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FATOS JURÍDICOS Qualquer acontecimento que seja importante para o direito, classificados em: 1 - Fato jurídico stricto sensu são aqueles em que não há atuação humana ou em que esta não é relevante. Fato Natural a) Ordinários ou comuns forma esperada (nenhuma repercussão jurídica). b) Extraordinário forma inesperada (caso fortuito e força maior) 2 - Fatos jurídicos lato sensu são os acontecimentos aptos a gerar qualquer efeito jurídico consistente na aquisição, conservação, modificação, transmissão ou extinção de alguma relação ou situação jurídica. Fatos jurídicos lato sensu podem ser: I - Atos jurídicos stricto sensu (ou atos meramente lícitos) São aqueles em que a vontade humana é dirigida a prática do ato, mas os efeitos são definidos pelo ordenamento sem qualquer influência de vontade do agente (do autor do ato). Ex: mudança de residência (é um fato jurídico, a vontade de mudar é da pessoa, o efeito quem determina é a lei); reconhecimento de filhos, a partir do momento que é reconhecido, os efeitos quem determina é a lei. II – Negócio jurídico As aqueles em que a vontade humana é dirigida não só para prática do ato, mas também para o conteúdo ou os efeitos que são gerados por ele. Ex: testamento, porque os efeitos são definidos pelo próprio agente. III – Atos ilícitos São aqueles que são capazes de gerar dano a alguém. Ato ilícito gera efeitos: direito de indenizar, por isso ato jurídico ilícito é um ato jurídico que gera conseqüências. NEGÓCIO JURÍDICO Sub classificados em: 1) Negócio jurídico unilateral (ex: testamento; promessa de recompensa; emissão de títulos de créditos etc.) 1.1) Negócio jurídico receptício é o que depende de chegar ao conhecimento de uma pessoa para produzir efeitos, já que a manifestação da vontade de uma parte deve estar em consonância com a outra. 1.2) Negócio jurídico não receptício não precisa chegar ao conhecimento de ninguém para produzir efeitos, já que se realizam com uma simples manifestação unilateral de vontade, não havendo a necessidade de seu direcionamento a uma pessoa específica para que produza efeitos. 2) Negócio jurídico bilateral = sinônimo de contrato (ex: doação é contrato, é negócio jurídico bilateral) (ou plurilaterais). Contratos podem ser sub classificados em: contrato unilateral e contrato bilateral (seria melhor sinalagmáticos). 3) Negócio jurídico plurilateral: trata-se de um negócio jurídico em que há a vontade de mais de duas pessoas em cada polo, ou seja, mais de uma como sujeito ativo e/ou mais de uma como sujeito passivo. O contrato exige alteridade contratual, que é a necessidade de se ter no mínimo duas pessoas na relação contratual. O contrato consigo mesmo ou autocontrato, previsto no art. 117 do CC, em regra, é anulável, no prazo de dois anos a contar da data da conclusão do ato (art. 179 do citado Código). Como exemplo citamos o mandato para compra e venda de imóvel, onde o mandante outorga à outra parte mandato para que o mandatário venda bem para si mesmo (esse mandato denomina-se mandato em causa própria PLANOS DO NEGÓCIO JURÍDICO EXISTÊNCIA, VALIDADE E EFICÁCIA. 1) Plano da existência jurídica É o preenchimento dos elementos constitutivos do negócio jurídico (mínimo dispensável). As expressões verificadas para existência são: elementos (e não requisitos) que preencham o modelo abstrato daquele negócio, que são quatro: 1 – Declaração de vontade. que pode ser expressa por meio da palavra escrita, falada ou por gestos, ou ainda tácita. O silêncio também é forma de manifestação da vontade quando não for necessário que ela ocorra expressamente (art. 111 do CC). Art. 111, CC negócio celebrado por um dos agentes que ficou em silêncio o silêncio importa em declaração de vontade, quando as circunstâncias ou os usos o autorizarem e não for exigida manifestação expressa. Art. 110, CC reserva mental: é a declaração de vontade não desejada pelo emissor com a intenção de enganar o destinatário; só se considera existente se não for conhecida do destinatário; caso contrário, se o destinatário conhecia a reserva legal o negócio será inexistente. Nelson Nery " Reserva Mental é a emissão de uma declaração não querida em seu conteúdo, tampouco em seu resultado, tendo por único objetivo enganar o declaratário" (Nery, Vícios, n. 3.1, p. 18) 2 – Agente emissor da vontade. 3 – Objeto toda utilidade material ou imaterial sobre a qual se refere à declaração de vontade. 4 – Forma pela qual a vontade é exteriorizada. Elementos categoriais específicos ou especiais de certas modalidades de negócio jurídico formalidade de prazos para a celebração são elementos categoriais para o casamento. Art. 170, CC conversão substancial do negócio jurídico na falta de um elemento categorial pode se considerar existente outra categoria de negócio jurídico se for possível supor que seria essa a vontade dos agentes. 2) Plano da validade É a qualidade do negócio jurídico que se traduz na sua regularidade formal e substancial. Nulidade e anulabilidade estão no plano da validade. Validade em si mesma quatro requisitos (art. 104, CC que só menciona três): 1- Vontade livre consciente e isenta de má-fé; 2 – Agente capaz e legitimado para o ato; Capacidade de Fato e de direito 3 – Objeto lícito, possível e determinado (ou determinável). Objeto lícito: o objeto não pode ser proibido pelo ordenamento, pela moral ou pelos bons costumes. Objeto possível: deve ser possível de execução. Objeto determinado: deve ser previamente conhecido, individualizado. Objeto determinável: é aquele indicado pelo gênero e pela quantidade, mesmo que a qualidade não seja apontada imediatamente. Impossibilidade do objeto pode ser: Jurídica: decorre das normas, da lei. Ex.: contrato de compra e venda de uma praça pública, ou de uma estrada. Material (física). A impossibilidade material pode ser: Absoluta, quando não puder ser cumprida por ninguém. Ex. atravessar Oceano Atlântico a nado. Neste caso, o negócio é inválido. Relativa, quando não puder ser cumprida pelo devedor. Ex.: atravessar uma piscina de 2 metros a nado (para uma pessoa que é aleijada). Neste caso, o negócio jurídico é válido, e se converte em perdas e danos. 