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Anotações de Aula Análise Textual

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Análise Textual 
Aula 001
Linguagem – presentes em todas as situações – papel essencial na sociedade. Importante fazer reflexão sistemática da linguagem. 
Nossa linguagem, diferente da dos animais, há complexidade social e cognitiva cultura, realidade social, mente humana, etc. influenciam na nossa linguagem e na decodificação de estruturas linguísticas. 
Ato de fala ou ato comunicativo – intenções do falante, implícitas nas estruturas linguistas faladas, escritas, etc. Exemplo: “Tem horas?” na verdade quer dizer que pessoa quer saber que horas são. Pode ser implícito ou não. 
Importância da linguagem possibilita propagação de ideias e valores, além de propiciar comunicação. Insere-nos no fluxo comunicativo intenso e veloz da sociedade atual. É preciso ser poliglota na própria língua. Há inúmeras variações para a mesma mensagem na própria língua.
Língua humana, além dessas características, possui estrutura – a gramatica, que combina unidades do léxico (conjunto de palavras que cada indivíduo tem) de forma organizada. Léxico muda a cada situação – profissão, informação, etc. 
Língua humana permite denotação e conotação (uso de maneira figurativa). Ex. “enfiei o pé na jaca”. 
Língua humana produção de sentidos
Quando não se tem léxico amplo, é possível que não se entenda o real sentido de uma mensagem que está sendo passada. 
Termos
Linguagem Saussure: linguagem é abrangente e envolve diferentes meios de comunicação – visual, cheiros, etc. 
Língua Saussure: é uma parte específica da linguagem. É o uso do léxico para comunicação. 
Interação social permite o aprendizado natural da língua aos nativos da língua. Onde uma criança estiver imersa, vai aprender naturalmente a língua. 
Aquisição aprendizado espontâneo da língua – tem fim por volta dos 12, 13 anos. A partir dai acontece o aprendizado.
Aprendizado esforço consciente e instrução formal da língua. 
Para que serve a língua? Tem inúmeros propósitos: comunicação, relação, etc.
Língua tem varias formas e funções:
Fonética: estuda as menores formas distintivas do som
Prosódia: relativa a pronuncia. Também determina o sentido – muda entonações. 
Formação de palavras: português permite a criação de muitas palavras – muitos sufixos e prefixos. Também determina o sentido: “Ai que gracinha, né?”.
Voz verbal – também contribui para diferentes sentidos. Voz ativa e voz passiva. 
Enquanto produtores e receptores de mensagens é preciso analisar todos os elementos da comunicação:
Emissor ou enunciador – produz mensagem
Texto, mensagem – pode haver ruídos que atrapalham a comunicação – ruídos físicos ou psicológicos (desinteresse).
Código (língua que se utiliza) - gestos, olhar, etc.
Canal – meio de comunicação – textos, fala, etc. 
Referente – assunto a que a mensagem se refere (terceira pessoa ou não pessoa)
Receptor ou enunciatário – a quem a mensagem se destina
Aula 002
Variação linguística
Há uma língua oficial em cada lugar, mas língua varia muito porque depende dos seres humanos, que fazem usos específicos da linguagem. Em cada situação se utiliza a língua de uma forma. 
Linguistas mostraram nos últimos anos que há muitas variedades das línguas – em qualquer língua viva. Isso não significa deterioração da linguagem. 
Linguagem vai mudando conforme a sociedade muda. Atualmente sociedade muda muito rápido, então língua vai variar rápido também. 
Língua varia por propósitos – caraterísticas dos falantes, fatores sociais, etc. Estrangeirismos também fazem com que a língua varie: add, deletar, etc. Há também presença de neologismos – palavras criadas de acordo com o sistema: “apertamento”. Jargões também fazem língua mudar – são linguagens próprias de uma área. 
Algumas palavras novas tornam-se tão comuns que passam a fazer parte da língua, mas enquanto não fazem parte oficialmente, deve-se ter cuidado ao usá-las. 
Propósitos da língua e a modalização 
Aspecto importante da linguagem é variação quanto à modalização que indica a atitude do falante em relação aos conteúdos. É possível informar, contar, ordenar, etc.
Verbos modais: poder, dever, etc. – indicam modo. 
