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CADERNO UNIVERSITÁRIO DE ANATOMIA

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Caderno Universitário de Anatomia 
 
Aplicada a Educação Física 
 
 
Charles Marques Formentin 
 
 
 
2 
 
SUMÁRIO 
1 - INTRODUÇÃO À ANATOMIA .................................................................................................. 11 
Um breve histórico ............................................................................................................................. 11 
Conceitos de Anatomia e divisões ................................................................................................... 14 
Terminologias anatômicas ................................................................................................................ 16 
Dissecação de cadáver ..................................................................................................................... 31 
2 - SISTEMA ESQUELÉTICO .......................................................................................................... 43 
Conceitos de ossos ............................................................................................................................ 43 
Células ósseas .................................................................................................................................... 45 
Tipos de substância óssea................................................................................................................ 45 
Periósteo e endósteo ......................................................................................................................... 46 
Nutrição do osso ................................................................................................................................. 46 
Estudo mecânico dos ossos ............................................................................................................. 46 
Influência do exercício sobre as estruturas ósseas ...................................................................... 47 
Funções do esqueleto ....................................................................................................................... 47 
Divisão do esqueleto .......................................................................................................................... 48 
Número de ossos ............................................................................................................................... 48 
Classificação dos ossos .................................................................................................................... 50 
Características da superfície óssea ................................................................................................ 52 
Esqueleto Axial ................................................................................................................................... 53 
Crânio e Face ...................................................................................................................................... 53 
Coluna vertebral ................................................................................................................................. 61 
Tórax..................................................................................................................................................... 74 
Costela ................................................................................................................................................. 76 
3 
 
Esterno ................................................................................................................................................. 77 
Esqueleto Apendicular ....................................................................................................................... 78 
Cíngulo do Membro superior ............................................................................................................ 80 
Escápula .............................................................................................................................................. 80 
Clavícula .............................................................................................................................................. 82 
Braço - Úmero ..................................................................................................................................... 84 
Antebraço............................................................................................................................................. 87 
Rádio .................................................................................................................................................... 87 
Ulna ...................................................................................................................................................... 88 
Mão ....................................................................................................................................................... 90 
Cíngulo do Membro Inferior .............................................................................................................. 91 
Acetábulo ............................................................................................................................................. 93 
Ílio .......................................................................................................................................................... 93 
Ísquio .................................................................................................................................................... 94 
Púbis ..................................................................................................................................................... 94 
Fêmur ................................................................................................................................................... 95 
Patela ................................................................................................................................................... 97 
Tíbia ...................................................................................................................................................... 98 
Fíbula .................................................................................................................................................. 100 
Pé ........................................................................................................................................................ 101 
3 - SISTEMA ARTICULAR .............................................................................................................. 102 
Tipos de Articulação ......................................................................................................................... 103 
Elementos articulares de uma articulação diartrodial ................................................................. 105 
Movimentos Articulares ................................................................................................................... 106 
4Complexo da coluna vertebral ........................................................................................................ 108 
Complexo do ombro ......................................................................................................................... 110 
Complexo do cotovelo ..................................................................................................................... 111 
Complexo do Quadril ....................................................................................................................... 113 
Complexo do Joelho ........................................................................................................................ 114 
4 - SISTEMA MUSCULAR .............................................................................................................. 115 
Tipos de músculos ........................................................................................................................... 116 
Origem e inserção dos músculos esqueléticos ........................................................................... 117 
Tendões e aponeuroses .................................................................................................................. 117 
Função dos músculos ...................................................................................................................... 117 
Classificação dos músculos ............................................................................................................ 118 
Grupos musculares .......................................................................................................................... 123 
Músculos da cabeça ........................................................................................................................ 123 
Músculos dérmicos do crânio ......................................................................................................... 123 
Músculos da face .............................................................................................................................. 124 
Músculos auriculares ....................................................................................................................... 124 
Músculos da expressão da face ..................................................................................................... 124 
Músculos mastigadores ................................................................................................................... 125 
Músculos do pescoço ...................................................................................................................... 126 
Músculos anteriores do pescoço .................................................................................................... 126 
Músculos posteriores do pescoço .................................................................................................. 127 
Músculos do tórax ............................................................................................................................ 128 
Músculos anterolaterais do tórax ................................................................................................... 128 
Músculos posteriores do tórax (dorso) .......................................................................................... 129 
5 
 
Músculos da goteira vertebral ........................................................................................................ 130 
Músculos costais .............................................................................................................................. 131 
Músculos do abdome ....................................................................................................................... 131 
Músculos da região inguinal ........................................................................................................... 133 
Músculos da parede posterior: grupo superficial e profundo ..................................................... 133 
Músculos da parede superior ......................................................................................................... 133 
Músculos da parede inferior (períneo) .......................................................................................... 134 
Músculos do membro superior ....................................................................................................... 134 
Músculos do ombro .......................................................................................................................... 134 
Manguito rotador ............................................................................................................................... 135 
Músculos do braço ........................................................................................................................... 136 
Músculos do antebraço ................................................................................................................... 137 
Músculos do quadril ......................................................................................................................... 140 
Músculos do membro inferior ......................................................................................................... 141 
Músculos da coxa ............................................................................................................................. 141 
Músculos da perna ........................................................................................................................... 143 
5 – SISTEMA CIRCULATÓRIO ...................................................................................................... 146 
Divisão ................................................................................................................................................ 146 
Coração .............................................................................................................................................. 146 
Ciclo cardíaco ................................................................................................................................... 150 
Automatísmo cardíaco ..................................................................................................................... 151 
Tipos de circulação .......................................................................................................................... 151 
Vasos sanguíneos ............................................................................................................................ 152 
6 – SISTEMA RESPIRATÓRIO ..................................................................................................... 152 
6 
 
Fossas nasais ................................................................................................................................... 153 
Faringe ............................................................................................................................................... 153 
Laringe ............................................................................................................................................... 153 
Traquéia ............................................................................................................................................. 154 
Pulmões ............................................................................................................................................. 154 
Diafragma .......................................................................................................................................... 154 
7 – SISTEMA DIGESTÓRIO ..........................................................................................................155 
Boca .................................................................................................................................................... 155 
Dentes ................................................................................................................................................ 156 
Faringe ............................................................................................................................................... 156 
Esôfago .............................................................................................................................................. 156 
Estômago ........................................................................................................................................... 156 
Pâncreas ............................................................................................................................................ 157 
Fígado ................................................................................................................................................ 157 
Vesícula biliar .................................................................................................................................... 157 
Intestino delgado .............................................................................................................................. 157 
Intestino Grosso ................................................................................................................................ 158 
8 – SISTEMA URINÁRIO ................................................................................................................ 158 
Rim ...................................................................................................................................................... 159 
Ureter .................................................................................................................................................. 159 
Bexiga................................................................................................................................................. 159 
Uretra .................................................................................................................................................. 160 
9 – SISTEMA GENITAL MASCULINO .......................................................................................... 160 
Escroto ............................................................................................................................................... 160 
7 
 
Testículos........................................................................................................................................... 160 
Espermatozóides .............................................................................................................................. 161 
Glândulas sexuais acessórias ........................................................................................................ 161 
10 - SISTEMA GENITAL FEMININO ............................................................................................ 163 
Ovários ............................................................................................................................................... 163 
Tubas uterinas .................................................................................................................................. 163 
Útero ................................................................................................................................................... 163 
Vagina ................................................................................................................................................ 164 
Vulva ................................................................................................................................................... 164 
11 – SISTEMA NERVOSO ............................................................................................................. 164 
Neurônio............................................................................................................................................. 165 
Medula espinhal ................................................................................................................................ 166 
Meninges ........................................................................................................................................... 168 
Encéfalo ............................................................................................................................................. 168 
Tronco encefálico ............................................................................................................................. 168 
Bulbo (medula oblonga) .................................................................................................................. 169 
Ponte .................................................................................................................................................. 169 
Mesencéfalo ...................................................................................................................................... 169 
Cerebelo............................................................................................................................................. 169 
Cérebro .............................................................................................................................................. 170 
Diencéfalo .......................................................................................................................................... 170 
Telencéfalo ........................................................................................................................................ 170 
12 – SISTEMA ENDÓCRINO ......................................................................................................... 171 
Hipotálamo......................................................................................................................................... 172 
8 
 
Hipófise (pituitária) ........................................................................................................................... 172 
Tireóide .............................................................................................................................................. 173 
Paratireóide ....................................................................................................................................... 173 
Supra-renais ...................................................................................................................................... 173 
Pâncreas ............................................................................................................................................ 174 
Glândula pineal ................................................................................................................................. 174 
Timo .................................................................................................................................................... 174 
Ovários ............................................................................................................................................... 174 
Testículos........................................................................................................................................... 174 
Hormônios hipofisiários ................................................................................................................... 175 
13 – SISTEMA LINFÁTICO ............................................................................................................176 
Baço .................................................................................................................................................... 176 
Timo .................................................................................................................................................... 176 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................ 177 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................................. 177 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
 
 
NORMAS PARA A UTILIZAÇÃO 
DO LABORATÓRIO DE ANATOMIA 
(NORMAS DE BIOSEGURANÇA - não serão abertas exceções). 
 
