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1 CERÂMICA ODONTOLÓGICA CONSIDERAÇÕES GERAIS E PRÁTICA LABORATORIAL Profa Dra Sheila Rodrigues de Sousa Porta Atualizada em 2016 PORTA, SRS. Cerâmica Odontológica 2 1. Introdução Faz parte do conceito de beleza ter dentes brancos e alinhados e, dentre os materiais restauradores estéticos, a cerâmica pode ser considerada atualmente a melhor escolha para reproduzir os dentes naturais. Além da excelente estética, as cerâmicas odontológicas apresentam vantagens como a biocompatibilidade, resistência à compressão, condutibilidade térmica próxima à dos tecidos dentais, radiopacidade, integridade marginal e estabilidade de cor. A palavra cerâmica é originada do termo grego Keramos que significa “matéria queimada”. É um material inorgânico, fabricado a partir de matérias primas naturais, cuja composição básica é a argila, feldspato, caulim e quartzo. A estes componentes podem ser acrescentados outros elementos, como óxidos metálicos por exemplo. Assim, uma grande variedade de cerâmicas pode ser encontrada, indo desde simples vasos de barro, passando por azulejos, louças e porcelanas, até as cerâmicas dentárias. O termo porcelana designa um tipo específico de cerâmica: mais fina, branca e translúcida. Em Odontologia, no entanto, os termos cerâmica e porcelana são utilizados como sinônimos. Este material sofreu grande evolução até ser considerado como alternativa viável e promissora para uso na Odontologia. A história da porcelana como um material dentário remonta há pouco mais de 240 anos. Antes disso, os materiais utilizados para a confecção de dentes artificiais eram dentes extraídos de seres humanos ou de animais ou confeccionados em marfim. A primeira prótese com dentes de porcelana data de 1774, quando o químico francês Alex Duchateau, insatisfeito com o odor, gosto e descoloração dos dentes de marfim de sua prótese notou que os utensílios de porcelana glazeada que usava em seu laboratório resistiam à descoloração, demonstravam superfície lisa e eram resistentes à abrasão. O químico aliou-se, então, ao seu dentista Nicholas Dubois de Chemant e produziu para si próprio um par de próteses com dentes de porcelana. Esteticamente estes dentes eram muito brancos e opacos e só mais tarde a porcelana seria aperfeiçoada para ter brilho e cor mais próxima dos dentes naturais. Restaurações unitárias de porcelana só se tornaram populares a partir de 1860. No início do século XX, as porcelanas de baixa fusão foram aprimoradas, determinando o estabelecimento das porcelanas como um dos materiais mais usados em Odontologia. O primeiro sistema metalocerâmico (metal + porcelana) desenvolvido na Europa foi lançado no mercado odontológico em 1962, pela VITA. Atualmente, existem no mercado odontológico diversos sistemas de porcelana com diferentes composições e indicação de uso. Estruturalmente, as cerâmicas odontológicas apresentam uma matriz vítrea à qual são incorporados núcleos cristalinos, que atuam como arcabouço de reforço. A composição, e também o método de processamento, podem interferir diretamente na resistência mecânica das porcelanas. As primeiras cerâmicas odontológicas apresentavam como principal limitação a baixa resistência à flexão, sendo empregadas apenas como cobertura em restaurações metalocerâmicas ou em restaurações unitárias anteriores, em regiões de baixo esforço oclusal. O aprimoramento das porcelanas, reforçadas por meio da adição ou da precipitação de maior quantidade de fase cristalina, e novas técnicas de processamento laboratorial, permitiram o uso da porcelana pura em PORTA, SRS. Cerâmica Odontológica 3 restaurações unitárias como facetas, inlays, onlays, coroas totais e também em próteses fixas de até 3 elementos. 