Há duas modalidades:
Epistêmicas: evidencia veracidade ou falsidade do que se afirma:
O juiz absolveu o réu.
O juiz pode ter absolvido o réu. 
Deôntica: ligada ao juízo de valor. Indica permissão ou proibição:
Saia daqui agora.
Agora você não pode sair.
Você só sairá se terminar. 
Importância da modalização – língua varia e há varias maneiras de dizer a mesma coisa. Verbos modais mostram mais polidez e educação. Tudo depende da situação. 
É preciso levar em conta o contexto e o interlocutor. Há uma língua para cada situação. 	Isso porque a linguagem depende da troca entre receptor e emissor e da experiência de interação entre eles. 
Variação linguística – duas ou mais maneiras de se expressar, de expressão a mesma verdade com valores sociais diferentes, escolaridade diferente, etc. 
Há também variações decorrentes de acordo com o lugar onde se usa a palavra. A mesma palavra em português pode ter diferentes significados no Brasil, Portugal e Angola, por exemplo. 
A variação causada pelas pessoas ao longo do tempo pode ou não provocar mudança linguística. São transformações sofridas pela própria língua ao longo do tempo. Um exemplo é a palavra Vossa Mercê. 
Uso e Norma
Norma prescreve a forma como a língua deve ser usada. Porém, o uso nem sempre é o mesmo da norma, já que na informalidade é permitido não usar a norma. A norma linguística é usada e deve ser usada em contextos formais. É preciso adequar a linguagem ao contexto. Do ponto de vista linguístico não há certo ou errado, mas sim adequação ou não adequação – norma culta ou norma coloquial. 
Aula 003
Variações linguísticas (dialetais)
Variações diatópicas – referente aos lugares onde as pessoas vivem. Há diferenças entre fonética, morfologia, sintaxe, etc. Não varia somente no sotaque como é comum acreditar.
Variações diastráticas – referente a fatores sociais como escolaridade, gênero, faixa etária, etc. Vem de ‘extrato social’. 
Variações diafásicas – relacionadas ao contexto. A situação determina o modo de falar ou escrever a mensagem. Não se pode, por exemplo, usar linguagem informal numa entrevista com o presidente, assim como é estranho usar linguagem extremamente formal e situações de humor, como as charges. 
Nenhum tipo de mensagem é inadequado, mas é preciso que todo destinatário (receptor) da mensagem a entenda com clareza. 
Discussão: o sentido de “A volta da Asa Branca” de Luiz Gonzaga seria o mesmo se usasse regras gramaticais e ortográficas oficiais? Não, porque a canção com seus desvios da norma padrão mostram a cultura e a essência do sertão. A linguagem e a identidade nesse caso estão bem interligadas.
Língua padrão e língua culta
Língua padrão: é a estabelecida pela tradição gramatical. O problema é que foi estabelecida de acordo com os livros de autores renomados e assim não há, muitas vezes, uma lógica para a padronização da língua. A norma padrão significa, assim, prestígio social.
Norma culta: usada por falantes que utilizam o padrão. Porém, atualmente, a fala está muito distante do padrão, mesmo por pessoas com maior nível de conhecimento. 
Falantes escolarizados: atualmente costumam se expressar bem, mesmo sem necessariamente usar regras gramaticais padrão em todos os momentos. O importante é usar estruturas corretas e fazer com que fala faça sentido. 
As regras são frequentemente quebradas por falantes do português. As regras não são usadas somente por pessoas escolarizadas. É possível que pessoas sem educação sistematizada também façam uso da forma padrão. Contudo, há as regionalidades, diferenças sociais, etc.
Gramática normativa
É o pilar da norma padrão e precisa ser trabalhada na universidade. Esperam-se dos falantes o culto o uso do padrão e seu domínio em situações formais. 
Exemplo de regra gramatical:
	Não sei o que fazer com você. Vou lhe dar um castigo.
Essa é a norma padrão – vocêconcordando com a terceira pessoa, não com ‘tu’.
Exemplo do uso comum:
	Não sei o que fazer com você. Vou te dar um castigo. 
No dia a dia – você concordando com ‘tu’. Poderia ser corrigido, também, utilizando ‘contigo’ ao invés de ‘você’. 