4 - Forma prescrita ou não defesa em lei – segundo a forma, os negócios podem ser: Informais: não exigem forma específica; (Livre) Solenes ou formais: exigem forma específica. Ex.: compra e venda de imóveis com valor acima de 30 salários mínimos, que só podem ser feitos mediante escritura pública. Ex2.: emancipação. A forma dos negócios jurídicos pode ser de dois tipos diferentes: ad solenitatem: a forma é da substância do negócio, e o seu desrespeito acarreta a nulidade dele. ad probationem tantum: a forma não é essencial para a validade do negócio, mas é exigida para a sua prova em juízo. Ex.: compra e venda de um quadro valiosíssimo. Este contrato é válido se feito apenas verbalmente. Contudo, para que o negócio jurídico possa ser provado em juízo, é necessário que ele seja escrito, art. 227 do CC (em negócios com valor acima de 20 salários mínimos, a sua prova não pode ser realizada apenas mediante depoimento testemunhal). Inexistência de defeito (ou vício) no negócio jurídico Os defeitos do negócio jurídico são o vício da vontade ou do consentimento e os vícios sociais. Vício da vontade ou do consentimento: trata-se de vício que macula a vontade de uma das partes. São eles o erro, dolo, coação, lesão e estado de perigo. Todos esses vícios gerama anulabilidade do negócio jurídico, que deve ser arguida no prazo de quatro anos a contar da data da celebração do negócio, exceto no caso da coação, que terá o seu prazo contado de quando cessar a coação. Vícios sociais: trata-se de vícios que não contaminam a vontade, mas que prejudicam a sociedade. São os casos da fraude contra credores e a simulação. A fraude contra credores tem o mesmo tratamento dos vícios de vontade (gera anulabilidade no prazo de quatro anos contado da celebração do negócio). Embora a simulação não esteja mais prevista no Código Civil no título que trata dos defeitos do negócio jurídico, ainda é uma causa invalidante do negócio jurídico, já que a consequência que ela gera ao negócio jurídico é a nulidade e não anulabilidade como todos os vícios acarretam. Os vícios dos negócios jurídicos a) Erro ou ignorância É a noção falsa sobre uma pessoa ou objeto. Não devemos confundir o erro (que é um vício da vontade) com o vício redibitório, pois enquanto o primeiro recai sobre o consentimento, o segundo recai sobre a coisa. As espécies de erro são: erro substancial ou essencial e erro acidental. Erro substancial ou essencial: é aquele que recai sobre qualidade essencial da pessoa ou coisa. Como exemplo citamos o caso de uma pessoa que compra uma estátua pensando ser de marfim, quando na verdade é de material sintético. De forma mais detalhada, estabelece o art. 139 do CC que o erro será substancial quando: a) interessar à natureza do negócio, ao objeto principal da declaração, ou a alguma das qualidades a ele essenciais; b) concerne à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se refira a declaração de vontade, desde que tenha influído nesta de modo relevante; c) sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da lei, for o motivo único ou principal do negócio jurídico. De acordo com o Enunciado 12 do CJF, atualmente não se analisa mais a escusabilidade do erro. Diz o referido enunciado que: Enunciado 12 do CJF – Na sistemática do art. 138, é irrelevante ser ou não escusável o erro, porque o dispositivo adota o princípio da confiança. Assim, para o negócio jurídico ser anulável por erro essencial, há a necessidade de se verificar se a outra parte tinha condições de saber que o errante possuía a noção falsa, já que o art. 138 do CC menciona na parte final que o erro deve poder ser percebido por pessoa de diligência normal, em face das circunstâncias do negócio. Nessa parte final o artigo não se refere ao errante, mas sim à outra parte, motivo pelo qual se ela sabia da noção falsa, o negócio jurídico será anulável, caso contrário será válido. Erro acidental: é aquele que recai sobre qualidade secundária da pessoa ou da coisa. Ele não contamina a vontade, motivo pelo qual o ato é válido, porém se resolve em perdas e danos. Como exemplo citamos o caso da pessoa que compra uma casa pensando que tinha sete janelas, quando na verdade só possuía seis. b) Dolo É o artifício astucioso usado para enganar a vítima. Não se confunde com o dolo, que é um dos pressupostos da responsabilidade civil e que é conceituado como uma conduta volitiva em que o agente deseja produzir certo resultado. A diferença entre erro e dolo é que o primeiro é um engano espontâneo, enquanto o segundo é um engano induzido. São espécies de dolo: Principal x acidental: o dolo principal, ou "causam", é a causa determinante da celebração do negócio jurídico, motivo pelo qual acarreta a anulabilidade do ato; já o dolo acidental ou “incidens”, é aquele que não contamina a vontade, mas é utilizado para que o negócio seja celebrado de outra forma mais onerosa ou menos vantajosa. Ele não gera a anulabilidade, pois o negócio se resolve em perdas e danos. Bonus x malus: o dolo bonus é o que acarreta um exagero na qualidade, enquanto o dolo malus é aquele praticado com a intenção de prejudicar a outra parte. Positivo x negativo: o dolo positivo é fruto de uma atuação comissiva, enquanto o dolo negativo é aquele em que há uma atuação omissiva (dolo por omissão). Que provém de terceiro: trata-se de um dolo que é praticado por terceira pessoa que não faz parte da relação negocial. De acordo com o art. 148 do CC, que adota a Teoria da Confiança, se o beneficiado pelo dolo sabia, ou tinha condições de saber, da sua existência, o negócio será anulável, senão se