedade de Locke, que é muito inova¬dora para sua época, também difere bastante da de Hobbes. Para Hobbes, a propriedade inexiste no estado de natureza e foi instituída pelo Estado-Leviatã após a formação da sociedade civil. Assim como a criou, o Estado pode também suprimir a propriedade dos súditos. Para Locke, ao contrário, a propriedade já existe no estado de natureza e, sendo uma instituição anterior à sociedade, é um direito natural do indivíduo que não pode ser violado pelo Estado.
O homem era naturalmente livre e proprietário de sua pessoa e de seu trabalho. Como a terra fora dada por Deus em comum a todos os homens, ao incorporar seu trabalho à matéria bruta que se encontrava em estado natural o homem tornava-a sua proprieda¬de privada, estabelecendo sobre ela um direito próprio do qual esta¬vam excluídos todos os outros homens. O trabalho era, pois, na concepção de Locke, o fundamento originário da propriedade.
Se a propriedade era instituída pelo trabalho, este, por sua vez, impunha limitações à propriedade. Inicialmente, quando "todo o mundo era como a América", o limite da propriedade era fixado pela ca¬pacidade de trabalho do ser humano. Depois, o aparecimento do di¬nheiro alterou essa situação, possibilitando a troca de coisas úteis, mas perecíveis, por algo duradouro (ouro e prata), convencionalmen¬te aceito pelos homens. Com o dinheiro surgiu o comércio e também uma nova forma de aquisição da propriedade, que, além do trabalho, poderia ser adquirida pela compra. O uso da moeda levou, finalmente, à concentração da riqueza e à distribuição desigual dos bens entre os homens. 
CONTRATO SOCIAL 
O estado de natureza, relativamente pacífico, não está isento de inconvenientes, como a violação da propriedade (vida, liberdade e bens) que, na falta de lei estabelecida, de juiz imparcial e de força coercitiva para impor a execução das sentenças, coloca os indivíduos singulares em es¬tado de guerra uns contra os outros.
É a necessidade de superar esses inconvenientes que, segundo Locke, leva os homens a se unirem e estabelecerem livremente entre si o contrato social, que realiza a passagem do estado de natureza para a sociedade política ou civil. Esta é formada por um corpo político único, dotado de legislação, de judicatura e da força concentrada da comunidade. Seu objetivo precípuo é a preservação da propriedade e a proteção da comunidade tanto dos perigos internos quanto das invasões estrangeiras.
Em Hobbes, os homens firmam entre si um pacto de submissão pelo qual, visando a preservação de suas vidas, transferem a um terceiro (homem ou assembléia) a força coercitiva da comunidade, trocando voluntariamente sua liberdade pela segurança do Estado-Leviatã. Em Locke, o contrato social é um pacto de consentimento em que os homens concordam livremente em formar a sociedade civil para preservar e consolidar ainda mais os direitos que possuíam originalmente no estado de natureza. 
No estado civil os direitos naturais inalienáveis do ser humano à vida, à liberdade e aos bens estão melhor protegidos sob o amparo da lei, do árbitro e da força comum de um corpo político unitário.
. A SOCIEDADE POLÍTICA 
Assim, a passagem do estado de natureza para a sociedade política ou civil (Locke não distingue entre ambas) se opera quando, através do contrato social, os indivíduos singulares dão seu consentimento unânime para a entrada no estado civil.
Estabelecido o estado civil, o passo seguinte é a escolha pela comu¬nidade de uma determinada forma de governo. Na escolha do governo, a unanimidade do contrato originário cede lugar ao princípio da maioria, segundo o qual prevalece a decisão majoritária e, simultaneamente, são respeitados os direitos da minoria. Na concepção de Locke, porém, qualquer que seja a sua forma, "todo o governo não possui outra finalidade além da conservação da propriedade".
Definida a forma de governo, cabe igualmente à maioria escolher o poder legislativo, que Locke, conferindo-lhe uma superioridade sobre os demais poderes, denomina de poder supremo. Ao legis¬lativo se subordinam tanto o poder executivo, confiado ao príncipe, como o poder federativo, encarregado das relações exteriores (guerra, paz, alianças e tratados). Existe uma clara separação entre o poder legislativo, de um lado, e os poderes executivo e federativo, de outro lado, os dois últimos podendo, inclusive, ser exercidos pelo mesmo magistrado.
Em suma, o livre consentimento dos indivíduos para o estabelecimento da sociedade, o livre consentimento da comunidade para a formação do governo, a proteção dos direitos de propriedade pelo governo, o controle do executivo pelo legislativo e o controle do governo pela sociedade, são, para Locke, os principais fundamentos do estado civil.
O DIREITO DE RESISTÊNCIA
No que diz respeito às relações entre o governo e a sociedade, Locke afirma que, quando o executivo ou o legislativo violam a lei estabelecida e atentam contra a propriedade, o governo deixa de cumprir o fim a que fora destinado, tornando-se ilegal e degenerando em tirania. O que define a tirania é o exercício do poder para além do direito, visando o interesse próprio e não o bem público ou comum.
Com efeito, a violação deliberada e sistemática da propriedade (vida, liberdade e bens) e o uso contínuo da força sem amparo legal colocam o governo em estado de guerra contra a sociedade e os governantes em rebelião contra os governados, conferindo ao povo o legítimo direito de resistência à opressão e à tirania.
O estado de guerra imposto ao povo pelo governo configura a dissolução do estado civil e o retorno ao estado de natureza, onde a inexistência de um árbitro comum faz de Deus o único juiz, ex¬pressão utilizada por Locke para indicar que, esgotadas todas as alternativas, o impasse só pode ser decidido pela força.
