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1 UNIRP - CENTRO UNIVERSITÁRIO DE RIO PRETO Curso de Ciências Contábeis Iniciação à Contabilidade I Prof. MSC. Walter Mazzotti Filho Prof. Marcos Antonio do Prado Aula nº 2 História do Pensamento Contábil “Se enxerguei longe, foi porque subi no ombro de gigantes” disse Isaac Newton), referindo-se a todos os outros grandes físicos e matemáticos que trabalharam em prol da ciência antes dele. O mesmo aconteceu com Frei Luca Pacciolli, quando escreveu “Summa de arithmetica, geometria et proportioni et proportionalita - Tractatus Particularis de Cumputis et Scripturis “ e tornou-se o primeiro a sistematizar e publicar o processo das Partidas Dobradas. O estudo do pensamento contábil é necessário, pois reflete as ideias, as opiniões e reflexões dos contabilistas vividos em cada época com o objetivo de gerar informações para a tomada de decisão. O conhecimento de estudos e tratados históricos nos permite subir nos ombros dos principais pensadores das Ciências Contábeis e enxergar mais longe. O início da Contabilidade A Contabilidade nasceu, espontaneamente, com os agrupamentos humanos e o seu desenvolvimento está intimamente ligado ao progresso da sociedade. A história da Humanidade está repleta de inscrições atestando essa preocupação dos povos, independente de sua localização geográfica. No Egito (3.600 a 5.600 a.C.), muitos anos antes dos gregos e romanos, já escrituravam as entradas e saídas de ouro do tesouro dos faraós. Na Grécia (429 a 495 a.C.), a administração pública já mantinha cuidadosa escrituração de suas rendas e despesas. Os romanos (27 a.C. a 476 d.C.), seguindo o exemplo dos gregos, foram excelentes organizadores. Na conquista do Peru e México, pelos espanhóis, do outro lado do mundo, os registros de controle dos bens também foram encontrados, provando, assim, o desejo e a necessidade de controlar ou contabilizar os bens econômicos sempre foi objetivo dos povos. A partir do final do Império Romano até o século XIII, final da Idade Média, os registros dos fatos econômicos foram abrandados e consequentemente a Contabilidade não evoluiu. O primeiro grande surto de desenvolvimento da Contabilidade, data do início do século XIII, quando em 1202, Leonardo Fibonnacci, um negociante bizantino, trouxe da Índia as regras da aritmética e publicou um compêndio sobre cálculo comercial – “Liber Abaci” - considerado um marco entre a era da Contabilidade Antiga e a era da Contabilidade Moderna. A partir de Fibonnacci, a Contabilidade contribuiu poderosamente para as constantes transformações do mundo econômico. 2 3 O Renascimento e Frei Luca Pacciolli O Renascimento, período da história européia, caracterizada por um renovado interesse pelo passado greco-romano clássico, especialmente pela sua arte. Começou na Itália, no século XIV e difundiu-se por toda a Europa, durante os séculos XV e XVI, transformando a sociedade feudal da Idade Média em uma sociedade dominada por instituições políticas centralizadas, com uma economia urbana e mercantil, período em que floresceu o mecenato da educação, das artes e da música. O Renascimento foi uma época de descobertas. Colombo içou as velas e descobriu as Américas; pouco depois, Copérnico revolucionou a visão da humanidade em relação ao próprio firmamento. No campo da tecnologia, a invenção da imprensa revolucionou a difusão dos conhecimentos, e o uso da pólvora transformou as táticas militares, entre os anos de 1450 e 1550. No campo do direito, procurou-se substituir o abstrato método dialético dos juristas medievais por uma interpretação filológica e histórica das fontes do direito romano. Os renascentistas afirmaram que a missão central do governante era manter a segurança e a paz. Maquiavel sustentava que a virtú (a força criativa) do governante era a chave para a