resolve em perdas e danos. Bilateral, recíproco ou enantiomórfico: Esse é o dolo cometido por ambas as partes, que, de acordo com o art. 150 do CC, não invalida o negócio jurídico e não permite que a parte pleiteie indenização. c) Coação Trata-se da violência física ou moral que impede a real declaração da vontade. Existem duas espécies de violência: vis absoluta (violência física) e vis compulsiva (violência moral). O art. 171 do CC estabelece que a coação gera anulabilidade do negócio jurídico, mas é relevante destacar que existe parte da doutrina que entende, nos casos de vis absoluta, que haverá a inexistência do negócio jurídico e não invalidade, já que no caso não há declaração de vontade (consentimento) no negócio jurídico, pois o paciente está ciente do que está acontecendo. A importância de tal celeuma é que a ação declaratória de inexistência é imprescritível e a anulatória está sujeita a um prazo decadencial de quatro anos. São características da coação: 1) A coação deve gerar medo no paciente. 2) O medo que a coação deve gerar, necessariamente, tem que se referir à pessoa do paciente, a sua família ou aos seus bens. 3) Se a coação disser respeito à pessoa não pertencente à família do paciente, o juiz, com base nas circunstâncias, é quem analisará se houve ou não coação (art. 151, parágrafo único, do CC). 4) Ao analisar a coação, devemos considerar o sexo, a idade, a condição, a saúde, o temperamento do paciente e outras circunstâncias que possam interferir na gravidade dela. 5) Não podemos confundir coação com temor reverencial (respeito). 6) A coação pode ser exercida por terceiro estranho ao contrato. Nesse caso, o art. 154 do CC adota a “Teoria da Confiança”, pois se a pessoa favorecida pela coação tiver ou devesse ter conhecimento da sua existência, o ato é anulável, respondendo solidariamente por perdas e danos a parte favorecida e do terceiro (trata-se de um exemplo de solidariedade legal – ver art. 265 do CC). Mas, se a parte favorecida com a coação dela não sabia, o negócio é válido, mas o terceiro responderá por perdas e danos. d) Lesão Ocorre a lesão quando alguém se obriga a uma prestação manifestamente desproporcional em razão de necessidade ou inexperiência. Teve sua origem em laesio enormis. A laesio enormis foi um termo cunhado pelos glosadores, no século XIII, e não consta expressamente das fontes romanas, pois o estudo sistemático do Corpus Iuris Civilis demonstra que a palavra lesão foi diversas vezes associada a qualificativos de tamanho, o que deve ter ensejado o termo medieval. O texto que deu origem ao instituto, a Lex Secunda de Diocleciano (C. 4.44.2), fala em laesio ultra dimidium, ou “lesão além da metade” em português. Trata-se de um rescrito em que se possibilitava a extinção do negócio lesado, quando o vendedor de um imóvel recebia menos do que a metade do preço justo. O comprador podia optar entre completar o preço ou desfazer o ato. O Código Civil de 1916 expurgou a lesão do direito positivo brasileiro, até então presente nas Ordenações Filipinas. O Código Civil de 2002 resgatou o instituto na legislação civil, em que pese ter havido figuras parecidas no âmbito trabalhista e consumeristadurante o século XX. A Consolidação das Leis do Trabalho, no art. 462, §§ 2º a 4º, traz vedação ao Truck System, ou seja, ao pagamento da remuneração laboral em vales para gastar no armazém do empregador. De acordo com o art. 157 do CC vigente, a lesão é defeito do negócio jurídico constituído de dois tipos de elementos: elemento subjetivo – o elemento subjetivo é a inferioridade do lesado (sua inexperiência ou premente necessidade); elemento objetivo – o elemento objetivo é a desproporção manifesta entre as diferentes prestações do negócio. Segundo o Enunciado 290 do CJF, não basta a desproporção manifesta (elemento objetivo), é necessária a necessidade ou a inexperiência do lesado (elemento subjetivo). Conforme o art. 157, § 2º, do CC, não será anulado o negócio jurídico se for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte concordar com a redução do proveito. Isso se dá pelo princípio da conservação do negócio jurídico, que tem por objetivo determinar que se faça uma tentativa de revisão do negócio antes de extingui-lo, pois a anulação deve ser a última hipótese. Tal pensamento encontra guarida no Enunciado 149 do CJF, para quem é dever do magistrado incitar as partes a rever os negócios jurídicos, ao invés de anulá-lo. Na IV Jornada do Conselho de Justiça Federal foi aprovado o Enunciado 291, que entende ser faculdade do lesionado rever o negócio jurídico ou anulá-lo. Mas, caso ele não exerça tal faculdade, o juiz terá de aplicar o Enunciado 149 acima. Por fim, verifica-se, de acordo com o Enunciado 150 do CJF, que na lesão não é exigido o dolo de aproveitamento. Podemos conceituar o dolo de aproveitamento como a intenção de uma das partes de gerar dano a outra ao estipular prestações contratuais desarrazoadas entre si. Trata-se de uma situação de necessidade que deve ser conhecida da parte beneficiada pelo negócio que se está celebrando. e) Estado de perigo Configura-se o estado de perigo quando alguém, com necessidade de salvar a si ou pessoa de sua família de um grave dano conhecido pela outra parte, assumir obrigação excessivamente onerosa. São seus requisitos (cumulativos): a) necessidade de salvar a si ou alguém da família; b) grave dano conhecido pela outra parte; c) obrigação excessivamente onerosa. Ele pode se configurar quando um médico decide cobrar R$ 1.000.000,00 de honorários para fazer uma cirurgia numa pessoa que sofreu um acidente. Sobre o tema, cumpre ressaltar que hospitais e prestadores de serviço médico não podem exigir cheque-caução ou nota promissória antes de prestar atendimento. A Agência Nacional de Saúde Suplementar criou a Resolução Normativa n. 44, de 24-7-2003, que proíbe a exigência de caução no ato ou anteriormente