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Van Dijk Discurso e Cognição na Sociedade (trad. Leo Moz)

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* O presente trabalho consiste em uma versão revisada, atualizada e ampliada 
do artigo Discourse and cognition in society (Van Dijk, 1993a). Agradeço a Leonardo 
Mozdzenski, pela tradução do artigo.
Revista Portuguesa de Humanidades | Estudos Linguísticos, 19‑1 (2015), 19-52
Discurso e cognição na sociedade*
TEUN A. VAN DIJK
Universidade Pompeu Fabra, Barcelona
vandijk@discursos.org
Abstract
The theory presented in this article shows that discourse cannot be related to society 
in a direct way but only through the cognitive structures and processes of language 
users, because discourse structures and social structures are of a very different nature. 
Discourse is produced and understood on the basis of personal ‘semantic’ mental models 
of situations and on socially shared knowledge, attitudes and ideologies, under the control 
of ‘pragmatic’ context models that make discourse approprioate in the communication. 
It is in this way also that discourse is related to social situations of experiences, power 
relations between groups or institutions. Power relations, such as those of racism, are thus 
daily reproduced by discourse based on the personal and social mental representations of 
group members. 
Keywords: Discourse, Cognition, Society, Context, Ideology, Knowledge.
1. Introdução
Este ensaio analisa algumas das relações entre discurso e sociedade. A tese 
principal aqui é que essas relações não são diretas, mas devem ser consideradas 
dentro de uma teoria sobre o papel da cognição social nos processos de repro-
dução social, política e cultural. Assim, assume-se que as representações sociais 
em nossas mentes (tais como os conhecimentos socialmente partilhados, as 
crenças, as atitudes e as ideologias) atuam como a ‘interface’ necessária entre as 
interações de nível micro e o texto e a fala individuais, por um lado, e as macroes-
truturas sociais, por outro. Essa premissa vai além das clássicas abordagens 
‘correlacionais’ das relações entre linguagem e sociedade, como na sociolinguís-
Revista Portuguesa de Humanidades | Estudos Linguísticos20
tica, por exemplo. Ao mesmo tempo, tal premissa fornece uma extensão neces-
sária do trabalho em linguística crítica e em análise crítica do discurso acerca 
dos modos como o uso da linguagem ou o discurso contribuem para a reprodução 
ou legitimação do poder social. A título de ilustração, irei resumir os resultados 
de pesquisas sobre as propriedades do discurso jornalístico e seu papel na repro-
dução do racismo.
Normalmente se assume que um estudo adequado das relações entre 
discurso e sociedade pressupõe que o discurso deva ser localizado na socie-
dade, como uma forma de prática social ou como uma interação dos membros 
do grupo social (ou das instituições). Essa relação geral de inclusão, no entanto, 
permanece bastante vaga e necessita de uma maior especificação, com o fim 
de deixar claro que propriedades do texto e da fala tipicamente condicionam 
certas propriedades das estruturas sociais, políticas ou culturais, e vice-versa. 
Isso também é verdade para outras relações entre discurso e sociedade, como 
por exemplo, se estudamos o discurso como pressupondo, incorporando, reali-
zando, refletindo ou legitimando arranjos sociais e institucionais.
A natureza social dessas relações é tradicionalmente representada 
em termos de falantes e destinatários como atores sociais desempenhando 
papéis sociais específicos em contextos sociais. A microssociologia da inte-
ração e as abordagens etnometodológicas, em particular, têm enfatizado o 
papel da interpretação e dos ‘métodos’ implícitos, socialmente partilhados, 
na compreensão da interação e do mundo social (Atkinson & Heritage, 
1984; Boden & Zimmerman, 1991). Embora isso pareça tratar da impor-
tância da cognição social na produção do texto e da fala, a microssociologia 
normalmente se limita às propriedades ‘observáveis’ do conhecimento e da 
compreensão, ou seja, às maneiras como as cognições são ‘apresentadas’ para 
os destinatários como membros sociais. A análise conceitual mais detalhada 
das exatas representações mentais e dos processos envolvidos é geralmente 
deixada à psicologia, se isso for mesmo considerado relevante (ver, no entanto, 
os primeiros fundamentos de uma sociologia cognitiva: Cicourel, 1973).
Em nossa proposta interdisciplinar, levamos a sério a interface da cognição 
social, como estratégias e representações mentais socialmente partilhadas, que 
monitoram a produção e a interpretação do discurso (Van Dijk, 1990). Assim, 
se um conhecimento específico ou outras crenças são considerados como pres-
supostos e compartilhados pelos falantes, precisamos explicitar esses conhe-
cimentos e crenças, a fim de sermos capazes de especificar o modo como esses 
pressupostos afetam as estruturas do discurso. Por outro lado, o conceito crucial 
de ‘compreensão’ do texto e da fala não é adequadamente explicado examinan-
do-se simplesmente as manifestações observáveis de tais processos mentais. Isso 
Discurso e cognição na sociedade 21
não significa que a análise cognitiva deva ser limitada a processos psicológicos 
individuais ou universais de compreensão. Ao contrário, da mesma forma que as 
atividades discursivas são vistas como sociais (e históricas), muitas dimensões da 
cognição também devem ser estudadas nessa dupla perspectiva social: no nível da 
interação e no nível dos grupos, instituições ou outras estruturas sociais. Nesse 
sentido, a minha abordagem aponta para além de grande parte da psicolinguística 
atual.
2. Análise social: poder, dominação e acesso
Dentro desse quadro mais amplo da análise do discurso crítica e multi-
disciplinar, irei primeiro destacar algumas propriedades cruciais das estru-
turas sociais, tais como poder e acesso, para em seguida relacioná-las tanto ao 
discurso quanto à cognição social. O propósito dessa análise é mostrar como, 
através das representações mentais socialmente partilhadas, o poder social é 
reproduzido por meio de sua realização e legitimação discursivas.
Deixando de lado uma série de complexidades teóricas, podemos definir 
aqui o poder social simplesmente como uma propriedade das relações inter-
grupais em termos do controle exercido por (membros de) um grupo ou insti-
tuição sobre as ações de (membros de) um outro grupo (ver Lukes, 1986). 
Esse poder é baseado no acesso a recursos socialmente valorizados, como 
força, riqueza, renda, status ou conhecimento. Além de consistir em formas de 
força ou poder coercitivo, esse controle é geralmente persuasivo: as ações dos 
outros são indiretamente controladas através da influência sobre condições 
mentais de ação, tais como intenções, planos, conhecimento ou crenças. É 
neste ponto que o poder está relacionado tanto com o discurso quanto com a 
cognição social (ver Van Dijk, 1989, 2008b). Para grupos específicos, o poder 
social pode estar limitado a situações ou domínios especiais (por exemplo, os 
da política, da mídia ou da educação). Além disso, o poder raramente é abso-
luto, na medida em que outros grupos detêm uma parcela de liberdade de agir 
e pensar. De fato, muitas formas de poder produzem resistência sob a forma de 
tentativas de exercer um contrapoder.
A análise crítica do discurso está interessada na dominação, definida aqui 
como um abuso do poder social, isto é, como um desvio dos modelos ou normas 
de (inter)ação aceitos, para favorecer o grupo mais poderoso, resultando em 
várias formas da desigualdade social. O racismo é uma forma de dominação 
exercida pelos brancos (europeus) sobre grupos étnicos ou raciais minoritá-
rios, ou sobre os não europeus em geral. A dominação é reproduzida mediante 
Revista Portuguesa de Humanidades | Estudos Linguísticos22
a imposição do acesso privilegiado aos recursos sociais pela discriminação. Ela 
é também reproduzida ao legitimar esse acesso através das formas de ‘controleda mente’, tais como a manipulação e outros métodos para a busca de aceitação 
ou de adesão entre o grupo dominado. Em termos mais gerais, isso pode ser 
visto como a produção de consentimento e consenso. Mais uma vez, o texto e a 
fala desempenham um papel fundamental nos processos cognitivos envolvidos 
nesse processo de reprodução. Sua análise pode fornecer uma ideia explícita das 
noções – normalmente usadas, mas vagas – de manipulação. É tarefa deste ensaio 
explicitar algumas das relações entre as estruturas e estratégias discursivas e as 
representações e processos cognitivos subjacentes à realização ou legitimação da 
dominação.
A dominação também envolve um acesso especial a várias formas de 
discurso ou eventos comunicativos (ver Van Dijk, 1996). Os grupos dominantes 
ou elites podem ser definidos pelo seu acesso especial a uma ampla variedade 
de discursos públicos ou influentes, em contraposição aos grupos menos pode-
rosos. Ou seja, as elites possuem um acesso mais ativo e mais bem controlado 
aos discursos da política, da mídia, da academia, da educação ou da justiça. Elas 
podem determinar o tempo, o lugar, as circunstâncias, a presença e o papel dos 
participantes, os temas, o estilo e a audiência desses discursos. Além disso, como 
uma forma de ‘acesso tópico’, as elites são os atores preferidos representados 
no discurso público, como nas notícias jornalísticas, por exemplo. Isto significa 
que as elites também têm maiores chances de ter acesso à mente dos outros e, 
portanto, de exercer um poder persuasivo. Os grupos menos poderosos possuem 
um acesso ativo apenas nas conversas cotidianas com membros da família, 
amigos ou colegas, bem como um acesso menos controlado nos diálogos insti-
tucionais (por exemplo, em sua interação com médicos, professores ou funcio-
nários públicos), e ainda um acesso basicamente passivo nos discursos públicos, 
tais como os dos meios de comunicação de massa. A reprodução da dominação 
na sociedade contemporânea é realizada essencialmente através da manutenção 
e da legitimação desses padrões desiguais de acesso ao discurso e à comunicação 
e, portanto, à opinião pública: quem é autorizado (ou obrigado) a falar ou ouvir a 
quem, como, sobre o quê, quando, onde e com que consequências.