Outro uso bem diferente da norma padrão é o do imperativo. A norma diz que para o imperativo deveria se usar o presente do subjuntivo. Porém, no dia a dia, pessoas utilizam o presente do indicativo:
	Ex. ‘Vem pra CAIXA você também’ deveria ser ‘Venha para CAIXA você também’ ou ‘Vem tu para CAIXA também’.
Outro pronto gramatical utilizado em grande escala de maneira diferente do que diz a regra padrão é o pretérito mais que perfeito e a mesóclise. Ambos estão restritos a situações muito formais. 
Exemplos:
	O ônibus já passara quando chegamos ao ponto.
	Amanhã, pegá-lo-emos no mesmo horário. 
No dia a dia:
	O ônibus já tinha passado quando chegamos ao ponto.
	Amanhã, vamos pegá-lo no mesmo horário. 
Variedades linguísticas prestigiadas, “neutras” e estigmatizadas.
O que controla a variação é o fato de ela ser estigmatizada ou não. As variações não estigmatizadas por classes sociais ou de escolaridade são as que geralmente caem no uso em maior escala. Já as usadas pelas minorias culturais sofrem certo preconceito.
Rotacismo – troca do ‘l’ pelo ‘r’. É tipo de regionalismo, mas é um fenômeno que já veio do latim para o português É um fenômeno comum e histórico na língua portuguesa a troca do ‘l’ pelo ‘r’. Em espanhol, por exemplo, ‘prata’ é ‘plata’, mais próximo do latim. 
Há vários gramáticos que também divergem sobre a língua padrão. Na pratica, portanto, ninguém segue 100% as normas. Não existe falante idealizado. A norma padrão não é superiores às demais variedades e por isso deve-se combater o preconceito linguístico. 
Aula 004
Língua vernacular 
É um termo polissêmico, isso é, possui mais de um sentido.
Vernáculo: é a língua própria de um país ou de uma região, a língua nacional e oficial do país. Porém, vernáculo também é o uso específico que se faz da língua. Incluí gírias, regionalismos, “erros” do ponto de vista gramatical. 
Não há uma unidade na língua. Em nenhuma língua. O que acontece é que algumas variedades são prestigiadas porque são usadas por pessoas de poder aquisitivo maior. Variações acontecem em todos os níveis da linguagem:
Léxicas - palavras diferentes para o mesmo sentido ou iguais com sentidos diferentes em regiões distintas – “negrinho”
Prosódia – referente a pronúncias diferentes. Há também as diferenças de sotaque. – “tábua” e “tauba”, “meishmo”
Sintaxe – diferenças no uso da gramática – “nós vai”
É preciso ter respeito muito grande com as pessoas que falam diferentemente. Muitas pessoas corrigem outras de forma grosseira, porém, na língua não há certo ou errado. Há apenas adequado ou não, de acordo com cada situação. 
Estudos científicos da linguagem elencam fatores sociais e linguísticos que condicionam as variações de elementos linguísticos. Mesmo alguns defensores do padrão utilizam vernáculos. Um exemplo é o dos jornalistas. No jornal deveria ser utilizada a forma padrão, porém, jornalistas fazem uso dos vernáculos para se aproximar do público:
	“Fani se empolga e dá selinho em Aslan na piscina”
No exemplo acima há um termo bastante popular. Tudo depende do contexto e o acontecimento na manchete é bem popular, nada de política, economia ou assuntos similares. Não há inadequação no exemplo. 
Mas então, por que jornalistas não são alvos de críticas e preconceito linguístico? Jornalistas não são estigmatizados como são as pessoas de classe social mais baixa. 
Preconceito linguístico é o julgamento depreciativo, desrespeitoso, jocoso e consequentemente humilhante da fala do outro. Muitos autores lutam para combater esse preconceito, sem impor a norma padrão. Não se pode ser estigmatizado pelo local onde se nasce ou grau de educação que se foi possível obter. 
Variação linguística e identidade
Identidades são múltiplas. O respeito à diversidade é uma questão de cidadania. Todos os tipos de identidades devem ser respeitados, não somente a linguística. 
A escola não pode ridicularizar a língua que o aluno fala. Ao fazer isso, se ridiculariza a identidade do aluno. Deve-se ensinar a norma padrão a partir da própria fala do aluno. Grande parte da intolerância atual acontece por fatores apontados por Camacho no quadro acima, que é totalmente inadequado. 
