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0 PROF. DR. MANUEL JUAN ROJAS BUVINICH UTILIZAÇÃO DO MODELO DE INDICADORES BALANCEADOS DE DESEMPENHO (BSC) NO PLANEJAMENTO, MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO DAS AÇÕES DE EXTENSÃO ARTÍSTICO-CULTURAL: O CASO DA COORDENAÇÃO DE EXTENSÃO CULTURAL (COEX) DA UFPB JOÃO PESSOA – PB 2015 UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO 1 MANUEL JUAN ROJAS BUVINICH UTILIZAÇÃO DO MODELO DE INDICADORES BALANCEADOS DE DESEMPENHO (BSC) NO PLANEJAMENTO, MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO DAS AÇÕES DE EXTENSÃO ARTÍSTICO-CULTURAL: O CASO DA COORDENAÇÃO DE EXTENSÃO CULTURAL (COEX) DA UFPB Tese apresentada à Universidade Federal da Paraíba como parte dos requisitos para promoção à classe de Professor Titular do Departamento de Engenharia de Produção do Centro de Tecnologia. JOÃO PESSOA – PB 2015 2 UTILIZAÇÃO DO MODELO DE INDICADORES BALANCEADOS DE DESEMPENHO (BSC) NO PLANEJAMENTO, MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO DAS AÇÕES DE EXTENSÃO ARTÍSTICO-CULTURAL: O CASO DA COORDENAÇÃO DE EXTENSÃO CULTURAL (COEX) DA UFPB Esta tese foi julgada e aprovada como parte dos requisitos para a promoção à classe de Professor Titular do Departamento de Engenharia de Produção do Centro de Tecnologia da Universidade Federal da Paraíba. João Pessoa-PB, 2015 BANCA EXAMINADORA ___________________________________________ ___________________________________________ ___________________________________________ 3 Dedico este trabalho a Cecília, minha esposa, companheira e amiga inseparável que tem me dado força e carinho em todos os momentos dessa longa caminhada e a Danitza e Pablito, meus filhos, que alegram meu dia a dia com carinho e amor. 4 AGRADECIMENTOS A tese, ora apresentada, reflete parte da minha experiência profissional, com mais de 30 anos, trabalhando na área de planejamento estratégico, monitoramento e avaliação de políticas públicas. Portanto, ao concluir este trabalho, quero expressar minha gratidão a todos que, de uma forma ou de outra, dentro e fora do meio acadêmico, participaram e contribuíram diretamente e indiretamente na minha formação e vida profissional. A Deus, por tudo. Aos meus pais, Franca e Armando, que sempre me apoiaram, incentivaram e transmitiram valores de trabalho e dedicação que me acompanham até hoje. Aos meus avós, Juan e Leonor, pelo carinho especial e apoio incondicional em todos os momentos, particularmente, os mais difíceis. Aos meus colegas conterrâneos, que estudaram comigo na Universidade Austral do Chile, pela solidariedade, amizade e rica convivência que perdura até hoje. Ao amigo Sigisfredo Scheuermann do Servicio Agrícola Ganadero de Chile, que me abriu as portas para o trabalho de Extensão e Crédito Rural, onde iniciei os meus primeiros passos da minha vida profissional. Aos dirigentes do Centro de Estudos e Pesquisas Econômicas (IEPE) da UFRGS, que me deram a oportunidade e me apoiaram numa época em que os alunos estrangeiros nos cursos de mestrado, no Brasil, eram uma raridade. Ao mestre e magnífico Reitor Lynaldo Cavalcante de Albuquerque, que com sua visão estratégica, possibilitou que profissionais do mundo todo, entre eles, eu, contribuíssem para o desenvolvimento da UFPB e adotassem a Paraíba como a sua terra. Ao Professor Dr. David R. Colman, orientador do meu doutorado na University of Manchester, Inglaterra, que me ensinou o jeito anglo-saxônico de ver e abordar a pesquisa. Aos amigos e colegas Patrício Fuentes, Agop Kayayan e Per Engebak do UNICEF, pela oportunidade e pelo trabalho fraterno e comprometido realizado pelos Direitos das Crianças e Adolescentes no Brasil e nos países da América Latina e no Caribe. Ao colega e amigo Antônio de Melo Villar, Diretor do Centro de Tecnologia, pela acolhida, confiança e apoio na assessoria de planejamento. Aos colegas Antônio Gualberto Filho e Orlando Cavalcante Villar Filho, da Pró- Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários (PRAC-UFPB), pela abertura e apoio para a realização desta tese como parte do trabalho de planejamento dessa Pró-Reitoria. 5 RESUMO Grande parte das ações de extensão artístico e cultural da UFPB é realizada pela Coordenação de Extensão Cultural (COEX) da Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários (PRAC) através dos seus Núcleos e Produtores Culturais. Apesar da vinculação hierárquica à COEX, a integração e o trabalho conjunto entre os próprios Núcleos e, entre estes e os Produtores Culturais é praticamente inexistente. Como resultado observa-se pouca sinergia e dispersão na realização das ações, baixa eficiência no uso dos recursos, escala de atuação limitada e, uma reduzida efetividade e impacto das ações, tanto no âmbito interno como externo da UFPB. Uma das razões dessa falta de integração é a ausência de uma cultura organizacional que valorize e aplique formas de planejamento estratégico e gestão com o uso de indicadores de desempenho para o monitoramento e avaliação dessas ações. Ante essa situação, e a solicitação da COEX, o principal objetivo do trabalho foi desenvolver um processo de planejamento estratégico baseado no Modelo de Indicadores Balanceados de Desempenho ou Balanced Scoredcard (BSC) de Norton e Kaplan. A utilização do BSC, adaptado às ações de extensão artístico e cultural das ações de extensão da COEX, deve auxiliar numa gestão para resultados e tomada de decisões mais estratégica, com maior integração, permitindo ao mesmo tempo, maior transparência e aprendizagem institucional. Nessa direção foi realizada uma revisão documental e uma pesquisa de campo para análise do ambiente externo e interno no âmbito dos Núcleos e Produtores Culturais da COEX com base na matriz SWOT. Foi também realizado um evento de planejamento participativo com todos os técnicos e coordenadores dos Núcleos e Produtores Culturais que fazem parte da COEX para desenvolver a direção estratégica (missão, visão, princípios e objetivos estratégicos). Com base no BSC, estabeleceu-se o mapa de estratégias da COEX com uma hierarquia de resultados estratégicos, indicadores de desempenho e iniciativas. O Planejamento, também permitiu iniciar a reestruturação das funções da COEX para resgatar e fortalecer seu papel na formulação de políticas, criação e mobilização de parcerias, integração e articulação, comunicação e divulgação das ações e resultados. O modelo da Cadeia de Valor, integrado ao BSC, serviu de base para estabelecer as diretrizes metodológicas para operacionalizar o planejamento anual das ações (programas, projetos, cursos, eventos, etc.) e, definir os critérios e as etapas necessárias para desenvolver as funções de M&A como parte das novas funções da COEX. Palavras-chave: Planejamento Estratégico. Monitoramento e Avaliação. Extensão Artístico- Cultural. 6 ABSTRACT Most of the cultural and artistic extension actions at the UFPB are carried out by the Coordination of Cultural Extension (COEX) of the Dean´s Office for Extension and Community Development (PRAC), through its Nuclei and Cultural Producers. Despite the hierarchical dependency from COEX, the management and programmatic integration among Nuclei e between themand Cultural Producers is lacking. As result, it is observed a lack of synergy and fragmented and scattered actions, showing inefficiency in the use of resources and low effectiveness in terms of scale and impact both within and outside the UFPB. One of the reasons is the lack of an organizational culture that values and applies forms of integrated strategic planning and management, with the use of performance indicators for the monitoring and evaluation (M&E) of the cultural and artistic actions. To approach this problem, the main objective of this work was to develop an strategic planning framework based on the Kaplan and Norton´s Balanced Scorecard (BSC) adapted to the COEX’s cultural and artistic extension actions. Thus, it is expected to provide a framework towards a more strategic and result based decision making process with better integration, contributing, at the same time, with greater accountability and better institutional learning, To this end, a desktop review and a survey were carried out, based on the SWOT matrix, to assess the internal and external situation of the COEX. Also it was conducted a participatory strategic planning meeting with all COEX’s personnel to develop the strategic intention (mission, vision, values and strategic objectives). Having as a base the BSC it was developed the COEX´s map of strategies with a hierarchy of strategic results, performance indicators and initiatives. The strategic planning process also allowed to redefine the COEX role in order to rescue and strengthen its function of policy formulation, mobilization and creation of partnerships, integration and articulation of the different units and fostering the dissemination of information and results. The result chain model, integrated to the BSC, was used to set up the methodological guidelines for the annual planning of actions (programmes, projects, courses, events, etc) and setting up the necessary steps to develop the foundations of the M&E function within the COEX. Keywords: Strategic Planning. Monitoring and Evaluation. Artistic and Cultural Extension. 7 LISTA DE FIGURAS Figura 1. Organograma da PRAC e COEX ......................................................................... 