O poder, a dominação, o acesso e a reprodução, bem como a sua realização 
ou legitimação por meio do texto e da fala necessitam de uma análise tanto 
no nível macro das relações intergrupais globais e do controle institucional, 
quanto no nível micro das (inter)ações cotidianas e situadas dos indivíduos 
que, como membros de um grupo, constroem e reproduzem o poder do grupo. 
Isso também é verdade para as cognições sociais, que podem ser estudadas 
tanto como conhecimentos e crenças grupais, social e culturalmente parti-
Discurso e cognição na sociedade 23
lhados, quanto no nível das suas ‘aplicações’ ou ‘usos’ individualmente variá-
veis por cada membro, em situações específicas. Na verdade, espero mostrar 
que a cognição social e o discurso nos permitem justamente vincular essas 
micro e macroestruturas da sociedade (ver Knorr-Cetina & Cicourel, 1981).
3. Cognição social
Os processos de reprodução e as relações de dominação não envolvem 
apenas o texto e a fala, mas também as representações partilhadas da ‘mente 
social’ dos membros do grupo (para uma introdução à teoria da cognição social, 
ver Augoustinos, Walker & Donaghue, 2006). Ao contrário de muitos outros traba-
lhos sobre discurso e sociedade, minha abordagem pressupõe que existem razões 
teóricas cruciais pelas quais a cognição social deve ser analisada como a interface 
entre discurso e sociedade, e entre os participantes de uma fala individual e os 
grupos sociais dos quais eles são membros: (1) o discurso é realmente produzido/
interpretado por indivíduos, mas eles são capazes de fazê-lo apenas com base em 
conhecimentos e crenças socialmente partilhados; (2) o discurso só pode ‘afetar’ 
as estruturas sociais através das mentes sociais dos participantes do discurso; 
e reciprocamente (3) as estruturas sociais só podem ‘afetar’ as estruturas de 
discurso através da cognição social. A cognição social consiste no sistema de 
estratégias mentais e estruturas partilhadas pelos membros do grupo e, em parti-
cular, por aqueles que estão envolvidos na compreensão, produção ou represen-
tação de ‘objetos’ sociais, tais como situações, interações, grupos e instituições 
(para mais detalhes, ver Farr & Moscovici, 1984; Wyer & Srull, 1984).
Embora não seja possível discutir aqui em detalhes as complexidades de 
uma teoria da mente social, posso resumir os principais conceitos dessa teoria 
em sua conexão tanto com o discurso quanto com a sociedade. Geralmente 
fazemos a distinção entre cognições mais pessoais e ad hoc de eventos espe-
cíficos (modelos), e representações sociais mais abstratas, socialmente parti-
lhadas ou baseadas em grupo (conhecimentos, atitudes, ideologias), ambas 
representadas no que se costuma chamar de Memória de Longo Prazo. As 
operações estratégicas com base nesses modelos, tais como a percepção, a 
produção discursiva e a compreensão, acontecem na Memória (de Trabalho) 
de Curto Prazo. Sem entrar em detalhes sobre essas estratégias mentais (de 
alta complexidade), podemos identificar alguns tipos básicos de representação 
da memória e, em seguida, avançar para o papel do discurso na sua formação e 
mudança (para mais detalhes, ver Van Dijk & Kintsch, 1983).
Revista Portuguesa de Humanidades | Estudos Linguísticos24
Modelos. Toda percepção social e ação e, portanto, também a produção 
e interpretação do discurso são baseadas em representações mentais de 
episódios particulares. Esses modelos de evento ou de situação são subjetivos 
e únicos; eles representam o conhecimento e as opiniões correntes dos atores 
sociais ou dos usuários individuais de uma língua acerca de um episódio. 
Planejar uma ação (ou um discurso) implica construir um modelo de ativi-
dades futuras. Durante a compreensão de um discurso, antigos modelos sobre 
o mesmo episódio podem ser ativados e atualizados (como quando lemos uma 
notícia jornalística); ou novos modelos podem ser formados (por exemplo, 
sobre um ‘conflito racial’ em particular ou sobre um empresário que discri-
mina minorias). Além de experiências e opiniões pessoais, os modelos também 
incorporam instanciações de conhecimentos e atitudes sociais, que permitem 
precisamente a compreensão e comunicação mútuas. Desse modo, os modelos 
constituem a interface cognitiva crucial entre as dimensões pessoal e social 
do discurso (para detalhes, ver Garnham, 1987; Johnson-Laird, 1983; Van Dijk, 
1985, 1987b; Van Dijk & Kintsch, 1983).
Modelos de contexto. Um tipo de modelo especial e bastante influente 
é aquele que os participantes do discurso formam – e continuamente atualizam 
– da presente situação comunicativa. Esses modelos de contexto apresentam 
representações dos próprios participantes, de suas ações em curso e seus atos 
de fala, de seus objetivos e planos, do cenário (tempo, lugar, circunstâncias) ou 
de outras propriedades relativas ao contexto. Os modelos de contexto moni-
toram o discurso, dizendo aos usuários da língua que informações relevantes 
em seus modelos de evento devem ser expressas em seu discurso, e como esse 
discurso deve ser adaptado para as propriedades do contexto comunicativo 
(por exemplo, através do uso de expressões dêiticas, pressuposições sobre o 
conhecimento e papéis dos participantes, etc.).
Conhecimento social. Além do conhecimento pessoal e ad hoc repre-
sentado em seus modelos de eventos específicos, os membros de grupos sociais 
também partilham um conhecimento mais geral e abstrato sobre o mundo. O 
conhecimento sobre a linguagem, sobre o discurso e sobre a comunicação é 
obviamente uma precondição crucial para a interação verbal, e pode ser ‘apli-
cado’ no modelo de contexto de umevento comunicativo. Da mesma forma, 
os membros do grupo partilham um conhecimento social, representado em 
scripts sobre episódios sociais estereotipados, como fazer compras ou viajar 
(ver Schank & Abelson, 1977). Esses scripts sociais são formados através de 
inferências a partir de modelos repetidamente partilhados. Por outro lado, 
Discurso e cognição na sociedade 25
eles são utilizados para a compreensão de novos episódios através de instan-
ciações (parciais) em modelos desses episódios. Por exemplo, para o entendi-
mento de reportagens jornalísticas, os scripts são continuamente ativados e 
aplicados visando à compreensão de histórias sobre eventos étnicos, como os 
distúrbios em Los Angeles, na primavera de 1992.
Atitudes sociais. Nossas opiniões pessoais, tal como representadas nos 
modelos sobre eventos específicos, podem constituir instanciações indivi-
duais, contextualmente específicas, de opiniões sociais. Essas opiniões gerais 
podem ainda ser organizadas em complexos estruturados de opinião, que 
podem ser designados pela noção tradicional de ‘atitude’ (para uma discussão 
sociopsicológica sobre o conceito de atitude, ver por exemplo Eiser & Van der 
Pligt, 1988). A noção de persuasão e do seu papel na construção e legitimação 
da dominação – como discutido acima – envolve a (trans)formação desses 
esquemas de atitudes sociais (ver Turner, 1991). A maioria das pessoas 
brancas na Europa e na América do Norte possui atitudes diante de estran-
geiros, refugiados e negros, bem como da imigração e da ação afirmativa, e 
essas atitudes serão ativadas, aplicadas e possivelmente modificadas durante 
a produção ou compreensão do discurso sobre esses membros de outros 
grupos e sobre problemas étnicos.
Ideologias. Finalmente, as atitudes podem, por sua vez, ser baseadas 
e organizadas por meio de estruturas ideológicas. Estas proporcionam 
coerência e funcionam como os grandes blocos de construção e mecanismos 
de inferência das atitudes. Normas, valores e objetivos gerais de grupos e 
culturas formam os elementos a partir dos quais essas estruturas ideoló-
gicas são construídas. Assim, ideologias são cognições sociais mais ou menos 
permanentes, enraizadas e fundamentais de um grupo. Sua relação com o 
discurso e o uso da linguagem é indireta. De acordo com a nossa teoria da 
ideologia, elas operam através de atitudes e modelos antes de se manifes-
tarem na ação ou no discurso. O complexo sistema de atitudes étnicas que 
fundamentam a discriminação étnica é organizado por essa estrutura ideo-
lógica. Infelizmente, não temos ainda nenhuma teoria explícita que detalhe 
as disposições internas e os usos estratégicos dessas estruturas ideológicas 
na (trans)formação de crenças (para uma teoria de ideologia, ver abaixo; uma 
abordagem psicológica social diferente acerca das ideologias é a teoria retórica 
proposta por Billig e seus colegas; ver, por exemplo, Billig, 1982, 1991; Billig et al., 
1988).
Revista Portuguesa de Humanidades | Estudos Linguísticos26
Estratégias. Modelos, conhecimentos, atitudes e ideologias são perma-
nentemente formados, atualizados e modificados por vários tipos de opera-
ções mentais, tais como os processos básicos de pesquisa, recuperação e (des)
ativação da memória, bem como o ‘trabalho’ mental mais complexo envolvido 
na interpretação, inferência, categorização e avaliação. Ao contrário das regras 
‘fixas’ de gramática, assumimos que essas operações são ‘estratégicas’. Ou seja, 
elas são on-line e provisórias, mas também são rápidas, orientadas para obje-
tivos específicos, dependentes do contexto, paralelas (isto é, operam em vários 
níveis) e utilizam diferentes tipos de informações (muitas vezes, incompletas) ao 
mesmo tempo (Van Dijk & Kintsch, 1983). A compreensão estratégica de uma 
notícia jornalística envolve a rápida ativação de scripts ou atitudes relevantes. 