manutenção da sua posição e o bem-estar dos súditos. Foi nesse ambiente macroeconômico e social, primeiro surto da globalização, que o matemático e acadêmico italiano Frei Luca Pacciolli (1445 a 1514) incluiu em sua famosa obra "Summa de arithmetica, geometria et proportioni et proportionalita" (as obras acadêmicas mais sérias ainda eram escritas em latim), uma parte denominada "Tractatus Particularis de Cumputis et Scripturis" com a qual se tornou o primeiro grande expositor das partidas dobradas. Embora não fosse inventada por Pacciolli, as “Partidas Dobradas” recebeu o mais extenso tratamento até então. A noção de Contabilidade por partidas dobradas já se esboçara no Liher abaci, de Fibonacci, e aparecera em um livro publicado em torno de 1305, pela filial londrina de uma empresa italiana. Qualquer que tenha sido a sua origem, essa inovação revolucionária nos métodos contábeis teve importantes consequências econômicas, só comparáveis à descoberta da máquina a vapor trezentos anos depois. As observações de Luca Pacciolli são relevantes e atuais quanto o foi há mais de 500 anos. (HENDRIKSEN, 1999) transcreve parte dos escritos de Luca Pacciolli que descreve o que fazer após a confecção de um balancete, deve sempre que possível ser divulgado em função de sua clareza e objetividade. Escreveu Pacciolli: Para que tudo fique mais claro no encerramento mencionado, é necessário que faça esta outra comparação, a saber, somar numa folha de papel todos os débitos de Razão e colocá-los do lado esquerdo, e somar todos os créditos e colocá-los do lado direito, e depois estas últimas somas serão ressomadas; uma das somas será o total dos débitos, e a outra será o total dos créditos. Agora, se as 4 duas somas forem iguais, ou seja, uma for igual à outra, ou seja, as somas dos débitos e dos créditos, sua conclusão será a de que seu Razão terá sido bem mantido; mas, se uma das somas for maior do que outra, terá havido um erro no seu Razão o qual, com diligência, será melhor que o encontre com a inteligência que Deus lhe deu, e com os recursos de raciocínio que tiver adquirido, e que são muito necessários para o bom comerciante; caso contrário, não sendo um bom contador em seus negócios, andará como um cego, e muitas perdas poderão surgir. O escrito de Luca Pacciolli mostra-se atual e importante para os profissionais da Contabilidade no Brasil, principalmente o fato de que, no nosso país, a escrituração fiscal, cresceu em importância em detrimento da Contabilidade como geradora de informações para a tomada de decisão. Comentário Você percebe quanto o comentário de Luca Pacciolli é importante para os profissionais da Contabilidade no Brasil? Esta importância se deve principalmente ao fato de que, no nosso país, a escrituração fiscal cresceu em importância em detrimento da Contabilidade como geradora de informações para a tomada de decisão. E na Europa, qual teria sido a repercussão da publicação de Luca Pacciolli? Continue lendo o texto para descobrir. As Escolas de Contabilidade Européia A publicação de Luca Pacciolli desobstruiu o caminho da arte da escrituração para a ciência da informação dos negócios. Muitos foram os seguidores do grande mestre. Surgiram várias escolas do pensamento contábil, tentando explicar a razão de ser da Contabilidade e procurando caracterizar seu objeto e fins, tais como: Contismo, Personalismo, Controlismo, Reditualismo, Aziendalismo e Patrimonialismo. O Contismo considerava a Contabilidade como ciência das contas e foi a primeira escola de pensamento contábil. Seus líderes intelectuais foram Nicolo D’Anastasio, autor do livro “La scritturaa doppia ridotta a scienza”, 1803 e Giuseppe Bornaccini, autor do livro Idee teoretiche e oratauche di ragioneria e doppia registrazione, 1818. O Personalismo caracterizava a Contabilidade como ciência da administração patrimonial e considerava o patrimônio como conjunto de direitos e de obrigações.Seus líderes intelectuais foram Francesco Marchi - Principal obra: I Cinquecontisti. Editada em Prato em 1867; Giuseppe Cerboni - Principal obra: Primi saggi di logismografia. O Controlismo apresentava a Contabilidade como ciência do controle econômico patrimonial. Seus líderes intelectuais foram Fábio Besta - Principal obra: La ragioneria, 1909. 