20 Figura 2. Problema e suas causas .......................................................................................... 23 Figura 3. Estrutura do Trabalho...........................................................................................25 Figura 3. Etapas do Planejamento Estratégico .................................................................... 29 Figura 4. Dimensões do Balance Scorecard (BSC) .............................................................. 32 Figura 5. Esquema Simplificado da Cadeia de Valor na GPR ........................................... 38 Figura 6. Exemplo de Mapa de Resultados de Programa de Atividades Complementares à Escola .................................................................................................................................... 61 Figura 7. Exemplo dos resultados da Matriz Ixia................................................................ 64 Figura 8. Domínios para avaliar iniciativas de Arte e Cultura .......................................... 66 Figura 9. Dimensões de Indicadores segundo o FORPROEX ............................................ 71 Figura 10. Etapas do Ciclo de Planejamento da COEX ..................................................... 76 Figura 11. Dimensões do BSC da COEX .............................................................................. 83 Figura 12. Categorias de Operacionalização do BSC para a COEX ................................. 84 Figura 13. Mapa de Relações Causa-Efeito entre Objetivos Estratégicos ........................ 86 Figura 14. Lógica de Planejamento no contexto do BSC da COEX .................................. 95 Figura 15. Alinhamento e Desdobramento do BSC da COEX ........................................... 96 Figura 16. Exemplo de Níveis de Implementação do BSC .................................................. 97 Figura 17. As Perspectivas do BSC da COEX na criação de Valor ................................. 105 Figura 18. Mapa de Estratégias da COEX ......................................................................... 106 Figura 19. Nova Estrutura Organizacional da COEX. ..................................................... 115 Figura 20. Do Planejamento à Gestão Estratégica ............................................................ 117 Figura 21. Modelo de Cadeia de Valor Genérico para as Ações de Extensão Artístico e Cultural.................................................................................................................................. 122 Figura 22. Perguntas genéricas que devem ser respondidas pelos Indicadores segundo a Cadeia de Valor .................................................................................................................... 127 Figura 23. Componentes essenciais de um Plano de Ação segundo OPPM .................... 128 Figura 24. Etapa para a implementação do Sistema de M&A da COEX ....................... 131 8 LISTA DE QUADROS Quadro 1. Modelo Básico do Marco Lógico ......................................................................... 35 Quadro 2. Etapas na Gestão por Resultados ....................................................................... 37 Quadro 3. Diferenças em Gestão e Governança entre Empresa e Instituições Públicas ........................................................................................................................... 39 Quadro 4. Linhas de Ação da Extensão Artística e Cultural ............................................. 50 Quadro 5. Dimensões das Atividades Artísticas .................................................................. 52 Quadro 6. Diferenças e Complementaridades entre M&A ................................................ 57 Quadro 7. Exemplo de Aplicação do Modelo Lógico para as Ações de Arte .................... 60 Quadro 8. Matrix IXIA para captar Valores e Outcomes .................................................. 63 Quadro 9. Matriz para ponderar e avaliar as iniciativas de Arte e Cultura .................... 67 Quadro 10. Tipos de Indicadores Empresariais ................................................................... 68 Quadro 11. Programa de Educação em Artes após a Escola (PEAE)................................ 73 Quadro 12. Objetivos e Metodologias utilizadas em cada etapa do Ciclo de Planejamento proposto para a COEX........................................................................................................... 70 Quadro 13. Principais Tópicos e Questões abordadas no Questionário aplicado na COEX ....................................................................................................................................... 77 Quadro 14. Aspectos Metodológicos para a Definição de Missão, Visão e Princípios da COEX ....................................................................................................................................... 79 Quadro 15. Exemplos de Objetivos definidos como Ação e Resultado.............................. 81 Quadro 16. Objetivo definido em forma ambígua com focos variados ............................. 87 Quadro 17. Características dos Indicadores de Desempenho – BSC –COEX .................. 88 Quadro 18. Exemplo de Objetivos, Indicadores e Metas no contexto do BSC ................. 93 Quadro 19. Matriz SWOT dos Núcleos e PCs ..................................................................... 94Quadro 20. Exemplo de Descrição de um dos Objetivos Estratégicos ............................ 100 Quadro 21. Quadro de Mando com Indicadores de Desempenho .................................. 108 Quadro 22. Categorias de Indicadores segundo a Cadeia de Valor ............................... 109 Quadro 23. Plano de ação 2015 – Núcleo de Inovação Cultural ...................................... 126 Quadro 24. Perguntas para Orientar a Análise e Interpretação do M&A ..................... 134 9 LISTA DE SIGLAS E ABREVIAÇÕES AECID – Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento BCG – Boston Consulting Group BSC – Balanced Scorecard BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento BIRD – Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Nível Superior CEPAL – Comissão Econômica para América Latina e o Caribe CNPQ – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico COEP – Coordenação de Educação Popular COPAC – Coordenação de Assuntos Comunitários COEX – Coordenação de Extensão Cultural CONAES – Conselho Nacional de Avaliação do Ensino Superior CCHLA – Centro de Humanidades Ciência e Letras CCTA – Centro de Comunicação Turismo e Artes CCTA – Centro de Comunicação Turismo e Artes CONSEPE – Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão da UFPB CONSUNI – Conselho Universitário da UFPB CT – Centro de Tecnologia DEP – Departamento de Engenharia de Produção da UFPB FLUEX – Programa de Extensão de Fluxo Contínuo FORPROEX – Fórum de Pró-reitores de Extensão FUNARTE – Fundação Nacional de Arte GE – Gestão Estratégica GPR – Gestão para Resultados GTZ – Die Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit– Cooperação Técnica Alemã LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional IES – Instituições de Ensino Superior IFES – Instituições Federais de Educação Superior IFACCA – The International Federation of Arts Councils and Culture Agencies INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira IPEA – Instituto de Planejamento Econômico e Social Aplicado 10 LOGFRAME – Logical Framework M&A – Monitoramento e Avaliação MEC – Ministério da Educação NAC – Núcleo de Arte de Contemporânea NARF – Núcleo de Artesanato Rural Feminino NTI – Núcleo de Tecnologia da Informação NPAC – Núcleo de Produção em Artes de Comunicação NTU – Núcleo de Teatro Universitário NUPPO – Núcleo de Pesquisa e Documentação da Cultura Popular NUDOC – Núcleo de Documentação Cinematográfica OECD – Organização Econômica para a Cooperação e o Desenvolvimento ONU – Organização das Nações Unidas OIT – Organização Internacional do Trabalho OPPM – One-Page Project Management PCs – Produtores Culturais PDI – Plano de Desenvolvimento Institucional PE – Planejamento Estratégico PES – Planejamento Estratégico Situacional PNE – Plano Nacional Educação PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento PRAC – Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários PROBEX – Programa de Bolsas de Extensão PROEXT – Programa Nacional de Extensão PROPLAN – Pró-Reitoria de Planejamento SIEX – Sistema de Informação de Extensão SIGProj – Sistema de Informação e Gestão de Projetos SIAFI – Sistema Integrado de Administração Financeira SINAES – Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior SWOT – Strenghts, Weaknesess, Opportunities, Threats TCU – Tribunal de Contas da União UFAL – Universidade Federal de Alagoas UFPB – Universidade Federal da Paraíba UNDG – Grupo de Desenvolvimento das Nações Unidas UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura 11 UNFPA – Fundo das Nações Unidas para População UNICEF – Fundo das Nações Unidas para a Infância USAID – United States Agency for International Cooperation ZOOP – Ziel-Orientiert Projekt Planing 12 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 7 1.1 DELIMITAÇÃO E JUSTIFICATIVA DO PROBLEMA .................................................. 17 1.2 OBJETIVOS ....................................................................................................................... 