 
USO OBRIGATÓRIO: 
 
JALECO OU AVENTAL BRANCO DE MANGAS COMPRIDAS (FECHADO!) 
SAPATOS FECHADOS DE COURO OU MATERIAL SIMILAR 
CALÇAS COMPRIDAS 
CABELOS PRESOS, QUANDO LONGOS 
LUVAS QUANDO MANIPULAR MATERIAL FORMALIZADO 
 
 
É PROÍBIDO: 
 
USAR CELULARES E/OU GRAVADORAS DE IMAGENS 
ALIMENTAR-SE DENTRO DO LABORATÓRIO 
ENTRAR PORTANDO BOLSAS OU MOCHILAS DENTRO DO LABORATÓRIO 
BRINCAR OU FAZER PIADAS COM AS PEÇAS CADAVÉRICAS 
USAR CANETAS PARA APONTAR ESTRUTURAS ANATÔMICAS 
REMOVER PEÇAS ANATÔMICAS PARA FORA DO LABORATÓRIO 
DESRESPEITAR PROFESSORES, MONITORES OU FUNCIONÁRIOS 
 
 
 
 
10 
 
 
 
 
 
"Ao manipular a peça anatômica cadavérica, 
parte de um cadáver desconhecido, 
lembre-se que este corpo nasceu do amor de duas almas, 
cresceu embalado pela fé e pela esperança daquela que em seu seio o agasalhou. 
Sorriu e sonhou os mesmos sonhos das crianças e dos jovens. 
Por certo amou e foi amado, esperou e acalentou um amanhã feliz e 
sentiu saudades dos outros que partiram. 
Agora jaz na fria bancada de estudo, 
Sem que por ele se tivesse derramado uma lágrima sequer, 
sem que tivesse uma só prece. 
Seu nome, só Deus sabe. 
Mas o destino inexorável deu-lhe o poder e a grandeza de servir à humanidade. 
“A humanidade que por ele passou indiferente” 
 
Texto: “ao cadáver, respeito e agradecimento” (Rokitansky, 1876) - Extraído do site da sociedade 
brasileira de anatomia: http://www.sbanatomia.com.br/mensagem/pub/bemvindo.php?tipo=0 e 
adaptado por Arnaldo Fernandes http://laboratoriodeanatomia.blogspot.com/. 
 
 
 
 
 
11 
 
 
 
1 - INTRODUÇÃO À ANATOMIA 
Um breve histórico 
A Anatomia é considerada a mais antiga das ciências da saúde. Até onde se 
sabe, ela foi formalmente estudada primeiramente no Egito (cerca de 500 a.C.) e 
posteriormente por Hipócrates (460-337 a.C.), considerado por muitos o pai da 
medicina e um fundador da ciência da Anatomia. Aristóteles (384-322 a.C.) é 
considerado o criador do termo anatome que em grego significa “cortar em pedaços, 
separar” (Moore, 1994). 
O estudo da Anatomia tem uma longa e interessante história, desde os 
primórdios da civilização humana, inicialmente limitada ao observável a olho nu e 
pela manipulação dos corpos, expandiu-se, ao longo do tempo, graças a aquisição 
de tecnologias inovadoras (Rubinstein, 2005). 
A técnica de dissecação (palavra derivada do latim dissecare) que possui um 
significado semelhante ao termo anatome (Moore, 1994), proporcionou um 
significativo aumento do conhecimento sobre o corpo humano. O mais antigo relato 
conhecido de uma dissecação pertence ao grego Teofrasto (? – 287 a. C.), discípulo 
de Aristóteles (Wikipedia, 2005). 
A curiosidade natural do homem em conhecer melhor o seu próprio corpo 
levaram-no desde a pré-história a interessar-se pela Anatomia, primeiramente 
através da dissecação de animais para sacríficios religiosos, e somente mais tarde 
em humanos. A dissecação de cadáveres foi considerada um sacrilégio durante 
muitos anos, e para alguns cientistas da época, configurou um grave atraso no 
avanço das ciências da saúde. Galeno (130 a. C. – 201) foi um destes sábios, e 
certa vez assim manifestou-se sobre a importância dos conhecimentos anatômicos 
na prática da medicina: “Pela ignorância da Anatomia, pode-se ser tímido demais em 
12 
 
operações seguras ou temerário e audaz em operações difíceis e incertas” 
(Wikipedia, 2005). 
A Anatomia só conquistou o estatus de uma disciplina acadêmica em 1240, 
quando as publicações de Frederico II influenciaram a escola de Nápoles a introduzir 
em seu currículo o treinamento prático de Anatomia. Em 1316 foi publicado o 
primeiro manual sobre autópsia, por Modino de Liuzzi, derivado de suas 
experiências em dissecaões didáticas de cadáveres em Bolonha. Com o 
Renascentismo e a preocupação de muitos pintores na fidelidade das formas 
humanas (ver figura 1 e 2), como Michelangelo, Leonardo e Rafael, somado a 
descoberta de textos gregos sobre Anatomia e a influência dos pensadores 
humanistas, levou a Igreja a ser mais condenscendente com a dissecação de 
cadáveres (Wikipedia, 2005). 
 
Figura 1: “O homem de Vitrúvio” de Leonardo da Vinci – Note a preocupação 
com as proporções e medidas humanas. Extraído de: 
http://thealchemicalegg.com/VitruviusN.html 
 
A primeira publicação acadêmica sobre Anatomia é atribuída por muitos 
historiadores a Andréas Vesalius, intitulado De Humani Corporis Fabrica publicado 
13 
 
na Basiléia em 1543. Entre os pupilos de Vesalius, podemos destacar Gabriele 
Fallopio, celébre por suas contribuições sobre a descrição anatômica do útero. Da 
mesma forma Bartolomeu Eustáquio gerou significativas descrições sobre as 
estrturas do ouvido (Wikipedia, 2005). 
 
Figura 2: “A criação de Adão através do toque de Deus” de Michelangelo, que 
encontra-se no interior da Capela Sistina no Vaticano – Note a preocupação com o 
formato dos músculos no corpo de Adão. Extraído de: 
http://www.christusrex.org/www1/sistine/0-Tour.html 
A nova Anatomia do Renascimento exigiu a revisão da ciência. O inglês 
William Harvey, educado em Pádua, combinou a tradição anatômica italiana com a 
ciência experimental que nascia na Inglaterra. Seu livro a respeito, publicado em 
1628, trata de Anatomia e fisiologia. O aperfeiçoamento do microscópio (por 
Leeuwenhoek) ajudou Marcelo Malpighi a provar a teoria de Harvey, sobre a 
circulação do sangue, e também a descobrir a estrutura mais íntima de muitos 
órgãos. Introduzia-se, assim, o estudo microscópico da Anatomia. Nos séculos XVIII 
e XIX, o estudo cada vês pormenorizado das técnicas operatórias levou à subdivisão 
da Anatomia, dando-se muita importância à Anatomia topográfica (ver figura 3). 
O estudo anatômico-clínico do cadáver, como meio mais seguro de estudar as 
alterações provocadas pela doença, foi introduzido por Giovan Battista Morgani. 
14 
 
Surgia a Anatomia patológica, que permitiu grandes descobertas no campo da 
patologia celular, por Rudolf Virchow, e dos agentes responsáveis por doenças 
infecciosas, por Pasteur e Koch. 
Recentemente, a Anatomia tornou-se submicroscópica. A fisiologia, a 
bioquímica, a microscopia eletônica e positrônica, as técnicas de difração com raios 
X, aplicadas ao estudo das células, estão descrevendo suas estruturas íntimas em 
nível molecular (Wikipedia, 2005). 
 