Professores são encorajados a adequar o conteúdo a realidade de suas regiões. 
Aula 005
Texto oral e língua escrita
Elas são diferentes. Textos orais se materializam por meio do som e a escrita se manifesta pelo grafismo. Quando falamos temos uma série de recursos paralinguísticos que complementam a linguagem: riso, postura, gestos, olhares, mímicas, contato, roupa, locutores, qualidade da voz, entonação, etc. 
Há alguns anos algumas pessoas divulgaram informações equivocadas entre língua falada e escrita. Essas pessoas mostravam que a fala e escrita eram totalmente diferente. Porém, essa é uma visão retrograda sobre a língua oral e escrita. Há uma sequencia entre o oral e o escrito. Um texto oral pode ter muitas características de um texto escrito, como por exemplo, um discurso de presidente, que possui a organização e coesão de um texto escrito. 
A visão atual é pensar em gêneros – o texto é tipicamente oral ou escrito? Formal ou Informal? Texto oral se aproxima ou não do escrito? Tanto a fala quanto a escrita é contextualizada – precisa-se uma série de contexto para entender qualquer tipo de texto. O que a fala tem é situacionalidade: pode-se apontar, mostrar, etc. São coisas que não se pode passar para a escrita. 
Gradação entre os gêneros é baseada no meio de distribuição (sonoro ou gráfico), e concepção discursiva (oral ou escrita) de acordo com uma maior ou menos aproximação de uma ou outra modalidade (gêneros de fala e escrita)
Marcas Constitutivas da fala espontânea 
Projeto NURC-RJ (Projeto da Norma Urbana Oral Culta do Rio de Janeiro) criou símbolos para mostrar características da fala em meio gráfico. Ao se ler o texto, ele parece não ter sentido, mas quando se pensa que ele foi uma conversa espontânea, tudo fica mais claro. As propriedades de um texto oral espontâneo são mostradas abaixo:
Relativa fragmentação – frases curtas, pausas;
Presença explícita de hesitação – planejamento do que se vai falar no momento causa hesitação;
Alto grau de contextualização – dependência da situação da época e local onde se está, conhecimento ao que se está fazendo referência; 
Marcadores Discursivos – ‘ah’, ‘né’, ‘então’ – servem para verificar o entendimento do interlocutor, interesse, etc.
Pronomes típicos da fala – ‘a gente’, ‘não sei quem’ - são vagos porque situação ajuda na sua identificação 
Processo de reiteração na língua falada – ocorre quando repetimos elementos já expressos. Isso acontece porque não há como ‘ler’ novamente na fala. Reiteração é algo como repetição. Já na escrita, a reiteração é algo criticado – é a falta de coesão. 
Ressonância – a fala do emissor é usada na fala do interlocutor. É uma fala ressoando na do outro. 
Propriedades dos textos escritos
São textos mais compactos, sem pausas, marcadores discursivo, fragmentação, hesitações, etc. Há planejamento prévio e possibilidade de correção, que é extremamente necessária no texto escrito. O texto formal deve ser bastante claro.
Textos escritos possuem períodos compostas, mais longos e encadeados. 
As características de um texto falado espontaneamente não são adequadas em textos escritos. 
Conclusão
Escrita e fala são representações diferentes da língua, do sistema linguístico. São práticas discursivas distintas. Não é possível considerar uma como representação da outra, já que são usadas em funções e contextos diferentes. Não há uma melhor ou pior que a outra, somente utilidades diferentes.
Aula 006
Língua e produção de sentidos
Uma mesma palavra pode ter sentidos diferentes dependendo do contexto em queé utilizada. Há produções de sentidos diferentes. 
Exemplos:
Este menino é fogo! (arteiro)
Que fogo hein! (ânimo)
Nossa, está fogo! (difícil)
Socorro! Fogo! (fogo)
A palavra adquire palavra de texto porque tem sentidos completos em alguns casos (Ex. ‘fogo’ quando se manda atirar’). E claro, literatura, propagandas e outras produções linguísticas se aproveitam desses ‘desvios’ de sentido. 
Embora o senso comum diga que cada palavra tem um sentido, cada palavra possui vários significados, mesmo que eles não estejam num dicionário. 