23 1.2.1 Objetivo geral ................................................................................................................... 23 1.2.2 Objetivos específicos ........................................................................................................ 23 2 OS MODELOS DE PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO NAS EMPRESAS E NAS ORGANIZAÇÕES SEM FINS LUCRATIVOS ................................................................... 26 2.1 O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO NAS EMPRESAS ............................................... 26 2.2 O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO NAS ORGANIZAÇÕES SEM FINS LUCRATIVOS ......................................................................................................................... 34 2.3 O PLANEJAMENTO NAS INSTITUIÇÕES FEDERAIS DE ENSINO SUPERIOR ....... 38 2.4 PLANEJAMENTO E AVALIAÇÃO DAS AÇÕES DE EXTENSÃO .............................. 44 2.5 ASPECTOS RELEVANTES DO CAPÍTULO ................................................................... 46 3 AVALIAÇÃO DA EXTENSÃO ARTÍSTICO – CULTURAL ........................................ 48 3.1 O CONCEITO DE ARTE E CULTURA ............................................................................ 48 3.2 MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO ............................................................................. 54 3.3 MODELOS DE MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO DAS AÇÕES DE EXTENSÃO ARTÍSTICO E CULTURAL .................................................................................................... 58 3.4 INDICADORES DE MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO DAS AÇÕES ARTÍSTICO– CULTURAIS ............................................................................................................................ 67 3.5 ASPECTOS RELEVANTES DO CAPÍTULO ................................................................... 73 4 METODOLOGIA ................................................................................................................. 76 4.1 ETAPAS DO CICLO DE PLANEJAMENTO DA COEX ................................................. 76 4.2 OBJETIVOS DO PROCESSO DE PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO ......................... 79 4.3 ANÁLISE DO AMBIENTE ............................................................................................... 79 4.4 A DIREÇÃO ESTRATÉGICA ........................................................................................... 80 4.5 O BALANCED SCORECARD (BSC) DA COEX: AS PERSPECTIVAS E OS OBJETIVOS ESTRATÉGICOS............................................................................................... 81 4.7 OS INDICADORES DE DESEMPENHO.......................................................................... 89 4.8 ESTABELECIMENTO DE METAS .................................................................................. 94 4.9 ALINHAMENTO E PLANEJAMENTO TÁTICO/OPERACIONAL DOS NÚCLEOS .. 95 4.10 AS INICIATIVAS ............................................................................................................ 98 13 5 RESULTADOS DO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO ........................................... 100 5.1 ANÁLISE DO AMBIENTE ............................................................................................. 100 5.2 A INTENÇÃO ESTRATÉGICA ...................................................................................... 102 5.3AS PERSPECTIVAS E OS OBJETIVOS ESTRATÉGICOS .......................................... 105 5.4 QUADRO DE MANDO COM OS INDICADORES DE DESEMPENHO ...................... 110 5.5 INICIATIVAS E OS PLANOS DE AÇÃO ...................................................................... 114 5.6 ESTRUTURA ORGANIZACIONAL .............................................................................. 115 6 PROPOSTA DE UM SISTEMA DE MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO ............ 117 6.1 CONTEXTUALIZANDO O MONITORAMENTO E A AVALIAÇÃO NO CICLO DE PLANEJAMENTO DA COEX .............................................................................................. 117 6.2 MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO DAS INICIATIVAS NO CONTEXTO DA CADEIA DE VALOR ............................................................................................................ 118 6.3 OS INDICADORES DE M&A ......................................................................................... 125 6.4 PLANO DE AÇÃO E GESTÃO DAS INICIATIVAS ..................................................... 128 6.5 ETAPAS PARA O DESENVOLVIMENTO DO SISTEMA DE M&A ........................... 130 6.5.1 Recursos Humanos Qualificados .................................................................................. 130 6.5.2 Engajamento e participação dos atores ........................................................................ 132 6.5.3 Identificar e definir indicadores .................................................................................... 132 6.5.4 Coleta de dados e uso de sistemas informatizados ....................................................... 133 6.5.5 Análise e interpretação .................................................................................................. 134 6.5.6 Uso e disseminação ........................................................................................................ 135 7 CONCLUSÕES ................................................................................................................... 138 REFERÊNCIAS..................................................................................................................... 144 APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO APLICADO NO PROCESSO PREPARATÓRIO DO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO .......................................................................... 153 APÊNDICE B – SISTEMATIZAÇÃO DOS RESULTADOS DOS QUESTIONÁRIOS APLICADOS .......................................................................................................................... 156 APÊNDICE C – AGENDA REUNIÃO DE PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO ........ 195 APÊNDICE D – GUIA DE TRABALHO DE GRUPO...................................................... 198 APÈNDICE E – GUIA DE TRABALHO DE GRUPO ...................................................... 208 ANEXO A – INDICADORES PROPOSTOS PELO FORPROEX .................................. 212 14 1 INTRODUÇÃO Devido às rápidas mudanças no ambiente e ante a acirrada e crescente concorrência, as organizações públicas e privadas, de diferentes setores e tamanhos, vêm, cada vez mais, adotando processos de planejamento estratégico e utilizando indicadores de desempenho para orientar a tomada de decisões, a fim de melhorar a sua efetividade, eficiência e retornos econômicos e sociais. Embora não exista definição única e consensual sobre o conceito de planejamento estratégico (PE), há convergência em assinalar que o PE é um processo contínuo de análise do meio ambiente, interno e externo, onde a organização se insere, a fim de estabelecer a melhor direção (estratégias) a ser seguida, para alcançar seus objetivos e maximizar os retornos – sejam de índole social, sejam de índole econômica. Para tal, o PE se utiliza de um arcabouço de técnicas direcionadas à realização da análise ambiental, identificação da estratégia e organização dos planos setoriais, projetos, ações e recursos necessários à execução. Além disso, utiliza-se de diferentes abordagens na definição de indicadores e nas formas e mecanismos para uma retroalimentação organizada e sistemática, a qual permita mensurar e avaliar os resultados em confronto com as expectativas alimentadas e a direção estabelecida (OLIVEIRA, 2011; SILVEIRA JÚNIOR; VIVACQUA, 1996; DRUCKER, 1984). Os propósitos do planejamento estratégico mudam, segundo a natureza da organização. Para as empresas do setor privado, o planejamento estratégico tem como finalidade permitir que a organização obtenha vantagens competitivas e econômicas que ela possa sustentar, da forma mais eficiente possível. Já para as organizações públicas, busca-se a sustentabilidade institucional, ou seja, uma valorização social contínua dos bens e serviços que a organização produz (PORTER, 1985; CASTRO, 2005). No caso das Instituições Federais de Ensino Superior (IFES) – que possuem grande dependência administrativo-financeira do Governo Federal para realizar as suas atividades de ensino, pesquisa e extensão – o processo de planejamento e gestão estratégica apresenta algumas peculiaridades e diferenças quando comparadas com as empresas e outras instituições públicas. Ao contrário das organizações privadas e governamentais, onde existe uma composição de autoridade única, encontram-se, na Universidade, duas formas de autoridade: a burocrática e a do especialista que, geralmente, entram em conflito (BALDRIDGE, 1977; ETZIONI, 1980; LEITÃO, 1987). No sistema organizacional da Universidade é valorizada a 15 liberdade individual e a habilidade para gerar e transmitir conhecimentos. A gestão administrativa, por outro lado, é amadorística, com ausência dos mecanismos de recompensa e punição, que existem na empresa privada, ou de um sistema de gestão que considere o mérito ou desempenho, como aptidão para conquistar posições