Segundo Locke, a doutrina da legitimidade da resistência ao exercício ilegal do poder reconhece ao povo, quando este não tem outro recurso ou a quem apelar para sua proteção, o direito de recorrer a força para a deposição do governo rebelde. O direito do povo à resistência é legítimo tanto para defender-se da opressão de um governo tirânico 
 4. JEAN-JACQUES ROUSSEAU - 1712 - 1778
Foi um filósofo suíço, escritor, teórico político e um compositor musical autodidata. Uma das figuras marcantes do Iluminismo francês, Rousseau é também um precursor do romantismo. As idéias políticas de Rousseau tiveram grande influência nas inspirações ideológicas da Revolução Francesa, onde as concepções liberais se difundiram e guiaram ideologicamente a Revolução. Sua herança de pensador radical e revolucionário está provavelmente melhor expressada em sua mais célebre frase, contida em O contrato social: «O homem nasce livre, porém em todos lados está acorrentado».
Segundo Rousseau, todos os homens nascem livres, e a liberdade faz parte da natureza do homem. Entretanto, se o homem nasceu livre, ao longo do processo histórico, a liberdade não se constitui mais o cerne desse processo, mas outra liberdade vem substituir a liberdade individual, ou seja, a liberdade civil. Sendo assim, segundo Rousseau, a única instituição que ainda se constitui natural é a da família, ou seja, os vínculos ,que se formam na família ,se perpetuam enquanto há uma relação de dependência, cujas necessidades básicas, tais como a proteção,a alimentação, devam ser satisfeitas para a própria preservação do grupo humano. A relação pais e filhos vão se “dissolver”, enquanto a relaçãode dependência, quando não houver mais a necessidade dos progenitores ,suprir as necessidades básicas dos seus pupilos. 
Por outro lado, Rousseau admite que a relação paterna/filial pode subsistir, nesse caso, constituindo-se por livre e espontânea vontade, ou ainda por convenção. Denominam-se de ordem normativa os arranjos que ocorrem na família e na sociedade. Para proteger os seus direitos, os homens fazem um arranjo institucional, que Rousseau denomina de contrato social. A vontade coletiva configura-se no contrato social em todas as esferas da sociedade, seja no estado, seja no governo,seja na economia, delimitando o espaço e as formas de ação individual. Entretanto, ainda haverá a possibilidade desse acordo não ser aceito. Por outro lado, se convencionado por todos, o contrato social será executado pelos representantes que estiverem governando, seja essa forma de governar por coerção ou por consentimento. No que diz respeito à possibilidade de ocorrerem guerras, combates ou outros atritos entre os homens, os mesmos não se configurarão entre os homens, mas entre os Estados, pois que ali ocorrerão atritos de ordem estatal ou governamental. 
Mas é interessante observar que,  para Rousseau, deixa de existir a separação dos três poderes que Montesquieu tinha fixado em começos de 1700; o poder legislativo (Parlamento), o poder executivo (Governo) e o poder judiciário. Montesquieu fez essa distinção a fim de limitar o poder executivo, que estava nas mãos do soberano, preconizado uma monarquia de tipo constitucional.
                Ao invés disso, Rousseau nega a distinção entre os poderes, visando afirmar acima de tudo o poder da assembléia. Não pode existir um poder executivo distinto do assembléia, do poder representativo (é a idéia que Lênin retomar plenamente, pois nos Sovietes os poderes legislativo e executivo identificam-se e o poder representativo é dominante).
                Outra contradição aparece quanto à soberania da assembléia. A assembléia não deve delegar o seu poder, o povo nunca pode transferir sua soberania, nem que seja por um instante. Conseqüentemente, há uma identidade entre sociedade política e sociedade civil. Mas o próprio Rousseau afirma que um povo não pode ficar sempre reunido em assembléia, pois existe uma dificuldade prática, real.
DA PROPRIEDADE 
No que diz respeito à propriedade, Rousseau salienta que a mesma se constituiu enquanto direito a partir do momento em que o “primeiro” homem considerou seu, seja um pedaço de terra, seja outro tipo de propriedade. Dessa forma, o contrato social também tem como tarefa legitimar a posse desse bem, para que não ocorressem disputas e conflitos sociais e assim garantir o usofruto privado, mas Rousseau deixa claro que o o uso do patrimonio pelo bem comum é o que deve prevalecer. Conforme: “De qualquer sorte que se faça essa aquisição, o direito que cada particular tem sobre seus bens é sempre subordinado ao direito que a comunidade tem sobre todos; sem isso, não haveria solidez no laço social, nem força real no exercício da soberania”. (ROUSSEAU, Jean-Jacques. Do Contrato Social ou princípios do direito político. SP: Editora Martin Claret, 2006.p.35)
Sendo assim, muitas vezes a força não gera deveres entre os indivíduos numa sociedade, firmando, dessa forma , as relações sociais por meio das convenções. Entretanto, cabe ressaltar que ,no momento em que o homem renuncia às convenções e ao contrato social, ele recupera a liberdade natural, bem como os direitos ilimitados, mas tudo isso à custa da sua abdicação em relação às liberdades civis e à propriedade. Inspirados nas idéias de Rousseau, os revolucionários defendiam o princípio da soberania popular e da igualdade de direitos. A função principal de sua filosofia é libertar o homem.