Ela também implica fazer (e corrigir) palpites sobre o sentido (ou as funções) 
de um texto ou um enunciado inteiro, mesmo quando lemos apenas parte dele 
(por exemplo, a manchete ou suas palavras iniciais). Outros processos estraté-
gicos incluem a formação ou atualização de um modelo mental relacionado com 
o sentido de uma notícia de jornal; ou a formação de scripts ou atitudes a partir 
de modelos. Todas as operações mentais que definem as relações entre discurso, 
cognição e sociedade discutidas a seguir possuem essa natureza estratégica.
4. A ligação discurso-cognição-sociedade
Esta breve revisão da arquitetura da mente social indica que todas as 
ligações entre discurso e sociedade são mediadas pela cognição social. 
Estruturas sociais de dominação só podem ser reproduzidas por ações espe-
cíficas por parte de membros do grupo dominante, e essas ações são, por sua 
vez, controladas pela cognição social. Assim, discursos da elite, tais como 
reportagens sobre assuntos étnicos, influenciam as estruturas sociais de 
dominação étnica através de representações socialmente partilhadas dos 
membros do grupo dominante acerca dos grupos de minorias étnicas e das 
relações étnicas. Conjuntamente com essas duas direções de influência, as 
cognições sociais fornecem a interface crucial. E o discurso é, por seu turno, 
essencial para a aquisição e mudança da cognição social.
Conhecimentos e crenças sobre a sociedade em geral, e sobre as relações 
de grupos maioritários-minoritários em particular, podem também ser adqui-
ridos através da percepção social e das experiências de interação (Zebrowitz, 
1990). Membros do grupo maioritário podem observar diretamente a aparência 
e o ‘comportamento’ de membros de grupos minoritários, e essas experiências 
também podem contribuir para representações sociais mais ou menos precon-
Discurso e cognição na sociedade 27
ceituosas sobre grupos minoritários (Hamilton, 1981). Mas as aparências e o 
comportamento só podem ser entendidos com base nas cognições sociais. Sabe-
se, por exemplo, que as diferenças ‘raciais’ são construções ou representações 
sociais, e não fatos objetivos, observáveis. Este é também a fortiori o caso das 
diferenças culturais percebidas que fundamentam muito do moderno racismo-
-etnicismo. E isso também é verdade para a interpretação valorativa e tenden-
ciosa do comportamento das minorias em termos de estereótipos e preconceitos 
(Bar-Tal, Graumann, Kruglanski & Stroebe, 1989). Além disso, o preconceito e 
a discriminação por membros do grupo maioritário não pressupõem contatos 
diretos ou observações das minorias. Na verdade, muito do racismo moderno 
pode ser entendido como ‘simbólico’ (Dovidio & Gaertner, 1986). Muito do que 
grande parte dos grupos maioritários sabe ou crê acerca das minorias é adqui-
rido por meio do discurso e da comunicação (ver Jäger, 1992; Van Dijk, 1984, 
1987a, 1991; Wodak, Nowak, Pelikan, Gruber, De Cillia & Mitten, 1990). Em suma, 
qualquer abordagem para o estudo de como o racismo é reproduzido deve levar 
em conta as representações sociais partilhadas, mas também deve considerar o 
discurso como um dos principais meios pelos quais as representações sociais são 
adquiridas, compartilhadas e corroboradas.
Nas sociedades ocidentais de hoje em dia, muito do que as pessoas brancas 
sabem ou acreditam sobre as relações étnicas é derivado da mídia, a partir de 
notícias jornalísticas, programas de TV, cinema, publicidade e literatura – ou 
seja, a partir do discurso que está sendo produzido pelas elites simbólicas (ver 
Hartmann & Husband, 1971; Wilson & Gutiérrez, 1985; Wodak et al., 1990). 
Essas elites, por sua vez, adquirem grande parte de suas informações e crenças 
étnicas de outros discursos da mídia e de discursos da política, da academia e 
de outros discursos da elite. Apenas marginalmente, seus pontos de vista são 
adquiridos a partir de ‘observações’ independentes ou de fontes fora da elite, tais 
como entrevistas ou relatos de testemunhas de pessoas brancas ‘comuns’.Os 
discursos da elite são, portanto, a principal fonte de informações e de opiniões 
acerca de assuntos étnicos. Isso também é verdade, indiretamente, para as fontes 
de conversas cotidianas sobre assuntos étnicos, que são também amplamente 
baseadas em informações dos meios de comunicação de massa. Desse modo, 
tendo em vista que as (inter)ações discriminatórias são fundamentadas em 
modelos moldados pelas cognições sociais, e uma vez que esses modelos e cogni-
ções sociais sobre assuntos étnicos são parcialmente derivados do discurso (da 
Revista Portuguesa de Humanidades | Estudos Linguísticos28
elite), então as elites desempenham um papel de destaque – ou mesmo ‘exemplar’ 
– na reprodução do racismo.
5. Consequências das representações sociais
Se a dominação étnica pressupõe uma cognição socialmente partilhada, e 
se a aquisição das representações sociais sobre assuntos étnicos depende em 
grande parte do discurso, então a pergunta a ser feita é: como exatamente o 
discurso influencia essas representações? Em vez de falarmos sobre ‘influên-
cias’ vagas ou sobre processos não especificados de persuasão, precisamos 
enumerar as várias estratégias cognitivas que fundamentam a compreensão 
do discurso, os processos de inferência e a formação e mudança das represen-
tações sociais como resultado desses processos. Isso pressupõe uma análise 
das várias estruturas do discurso que podem ser particularmente eficazes na 
(trans)formação das representações sociais. Por outro lado, uma vez que o 
discurso também pode exprimir ou, ao contrário, ‘codificar’ representações 
sociais subjacentes, essa análise responde em parte à questão complementar 
de como as representações sociais são expressas mais efetivamente no texto 
e na fala acerca de assuntos étnicos.
Há um grande número de propriedades do discurso que podem exercer 
um efeito potencial sobre a formação, mudança ou confirmação das repre-
sentações sociais. Em vez de examinar todas essas propriedades discur-
sivas, irei argumentar em ‘ordem inversa’, destacando primeiramente alguns 
dos processos envolvidos na cognição social e, em seguida, tentarei prever 
teoricamente quais estruturas do discurso são particularmente relevantes 
ao produzir efeitos sobre esses processos. Há uma vasta literatura na psico-
logia cognitiva e social, bem como na comunicação interpessoal e de massa, 
sobre os modos como os falantes influenciam ou persuadem suas audiências 
(ver, por exemplo, Bostrom, 1983; Eagly & Chaiken, 1984). Nossa discussão 
se concentra apenas em alguns aspectos frequentemente negligenciados 
dessas ações e processos, especialmente sobre as relações entre estruturas e 
propriedades específicas da cognição (social).
Vimos anteriormente que as representações sociais, tais como scripts 
de conhecimentos, atitudes e ideologias, podem ser derivadas de modelos 
de evento e de contexto. Isso acontece através de processos de abstração, 
generalização e descontextualização. Conhecimentos e opiniões individuais 
acerca de eventos particulares são transformados em scripts socialmente 
partilhados sobre episódios estereotipados e, portanto, em atitudes de grupos 
Discurso e cognição na sociedade 29
brancos sobre grupos de minorias étnicas ou seus membros prototípicos. Sem 
discussões mais demoradas sobre os precisos processos cognitivos envolvidos, 
podemos assumir que a formação das representações sociais é facilitada por 
uma ou mais das seguintes condições, entre outras:
• As representações sociais resultantes podem ser subsumidas por uma 
estrutura ideológica que reflete os interesses do grupo.
• Existem representações sociais que possuem conteúdos e estruturas 
semelhantes.
• As estruturas dos modelos são semelhantes aos das representações 
sociais.
• Os membros são repetidamente confrontados com modelos similares.
• Os modelos são consistentes com outros conhecimentos e crenças, ou 
seja, eles são plausíveis e, portanto, aceitáveis.
• Os autores do discurso (tal como se encontram representados no 
modelo de contexto) são considerados confiáveis e dignos de crédito.
Vamos examinar essas condições mais detalhadamente, aplicando-as às 
notícias jornalísticas e aos modelos sobre eventos étnicos (para detalhes, ver Van 
Dijk, 1991). Se é do interesse do grupo dominante que os membros dos grupos 
minoritários tenham menos acesso a recursos sociais valorizados, então as 
atitudes controladas por essa ideologia autocentrada devem enfatizar aquelas 
opiniões específicas que são compatíveis ou mesmo que contribuam com a reali-
zação desse objetivo. Por exemplo, se a competição por recursos escassos é 
representada como sendo incompatível com os interesses do grupo dominante, 
então a competição deve ser evitada, e essa opinião pode, por sua vez, exigir o 
desenvolvimento da opinião social de que a imigração em grande escala geral-
mente aumenta a competição. Da mesma forma, se o desemprego é considerado 
incompatível com interesses de certas pessoas e se ele é visto como resultado da 
imigração, então a imigração pode ser avaliada negativamente. Se os estrangeiros 
já imigraram, então o recurso valorizado em questão (obter o melhor trabalho 
possível) pode ser ‘protegido’ por encontrar ‘boas razões’ pelas quais as mino-
Revista Portuguesa de Humanidades | Estudos Linguísticos30
rias devem ter menos acesso a esses empregos. Essas razões podem consistir, por 
exemplo, em preconceitos étnicos de que as minorias são menos qualificadas, que 
elas são preguiçosas, que não têm a mentalidade correta para o emprego, que têm 
uma cultura diferente e, portanto, tornam o ambiente de trabalho menos confor-
tável, e assim por diante (para detalhes sobre essas ideologias e atitudes étnicas, 
ver, por exemplo, Fernandez, 1981; Jenkins, 1986; Van Dijk, 1993b).