hierárquicas. Também existem choques de valores e conflitos, quando um docente assume um cargo de gestão dentro da universidade. Esse conflito pode ter implicações no processo decisório, dada à dificuldade em implementar mudanças mais radicais, que afetem os interesses dos seus pares, embora sejam necessárias. Há autores, como Salancik (1974), que assinalam que as Universidades Públicas são mais bem compreendidas como entidades políticas, caracterizadas como sistemas de interação individual e de subgrupos, perseguindo diferentes interesses, demandas e ideologias, através do uso do poder e do conflito. As principais características desse modelo, segundo Baldridge (1971), são: (i) dificuldades na tomada de decisão, uma vez que grande parte dos atores políticos não possuem interesses no processo de formulação de políticas; (ii) organização fragmentada em grupos, com objetivos e valores distintos, em que, em alguns casos, é possível que esses grupos de interesse se unam para a obtenção de algum resultado, por meio de compromissos, trocas e barganhas; (iii) existência de conflito, uma vez que as organizações são compreendidas como um sistema fragmentado e dinâmico, em que o conflito é inerente e, muitas vezes, encarado como um propulsor das mudanças necessárias e; (iv) decisões, fruto de negociação entre os grupos de interesse, e não ordens de características burocráticas. Para Meyer (1988), a administração de uma organização universitária é algo bastante distinto da administração de uma indústria têxtil, de uma organização bancária, ou mesmo de uma mera instituição pública prestadora de serviços. Nessa perspectiva, a habilidade e o domínio de técnicas administrativas, largamente utilizadas nas empresas, tornam-se inadequadas e ineficazes à realidade universitária. Nesse contexto, e embora existam diversas experiências nas universidades públicas na implementação de diversasformas e modelos de planejamento, pode-se dizer que, nas IFES, a formalização do Planejamento ocorreu após a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 1996, que obriga estas a preparar um Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) como principal instrumento do planejamento institucional. O PDI, basicamente, contém as definições estratégicas e as metas a serem alcançadas em um período de cinco anos pelas Universidades. Trata-se, portanto, de um documento orientador do planejamento global da Universidade e de divulgação dos objetivos e metas a serem atingidos, devendo ser aprovado pelo Conselho Superior da Universidade (CONSUNI). 16 No caso da UFPB e da maioria das IFES, o planejamento é realizado sob o comando da Pró-Reitoria de Planejamento e Desenvolvimento (PROPLAN), instância cuja responsabilidade é coordenar e gerir as atividades de planejamento, global e setorial, da Universidade. A cada cinco anos, a PROPLAN coordena a preparação do Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) e, anualmente, prepara os relatórios de gestão, nos quais são verificados os avanços nos objetivos e metas dos planos, programas e projetos da instituição. Embora com variações nos últimos anos, na preparação dos PDIs da UFPB é feita consulta formal aos Centros e Departamentos, sobre alguns indicadores e metas, mas sem deflagrar um processo de discussão participativo, mais aprofundado, com os professores, técnicos e alunos que fazem parte dos Centros e Departamentos e demais unidades da Universidade. A falta de capilaridade do atual processo de planejamento estratégico, que poderia deflagrar o PDI, deve-se, em grande medida, aos fatores acima comentados que caracterizam a forma de governabilidade, gestão, estrutura e cultura organizacional da Universidade. Por outro lado, o processo de planejamento estratégico, para a elaboração do PDI, na UFPB, não possui formas, nem mecanismos indutores atrelados à distribuição de recursos, que permitam a capilaridade e a participação das diferentes unidades da UFPB. Isso faz com que, na maioria dos Centros e Departamentos, não se realizem processos de planejamento estratégico, com metas de resultados de curto, meio e longo prazo estabelecidas, a partir de compromissos alcançados de forma consensual. Por essa causa, o planejamento, nessas unidades, é de natureza mais imediatista, para responder às demandas da administração central e/ou focado nos aspectos mais operacionais e no âmbito mais individual dos docentes, que se relacionam com a distribuição da carga horária, oferta de disciplinas, alocação e manutenção de salas de aula, higiene e limpeza, solicitação de insumos e equipamentos para laboratórios, entre outros. Quanto ao sistema de acompanhamento e avaliação nas Universidades, o Brasil tem avançado significativamente, com a criação do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES), instituído pelo Ministério da Educação (MEC), através da Lei n° 10.861, de 14 de abril de 2004, que objetiva promover a melhoria da qualidade da educação no ensino superior, a orientação na expansão de sua oferta, o aumento permanente de sua eficácia institucional e de sua efetividade acadêmica e social e, especialmente, o aprofundamento de seus compromissos e responsabilidades sociais. A finalidade do SINAES é que as informações geradas sejam utilizadas pelas próprias IFES e órgãos governamentais, para 17 orientar políticas públicas, além disso, para que estudantes, pais de alunos, instituições acadêmicas e públicas em geral, possam orientar suas decisões quanto à qualidade e realidade dos cursos e das instituições. Embora no contexto do SINAES se tenha avançado no desenvolvimento de diretrizes, critérios e ferramentas de avaliação e coleta de dados – instituídas pelo Instituto de Estudos e Pesquisas Educacionais Aloísio Teixeira (INEP-MEC) – para a avaliação externa e a autoavaliação dos cursos de graduação – e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Nível Superior (CAPES), na avaliação dos cursos de pós-graduação e da pesquisa – “a prima pobre” do SINAES continua sendo a extensão universitária. Tanto no planejamento, quanto nos processos de monitoramento e avaliação, a extensão é a que apresenta o menor avanço no estabelecimento de critérios e indicadores de avaliação. Em 2011, a Comissão Permanente de Avaliação da Extensão (CPAE), do Fórum de Pró-Reitores de Extensão (FORPROEX), no documento “Novo Modelo do Censo da Educação Superior” (MEC/INEP, 2010), definiu 31 indicadores de extensão, para inclusão nos questionários do INEP-MEC, e, desse modo, compor a coleta de informações sobre a extensão na educação superior, no contexto do SINAES. Essa coleta, assim como a inclusão de indicadores de extensão, na matriz de alocação de recursos de outros custeios e capital, para as IFES, tão longamente prometida, ainda não se efetivaram. A fonte oficial de coleta de informações e dados da extensão no âmbito nacional é feita através do sistema de gerenciamento de projetos de extensão (SIGProj – MEC), o qual é administrado pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Mais orientado para o gerenciamento de programas, projetos e atividades (cursos, eventos, oficinas, etc.), o SIGProj não permite incluir critérios, indicadores e metas que permitam o monitoramento dos programas, projetos e atividades de extensão, desenvolvidos nas IES. 1.1 DELIMITAÇÃO E JUSTIFICATIVA DO PROBLEMA Uma parte importante das ações de extensão artístico e cultural da UFPB são realizadas pelos cinco Núcleos e 12 Produtores Culturais que fazem parte da Coordenação de Extensão Cultural (COEX) da Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários (PRAC), a saber: o Núcleo de Arte Contemporânea (NAC), o Núcleo de Teatro Universitário (NTU), o Núcleo de Pesquisa e Documentação da Cultura Popular (NUPPO), o Núcleo de Documentação Cinematográfica (NUDOC) e o Núcleo de Artesanato Rural Feminino 18 (NARF). Como se observa na Figura 1, os 12 Produtores Culturais ligados à COEX realizam ações em diversas áreas do âmbito artístico e cultural. Fora do âmbito da COEX1, o Centro de Humanidades, Ciência e Letras (CCHLA) e, o Centro de Comunicação, Turismo e Artes (CCTA) da UFPB, através das suas unidades departamentais, também realizam ações de extensão artístico e cultural, como parte, dos cursos de graduação e pós-graduação e dos projetos de pesquisa e extensão realizados pelos professores dessas unidades. Outras ações correlatas são realizadas pelo Núcleo de Produção em Artes de Comunicação (NPAC) , criado em 2012, que vinculado diretamente à Reitoria, está constituído pela TV Universitária, a Agência de Notícias e uma Unidade de Produção de materiais de comunicação. O objeto de estudo do presente trabalho está circunscrito exclusivamente à COEX e aos Núcleos e Produtores Culturais a ela vinculados. Não obstante esta delimitação, as implicações do trabalho da COEX, como unidade coordenadora e direcionadora das ações de extensão artístico e cultural da UFPB, perpassa todos os campi da Universidade através de editais e/ou lançamento de projetos e programas em diversos âmbitos. 1 Quando no texto refere-se à COEX incluem-se os Núcleos e os Produtores Culturais. 