Figura 3: Desenho anatômico dos músculos superficiais na Encyclopédie (uma 
das primeiras Enciclopédias que se tem conhecimento, publicada na França no 
século XVIII) Extraído de: http://pt.wikipedia.org/wiki/Anatomia. 
 
Conceitos de Anatomia e divisões 
 
15 
 
Como vimos anteriormente, a definição da palavra Anatomia está relacionada 
com cortar em pedaços, separar. No seu conceito mais amplo, a Anatomia é a 
ciência que estuda macro e microscopicamente, a constituição e o desenvolvimentodos seres organizados (Rubinstein, 2005). 
Um conceito mais complexo de Anatomia foi proposto em 1981 pela American 
Association of Anatomists: Anatomia é a análise da estrutura biológica, sua 
correlação com a função e com as modulações de estrutura em resposta a fatores 
temporais, genéticos e ambientais. Tem como metas principais a compreensão dos 
princípios arquitetônicos da construção dos organismos vivos, a descoberta da base 
estrutural do funcionamento das várias partes e a compreensão dos mecanismos 
formativos envolvidos no desenvolvimento destas. 
A amplitude da Anatomia compreende, em termos temporais, desde o estudo 
das mudanças a longo prazo da estrutura, no curso de evolução, passando pelas 
das mudanças de duração intermediária em desenvolvimento, crescimento e 
envelhecimento; até as mudanças de curto prazo, associadas com fases diferentes 
de atividade funcional normal. Em termos do tamanho da estrutura estudada vai 
desde todo um sistema biológico, passando por organismos inteiros e/ou seus 
órgãos até as organelas celulares e macromoléculas (Rubinstein, 2005). 
 
16 
 
Figura 4: Hierarquia anatômica – partindo do simples para o complexo 
Extraído do CD ROM de Van De Graff (2003). 
 
O estudo da Anatomia envolve o entendimento de suas sub-divisões. A maioria 
dos autores dividem o corpo humano nos seguintes sistemas: 
 Sistema tegumentar (pele e seus anexos, por ex.: pêlos e unhas); 
 Sistema esquelético ou ósseo (ossos); 
 Sistema articular (articulações e ligamentos); 
 Sistema muscular (músculos); 
 Sistema nervoso (cérebro, medula espinhal e nervos); 
 Sistema circulatório ou cardiovascular (coração, vasos e para muitos 
autores linfonodos); 
 Sistema digestório (boca, faringe, esôfago, estômago, intestino e ânus); 
 Sistema respiratório ou ventilatório (vias aéreas e pulmões); 
 Sistema urinário (rins, bexiga e vias excretoras); 
 Sistema endócrino (glândulas); 
 Sistema reprodutor ou genital (órgãos femininos e masculinos 
relacionadas a reprodução) 
 
Alguns autores preferem o uso de aparelho em alguns casos, uma vez que 
aparelho é a soma de dois ou mais sistemas, por exemplo, sistema urinário muitas 
vezes é referido como aparelho urinário, por compreender órgãos do sistema 
urinário e do sistema reprodutor. 
Na disciplina de Anatomia 1, nosso enfoque será no sistema ósseo, articular e 
ligamentar, bem como nos planos, eixos e terminologia anatômica. 
Terminologias anatômicas 
17 
 
Um dos princípios básicos do meio acadêmico e científico é o uso de termos 
apropriados para se definir corretamente àquilo que se deseja. O correto 
entendimento do estudo da Anatomia humana, bem como de todas as disciplinas 
dela dependentes (fisiologia, cinesiologia e etc.), requer a padronização das 
nomenclaturas usadas para descrever as regiões e partes do corpo. 
Partindo deste princípio, esporadicamente um grupo de anatomistas com 
representantes de diversos países do mundo, se reúne no sentido de rever e 
aperfeiçoar os termos anatômicos correntemente usados. O resultado destas 
reuniões é a publicação de uma normatização chamada de Nomina Anatômica. 
Desde a primeira lista de termos anatômicos estipulada por Andréas Versalius 
na Idade Média, muitas foram as propostas de padronização, algumas com boa 
aceitação e outras gerando muitas controvérsias. Algumas destas tentativas de 
padronização ficaram famosas como a Nomina Anatômica da Basiléia adotada por 
volta de 1895, e utilizada principalmente pelos EUA, Itália e alguns países da 
América Latina. Em 1933 os Ingleses criaram a Nomina Anatômica de Birmingham e 
em 1935 os alemães publicaram a Nomina Anatômica de Jena. Em 1955, houve 
uma tentativa de padronização após a II Guerra Mundial com a Nomina Anatômica 
Parisiense. E recentemente, em 1997, o Brasil foi palco da reunião do Comitê 
Federativo de Terminologia Anatômica, com a participação de anatomistas de vários 
países do mundo, configurando-se a Nomina Anatômica de São Paulo que é 
considerada a mais recente (Dio, 2005). 
Alguns dos termos anatômicos têm se mantido durante anos, e são básicos 
para o entendimento da Anatomia. Um destes termos é a chamada Posição 
Anatômica (ver figura 5). 
Todas as descrições na Anatomia humana são expressas em relação a 
Posição Anatômica, pois através dela, qualquer parte do corpo pode ser relacionada 
a qualquer outra parte (Moore, 1994). Na Posição Anatômica a pessoa está de pé ou 
deitada, mas sempre ereta, com a cabeça e olhos dirigidos para frente, membros 
superiores ao longo do corpo com palmas das mãos voltadas à frente, membros 
inferiores unidos e dedos dos pés também voltados para frente. Você deve ser 
capaz de mentalmente visualizar a posição anatômica para poder fazer uma 
18 
 
descrever de alguma parte do corpo ou conseguir entender uma explicação 
referente a alguma região corporal. 
 
Figura 5: Posição Anatômica - Extraído do CD ROM de Van De Graff (2003). 
A partir da Posição Anatômicas, outros termos podem ser estabelecidos, como 
por exemplo os Termos de Direção ou Planos Anatômicos (ver figura 6). Os 
planos anatômicos constituem três planos imaginários que passam pelo corpo, o 
plano frontal (ou coronal), plano horizontal (ou transverso) e sagital. 
 
1. Plano frontal ou coronal: é um plano vertical que divide o corpo em duas 
metades, anterior (da frente) e posterior (de trás). É chamado de coronal 
pois passa exatamente na sutura coronal do crânio e também de frontal 
pois passa através do osso frontal, também no crânio; 
2. Plano horizontal ou transverso: é um plano que divide o corpo em duas 
metades cranial (superior) e caudal (inferior). É chamado de horizontal 
pois pode ser associado à linha do horizonte. Também é chamado de 
plano transverso, embora alguns autores não recomendem o uso desta 
19 
 
nomenclatura, pois nem sempre uma secção transversal está no plano 
horizontal. 
3. Plano sagital: é um plano vertical que divide o corpo em duas metades, 
direito e esquerdo. O plano sagital passa pela linha média do corpo e 
recebe este nome pois passa exatamente na sutura sagital do crânio. 
A partir dos Planos Anatômicos, podemos estabelecer os Termos de Relação, 
os quais serão muito úteis para descrever a posição de uma determinada parte do 
corpo em relação à outra. 
 
