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Do inadimplemento das obrigações - PARTE II

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INSTITUTO LUTERANO DE ENSINO SUPERIOR DE ITUMBIARA
CURSO DE DIREITO
DISCIPLINA: DIREITO CIVIL III – OBRIGAÇÕES II
 
AULA: DO INADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES – PARTE II
4. Das perdas e danos
4.1. Conceito: perdas e danos constituem o equivalente em dinheiro suficiente para indenizar o prejuízo suportado pelo credor, em virtude do inadimplemento do contrato pelo devedor, ou da prática, por este, de um ato ilícito → art. 403
4.2. Conteúdo: abrangem, além do que o credor efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar, salvo as exceções expressamente previstas em lei (art. 402) → dano emergente e lucro cessante
4.3. Obrigações de pagamento em dinheiro
Atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, abrangendo juros, custas e honorários advocatícios de sucumbencia, sem prejuízo da pena convencional → art. 404
Se os juros de mora não cobrirem o prejuízo, e não havendo pena convencional, pode oi juiz conceder ao credor indenização suplementar → parágrafo único, art. 404 
5. Dos juros legais
Um dos efeitos da mora do devedor é o pagamento de juros ao credor (395), principalmente nas obrigações de dar dinheiro ( = pecuniárias). 
Conceito de juro: é a remuneração que o credor exige por emprestar dinheiro ao devedor. Juro é igual a rendimento, é igual a fruto civil.
Lembrete: os frutos em direito podem ser civis, naturais ou industriais. Os frutos civis são os juros e os rendimentos; os frutos naturais são as frutas das árvores e as crias dos animais; os frutos industriais são, por exemplo, os carros produzidos por uma fábrica de automóveis. Não confundam frutos com produtos, pois estes se esgotam (ex: uma pedreira, uma mina de ouro, um poço de petróleo), enquanto os frutos se renovam. 
Os juros são livres, conforme art. 406, sendo fixados pelas partes no contrato ou pelo mercado financeiro. Depois de assinado o contrato, não adianta dizer que os juros são altos, pois contrato é para ser cumprido. Se as partes não fixarem os juros, estes serão de um por cento ao mês, conforme art. 406 do CC combinado com o art. 161, § 1º do Código Tributário Nacional, pois este é o juro devido no pagamento de impostos.
Realmente, os juros devem ser livres, fixados pelas partes ou pelo mercado. Não pode a lei querer limitar os juros, como acreditam alguns populistas, pois o Direito não manda na Economia. Caso as leis jurídicas fossem superiores às leis econômicas, bastaria um decreto/uma lei acabando com a inflação, acabando com o desemprego, acabando com a recessão, etc. Mas não é assim que o mundo moderno funciona, precisamos ser realistas e não demagógicos, por isso é que o art. 192, § 3º da CF, que limitava os juros em 12% ao ano, foi revogado em maio de 2003 sem nunca ter efetivamente sido aplicado, apesar de vigorado por quinze anos, desde 1988.
6. Da cláusula penal
Conceito: CP é a cláusula acessória a um contrato pelo qual as partes fixam previamente o valor das perdas e danos que por acaso se verifiquem em conseqüência da inexecução culposa da obrigação (408, ex: um promotor de eventos contrata um cantor para fazer um show, e já fixa no contrato que, se o artista desistir, terá que pagar uma indenização de cem mil).
A cláusula penal é acessória, não é obrigatória, então se a dívida não for paga no vencimento (= se o cantor não fizer o show), e não existir cláusula penal no contrato, é o Juiz quem irá fixar a indenização devida pelo cantor,  tornando a obrigação líquida, para só depois possibilitar o ataque pelo credor (o promotor de eventos) ao patrimônio do cantor.
Essa é a grande vantagem da cláusula penal: pré-fixar as perdas e danos, economizando tempo, eliminando recursos processuais ao dispensar o Juiz de calcular o valor previsto no art. 402 do CC.