“Carnaval no Ceará. Também tem mangueira, beija-flor e 573 km de praias paradisíacas para você desfilar em alto astral.”
Intencionalidade, intertextualidade e ambiguidade
A produção de sentido tem ligação com a Intencionalidade do autor. Assim, autor faz muito uso de intertextualidade, isso é, retirar de um contexto textual para colocar em outro. 
Há também trabalho muito forte com a ambiguidade, que não é vista como defeito nesse caso. É um recurso para atribuição de sentido para o texto. 
“Alice, me empresta as maravilhas do teu país?”
Somente quem conhece a obra ‘Alice no país das maravilhas’ é que irá entender o trocadilho, porém, quem não conhece a obra irá imaginar outros sentidos para a mensagem a acima. 
A polissemia é a multiplicidade de sentidos de uma palavra. A polissemia varia de acordo com o gênero textual. Num trabalho acadêmico ou pesquisa cientifica, a polissemia é menor, já que se fala pra um público específico e se utiliza linguagem própria e objetiva. 
O próprio termo ‘gênero’ é polissêmico. No cinema é o ‘drama’, ‘ficção’, etc. Nas ciências sociais, um gênero é o ‘feminino’ ou o ‘masculino’. Na língua portuguesa, os gêneros textuais são o ‘romance’, o ‘realismo’, ‘receita médica’, ‘fofoca’ – são textos que podem ser agrupados porque tem semelhanças. Na língua, gêneros foram definidos por Mikhail Bakhtin. Os gêneros na língua são tão variáveis quanto às situações sociais e podem surgir a todo o momento. 
Bakhtin divide os gêneros entre primários e secundários.
A diferença entre eles está na complexidade. Pode parecer fácil, mas na pratica é difícil diferenciar os gêneros. Por exemplo, qual é a diferença entre um conto e uma crônica? Um texto pode ser classificado em ambos os gêneros. 
Outros conceitos de Bakhtin são o dialogismo, polifonia e carnavalização:
Tudo na língua é interação. 
Do texto para o funcionamento do discurso
Eni Orlandi analisa enunciado a partir dos lugares em que o sujeito ocupa no discurso. Ela afirma que não há neutralidade num texto, porque sempre revela o pensamento do autor, mesmo que discretamente. 
O sentido depende do local de produção e do papel social que o emissor tem. 
Na língua é uma dinâmica de interlocução, isso é, troca de papeis. Os sujeitos fazem a imagem e representação do lugar ocupado pelo interlocutor ao receber a mensagem. Os sujeitos atribuem o seu sentido ao objeto de um discurso a partir do local de publicação, do contexto social, etc. 
Aula 007
Gênero e Tipologia
Tipologia Discursiva
Paráfrase – acontece quando autor usa outras palavras para dizer o que outro autor já disse. Conteúdo é o mesmo do original e há manutenção de sentidos. Abrange resumos, revisões, etc. Às vezes é usada na própria fala do autor, que repete o que há foi dito com outras palavras. É comum em diversos gêneros, como nos relatórios, pesquisas, mas também na fala. 
Polissemia – é a possibilidade de se trabalhar com múltiplos sentidos. É muito comum no texto lúdico, na ironia, onde se exploram sentidos diferentes.
Paródia – se baseia em um texto e diversifica seu conteúdo. Ele faz uma imitação cômica do conteúdo. Pode-se aplicar a textos, canções, artes visuais, etc. 
Eni Orlandi enfatiza que em cada um desses estilos há um discurso determinado, para um interlocutor determinado, por um falante determinado e com finalidade específica. Por isso, não se pode fazer generalizações quando se trata da interpretação. Além disso, gêneros se adaptam as situações, e por isso podem surgir a qualquer momento. 
Discurso Lúdico
Há reversibilidade (mudança) total, com estrutura igual a original.
A polissemia é aberta. 
Nenhum dos interlocutores quer o objeto do discurso apenas para si.
Gêneros mais comuns são as músicas, HQs, propagandas, etc. 
Discurso polêmico
Há Crítica e certo grau de discussão
Polissemia é controlada – não há tanta liberdade
O referente, ou objeto do discurso, é disputado – cada um defende sua opinião. 