5 O Reditualismo considera a Contabilidade como ciência que tem por finalidade o levantamento do rédito. O lucro é o que mais preocupa como objeto de estudo, sendo o fenômeno básico a ser observado, embora com a relatividade necessária. Seus líderes intelectuais foram Eugen Schmalenbach - Principal obra: O Balanço Dinâmico – publicado em 1919. O Aziendalismo considera a Contabilidade como apenas o levantamento dos fatos aziendais. Seus líderes intelectuais foram Alberto Ceccherelli e Gino Zappa. O Patrimonialismo considera a Contabilidade como ciência do patrimônio. Seu lider intelectual foi Vicenzo Masi, autor de diversas obras entre elas, La fagioneria e la scienza del patrimonio, 1941. Comentário Todas as escolas clássicas europeias com diferentes formas de conceber a Contabilidade contribuíram para o desenvolvimento das Ciências Contábeis. A Escola norte-americana A evolução da Contabilidade seguiu o caminho traçado pelas grandes corporações surgidas no princípio do século XX. A necessidade de saber o custo dos produtos fabricados em série, na velocidade exigida pelo desenvolvimento frenético das indústrias automobilísticas, petrolíferas, da construção civil etc., que motivaram o aparecimento do mercado de capitais, levou a Contabilidade a preocupar-se com o usuário da informação voltada para a tomada de decisão. No início a Contabilidade norte americana apresentou-se caótica, pois cada contador fazia a Contabilidade a sua maneira. Em 1930 com o surgimento do American Institute of Certifiede Public Accountants, o desenvolvimento da Contabilidade e os princípios contábeis passaram a ter comportamento uniforme. IUDÍCIBUS 1997, p. 33 define a sólida base da evolução da Contabilidade nos Estados Unidos, a saber: 1. O grande avanço e o refinamento das instituições econômicas e sociais; 2. O investidor médio é um homem que deseja estar permanentemente bem informado, colocando pressões não percebidas no curtíssimo prazo, mas frutíferas nos médios e longos prazos, sobre os elaboradores de demonstrativos financeiros, no sentido de que sejam evidenciadores de tendências; 3. O governo, as universidades e os corpos associativos de contadores empregam grandes quantias para pesquisas sobre princípios contábeis; 4. O Instituto dos Contadores Públicos Americanos é um órgão atuante em matéria de pesquisa contábil, ao contrário do que ocorre em outros países; 5. Mais recentemente, a criação do FASB (Financial Accounting Standard Board) e, há muitos anos, do SEC (a CVM deles), tem propiciado grandes avanços na pesquisa sobre procedimentos contábeis. 6 Comentário “Se alguém estivesse escrevendo a história dos mercados de capitais americanos, eu sugeriria que a inovação mais importante que modelou o nosso mercado de capitais foi a ideia dos princípios contábeis geralmente aceitos.” Larry Summers – subsecretário do Tesouro norte americano Síntese do tema • A Contabilidade surgiu pela necessidade do homem de fazer registros e controle de bens. • O primeiro grande surto de desenvolvimento da Contabilidade data do início do século XIII com a publicação de um compêndio sobre cálculo comercial – “Liber Abaci” realizada por Leonardo Fibonnacci em 1202. • O segundo grande surto veio com o renascimento quando o matemático e acadêmico italiano Frei Luca Pacciolli (1445 a 1514) incluiu em sua famosa obra "Summa de arithmetica, geometria et proportioni et