à prestação de serviço médico2. Se for exigido cheque, nota promissória ou qualquer outro documento a título de caução, antes da prestação do serviço médico, tal procedimento implicará em investigação, a ser apurada pela Agência Nacional de Saúde e pelo Ministério Público Federal3. Porém, infelizmente, se numa situação de perigo for exigido cheque-caução, claro que a pessoa terá que ceder a tal pressão, e fazer a denúncia posteriormente, para que não se coloque em risco a vida de alguém. Isso não invalida a possibilidade da propositura de ação anulatória por lesão do cheque emitido. De acordo com o parágrafo único do art. 156 do CC, é possível se caracterizar o estado de perigo na hipótese de a pessoa que se encontrar em estado delicado não ter vínculo de parentesco com a parte celebrante do negócio, porém caberá ao juiz decidir tal questão. Por fim, de acordo com o Enunciado 148 do CJF, deverá ser aplicado por analogia ao estado de perigo o art. 157, § 2º, do CC, que permite no vício da lesão o juiz não anular o negócio jurídico se as partes oferecerem suplemento suficiente, ou se a outra concordar com a redução do proveito, em atendimento ao princípio da conservação do contrato. f) Fraude contra credores Trata-se da prática maliciosa para tornar o devedor insolvente. De acordo com o art. 955 do CC, procede-se à declaração de insolvência toda vez que as dívidas excedam à importância dos bens do devedor. A insolvência não se confunde com a falência, e pode ser declarada tanto para a pessoa natural quanto para a jurídica. Nesse caso instaura-se o chamado concurso de credores, cujo objetivo é verificar quem possui a preferência para receber o crédito. A prevalência se dá na seguinte ordem: 1º) Crédito Real. 2º) Crédito pessoal. O crédito pessoal pode ser privilegiado ou simples. O crédito pessoal privilegiado tem preferência sobre o crédito pessoal simples (que é crédito quirografário). Os créditos privilegiados se dividem em especial e geral. O crédito privilegiado especial (art. 964 do CC) tem preferência sobre o crédito privilegiado geral (art. 965 do CC). De acordo com o art. 964 do CC, têm privilégio especial: a) sobre a coisa arrecadada e liquidada, o credor de custas e despesas judiciais feitas com a arrecadação e liquidação; b) sobre a coisa salvada, o credor por despesas de salvamento; c) sobre a coisa beneficiada, o credor por benfeitorias necessárias ou úteis; d) sobre os prédios rústicos ou urbanos, fábricas, oficinas, ou quaisquer outras construções, o credor de materiais, dinheiro, ou serviços para a sua edificação, reconstrução, ou melhoramento; e) sobre os frutos agrícolas, o credor por sementes, instrumentos e serviços à cultura, ou à colheita; f) sobre as alfaias e utensílios de uso doméstico, nos prédios rústicos ou urbanos, o credor de aluguéis, quanto às prestações do ano corrente e do anterior; g) sobre os exemplares da obra existente na massa do editor, o autor dela, ou seus legítimos representantes, pelo crédito fundado contra aquele no contrato da edição; h) sobre o produto da colheita, para a qual houver concorrido com o seu trabalho, e precipuamente a quaisquer outros créditos, ainda que reais, o trabalhador agrícola, quanto à dívida dos seus salários. 1º) Crédito Real – Garantido por penhor, hipoteca e anticrese 2º) Crédito PESSOAL Privilegiado Especial (art. 964 CC) Geral (art. 965 do CC) Simples (Quirografário) Já de acordo com o art. 965 do CC, goza de privilégio geral, na ordem seguinte, sobre os bens do devedor: a) o crédito por despesa de seu funeral, feito segundo a condição do morto e o costume do lugar; b) o crédito por custas judiciais, ou por despesas com a arrecadação e liquidação da massa; c) o crédito por despesas com o luto do cônjuge sobrevivo e dos filhos do devedor falecido, se foram moderadas; d) o crédito por despesas com a doença de que faleceu o devedor, no semestre anterior à sua morte; e) o crédito pelos gastos necessários à mantença do devedor falecido e de sua família, no trimestre anterior ao falecimento; f) o crédito pelos impostos devidos à Fazenda Pública, no ano corrente e no anterior; g) o crédito pelos salários dos empregados do serviço doméstico do devedor nos seus derradeiros seis meses de vida; h) os demais créditos de privilégio geral. O negócio jurídico fraudulento é anulado, com AÇÃO PAULIANA também chamada de REVOCATÓRIA (não confundir com a revocatória proposta pelo síndico da massa falida), no prazo de quatro anos da celebração do negócio jurídico. Os negócios de transmissão gratuita de bens ou remissão de dívida, se os praticar o devedor já insolvente, ou por eles reduzido à insolvência, ainda quando o ignore, poderão ser anulados pelos credores quirografários, como lesivos dos seus direitos. Igual direito assiste aos credores cuja garantiase tornar insuficiente e só os credores que já o eram ao tempo daqueles atos podem pleitear a sua anulação. Serão igualmente anuláveis os contratos onerosos do devedor insolvente quando a insolvência for notória ou houver motivo para ser conhecida do outro contratante. Se o adquirente dos bens do devedor insolvente ainda não tiver pago o preço, e este for, aproximadamente, o corrente, desobrigar-se-á depositando- o em juízo, com a citação de todos os interessados. Mas, se inferior, o adquirente, para conservar os bens, poderá depositar o preço que lhes corresponda ao valor real. A ação pauliana poderá ser proposta contra o devedor insolvente, a pessoa que com ele celebrou a estipulação considerada fraudulenta, ou terceiros adquirentes que hajam procedido de má-fé. O credor quirografário que receber do devedor insolvente o pagamento da dívida ainda não vencida ficará obrigado a repor, em proveito do acervo sobre que se tenha de efetuar o concurso de credores, aquilo que recebeu. Presumem-se fraudatórias dos direitos dos outros credores as garantias de dívidas que o devedor insolvente tiver dado a algum credor, bem como presumem- -se, porém, de boa-fé e valem os negócios ordinários indispensáveis à manutenção de estabelecimento mercantil, rural, ou industrial, ou à subsistência do devedor e de sua família. Anulados os negócios fraudulentos, a vantagem resultante reverterá em proveito do acervo sobre que se tenha de efetuar o concurso de credores. Mas, se esses negócios tinham por único objeto atribuir direitos preferenciais, mediante hipoteca, penhor ou anticrese, sua invalidade importará somente na anulação da preferência ajustada. São requisitos da fraude contra credores (cumulativos): 1) Ato que implique redução patrimonial. 