Um gênero muito comum é a charge
Discurso autoritário
Não há alto grau de polissemia – reversibilidade e polissemia tendem a zero. 
Objeto do discurso não é disputado e não deve ser colocada à prova – receptor não tem nem voz para falar
É feito por meio de especialistas, que apresentam tema como verdade absoluta, por meio de seu conhecimento. 
Exemplos: dos professores, em propagandas (coloca-se especialistas em algumas propagandas), trabalhos científicos. 
Há submissão do interlocutor.
É persuasivo, que tende a convencer.
Roland Barthes - “A palavra é irreversível, tal é a sua fatalidade.” – falou, está dito. É possível corrigir, mas uma vez dito, não há possibilidade de voltar. 
O que ocorre na oralidade é a capacidade de emissor e receptor poderem se explicar face a face, no caso de mal entendimento. 
Características da fala
Homofonia – algumas palavras são diferentes, mas tem o mesmo som na fala.
Diálogo – possibilidade de questionamento e implícitos. Língua falada permite implícitos entendidos pelo contexto ou entendimento prévio dos interlocutores. 
Conversa espontânea – depende da intenção, há polissemia. – ex. ‘Estamos combinando’ (pode ser referente à roupa ou a encontros ao acaso). Filósofo da linguagem Greice tentou explicar a questão do dito e do não dito na fala. Quis demonstrar aquilo que é efetivamente dito e o que não é dito na constituição de uma conversação, de tal modo que, muitas vezes, uma pergunta ou uma resposta é dada em função de algo que foi implicado, sugerido, significado. Assim, estipulou os princípios da conversação. 
Greice se baseou na sua teoria inferencial, isto é, em informações que se inferem de acordo com Algo que foi dito. Dessa maneira, estipulou quatro máximas conversacionais:
Máxima da quantidade – deve-se dosar o grau de informação. Deve-se informar apenas o que é necessário.
Máximo da qualidade – ser verdade, não falar o que não é evidente.
Máxima da relação – falar o que é pertinente, o que tiver relação com o assunto
Máxima do modo – ser gentil, evitar obscuridade, evitar ambiguidade, ser claro, breve e ordenado. 
Outro tipo de linguagem que mistura as características dos textos polêmicos, conversações, discursos lúdicos e autoritários está presente nos blogs. Há diversidade grande nos blogs (discurso midiático). São versões novas doas antigos diários. Assim como os diários tradicionais, eles se ligam a memória também, possuem segredos (autor decide o que irá falar), possuem tensão entre o público e o privado (no blog autor decide a informação), há nuances de romance e jornalismo. 
Blog e jornalismo – pode aparecer nos blogs. Nos jornais impressos, há controle maior das publicações por inúmeros fatores. Já no blog, autor tem mais autoridade para abordar temas diversos, inclusive polêmicos, e fazer uso de polissemias, paródias, etc. O público também é determinado, e assim há certa proximidade entre interlocutores.
Aula 008
Coesão e Coerência
Os conceitos de texto
Texto vem de tecer – ligar as palavras e organiza-las de forma coesa.
Conceitos dependem dos interlocutores e intenções que eles têm. 
É uma construção linguística que precisa seguir determinadas estratégias.
Deve haver uma organização interna, de acordo com finalidade.
Independem da extensão, da organização, narrativa, etc. Apenas deve atingir o propósito.
Deve possuir textualidade: qualidade de manifestação verbal compreensível, legível. Pode ser considerado legível para uns e não para outros. Ligaçãoentre orações do texto podem ser feitas por elementos do vocabulário ou pelo contexto. Cada pessoa entenderá de um jeito. 
Não é justaposição de elementos sem referencia entre si.
Não é soma de orações.
São os nexos, os nós e as ligas que unem o todo.
Permite não só a depreensão de conteúdos semânticos, mas também interação com o outro. O texto é interação. 
Coesão endofóricas e exofóricas
Palavra Endofórica – possui valor na própria língua. É um item gramatical. – Ex. artigos
Palavra Exofórica – é algo que existe na realidade. É um item lexical que faz referencia a algo do mundo. 
São dois elementos de coesão para o texto. 
Referência e referenciação
Referência: características das línguas de estabelecer indicação, orientação para o mundo exterior. 