proportionalita" que trazia uma parte denominada "Tractatus Particularis de Cumputis et Scripturis" que expunha a Contabilidade por meio das Partidas Dobradas. Sua obra desobstruiu o caminho da arte da escrituração (Contabilidade) para a ciência da informação dos negócios. • As várias escolas do pensamento contábil na Europa, inspiradas na obra de Pacciolli, tentaram explicar a razão de ser da Contabilidade e caracterizar seu objeto e fins. Dentre as escolas destacamos: Contismo, Personalismo, Controlismo, Reditualismo, Aziendalismo e Patrimonialismo. • A escola norte-americana de Contabilidade se desenvolveu somente a partir de 1930 e os princípios contábeis passaram a ter um comportamento uniforme com o surgimento do American Institute of Certifiede Public Accountants, que definiu a sólida base da evolução da Contabilidade nos Estados Unidos. A evolução da Contabilidade no Brasil O Brasil tem tido um comportamento legalista em todas as áreas do comportamento social, e a Contabilidade não poderia fugir dessa tendência. A participação governamental, nesse sentido, tem sido muito expressiva. E tudo começou com a chegada da Família Imperial, vejamos: O primeiro sinal digno de nota foi sem dúvida um Alvará de D. João VI, em 1808, cujo teor é o seguinte: Alvará de 28 de junho de 1808 que creou o Erario Regio e o Conselho de Fazenda: TITULO I – Do Methodo da Escripturação Contabilidade do Erario. I – Para que o methodo de escriptura, e formulas de Contabilidade da minha Real Fazenda não fique arbitrario, e sujeito a maneira de pensar de cada um dos contadores geraes, que sou servido crear 7 para o referido Erario: ordeno que a escripturação seja a mercantil por partidas dobradas, por ser a única seguida pelas nações mais civilizadas, assim pela sua brevidade para o maneio de grandes sommas, como, por ser a mais clara, e a que menos logar dá a erros e subterfugios, onde se esconda a malicia e a fraude dos prevaricadores. II – Portanto, haverá em cada uma das contadorias geraes um Diario, um livro Mestre, e um Memorial ou Borrador, além de mais um livro Auxiliar ou de Contas Correntes para cada um dos rendimentos das Esstações de Arrecadação, Thezourarias, Recebedorias, Contractos ou Administrações da minha Real Fazenda. E isto para que sem delongas se veja, logo que se precisar, o estado da conta de cada um dos devedores ou exactores das rendas da minha Corôa e fundos publicos. III – Ordeno que os referidos livros de escripturação sejam inalteraveis, e que para ella se não possa augmentar ou diminuir nenhum, sem faze saber, por consulta do Presidente, a necessidade que houver para se diminuir ou accrescentar o seu numero. Este documento teve existência praticamente nula em função de uma economia rudimentar e sem condições de avaliar a sua importância, mas a intervenção do Estado não parou aí e outras Leis e Decretos estão sempre regulamentando a atividade, muitas vezes benéficas outras nem tanto. As mais importantes são: Código Comercial de 1850 O Código Comercial brasileiro foi criado pela Lei nº. 556, de 25 de junho de 1850. Foi baseado nos Códigos de Comércio de Portugal, França e Espanha. Em 10 de janeiro de 2002 foi promulgado o novo Código Civil pela Lei n°. 10.406 e traz em seu conteúdo matéria comercial Decreto-lei nº 2627 – das Sociedades Anônimas O Decreto-lei nº.2.627, de 26 de setembro de 1940, dispõe sobre as sociedades por ações, gênero de que é espécie a sociedade anônima. Em seu artigo 135 trata das demonstrações contábeis. Artigo 135 – O balanço deverá exprimir, com clareza, a situação real da sociedade, e, atendidas as peculiariedades do gênero de indústria ou comércio explorado pela sociedade, nele se observarão as seguintes regras: a. O ativo será dividido em ativo imobilizado, estável ou fixo, ativo disponível, ativo realizável em curto prazo e a