2) Insolvência quando da prática do ato. 3) Preexistência de credores. 4) Eventus damni, que é o prejuízo do credor. 5) Consilium fraudis, que é o propósito de fraudar. OBSERVAÇà O: Não confundir concilium fraudis (que é a reunião de pessoas mal intencionadas) com consilium fraudis (que é a vontade de fraudar). Fraude contra credores Fraude à execução Fraude à lei É um vício do negócio jurídico. Atenta contra a administração da justiça. Trata-se de violação de uma norma cogente proibitiva por negócio feito por interposta pessoa. Exige a propositura da ação pauliana. É reconhecida na própria execução ou no cumprimento de sentença. Exige a propositura da ação declaratória de nulidade. Gera a anulabilidade do negócio jurídico. O negócio jurídico é ineficaz. O ato é nulo. g) Simulação Trata-se da declaração enganosa da vontade visando produzir efeito diverso do ostensivamente indicado. Espécies de simulação: Simulação absoluta: trata-se da declaração de vontade, ou confissão de dívida, emitida para não gerar efeito jurídico algum. Simulação relativa: nessa modalidade as partes realizam um negócio jurídico para esconder um outro negócio que desejam encobrir. Por esse motivo, teremos dois tipos de negócios: simulado e dissimulado. O negócio simulado é aquele que aparece para o mundo, que todos podem ver. Já o negócio dissimulado é o pretendido pelas partes, o que elas buscam esconder, mas desejam os seus efeitos. Na tabela abaixo seguem alguns exemplos. Negócio simulado (o quE aparEcE para o mundo) Negócio dissimulado (o pretendido pelas partes) Exemplo 1: Compra e venda feita para amante, sem o pagamento do preço descrito no contrato (esse negócio SEMPRE será NULO). Exemplo 1: A compra e venda feita para amante, sem o pagamento do preço descrito no contrato, visa encobrir uma doação que é repudiada pelo art. 550 do Código Civil (esse negócio também é NULO, pois a lei o proíbe). Exemplo 2: Compra e venda de imóvel declarada pelo valor venal, quando realizada por valor maior (esse negócio SEMPRE será NULO). Exemplo 2: A compra e venda de imóvel declarada pelo valor venal, quando realizada por valor maior, visa esconder o real valor (esse negócio é válido porque a lei não o proíbe). O negócio simulado sempre é nulo. O negócio dissimulado pode ser nulo ou válido, dependendo de a lei proibi- lo ou autorizá-lo. De acordo com o Enunciado 153 do CJF, o negócio jurídico simulado é nulo, mas o dissimulado é válido se não ofender a lei nem trazer prejuízos a terceiros. Nesse caso ocorre o fenômeno da EXTRAVERSÃO, que é a entrada do ato dissimulado no mundo jurídico. Já o Enunciado 293 do CJF estabelece que o aproveitamento do negócio dissimulado depende do preenchimento de todos os requisitos substanciais, formais e de validade. De acordo com o § 1º do art. 167 do CC, haverá simulação nos negócios jurídicos quando: a) aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente se conferem, ou transmitem; b) contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira; c) os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós-datados. Simulação inocente: é aquela onde inexiste o desejo de prejudicar alguém. Simulação maliciosa ou nocente: é aquela em que existe o desejo/intenção de prejudicar. Cumpre ressaltar que, de acordo com o Enunciado 152 do CJF, toda simulação, inclusive a inocente, é invalidante. O referido enunciado se justifica em razão de o Código Civil de 1916 fazer essa distinção, que não é apresentada no Código Civil vigente. Por fim, de acordo com o Enunciado 294 do CJF, sendo a simulação uma causa de nulidade do negócio jurídico, ela pode ser alegada por uma das partes contra a outra, já que se trata de preceito de ordem pública. Principais diferenças entre ato nulo e anulável Abaixo, em formato de tabela, apontamos as principais diferenças entre ato nulo e anulável. Ato nulo Ato anulável Atinge preceitos de ordem pública. Atinge preceitos de ordem privada. Pode ser declarado ex officio pelo juiz. Não pode ser declarado ex officio pelo juiz. O reconhecimento se dá em ação declara- tória de nulidade. O reconhecimento se dá em ação anulató- ria. A legitimidade para arguir a nulidade é dos interessados e do Ministério Público (quando lhe couber intervir no processo). A legitimidade para arguir a anulabilidade é somente dos interessados. Não tem prazo para ser arguida, pois o ato nulo não se convalida no tempo (a ação declaratória de nulidade é imprescritível). A ação anulatória está sujeita a prazo decadencial, pois o ato anulável se convalida no tempo (na Parte Geral tais prazos estão descritos no art. 178 do CC, mas há diver- sos outros na Parte Especial do Código Civil). O efeito da sentença é ex tunc (retroativos) O efeito da sentença é ex nunc (não retroativos). Cumpre ressaltar que o art. 182 do CC contraria essa regra, mas a interpretação que prevalece é a primeira. Não há prazo geral para a nulidade, pois o ato nulo não se convalida no tempo. Se a lei dispuser que o ato é anulável e não estabelecer prazo, será o mesmo de dois anos contados da conclusão do negócio (art. 179 do CC). Não se usa mais a nomenclatura nulidade absoluta, mas apenas nulidade. Não se usa mais a nomenclatura nulidade relativa, mas apenas