19 Figura 1. Organograma da PRAC e COEX Fonte: Elaboração própria. O NAC, NTU, NUDOC, NUPPO e NARF foram criados no final da década de 1970 com forte apoio da Fundação Nacional de Artes (FUNARTE) edo Ministério de Educação, graças ao esforço e visão do Reitorado do Prof. Lynaldo Cavalcanti de Albuquerque. Os Produtores Culturais foram se incorporando à COEX nos últimos dez anos, obedecendo a interesses e conjunturas específicas. O Núcleo de Arte Contemporânea (NAC), desenvolve atividades voltadas a atender aos alunos do curso de graduação em artes visuais, às escolas da rede pública e privada, aos artistas e educadores e à comunidade em geral, oferecendo cursos, palestras e oficinas, além de manter-se como espaço expositivo. Já o Núcleo de Teatro Universitário (NTU) promove a Pró-reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários – PRAC Núcleos (5) Produtores Culturais (12) Arte Contemporâneo - NAC Teatro Universitário – NTU Pesquisa e Documentação e Arte Popular – NUPPO Documentação Cinematográfica – NUDOC Artesanato Rural Fem. – NARF Dança, Teatro e Música Programação Cultural Artes Cénicas e Danças Paisagismo e Jardinagem Art.Visuais e Comunicação Artes Audiovisuais Multimídia e Ec. Criativa Música e Artes Cénicas Coordenação de Assuntos Comunitários – COPAC Coordenação de Extensão Cultural – COEX Coordenação de Educação Popular – COEP Fotografia e Documentação Cine e Artes Visuais Esporte e Cond. Físico Cine: Produção e Formação 20 cultura e inserção social, por meio de projetos permanentes, formando novas gerações de atores, diretores e dramaturgos, cujo público-alvo é, majoritariamente, oriundo de escolas públicas e famílias de baixa renda da cidade, contudo, também atende aos filhos de docentes, técnicos e discentes da universidade. O Núcleo de Documentação e Pesquisa da Cultura Popular (NUPPO), por outro lado, tem como missão pesquisar, documentar e divulgar a cultura popular paraibana, contribuindo também para a preservação do patrimônio material e imaterial do Estado da Paraíba. Para este fim promove diversas atividades de extensão, destinadas a alunos e professores (do ensino fundamental, médio e universitário), oferecendo minicursos voltados para a cultura popular na escola, estimulando a pesquisa e a promoção de oficinas com artistas populares (danças, cerâmica, literatura). Com base no seu acervo, o Museu da Cultura Popular do NUPPO realiza exposições temáticas, além da exposição permanente, que contam com grande procura, pelas escolas públicas, para visitação agendada. Desde a sua fundação, o NUPPO mantém oficinas de artesanato nos municípios de Bananeiras, Esperança, Lagoa Seca, Lagoa de Roça, Pocinhos, Remígio e Serra Branca, no Estado da Paraíba, em parceria com as respectivas prefeituras municipais. Além de possuir um dos principais acervos do cinema paraibano, o Núcleo de Documentação Cinematográfica (NUDOC), realiza mostras de cinema, promove debates com especialistas e cineastas, organiza oficinas e cursos de teatro e festivais de teatro e dança entre outras atividades. O Núcleo de Artesanato Rural Feminino (NARF) está mais focado à promoção e organização de ações ligadas as diferentes expressões do artesanato regional no âmbito municipal. Da mesma forma, os 12 Produtores Culturais vinculados à COEX, realizam diversas iniciativas de extensão, entre as quais têm se destacado: o Prêmio Novos Autores Paraibanos, em parceria com a Editora Universitária; Diálogos da Criação, que promovem o encontro de artistas, nas várias áreas da arte e da cultura, e exibição pública de uma programação de filmes nacionais e curtas-metragens locais; Arte e Cultura Catarina, projeto que tem, como sede, a Fortaleza de Santa Catarina, no município de Cabedelo, e que contribui com a difusão da cultura e da educação, para crianças e adolescentes, em várias comunidades; Cinema, Vídeo e Fotografia, com a capacitação de cineastas locais e a produção de curtas-metragens, bem como do audiovisual paraibano; atividades de preservação do Patrimônio e Cultura Popular em vários municípios do Estado da Paraíba. A realização dessas ações é feita através de diversas formas, entre os quais se destacam, o programa de bolsas de extensão (PROBEX), o programa nacional de extensão 21 (PROEXT), as ações de extensão de fluxo contínuo (FLUEX), bem como de projetos e programas desenvolvidos, através de diversas parcerias com os gestores públicos e grupos organizados da sociedade civil, em diversos locais e municípios do Estado da Paraíba. Ou seja, a lógica de trabalho é dada por projetos variados e atividades pontuais, sem a mínima integração entre os Núcleos e Produtores Culturais, com públicos e atores específicos, o que limita o desenvolvimento de ações com maior eficiência, ganhos de escala e impacto. A percepção dos dirigentes da COEX e da Pro-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários (PRAC) é que a falta de integração entre os Núcleos e Produtores Culturais, além dos outros fatores visualizados na Figura 2, reduzem a efetividade e eficiência das ações de extensão promovidas e realizadas pela COEX. Portanto, se faz necessário mudar esta lógica e avançar em uma gestão estratégica que contemple uma direção com missão, visão e objetivos estratégicos, além de metas e indicadores de desempenho, estabelecidos, de forma consensual, entre os diferentes atores e unidades da COEX. Essa situação, além de limitar a geração de conhecimentos que o processo avaliativo produz, faz com que a tomada de decisões fique ao arbítrio da conjuntura imediata – conhecida, popularmente, como “apagar incêndios” – sem saber quais processos estão dando certo, a fim de consolidá-los ou expandi-los, e quais precisam ser reorientados ou totalmente reformulados. Da mesma forma, os processos e as mudanças ou resultados que, eventualmente, possam ser obtidos não são registrados, nem avaliados. Portanto, esses resultados, ou as “boas práticas” conseguidos, não podem ser disseminados nem reconhecidos, de modo que a própria ação perde relevância aos olhos dos que tomam decisão e dos organismos financiadores. Ciente de que esta situação pode ser melhorada, e a solicitação da COEX, a presente tese desenvolve uma sistemática de planejamento estratégico com indicadores de desempenho para apoiar a gestão, propondo ao mesmo tempo uma sistemática para monitorar as ações e avaliar os resultados da extensão artística e cultural a cargo da COEX. 22 Figura 2. Problema e suas causas CAUSAS PROBLEMA Fonte: Elaboração própria. 23 A temática, as abordagens e ferramentas utilizadas no presente trabalho fazem parte da área de Estratégias e Organizações da Engenharia de Produção, com ênfase nas subáreas de planejamento estratégico e sistemas de informações. Nesse contexto, a aplicação das ferramentas e modelos – Matriz SWOT, Balance Scorecard e a Cadeia de Valor – às ações de extensão é, sem dúvida, uma contribuição inédita, seja pela adaptação e integração desses modelos, seja pela aplicação desses modelos às ações de extensão artístico e cultural no âmbito universitário. A revisão bibliográfica sobre os diferentes paradigmas, modelos e iniciativas de avaliação utilizados em outros países, assim como a adaptação do BSC às ações de extensão artístico e cultural da COEX-UFPB, considera-se relevante para que este trabalho possa inspirar a outras IFES no monitoramento e avaliação das suas ações de extensão artístico e cultural. Nessa perspectiva, o capítulo de metodologia foi escrito em forma didática com certo detalhe mostrando a sequência de ferramentas usadas em cada etapa do processo de planejamento com diagramas, quadros explicativos e exemplos que permitam ao leitor aplicar os conceitos e as próprias ferramentas em outros casos.1.2 OBJETIVOS 1.2.1 Objetivo geral Desenvolver um processo de Planejamento Estratégico vinculado a uma sistemática de Monitoramento e Avaliação, tendo como base o Balance Scorecard (BSC) e a Cadeia de Valor, para auxiliar a gestão das ações da Extensão Cultural e Artística da COEX- PRAC/UFPB, a fim de melhorar a integração, o sinergismo, o uso dos recursos, a efetividade e o impacto, dessas ações, no âmbito do público interno e externo da Universidade. 1.2.2 Objetivos específicos a) Realizar uma análise situacional da COEX e dos Núcleos e Produtores Culturais vinculados a ela, identificando as variáveis que propiciam tanto uma situação favorável, como desfavorável e, das oportunidades para as ações de extensão artístico e cultural; b) desenvolver, em forma participativa, um olhar e uma direção estratégica comum quanto a missão, visão, objetivos estratégicos e princípios como base para orientar, integrar e ampliar o trabalho de extensão artístico e cultural da COEX e dos Núcleos e Produtores Culturais no âmbito interno e externo da UFPB; 24 c) desenvolver, com base no BSC, uma hierarquia de objetivos com indicadores de desempenho, metas e iniciativas para as dimensões do público externo, público interno (professores, alunos e técnicos), organização dos processos internos e, capacidade organizacional na gestão e geração de valor das ações de extensão artístico e cultural da COEX; d) definir de forma participativa, a nova estrutura organizacional e o papel da COEX, no que tange às suas funções, responsabilidades e atribuições para uma gestão mais integrada e orientada por resultados; e) propor, tendo como base a cadeia de valor, uma sistemática de monitoramento e avaliação (M&A) conjuntamente com as etapas necessárias para sua implementação com uma tipologia de indicadores de desempenho para apoiar a gestão e o processo de tomada de decisão, a geração de conhecimentos, e o uso e disseminação das ações e resultados da Extensão Cultural e Artística da COEX; 1.3 ESTRUTURA DA TESE