longo prazo, contas de resultado pendente, contas de compensação; b. O passivo será divididoem passivo exigível, a longo e curto prazo, e passivo não exigível, neste compreendidos o capital e as reservas legais e 8 estatutárias, e compreenderá também as contas de resultado pendente e as contas de compensação Parágrafo 1º. De nenhum balanço poderá constar, seja no ativo, seja no passivo, sob o título “Diversas Contas”, ou outro semelhante, importância superior a uma décima parte do valor do capital social. Parágrafo 2º. Se a sociedade participar de uma ou mais sociedades, ou delas possuir ações, do balanço deverão constar, sob rubricas distintas, o valor da participação ou das ações e as importâncias dos créditos concedidos às ditas sociedades. Os diretores, no seu relatório, deverão dar informações precisas sobre a situação das sociedades “controladas” ou coligadas. O balanço e a demonstração da conta de lucros e perdas somente terão eficácia legal após assinados pelos diretores e pelo técnico responsável pela Contabilidade da companhia, contador ou guarda-livros. Lei 4728, de 14 de julho de 1965 que instituiu o Mercado de Capitais A Lei 4728, de julho de 1965, disciplina o mercado de capitais e estabelece medidas para o seu desenvolvimento. Os mercados financeiro e de capitais serão disciplinados pelo Conselho Monetário Nacional e fiscalizados pelo Banco Central da República do Brasil. Lei 6385/76 cria a CVM – Comissão de Valores Mobiliários; A Lei 6385, de 7 de dezembro de 1976, dispõe sobre o mercado de valores mobiliários e cria a Comissão de Valores Mobiliários inspirada na Securities and Exchange Commission, dos Estados Unidos, para exercer uma função até então atribuída ao Banco Central: regular, prestar consultoria e julgar, em instância administrativa, as operações e dispositivos do Mercado de Valores Mobiliários. Sob a jurisdição da CVM estão as bolsas de valores, as sociedades corretoras, os bancos de investimentos, as sociedades distribuidoras, as companhias abertas, os agentes autônomos de investimento, as carteiras de depósito de valores mobiliários, os fundos e sociedades de investimento, os auditores independentes, os consultores de analistas de valores mobiliários. Lei 6404/76 das Sociedades Anônimas A lei 6404/76 das Sociedades Anônimas de 15 de dezembro de 1976 representou uma verdadeira revolução no campo da Contabilidade, introduzindo muitas técnicas para as quais uma parcela substancial dos profissionais da área não estava preparada. O artigo 176 trata das demonstrações financeiras Art. 176. Ao fim de cada exercício social, a diretoria fará elaborar, com base na escrituração mercantil da companhia, as seguintes demonstrações financeiras, que 9 deverão exprimir com clareza a situação do patrimônio da companhia e as mutações ocorridas no exercício: • Balanço Patrimonial • Demonstração dos Lucros e Prejuízos Acumulados • Demonstração do Resultado do Exercício • Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos • Notas Explicativas O artigo 177 trata da escrituração contábil. Art. 177. A escrituração da companhia será mantida em registros permanentes, com obediência aos preceitos da legislação comercial e desta Lei e aos princípios de Contabilidade geralmente aceitos, devendo observar métodos ou critérios contábeis uniformes no tempo e registrar as mutações patrimoniais segundo o regime de competência. § 1º As demonstrações financeiras do exercício em que houver modificação de métodos ou critérios contábeis, de efeitos relevantes, deverão indicá-la em nota e ressaltar esses efeitos. § 4º As demonstrações financeiras serão assinadas pelos administradores e por contabilistas legalmente habilitados. O artigo 178 trata do Balanço Patrimonial Art. 178. No balanço, as contas serão classificadas segundo os elementos do patrimônio que registrem, e