2. Classificação Existem diferentes formas de classificar as porcelanas odontológicas: Com relação à sua composição, as cerâmicas podem ser divididas em 02 grupos principais: • Cerâmica convencional (maior quantidade de fase vítrea). São as porcelanas feldspáticas que têm esse nome porque a sua principal matéria- prima é o feldspato, rocha comum na natureza. A sua friabilidade e baixa resistência mecânica dificultam seu uso em regiões sujeitas ao estresse. Mais utilizada em próteses metalocerâmicas ou como cerâmica de recobrimento de infraestruturas cerâmicas. • Cerâmicas reforçadas (incorporação de maior quantidade de fase cristalina que as convencionais). São as porcelanas indicadas em próteses livres de metal (metal free). Dependendo da composição da fase cristalina, as porcelanas reforçadas podem ser subdividas em outros dois grupos básicos: vidros ceramizados (leucita e dissilicato de lítio), cerâmicas à base de óxidos (alumina, zircônia, ítria e magnésio). As porcelanas podem ser classificadas, também, de acordo com seu processamento (procedimentos laboratoriais de fabricação): • Estratificação: usualmente se apresentam na forma de pó e líquido que, misturados, adquirem a consistência que permite que o material possa ser modelado e esculpido com pincéis ou espátulas. Com a elevação da temperatura, a parte vítrea da porcelana amolece e escoa permitindo a coalescência das partículas, que se mantêm unidas. Ex.: porcelana feldspática. Detalhes importantes do processo de sinterização (queima da cerâmica): a) Uso do vácuo; b) Contração de queima; c) Temperatura de queima; d) Glaze. • Infiltração de vidro (slip-cast): Também conhecido como fundição por suspensão, este grupo é representado comercialmente pelo Sistema In Ceram. Utilizado em subestruturas cerâmicas a serem recobertas, posteriormente, com cerâmica feldspática. • Fundição ou injeção/ prensagem: Comercialmente, este tipo de porcelana está disponível em pastilhas. A cerâmica, industrialmente pré-sinterizada, é aquecida em forno e, por força centrífuga, injetada em moldes refratários obtidos pelo método da cera perdida. Ex.: sistema E-max. • Torneamento ou fresagem/usinagem: as porcelanas são disponibilizadas em blocos pré-fabricados, já sinterizados ou fundidos, para serem torneados por meio de processo computadorizado. Este grupo agrupa todas as porcelanas indicadas para os sistemas CAD-CAM (Computer-Aided Design/ Computer- PORTA, SRS. Cerâmica Odontológica 4 Assisted Machining) ou ainda, para alguns autores CAD-CIM (Computer-Aided Design/ Computer-Integrated Machining). O bloco cerâmico pré-fundido é livre de porosidades, resultando numa peça com melhores propriedades físicas, mas necessitando de maquiagem ou porcelana de cobertura para estética satisfatória. Consequentemente às diferentes formas de processamento, comercialmente, temos diferentes formas de apresentação das porcelanas: • Pó e líquido (para sinterização) • Em pasta (forma de apresentação de alguns opacos e glaze) (para sinterização) • Em pastilhas a serem fundidas • Em blocos a serem usinados Com relação à temperatura de fusão, as cerâmicas podem ser classificadas como sendo de alta, média, baixa e ultrabaixa fusão, de acordo com as temperaturas discriminadas na tabela 01. Tabela 01 – Classificação das porcelanas segundo a temperatura de fusão CLASSE TEMPERATURA Alta fusão >1300ºC Média fusão 1101º a 1300ºC Baixa fusão 850º a 1100ºC Ultrabaixa fusão <850ºC A porcelana de alta fusão foi inicialmente empregada na produção de dentes para próteses removíveis,mas entrou em desuso em decorrência do alto valor agregado do produto e dificuldades técnicas inerentes a sua confecção. Atualmente este grupo está representado pelas infraestruturas cerâmicas de alumina e zircônia totalmente sinterizadas. A de média fusão tem sua indicação para coroas totais livres de metal (infraestruturas