Em resumo, dada uma estrutura ideológica específica – por exemplo, o 
nacionalismo ou o etnocentrismo –, as atitudes bem aceitas são daqueles cujas 
opiniões apoiam os interesses (objetivos, valores) incorporados nessa estru-
tura. Isso significa que uma atenção especial é conferida aos modelos que 
permitem uma generalização ‘autorrealizável’ em relação a essas atitudes. Por 
exemplo, os eventos podem ser interpretados subjetivamente com o propósito 
de evidenciar que, de fato, um trabalhador específico da minoria era incom-
petente, não colaborava, ou não tinha a ética de trabalho necessária (Snyder, 
1981). Relações semelhantes entre modelos e atitudes podem ser assumidas 
por muitos outros domínios sociais, tais como habitação, educação, bem-estar 
e segurança. Em outras palavras, atitudes étnicas preconceituosas tendem 
a apresentar aquelas opiniões sobre minorias étnicas que dizem respeito às 
condições do seu acesso igualitário aos recursos sociais, e os modelos são 
selecionados ou construídos de modo a fornecer suporte a tais opiniões.
Quando atitudes assim já foram desenvolvidas para grupos como turcos, 
marroquinos ou mexicanos, é relativamente fácil desenvolver atitudes seme-
lhantes para outros grupos de imigrantes. Com exceção da identidade dos 
atores principais, estruturas e conteúdos abstratos da nova atitude podem ser 
simplesmente ‘copiados’, quer existam ou não modelos relevantes apoiando 
essas atitudes. Essa é justamente a propriedade característica dos precon-
ceitos: são atitudes negativas sobre as minorias étnicas que não são supor-
tadas por modelos; ou, como veremos a seguir, são baseados em modelos 
tendenciosos ou insuficientes.
Também podemos assumir que as estruturas e os conteúdos internos 
das atitudes são mais fáceis de obter a partir de modelos que se assemelham 
bastante a eles, como por exemplo, no caso em que o próprio modelo apresenta 
opiniões gerais (tais como ‘as minorias são menos qualificadas’) ou represen-
tações de eventos que permitem esse tipo de opinião como uma inferência 
óbvia. De fato, as próprias relaçõesde inferência entre opiniões sociais mais 
gerais e mais específicas que definem atitudes étnicas podem ser expressas no 
próprio discurso como declarações genéricas (‘as minorias são menos quali-
ficadas’, ‘as minorias não falam bem a nossa língua’, ‘as minorias têm menos 
educação’). Isso é o que normalmente ocorre no discurso argumentativo. 
Discurso e cognição na sociedade 31
Da mesma forma, opiniões específicas sobre minorias – por exemplo, sobre a 
sua presumível falta de competência – são facilitadas se forem consideradas 
compatíveis com outras opiniões ou conhecimentos sociais já existentes (por 
exemplo, ‘as minorias geralmente possuem menos educação’).
Considerando que a formação da atitude é facilitada por modelos específicos, 
então esses próprios modelos também precisam cumprir determinadas condi-
ções. Em primeiro lugar, eles devem ser considerados subjetivamente confiá-
veis. Ou seja, eles não podem ser, em princípio, flagrantemente incompatíveis 
com outros fatos conhecidos, isto é, com outros modelos. Em caso de incompa-
tibilidade, operações especiais de descrédito devem ser aplicadas para tornar 
essa comparação menos convincente. Na verdade, isso é o que acontece em uma 
compreensão preconceituosa do discurso. A credibilidade pode, assim, ser subs-
tituída pelo ‘ajuste’ de um modelo no que diz respeito a uma atitude mais geral. 
Se jovens negros são considerados particularmente violentos ou criminosos, 
então histórias que ilustram esse tipo de atributo imputado serão mais facilmente 
aceitas do que aquelas histórias incompatíveis com essa atitude. Podemos admitir 
que os modelos mais eficazes são os que estão em consonância com atitudes gerais 
e apresentam fatos ou argumentos que empiricamente corroboram a opinião 
negativa sobre um evento particular. Isso também é verdade no que se refere à 
credibilidade do escritor (jornalista, jornal). Um jornal liberal de qualidade, ao 
relatar ‘fatos’ negativos sobre as minorias, terá mais credibilidade – pelo menos 
para os leitores liberais – do que um tabloide de direita explicitamente xenófobo. 
Por razões semelhantes de generalização, os modelos devem apresentar 
atores que possuam propriedades prototípicas. Assim, em modelos sobre crimes, 
drogas, roubos ou violência, um jovem homem negro é mais prototípico do que 
uma mulher idosa da Índia, que, por sua vez, pode ser mais prototípica em uma 
história sobre pobreza. Isso também é verdade para atores das maiorias, que 
devem ser representados de tal maneira que boa parte das pessoas brancas 
possa se identificar ou ser solidária com eles. Em geral, portanto, modelos étnicos 
confiáveis devem indicar claramente a diferença entre NÓS (positivo) e ELES 
(negativo), apresentando atores prototípicos e episódios estereotipados em cená-
rios familiares. Isso facilita a sua compreensão e também aumenta a sua plausi-
bilidade, aceitabilidade e generalização. Mas episódios estereotipados podem ser 
tão comuns a ponto de se tornarem menos notáveis e, portanto, menos memorá-
veis. Para que os modelos sirvam como base para contar histórias em processos de 
compartilhamento informal e conversacional, é necessário que os eventos sejam 
interessantes, relevantes e notáveis. Além das condições dos modelos mentais, 
Revista Portuguesa de Humanidades | Estudos Linguísticos32
também podemos estabelecer condições para as histórias e, mais genericamente, 
condições para o discurso ‘efetivo’.
6. Estruturas do discurso
A partir dessas estruturas preferenciais de modelos e representações sociais, 
podemos especular sobre que propriedades os discursos – tais como as notícias 
jornalísticas – devem possuir a fim de promover a credibilidade, a aceitabilidade e 
a formação de representações sociais compatíveis com as ideologias subjacentes 
à reprodução do racismo na sociedade. Teórica e metodologicamente, no entanto, 
deve ser enfatizado que a própria complexidade dessas relações e condições não 
permite uma determinação. Notícias jornalísticas que possuem essas estruturas 
preferenciais nem sempre apresentam tais ‘efeitos’ sociocognitivos. Em vez disso, 
essas consequências são gerais e estruturais. Em muitos contextos comunica-
tivos, elas facilitam o processamento cognitivo específico e, consequentemente, 
as funções sociais. Igualmente cruciais são as atitudes e ideologias existentes dos 
leitores. As mesmas notícias estereotipadas podem ser lidas de ‘maneira oposi-
cionista’ por parte de alguns grupos de leitores, como as próprias minorias, cujas 
ideologias não favorecem o desenvolvimento de preconceitos negativos sobre 
minorias. Ou, ao contrário, seu julgamento pode se voltar para o jornalista ou o 
jornal, como um indicativo de reportagem preconceituosa.
Com essa ressalva em mente, vamos examinar alguns exemplos de estru-
turas de notícias que promovem a formação de modelos étnicos de situação 
‘preferenciais’, como especificado anteriormente (para introduções às teorias de 
discurso, ver Schiffrin, Tannen & Hamilton, 2014; Van Dijk, 2011; Wodak & Meyer, 
2015). 
Tópicos. O sentido do discurso pode ser descrito em dois níveis: o 
(micro)nível local dos sentidos da palavra e da oração; e o (macro)nível global 
dos tópicos. Os tópicos – representados teoricamente como proposições 
que formam sua macroestrutura semântica – incorporam as informações 
mais importantes de um discurso e desempenham um papel cognitivo vital 
na produção e compreensão. Eles definem a coerência geral (global) que 
confere unidade necessária a um texto. Os tópicos são por vezes direta-
mente expressos no discurso, como é o caso das manchetes e dos leads (que 
definem o sumário) de reportagens. Os tópicos expressam as informações 
mais importantes (de nível mais elevado) dos modelos mentais, e também são 
usados pelos leitores para construir esses modelos. Num certo sentido, os 
Discurso e cognição na sociedade 33
tópicos podem ser vistos como ‘definindo a situação’ subjetivamente; aquilo 
que é informação tópica em uma reportagem exerce influência para definição 
da informação mais importante sobre um evento jornalístico no modelo dos 
leitores.
Nas notícias sobre assuntos étnicos, os tópicos definem a situação étnica e 
podem também manipular as maneiras como os leitores interpretam o evento 
jornalístico. Assim, distúrbios urbanos provocados por jovens negros podem ser 
definidos como uma ‘rebelião racial’ no tópico principal (expresso, por exemplo, 
na manchete do jornal), salientando sua violência irracional, em vez de defini-los 
como um ato de protesto ou como uma forma de resistência. Tendo em vista que 
o desvio e a violência de jovens negros consistem em elementos estereotipados 
de preconceitos raciais, esses modelos são relativamente fáceis de serem gener-
alizados, podendo confirmar preconceitos existentes. Da mesma forma, outros 
tópicos importantes do texto podem ser ignorados (como, por exemplo, a pobreza, 
a discriminação, o assédio da polícia), enquanto outros tópicos relativamente 
pouco importantes são salientados – através de estratégias controladas pelas 
representações étnicas do jornalista. Dependendo das representações sociais do 
leitor, naturalmente, os tópicos sugeridos pelas reportagens podem muito bem 
ser transformados em tópicos diferentes: leitores das minorias ou leitores brancos 
antirracistas podem encontrar numa determinada reportagem jornalística infor-
mações muito importantes e bastante diferentes, podendo desconsiderar a estru-
tura tópica persuasiva da reportagem.