DA LIBERDADE
 Para Rousseau, a liberdade natural caracteriza-se por ações tomadas pelo indivíduo com o objetivo de satisfazer seus instintos, isto é, com o objetivo de satisfazer suas necessidades. O homem neste estado de natureza desconsidera as conseqüências de suas ações para com os demais, ou seja, não tem a vontade e nem a obrigação de manter o vínculo das relações sociais. Outra característica é a sua total liberdade, desde que tenha forças para colocá-la em prática, obtendo as satisfações de suas necessidades, moldando a natureza. “O homem realmente livre faz tudo que lhe agrada e convém, basta apenas deter os meios e adquirir força suficiente para realizar os seus desejos.”(SAHD,2005, p. 101)
Ao perder uma disputa com outros indivíduos o sujeito não consegue exercer a sua liberdade, uma vez que a liberdade nesse estágio se estabelece a partir da correlação de forças entre os indivíduos. Não há regras, instituições ou costumes que se sobrepõem às vontades individuais para a manutenção do “bem coletivo”. Contudo, na concepção de Rousseau, o homem selvagem viveria isolado e por isso, não faz sentido pensar em um bem coletivo. Também não haveria tendência ao conflito entre os indivíduos isolados quando se encontrassem, pois seus simples desejos (necessidades) seriam satisfeitas com pouco esforço, devido à relação de comunhão com a natureza. O isolamento entre os indivíduos só era quebrado para fins de reprodução, pois sendo auto-suficientes não tinham outra necessidade para viverem em agrupamentos humanos. Foi a partir do isolamento que o homem adquiriu qualidades como amor de si mesmo e a piedade. Vale ressaltar que, para Rousseau, o homem se completa com a natureza , portanto não é um estado a ser superado, como Locke e Hobbes acreditavam. Rousseau em o Discurso Sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade Entre os Homens, afirma que “a maioria de nossos males é obra nossa e (...) os teríamos evitado quase todos conservando a maneira de viver simples, uniforme e solitária que nos era prescrita pela natureza” (ROUSSEAU apud LEOPOLDI , 2002, p. 160 )
A consciência no estado selvagem não estabelece distinção entre bem ou mal, uma vez que tal distinção é característica do indivíduo da sociedade civil. Para Rousseau, o que faz o indivíduo em estado de natureza parecer bom é, justamente, o fato de conseguir satisfazer suas necessidades sem estabelecer conflitos com outros indivíduos, sem escravizar e não sentindo vontade de impor a sua força a outros para sobreviver e ser feliz.
TRANSIÇÃO DO ESTADO DE NATUREZA PARA O ESTADO CIVIL 
A transição do estado de natureza para a ordem civil transforma a liberdade do sujeito, ocorrendo durante um período de “guerra de todos contra todos” que se iniciou com o estabelecimento da propriedade privada e da ausência de instituições políticas e de regras que impedissem a exploração entre as pessoas. Não havia cidadania neste período pré-social (esse período, existente antes do contrato social, se caracterizava por uma vida comum de disputas pela propriedade e pela riqueza). Para evitar as desigualdades, advindas da propriedade privada e do poder que devido a ela as pessoas (ricos proprietários) passam a exercer sobre outras pessoas (pequenos proprietários e despossuídos), é firmado o contrato social. Na transição para a vida em sociedade Rousseau é claro em escrever que: “O que o homem perde pelo contrato social é a liberdade natural e um direito ilimitado a tudo quanto aventura e pode alcançar. O que com ele ganha é a liberdade civil e a propriedade de tudo o que possui.” (ROUSSEAU, 1978, p. 36)
LIBERDADE CIVIL 
Na resolução do estágio de conflito generalizado é estabelecido o contrato social. Tal contrato é para Rousseau o que forma um povo enquanto tal, sendo precedente a formação do Estado e do governo. Esses são decorrentes da organização e do acordo vigentes na constituição do povo. Aqui Rousseau estabelece um princípio de organização das instituições políticas, no qual a organização de um povo em relação à propriedade, aos direitos e aos deveres de cada indivíduo são estipulados na lei, a partir do contrato social que orienta a constituição do Estado e da legislação. 
Portanto, as leis estabelecidas no contratosocial asseguram a liberdade civil através dos direitos e deveres de cada cidadão no corpo político da sociedade. Mas para isso, cada cidadão deve “doar-se” completamente, submetendo-se ao padrão coletivo. Vale ressaltar que o fator limitante da liberdade civil é a vontade geral, uma vez que ela visa à igualdade (o que torna os indivíduos realmente livres), pois a liberdade no estado civil não se dá apenas pelos interesses particulares, mas também pelos interesses do corpo político. Assim, o contrato social não apenas iguala todos os cidadãos, como também fortalece a liberdade de cada indivíduo, a partir de seus interesses particulares. Uma vez que um dos principais objetivos do contrato social é garantir a segurança e a liberdade de cada indivíduo, ainda que a última seja limitada por normas. “Encontrar uma forma de associação que defenda e proteja a pessoa e os bens de cada associado com toda a força comum, e pela qual cada um, unindo-se a todos, só obedece contudo a si mesmo, permanecendo assim tão livre quanto antes. Esse, o problema fundamental cuja solução o contrato social oferece”. (ROUSSEAU, 1978, p. 32)
Contudo o contrato de Rousseau oferece outra solução: a separação nominal jurídica do público e do privado . Tal separação é o que garante a igualdade política a cada pessoa que passa a ser um cidadão de direitos e deveres na esfera pública e com liberdade comercial e livre expressão de idéias, uma vez que é um indivíduo único. Tal princípio de separação, além de ser uma tentativa lógica de equacionar o problema – liberdade e igualdade – é um pesado ataque a ordem política feudal, na qual os laços de sangue e de parentesco determinavam o tratamento político diferenciado e limitavam a participação política de cada cidadão. O Estado, tal como é proposto por Rousseau no Contrato Social, assegura a liberdade de cada cidadão através da independência individual privada e da livre participação política. Sendo que para Robert Nisbet: “Esta predominância do Estado na vida do indivíduo não constitui, entretanto, despotismo; constitui a base necessária da verdadeira liberdade individual.” (NISBET, 1982, p.158).