Referente: objeto descrito, nomeado, indicado para o mundo. 
Ex. a palavra mesa não é o referente. Apenas faz referência a algo que existe no mundo, que é o referente. 
Nos textos dizemos que a Referência é Endofórica quando referencia algo que já existe no texto, algo interno ao texto. A Referência Exofórica acontece quando a referência é feita a algo exterior ao texto. 
A Referência é um elemento de coesão para ligar os elementos de um texto. 
Quando estamos escrevendo um texto informativo, é preciso focar no conteúdo, e o uso de pronomes é importante para dar coesão sem que se façam muitas repetições. Os pronomes podem ser os gramaticais, ou nomes próprios dados a um objeto num determinado contexto. (Ex. ‘cidade maravilhosa’ ou ‘cidade sede das Olimpíadas’ se referindo ao Rio de Janeiro).
A elipse também é um recurso muito útil para evitar repetições. Ela se baseia em omitir elementos que já foram citados num texto, que são de entendimento prévio do receptor ou que podem ser deduzidos pelo leitor. Quando se está falando sobre o mesmo referente, por muito tempo, pode-se utilizar da elipse.
Nos textos dissertativos, polêmicos, etc. pode-se fazer uso de operadores discursivos também. São outros recursos coesivos. Eles trazem valor lógico e valor semântico (contradição, explicação, adição, etc.) ao texto.
Há também possibilidade de sequenciação: 
Adição, continuação – ‘além de’;
Dúvida – ‘provável’;
Certeza ou ênfase – ‘com certeza’, ‘sem dúvida’;
Surpresa – ‘inesperadamente’;
Esclarecimento – ‘em outras palavras’, ‘isto é’;
Recapitulação ou conclusão – ‘em suma’. 
Coerência – importante elemento para textos. Diz respeito ao sentido do texto. A coerência é um princípio de interpretabilidade que vai depender do interlocutor para calcular valor semântico do texto. Se receptor não possui conhecimento prévio, um texto pode ser incoerente para ele. Há níveis e tipos de coerência diferentes. Um exemplo de recurso de coerência é a intertextualidade. Leitor precisa conhecer os textos bases para entender o que está fazendo uso da intertextualidade.
Outra coerência é de tipo semântico (de sentido), no nível argumentativo (argumentos com relação lógica), pragmático (com relação ao contexto), etc.
Há inúmeras formas de coesão e coerência. 
A língua é isso – é o dialogismo entre os textos. Para que o sentido seja reconhecido, é preciso ter conhecimento de mundo. Como muitas pessoas não possuem bagagem cultural, é complicado para que eles entendam todos os tipos de textos. 
Atividade 008
Catáfora – recurso de coesão que realiza uma catáfora, isto é, antecipação do que se vai dizer. 
Anáfora – é a remissão a algo que já foi dito. 
Aula 009
Produção de sentido em textos literários.
Há vários tipos de textos com funções diferenciadas. Entre elas:
Função referencial ou denotativa – centrado no conteúdo e passagem de informação. É uma notícia, relatório, reportagem, trabalho científico, etc.
Função Expressiva ou emotiva – demonstra o sentimento do emissor. São as biografias, poesias líricas, músicas, etc. 
Função Conativa ou Apelativa – tem objetivo de persuadir o leitor. Há apelo em convencer o receptor. São as propagandas. 
Função Fática – fático vem de ruído, rumor. Ocorre quando a mensagem se orienta sobre o canal de comunicação. São exemplos as saudações em ligações telefônicas, por exemplo. 
Tratamos de textos literários porque nos textos referenciais o assunto é mais direto e, na maioria das vezes, há conhecimento prévio do leitor quanto ao assunto. Assim, estes textos são mais informativos do que passiveis de interpretações múltiplas. 
O trabalho com a língua é infinito e não há um limite para a produção de sentidos. Há muito trabalho com a linguagem e com as palavras na maioria das vezes, sem preocupação com a transmissão de informações em primeiro lugar. Há muitos recursos lexicais que permitem a pluralidade de sentidos e conotação. Muitas vezes, um texto não há um sentido específico no texto, mas sim um trabalho do autor para que o texto seja interpretado de diferentes maneiras. Isso é chamado de foco. Cada pessoa de acordo com sua vivência e bagagem cultural tem um foco, isto é, vai ver o mesmo objeto com uma visão diferente. Porém, é preciso lembrar que o texto possui vários sentidos, mas não qualquer um. Não se pode fazer qualquer leitura de um texto. Há pistas linguísticas, que aliadas ao contexto, podem mostrar o eixo de sentido do texto. Deve-se fazer uma leitura de acordo com o gênero do texto. 