Em prol do alcance dos objetivos, e como se observa na figura 2, o trabalho está constituído de 7 capítulos. No capítulo 2 é realizada uma revisão dos principais modelos de planejamento estratégico usados nas empresas, nas organizações públicas e na Universidade. Em seguida, no capítulo 3, são apresentadas as abordagens de M&A, usadas para mensurar e qualificar os processos e resultados das ações da Extensão Artísticas e Culturais. A metodologia do trabalho é apresentada no capítulo 4, onde se descrevem as etapas, os modelos e ferramentas no ciclo de planejamento desenvolvido para a COEX. No capítulo 5, são apresentados e discutidos os resultados obtidos na aplicação de planejamento estratégico, com a análise do ambiente, o mapa estratégico com a hierarquia de objetivos, os indicadores de desempenho e a nova estrutura organizacional da COEX. No intuito de apoiar os resultados da etapa de planejamento estratégico, o capítulo 6 apresenta uma proposta para instituir as funções de monitoramento do desempenho e da avaliação (M&A) na COEX. Por fim, no capítulo 7, são apresentadas as principais conclusões do estudo, em face dos objetivos estabelecidos, acrescentando-se algumas recomendações. Nos apêndices, encontram-se o questionário aplicado, a sistematização dos resultados e os guias de orientação do trabalho dos grupos no processo de planejamento estratégico. Também se inclui um anexo com os indicadores de extensão recomendados pelo Fórum de Pró-reitores de Extensão (FORPROEX). 25 Figura 2. Estrutura do Trabalho Capítulo 7 - Conclusões e Considerações Finais Capítulo 6 – Proposta de um Sistema de M&A Capítulo 5 – Resultados do Planejamento Estratégico SWOT - Análise do Ambiente A Missão, Visão e Principios BSC- O Mapa Estratégico Os Indicadores de Desempenho A Estrutura Organizacional Capítulo 4 – Metodologia Objetivos e Etapas do PE Análise do Ambiente e a Direção estratégica O BSC e os Objetivos Estratégicos Indicadores de Desempenho, Metas e Iniciativas Capítulo 3 – Avaliação da Extensão Artístico-Cultural Conceito de Arte e Cultura Monitoramento e Avaliação Modelos de M&A Indicadores de M&A Capítulo 2 – Os Modelos de Planejamento Estratégico nas Empresas e nas Organizações sem fins Lucrativos PE nas Empresas PE nas Instituições sem Fins Lucrativos PE nas Instituições de Ensino Superior Planejamento e Avaliação das Ações de Extensão Capítulo 1 – Introdução Delimitação e Justificativa do Problema Objetivos Estrutura do Trabalho 26 2 OS MODELOS DE PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO NAS EMPRESAS E NAS ORGANIZAÇÕES SEM FINS LUCRATIVOS Para apoiar o desenvolvimento das etapas e da sistemática do processo de planejamento estratégico do trabalho, apresenta-se, neste capítulo, a evolução das abordagens e ferramentas usadas no planejamento nas empresas e nas organizações sem fins lucrativos. Na ótica das empresas, são discutidas brevemente as abordagens e ferramentas de planejamento estratégico e o Balanced Scorecard (BSC), de Kaplan e Norton (1996). No planejamento das instituições públicas, discute-se o Marco Lógico de Análise (MLA) e o Planejamento por Objetivos (ZOPP), além das variações recentes desenvolvidas, na ótica da gestão para resultados (GPR), pelo Banco Mundial (BIRD) e pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Em seguida, discutem-se as especificidades das Instituições Federais de Ensino Superior quanto ao processo de planejamento e avaliação das ações de extensão. 2.1 O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO NAS EMPRESAS Embora não exista uma definição única de planejamento estratégico, as definições dos vários autores se complementam. Oliveira (2011) assinala que o planejamento estratégico é um processo desenvolvido para o alcance de uma situação futura desejada, de um modo mais eficiente, eficaz e efetivo, com a melhor concentração de esforços e recursos pela empresa. Para Drucker (1984), o planejamento estratégico é um processo que permite, com base em conhecimentos e evidências, tomar decisões atuais, que envolvam riscos, organizar as atividades necessárias à execução dessas decisões e, mediante uma retroalimentação organizada e sistemática, mensurar os resultados em confronto com as expectativas alimentadas. Em relação aos propósitos do planejamento estratégico, Castro (2005) observa que a natureza da organização precisa ser considerada. Em organizações públicas, há a busca por sustentabilidade institucional, ou seja, por continuada valorização social dos bens e serviços que a organização produz; já em organizações privadas, o principal anseio é pela conquista de posições e vantagens competitivas, que permitam maior lucro às empresas. A maioria dos autores no tema concordam que evolução das abordagens, práticas e técnicas do planejamento está intimamente relacionada com a intensificação do ritmo e da complexidade das mudanças ambientais, bem como da crescente competitividade entre as 27 empresas, acirrada pelo crescente processo de globalização e pelo acelerado avanço tecnológico nas diversas áreas produtivas e de serviços. Segundo Tavares (2008), devido às incipientes pressões competitivas que se iniciaram na metade do século XX, as grandes corporações privadas, nos Estados Unidos (General Motor, Ford, Revlon, AT&T, entre outras), adotaram métodos de planejamento focados no controle orçamentário. Surgia, assim, o planejamento financeiro, mais preocupado com a previsão de receitas e gastos. Feito sob essa ótica, o planejamento financeiro era fechado para o ambiente interno da empresa, ondea projeção e expectativas de gastos e receitas eram feitas tendo como base o período anterior. Dessa forma, todas as decisões giravam em torno da realização orçamentária, e seu horizonte temporal, na maioria das vezes, era de um ano. No Brasil, o planejamento financeiro foi mais difundido e usado no setor público, tendo como base legal a Lei Federal nº 4.320/1964, que estabeleceu as bases para a adoção do chamado orçamento-programa para os diferentes setores. Ainda hoje, é grande o número de organizações que utilizam o mesmo; entre elas, as Universidades Federais, que utilizam este modelo para definir gastos, segundo programas de trabalho detalhados por órgão, função, até o nível de projeto ou atividade a ser executada. No início dos anos 1960, nos Estados Unidos, iniciou-se a prática do planejamento em longo prazo, na crença de que “o futuro pode ser melhorado por uma intervenção ativa no presente” (ACKOFF, 1975, p. 15). Para este tipo de planejamento, era necessário estimar o futuro a partir de indicadores atuais e das tendências históricas, sendo isto possível graças à relativa estabilidade no crescimento da economia americana. A dinâmica dos mercados e as mudanças nos diferentes setores da economia revelaram a limitação deste tipo de planejamento, baseado em projeções que não previam modificações tecnológicas significativas, como as ocorridas nos setores da construção civil, energia, embalagens, transporte, indústria automotriz, etc. Portanto, estimar o comportamento futuro do mercado com base em projeções de tendências, no longo prazo, tornou-se cada vez mais limitante, dando passo, na década de 1970, ao planejamento estratégico, com conceitos e ferramentas que tentavam captar as mutações e a nova dinâmica nos mercados. Como assinala Araújo (1996), para lidar com a incerteza ambiental, não é suficiente apenas extrapolar as tendências do passado, é preciso definir missão, objetivos, metas e alternativas estratégicas com a atenção voltada às modificações ambientais. Dessa forma, surge, a partir dos anos 1970, um conjunto de modelos, conceitos e ferramentas para abordar os aspectos de incerteza no ambiente e do significado de estratégia, no contexto do planejamento. Entre as principais ferramentas para análises ambientais, muito 28 utilizadas até hoje, destacam-se: a matriz de crescimento e participação no mercado, também denominada de matriz BCG (Boston Consulting Group); a curva de experiência, inspirada na curva de aprendizagem; a matriz de atratividade de negócios e posição no mercado; as unidades estratégicas de negócios (UEN), para a gestão de um produto ou produtos relacionados; e a matriz SWOT. Esta última, creditada a Albert Humphrey, da Universidade de Stanford, permite avaliar, de forma sistemática, as fortalezas (Strengths) e as fraquezas (Weaknesses) internas da empresa, bem como as oportunidades (Opportunities) e ameaças (Threats) encontradas no ambiente externo. Devido à sua simplicidade, a matriz SWOT é amplamente utilizada para fazer análise de cenários e de ambiente, sendo também usada como base para gestão e planejamento estratégico de uma corporação ou empresa. Uma das maiores contribuições na análise das estratégias e vantagens competitivas surge nos anos 1980, com a teoria das cinco forças, de Michael Porter (1986). Porter assinala, na sua abordagem, que um dos aspectos essenciais na formulação da estratégia das empresas, em particular da sua dimensão marketing, consiste na relação entre a empresa e o seu contexto ou ambiente competitivo. Ele argumenta que, embora o ambiente seja bastante vasto – abrangendo o mais variado tipo de forças, desde as de natureza econômica, social, tecnológica, até as de natureza política e legal – o aspecto determinante desse contexto é o conjunto das características mais relevantes de cada setor – também chamados de indústrias – nos quais a