Os modelos são mais facilmente generalizados como representações 
sociais quando são usados repetidamente, como pode ser o caso dos modelos 
acerca dos crimes cometidos por minorias étnicas. Isso não significa, contudo, 
que os membros do grupo majoritário deixem de formar atitudes preconcei-
tuosas com base em uma ou duas experiências apenas. Uma pesquisa sobre 
notícias jornalísticastratando de minorias étnicas revelou que, de fato, o crime 
é um dos tópicos mais frequentes (para detalhes, ver Van Dijk, 1991). Isso 
também é verdade para as notícias sobre imigração, diferenças culturais e 
relações raciais, que também constituem os principais tópicos em conversas 
cotidianas e refletem a frequência e a proeminência desses temas na mídia. 
Tópicos menos estereotipados, tais como as contribuições das minorias para 
a economia, para as artes ou na organização política, são relativamente raros. 
Isso nos conduz a modelos bem menos estabelecidos e menos completos, os 
quais, por sua vez, podem prejudicar uma formação mais neutra do conheci-
mento e das crenças sobre as minorias.
Em resumo, os tópicos especiais podem, indiretamente, desempenhar um 
papel na formação de crenças sociais sobre as minorias: pela sua influência na 
Revista Portuguesa de Humanidades | Estudos Linguísticos34
formação dos níveis mais elevados (e facilmente recuperáveis) de modelos, 
bem como pela sua frequência. Socialmente falando, os tópicos especiais não 
se limitam a expressar os modelos individuais de um jornalista, mas sobretudo 
as representações sociais e os modelos generalizados e compartilhados dos 
jornalistas e dos jornais enquanto instituições, assim como das suas fontes na 
elite. É por isso que tópicos étnicos frequentes normalmente refletem os princi-
pais interesses e preocupações das elites brancas.
Esquema. O sentido global de um discurso – quando representado em 
tópicos – é geralmente organizado através de categorias fixas e convencio-
nais, que formam um esquema ou uma superestrutura textual geral. Tal 
como se observa nas histórias ficcionais ou nos argumentos, as reportagens 
na imprensa também possuem um esquema desse tipo, apresentando cate-
gorias convencionais, como Sumário (Manchete + Lead), Evento Principal, 
Backgrounds (História + Contexto), Reações Verbais e Comentários 
(Avaliação + Expectativas) (ver Van Dijk, 1983). Esse esquema também define 
a ordem canônica dos tópicos e seus correspondentes fragmentos textuais na 
notícia jornalística, embora os tópicos da notícia possam se mostrar descon-
tínuos: a informação organizada por um tópico pode ser entregue em várias 
‘prestações’, ao se colocar a informação mais importante em primeiro lugar e 
os detalhes por último.
Embora os esquemas formais do texto não produzam sentido por si próprios, 
a presença, ausência ou ordem das categorias específicas podem ser bastante 
significativas e influenciar as estruturas dos modelos e, por extensão, as repre-
sentações sociais. Já vimos anteriormente que é importante observar quais 
tópicos encontram-se expressos na categoria Manchete e quais tópicos não o são. 
Da mesma forma, a informação na categoria Background normalmente facilita 
a interpretação de um evento jornalístico atual (expresso na categoria Evento 
Principal), fornecendo informações sobre as causas ou o contexto sociopolítico. 
Se uma reportagem sobre o desemprego da população minoritária não especi-
fica na categoria Background que o desemprego também pode ter como causa a 
discriminação, então os leitores podem ser levados a construir modelos parciais 
do evento – quando não tendenciosos – acerca do desemprego das minorias, o 
que pode, por seu turno, afetar as representações sociais sobre essa questão. Isso 
é o que ocorre, de fato, muitas vezes: as notícias sobre as minorias normalmente 
omitem a categoria Background, ou só enfatizam características negativas da 
população minoritária e, assim, frequentemente culpam a vítima. Da mesma 
forma, a categoria Reações Verbais tende a apresentar citações de autoridades 
brancas.
Discurso e cognição na sociedade 35
Sentido local. Uma vez que os tópicos e os esquemas da notícia jornalística 
definem o nível global das reportagens, precisamos prestar atenção também aos 
sentidos locais das palavras e orações (proposições) efetivamente expressas 
e suas relações imediatas. Uma noção importante nesse nível de análise é a 
coerência (local). Orações subsequentes (ou melhor, as proposições expressas 
pelas orações) revelam-se coerentes sob duas condições: (1) extensionalmente, 
quando denotam fatos cujas representações mentais estão relacionadas no 
modelo mental do texto (por exemplo, por relações de causa, condição ou tempo); 
e (2) intensionalmente, quando uma proposição apresenta uma função específica 
em relação à outra, geralmente anterior (por exemplo, uma especificação, uma 
generalização, um exemplo, um contraste). Portanto, as relações de coerência, tal 
como expressas no texto, nos dizem algo sobre a estrutura dos eventos nas notí-
cias e como eles se encontram representados no modelo do jornalista. As relações 
de coerência em reportagens também podem sugerir relações entre fatos que, na 
verdade, não existem. Nas notícias envolvendo temas étnicos, podemos esperar, 
por exemplo, a ocorrência de marcadores de coerência tendenciosos, que sugerem 
certas explicações preferenciais para questões étnicas, como o desemprego. É 
o caso do uso de frases como ‘devido aos seus baixos níveis de educação’, 
sugerindo que a deficiência na educação é (a única ou a principal) causa do 
desemprego. É nesse sentido que uma reportagem em um tabloide britânico 
enfatizou que o proprietário branco de um clube, condenado por discrimi-
nação contra um cantor negro, havia sido várias vezes assaltado por homens 
negros. Mencionar essa ‘causa psicológica’ pode ser interpretado como uma 
desculpa nesse caso. Como vimos anteriormente na categoria esquemática do 
Background, essas formas locais de estratégias de coerência tendenciosas e 
subjetivas podem influenciar a estrutura dos modelos e, portanto, as repre-
sentações sociais acerca das minorias (para uma análise mais detalhada de 
exemplos similares sobre as ‘explicações’ da elite sobre o desemprego das mino-
rias na mídia, assim como nos discursos políticos e corporativos, ver Van Dijk, 
1993b).
Outra propriedade importante do sentido local é a implicitude. Os modelos 
geralmente incorporam muito mais informações sobre um evento do que aquilo 
que os falantes ou escritores normalmente expressam. Isso ocorre porque se 
assume que essas informações já são conhecidas pelos ouvintes/leitores, ou 
porque a informação é contextualmente irrelevante ou desinteressante, ou ainda 
porque os destinatários podem inferir essas informações a partir da informação 
expressa. Semanticamente falando, os discursos são pontas dos icebergs da infor-
mação representada em seus modelos subjacentes, em que a maioria das infor-
Revista Portuguesa de Humanidades | Estudos Linguísticos36
mações permanece implícita no texto. Para notícias sobre assuntos étnicos, é 
possível prever que justo a informação que permanece implícita é a que poderia 
refletir positivamente sobre as minorias e negativamente sobre a maioria. Isso 
também é verdade para os pressupostos sinalizados em uma notícia jornalística, 
que podem sugerir que algum fato é do conhecimento geral, mesmo que tal fato 
sequer exista. Se os jornais, acompanhando as ideias de políticos conservadores, 
afirmam que ‘este país tolerante não pode admitir mais refugiados’, então essa 
afirmação pressupõe que ‘o nosso país é tolerante’ – uma opinião que, na melhor 
das hipóteses, é controversa. As implicações sugeridas constituem uma estratégia 
branca indireta e poderosa de influenciar as estruturas dos modelos.
Os eventos podem ser descritos com mais ou menos detalhes e em níveis 
de representação mais ou menos gerais ou específicos. No caso das report-
agens jornalísticas, as informações mais relevantes, importantes e noti-
ciosas são descritas com um maior detalhamento. Em conformidade com as 
previsões formuladas anteriormente, podemos esperar mais detalhes e mais 
especificidade para aqueles tópicos que são compatíveis com estereótipos e 
preconceitos, tais como a criminalidade,a violência, o desvio ou as diferenças 
culturais, e menos para o preconceito branco, a discriminação e o racismo, 
como de fato ocorre.
Finalmente, as relações funcionais entre as proposições no discurso 
também podem apresentar uma natureza mais estratégica. Isto é, elas 
podem constituir movimentos ou ‘passos’ locais num discurso global e numa 
estratégia interacional. Movimentos característicos nos discursos sobre 
assuntos étnicos são as ressalvas (disclaimers), tais como a Negação Aparente 
(‘Não temos nada contra a comunidade negra, mas...’) ou a Concessão Aparente 
(‘Os turcos têm uma cultura muito rica, mas...’). Esses movimentos semân-
ticos, por um lado, contribuem para a estratégia global de autoapresentação 
positiva do grupo branco e de seus membros e, ao mesmo tempo, preparam 
um movimento cuja função é a estratégia de apresentação negativa do outro 
grupo. Esses movimentos estratégicos podem exercer uma forte influência 
sobre os modelos dos leitores no que diz respeito aos eventos étnicos, uma vez 
que permitem o desenvolvimento de opiniões negativas sobre as minorias, 
sem que o leitor se sinta culpado por incorrer em racismo. O modelo, assim 
estruturado, não viola as normas sociais de tolerância.
Estilo. No nível da escolha das palavras, podemos também observar usos 
estilísticos que exercem impacto sobre a formação de opiniões nos modelos 
mentais. Na imprensa, a escolha de itens lexicais usados para descrever pessoas, 
ações ou eventos depende das opiniões, atitudes e ideologias do jornalista. É o 
Discurso e cognição na sociedade 37
caso, por exemplo, do bem conhecido uso dos termos ‘lutador pela liberdade’ 
versus ‘terrorista’, empregados nos discursos de Reagan sobre a Nicarágua. 