O texto então está relacionado à circunstância, contexto sócio-histórico em que ele está sendo produzido. Quando não se conhece o contexto em que o texto foi produzido, pode-se não atribuir valor a ele. 
Não se pode tentar atribuir utilidade prática a um texto literário, já que eles são, muitas vezes, feitos pelo poeta buscando a perfeição estética. Nesse âmbito, se faz muito uso de figuras de linguagens (ironia, metáfora), pois chamam a atenção do leitor. 
Para interpretar um texto:
Quem é o sujeito representado no texto? Quais são os dizeres produzidos a partir da imagem do lugar social atribuído aos maridos em geral.
Qual é o gênero textual? Crônica, traços literários, questões cotidianas, etc.
Qual é o contexto de produção? Meio de circulação, objetivo do texto, paráfrases, parodias, etc. 
Aula 010
Viés linguístico da ideologia
A produção de sentidos vai alem do que se está escrito. Vai da imagem que os receptores têm de si e dos outros. (Ex. funcionário e diretor falando “Ai, que calor!”). 
A produção de sentidos é, portanto, feita também com base na imagem que temos dos interlocutores e do papel ocupado pelo papel social ocupado pelo emissor. Cada um tem um papel social e a leitura que se faz da fala e escrita dessas pessoas depende dessa imagem que tem. As imagens implicam em posições de imagem. 
Sentidos são ideologicamente marcados. Não são naturais. Estão relacionados a um contexto e aos papeis que sujeitos têm nele. 
Devido à relação com a ideologia, há pluralidade de sentidos muito grande. O sentido depende da intenção, sociedade e visão de mundo do autor. 
Ideologia – nós podemos ser manipulados por visões pré-concebidas. O aparelho ideológico não é a expressão da ideologia dominante, mas o local e o meio para a realização desta dominação. A ideologia dominante é a que encontramos nos lugares comuns – igreja, escola, etc. – que mascara a realidade e da continuidade a reprodução de sentidos pré-concebidos e sustenta a posição da classe dominante no sistema capitalista. “Está claro que é nas formas e sob as formas da sujeição ideológica que se assegura a reprodução da qualificação da força do trabalho.” (Althusser) Aceitamos a ideologia dominante sem questioná-la e assim a vamos reproduzindo.
Ideologia pode ainda ser definida como um mecanismo imaginário que produz, em um dizer já dado, um sentido que para o falante parece como evidente, obvio para aquele lugar – o senso comum. É algo que já é típico de algum lugar. 
Ideologia e os sentidos
Dependendo da ideologia, visão de mundo ou/e construção sociocultural, podemos construir variados sentidos a um mesmo texto. Sentidos são construídos ideologicamente, assim, um mesmo objeto se constrói de formasdiferentes, dependendo de quem fala sobre ele. Isso vai possibilitar jogo de sentido nos textos.
Jogo de sentidos
É a relação da materialidade textual com as condições de produção (circunstâncias imediatas, contexto sócio-histórico de disputa pelo poder). O dito está sempre na relação com o já-dito (memória do dizer) e também com o não dito. 
Nos jogos de sentido há muitos implícitos, que são os modos de funcionamento do não dito. Há dois tipos:
Pressuposto: não dito, mas deduzido. Parte de materialidade linguística – não esta escrito, mas pode-se se entender (há dicas com marcas linguísticas)
Subentendido: não dito, mas pode ser interpretado em função do contexto. É mais difícil de ser entendido porque não há marcas linguísticas. 
O Dizer e o já-dito - Sentido tradicional permanece: as relações de amizade devem ser separadas das negociações, sejam elas no mundo real ou virtual.
O já dito e a ruptura de sentido - Polissemia: ruptura de processos de significação; joga com o equívoco: “Na informática, nada se perde, nada se cria. Tudo se copia... e depois de cola”.

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