CRITICAS DE VOLTAIRE
Rousseau recebe críticas principalmente de Voltaire, que diz: "ninguém jamais pôs tanto engenho em querer nos converter em animais" e que ler Rousseau faz nascer "desejos de caminhar em quatro patas", mas o propósito de Rousseau é de combater os abusos e não repudiar os mais altos valores humanos. Sua teoria política é sob vários aspectos uma síntese de Hobbes e Locke. Foi o ferro e o trigo que civilizaram os homens e arruinaram a raça humana....Do cultivo da terra, sua divisão seguiu-se necessariamente....Quando as heranças cresceram em número e extensão ao ponto de cobrir toda a terra e de confrontarem umas com as outras, algumas delas tinham que crescer as custas de outras... A sociedade nascente deu lugar ao mais horrível estado de guerra. Posteriormente Rousseau propôs que esse estado de guerra forçou os proprietários de terra ricos a recorrer a um sistema de leis que eles impuseram para proteger sua propriedade.
Rousseau não pretendia que o homem retornasse à primitiva igualdade, ao estado natural, mas, em um artigo encomendado por Diderot para a "Enciclopédia" e publicado separadamente em 1755 como Le Citoyen: Ou Discours sur l'economie politique, ele busca meios de minimizar as injustiças que resultam da desigualdade social. Ele recomendou três caminhos: primeiro, igualdade de direitos e deveres políticos, ou o respeito por uma "vontade geral" de acordo com o qual a vontade particular dos ricos não desrespeita a liberdade ou a vida de ninguém; segundo, educação pública para todas as crianças baseada na devoção pela pátria e em austeridade moral de acordo com o modelo da antiga Sparta; terceiro, um sistema econômico e financeiro combinando os recursos da propriedade pública com taxas sobre as heranças e o fausto.
PEDAGOGIA 
 Os pressupostos básicos de Rousseau com respeito à educação eram a crença na bondade natural do homem, e a atribuição à civilização da responsabilidade pela origem do mal. Se o desenvolvimento adequado é estimulado, a bondade natural do indivíduo pode ser protegida da influência corruptora da sociedade.
TEORIA POLÍTICA
Começando com a desigualdade como um fato irreversível, Rousseau tenta responder a questão do que compele um homem a obedecer a outro homem ou por que direito um homem exerce autoridade sobre outro. Ele concluiu que somente um contrato tácito e livremente aceito por todos permite cada um "ligar-se a todos enquanto retendo sua vontade livre". A liberdade está inerente na lei livremente aceita. "Seguir o impulso de alguém é escravidão, mas obedecer a uma lei auto-imposta é liberdade".
    Há uma diferença entre o pensamento de Rousseau e o de Locke, que também afirmou a liberdade do homem como base de sua teoria política. Locke admite a perda da liberdade quando afirma que "o homem, por ser livre por natureza,... não pode ser privado dessa condição e submetido ao poder de outro sem o próprio consentimento"... Enquanto para Rousseau o homem não pode renunciar à sua liberdade. Esta é uma exigência ética fundamental.     Rousseau considera a liberdade um direito e um dever ao mesmo tempo. “... todos nascem homens e livres"; a liberdade lhes pertence e renunciar a ela é renunciar à própria qualidade de homem.     O princípio da liberdade é direito inalienável e exigência essencial da própria natureza espiritual do homem".
O contrato social para Rousseau é "Uma livre associação de seres humanos inteligentes, que deliberadamente resolvem formar um certo tipo de sociedade, à qual passam a prestar obediência mediante o respeito à vontade geral. O "Contrato social", ao considerar que todos os homens nascem livres e iguais, encara o Estado como objeto de um contrato no qual os indivíduos não renunciam a seus direitos naturais, mas ao contrário entram em acordo para a proteção desses direitos, que o Estado é criado para preservar. O Estado é a unidade e como tal expressa a "vontade geral", porém esta vontade é posta em contraste e se distingue da "vontade de todos", a qual é meramente o agregado de vontades, o desejo acidentalmente mútuo da maioria.    John Locke e outros tinham assumido que o que a maioria quer deve ser correto. Rousseau questionou essa postura, argumentando que os indivíduos que fizeram a maioria podem, na verdade, desejar alguma coisa que está contrária aos objetivos e necessidades do estado, para com o bem comum. A vontade geral é para assegurar a liberdade, a igualdade, e justiça dentro do estado, não importa a vontade da maioria, e no contrato social (para Rousseau uma construção teórica mais que um evento histórico como os pensadores do Iluminismo tinham freqüentemente assumido) a soberania individual é cedida para o estado em ordem que esses objetivos possam ser atingidos.
    Por isso a vontade geral dota o Estado de força para que ele atue em favor das teses fundamentais mesmo quando isto significa ir contra a vontade da maioria em alguma questão particular. Rousseau reforça o contrato social através de sanções rigorosas que acreditava serem necessárias para a manutenção da estabilidade política do Estado por ele preconizado. Propõe a introdução de uma espécie de religião civil, ou profissão de fé cívica, a ser obedecida pelos cidadãos que depois de aceitarem-na, deveriam segui-la sob pena de morte.
O CONTRATO SOCIAL
O PACTO SOCIAL - Os temas mais candentes da filosofia políti​ca clássica, tais como a passagem do estado de natureza ao estado civil, o contrato social, a liberdade civil, o exercício da soberania, a distinção entre o governo e o soberano, o problema da escravidão, o surgimento da propriedade, serão tra​tados por Rousseau de maneira exaustiva, de um lado, retomando as reflexões dos autores da tradicional escola do direito natural, co​mo Grotius, Pufendorf e Hobbes e, de outro, não poupando críti​cas pontuais a nenhum deles, o que o colocará, no século XVIII, em lugarde destaque entre os que inovaram a forma de se pensar a política, principalmente ao propor o exercício da soberania pelo povo, como condição primeira para a sua libertação. E, certamen​te, por isso mesmo, os protagonistas da revolução de 1789 o elege​rão como patrono da Revolução ou como o primeiro revolucionário.
“O homem nasce livre, e por toda parte encontra-se aprisionado. O que se crê senhor dos demais, não deixa de ser mais escravo do que eles. Como se deve esta transformação? Eu o ignoro: o que po​derá legitimá-la? Creio poder resolver esta questão". 