agrupadas de modo a facilitar o conhecimento e a análise da situação financeira da companhia. § 1º No ativo, as contas serão dispostas em ordem decrescente de grau de liquidez dos elementos nelas registrados, nos seguintes grupos: a) Ativo Circulante; b) Ativo Realizável a Longo Prazo; c) Ativo Permanente dividido em Investimentos, Ativo Imobilizado e Ativo Diferido. § 2º No passivo, as contas serão classificadas nos seguintes grupos: a) Passivo Circulante; 10 b) Passivo Exigível a Longo Prazo, Resultados de Exercícios Futuros c) Patrimônio Líquido dividido em Capital Social, Reservas de Capital, Reservas de Reavaliação, Reservas de Lucros, Lucros ou Prejuízos Acumulados Código Civil O novo Código Civil Brasileiro instituído pela Lei n° 10.406, que entrou em vigor a partir de 11.01.2003, trouxe, entre as várias inovações, a obrigatoriedade da inscrição do empresário no Registro Público de Empresas Mercantis – RPEM. Um dos objetivos do novo Código Civil é reestruturar as instituições empresariais regidas por leis que, além de estarem superadas pelo desenvolvimento econômico- social, estejam servindo de cobertura de odiosos privilégios. Também, com a publicação do Novo Código Civil foram introduzidas algumas alterações nos procedimentos contábeis das empresas, bem como em relação à responsabilidade do contador. Observamos que algumas regras já existiam na legislação anterior, mas a partir da vigência do Novo Código as normas apresentadas abaixo aplicam-se não só às sociedades, como também às sucursais, filiais ou agências, no Brasil, do empresário ou sociedade com sede em país estrangeiro (art. 1195 do Novo Código Civil). Responsabilidade do contador O novo Código Civil, na Seção III - Do Contabilista e outros Auxiliares, trata das responsabilidades civis dos contadores (prepostos), definindo que são os mesmos responsáveis pelos atos relativos à escrituração contábil e fiscal praticados e ao mesmo tempo, respondendo solidariamente quando praticarem atos que causem danos à terceiros (clientes por exemplo). Nesse sentido, os artigos 1.177 e 1.178: Art. 1.177. Os assentos lançados nos livros ou fichas do preponente, por qualquer dos prepostos encarregados de sua escrituração, produzem, salvo se houver procedido de má-fé, os mesmos efeitos como se o fossem por aquele. Parágrafo único. No exercício de suas funções, os prepostos são pessoalmente responsáveis, perante os preponentes, pelos atos Art. 1.178. Os preponentes são responsáveis pelos atos de quaisquer prepostos, praticados nos seus estabelecimentos e relativos à atividade da empresa, ainda que não autorizados por escrito. Parágrafo único. Quando tais atos forem praticados fora do estabelecimento, somente obrigarão o preponente nos limites dos poderes conferidos por escrito, cujo instrumento pode ser suprido pela certidão ou cópia autêntica do seu teor. 11 Obrigatoriedade da Escrituração A empresa é constituída para praticar atos mercantis, financeiros, trabalhistas, fiscais, civis, mas de maneira documentada. Para um documento ser hábil é necessário que seja: a) idôneo; b) devidamente preenchido; c) vinculado com a atividade da empresa, com formalidades extrínsecas e intrínsecas. Podemos definir a escrituração como sendo o ato de registrar as operações exercidas e comprovadas que ocorrem no decorrer de um período. A escrituração tem a função de relatar o passado, para que se tenha ideia do que se passará no futuro. Para tal, deve-se manter um sistema de escrituração uniforme dos atos e fatos administrativos ocorridos na sociedade empresarial, através de processo manual, mecanizado ou eletrônico (Resolução 1330, de 18/03/11 do Conselho Federal de Contabilidade), de livre escolha do empresário, mas desde que cumpridos algumas formalidades básicas previstas nas legislações de regência, como: Em idioma e moeda