empresa desenvolve as suas atividades. Dessa forma, a estrutura de um setor influencia e determina o tipo de concorrência, bem como delimita as estratégias potenciais que a empresa pode vir a adotar e implementar. Com base em pesquisas feitas nos Estados Unidos, Porter aponta, então, que a intensidade concorrencial em um setor depende de cinco forças básicas: (i) o número de concorrentes e a sua rivalidade em determinado momento; (ii) a possibilidade de entrada de novos concorrentes; (iii) o poder de negociação dos clientes; (iv) o poder de negociação dos fornecedores; (v) o aparecimento de produtos substitutos. É a partir da conjugação do impacto relativo de cada uma destas forças que é determinada a rentabilidade potencial do setor. Segundo Porter, o objetivo estratégico de cada empresa será o de encontrar uma posição, nessa indústria, que permita defender-se das cinco forças referidas ou influenciá-las ao seu favor. O conhecimento desses fatores permite uma melhor utilização dos pontos fortes e a correção dos pontos fracos da empresa, bem como permite identificar as alterações estratégicas mais aconselháveis e as áreas mais atraentes, ou mais arriscadas, resultantes da evolução da indústria. A análise das forças, de Porter, tem 29 inspirado o desenvolvimento de estratégias de inúmeras empresas e levado à realização de pesquisas aplicadas em vários setores, no Brasil e no mundo. Esses e outros modelos e ferramentas foram tipificados e discutidos por Mintzberg et al. (2010), na publicação: Safári da Estratégia: Um roteiro pela selva do planejamento estratégico. A obra agrupa e caracteriza as estratégias em dez escolas de pensamento e constitui-se em referência internacional sobre o tema. Embora existam inúmeras variações, na Figura 1 observam-se as categorias genéricas das diferentes etapas do planejamento estratégico. Com certas adaptações, essas etapas inspiram o processo de planejamento estratégico das ações de extensão artística e cultural abordadas no presente trabalho. Como observado na Figura 3, um primeiro passo na formulação da estratégia é estabelecer a missão, a visão e os princípios que vão nortear as ações da organização. Alguns autores se posicionam a favor de iniciar pela análise ambiental, argumentando que as forças ambientais indicarão como a missão e visão da organização deverá ser definida. Entretanto, outros autores observam que iniciar pela definição da missão e visão é fundamental para ter um sentido de direção e, assim, buscar as oportunidades e neutralizar as ameaças do meio ambiente. Sem esse norte, a organização poderia se perder na definição das áreas de atuação, em um ambiente tão amplo. Figura 3. Etapas do Planejamento Estratégico Fonte: Adaptada de Tavares (2009, p. 79). 30 Observa-se, na Figura 3, que a missão (ou razão de ser) da organização, a visão (ou sonho) perseguida e os princípios – que são os valores ou padrões éticos de comportamento que pautam o agir da organização – conformam a intenção estratégica que dá o norte, ou sentido, à organização, seja ela com ou sem fins lucrativos. Antes da definição de cursos de ação e dos objetivos estratégicos de longo prazo, é preciso realizar a análise do denominado macroambiente, com a identificação e avaliação das variáveis; estas, geralmente, estão fora do controle da organização, podendo interferir positiva ou negativamente (oportunidades ou ameaças) no seu desempenho. Para a realização dessa análise, existem várias abordagens, que vão desde a análise SWOT até sofisticadas análises de cenários e de modelos econométricos sobre os impactos de diferentes variáveis sobre a empresa. Na sequência, a análise do ambiente competitivo e dos tipos de relacionamentos da organização é fundamental para avaliar as forçascompetitivas, as relações com o público e com as organizações do setor. No âmbito das empresas, geralmente, se utiliza a abordagem das cinco forças de Porter. Já nas organizações sem fins lucrativos, existem diversas análises, que focam nos interesses e influências que os diferentes atores podem exercer no desempenho da organização. Dentre os principais tipos de análise, estão: a análise dos atores envolvidos (stakeholder analysis), a análise responsabilidades e deveres em uma perspectiva de direitos (duty-bearers and right holder analysis) e o mapa de mudanças (outcome analysis), entre os principais. A partir das análises anteriores, o passo seguinte é formular as estratégias, ou seja, estabelecer os cursos ou temas estratégicos de ação considerados mais apropriados ao cumprimento da visão e missão. Em alguns modelos, este passo não é considerado, passando diretamente para a definição de objetivos estratégicos, onde começa o desmembramento das estratégias, de acordo com a responsabilidade de cada área e da organização no cumprimento da sua missão. Na maioria dos modelos, os objetivos estratégicos são desmembrados, em uma relação de causalidade e hierarquização, em objetivos táticos ou funcionais, antes de elaborar os planos e os orçamentos respectivos. Conjuntamente com a implementação, a etapa seguinte do planejamento está dirigida ao monitoramento, avaliação e controle, onde se definem os indicadores de desempenho atrelados aos objetivos e metas operacionais. Além de permitir verificar as brechas entre o previsto e realizado, os indicadores de desempenho devem permitir a adoção de ações corretivas e o estabelecimento de novos cursos de ação, são a base para o Monitoramento, Controle e Avaliação, assunto a ser tratado nos capítulos 3 e 5. 31 Com o objetivo de superar os entraves na implementação do planejamento estratégico, nos anos 1990, surge a Gestão Estratégica (GE), que busca reunir, em uma forma mais flexível, o plano estratégico e sua implementação em um único processo. Na GE, é dada maior ênfase à informação e ao conhecimento, que vão sendo gerados no processo de implementação e que são considerados os recursos críticos na integração entre estratégias e a organização. Nessa direção, surgem as abordagens 7S, ou modelo de McKinsey, e o Balanced Scorecard (BSC). O Modelo 7S tem, por objetivo, demonstrar que a organização não é formada apenas por uma estrutura, mas também por sete elementos divididos em duas áreas: hardware (hard-s) e software (soft-s). Estas, por sua vez, são: Estrutura, Sistemas, Estratégia, Habilidades, Pessoas, Estilo e Objetivos. A ideia central do Modelo dos 7S é que os administradores e líderes devem levar em consideração todos estes fatores em conjunto, para, assim, ter a certeza de que uma estratégia será implementada com êxito. No contexto da metodologia do presente trabalho, o Balance Scorecard (BSC, traduzido como Indicadores Balanceados de Desempenho), concebido por David Norton e Robert Kaplan, em princípios da década de 1990, é particularmente relevante já que permite o alinhamento do planejamento estratégico com os objetivos e ações operacionais da empresa, o que é fundamental para o caso em estudo que conta com diversas unidades operacionais como os Núcleos e Produtores Culturais da COEX. Em outras palavras, é um modelo de gestão que auxilia as organizações a traduzir a estratégia em objetivos operacionais que direcionam comportamentos e desempenhos em outras unidades, permitindo um alinhamento com a missão, visão e objetivos estratégicos estabelecidos. Diferentemente de outros modelos que consideram na gestão prioritariamente a perspectiva financeira, outra vantagem do BSC é o reconhecimento de que os objetivos econômicos e financeiros são o resultado de outras atividades criadoras de valor dentro da empresa. Segundo o BSC, a geração do valor depende: (i) do desempenho do mercado junto aos clientes; (ii) da eficiência dos processos internos da empresa; (iii) do desenvolvimento das capacidades do quadro de funcionários e; (v) do aprendizado e inovação perante as mudanças no ambiente competitivo. Portanto, o modelo de gestão do BSC inclui objetivos e indicadores que contemplam essas dimensões. Como observado na Figura 4, a lógica por trás do modelo é que a interação dessas perspectivas trará à empresa os resultados financeiros esperados. Portanto, o BSC, a partir de uma visão integrada e balanceada da empresa, permite descrever a estratégia de forma clara, através de objetivos estratégicos em 4 perspectivas (financeira, mercadológica, processos internos e, aprendizado e crescimento), sendo todos eles relacionados entre si através de uma relação de causa e efeito. Além 32 disso, o BSC promove o alinhamento dos objetivos estratégicos com indicadores de desempenho, metas e projetos. Desta maneira, é possível gerenciar a estratégia de forma integrada e garantir que os esforços da organização estejam direcionados para a estratégia. Figura 4. Dimensões do Balance Scorecard (BSC) Fonte: Adaptado de Kaplan e Norton (1996). Como se observa na Figura 4, a perspectiva financeira inclui objetivos e indicadores e metas sobre os resultados financeiros tais como: rentabilidade, lucratividade, crescimento patrimonial, valor gerado para os acionistas. A perspectiva do cliente inclui aspectos relacionados com o crescimento do mercado, fidelização e grau de satisfação do cliente entre outros. A perspectiva dos processos internos considera as condições para que a organização ofereça propostas de valor ao cliente, capazes de atraí-los e retê-los nos seus segmentos de atuação, e, ao mesmo tempo, cria valor para os acionistas. Assim, o BSC busca