Unamo-nos para defender os fracos da opressão, conter os am​biciosos e assegurar a cada um a posse daquilo que lhe pertence, instituamos regulamentos de justiça e de paz, aos quais todos sejam obrigados a conformar-se, que não abram exceção para ninguém e que, submetendo igualmente a deveres mútuos o poderoso e o fra​co, reparem de certo modo os caprichos da fortuna. Numa palavra, em lugar de voltar nossas forças contra nós mesmos, reunamo-nos num poder supremo que nos governe segundo sábias leis, que prote​jam e defendam todos os membros da associação, expulsem os ini​migos comuns e nos mantenham em concórdia eterna.
O que pretende estabelecer no Contrato social são as condições de possibilidade de um pacto legítimo, através do qual os homens, de​pois de terem perdido sua liberdade natural, ganhem, em troca, a liberdade civil. Quando bem compreendidas, reduzem-se a uma só: a alienação total de cada associado, com todos os seus direitos, à comunidade toda, porque, em primeiro lugar, cada um dando-se completamente, a con​dição é igual para todos e, sendo a condição igual para todos, nin​guém se interessa por tornar onerosa para os demais.
Desta vez, estariam dadas todas as condições para a realização da liberdade civil, pois o povo soberano, sendo ao mesmo tempo par​te ativa e passiva, isto é, agente do processo de elaboração das leis e aquele que obedece a essas mesmas leis, tem todas as condições para se constituir enquanto um ser autónomo, agindo por si mes​mo. Nestas condições haveria uma conjugação perfeita entre a liber​dade e a obediência. Obedecer à lei que se prescreve a si mesmo é um ato de liberdade. Fórmula que seria desenvolvida mais tarde por Kant. Um povo, portanto, só será livre quando tiver todas as condições de elaborar suas leis num clima de igualdade, de tal mo​do que a obediência a essas mesmas leis signifique, na verdade, uma submissão à deliberação de si mesmo e de cada cidadão, co​mo partes do poder soberano. Isto é, uma submissão à vontade ge​ral e não à vontade de um indivíduo em particular ou de um gru​po de indivíduos. 
 A VONTADE E A REPRESENTAÇÃO 
Tal é a condição primeira de legitimida​de da vida política, ou seja, aquela que marca a sua fundação através de um pac​to legítimo, onde a alienação é total e onde a condição de todos é a de igualdade. Qualquer forma de governo que se venha a adotar terá que submeter-se ao poder soberano do po​vo. Mesmo sob um regime monárquico, segundo Rousseau, o povo pode manter-se como soberano, desde que o monarca se caracterize como fun​cionário do povo. A vontade particular age sem cessar contra a von​tade geral, o governo despende um esforço contínuo contra o sobe​rano." O governo tende a ocupar o lugar do soberano, a consti​tuir-se não como um corpo submisso, como um funcionário, mas como o poder máximo, invertendo portanto os papéis. Ao invés de submeter-se ao povo, o governo tende a subjugá-lo.
DO DIREITO DO MAIS FORTE
O mais forte não é nunca forte o bastante para ser sempre o senhor, se não transforma sua força em direito e a obediência em dever. Daí o direito do mais forte; direito aparentemente tomado com ironia, e na realidade estabelecido como princípio. Mas jamais alcançaremos uma explicação para esta palavra? A força é um po​der físico; não imagino que moralidade possa resultar de seus efei​tos. Ceder à força é um ato de necessidade, não de vontade; quan​do muito, é um ato de prudência. A força não faz o direito e que só se é obrigado a obedecer aos poderes legítimos.
DO PACTO SOCIAL
Suponhamos os homens chegando ao ponto onde os obstácu​los que impedem sua conservação no estado de natureza sobrepujam, pela sua resistência, as forças que cada indivíduo dispõe para se manter nesse estado. Então, esse estado primitivo não pode mais subsistir e o género humano pereceria se não mudasse de modo de vida. Devem então encontrar uma forma de associação que de​fenda e proteja, com toda a força comum, a pessoa e os bens de ca​da associado, e pela qual cada um, unindo-se a todos, só obedece contudo a si mesmo, permanecendo assim tão livre quanto antes. 
Essas cláusulas, bem entendidas, reduzem-se todas a uma só: a alienação total de cada associado, com todos os seus direitos, à comunidade toda, pois, em primeiro lugar, desde que cada um se dê completamente, a condição é igual para todos e, sendo a condi​ção igual para todos, ninguém se interessa em torná-la onerosa aos demais. Enfim, cada um, ao se dar a todos, não se dá a ninguém e, não existindo um associado sobre o qual não se adquira o mesmo direito que se lhe cede sobre si mesmo, ganha-se o equivalente de tu​do que se perde e mais força para conservar o que se tem.
DO ESTADO CIVIL
A passagem do estado de natureza para o estado civil determi​na no homem uma mudança muito notável, substituindo na sua conduta o instinto pela justiça e dando às suas ações a moralidade que antes lhes faltava. É só então que, tomando a voz do dever o lugar do impulso físico, e o direito o lugar do apetite, o homem, até aqui levando em consideração apenas sua pessoa, vê-se força​do a agir baseando-se em outros princípios e a consultar a razão an​tes de ouvir suas inclinações. 
O que o homem perde pelo contrato social é sua liberdade natural um direito ilimitado a tudo que o seduz e que ele pode alcançar. O que com ele ganha é a liberdade civil e a propriedade de tudo que possui. A fim de não fazer um julgamento errado dessas com​pensações, impõe-se distinguir entre a liberdade natural, que só co​nhece limites nas forças do indivíduo, e a liberdade civil, que se li​mita pela vontade geral; e, mais, distinguir a posse, que não é se​não o efeito da força ou o direito do primeiro ocupante, da proprie​dade, que só pode fundar-se num título positivo.