nacional; em forma contábil; em ordem cronológica de dia, mês e ano; sem ausência de espaços embranco, entrelinhas, borrões, rasuras, emendas, com base em documentos de origem externa ou interna, ou na sua falta, em elementos que comprovem ou evidenciem fatos e atos e a prática de atos administrativos. Pelo Princípio Contábil da Entidade, é a partir da aquisição da personalidade jurídica que se pode ter início a escrituração contábil da sociedade. O empresário e a sociedade empresária são obrigados a seguir um sistema de Contabilidade, mecanizado ou não, com base na escrituração uniforme de seus livros, em correspondência com a documentação respectiva, e a levantar anualmente o balanço patrimonial e o de resultado econômico (Art. 1.179). Lei 11.638/07 e 11.941/09 Com a edição das Leis nºs. 11.638/07 e 11.941/09 (esta transformando em lei a MP nº. 449/08) e com a criação do CPC – Comitê de Pronunciamentos Contábeis – em 2005, produziu-se, durante 2008 e 2009, enorme conjunto de novas normas, aprovadas pela CVM e pelo CFC e outros órgãos reguladores, agora com a convergência completa às normas internacionais de Contabilidade (IASB). Com essa participação do Conselho Federal de Contabilidade, tem havido uma expansão das normas, que antes atingiam apenas as sociedades anônimas e certas limitadas, para praticamente todas as entidades de fins lucrativos no Brasil. Com a adoção dos Pronunciamentos Técnicos, inclusive o específico de Pequenas e Médias Empresas, não sobram empresas que não tenham que aplicar as normas contábeis emitidas pelo IASB e aqui reaplicadas pelo CPC. E essa está sendo a grande revolução contábil deste século no nosso país. A linguagem contábil é universal, e, com a globalização dos negócios, tornou-se por demais importante para todos os países, não podendo mais ser praticada por cada um conforme seus próprios desejos. Aliás, tudo o que é 12 relevante e se globaliza se obriga, cada vez mais, a um processo de convergência mundial para facilitar a comunicação, o entendimento, a análise, o uso enfim para qualquer finalidade. (Iudícibus...et al.2010). As regras de classificação contábil são de fato muito diferentes e sem dúvida deveremos estudar o desenvolvimento de processos em diversas Entidades para que compreendamos exatamente o que são as normas internacionais de Contabilidade, sua funcionalidade e seu desenvolvimento com base na Lei 11638/07 e 11.941/09, nos Pronunciamentos Contábeis emitidos pelo CPC - Comitê de Pronunciamentos Contábeis e nas normas emitidas pela CVM - Comissão de Valores Mobiliários e pelo CFC - Conselho Federal de Contabilidade. Diante do exposto, a Lei 6404/76, antes da Lei 11638/07 e 11.941/09, determinava, em seu artigo 178, como já vimos, a estrutura do Balanço Patrimonial. A Medida Provisória (MP) 449/08, editada em 03 de dezembro, transformada em lei (Lei 11.941/09) alterou a estrutura do Balanço Patrimonial prevista na Lei das S/A - que já tinha sido alterada há pouco mais de um ano pela Lei 11.638/07 de dezembro de 2007 - apresentando mudanças significativas na sua forma de apresentação. O balanço patrimonial tem por finalidade apresentar a posição financeira e patrimonial da empresa em determinada data, representando, portanto, uma posição estática. O balanço é composto por três elementos básicos: Ativo, Passivo e Patrimônio Líquido. O Ativo compreende os recursos controlados por uma entidade e dos quais se esperam benefícios econômicos futuros. O Passivo compreende as exigibilidade e obrigações. O Patrimônio Líquido representa a diferença entre Ativo e Passivo, ou seja, o valor líquido da empresa. No Ativo, são apresentadas em primeiro lugar as contas mais rapidamente conversíveis em disponibilidade. No Passivo, classificam-se em primeiro lugar as contas cuja exigibilidade ocorre antes. O Ativo será composto por: Ativo Circulante e Ativo Não Circulante esse composto pelo Realizável a Longo Prazo, Investimentos, Imobilizado e Intangível. 