Figura 6: Planos anatômicos – Note que o indivíduo está na Posição Anatômica 
Extraído de: http://www.bodydayspa.com/anatomy.htm 
Legenda: 
1- Plano frontal; 
2- Plano Horizontal; 
3- Plano sagital; 
Os Termos de Relação são: 
20 
 
 
 Anterior ou ventral: significa próximo a frente do corpo, por exemplo, o 
umbigo está na face anterior do corpo. O termo ventral também é 
comumente usado, principalmente em neuroanatomia onde é útil por ser 
igualmente empregável a seres humanos e animais, que são 
freqüentemente usados em pesquisa (Barr e Kierman apud Moore, 1994). 
 Posterior ou dorsal: significa próximo ao dorso do corpo, por exemplo a 
região glútea (nádega) esta na superfície posterior do corpo. O termo 
dorsal também pode ser usado como substituto, como por exemplo para 
descrever o dorso do pé ou da mão. 
 Superior ou cranial: significa próximo a cabeça, e por isso também é 
comumente usado o termo cranial, por exemplo, o coração localiza-se na 
região superior do tronco. 
 Inferior ou caudal: significa próximo a parte mais baixa do corpo, como 
por exemplo: o intestino localiza-se na região inferior do tronco. O termo 
caudal, de origem latina e que se refere a cauda também é muito usada, 
originário de estudos em animais. 
 Medial: significa próximo a linha média do corpo (ver fig. 4). As narinas 
por exemplo,estão na região medial da face. 
 Lateral: significa distante da linha média do corpo, por exemplo o ouvido 
encontra-se na região lateral da cabeça. 
 Intermédio: significa entre duas estruturas, uma das quais é medial e a 
outra lateral, por exemplo os dedos da mão, quando na posição 
anatômica, o dedo médio é intermédio, enquanto que o polegar é lateral e 
o mínimo é medial. 
Existem também termos voltados a comparação das posições relativas de duas 
estruturas entre si, são os termos de comparação. 
Os termos de comparação são: 
 Proximal: significa mais próximo do tronco e é usado para indicar 
posições mais próximas da extremidade fixa do membro, por exemplo, a 
coxa está na extremidade proximal do membro inferior. 
21 
 
 Distal: significa mais distante do tronco e é usado para indicar posições 
mais distantes da extremidade fixa do membro, por exemplo o pé está na 
extremidade distal do membro inferior. 
 Superficial: significa mais próximo da superfície , por exemplo o couro 
cabeludo é superficial a calota craniana. 
 Profundo: significa mais distante da superfície, por exemplo no braço, o 
osso (úmero) é profundo a pele. 
 Interno: significa em direção ou no interior de um órgão ou cavidade. 
 Externo: significa em direção ou no exterior de um órgão ou cavidade. 
 Contralateral: significa no lado oposto, por exemplo as mãos direita e 
esquerda são contralaterais. 
 
Figura 7: Termos de relação e comparação. 
Extraído do CD ROM de Van De Graff (2003). 
22 
 
 
Figura 8: Termos de relação e comparação. 
Extraído do CD ROM de Van De Graff (2003). 
Desta forma é possível entender a organização anatômica de nosso corpo. As 
figuras a seguir mostram as diferentes regiões anatômicas e sua terminologia 
adequada. Muitas destas regiões já são conhecidas através de termos populares, os 
quais devem ser evitados no âmbito acadêmico, preferindo-se a terminologia 
anatômica. 
 
23 
 
 
Figura 9: Organização anatômica do corpo. 
Extraído do CD ROM de Van De Graff (2003). 
 
24 
 
 
Figura 10: Organização anatômica do corpo. 
Extraído do CD ROM de Van De Graff (2003). 
25 
 
 
Figura 11: Organização anatômica do corpo. 
Extraído do CD ROM de Van De Graff (2003). 
26 
 
Além dos planos anatômicos, será muito importante no estudo da anatomia e 
também mais adiante da cinesiologia, o estudo dos eixos anatômicos, que permitirão 
o entendimento dos termos de movimentos. 
Os eixos anatômicos são (vide fig. 6): 
1. Eixo Longitudinal: promove movimentos no plano horizontal, como as 
rotações; 
2. Eixo frontal: promove movimentos no plano sagital, com a flexão e a 
extensão; 
3. Eixo sagital: promove movimentos no plano frontal, como a abdução e a 
adução; 
 
Figura 12: Eixos anatômicos – Extraído de 
http://www.courses.vcu.edu/DANC291-003/ 
Os termos de movimento são divididos em 3 grandes grupos: 
27 
 
1. Movimentos angulares: os movimentos angulares aumentam ou diminuem 
o ângulo da articulação produzido pelos ossos que se articulam (Van De 
Graaff, 2003). 
 
 Os 4 tipos de movimentos angulares são: 
 
a. Flexão: Movimento realizado no plano sagital pelo eixo frontal. É o 
movimento que é conhecido vulgarmente por “dobrar” a articulação. 
b. Extensão: Movimento realizado no plano sagital pelo eixo frontal. É 
o movimento que é conhecido vulgarmente por “esticar” a 
articulação. 
 
Figura 13: Flexão e extensão do joelho. 
Extraído do CD ROM de Van De Graff (2003). 
 
c. Abdução: Movimento realizado no plano frontal pelo eixo sagital. É 
um movimento que afasta o segmento da linha média do corpo. 
d. Adução: Movimento realizado no plano frontal pelo eixo sagital. É 
um movimento que aproxima o segmento da linha média do corpo. 
 
28 
 
 
Figura 14: Abdução e adução do quadril. 
Extraído do CD ROM de Van De Graff (2003). 
Obs.: No caso da articulação do tornozelo a flexão é chamada de dorsiflexão e 
a extensão é chamada de flexão plantar. 
Existem movimentos na articulação do ombro que são chamados de flexão ou 
adução horizontal e extensão ou abdução horizontal. São movimentos realizados 
no plano horizontal pelo eixo longitudinal, como por exemplo, o movimento de abrir e 
fechar os braços ao abraçar uma pessoa. 
 
2. Movimentos circulares: São movimentos que como nome já diz, produzem 
uma trajetória circular. São eles: 
a. Rotação: É o movimento de uma parte do corpo ao redor do seu 
próprio eixo, sem deslocamento lateral. 
b. Circundução: É o movimento que descreve no espaço uma 
trajetória em forma de cone. 
29 
 
 
Figura 15: Rotação de ombro e circundução de punho. 
Extraído do CD ROM de Van De Graff (2003). 
Obs.: O antebraço possui uma modalidade específica de rotação chamada de 
pronação (palma da mão para baixo) e supinação (palma da mão para cima). 
 
3. Movimentos especiais: Quando os movimentos desenvolvidos por 
algumas articulações não se adaptam aos termos empregados nas 
categorias de movimentos angulares e circulares, outra nomenclatura 
deve ser empregada (Van De Graaff, 2003). 
a. Protração: É o movimento de parte do corpo para o plano anterior 
paralelamente ao solo. 
b. Retração: É o movimento de uma parte do corpo para o plano 
posterior paralelamente ao solo. 
30 
 
 
Figura 16: Protração e retração da coluna cervical. 
Extraído do CD ROM de Van De Graff (2003). 
 
c. Elevação: É o movimento que eleva uma parte do corpo. 
d. Depressão: É o movimento que abaixa uma parte do corpo. 
 
Figura 17: Elevação e depressão de ombros. 
 Extraído do CD ROM de Van De Graff (2003). 
 
31 
 
Dissecação de cadáver 
 
Como discutido inicialmente nesse capítulo, a Anatomia é considerada a mais 
antiga das ciências da saúde. O estudo da Anatomia tem uma longa e interessante 
história, desde os primórdios da civilização humana, inicialmente limitada ao 
observável a olho nu e pela manipulação dos corpos, expandiu-se, ao longo do 
tempo, graças a aquisição de tecnologias inovadoras (Rubinstein, 2005). 
A técnica de dissecação (palavra derivada do latim dissecare) que possui um 
significado semelhante ao termo anatome (Moore, 1994), proporcionou um 
significativo aumento do conhecimento sobre o corpo humano. O mais antigo relato 
conhecido de uma dissecação pertence ao grego Teofrasto (? – 287 a. C.), discípulo 
de Aristóteles (Wikipedia, 2005). 
 
Figura 18: Dissecação de cadáver – sociedade brasileira de anatomia - Extraída: 
http://www.anatomiaonline.com/fotografia/index.htm 
 
32 
 
Dissecção (ou dissecação) significa o ato de dissecar, de separar as partes 
de um corpo ou de um órgão. Emprega-se tanto em anatomia (dissecção de um 
cadáver ou parte deste) como em cirurgia (dissecção de uma artéria, de uma veia, 
de um tumor etc.) 
 
 Dissecar origina-se do verbo latino disseco, are, que também se escreve 
deseco, are, cujo sentido é o de cortar dividindo, separando as partes. O 
substantivo correspondente, desectio, onis, traduz-se por corte, talho. Segundo 
Marcovecchio, dissecare, como termo médico, fora já empregado por Plinius, no 
século I d.C. Dissection, originado do latim dissectio, onis, foi introduzido na 
linguagem médica, tanto em francês como em inglês, no século XVI. Dissection foi 
adaptado para dissección, em espanhol; dissezione, em italiano, e dissecção, em 
português. 
 