Analogamente, apesar de o abuso sofrido pelas minorias não ser mais tão comum 
em reportagens contemporâneas, pelo menos na imprensa de qualidade, podemos 
esperar – e, de fato, encontrar – grupos minoritários, especialmente jovens 
negros do sexo masculino e suas ações, sendo descritos sobretudo com palavras 
negativas (tais como ‘bando’). Da mesma forma, os ‘distúrbios’ das minorias serão 
geralmente descritos como uma ‘rebelião’ pela imprensa de direita. De acordo 
com leitores antirracistas na Inglaterra, a imprensa dos tabloides britânicos de 
direita detém uma impressionante lista de termos abusivos, rotineiramente se 
referindo às minorias como ‘bandos de ativistas’, ‘invasores’, ‘baderneiros’, ‘agita-
dores’, ‘fanáticos esquerdistas’, entre outros. As opiniões veiculadas por meio 
desses itens lexicais são óbvias, assim como o são também os modelos prefer-
enciais dos leitores desses tabloides. O inverso é verdadeiro no que se refere à 
cobertura jornalística sobre a polícia e sobre os cidadãos (brancos) ‘cumpridores 
da lei’, que tendem a ser elogiados ou descritos de forma neutra, ou mesmo como 
vítimas de violência ou de crime praticados por homens negros. Mais uma vez, a 
frequente repetição desses termos pode rapidamente confirmar as opiniões nega-
tivas que elas expressam, e esses modelos podem ser facilmente generalizados 
para atitudes muito negativas sobre a ‘intolerância’ da ‘brigada’ antirracista. Por 
outro lado, palavras como ‘racismo’ são totalmente evitadas ou, ao menos, colo-
cadas entre aspas, ou ainda atenuadas com o uso de termos mais brandos, como 
‘discriminação’, ‘intolerância’, ‘xenofobia’ ou simplesmente ‘ressentimento’.
Sintaxe. As estruturas formais das orações também podem ser usadas para 
expressar e veicular de forma persuasiva um modelo tendencioso de eventos 
étnicos. A ênfase nos atores da notícia ou em suas ações, bem como a perspec-
tiva de sua importância na reportagem são elementos que podem ser codificados 
através da ordem das palavras na oração. Por exemplo, muitas vezes tem sido 
demonstrado que os atores minoritários tendem a ser colocados em posições no 
início do tópico oracional – ou seja, como sujeito sintático e agente semântico –, 
caso eles estejam envolvidos em ações negativas (por exemplo, ‘Jovens negros 
envolvidos no caso do roubo’). O inverso é verdadeiro para os atores majoritários. 
Sua agência negativa pode ser atenuada ou mesmo apagada, deixando-a implícita, 
com ocorre nas orações passivas (por exemplo, ‘Jovens negros espancados 
pela polícia’ ou ‘Negros espancados’), ou também nas nominalizações (‘Negros 
vítimas de agressão’) (ver Fowler, 1991; Fowler, Hodge, Kress & Trew, 1979). 
Normalmente, a sintaxe codifica relações semânticas, assim como a perspec-
tiva ou a ênfase em relações específicas, tal como representado nos modelos 
Revista Portuguesa de Humanidades | Estudos Linguísticos38
jornalísticos subjacentes. Dessa forma, as estruturas sintáticas também podem 
influenciar sutilmente as representações dos eventos étnicos nos modelos dos 
leitores, como por exemplo, enfatizando ou desenfatizando a agência e a respons-
abilidade por ações positivas ou negativas.
Retórica. Dentre as várias outras propriedades do discurso noticioso, 
devemos mencionar também aquelas ligadas à retórica, tais como a aliteração, 
a metáfora ou a hipérbole. Assim como ocorre com todas as estruturas formais, 
essas propriedades retóricas não possuem interpretações semânticas diretas. 
No entanto, as estruturas retóricas são usadas para atrair a atenção, destacar, 
enfatizar ou desenfatizar sentidos específicos do discurso. Desse modo, prop-
osições acerca de propriedades negativas das minorias podem ser destacadas 
(e, portanto, podem ser mais bem processadas e futuramente recordadas) 
através da rima, aliteração, repetição ou hipérbole, como é o caso da imprensa 
britânica dos tabloides. Por outro lado, as proposições negativas sobre atores 
majoritários são normalmente discretas e minimizadas em muitos aspectos 
retóricos. Essas estruturas formais fazem um convite a interpretações 
semânticas específicas, com foco em propriedades específicas de modelos, 
e sublinhando a relevância de opiniões étnicas específicas representadas 
nesses modelos.
7. Revisitando a teoria
A teoria multidisciplinar sintetizada neste artigo foi sendo gradualmente 
desenvolvida a partir do início da década de 1980, especialmente para dar 
conta da reprodução discursiva do racismo na sociedade. Nos últimos 20 anos, 
essa abordagem triangular, relacionando discurso e sociedade através de uma 
interface cognitiva, tem se mostrado muito bem-sucedida como fundamento 
geral para os Estudos Críticos do Discurso (ECD). Apesar de os principais 
componentes da teoria já terem sido mencionados acima, muitos deles têm 
sido desenvolvidos desde então, tal como resumido a seguir.
Infelizmente, muitas pesquisas nos ECD ainda hoje ignoram a impor-
tância crucial de um componente cognitivo central e tendem a relacionar 
estruturas de discurso diretamente com microestruturas sociais de interação 
ou macroestruturas sociais de grupos ou instituições, seu poder e relações. 
Um dos muitos problemas com essa ligação direta discurso-sociedade é que 
as estruturas discursivas e as estruturas sociais são de natureza muito dife-
Discurso e cognição na sociedade 39
rente. Apenas uma interface cognitiva oferece a perspectiva teórica para 
estabelecer essa relação de forma explícita.
Assim, desde o início da década de 1980, foi demonstrado na Ciência 
Cognitiva que a produção e a compreensão do discurso são, em primeiro lugar, 
baseadas em modelos mentais que representam a situação sobre a qual trata o 
discurso. As pessoas não se lembram do discurso, mas de (fragmentos de) modelos 
mentais armazenados em sua Memória Episódica. Entre muitas outras funções 
cruciais, esses modelos mentais explicam a semântica da coerência local e global, 
e explicitam o que está implícito ou pressuposto pelo discurso. Em segundo 
lugar, já desde o começo dos anos 1970, sabemos que os processos discursivos são 
baseados em diferentes tipos de conhecimento, e que se esse conhecimento,por 
sua vez, é parcialmente construído ou atualizado pela compreensão do discurso. 
E, uma vez que a noção de modelo mental foi introduzida uma década mais 
tarde, sabemos que a aplicação e a geração de conhecimento ocorrem através 
desses modelos mentais. Por exemplo, uma notícia jornalística sobre um ataque 
terrorista é entendida por cada usuário individual da língua sob a forma de um 
modelo mental individual de um ataque desse tipo, possivelmente também apre-
sentando opiniões e emoções pessoais. Esse modelo mental, no entanto, não é 
apenas baseado na nova informação da notícia jornalística, mas também através 
da aplicação (‘instanciação’) do conhecimento socialmente partilhado sobre 
ataques terroristas. Mas temos gradualmente adquirido esse conhecimento 
genérico por meio do processamento discursivo (de notícias jornalísticas ou 
outras) e dos modelos mentais formados durante esse processamento, como 
por exemplo, através da generalização, abstração e descontextualização. 
Embora muitos detalhes dessas teorias cognitivas ainda sejam desconhecidos 
(ver comentário abaixo) – como é o caso das estruturas detalhadas de modelos 
mentais e de conhecimentos genéricos, e como elas são estrategicamente 
construídas ou ativadas –, esse quadro geral constitui mais ou menos uma 
teoria padrão. Nenhuma teoria do estudo crítico do discurso está completa 
sem essa perspectiva, já que ela vai além da descrição das muitas estruturas 
de discurso – como é o caso dos estudos gerais de discurso –, mas analisa como 
essas estruturas discursivas são realmente entendidas e memorizadas pelos 
usuários da língua.
No entanto, esse quadro geral da psicologia do discurso ainda está seria-
mente incompleto. Desse modo, desde o início dos anos 1990, temos desenvol-
vido ainda mais os outros componentes brevemente mencionados acima, ou 
seja, as teorias do contexto, da ideologia e do conhecimento.
Revista Portuguesa de Humanidades | Estudos Linguísticos40
Contexto. Tradicionalmente, a linguística e a análise do discurso vêm 
utilizando uma noção de ‘contexto’ que é vaga e mal definida. O contexto 
pode envolver, por um lado, o contexto comunicativo imediato e, por outro, 
o contexto sociopolítico mais amplo ou o background do discurso. Há vários 
problemas com essa noção tão vaga de contexto. Em primeiro lugar, não 
sabemos exatamente o que incluir nem no contexto comunicativo ‘local’, nem 
no contexto sociopolítico ‘global’. Em segundo lugar, como já argumentado 
anteriormente, as estruturas de contexto são muito diferentes das estruturas 
de discurso. Assim, como pode tal contexto influenciar a própria produção, 
as estruturas ou a compreensão do discurso (já que essa é a função central de 
contexto)?
