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Roteiro de Aula. Introdução ao Estudo do Direito Professor Antônio Guerra Cintra jr. Normatividade II Vigência das leis As leis, como de resto tudo na vida, tem um ciclo de vigência. As leis nascem para regular a conduta dentro de um determinado contexto social. Evidente que elas envelhecem junto com as idéias da sociedade. A sociedade de uma determinada época sofre o processo de mutação social. Esse dilema é um fator inexorável e imanente na história da humanidade. Nascer, morrer, nascer novamente e evoluir sempre, eis a lei. Portanto, a lei não nasce com a pretensão de ser eterna ou se perpetuar, Não há essa proposta no horizonte do seu idealizador. Na verdade no momento da elaboração da norma o legislador não considera essa possibilidade. A questão do período em que a lei ficará em vigor não é um elemento considerado na proposta de elaboração. Aliás, apenas nas hipóteses das leis temporárias, ou seja, aquelas normas que nascem com um prazo de validade pré-estabelecido é que deve ser levado em consideração o período de vigência da lei no ato de sua elaboração. Portanto, de um modo geral, é irrelevante para o legislador o período que a lei deve permanecer em vigor. Mas há uma certeza: a lei um dia será revogada por outra. Pois bem, esse momento de cessação da eficácia da lei, de sua elaboração, estudo das formas em que se operam a cessação da eficácia, será adiante objeto de nosso estudo. Processo de elaboração das leis: Cumpre dizer que o processo de nascimento da lei, ou seja, o seu surgimento para o mundo jurídico, momento em que a lei passa a efetivamente regular a conduta das pessoas, decorre de fases necessárias a sua perfeição. portanto, é necessário compreender que as leis como os atos jurídicos podem ser consierados como: a) Perfeitos, quando completam o seu ciclo de formação; b) Validos, quando estão de acordo com o direito; c) Eficazes, quando aptos à produção de efeitos jurídicos; FASES DE ELABORAÇÃO DA LEI São denominadas fases os intervalos percorridos pela lei no âmbito de sua elaboração. Assim, há três situações bem definidas e necessárias para tornar apta a produção de efeitos que normalmente lhes são próprios. Vejamos, então, cada uma dessas fases de elaboração da lei: Iniciativa: procedimento de impulsionar a análise do projeto de lei, afeto a determinadas autoridades detentoras de competência estabelecida na nossa carta política. Há previsão neste sentido no artigo 61 da CR/88; De acordo com a nossa Constituição Federal de 1988, a iniciativa das leis complementares ou ordinárias cabe a qualquer membro ou comissão da Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou do Congresso Nacional, ao Presidente da República, ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores, ao Procurador Geral da República, a aos cidadãos, na forma e nos casos previstos em lei. Fase constitutiva: Uma vez apresentado o projeto de lei é natural que passe a ocorrer discussão e, logo após, submete-se o projeto para votação. Cumpre notar que a análise do projeto de lei não se limita a examinar apenas a conveniência e oportunidade do projeto de lei, mas a sua conformação com o ordenamento jurídico, ou seja, a validade do projeto do ponto de vista de legalidade e constitucionalidade. Evidente que essa discussão será de competência das comissões do Congresso Nacional e, uma vez ultrapassado esse filtro (as comissões), o projeto é submetido ao plenário para debates e aprovações. Normalmente, o projeto recebe ampla discussão nas Comissões de Constituição e Justiça (CCJ), bem como, as denominadas comissões temáticas. Caso o projeto seja aprovado pala casa revisora, será enviando para sanção ou veto do Presidente da República; Fase Complementar: Promulgação e publicação. A promulgação é o ato que confere uma atestado de existência válida de lei e de sua plena possibilidade de exeqüibilidade. Numa palavra: é a autenticidade da lei. É ato privativo do Presidente da República. Como afirma Vitor Frederico Küpel, o Presidente da República é obrigado a promulgar a lei, mesmo no caso em que vetou o projeto e seu veto foi derrubado pelo Congresso Nacional, tendo um prazo de 48 horas contados da sanção expressa ou tácita ou da comunicação da rejeição do veto. Caso a lei não seja promulgada no prazo determinado, o munus passa para o Presidente do Senado Federal. (Artigo 66, § 7º da CF/88). Publicação: Momento que a lei começa a vigorar com a sua publicação no diário oficial. Quanto ao início da eficácia é possível observar os seguintes momentos distintos: Eficácia Instantânea: Decorre da situação em que a norma com a publicação começa a vigorara imediatamente, posto que ela traz no seu comando uma previsão de sua entrada em vigor coincidente com a data de sua publicação. Eficácia expressamente diferida: decorre do denominado prazo de “VACATIO LEGIS”, que representa um prazo fixado no comando da norma para que a lei entre em vigor somente depois de expirado aquele prazo. Algumas normas, pela complexidade da matéria regulada, necessitam de um prazo para que os seus comando sejam absorvidos pela sociedade controlada. Eficácia tacitamente diferida: Algumas normas podem eventualmente não trazer em seu comando nenhuma previsão referente a data em que a mesma entrará em vigor. Quando isso ocorre a norma sofrerá a incidência do artigo 1º, caput, da lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro antiga lei de Introdução ao Código Civil (LICC), consoante a qual, não havendo previsão na norma da data em que ela entrará em vigor, ela vigorará em todo território nacional 45 dias após ser oficialmente publicada. Todavia, advirta-se que nos Estados, estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia três meses depois de oficialmente publicada Revogação da Lei. A revogação da lei pode ser expressa ou tácita: Será expressa quando a lei nova expressamente declara que a lei anterior, toda ou em parte, resta revogada. Essa sistemática encontra-se delineada no artigo 2º,§ 1º da Lei de Introdução ao Código Civil – LICC. Revogação tácita: Opera-se a revogação tácita quando a lei nova, não obstante nada declarar a respeito das disposições normativas anteriores, o seu conteúdo disciplina inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior. Nesta situação se diz que a revogação ocorre de forma indireta. Neste contexto cumpre estabelecer alguns critérios que autorizam a revogação de uma norma por outra, quando observados as incompatibilidades materiais. 1º critério: a) Critério cronológico. LEX POSTERIOR DEROGAT LEGI PRIORI. Critério segundo o qual a lei nova revoga a mais antiga quanto trata de forma ampla da matéria que a lei revogada tratava. Exemplo o código civil de 2002 revogou o código civil de 1917. Esse critério encontra-se estabelecido no artigo 2º, § 1º da lei de introdução ao código civil – LICC- (Decreto-lei n.º 4.657/1942). 2º critério: b) Critério hierárquico. LEX SUPERIOR DEROGAT LEGI INFERIORI. Quando uma lei se mostra incompatível com uma nova ordem constitucional, nessa situação a norma revogada perdeu o seu fundamento de validade ou não foi recepcionada pela nova ordem constitucional. Exemplo: Uma lei que regula a impossibilidade do divórcio no Brasil anterior a Constituição de 1988. Evidente que essa norma não foi recepcionada pela nossa Carta Política de 1988. 3º Critério: c) Critério da Especialidade. LEX SPECIALIS DEROGAT LEGI GENERALI. Quando a lei nova disciplina disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga nem modifica a lei anterior. Nesta situaçãocoexistem as normas de caráter geral e especial mesmo que aparentemente haja incompatibilidade entre ambas. Na verdade a lei especial introduz uma exceção a lei geral autorizando a coexistência de ambas no ordenamento jurídico.
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