em cerâmica). Já as de baixa e ultrabaixa fusão são empregadas para recobrimento de estruturas metálicas ou cerâmicas. Em linhas gerais, a classificação da porcelana de acordo com sua composição (porcelana feldspática e porcelana reforçada) é bastante utilizada. A seguir, vamos explicar um pouco mais a respeito dessas duas classes de cerâmica. Antes, vamos entender as diferenças básicas entre estes grupos de cerâmica. Entendendo-as pode- se compreender a aplicação das diversas cerâmicas e as diversas técnicas de confecção das próteses. Uma das diferenças é quanto à resistência flexural e dureza (fig. 02). As cerâmicas à base de óxidos são mais resistentes que as demais. PORTA, SRS. Cerâmica Odontológica 5 Fig. 02 – Valores médios da resistência flexural dos diferentes grupos de cerâmicas odontológicas. Outra diferença entre os grupos diz respeito à estética. A porcelana feldspática e as vitrocerâmicas possuem alta translucidez, o que dá ao fabricante a possibilidade de acrescentar corantes e opacificadores, que permitem que estas cerâmicas tenham as propriedades de cor e translucidez dos dentes naturais. Por sua vez, as cerâmicas à base de óxidos são altamente opacas. Existe, portanto, uma relação inversa entre resistência e estética nas cerâmicas odontológicas. A terceira e também importante diferença refere-se ao escoamento durante o processo de confecção. Enquanto a porcelana feldspática e o vidro ceramizado são susceptíveis ao escoamento quando expostos à altas temperaturas, as cerâmicas à base de óxido não o são, sendo utilizadas apenas como estrutura de reforço (copings). 2.1 Cerâmica convencional: Porcelana feldspática Primeiras a serem utilizadas na Odontologia, as porcelanas feldspáticas são utilizadas como material de recobrimento de estruturas metálicas ou cerâmicas e em estruturas totalmente cerâmicas: inlay, onlay, facetas e coroas totais (com limitações). Esta limitação se deve ao fato de que este material apresenta baixa resistência à tração e flexão, além de elevada dureza. É, portanto, um material friável, sujeito a fraturas. Quimicamente, as porcelanas feldspáticas são compostos inorgânicos, constituídas por 75 a 85% de feldspato, 12 a 22% de quartzo ou sílica e 3 a 5% de caulim. A estes constituintes básicos, são adicionados pigmentos, opacificadores e fundentes (tabela 2). PORTA, SRS. Cerâmica Odontológica 6 Tabela 02 – Composição das porcelanas convencionais Mecanicamente, as porcelanas feldspáticas apresentam baixa maleabilidade e são sensivelmente friáveis. Desta forma, diferentes mecanismos foram considerados para melhorar suas características, reduzindo seu potencial de falhas em condições de estresse mastigatório. Um dos métodos mais efetivos de fortalecimento é a utilização de subestruturas metálicas (coping metálico) sobre as quais a cerâmica é aplicada. Efetivo e amplamente utilizado, este sistema metal + cerâmica ou metalocerâmica, parece ser o sistema mais bem-sucedido na construção de restaurações estéticas e resistentes ao estresse oclusal. Comercialmente, estas porcelanas apresentam-se na forma de pó, que é misturado com líquido próprio do fabricante ou com água destilada. A massa cerâmica é então esculpida em camadas sobre um troquel refratário (peças em porcelana pura, para casos individuais e regiões sem estresse mastigatório) ou sobre infraestrutura metálica ou cerâmica. No entanto, construir próteses estéticas, a partir de uma base metálica, tecnicamente não é tarefa fácil. Esconder ou mascarar o metal sob finas camadas de cerâmica, e transmitir ao observador a sensação de sua inexistência, dando à prótese as nuances de cor e translucidez do dente natural, exige uma combinação de destreza e conhecimento técnico. Assim, não é raro observarmos situações clínicas onde preparos inadequados e/ou deficiências técnicas na aplicação da cerâmica levam a uma opacificação exagerada do trabalho protético, afastando-o em muito das características ópticas de um dente natural. Também é frequente observar-se um halo escurecido, na margem cervical destas restaurações, causado pela presença da borda metálica. Apesar destas dificuldades estéticas, a prótese metalocerâmica ainda é muito utilizada e a técnica para sua confecção é detalhada mais à frente, nesta apostila. 