Terminarei este capítulo e este livro por uma observação que deverá servir de base a todo o sistema social: o pacto fundamental, cm lugar de destruir a igualdade natural, pelo contrário substitui por uma igualdade moral e legítima aquilo que a natureza poderia trazer de desigualdade física entre os homens que, podendo ser desi​guais na força ou no génio, se tornam todos iguais por convenção c de direito.
A SOBERANIA É INALIENÁVEL
 A primeira e a mais importante consequência decorrente dos princípios até aqui estabelecidos é que só a vontade geral pode diri​gir as forças do Estado de acordo com a finalidade de sua institui​ção que é o bem comum. Pois, se a oposição dos interesses particu​lares tornou necessário o estabelecimento das sociedades, foi o acor​do desses mesmos interesses que o possibilitou. É o que existe de co​mum a esses vários interesses que forma o vínculo social e, se não houvesse -um ponto em que todos os interesses concordassem, ne​nhuma sociedade poderia existir. Ora, somente com base nesse inte​resse comum é que a sociedade deve ser governada.
A SOBERANIA É INDIVISÍVEL 
A soberania é indivisível pela mesma razão porque é inalienável, pois a vontade ou é geral, ou não o é; ou é a do corpo do povo, ou somente de uma parte. No primeiro caso, essa vontade declarada é um ato de soberania e faz lei; no segundo, não passa de uma vontade particular ou de um ato de magistratura e, quando muito, de um decreto. Nossos políticos, porém, não podendo dividir a soberania em seu princípio, fazem-no em seu objeto. Dividem-na em força e von​tade, em poder legislativo e poder executivo, em direitos de impos​tos, de justiça e de guerra, em administração internae em poder de negociar com o estrangeiro. Algumas vezes, confudem todas es​sas partes e, outras vezes, separam-nas. Fazem do soberano um ser fantástico e formado de peças ajustadas, tal como se formassem um homem de inúmeros corpos, dos quais um tivesse os olhos, ou-iro os braços, outro os pés, e nada mais além disso. Contam que os charlatões do Japão despedaçam uma criança aos olhos dos es​pectadores e, depois, jogando ao ar todos os membros, um após ou​tro, volta ao chão a criança viva e completamente recomposta. É mais ou menos assim que são feitos os passes de mágica de nossos políticos; depois de desmembrarem o corpo social, por uma sorte digna das feiras, não se sabe como, reúnem as peças.
SE PODE ERRAR A VONTADE GERAL 
Resulta do acima exposto que a vontade geral é sempre certa onde sempre certa e tende sempre à utilidade pública; donde não se segue, contudo, que as deliberações do povo tenham sempre a mesma exatidão. De​seja-se sempre o próprio bem, mas nem sempre se sabe onde ele es​tá. Jamais se corrompe o povo, mas frequentemente o enganam e só então é que ele parece desejar o que é mau. Há comumente muita diferença entre a vontade de todos e a vontade geral. Esta se prende somente ao interesse comum; a ou​tra, ao interesse privado e não passa de uma soma das vontades particulares. Quando se retiram, porém, dessas mesmas vontades, os excessos e as faltas que nela se destroem mutuamente, resta, co​mo soma das diferenças, a vontade geral. 
Se, quando o povo suficientemente informado delibera, não tivessem os cidadãos qualquer comunicação entre si, do grande nú​mero de pequenas diferenças resultaria sempre a vontade geral e a deliberação seria sempre boa. Mas quando se estabelecem fac​ções, associações parciais a expensas da grande, a vontade de ca​da uma dessas associações torna-se geral em relação a seus mem​bros e particular em relação ao Estado: poder-se-á então dizer nãohaver mais tantos votantes quantos são os homens, mas somentetantos quantas são as associações. As diferenças tornam-se menos numerosas e dão um resultado menos geral. E, finalmente, quan​do uma dessas associações for tão grande que se sobreponha a to​das as outras, não se terá mais como resultado uma soma das pequenas diferenças, mas uma diferença única. Então, não há maisvontade geral, e a opinião que a ela se sobrepõe não passa de uma opinião particular.
Importa, pois, para alcançar o verdadeiro enunciado da vonta​de geral, que não haja no Estado sociedade parcial e que cada cida​dão só opine de acordo consigo mesmo. Foi essa a única e subli​me instituição do grande Licurgo. Caso haja sociedades parciais, é preciso multiplicar-lhes o número a fim de impedir-lhes a desigual​dade, como o fizeram Sólon, Numa e Sérvio. Tais precauções são as únicas convenientes para que a vontade geral sempre se esclare​ça e jamais se engane o povo.
DIVISÃO DAS LEIS 
A fim de ordenar o todo ou para dar a melhor forma possí​vel à coisa pública, há várias relações a considerar. Primeiro, a ação do corpo inteiro agindo sobre si mesmo, isto é, a relação do todo com o todo, ou do soberano com o Estado. As leis que regulamentam essa relação recebem o nome de leis políticas e chamam-se também leis fundamentais, não sem alguma razão no caso de serem sábias, pois, se existe em cada Estado so​mente uma boa maneira de ordená-lo, o povo que a encontrou de​ve conservá-la; mas se a ordem estabelecida é má, por que se toma​riam por fundamentais leis que a impedem de ser boa? Aliás, seja qual for a situação, o povo é sempre soberano para mudar suas leis, mesmo as melhores, pois, se for de seu agrado fazer o mal a si mes​mo, quem terá o direito de impedi-lo?
A segunda relação é a dos membros entre si ou com o cor​po inteiro, e essa relação deverá ser, no primeiro caso, tão peque​na e, no segundo, tão grande quanto possível, de modo que cada cidadão se encontre em perfeita independência de todos os outros e em uma excessiva dependência da polis: o que se consegue sem​pre graças aos mesmos meios, pois só a força do Estado faz a li​berdade de seus membros. É desta segunda relação que nascem as leis civis.