A solução desse problema é oferecida pela mesma noção geral de modelos 
mentais que temos aplicado na teoria do processamento discursivo: os usuá-
rios da língua formam não só um modelo mental ‘semântico’ da situação 
sobre a qual trata o discurso, mas também um modelo mental ‘pragmático’ 
da situação comunicativa na qual eles estão participando no momento: um 
modelo de contexto. E, uma vez que esses modelos de contexto são cogni-
tivos, eles podem influenciar os processos cognitivos envolvidos na produção 
e compreensão do discurso. Em outras palavras, o contexto do discurso 
não é a situação comunicativa ou sociopolítica, mas sim os modos 
como os usuários da língua subjetivamente interpretam tais situações 
como modelos mentais. Isso também explica por que as pessoas na mesma 
situação comunicativa ou social não falam, escrevem ou compreendem o 
discurso da mesma forma, mas de modo variável, em função de seus diferentes 
modelos de contexto individuais. Utilizando um esquema de contexto geral – 
que consiste num número limitado de categorias relevantes, tais como Cenário 
(Tempo, Lugar), Participantes (Identidade, Papel, Relações), Atos Sociais, 
Objetivos e Conhecimento –, os usuários da língua analisam estrategicamente 
cada situação comunicativa, para cada gênero discursivo, e adaptam as estru-
turas de seu discurso para o modelo de contexto com essa estrutura. Em 
outras palavras, entre muitas outras coisas, os modelos de contexto explicam 
as condições de adequação dos atos de fala e, de forma mais geral, que estru-
turas de discurso (como por exemplo, seus sentidos, estilo, etc.) são apro-
priadas na situação comunicativa corrente. Assim, os modelos de contexto 
constituem a noção fundamental da pragmática do discurso.
Embora essa teoria das situações comunicativas tal como representadas 
em modelos de contexto seja uma extensão óbvia da psicologia cognitiva do 
discurso, a falta de testes laboratoriais extensivos até o momento tem impe-
dido a aceitação dessa teoria na psicologia. Na verdade, os testes laboratoriais 
Discurso e cognição na sociedade 41
discursivos frequentemente apresentam mais ou menos a mesma situação 
comunicativa, de modo que há pouco interesse em uma teoria mais pragmática 
e natural do processamento do discurso. O que se necessita é de uma situação 
‘experimental’ em que os usuários da língua contem uma experiência (como 
um roubo, por exemplo) a policiais na delegacia ou a seus amigos em casa: 
o mesmo modelo mental da experiência conduziria, nesse caso, a discursos 
muito diferentes devido aos diferentes modelos de contexto em cada situação 
comunicativa. Vemos que uma teoria dos modelos de contexto também 
explica como e por que os gêneros discursivos são diferentes e como estilo do 
discurso pode variar em diferentes situações de comunicação.
Mas talvez, de forma mais geral e crucial, essa teoria cognitiva do contexto 
nos forneça uma perspectiva de como relacionar o discurso à sociedade, mais 
especificamente às estruturas da situação comunicativa, tais como as identi-
dades sociais dos participantes e as relações entre eles (por exemplo, de poder), 
os atos de fala e outras ações sociais realizadas. Os modelos mentais geralmente 
são formados pela aplicação do conhecimento genérico. Isto também é verdade 
para os modelos de contexto. Assim, o modelo de contexto de jornalistas escre-
vendo uma notícia específica consiste numa instanciação específica do seu 
conhecimento geral não apenas sobre como escrever notícias jornalísticas, seus 
conteúdos, formatos e estilo, mas também sobre a situação institucional mais 
ampla da coleta, produção e publicação das notícias e o papel da mídia na socie-
dade. Dessa maneira, somos capazes de vincular os modelos de contexto da 
escrita de uma notícia jornalística ao conhecimento social e institucional mais 
amplo – mais uma vez, como a interface entre o discurso (jornalístico) e as orga-
nizações (jornalísticas) (para obter detalhes sobre essa teoria do contexto, ver 
Van Dijk, 2008a, 2008b).
Ideologia. Outro componente importante ausente na teoria clássica 
do processamento discursivo é o papel da ideologia. Na verdade, a teoria da 
ideologia foi desenvolvida principalmente na filosofia e nas ciências sociais, 
e geralmente ignorada na psicologia cognitiva e social. Do mesmo modo, 
as abordagens tradicionais sobre a ideologia nos ECD foram normalmente 
baseadas em noções vagas (como ‘falsa consciência’) na filosofia e nas ciên-
cias sociais, novamente ignorando a fundamental natureza sociocognitiva da 
ideologia e como ela influencia o discurso.
Assim, no final da década de 1990, desenvolvemos uma multidisciplina-
ridade da ideologia, definida como uma forma de cognição social partilhada 
pelos membros de grupos sociais específicos, como é o caso das ideologias 
feministas, socialistas, liberais, pacifistas, racistas, antirracistas, etc. (Van 
Revista Portuguesa de Humanidades | Estudos Linguísticos42
Dijk, 1998). A principal função dessas ideologias é controlar os processos 
cognitivos envolvidos na realização das práticas sociais dos membros do 
grupo ideológico, em geral, e seus discursos, emparticular.
Embora não haja ainda nenhuma teoria geralmente aceita para a estru-
tura interna das ideologias, podemos assumir provisoriamente que as ideolo-
gias são construídas em termos de um esquema com categorias que definem 
os principais parâmetros de grupos ideológicos, tais como sua Identidade, 
Ações, Objetivos, Normas e Valores, Grupos de Referência e Recursos.
Essas ideologias muito gerais, por sua vez, controlam atitudes mais espe-
cíficas socialmente partilhadas. Por exemplo, uma ideologia racista geral 
pode controlar atitudes mais específicas sobre a imigração, ação afirmativa e 
assim por diante.
Finalmente, essas atitudes sociais gerais podem, por seu turno, ser 
(pessoalmente) aplicadas nos modelos mentais construídos na produção ou 
compreensão do discurso. É dessa forma que damos conta do ‘viés’ ideológico 
na produção, nas estruturas ou na interpretação do discurso.
Como a maioria das ideologias encontra-se tipicamente polarizada 
entre grupos internos e grupos externos, entre Nós e Eles, uma estrutura 
desse tipo também pode aparecer em atitudes mais específicas e, por fim, nos 
modelos mentais dos usuários da língua. Isso explica por que grande parte do 
discurso ideológico é semelhantemente polarizada entre enfatizar as Nossas 
coisas boas e as coisas ruins Deles, e, inversamente, mitigar as Nossas coisas 
ruins e as coisas boas Deles. Por isso, as notícias jornalísticas sobre imigrantes 
ou minorias étnicas tendem a se concentrar em suas (supostas) proprie-
dades negativas (crime, drogas, etc.), ignorando suas propriedades positivas e 
contribuições. Por outro lado, o discurso das políticas públicas, da mídia e da 
educação raramente menciona ou detalha os Nossos preconceitos, discrimi-
nação, racismo, colonialismo ou escravidão.
Assim, as ideologias – enquanto estruturas sociocognitivas subjacentes 
socialmente partilhadas – explicam não apenas as estruturas do discurso 
ideológico, mas também as práticas sociais ideologicamente mais gerais (como 
a discriminação, por um lado, ou a resistência contra essa discriminação, por 
outro). Além disso, vemos como o discurso está envolvido na própria aqui-
sição de ideologias, uma vez que elas obviamente não são inatas, mas sim 
gradualmente aprendidas através do discurso de e com outros membros do 
grupo interno. E já que as ideologias representam as formas como os grupos 
sociais representam a si mesmos, essa teoria multidisciplinar novamente 
mostra como o discurso está relacionado a grupos sociais, a práticas sociais e 
Discurso e cognição na sociedade 43
a sistemas sociais de dominação, tais como os do racismo ou do sexismo, bem 
como a sua resistência através do antirracismo e do feminismo.
Conhecimento. Vimos anteriormente que, já desde os anos 1970, o papel 
crucial do conhecimento genérico no processamento discursivo tem sido 
reconhecido e explicitado, por exemplo, pelo uso de scripts na compreensão 
de histórias ou notícias jornalísticas.
No entanto, a teoria do conhecimento é muito mais geral e multidisci-
plinar, e também envolve ideias da epistemologia, da psicologia social, da 
sociologia, da antropologia e da linguística (Van Dijk, 2014). Assim, para 
descrever e explicar exatamente como o conhecimento controla as muitas 
estruturas do discurso, precisamos de uma teoria muito mais complexa do 
que aquela proposta na psicologia cognitiva e na Inteligência Artificial nas 
últimas décadas.
Enquanto que a teoria da ideologia se limita à explicação do discurso 
ideológico e de outras práticas sociais, uma teoria mais global do conheci-
mento é mais geral, fundamental e necessária para explicar virtualmente 
todas as estruturas do discurso.
Na verdade, uma teoria da ideologia pressupõe uma teoria mais geral do 
conhecimento. Por exemplo, para desenvolver ideologias racistas sobre mino-
rias étnicas, é preciso normalmente saber o que são essas minorias.
Vimos acima que a teoria do conhecimento nas ciências cognitivas 
explica, entre outras coisas, como os modelos mentais são formados e como 
eles, por sua vez, explicam a coerência ou os subentendidos do discurso. Mas o 
conhecimento, de forma muito mais geral, controla as estruturas de discurso, 
desde as estruturas fonológicas e sintáticas de orações e sentenças, bem como 
as estruturas das proposições, a coerência local e global das sequências de 
sentenças e turnos numa conversa, até a organização global de diferentes 
gêneros do discurso, por exemplo, das seguintes maneiras:
• Fonologia. A distribuição da ênfase nas frases: informações conhe-
cidas tendem a ser menos enfatizadas do que informações desconhe-
cidas.
• Sintaxe. Informações conhecidas geralmente aparecem antes de 
informações desconhecidas, como por exemplo, na articulação Tópico-
Foco das orações.