anulabilidade. O ato nulo não admite confirmação, apenas conversão do negócio jurídico (art. 170 do CC). O ato anulável admite confirmação, afasta- da a hipótese de conversão do negócio jurídico. A conversão do negócio jurídico vem estabelecida no art. 170 do CC, que, em difícillinguagem, estabelece: Art. 170. Se, porém, o negócio jurídico nulo contiver os requisitos de outro, subsistirá este quando o fim a que visavam as partes permitir supor que o teriam querido, se houvessem previsto a nulidade. Como exemplo citamos a compra e venda de um imóvel com valor superior a trinta salários mínimos feita por instrumento particular. Por não obedecer a forma prevista em lei, esse contrato é nulo (art. 166, IV, do CC). Mas como o contrato preliminar de compra e venda de imóvel não depende de forma solene (arts. 462 e 1.417 do CC), o mesmo pode ser convertido em promessa de compra e venda. Nesse caso temos a CONVERSÃO SUBSTANCIAL DO NEGÓCIO JURÍDICO, pois converte-se um negócio jurídico em outro. Outro exemplo é o caso do testamento público. O art. 1.864 do CC estabelece os seus requisitos, dentre eles a observância da oralidade (ser lido o testamento ao testador na presença de duas testemunhas). Imaginemos que isso não ocorreu, mas que o testador, por excesso de cautela, levou três testemunhas para presenciar o ato. Por ter sido preterida essa formalidade essencial prevista na lei, o testamento é nulo (art. 166, V, do CC). Porém, como o testamento particular não possui tal requisito, e os que estão previstos no art. 1.876 do CC foram preenchidos, é possível converter esse testamento público (que é nulo) em particular, para produzir os efeitos desejados. Nesse caso, temos a conversão formal do negócio jurídico, pois o negócio jurídico permanece o mesmo, mas a forma pública é convertida em particular. O negócio anulável pode ser confirmado pelas partes, salvo direito de terceiro, e o ato de confirmação deve conter a substância do negócio celebrado e a vontade expressa de mantê-lo. É dispensável a confirmação expressa, quando o negócio já foi cumprido em parte pelo devedor, ciente do vício que existia. A confirmação expressa, ou a execução voluntária de negócio anulável, importa a extinção de todas as ações, ou exceções, de que contra ele dispusesse o devedor. Quando a anulabilidade do ato resultar da falta de autorização de terceiro, será validado se este a der posteriormente. Hipóteses de Anulabilidade Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico: I – por incapacidade relativa do agente; II – por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores. Hipóteses de Nulidade Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando: I – celebrado por pessoa absolutamente incapaz; II – for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto; III – o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito; IV – não revestir a forma prescrita em lei; V – for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade; VI – tiver por objetivo fraudar lei imperativa; VII – a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem cominar sanção. Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma. 3) Plano da Eficácia Elementos acidentais São cláusulas aptas a modificar a eficácia do negócio. Negócios puros e simples: são aqueles que não admitem condição, termo ou encargo. Exs.: casamento, adoção, aceitação de renúncia ou herança, etc. Condição (arts. 121 a 130 do CC) É a cláusula que, decorrente da vontade das partes, subordina a eficácia do negócio jurídico a um evento futuro e incerto. Elementos caracterizadores: Futuridade: o fato deve ser obrigatoriamente futuro. Incerteza quanto à ocorrência do fato: o fato deve ser incerto. E a morte? A morte de uma pessoa ou de um animal é um futuro certo. Assim, em regra, a morte caracteriza termo, e não condição. Contudo, a morte dentro de um prazo fixado é condição, e não termo, pois não é possível saber se ela irá ou não ocorrer. Voluntariedade: a condição surge apenas pela vontade das partes. Quando o requisito de eficácia decorrer da própria lei (condições legais ou conditio iuris), não haverá condição propriamente dita. Ex.: pacto antenupcial – o casamento é condição de eficácia do pacto antenupcial prevista por lei. Não se trata, portanto, de condição. Espécies de Condição: 1) Quanto ao modo de atuação: Suspensiva (art. 125 do CC): É aquela que, enquanto não verificada, impede que sejam gerados os efeitos, bem como adquiridos os direitos decorrentes do negócio. Antes dela, o sujeito tem apenas a expectativa de direito (ou direito eventual). O pagamento feito antes do implemento da condição é indevido e, por isso, gera direito à repetição (dever de devolver). Art. 130 do CC: o titular de direito condicional (direito sob condição) pode praticar atos destinados a sua conservação. Art. 126 do CC: é inválida qualquer disposição negocial que seja incompatível com a condição pendente. Resolutiva (ou extintiva): É aquela cuja ocorrência extingue os efeitos do negócio jurídico. Art. 129, CC trata da boa-fé objetiva Considera-se não realizada a condição levada a efeito por má-fé do beneficiário. Considera-se realizada a condição que por má-fé foi obstada por aquele que poderia se prejudicar por ela. 2) Quanto à licitude: Condições ilícitas: Se suspensiva torna nulo o negócio que for inserido; se for resolutiva considera-se como não escrita e o negócio é puro e simples. São 05 subespécies: 1 - Condições ilícitas propriamente ditas prática de qualquer conduta vedada pelo ordenamento. 2 - Condições imorais aquelas que contrariam os bons costumes; aquelas que se relacionam a alguma aspecto de liberdade do sujeito. 3 - Condições impossíveis ou inexeqüíveis impossibilidade de que ela seja cumprida ou executada. 