 A dissecção na área da anatomia humana é o ato de explorar o corpo humano, 
ou seja, através de cortes possibilitar a visualização anatômica dos orgãos e regiões 
que existem no corpo humano e assim possibilidar o seu estudo. Através demuitos 
estudos de dissecção foi possível identificar e melhorar a área médica, através de 
conhecimentos básicos como a localização de vasos, nervos, ossos, músculos, com 
suas origens e inserções. Sem dúvida o ato de dissecar é muito importante e 
utilizado até hoje nos cursos de medicina. 
Um dos instrumentos mais utilizados na técnica da dissecação é o bisturi 
 
Muita fama lhe é atribuída, sendo um ícone 
do cirurgião e dos laboratórios de anatomia. 
Por isso trouxe aqui algumas curiosidades 
sobre este tão notório instrumento. 
 
 
33 
 
 A palavra bisturi procede do francês bistouri, primitivamente bistori. Sua origem 
é incerta; todavia, admite-se que derive do latim Pistorium ou Pistoria, antigo nome 
de Pistoia, cidade do norte da Itália, a mesma onde se encontra o cemitério dos 
soldados brasileiros mortos na segunda guerra mundial. 
 Em Pistoia fabricavam-se excelentes facas e punhais, utilizados como armas e 
instrumentos de corte, que se tornaram conhecidos em latim por pistoriensis e em 
italiano por pistorino e pistolese. 
 A substantivação desses adjetivos explica as formas adaptadas ao francês de 
bistorie e pistolet. "As duas palavras são certamente idênticas, porém a causa da 
substituição de p por b, que deve ser buscada na influência de uma outra palavra, 
permanece obscura". 
 Ambroise Paré (1506-1590) foi o primeiro a empregar o bisturi como 
instrumento cirúrgico e em seus trabalhos encontram-se indiferentemente as duas 
formas: bistouri e pistolet. O instrumento foi aperfeiçoado para uso cirúrgico, 
prevalecendo o primeiro nome, que se difundiu a outros idiomas: inglês, bistoury; 
espanhol; bisturi; português, bisturi. Em italiano coexistem as formas bistori, bistorino 
e bisturi, com preferência para esta última. Em português também já se empregou 
bistori, como se lê nos dicionários de Moraes , Vieira e Aulete. 
 Escalpelo origina-se do latim scalpellum, diminutivo de scalprum, que pode 
significar qualquer instrumento cortante. Celsus empregou tanto 
scalpellumcomoscalprum com o sentido de bisturi. Escalpelo é termo pouco 
empregado atualmente em linguagem médica e, assim mesmo, de uso restrito às 
dissecções anatômicas. De escalpelo deriva o verbo escalpelar, com o sentido de 
dissecar. 
 No século XVI, quando viveu Ambroise Paré, a língua oficial erudita utilizada 
nas publicações médicas e científicas era o latim. Como Paré não soubesse latim, o 
que lhe valeu o menosprezo de seus contemporâneos, escreveu todos os seus 
trabalhos em francês. Talvez por esta razão tenha empregado bistouri, palavra mais 
antiga em francês, em lugar de scalpel, cuja introdução na língua francesa só 
ocorreu a partir de 1539. 
34 
 
 
Figura 19: “A Aula de anatomia do Dr. Tulp”, pintada em 1632, é um dos mais 
famosos quadros do holandes Rembrandt que retratou com muita competência uma 
dissecação pública de um cadáver - Extraída de: 
http://www.anatomiaonline.com/historia.htm 
 
O conhecimento anatômico do corpo humano data de quinhentos anos antes 
de Cristo no sul da Itália com Alcméon de Crotona, que realizou dissecações em 
animais. Pouco tempo depois, um texto clínico da escola hipocrática descobriu a 
anatomia do ombro conforme havia sido estudada com a dissecação. Aristóteles 
mencionou as ilustrações anatômicas quando se referiu aos paradigmata, que 
provavelmente eram figuras baseadas na dissecação animal. 
No século III A.C., o estudo da anatomia avançou consideravelmente na 
Alexandria. Muitas descobertas lá realizadas podem ser atribuídas a Herófilo e 
Erasístrato, os primeiros que realizaram dissecações humanas de modo sistemático. 
A partir do ano 150 A.C. a dissecação humana foi de novo proibida por razões éticas 
e religiosas. O conhecimento anatômico sobre o corpo humano continuou no mundo 
helenístico, porém só se conhecia através das dissecações em animais. 
35 
 
 
 No século II D.C., Galeno dissecou quase tudo, macacos e porcos, aplicando 
depois os resultados obtidos na anatomia humana, quase sempre corretamente; 
contudo, alguns erros foram inevitáveis devido à impossibilidade de confirmar os 
achados em cadáveres humanos. Galeno desenvolveu assim mesmo a doutrina da 
“causa final”, um sistema teológico que requeria que todos os achados 
confirmassem a fisiologia tal e qual ele a compreendia. 
Porém não chegaram até nós as ilustrações anatômicas do período clássico, 
sendo as “séries de cinco figuras” medievais dos ossos, veias, artérias, órgãos 
internos e nervos são provavelmente cópias de desenhos anteriores. 
Invariavelmente, as figuras são representadas numa posição semelhante à de uma 
rã aberta, para demonstrar os diversos sistemas, às vezes, se agrega uma sexta 
figura que representa uma mulher grávida e órgãos sexuais masculinos ou 
femininos. Nos antigos baixos-relevos, camafeus e bronzes aparecem muitas vezes 
representações de esqueletos e corpos encolhidos cobertos com a pele (chamados 
lêmures), de caráter mágico ou simbólico mais que esquemático e sem finalidade 
didática alguma. 
 Parece que o estudo da anatomia humana recomeçou mais por razões práticas 
que intelectuais. A guerra não era um assunto local e se fez necessário dispor de 
meios para repatriar os corpos dos mortos em combate. O embalsamento era 
suficiente para trajetos curtos, mas as distâncias maiores como as Cruzadas 
introduziram a prática de “cocção dos ossos”. A bula pontifica De sepulturis de 
Bonifácio VIII (1300), que alguns historiadores acreditaram equivocadamente proibir 
a dissecção humana, tentava abolir esta prática. 
O motivo mais importante para a dissecação humana, foi o desejo de saber a 
causa da morte por razões essencialmente médico-legais, de averiguar o que havia 
matado uma pessoa importante ou elucidar a natureza da peste ou outra 
enfermidade infecciosa. O verbo “dissecar” era usado também para descrever a 
operação cesariana cada vez mais freqüente. A tradição manuscrita do período 
medieval não se baseou no mundo natural. AS ilustrações anteriores eram aceitas e 
copiadas. Em geral, a capacidade dos escritores era limitada e ao examinar a 
36 
 
realidade natural, introduziram pelo menos alguns erros tanto de conceito como de 
técnica. As coisas “eram vistas” tal quais os antigos e as ilustrações realistas eram 
consideradas como um curto-circuito do próprio método de estudo. 
 A anatomia não era uma disciplina independente, mas um auxiliar da cirurgia, que 
nessa época era relativamente grosseira e reunia sobre todo conhecer os pontos 
apropriados para a sangria. Durante todo o tempo que a anatomia ostentou essa 
qualidade oposta à prática, as figuras não-realistas e esquemáticas foram 
suficientes. O primeiro livro ilustrado com imagens impressas mais do que pintadas 
foi a obra de Ulrich Boner Der Edelstein. Foi publicada por Albrecht Plister em 
Banberg depois de 1460 e suas ilustrações foram algo mais que decorações 
vulgares. Em 1475, Konrad Megenberg publicou seu Buch der Natur, que incluía 
várias gravuras em madeira representando peixes, pássaros e outros animais, assim 
como plantas diversas. Essas figuras, igual a muitas outras pertencentes a livros 
sobre a natureza e enciclopédias desse período, estão dentro da tradição 
manuscrita e são dificilmente identificáveis. 
 Dentre os muitos fatores que contribuíram para o desenvolvimento da técnica 
ilustrativa no começo do século XVI, dois ocuparam lugar destacado: o primeiro foi o 
final da tradição manuscrita consistente em copiar os antigos desenhos e a 
conversão da natureza em modelo primário. Chegou-se ao convencimento de que o 
mais apropriado para o homem era o mundonatural e não a posteridade. O 
escolasticismo de São Tomás de Aquino havia preparado inadvertidamente o 
caminho através da separação entre o mundo natural e o sobrenatural, 
prevalecendo à teologia sobre a ciência natural. 
O segundo fator que influiu no desenvolvimento da ilustração científica para o 
ensino foi à lenta instauração de melhores técnicas. No começo os editores, com um 
critério puramente quantitativo, pensaram que com a imprensa poderiam fazer 
grande quantidade de reproduções de modo fácil e barato. Só mais tarde 
reconheceram a importância que cada ilustração fosse idêntica ao original. A 
capacidade para repetir exatamente reproduções pictóricas, daquilo que se 
observava, constituiu a característica distinta de várias disciplinas científicas, que 
descartaram seu apoio anterior à tradição e aceitação de uma metodologia, que foi 
descritiva no princípio e experimental mais tarde. 
37 
 