avaliar o nível de qualidade das suas operações – o grau de eficiência produtiva, os serviços de entrega de produtos aos clientes, bem como os serviços pós-venda, que são realizados pela empresa como serviço agregado. Por último, a perspectiva do aprendizado e crescimento (também denominada por alguns autores com de capacidade organizacional) inclui a capacitação dos recursos humanos e os investimentos em novos equipamentos, em pesquisa e 33 desenvolvimento de novos produtos, em sistemas, procedimentos e novas tecnologias da empresa. Segundo os autores do BSC, as empresas que inovam e mantêm o capital intelectual com elevado grau de motivação, satisfação interna e produtividade são as que podem competir e crescer com sustentabilidade. Essa perspectiva é usada para avaliar o nível de criatividade e alinhamento estratégico dos colaboradores, em busca de racionalização de processos, de agregação de valor aos produtos e clientes da empresa. O BSC trabalha com o estabelecimento de metas e indicadores no que concerne a cada perspectiva, capazes de proporcionar, aos gestores, o acompanhamento das ações das empresas e dos resultados obtidos. Por sua vez, essas metas e indicadores de desempenho devem estar atrelados a atividades (e planos de ação) que agreguem valor aos clientes, aos acionistas e ao desenvolvimento interno da organização. Portanto, cada perspectiva do BSC deve ter o seu próprio conjunto de metas e indicadores de desempenho, de acordo com as características e necessidades de cada empresa. No Brasil são várias as empresas que utilizam com o BSC na sua gestão, onde se destacam a Petrobras, Grupo Gerdau, Suzano Papel e Celulose, Suzano Petroquímica, Copesul, Petroflex, Oxiteno, Duke Energy Brasil, Parceiros Voluntários (ONG), Prefeitura de Porto Alegre, Governo do Rio Grande do Sul, Tribunal Regional do Trabalho, Fundação AVINA. O BSC tem sido largamente aplicado em organizações – públicas e privadas – com e sem finslucrativos nos EUA e no Canadá (CHAN, 2009), Grã-Bretanha (WISNIEWKI, 2004), Nova Zelândia (GREATBANKS; TAPP, 2008) e Noruega (ASKIM, 2004), entre outros países. No setor público, a utilização do BSC exige algumas adaptações, pois no lugar de compensações financeiras num ambiente de competição, a finalidade do governo é suprir necessidades da sociedade por meio da prestação de serviços públicos. Por essa razão, Niven (2005) acredita que é necessário priorizar a influência da missão organizacional em relação à perspectiva financeira. Portanto, este autor enfatiza que definir claramente a missão é um fator crítico de sucesso no setor público, sendo que as medidas financeiras aparecem mais como facilitadoras ou limitadoras do desempenho organizacional (NIVEN, 2005). Para este autor, a aplicação do BSC no setor público pode apresentar alguns desafios que não costumam aparecer na iniciativa privada, tais como: dificuldade em medir certas atividades e serviços que possuem caráter essencialmente social, difíceis de mensurar; medo ou percepção dos funcionários de que os resultados sejam utilizados para punir; cultura de que as mudanças não são urgentes tampouco necessárias; vinculação da remuneração ao 34 desempenho organizacional. Apesar das dificuldades, agrega este autor, a implementação do BSC no setor público é viável e pode gerar “resultados inigualáveis” (NIVEN, 2005, p. 352, citado por LAZZARINI, 2013). 2.2 O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO NAS ORGANIZAÇÕES SEM FINS LUCRATIVOS No planejamento estratégico das organizações públicas, as abordagens, modelos e conceitos são variados e obedecem a diferentes correntes e paradigmas político-ideológicos que, historicamente, estão atrelados à discussão, ainda hoje vigente, da relação entre o maior ou menor grau de intervenção do estado diante do papel do mercado. No contexto dos objetivos perseguidos, o maior interesse do trabalho se concentra nas abordagens e nos modelos metodológicos mais relevantes para o planejamento e gestão pública de programas e projetos que possam ser aplicados às ações de extensão artísticas e culturais. Nessa perspectiva, pode-se assinalar que, tanto no âmbito internacional como no Brasil, as metodologias mais difundidas de planejamento, no setor público e nas organizações sem fins lucrativos, são o marco lógico de análise (MLA), desenvolvido pela Agência de Cooperação Internacional dos Estados Unidos (USAID), e o método ZOOP, de planejamento por objetivos, da Agência Alemã de Cooperação (GTZ). Agrega-se, a essas metodologias, as diversas variações do MLA, com destaque para a Gestão Baseada em Resultados (Results-Based Management – RBM), proposta pela Agência Canadense de Cooperação (Cida – Canadian International Development Agency), bem como as evoluções promovidas pelo Banco Mundial e Banco Interamericano (BID). Igualmente, possuem suas próprias adaptações, os programas de cooperação para o desenvolvimento, patrocinados pelas agências do sistema das Nações Unidas (PNUD, CEPAL, UNICEF, UNFPA, OIT, UNDG) e, por várias outras agências de cooperação técnica bilateral (Espanha, Reino Unido, Japão, Noruega, Canadá, entre outras). O modelo básico do MLA é uma matriz 4x4, com 16 células, que possui uma lógica vertical e outra horizontal. Como se observa no quadro 1, na sua hierarquia vertical, o MLA tem – como base – hipóteses de causalidade entre os diferentes níveis. Dessa forma, uma vez estabelecidos os objetivos finais do projeto ou programa, a primeira etapa no seu desenvolvimento será implementação dos meios ou recursos (financeiros, tecnológicos, humanos, logísticos). Diante disso, é possível iniciar a implementação das tarefas, atividades ou processos, que representam a combinação desses recursos para a realização de cursos, 35 treinamentos, palestras e visitas técnicas, além de atendimentos nas áreas da saúde e nutrição, assistência jurídica, estágios, etc. Com a implementação das atividades, espera-se ser possível obter uma série de produtos ou bens e serviços, tangíveis e intangíveis, ligados aos públicos-alvo do projeto ou programa. É suposto que os produtos devem ser indutores de mudanças e benefícios no comportamento, nas práticas, no status ou nas condições das pessoas e/ou instituições. A lógica vertical é chamada de cadeia de resultado ou de valor, que vincula os recursos com os processos e os resultados obtidos. Já na sua lógica horizontal, o modelo vincula os níveis de resultados com a definição de indicadores, tanto quantitativos como qualitativos, para verificar o grau de avanço. E, na sequência, são vinculados os meios de verificação, que representam as fontes e os métodos necessários para conformar os indicadores. Quadro 1. Modelo Básico do Marco Lógico CADEIA DE RESULTADOS INDICADORES MEIOS DE VERIFICAÇÃO PRESSUPOSTOS Objetivo maior O objetivo de longo prazo (ou missão) ao qual o projeto contribui. Vinculado à política ou programa setorial Medidas que indicam o grau de alcance do objetivo em longo prazo Fontes de informação e métodos usados para coletar os dados (incluindo quem, quando e com que frequência) Propósito Objetivo estratégico ou mudança esperada, diretamente vinculada ao projeto e aos beneficiários Medidas que ajudam a responder se o propósito tem sido alcançado (quantidade, qualidade e tempo) Fontes de informação e métodos usados para coletar os dados (incluindo quem, quando e com que frequência) Fatores fora do controle da gerência do projeto, que podem afetar o alcance do propósito e seu vínculo com o objetivo maior ou seu impacto Produtos Bens e serviços tangíveis e intangíveis que o projeto entrega, a partir das atividades e recursos Medidas que ajudam a responder se os bens e serviços têm sido entregues, em termos de quantidade, qualidade e tempo Fontes de informação e métodos usados para coletar os dados (incluindo quem, quando e com que frequência) Fatores fora do controle da gerência do projeto, que podem afetar o vínculo entre os produtos e o propósito Atividades e Recursos As ações e recursos que precisam ser implementados para entregar os bens e serviços (produtos) Resumo dos recursos Resumo do orçamento/custos Fatores fora do controle da gerência do projeto, que podem afetar o vínculo entre as atividades e o produto Fonte: Elaboração própria. 36 Na última coluna, o MLA permite realizar uma análise de risco, onde se verifica e avalia a probabilidade de existirem as condições para alcançar os resultados esperados, em cada nível hierárquico. A análise de risco permite estabelecer estratégias para abordar os riscos identificados. Alguns fatores do ambiente podem estar fora do controle do projeto, mas outros podem ser gerenciados com pequenos ajustes na abordagem do projeto. Os riscos associados com a implementação das atividades e alcance dos produtos são, geralmente, mais baixos, aumentando na medida em que se avança na cadeia de resultados. A evolução do Marco Lógico pode ser dividida em três fases, ou gerações. A primeira fase está relacionada à etapa inicial de implementação do método, na agência de cooperação americana (USAID), e caracteriza-se pelo uso exclusivo da matriz de planejamento. A segunda (1980-1990) está relacionada com a criação do planejamento por objetivos (ZOPP), na agência alemã de cooperação técnica (GTZ) – que transfere a ênfase para o processo de elaboração da Matriz de Planejamento do Projeto (MPP) – com a participação
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