4 - Condições perplexas, contraditórias ou incompreensíveis são aquelas que são impossíveis do ponto de vista lógico e que por isso privam o negócio jurídico de todo e qualquer efeito. Ex: empresto meu carro, mas desde que você não use; deixo minha herança para você depois que você morrer. 5 – Condições puramente potestativa são aquelas cujo implemento está relacionado ao mero arbítrio de uma das partes. Ex: dou meu carro se no dia em que eu acordar estiver feliz. São válidas as condições mera ou simplesmente potestativas, ou seja, são aquelas em que existe uma conjugação entre a vontade de um dos sujeitos e um fator externo. Ex: dou um bem para você se e desde que passe no concurso (depende da vontade de estudar, ir ao curso, da intenção). Termo É o acontecimento futuro e certo que subordina o início ou o termino dos efeitos de um determinado negócio jurídico. Espécies de Termo Quanto à determinação da data (ou conhecimento prévio da data) Termo certo (dies certus quandu) Quando a data for previamente conhecida, indicada. Termo incerto (dies incertus quandu) Quando a data precisa não é conhecida. Quanto ao modo de atuação Termo inicial (suspensivo ou dies a quo) É aquele que enquanto não verificado impede o exercício dos direitos decorrentes do negócio, mas não impede a sua aquisição. Termo final (extintivo, resolutivo ou dies ad quem) É aquele cuja verificação extingue os direitos decorrentes do negócio. Arts. 132 e 133, CC regras de contagem de prazo. Encargo ou Modo Arts. 136 e 137, CC. O encargo é uma limitação ou restrição imposta a vantagem criada ao beneficiário de um negócio jurídico; é um ônus que reduz a extensão da liberalidade que foi feita. O encargo não impede a aquisição e nem o exercício dos direitos decorrentes do negócio, salvo se for previsto como condição suspensiva.Porém, uma vez aceita torna-se obrigatório (compulsório). A execução pode ser exigida é beneficiário, pelo próprio instituidor ou pelo MP quando o encargo for de interesse geral. O instituidor pode propor ação revocatória pelo descumprimento do encargo. Art. 137, CC. PRESCRIÇÃO e DECADÊNCIA Conceito de Prescrição é a perda da pretensão em razão da inércia do seu titular no período de tempo fixado pela lei. Pretensão é o direito de exigir a subordinação alheia a um interesse próprio; direito de exigir uma pretensão; é o direito de exigir do outro um crédito, uma prestação, que cumpra uma obrigação etc. Conceito de Decadência é a perda de um direito potestativo em razão da inércia do seu titular durante um prazo estabelecido (por lei ou pelo contrato). Direito potestativo é aquele que o sujeito tem de por sua exclusiva vontade gerar modificações, alterações na esfera jurídica alheia; o outro envolvido encontra-se em “estado de sujeição”. Critério para identificar a natureza do prazo Leva em conta a natureza da sentença que seria proferida na hipótese de acolhimento do pedido. 1. Se a sentença for condenatória o prazo será prescricional. Exceção art. 37, §5º parte final ações de ressarcimento de danos ao poder público é imprescritível. 2. Se a sentença for constitutiva ou desconstitutiva, o prazo eventualmente previsto será de decadência (alguns direitos potestativos não se sujeitam a decadência por ausência de previsão de prazo). 3. Se a sentença for declaratória o direito a pretensão será imprescritível. Regras Especiais da Prescrição 1. Art. 190, CC a exceção prescreve no mesmo prazo da pretensão por isso não se admite que sejam invocadas como defesa pretensões que estão prescritas, por exemplo, compensação cuja pretensão já se perdeu. 2. Não se pode afirmar que dívida prescrita é inexistente uma vez que o seu pagamento voluntário (espontâneo) é devido (embora inexigível) e por isso não dá direito a repetição (devolução daquilo que foi pago). Renúncia a Prescrição Art. 191, CC O devedor pode abrir mão dela desde que já esteja consumada (não se admite renúncia antecipada da prescrição). A renúncia pode ser expressa ou tácita (decorre do comportamento do devedor incompatível com a prescrição). Art. 192, CC as partes não tem a liberdade de modificar os prazos prescricionais previsto na lei fixados por normas cogentes (de ordem pública). A prescrição não se sujeita ao princípio da eventualidade ou concentração. Art. 194 do CC foi substituído pelo art. 219, § 5º do CPC a prescrição será reconhecida de ofício pelo juiz. Responsabilidade civil dos representantes dos incapazes ou das pessoas jurídicas que derem a causa à prescrição ou não alegarem oportunamente. Art. 196, CC a prescrição iniciada contra um sujeito continua a correr em relação aos seus sucessores. Circunstâncias que suspendem (se o prazo já estava iniciado) ou impedem o curso da prescrição (o prazo nem se inicia) Art. 197, CC causas subjetivas bilaterais: 1. Não corre prescrição entre cônjuges na constância do casamento. Também se aplica a união estável (aos companheiros) por analogia; 2. Não corre prescrição entre ascendentes e descendentes durante o poder familiar (quando cessar o poder familiar será possível a prescrição entre pai e filho); 3. Não corre prescrição entre o tutor e tutelado e curador e curatelado enquanto não cessado o encargo. Art. 198, CC causas subjetivas unilaterais: 1. Não corre prescrição contra os absolutamente incapazes; 2. Não corre prescrição em relação aos ausentes do país em serviço público; 3. Não corre prescrição para aqueles que servirem as Forças Armadas em caso de guerra. Art. 199, CC causas objetivas: 1. Não corre prescrição pendente condição suspensiva; 2. Não corre prescrição estando vencido o prazo; 3. Não corre prescrição pendente ação de evicção. Obs. Art. 200, CC não corre prescrição enquanto não proferida sentença definitiva no juízo criminal. Art. 201, CC quando os credores forem solidários a suspensão em favor de um só beneficia os outros se a dívida for indivisível. Causas que Interrompem a Prescrição A partir do art. 202, CC. A prescrição só pode ser feita uma vez. 1. Art. 202, I interrompe a prescrição por despacho do juiz que determina a citação ainda que incompetente, desde que seja promovida nos termos da lei processual; Embora o art. 219 do CPC estabeleça que a interrupção decorra da citação, prevalece o CC que é norma posterior. De qualquer forma, o efeito interruptivo retroage a data da propositura da demanda, salvo se não se realizar no prazo de 100 dias por culpa exclusiva do autor. Art. 220, CPC a citação (ou despacho do Juiz) também impede que se consume a decadência, também com efeito retroativo a data da propositura. É irrelevante para a interrupção que o processo tenha sido extinto sem resolução do mérito (art. 267, CPC). 