2.2 Cerâmicas reforçadas COMPONENTE PROPORÇÃO FUNÇÃO FELDSPATO 75 – 85% Forma a fase vítrea da porcelana / Translucidez Feldspato de potássio: aumenta a viscosidade/ controla a manipulação/ melhora a translucidez/ funde o caulim e o quartzo. Feldspato de sódio: diminui a temperatura de fusão / dificulta a manipulação. QUARTZO /SÍLICA 12 – 22% Forma a fase cristalina. CAULIM 3 – 5% Maleabilidade a massa / Opacidade FUNDENTES variável Bórax / carbonatos / óxido de zinco diminuem o ponto de fusão. PIGMENTOS Variável (< 1%) Dá cor. Óxidos metálicos de cobre, cromo, magnésio, cobalto, titânio, níquel. OPACIFICADORES variável Mascarar zonas subjacentes. Oxidos de Zircônio, Titânio e Estanho. PORTA, SRS. Cerâmica Odontológica 7 Como afirmamos anteriormente, diversas pesquisas resultaram em alternativas para o fortalecimento das estruturas cerâmicas, minimizando o risco de fraturas sem a necessidade de utilização de subestruturas metálicas. Neste sentido, a estrutura das cerâmicas convencionais foi alterada, sendo a ela incorporada substâncias, principalmente óxidos, para seu fortalecimento. Surgiram então, as cerâmicas à base de sílica (vidro ceramizados à base de leucita e de dissilicato de lítio) e as cerâmicas à base de óxido (alumina, espinélio – óxido de alumínio e magnésio - e zircônia estabilizada por ítria). Atualmente existe uma grande variedade de classes cerâmicas disponíveis para distintas indicações, de acordo com seus fabricantes. Contudo, não existe um único sistema totalmente cerâmico passível de ser empregado em todas as situações clínicas. É importante entender que o termo “totalmente cerâmico” refere a qualquer peça protética confeccionada exclusivamente em cerâmica, seja a porcelana feldspática, a vitrocerâmica, a cerâmica à base de óxido ou qualquer combinação entre estes materiais. A natureza da fase cristalina, sua quantidade, o tamanho das partículas e seu coeficiente de expansão térmica influenciam as propriedades físicas, mecânicas e estéticas do material e determina sua indicação. A tabela 03 apresenta o processamento laboratorial de diferentes sistemas totalmente cerâmicos. 2.2.1 Cerâmicas reforçadas por sílica (vidros ceramizados) As cerâmicas reforçadas por leucita são indicadas para restaurações do tipo facetas laminadas, inlays, onlays e coroas totais. O baixo índice de refração dos cristais de leucita resulta em um material cerâmico translucente, mesmo com alto teor de fase cristalina. Apresentam resistência flexural de 160 a 300Mpa, dependendo do formato e do volume dos cristais. As vitrocerâmicas com reforço de leucita trouxeram um ganho na resistência flexural na ordem de 35-55% em relação às porcelanas feldspáticas. O acréscimo de cristais de dissilicato delítio à formulação das cerâmicas feldspáticas, favoreceu as propriedades mecânicas sem comprometer as propriedades estéticas. Um exemplo desse tipo de porcelana é o Sistema IPS Empress II (Ivoclair – Vivadent), que apresenta resistência flexural de aproximadamente 400 Mpa. As cerâmicas de dissilicato de lítio, além de serem indicadas para inlays, onlays, coroas unitárias e facetas laminadas, também passaram a ser indicadas para próteses fixas de três elementos anteriores até segundo pré-molar. As cerâmicas reforçadas por dissilicato de lítio são cerca de quatro vezes mais resistentes do que as feldspáticas. Cerâmicas à base de hidroxiapatita também pertencem à categoria das cerâmicas vítreas. 