Pode-se considerar um terceiro tipo de relação entre o homem e a lei, a saber, a da desobediência à pena, dando origem ao estabe​lecimento das leis criminais que, no fundo, instituem menos uma es​pécie particular de leis do que a sanção de todas as outras. A essas três espécies de leis, junta-se uma quarta, os usos e costumes e, sobretudo, à opinião, essa parte desconhecida por nos​sos políticos, mas da qual depende o sucesso de todas as outras. 
DO GOVERNO EM GERAL 
 Toda ação livre tem duas causas que concorrem em sua produ​ção: uma, moral, que é a vontade que determina o ato, e a outra, física, que é o poder que a executa. Quando me dirijo a um obje-to, é preciso primeiramente que eu queira ir até ele; em segundo lu​gar, meus pés me transportem até ele. Quer um paralítico queira correr, quer um homem ágil não o queira, ambos continuarão no mesmo lugar. O corpo político tem os mesmos móveis. Distinguem-se nele a força e a vontade; esta sob o nome de poder legislativo e aquela, de poder executivo. Nada nele se faz, nem se deve fazer, sem o seu concurso.
A força pública necessita, pois, de um agente próprio que a reúna e a ponha em ação segundo as diretrizes da vontade geral, que sirva à comunicação entre o Estado e o soberano, que de algum modo determine na pessoa pública o que no homem faz a união da alma com o corpo. Eis qual é, no Estado, a razão do governo, confundida erroneamente com o soberano, do qual não é senão o ministro. Que será, pois, o governo? É um corpo intermediário estabele​cido entre os súditos e o soberano para sua mútua correspondência, encarregado da execução das leis e da manutenção da liberdade, tan​to civil como política. Chamo, pois, de governo ou administração suprema o exercí​cio legítimo do poder executivo, e de príncipe ou magistrado o ho​mem ou o corpo encarregado dessa administração.
5. O ESTADO MODERNO
ORIGENS E ANTECEDENTES
 O Estado Antigo (Egito, Mesopotâmia, etc.), tem como característica comum ser unitário e teocrático. Já o Estado Grego, em especial na cidade de Atenas, a mais famosa Cidade-Estado grega, foi estruturada sob diferentes formas de regimes políticos, como a Monarquia (Governo de um só), a Oligarquia (de alguns), e Democracia. A base da democracia é a igualdade de todos os cidadãos. Igualdade perante a lei (isonomia), e igualdade de poder se pronunciar na assembleia (isagoria), quer dizer, direito à palavra. Essas duas liberdades são os pilares do novo regime, estendidos a ricos e pobres, a nobres e plebeus. O sistema de sorteio evitava, em parte, a formação de uma classe de políticos profissionais que atuassem de uma maneira separada do povo, procurando fazer com que qualquer um se sentisse apto a manejar os assuntos públicos, eliminando-se a alienação política dos indivíduos. Sob o ponto de vista grego, o cidadão que se negasse a participar dos assuntos públicos, em nome da sua privacidade, era moralmente condenado. Criticavam-no por sua apatia ou idiotia. 
O Estado Romano, conheceu três períodos distintos: A Realeza, período histórico em que Roma foi governada pelos reis, compreendendo uma faixa de aproximadamente 250 anos. A República, período em que foi abolida a realeza em Roma, e foi implantada a República. Não havia Rei, e o poder de legislar cabia ao Senado. A República Romana se caracterizava pelo equilíbrio de poder entre a classes, o que no fundo, escondia o fato de que havia um Estado Patrício e um Estado Plebeu. O Império, período em que Roma foi governado por monarcas que possuíam o poder de Imperium, isto é, soberania sobre todos os Estados dominados por Roma.
O Estado Medieval pode ser caracterizada como um período antropocêntrico na história (o homem como centro do conhecimento, da cultura, e da sociedade), a Idade Média tem perfil claramente teocêntrico (Deus ou a divindade como centro, origem e destino da ação humana). Por isso toda ação, inclusiveo Direito, está subordinada as leis divinas e aos desígnios de Deus. O direito deixa de ser laico e secular (produto exclusivo da ação histórica da humanidade), e passa a ser compreendido como um desígnio divino daí a subordinação do direito laico (não religioso) as regras do direito canônico e eclesiástico.
O Estado Moderno surge no período da Revolução Francesa e possui as características que 
Caracterizam o Estado Democrático:
a) A supremacia da vontade popular
b) Preservação da liberdade – dispor de bens etc. 
c) Igualdade de direitos – proibição de distinguir gozo de direitos por situação econômica, raça, etc.
6. ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO ESTADO
 O POVO: DIFERENÇAS ENTRE POVO E POPULAÇÃO
População: Todas as pessoas presentes no território do Estado, num determinado momento, inclusive estrangeiros e apátridas, fazem parte da população. È por conseguinte a população sob esse aspecto um dado essencialmente quantitativo, que independe de qualquer laço jurídico de sujeição ao poder estatal. Não se confunde com a noção de povo, porquanto nesta, fundamental é o vinculo do indivíduo ao Estado, através da nacionalidade ou cidadania. A população é conceito puramente demográfico e estatístico. (BONAVIDES, 72)
Povo: Para H. Kelsen povo "é constituído pela unidade da ordem jurídica válida para os indivíduos cuja conduta é regulamentada pela ordem jurídica nacional, ou seja, é a esfera pessoal de validade dessa ordem". O autor entende que o povo constitui uma unidade jurídica e não natural, pois assim como o Estado tem apenas um território cuja unidade é jurídica, tem apenas um povo. O indivíduo só será considerado pertencente ao povo quando estiver na esfera pessoal de validade de sua ordem jurídica.