Outra vantagem da CP é a de intimidar o devedor, ou seja, ele já fica sabendo que terá uma pena se não cumprir a obrigação. É verdade que a lei prevê automaticamente uma punição ao devedor (389), mas a CP reitera essa sanção.
Quando uso no conceito a expressão inexecução “culposa”, refiro-me à culpa em sentido amplo (lato sensu), que corresponde ao dolo (inexecução voluntária) e à culpa stricto sensu (em sentido restrito = imprudência e negligência). Então se o cantor não fez o show porque não quis (dolo) ou porque bebeu demais e perdeu a voz (imprudência), terá que pagar a CP. Mas se o cantor não fez o show porque pegou uma gripe, trata-se de um caso fortuito que isenta de responsabilidade (393 e pú).
Se a obrigação for cumprida pelo devedor, a cláusula penal se extingue; se a obrigação principal for nula, a cláusula penal também o será, afinal, como cláusula acessória, segue o destino da principal (184, in fine).
A CP geralmente reverte em favor do credor, mas o contrato pode prever que será paga a terceiros (ex: se o cantor não fizer o show, pagará cem mil ao Hospital do Câncer).  A CP geralmente é pactuada em dinheiro, mas pode corresponder a obrigação de dar outra coisa, ou a fazer, ou não-fazer algum serviço, com ampla liberdade para as partes. 
Espécies: a) CP compensatória: aplica-se em caso de inexecução (= inadimplemento) da obrigação pelo devedor (410, então o credor poderá optar pela obrigação principal ou pela cláusula penal, semelhante a uma obrigação alternativa); b) CP moratória: aplica-se em caso de atraso (= retardo, mora) do devedor no cumprimento da obrigação, pelo que o devedor pagará a multa pelo atraso e cumprirá a obrigação, 411 (ex: multa de 10% em caso de atraso no pagamento de aluguel, 416). Ambas as espécies estão previstas no art. 409.
Se a cláusula penal compensatória tiver um valor muito alto, o Juiz deverá reduzi-la (CC, arts. 412e 413). 
7. Das arras ou sinal
Conceito: esta palavra deriva do latim arrha e significa garantia. Assim é que as arras são um sinal de pagamento para a firmeza do contrato, inibindo o arrependimento das partes. Corresponde a uma quantia dada por um dos contratantes ao outro como sinal/garantia da confirmação de um contrato bilateral. 
As arras em geral são em dinheiro, mas podem ser em coisas. 
Espécies: a) arras confirmatórias – art. 419 – as arras não são consideradas como estimativa da totalidade das perdas e danos, podendo a parte inocente pleitear indenização suplementar; b) arras penitenciais e exclusão da indenização suplementar – art. 420 – direito de arrependimento fixado no contrato e retenção ou restituição das arras – exclusão da indenização suplementar
Quanto o contrato é fechado, as arras são devolvidas ou abatidas do preço (417). 
Se o contrato não for concluído por culpa/desistência da parte que deu as arras, elas serão perdidas em favor da parte inocente. Se quem desistir for a parte que recebeu as arras, terá que devolvê-las em dobro, devidamente corrigida (418). 
As arras se assemelham à cláusula penal, assunto do semestre passado. Só que as arras são logo entregues, enquanto a cláusula penal só terá aplicação se o contrato for futuramente desfeito.
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
1. Armando compra de Benedito, pelo preço de R$60.000,00 (sessenta mil reais), 1.000 sacas de café, para serem entregues no dia 02/09/2011, no Porto de Santos-SP, véspera da partida de um navio cargueiro em que as sacas de café serão embarcadas para a Europa. Esse navio é o único apto a chegar no tempo certo ao porto de destino, vez que Armando adquiriu o produto para revenda, se comprometendo a entregá-lo a uma empresa de beneficiamento européia no dia 20/09/2011, pelo preço de R$80.000,00 (oitenta mil reais). Ocorre que, vencida a obrigação, Benedito não entregou as sacas de café, e, consequentemente, Armando perdeu o negócio na Europa. 