13 O Passivo + Patrimônio Líquido serão compostos por: Passivo Circulante; Passivo Não Circulante, composto por Exigível a Longo Prazo e Receitas e Despesas Diferidas e pelo Patrimônio Líquido, composto por Capital Social, reservas de capital , ajustes de avaliação patrimonial, reservas de lucros, ações em tesouraria e prejuízos acumulados. Como podemos observar acima, o Ativo passou a ter somente dois grupos de Contas: Ativo Circulante e Não Circulante. O grupo Permanente deixou de existir. O ARLP de grupo virou subgrupo do Ativo Não Circulante! A mudança mais significativa foi à extinção do subgrupo Diferido, que tinha a finalidade de contabilizar as despesas iniciais na implantação das empresas, e diluir em exercícios posteriores, os gastos necessários nas suas reorganizações. Com relação ao Passivo, o grupo do Exigível a Longo Prazo foi substituído pelo Passivo Não- Circulante, portanto todas as obrigações das empresas cujo vencimento seja após o exercício seguinte, deverão ser classificadas como não circulantes. A segunda e última mudança no Passivo foi a extinção do grupo Resultado dos Exercícios Futuros, toda e qualquer receita antecipada deverá ser classificada no Passivo Não Circulante. Comentário "Se tivéssemos de vir a escolher o profissional mais importante entre aqueles que participam do mercado de capitais, visando assegurar aos investidores que as regras vão ser cumpridas, que as normas vão ser observadas, que os documentos e as informações prestadas são fidedignos e que, portanto, os investidores podem destinar sua poupança às companhias com base naquelas informações, não há dúvidas de que esse profissional seria o de auditoria". Marcelo Trindade - Presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) Síntese da aula • O primeiro sinal digno de nota sobre a Contabilidade e as partidas dobradas foi o Alvará de D. João VI, em 28 de junho de 1808 que criou o Erario Regio e Conselho de Fazenda. • Em 25 de junho de 1850 foi criado pela Lei nº. 556 o Código Comercial brasileiro e em 10 de janeiro de 2002 foi promulgado o novo Código Civil pela Lei nº. 10.406 que traz em seu conteúdo matéria comercial. • Em 26 de setembro de 1940 foi editado o Decreto-lei nº. 2.627 que trata sobre as sociedades por ações, gênero de que é espécie a sociedade anônima e define as regras contábeis das ditas companhias. • A Lei 4728, de julho de 1965, disciplina o mercado de capitais e estabelece medidas para o seu desenvolvimento. 14 • A Lei 6385, de 7 de dezembro de 1976, dispõe sobre o mercado de valores mobiliários e cria a Comissão de Valores Mobiliários. • A lei 6404/76 das Sociedades Anônimas de 15 de dezembro de 1976 representou uma verdadeira revolução no campo da Contabilidade, introduzindo muitas técnicas para as quais uma parcela substancial dos profissionais da área não estava preparada. • O novo Código Civil Brasileiro instituído pela Lei n° 10.406, que entrou em vigor a partir de 11.01.2003, trouxe, entre as várias inovações, a obrigatoriedade da inscrição do empresário no Registro Público de Empresas Mercantis – RPEM trata da responsabilidade civil do contador e da obrigatoriedade de escrituração contábil. • A nova lei das Sociedades Anônimas (11.638/07 e 11.941/09) e com a criação do CPC – Comitê de Pronunciamentos Contábeis produziu enorme conjunto de novas normas contábeis para a completa convergência às normas internacionais de Contabilidade. Comentário Agora que você já conhece a trajetória histórica da Contabilidade, que tal analisar as concepções de Contabilidade? Na sua visão ela seria uma Ciência ou apenas uma Técnica? Vejamos as considerações na aula a seguir.
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