2.2.1.1 O Sistema EMPRESS: O sistema Empress: IPS Empress I, IPS Empress II e IPS Empress e.Max (Ivoclar-Vivadent) é o produto mais utilizado para comercialização das vitrocerâmicas. O método de processamento do sistema Empress I e II é por meio da técnica da cera perdida com posterior injeção da porcelana sob pressão a alta temperatura (“heat pressing”). Esta técnica utiliza um padrão em cera da infraestrutura da peça protética a ser produzida, a qual é incluída em um molde refratário. Este refratário é inserido no PORTA, SRS. Cerâmica Odontológica 8 interior de um forno convencional para eliminar a cera, pré-aquecido a 700°C, durante 30 min. Dessa forma, cria-se um espaço para seu preenchimento subsequente com a vitrocerâmica. Ainda neste forno, a pastilha de cerâmica, que pode ser reforçada tanto pela leucita quanto pelo dissilicato de lítio, é posicionada na abertura do refratário, juntamente com o cursor de alumina. Este conjunto – refratário, cerâmica, cursor em alumina – é inserido no interior do forno desenvolvido para a técnica, o qual introduz a cerâmica por meio de fluxo viscoso. O sistema IPS Empress I é composto por uma cerâmica de vidro reforçada com leucita e permite a fabricação de facetas, inlays, onlays e coroas cerâmicas sem infraestrutura metálica. O lançamento do EPS Empress II (1998), caracterizado por ser reforçado com dissilicato de lítio, apresentou maior resistência mecânica e tenacidade à fratura que o sistema anterior. Esta característica permitiu sua utilização em próteses fixas anteriores de até 3 elementos, assim como coroas anteriores e posteriores. Em 2007 foi lançado o sistema IPS Empress e.Max. Apresenta características estéticas de cor, translucidez e opacidade, biomimetizando a estrutura dentária e dessa maneira ampliando sua indicação. Composto por quatro materiais altamente estéticos e resistentes para uso em dois tipos de tecnologias atualmente disponíveis: injeção e CAD/CAM. Constitui um sistema versátil que vai das cerâmicas de vidro a base de dissilicato de lítio injetado ou fresado, denominados respectivamente de e.MaxPress e e.MaxCAD, até o óxido de zircônio injetado ou fresado, e.Max ZirPres e o e.Max ZirCAD 2.2.2 Cerâmicas aluminizadas As cerâmicas aluminizadas foram desenvolvidas para proporcionar duas vezes mais resistência à fratura quando comparadas às cerâmicas feldspáticas convencionais. Essa cerâmica contém 50% de óxido de alumina, apresentando melhor resistência à flexão, porém com perda na translucidez (devido à transmissão de luz ser limitada pelos cristais de alumina). No entanto, apresenta uma resistência ainda insuficiente para uso na região posterior e construção de próteses parciais fixas, ficando somente indicada para próteses de três elementos na região anterior e para confecção de núcleos cerâmicos. Peças em porcelana, livres de metal, podem ser fabricadas em uma única camada (coroas monolíticas), como as vitrocerâmicas (por exemplo, cerâmicas à base de dissilicato de lítio ou de leucita) e posteriormente pintadas para permitir as características de cor ou podem ser confeccionadas em camadas compostas pela infraestrutura cerâmica e pela cerâmica de cobertura. Uma das principais características dos sistemas cerâmicos relaciona-se com a translucidez da infraestrutura. Quanto mais translúcido for o sistema, mais apropriada será sua indicação para a solução de casos com extrema exigência estética. Contudo, translucidez e resistência são grandezas inversamente proporcionais. O aumento do conteúdo cristalino na composição das cerâmicas, com diminuição da fase vítrea, aumentou os valores de resistência à fratura, por outro laço, estes sistemas são mais opacos ou menos translúcidos. Um