2. Art. 202, II, CC Por protesto judicial; 3. Por protesto cambial; 4. Pela apresentação do título de crédito no inventário ou concurso de credores; 5. Por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor; 6. Qualquer ato ainda que extrajudicial que importe reconhecimento da dívida pelo devedor. Art. 202 dos Incisos I ao V são causas interpelativas de interrupção; o inciso VI, trata da interrupção recognocitiva porque o devedor reconhece a dívida. Observações 1. A interrupção ocorre mesmo que o processo seja extinto sem resolução do mérito, salvo se o motivo tiver sido a falta ou nulidade da citação. 2. § ú do art. 202 a prescrição uma vez interrompida recomeça a correr: a) do ato que a interrompeu (é o que se aplica para as chamadas causas instantâneas de interrupção – ex: protesto cambial, reconhecimento da obrigação pelo próprio devedor etc.); b) do último ato do processo que foi iniciado com a finalidade de interromper a prescrição (são as chamadas causas permanentes de interrupção); É por isso que em regra, não se verifica no processo de conhecimento a prescrição intercorrente. Na execução uma vez arquivados os autos, por inexistência de bens penhoráveis, se a paralisação for superior ao prazo de prescrição para aquele tipo de crédito poderá ser reconhecida a prescrição intercorrente. Art. 40 da Lei 6830/80. Excepcionalmente poderá ocorrer no processo de conhecimento se houver paralisação por culpa exclusiva do autor por período de tempo superior ao prazo prescricional para aquele tipo de pretensão. 3. A regra que limita a interrupção a uma única vez só se aplica aos atos extraprocessuais (inciso III ou VI do art. 202 do CC); a propositura da demanda interrompe sempre a prescrição ainda que tal fato tenha ocorrido anteriormente; pela propositura admitem-se interrupções sucessivas. Prazos da Prescrição 1. Prazo ordinário, comum ou supletivo 10 anos quando não houver previsão de prazo menor (art. 205, CC). 2. Prazos especiais Art. 206, CC. Norma Transitória (Art. 2028, CC) Reduzido o prazo: a) continua a ser aplicado o prazo antigo se houver transcorrido mais da metade dele no momento da entrada em vigor da lei nova. b) será aplicado o prazo novo se no momento da lei nova houver decorrido menos da metade do prazo antigo (do prazo original); o prazo novo deve ser contado a partir da lei nova (a partir do momento em que ela entra em vigor). Regras da Decadência Art. 207, CC salvo disposição em contrário, não se aplicam a decadência as causas que suspendem, impedem ou interrompem a prescrição. Art. 208, CC aplica-se a decadênciaa regra do art. 198, I do CC. Não corre a decadência contra os absolutamente incapazes. Art. 209, CC é irrenunciável a decadência fixada pela lei; admite-se a renúncia quando se tratar de decadência convencional. Art. 210, CC pode ser reconhecida de ofício pelo juiz, desde que se trate de decadência legal (a convencional depende de alegação). Art. 211, CC a decadência convencional depende de alegação, mas não se sujeita ao princípio da eventualidade ou da concentração. Embora não alegada na contestação pode ser invocada posteriormente. Ações imprescritíveis 1) Ligadas a direitos de personalidade. 2) Ligadas a bens públicos. 3) Ligadas aos bens confiados a guarda em depósito. 4) Ligadas ao Direito de família (questões de Estado). 5) Ações meramente declaratórias, tais como a de nulidades absolutas. Preclusão é a perda, extinção ou consumação de uma faculdade processual pelo decurso do prazo (temporal) ou por outra atitude processual (consumativa). Ela impede se renovar as mesmas questões no mesmo processo. Ocorrendo a preclusão, impedida estará, à parte, de praticar determinados atos ou de discutir determinados assuntos. Perempção é a extinção do direito de ação como pena pela extinção do feito, sem julgamento do mérito, por três vezes (art. 268 do CPC). Das diferenças entre prescrição e decadência Prescrição Decadência Extingue a pretensão Extingue o direito potestativo Os prazos são estabelecidos em lei e não podem ser alterados por convenção das partes. Os prazos são estabelecidos em lei (deca- dência legal) ou por convenção das partes (decadência convencional). DEVE ser declarada de ofício pelo juiz (art. 219, § 5º, do CPC). A decadência legal pode ser declarada de ofício pelo juiz, já a decadência convencio- nal não. O prazo pode ser suspenso, impedido ou interrrompido. Em regra não tem impedimento, suspensão ou interrupção dos prazos de decadência, salvo disposição em lei, como no caso dos absolutamente incapazes, em que o prazo não se inicia. Critério científico para distinguir o prazo prescricional do prazo decadencial Prescrição Decadência O prazo de prescrição só poderá ser de aNOs. O prazo de decadência poderá ser de DIAS, MESES, aNOs e ANO e DIA. O prazo de aNO na prescrição só poderá ser de 1, 2, 3, 4, 5 ou 10 anos. Como o prazo de decadência também poderá ser de aNOs, saberemos que prazos de 6, 7, 8, 9, ou 11 anos em diante SERãO obrigatoriamente de decadência. A prescrição está relacionada com direitos subjetivos, atingindo ações condenatórias. A decadência está relacionada com direitos potestativos, atingindo ações constitutivas e desconstitutivas, como a ação anulatória.
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