 As primeiras ilustrações anatômicas impressas baseiam-se na tradição 
manuscrita medieval. O Fasciculus medicinae era uma coleção de textos de autores 
contemporâneos destinada aos médicos práticos, que alcançou muitas edições. Na 
primeira (1491) utilizou-se a xilografia pela primeira vez, para figuras anatômicas. 
 
 
 
As ilustrações representam corpos 
humanos mostrando os pontos de 
sangria, e linhas que unem a figura às 
explicações impressas nas margens. As 
dissecações foram desenhadas de uma 
forma primitiva e pouco realista. Na 
Segunda edição (1493), as posições das 
figuras são mais naturais. 
Os textos de Hieronymous Brunschwig 
(cerca de 1450-1512) continuaram 
utilizando ilustrações descritivas. O 
capítulo final de uma obra de Johannes 
Peyligk (1474-1522) consiste numa 
breve anatomia do corpo humano como 
um todo, mas as onze gravuras de 
madeira que inclui são algo mais que 
representações esquemáticas 
posteriores dos árabes. 
Na Margarita philosophica de George Reisch (1467-1525), que é uma 
enciclopédia de todas as ciências, forma colocadas algumas inovações nas 
tradicionais gravuras em madeira e as vísceras abdominais são representadas de 
modo realista. Além desses textos anatômicos destinados especificamente aos 
estudantes de medicina e aos médicos, foram impressas muitas outras páginas com 
figuras anatômicas, intituladas não em latim (como todas as obras para médicos), 
mas sim em várias línguas vulgares. Houve um grande interesse, por exemplo, na 
concepção e na formação do feto humano. O uso freqüente da frase “conhece-te a ti 
38 
 
mesmo” fala da orientação filosófica e essencialmente não médica. A “Dança da 
Morte” chegou a ser um têm muito popular, sobretudo nos países de língua 
germânica, após a Peste Negra e surpreendentemente, as representações dos 
esqueletos e da anatomia humana dos artistas que as desenharam são melhores 
que as dos anatomistas 
Os artistas renascentistas do século XV se interessavam cada vez mais pelas 
formas humanas, e o estudo da anatomia fez parte necessária da formação dos 
artistas jovens, sobretudo no norte da Itália. Leonardo da Vinci (1452-1519) foi o 
primeiro artista que considerou a anatomia além do ponto de vista meramente 
pictórico. Fez preparações que logo desenhou, das quais são conservadas mais de 
750, e representam o esqueleto, os músculos, os nervos e os vasos. As ilustrações 
foram completadas muitas vezes com anotações do tipo fisiológico. 
 
Figura 20: Leonardo da Vinci (1452-1519) - fetus in útero – Extraído de The 
da Vinci Series. 
 
 
39 
 
A precisão de Leonardo é maior que a de Vesalio e sua beleza artística 
permanece inalterada. Sua valorização correta da curvatura da coluna vertebral ficou 
esquecida durante mais de cem anos. Representou corretamente a posição do fetus 
in utero e foi o primeiro a assinalar algumas estruturas anatômicas conhecidas. Só 
uns poucos contemporâneos viram seus folhetos que, sem dúvida, não foram 
publicados até o final do século passado. 
Michelangelo Buonarotti (1475-1564) passou pelo menos vinte anos 
adquirindo conhecimentos anatômicos através das dissecações que praticava 
pessoalmente, sobretudo no convento de Santo Espírito de Florença. 
Posteriormente expôs a evolução a que esteve sujeito, ao considerar a anatomia 
pouco útil para o artista até pensar que encerrava um interesse por si mesma, ainda 
que sempre subordinada à arte. Albrecht Dürer (1471-1528) escreveu obras de 
matemática, destilação, hidráulica e anatomia. Seu tratado sobre as proporções do 
corpo humano foi publicado após sua morte. Sua preocupação pela anatomia 
humana era inteiramente estética, derivando em último extremo de um seu interesse 
pelos cânones clássicos, através dos quais podia adquirir-se a beleza. 
Com a importante exceção de Leonardo, cujos desenhos não estiveram ao 
alcance dos anatomistas do século XVII, o artista do Renascimento era anatomista 
só de maneira secundária. Ainda foram feitas importantes contribuições na 
representação realista da forma humana (como o uso da perspectiva e do 
sombreado para sugerir profundidade e tridimensionalidade), e os verdadeiros 
avanços científicos exigiam a colaboração de anatomistas profissionais e de 
artistas. 
 Quando os anatomistas puderam representar de modo realista os conhecimentos 
anatômicos corretos, se iniciou em toda Europa um período de intensa investigação, 
sobretudo no norte da Itália e no sul da Alemanha. O melhor representante deste 
grupo é Jacob Berengario da Capri (+1530), autor dos Commentaria super 
anatomica mundini (1521), que contém as primeiras ilustrações anatômicas tomadas 
do natural. Em 1536, Cratander publicou em Basiléia uma edição das obras de 
Galeno, que incluía figuras, especialmente de osteologia, feitas de um modo muito 
realista. A partir de uma data tão cedo como 1532, Charles Estienne preparou em 
40 
 
Paris uma obra em que ressaltava a completa representação pictórica do corpo 
humano. 
A. VERSALIUS 
 Uma das primeiras e mais acertada solução para uma reprodução perfeita das 
representações gráficas foi encontrada nas ilustrações publicadas nos tratados 
anatômicos de Andrés Vesálio (1514-1564), que culminou com seu De humanis 
corpori fabrica em 1453, um dos livros mais importantes da história do homem. 
Vesálio nasceu em Bruxelas em 1514, no seio de uma família muito relacionada com 
a casa de Borgonha e a corte do Imperador da Alemanha. 
 
 
 
 
 
 
 
Sua primeira formação médica foi na Universidade de Paris (onde esteve com 
mestres como Jacques du Bois e Guinter de Andernach), e foi interrompida pela 
guerra entre França e o Sacro Império Romano. Vesálio completou seus estudos na 
renomada escola médica de Pádua, no norte da Itália. Após seu término começou a 
estudar cirurgia e anatomia. Após alguns trabalhos preliminares, em 1543, com a 
idade de 28 anos, publicou seu opus magnun, que revolucionou não só a anatomia 
como também o ensino científico em geral. 
As ilustrações da Fabrica destacam-se precisamente pela sua estreita relação 
com o texto, já que ajudam no entendimento do que este expressa com dificuldade. 
Supera a pauta expositiva usada por Mondino, e cada um dos sistemas principais 
41 
 