exemplo clássico é o Sistema In Ceram Alumina, que apresenta grau de opacificação por apresentar um coping opaco e cerâmica feldspática para cobertura estética. Este sistema está indicado para utilização tanto nas regiões posterior como anterior, na confecção de coroas unitárias e próteses parciais fixas, e como diferencial importante: na confecção de abutments personalizados para implantes. PORTA, SRS. Cerâmica Odontológica 9 A adição de óxidos teve o intuito de melhorar ainda mais a resistência das cerâmicas, onde a incorporação da zircônia resultou em um aumento significativo da resistência à flexão, conferindo um dos maiores valores de tenacidade entre os materiais cerâmicos, porém conduziu a um sistema altamente opaco, como no sistema InCeram Zircônia que apresenta uma mistura de aproximadamente 69% de óxido de alumina (Al2O3) com 31% de óxido de zircônio (ZrO2). Suas indicações mais precisas limitaram- se, portanto, para regiões posteriores, tanto para coroas unitárias como para próteses fixas de três elementos. Alguns sistemas cerâmicos de Zircônia apresentam altas concentrações de óxido de alumínio, como por exemplo o sistema Procera - Nobel Biocare. Este sistema tem como um dos seus diferenciais o processamento industrial computadorizado, utilizando tecnologia CAD/CAM. Foi desenvolvido para criação de subestruturas de próteses cerâmicas utilizando óxido de alumínio altamente purificado e densamente sinterizado, formado por mais de 99,5% de alumina (Al2O3). Devido à ocorrência de propagação de trincas em cerâmicas aluminizadas, surgiu a zircônia estabilizada por ítrio (Y-TZP) representando uma nova geração de cerâmica dental com maior versatilidade devido as suas propriedades mecânicas, estética, biocompatibilidade, elevada resistência à fratura e baixo módulo de elasticidade. A adição de óxido de ítrio a zircônia tem o intuito de diminuir a propagação de trincas, controlando a expansão de volume, e estabilizar a zircônia na fase tetragonal em altas temperaturas. O aumento de volume cria tensões de compressão na rachadura que visa neutralizar a tensão externa. Este fenômeno é conhecido como transformação e retardo na propagação de trincas e não impede a progressão de uma fratura, apenas torna mais difícil essa propagação. Com o aumento da resistência mecânica, essa cerâmica é mais recomendada para confecção de abutments quando comparada à alumina. Devido a sua alta resistência flexural, o dióxido de zircônia ou zircônia estabilizada por ítrio (Y-TZP) pode ser indicado para confecção de barras de prótese protocolo e infraestrutura de reabilitações protéticas de grande extensão. É importante, no entanto, respeitar-se os requisitos físicos e mecânicos do material, bem como seus princípios técnicos, como por exemplo, planejando conectores com espessura mínima de 4mm. (AMOROSO et al, 2012). A tabela 03 apresenta indicações e propriedades das diferentes cerâmicas disponíveis atualmente (AMOROSO et al., 2012). Tabela 03 – Diferentes sistemas de porcelana odontológica: resistência flexural e indicações clínicas. COMPOSIÇÃO NOME COMERCIAL RESISTÊNCIA FLEXURAL INDICAÇÕES CLÍNICAS Cerâmicavítrea Feldspática VITABLOCS Mark II VITA TriLuxe Bloc VITABLOCS Esthetic Line 110 MPa Coroas anteriores Facetas Inlay, Onlay Leucita IPS Empress Optimal Pressable Ceramic IPS ProCAD 180 MPa Coroas anteriores Facetas Inlay, Onlay Dissilicato de Lítio IPS Empress 2 380 a 400 MPa Coroas anteriores PORTA, SRS. Cerâmica Odontológica 10 IPS e.max Press Coroas posteriores até PM PPF anterior Prótese adesiva anterior Facetas e lentes de contato Inlay, Onlay Alumina In-Ceram Alumina In-Ceram Spinell In-Ceram Zirconia Procera 550 a 650 MPa Coroas anteriores (In- Ceram Spinell) e posteriores PPF anterior Prótese adesiva Zircônia Lava Cercon DC-Zirkon Denzir 900 