Revista Portuguesa de Humanidades | Estudos Linguísticos44
• Semântica. (i) Conceitos e proposições apresentam uma estrutura de 
frame similar ao esquema de modelos mentais de situações e experiên-
cias (Cenário, Participantes, Ações, etc.); (ii) as relações de coerência 
entre as proposições no discurso são (também) definidas em termos das 
relações (temporais, causais, etc.) entre eventos nos modelos mentais; 
(iii) o conhecimento pressuposto não é expresso no discurso, mas repre-
sentado em modelos mentais, e controla muitos aspectos discursivos, 
tais como expressões definidas, verbos factivos e assim por diante; (iv) 
muitas expressões no discurso, tais como modalidades e evidenciali-
dades, indicam como os falantes adquiriram o conhecimento expresso 
no discurso, por exemplo, por experiência pessoal (visão, audição, etc.), 
pelo próprio discurso ou por inferência, e o quão confiável é esse conhe-
cimento; (v) o conhecimento no discurso pode ser expresso com maior ou 
menor precisão ou vagueza, em vários níveis de especificidade ou gene-
ralidade, em várias ordens (por exemplo, todo > parte), etc.
• Pragmática. As condições de adequação dos atos de fala, como a afir-
mação, a pergunta, etc., muitas vezes pressupõem (a ausência de) um 
conhecimento, tal como definido no componente Conhecimento dos 
Modelos de Contexto. De modo mais geral, esse dispositivo Conhecimento 
dos modelos de contexto ‘calcula’, a cada momento, o que os Falantes 
sabem acerca do (provável) conhecimento dos destinatários e, portanto, 
que conhecimentos podem ser pressupostos e, assim, não virem expressos 
de forma explícita.
• Conversação. Existem muitas regras e estratégias sutis e complexas 
que controlam as formas como o conhecimento dos participantes pode 
ser expresso em conversas. Por exemplo, os participantes podem ter (ou 
terem tido) acesso mais ou menos direto ao conhecimento e, portanto, 
possuem primazia ou autoridade ao contar histórias que envolvam 
esse conhecimento.
• Estruturas do discurso. Além das estruturas mais locais de orações, 
frases ou turnos conversacionais, o conhecimento pode constituir 
esquemas e organizações discursivas mais globais, como por exemplo, na 
narração de histórias, na argumentação, nas exposições, nas provas, na 
organização de palestras ou artigos acadêmicos, e assim por diante. 
Geralmente, em cada ponto do discurso, todo conhecimento deve ser 
socialmente pressuposto ou introduzido ou definido anteriormente no 
Discurso e cognição na sociedade 45
discurso, como é o caso das notícias jornalísticas, bem como dos livros 
didáticos.
Essas e muitas outras estruturas do discurso não só são explicadas por 
uma complexa teoria multidisciplinar da organização do conhecimento na 
memória, mas também por aspectos sociais e culturais do conhecimento. De 
fato, o conhecimento é definido em termos das crenças partilhadas por comu-
nidades epistêmicas e através de critérios específicos de confiabilidade, 
como por exemplo, de experiência, discurso ou inferência. Essa definição 
introduz a base e as dimensões sociais e culturaisrelevantes do conheci-
mento, uma vez que controla todos os aspectos do discurso, como mencionado 
acima.
Finalmente, especialmente relevante para os ECD é que em comuni-
dades epistêmicas existem diferentes formas de acesso ao conhecimento 
como um recurso de poder. Em outras palavras, os especialistas e, em geral, 
as elites simbólicas (na política, na mídia, na educação ou na pesquisa acadê-
mica) podem ter acesso ao conhecimento e, portanto, aos gêneros e estru-
turas do discurso, aos quais outros participantes não têm ou o têm apenas 
parcialmente. Esse acesso diferenciado também permite várias formas de 
manipulação, por exemplo, quando os políticos ou jornalistas manipulam o 
público em geral por meio de histórias ou argumentos (jornalísticos) que favo-
recem políticas específicas, tais como o combate ao terrorismo, ou o apoio à 
guerra, ou ainda o bloqueio aos refugiados na entrada no país.
Com esses exemplos, vemos mais uma vez que uma teoria do discurso, 
bem como os estudos críticos do discurso sempre necessitam de três compo-
nentes detalhados e explícitos: um que descreva as estruturas de discurso, 
um que descreva as estruturas sociais e um que dê conta das estruturas cogni-
tivas que se relacionam com os seguintes elementos: modelos mentais semân-
ticos e pragmáticos, ideologias, atitudes e conhecimento.
8. Conclusões
As estruturas do discurso expressam as estruturas dos modelos mentais, 
os quais estão relacionados às representações sociais mais permanentes, tais 
como conhecimentos, atitudes e ideologias, que, por sua vez, constituem 
os modos partilhados como grupos e culturas representam seus objetivos, 
interesses, preocupações, estruturas ou instituições. Uma análise da posição 
do discurso ‘na’ sociedade precisa de uma interface cognitiva. Instituições, 
Revista Portuguesa de Humanidades | Estudos Linguísticos46
estruturas sociais, relações de grupo, membros do grupo, poder, domínio, no 
nível macro, bem como estruturas de situações e interações, no nível micro 
da sociedade, só podem ser expressos, marcados, descritos, produzidos ou 
legitimados no discurso através de suas representações em atitudes, scripts 
e modelos mentais de eventos. Isso também é verdade para a forma como o 
discurso afeta a situação social, os falantes, bem como as estruturas sociais 
mais amplas.
A análise, portanto, deve ser sempre do discurso-cognição-socie-
dade. Nesse triângulo de relações, tanto o discurso quanto a cognição não 
são apenas objetos linguísticos ou psicológicos, mas também inerentemente 
sociais. A cognição social é adquirida, usada e modificada em situações 
sociais, e o discurso é uma das principais fontes de seu desenvolvimento 
e mudança. Nenhuma ação ou prática social e, portanto, nenhuma relação 
entre grupos de poder ou dominação é concebível sem a cognição social e o 
discurso. Embora virtualmente todas as ciências humanas e sociais tenham 
dado atenção a alguns dos aspectos aqui discutidos acerca da ligação discur-
so-cognição-sociedade, isso tem sido estudado ainda muito superficialmente 
ou suas relações vitais têm sido negligenciadas.
Nos meus exemplos de como o racismo é reproduzido por meio do discurso 
noticioso, destaquei algumas das relações entre discurso, cognição social e socie-
dade. O discurso desempenha um papel proeminente na reprodução do racismo, 
definido como a dominação do grupo étnico. A dominação étnica, especialmente 
pelas elites brancas, pode ser produzida ao se limitar e controlar o acesso ativo 
ou passivo ao discurso, aos gêneros discursivos ou aos eventos comunicativos. 
Jornalistas e escritores das minorias, portanto, têm muito menos acesso aos 
meios de comunicação e, portanto, às notícias jornalísticas, em comparação 
com os grupos brancos, elites ou instituições. Eles também têm menos acesso a 
recursos, como assessorias de imprensa e conferências jornalísticas. Eles tendem 
a ser vistos como menos competentes, menos confiáveis e (portanto) como menos 
relevantes. Por consequência, suas atividades e opiniões são menos cobertas, o 
que os torna menos citados, influenciando, por sua vez, os modelos dos leitores 
para eventos étnicos. Esses modelos são, então, necessariamente parciais, dese-
quilibrados e organizados segundo a perspectiva do grupo branco. Assim, as 
estruturas de dominação – construídas nas rotinas de coleta e escrita das notícias 
– estão representadas nos modelos mentais dos jornalistas, que, por seu turno, 
influenciam as estruturas e os sentidos das reportagens.
A discussão detalhada acerca de algumas das estruturas dessas reporta-
gens revela que essas estruturas podem, por sua vez, conduzir a modelos mentais 
preferencias de eventos étnicos. Em geral, esses modelos tendem a representar 
Discurso e cognição na sociedade 47
negativamente as minorias; já o grupo dominante é representado como positivo 
ou neutro. Se esses modelos atenderem a uma série de outras condições – como 
semelhança estrutural, plausibilidade ou prototipicalidade –, eles podem 
ser generalizados para preconceitos socialmente partilhados, os quais, por sua 
vez, representam o nível ideológico do racismo. Assim, através dessas cognições 
sociais, os discursos podem contribuir para a reprodução do racismo na socie-
dade. Estruturas e estratégias de notícias manipulam a construção de modelos 
dos leitores e indiretamente fabricam o consenso étnico. Os tópicos do discurso 
(tais como crime, desvio, violência ou diferenças culturais de grupos minoritá-
rios) definem não só a situação étnica, mas também que informação deve ter uma 
posição de destaque nos modelos mentais. Os esquemas de notícias podem orga-
nizar ainda mais esses tópicos, de maneira a fazer com que alguns eventos sejam 
mais e outros menos proeminentes, como é o caso das propriedades negativas 
da maioria, primordialmente intolerância, preconceito e racismo. No nível do 
estilo, da retórica e dos sentidos locais, as propriedades negativas das minorias 
podem ser enfatizadas, de tal forma que os modelos facilmente se ‘encaixam’ ou 
confirmam estereótipos ou preconceitos existentes.
Embora seja capaz de codificar e realizar relações de dominação ou 
outras estruturas sociais de modo variado, através das mentes sociais dos 
membros do grupo, o discurso também pode, da mesma maneira, reproduzir 
essa dominação. Ele faz isso afetando os modelos e representações sociais 
dos membros da sociedade, que, por seu turno, monitoram as ações e inte-
rações sociais que ‘implementam’ a dominação. No nível macro, o discurso, 
portanto, condiciona indiretamente as relações de grupo, as organizações e as 
instituições que definem a estrutura social. Pesquisas num futuro próximo 
devem incidir sobre o que de mais sutil e complexo existe nessas relações 
entre o discurso, a cognição e a sociedade.
Referências
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