Paulo Bonavides ensina que a palavra povo comporta um significado político, jurídico e sociológico. O conceito político de Povo se refere ao "quadro humano sufragante, que se politizou, ou seja, o corpo eleitoral". Este conceito é resultado de uma concepção recente, uma vez que o absolutismo não conhecia este aspecto, já que só identificava a comunidade estatal como um conjunto de súditos. O conceito jurídico de povo, que para ele é o único a explicar plenamente o conceito de povo, aponta para aqueles "que se acham no território como fora deste, no estrangeiro, mas presos a um determinado sistema de poder ou ordenamento normativo, pelo vínculo de cidadania". Assim, é a cidadania que mostra o vínculo entre o indivíduo e o Estado. No sentido sociológico, povo "é compreendido como toda a continuidade do elemento humano, projetado historicamente no decurso de várias gerações e dotado de valores e aspirações comuns". 
Dalmo Dallari também apresenta o conceito de povo do ponto de vista jurídico, compreendendo "o conjunto dos indivíduos que, através de um momento jurídico, se unem para constituir o Estado, estabelecendo com este um vínculo jurídico de caráter permanente, participando da formação da vontade do Estado e do exercício do poder soberano".
Concluindo, povo é o conjunto de homens e mulheres que se submetem ao mesmo Direito que por sua vez lhes confere a qualidade de cidadão e súdito. Assim, percebe-se que o conceito de povo é permeado por duas faces: uma face subjetiva, quando o que está em evidência é a qualidade de cidadão, e uma face objetiva, quando o que está em evidência é sua qualidade de súdito. Nas palavras de Jorge Miranda "o povo vem a ser, simultaneamente, sujeito e objeto do poder, princípio ativo e princípio passivo na dinâmica estatal".
Não há povo sem organização política, assim como não há organização política sem povo, pois ambos têm a mesma origem. Assim, povo é a dimensão humana do Estado, e a dinâmica entre povo e Estado é tão íntima que é possível afirmar que o povo não subsiste sem a organização e o poder do Estado, de forma que inexistindo um ou outro, levaria ao desaparecimento do povo. Assim, o Estado nasce desta comunidade que irá se transformar em povo, convertendo-se em razão de ser do Estado; o poder político se define em relação ao povo e só então é possível se definir em relação a outros poderes; o poder emerge do povo e precisa ser legitimado por ele, pois o poder se exerce por referência ao povo. � No absolutismo o povo fora objeto, com a democracia se transforma em sujeito.
Segundo Bonavides, só o direito pode explicar plenamente o conceito de povo. Se há um traço que o caracteriza, esse traço é sobretudo jurídico... Com efeito o povo exprime o conjunto de pessoas vinculadas de forma institucional e estável a um determinado ordenamento jurídico.(BONAVIDES, 81) 
ELEMENTOS ESSENCIAIS CONSTITUTIVOS DO ESTADO: TERRITORIO
Evolução histórica do termo 
O conceito de território, como componente do Estado, somente aparece com o Estado Moderno. Entretanto não há que se falar que os Estados Antigos, Grego, Romano e Medieval, não tivessem território. O que ocorre é que a concepção do termo surge no Estado Moderno. As Cidades-Estados eram limitadas ao centro urbano, sem conflitos de fronteiras. Na Idade Média, com a estrutura de poder existente (feudos e reino), gerando conflitos entre ordens e autoridades, foi necessária uma definição de soberania (indicação de poder) e de território (indicação onde o poder atuava). A limitação da soberania sobre determinado território, estabeleceu uma eficácia de poder e estabilidade da ordem jurídica.�
Conceitos de Território
PEDRO CALMON: “é a base física, o âmbito geográfico da Nação, onde ocorre a validade de sua ordem jurídica” 
CELSO BASTOS: “é o espaço no qual o Estado exerce sobre as pessoas que ali se encontram o seu poder”;
DARCY AZAMBUJA: “é a base física, a porção do globo por ele ocupada, que serve de limite à sua jurisdição e lhe fornece recursos materiais” �;
R.A.AMARAL VIEIRA: “é o espaço pelo qual o Estado tem soberania, isto é, exerce jurisdição”;
SAHID MALUF: “é a base física, o âmbito geográfico da nação, onde ocorre a validade da sua ordem jurídica”.
KELSEN: “a unidade territorial do Estado é uma unidade jurídica, não geográfica ou natural, porque o território do Estado, na verdade, nada mais é que a esfera territorial de validade da ordem jurídica chamada Estado”.
Relação Estado / Território
Anota Kelsen que “o território é o espaço dentro do qual é permitido que os atos do Estado e, em especial, os seus atos coercitivos, sejam efetuados, é o espaço dentro do qual o Estado, e isso significa, os seus órgãos, estão autorizados pelo Direito Internacional a executar a ordem jurídica nacional”. Assim para que isso possa ocorrer é necessário exista uma relação entre o Estado e o Território. 
A relação jurídica que existe entre Estado e território, basicamente, pode ser dividida em dominium (direito de propriedade) e imperium. A primeira deriva do direito de propriedade do Rei (Idade Média). A segunda surgida com a evolução do conceito do Estado. Anota Dalmo de Abreu Dallari, que existem, basicamente, duas teorias principais, sobre este relacionamento: 
Teoria da relação de dominação; 
Teoria da relação de império. 
Teoria da relação de dominação
Para Laband, o Estado atua como proprietário do Território, podendo, inclusive, dispor dele, com poder absoluto e exclusivo. Há um direito real de natureza pública; um direito exercido diretamente sobre o território, independente de ele ser ocupado ou não. Para Bordeau, é impossível reconhecer um direito de propriedade, que seria incompatível com as propriedades particulares, tratando-se de um direito real� institucional, exercido sobre o solo, diretamente, com conteúdo determinado pelo que exige o serviço da instituição.
Teoria da relação de império
Anota Jellinek que o imperium que dá qualificação as relações do Estado com o seu território é um poder exercido sobre as pessoas, sendo através destas que o Estado tem o poder sobre o território. O direito do Estado sobre o território é um reflexo da dominação sobre as pessoas, por isso as invasões são consideradas ofensa à personalidade jurídica do Estado.

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