	a) Considere que o contrato celebrado por Armando e Benedito continha uma cláusula penal para o caso de total inadimplemento da obrigação, no valor de R$20.000,00 (vinte mil reais). Como a cláusula penal é compensatória, pode-se dizer que Armando, ao recorrer às vias judiciais, deve exigir somente o valor da pena convencional,mesmo que ela seja exígua diante dos prejuízos sofridos por Armando? Explique.
	b) Considere que o contrato celebrado por Armando e Benedito continha uma cláusula penal para o caso de total inadimplemento da obrigação, no valor de R$100.000,00 (cem mil reais). Como a obrigação não foi cumprida, Armando pode exigir a pena convencional compensatória prevista no contrato? Por quê?
	c) Considere que, visando assegurar o cumprimento da obrigação, Armando deu a Benedito o valor de R$20.000,00 (vinte mil reais), a título de arras. Quais as consequencias jurídicas da mencionada situação? Há alguma quantia a ser devolvida? Explique.
2. Marina, proprietária do imóvel residencial situado na Av. Beira Rio, nº 913, Bairro Alto da Boa Vista, Itumbiara-GO, celebrou contrato de locação do referido imóvel com Judite, pelo período de dois anos, com o valor do aluguel fixado em R$1.000,00 (um mil reais), o qual deveria ser pago todo dia 01 de cada mês. O contrato continha cláusula prevendo multa de 2% para o caso de atraso no pagamento, e uma outra multa no valor de R$3.000,00 (três mil reais) para a hipótese de descumprimento de qualquer outra cláusula do contrato. Responda:
a) Quanto às multas previstas no contrato de locação, estamos diante de qual instituto? Explique, apontando e identificando as espécies inseridas no contrato. 
b) Considere que, passados três meses do início da locação, Judite entrega o imóvel à Marina, explicando que não tem condições financeiras de pagar aluguel naquele valor. Quais as consequências jurídicas decorrentes desse fato? Explique. 
c) Considere que, vencido o contrato de locação, por terem se passados os dois anos, Marina informa à Judite que não irá prorrogar o contrato, porque no imóvel residirá seu filho, que está prestes a se casar. No entanto, Judite se recusa a sair do imóvel, o que leva Marina a ajuizar a competente ação de despejo. Ocorre que, cerca de dois meses após o término do contrato, uma caminhonete em alta velocidade, atinge o imóvel residencial em questão, que fica em escombros. Qual a consequência jurídica decorrente desse fato? Explique. 
d) Considere que, passados seis meses do início do contrato, Marina pede que Judite desocupe o imóvel, tendo em vista que seu filho, que está prestes a se casar, residirá no imóvel. Qual a consequência jurídica decorrente desse fato? Explique. 
3. Divino compra um terreno de Fernando por R$150.000,00, dando, a título de arras, R$50.000,00, e se comprometendo a pagar o restante (R$100.000,00), no prazo de 06 meses. Em igual prazo, se comprometeu Fernando a fornecer as certidões negativas para registro da compra e venda no cartório competente. O contrato celebrado previa o direito de arrependimento para ambos.
a) Estamos diante de que tipo de obrigação quanto à natureza do objeto? Explique. 
b) Qual a espécie de arras prevista no contrato celebrado? Nessa espécie, caso o prejuízo da parte inocente seja maior do que o valor das arras, pode ela exigir indenização suplementar? Explique. 
c) Considere que, vencido o prazo para pagamento da quantia restante, Divino alega não ter condições de efetuar o pagamento. Como fica a obrigação? 
d) Na data do vencimento do prazo para pagamento da quantia restante, Divino procura Fernando para efetuar o pagamento e exigir as certidões negativas para transferência da propriedade, contudo, Fernando apresenta certidões positivas, as quais não permitem o registro de transmissão da propriedade no cartório competente. Como fica a obrigação? 
e) Considerando as situações expostas nas alíneas c e d, havia modificação nas consequências se o contrato não previsse o direito de arrependimento? Explique.

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