(ossos, músculos, vasos sangüíneos, nervos e órgãos internos) é representado e 
estudado separadamente. As partes de cada sistema orgânico são expostas tanto 
em conjunto como individualmente e mesmo assim são consideradas todas as 
relações entre essas estruturas. Vesálio comprovou também que não são iguais em 
todos os indivíduos. 
 Vesálio relatou sua surpresa ao encontrar inúmeros erros nas obras de 
Galeno, e temos que ressaltar a importância de sua negativaem aceitar algo só por 
tê-lo encontrado nos escritos do grande médico grego. Sem dúvida, apesar de Ter 
desmentido a existência dos orifícios que Galeno afirmava existir comunicando as 
cavidades cardíacas, foi de todas as maneiras um seguidor da fisiologia galênica. 
 Foram engrandecidas as diferenças que separavam seu conhecimento 
anatômico do de Galeno, começando pelo próprio Vesálio. Talvez pensasse que 
uma polêmica era um modo de chamar atenção. Manteve depois uma disputa 
acirrada com seu mestre Jacques du Bois (ou Sylvius na forma latina), que foi um 
convencido galenista cuja única resposta, ante as diferenças entre algumas 
estruturas tal como eram vistas por Vesálio e como as havia descrito Galeno, foi que 
a humanidade devia tê-lo mudado durante esses dois séculos. 
Vesálio tinha atribuído o traçado das primeiras figuras a um certo Fleming, 
mas na Fabrica não confiou em ninguém, e a identidade do artista ou artistas que 
colaboraram na sua obra tem sido objeto de grande controvérsia, que se acentuou 
ante a questão de quem é mais importante, se o artista ou o anatomista. Essa última 
foi uma discussão não pertinente, já que é óbvio que as ilustrações são importantes 
precisamente porque juntam uma combinação de arte e ciência, uma colaboração 
entre o artista e o anatomista. 
As figuras da Fabrica implicam em tantos conhecimentos anatômicos que 
forçosamente Vesálio devia participar na preparação dos desenhos, ainda que o 
grau de refinamento e do conhecimento de técnicas novas de desenho, também 
para os artistas do Renascimento, excluem também que fora o único responsável. 
Até hoje é discutido se Jan Stephan van Calcar (1499-1456/50), que fez as primeiras 
figuras e trabalhou no estúdio de Ticiano na vizinha Veneza, era o artista. De 
42 
 
qualquer maneira, havia-se encontrado uma solução na busca de uma expressão 
pictórica adequada aos fenômenos naturais. 
 No século XVII foram efetuadas notáveis descobertas no campo da anatomia e da 
fisiologia humana. Francis Glisson (1597-1677) descreveu em detalhes o fígado, o 
estômago e o intestino. Apesar de seus pontos de vista sobre a biologia serem 
basicamente aristotélicos, teve também concepções modernas, como a que se 
refere aos impulsos nervosos responsáveis pelo esvaziamento da vesícula biliar. 
Thomas Wharton (1614-1673) deu um grande passo ao ultrapassar a velha e 
comum idéia de que o cérebro era uma glândula que secretava muco (sem dúvida, 
continuou acreditando que as lágrimas se originavam ali). 
Wharton descreveu as características diferenciais das glândulas digestivas, 
linfáticas e sexuais. O conduto de evacuação da glândula salivar submandibular 
conhece-se como conduto de Wharton. Uma importante contribuição foi distinguir 
entre glândulas de secreção interna (chamadas hoje endócrinas), cujo produto cai 
no sangue, e as glândulas de secreção externa (exócrinas), que descarregam nas 
cavidades. 
Niels Steenson em 1611 estabeleceu a diferença entre esse tipo de glândula 
e os nódulos linfáticos (que recebiam o nome de glândula apesar de não formar 
parte do sistema). Considerava que as lágrimas provinham do cérebro. A nova 
concepção dos sistemas de transporte do organismo que se obteve graças às 
contribuições de muitos investigadores ajudou a resolver os erros da fisiologia 
galênica referentes à produção de sangue. 
Gasparo Aselli (1581-1626) descobriu que após a ingestão abundante de 
comida o peritônio e o intestino de um cachorro se cobriam de umas fibras brancas 
que, ao serem seccionadas, extravasavam um líquido esbranquiçado. Tratava-se 
dos capilares quilíferos. Até a época de Harvey se pensava que a respiração 
estimulava o coração para produzir espíritos vitais no ventrículo direito. Harvey, 
porém, demonstrou que o sangue nos pulmões mudava de venoso para arterial, mas 
desconhecia as bases desta transformação. 
43 
 
A explicação da função respiratória levou muitos anos, mas durante o século 
XVII foram dados passos importantes para seu esclarecimento. Robert Hook (1635-
1703) demonstrou que um animal podia sobreviver também sem movimento 
pulmonar se inflássemos ar nos pulmões. Richard Lower (1631-1691) foi o primeiro 
a realizar transfusão direta de sangue, demonstrando a diferença de cor entre o 
sangue arterial e o venoso, a qual se devia ao constato com o ar dos pulmões. 
John Mayow (1640-1679) afirmou que a vermelhidão do sangue venoso se 
devia à extração de alguma substância do ar. Chegou à conclusão de que o 
processo respiratório não era mais que um intercâmbio de gases do ar e do sangue; 
este cedia o espírito nitroaéreo e ganhava os vapores produzidos pelo sangue. Em 
1664 Thomas Willis (1621-1675) publicou De Anatomi Cerebri (ilustrado por 
Christopher Wren e Richard Lower), sem dúvida o compêndio mais detalhado sobre 
o sistema nervoso. Seus estudos anatômicos ligaram seu nome ao círculo das 
artérias da base do cérebro, ao décimo primeiro par craniano e também a um 
determinado tipo de surdez. 
Contudo, sua obsessão em localizar no nível anatômico os processos mentais 
o fez chegar a conclusões equívocas; entre elas, que o cérebro controlava os 
movimentos do coração, pulmões, estômago e intestinos e que o corpo caloso era 
assunto da imaginação. 
2 - SISTEMA ESQUELÉTICO 
 
Osteologia é o estudo dos ossos. Num sentido amplo, estuda os ossos e as 
estruturas intimamente ligadas a eles, formando um todo denominado esqueleto. O 
sistema esquelético é composto de ossos e cartilagens. 
Conceitos de ossos 
 
Ossos são estruturas esbranquiçadas, duras e que se unem uns aos outros 
por intermédio das junturas. São elementos passivos, mas pela ação dos músculos, 
desempenham o papel de alavancas ativas e úteis para toda a movimentação 
voluntária do corpo. É uma forma especializada de tecido conjuntivo cuja principal 
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característica é a mineralização (cálcio) de sua matriz óssea (fibras colágenas e 
proteoglicanas). 
 
 O osso é um tecido vivo, complexo e dinâmico. Uma forma sólida de tecido 
conjuntivo, altamente especializado que forma a maior parte do esqueleto e é o 
principal tecido de apoio do corpo. O tecido ósseo participa de um contínuo processo 
de remodelamento dinâmico, produzindo osso novo e degradando osso velho. 
 
 O osso é formado por vários tecidos diferentes: tecido ósseo, cartilaginoso, 
conjuntivo denso, epitelial, adiposo, nervoso e vários tecidos formadores de sangue. 
 
 Quanto à irrigação do osso, temos os canais de Volkman (vasos sangüíneos 
maiores) e os canais de Havers (vasos sangüíneos menores). O tecido ósseo não 
apresenta vasos linfáticos, apenas o tecido periósteo tem drenagem linfática. 
 
 No interior da matriz óssea existem espaços chamados lacunas que contêm 
células ósseas chamadas osteófitos. Cada osteófito possui prolongamentos 
chamados canalículos, que se estendem a partir das lacunas e se unem aos 
canalículos das lacunas vizinhas, formando assim, uma rede de canalículos e 
lacunas em toda a massa de tecido mineralizado. 
 
O interior da matriz óssea é altamente vascularizado, possuindo uma rede de 
canais por onde passam os vasos sangüíneos, que fornecem nutrientes e oxigênio 
para as células. Os canais centrais percorrem os ossos no sentido longitudinal e os 
canais perfurantes partem da superfície dos ossos, percorrendo-os 
transversalmente. 
 
Estes últimos representam maior via anastomótica no interior do osso 
compacto. Já os vasos sangüíneos menores entram nos canais centrais, onde se 
pode encontrar uma arteríola ou vênula ou somente um capilar. 
 
Medula Óssea – no interior dos ossos há dois tipos básicos de tecidos orgânicos 
que constituem os dois tipos de medulaóssea, a vermelha, formada principalmente 
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por sangue, localizada, por exemplo, na epífise dos ossos longos e a amarela, 
composta predominantemente por gordura e colágeno, localizada na diáfise. 
Células ósseas 
 
Osteoblastos – estão relacionados com a formação dos ossos, elaboração da matriz 
e a com a sua calcificação. 
 
Osteoclastos – são células grandes multinucleadas e funcionam para promover a 
reabsorção do osso. 
 
Osteócitos – são as principais células do osso e participam da reabsorção óssea. 
Tipos de substância óssea 
 
Substância óssea compacta – as lamínulas de tecido ósseo se encontram 
fortemente ligadas umas às outras, sem que haja espaço livre interposto. Mais 
denso e rijo, apresenta alta resistência mecânica, estando presente nas diáfises dos 
ossos longos. 
 
Substância óssea esponjosa – as lamínulas ósseas arranjam-se de forma a deixar 
entre si espaços que se comunicam uns com os outros. Estão presentes nas 
epífises dos ossos, nos ossos laminares e também nos ossos curtos. Estas 
estruturas se agrupam formando as chamadas trabéculas. 
 
Ambos os tecidos contêm os mesmos elementos histológicos, mas com 
considerável variação de quantidade e distribuição de cada um deles. No osso longo 
típico, a diáfise é compacta em torno da cavidade medular, e nas epífises consiste 
de um osso esponjoso, coberto por delgada camada de osso compacto. 
 
Nos ossos laminares, duas placas de osso compacto limitam uma camada 
média de osso esponjoso. A maioria dos ossos curtos e irregulares consiste de osso 
esponjoso, coberto por delgada casca de osso compacto. 
46 
 
Periósteo e endósteo 
 
Periósteo – o osso é revestido por uma delicada membrana conjuntiva, com exceção 
das superfícies articulares. Esta membrana é determinada periósteo e apresenta 
dois folhetos: um superficial e outro profundo (em contato direto com a superfície 
óssea). A camada profunda é chamada de osteogênica, pelo fato de suas células se 
transformarem em células ósseas, que são incorporadas à superfície do osso, 
promovendo assim o seu espessamento. 
 
Endósteo – tecido de revestimento tanto do osso que está voltado para a cavidade 
medular quanto das trabéculas do osso esponjoso. 
 
 
Figura 21: Estrutura de um osso 
Nutrição do osso 
 
O osso é altamente vascularizado, devido a sua função hematopoética e ao 
seu crescimento lento e contínuo. As artérias do periósteo penetram no osso, 
irrigando-o e distribuindo-se na medula óssea. Desprovido de seu periósteo, o osso 
deixa de ser nutrido e morre. 
Estudo mecânico dos ossos 
 
47 
 
Resistência – o tecido ósseo é o que apresenta maior resistência mecânica dentre 
os outros tecidos do corpo, pelo sistema de lâminas trabeculares, na porção 
chamada esponjosa dos ossos, que permite melhor absorção de impactos. 
 
Elasticidade – propriedade pela qual um corpo, quando deformado por uma força 
exterior, retorna por suas forças interiores à sua forma primitiva, uma vez cessada a 
ação da força deformante. Essa propriedade pode ser limitada quanto maior a 
proporção de tecido compacto, em relação ao tecido esponjoso. 
Influência do exercício sobre as estruturas ósseas 
 
Hipertrofia óssea – a atividade física é de fundamental importância para manter o 
conteúdo de minerais do organismo. Exemplo: jogadores de tênis apresentam 
hipertrofia muscular no braço que mais utilizam, e também ocorre hipertrofia óssea 
no úmero. 
 
Hipotrofia óssea – os ossos se atrofiam ou param de crescer quando as forças 
musculares e funcionais são anuladas por paralisia. Exemplo: diminuição de massa 
óssea em pessoas idosas, em repouso prolongado na cama e em astronautas que 
ficaram por um longo período em ausência de gravidade. Ou, ainda devido a 
disfunções como osteoporose, que leva à perda progressiva do tecido ósseo. 
Funções do esqueleto 
 
o Conferir proteção a órgãos. 
o Permitir a sustentação e a conformação do corpo. 
o Armazenar íons Ca e P, fundamentais para a calcificação fetal durante a 
gravidez. 
o Constituição, juntamente com os músculos, de um sistema de alavancas, que 
permite o movimento com ou sem deslocamento. 
o Produção de determinadas células sangüíneas. 
48 
 
Divisão do esqueleto 
 
O esqueleto ósseo humano está dividido em duas partes: o esqueleto axial, 
que compreende os ossos da cabeça (crânio), da coluna vertebral e do tórax 
(esterno e costelas), e o esqueleto apendicular, formados pelos ossos dos membros 
superior e inferior. 
 
O esqueleto cefálico (cabeça) é dividido em neurocrânio e viscerocrânio. Os 
ossos do neurocrânio (oito ossos) delimitam a cavidade crânica que contém o 
encéfalo; o viscerocrânio é constituído pelos ossos da face (14 ossos). O pescoço 
apresenta um osso ímpar, isolado do esqueleto, chamado de hióide. A coluna 
vertebral é constituída de 33 ossos. O esqueleto do tórax é formado por 25 ossos. 
 
No esqueleto apendicular, os ossos estão distribuídos pelo membro superior 
(32 ossos em cada membro) e membro inferior (33 ossos em cada membro). 
Número de ossos 
 
O indivíduo adulto possui cerca de 210 ossos, mas esse número pode variar, 
conforme: 
 
Fatores etários – ao nascimento, o indivíduo possui, aproximadamente, 350 ossos. 
Certos ossos são formados de partes que se soldam durante o desenvolvimento do 
indivíduo, para formar um osso único no adulto. Ex.: osso frontal e osso do quadril. 
Por outro lado, nos indivíduos muito idosos, há tendência para a soldadura de dois 
ou mais ossos, levando à diminuição do seu número total. Esta situação pode 
ocorrer nos ossos do crânio. 
 
Fatores individuais – em alguns indivíduos, pode haver a persistência da divisão 
do osso frontal no adulto e também a presença de ossos extranumerários. 
 
Critérios de contagem – são considerados os critérios de contagem do anatomista. 
Em alguns casos, por exemplo, são considerados os ossos sesamóides (inclusos 
49 
 
em tendões musculares); em outros, os ossículos do ouvido podem não ser 
considerados. 
 
ESQUELETO AXIAL – 80 OSSOS 
CRÂNIO FACE C. VERTEBRAL TÓRAX 
Parietal – 2 
Temporal – 2 
Frontal – 1 
Occipital – 1 
Etmóide – 1 
Esfenóide – 1 
 
Mandíbula – 1 
Vômer – 1 
Maxila- 2 
Zigomático – 2 
Lacrimal – 2 
Nasal – 2 
Concha N. Inf – 2 
Palatino – 2 
V.Cervical – 7 
V. Torácica – 12 
V. Lombar – 5 
V. Sacro – 1 (5) 
V. Cóccix – 1 (4) 
 
Costela – 24 
Esterno - 1 
 
Hióide – 1 
Ouvido – Estribo – 2, Martelo – 2, Bigorna – 2 
 
 
 
 
ESQUELETO APENDICULAR – 126 OSSOS 
CINTURA 
ESCAPULAR 
MEMBROS 
SUPERIORES 
CINTURA 
PÉLVICA 
MEMBROS 
INFERIORES 
Escápula – 2 
Clavícula - 2 
 
Úmero – 2 
Rádio – 2 
Úlna – 2 
Carpo – 16 
Escafóide,Semilunar, 
Piramidal,Pisiforme, 
Hamato, Capitato, 
Trápézio, Trapezóide. 
Metacarpo – 10 (I – V) 
Falanges - 28 
 
Quadril – 2 
Ílio 
Ísquio 
Púbis 
 
Fêmur – 2 
Patela – 2 
Tíbia – 2 
Fíbula – 2 
Tarso – 14 
Tálus, Calcâneo, 
Navicular, Cubóide, 
Cuneiforme medial, 
Intermédio e lateral. 
Metatarso – 10 (I-V) 
Falanges - 2 
 
50 
 
Classificação dos ossos 
 
Os ossos podem ser classificados conforme seu comprimento, largura e 
espessura, segundo a predominância de uma das dimensões sobre as demais: 
 
Osso longo – apresenta comprimento consideravelmente maior que a largura e a 
espessura. As extremidades dos ossos longos são cobertas pela cartilagem 
articular, que têm função revestir a superfície, tornando-a mais lisa, facilitando o 
movimento entre os ossos articulados. Os ossos longos

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