a 1200 MPa Coroa anterior e posterior PPF anterior e posterior Prótese adesiva Abutment de implante. Exemplos de sistemas cerâmicos aluminizados: • In-Ceram Alumina (Vita): com 97% de agregação de óxidos de alumínio é um sistema cerâmico de alta resistência, mas diminuição significativa da translucidez. Pode ser usado como substituto das subestruturas metálicas em próteses fixas de 3 elementos (até 2º pré-molar). Todos os sistemas In-Ceram são fabricados pela Vita. • In-Ceram AL2000 Cubes: utiliza blocos pré-sinterizados em alumina para construir coroas ou próteses fixas por meio da tecnologia CAD/CAM. • In-Ceram Spinell: além do óxido de alumínio, agrega o óxido de magnésio o que lhe confere o dobro de translucidez que o sistema anterior. Entretanto, apresenta 20% menos resistência, sendo indicado para coroas unitárias anteriores, facetas laminadas, inlays e onlays. • In-Ceram Zircônia: oferece uma mistura de aproximadamente 69% de óxido de alumina com 31% de óxido de zircônio, que resulta em aumento significativo da resistência à flexão (aproxima-se à encontrada em algumas ligas metálicas). No entanto é um sistema sensivelmente opaco. Suas indicações limitam-se, portanto, para regiões posteriores, tanto coroas unitárias como próteses fixas de 3 elementos. • Procera (Nobel Biocare): com alta concentração de óxido de alumínio (99,5%) este sistema utiliza a tecnologia CAD/CAM. 3. Descrição de Técnicas Você pôde perceber, pelo exposto anteriormente, que existem diferentes tipos de porcelana. Isto implica, necessariamente, em diferentes técnicas de trabalho. Nesta PORTA, SRS. Cerâmica Odontológica 11 apostila descrevemos o uso da porcelana feldspática em próteses metalocerâmicas e também o uso da porcelana de ombro. 3.1 Restaurações metalocerâmicas As próteses metalocerâmicas permanecem como os materiais mais amplamente utilizados em próteses parciais fixas, principalmente devido à sua resistência e longevidade, sendo improvável sua total substituição por sistemas totalmente cerâmicos nas situações rotineiras, particularmente nas regiões dos dentes posteriores, ou onde a resistência à fadiga é fator preponderante, como nas próteses fixas extensas. No entanto, é importante lembrarmos que a translucidez das coroas metalocerâmicas é muitas vezes afetada pela infraestrutura metálica, que restringe a passagem de luz através da restauração e pode aumentar a reflexão da luz através da coroa. Essa talvez seja a principal vantagem das restaurações metal free: permitirem uma melhor transmissão da luz através das estruturas dentais. A restauração metalocerâmica é composta por uma infraestrutura metálica revestida por porcelana. A infraestrutura metálica é uma fina camada de metal que pode ser claramente reconhecida como uma coroa fundida da qual foi removida uma parte. Os contornos da área removida são substituídos pela porcelana, que mascara ou esconde o metal, produzindo o contorno e a estética desejados. A estrutura metálica, em uma restauração metalocerâmica, é coberta por três camadas de porcelana: • A porcelana opaca, que oculta o metal, inicia o desenvolvimento de uma tonalidade e tem um papel importante na união entre a cerâmica e o metal. • A porcelana de dentina, que forma a maior parte da massa da restauração, propiciando sua cor. • A porcelana de esmalte, que fornece a translucidez à restauração (Fig 1). Fig.1- Esquema representando as diferentes camadas de porcelana presentes em uma prótese metalocerâmica Para explicar a união entre a cerâmica e a subestrutura de metal temos 4 mecanismos: PORTA, SRS. Cerâmica Odontológica 12 a) O envolvimento mecânico cria uma união que entrelaça a cerâmica com as micro abrasões da superfície da infraestrutura metálica, produzidas pelo acabamento do metal com pedras ou discos. b) As forças compressivas dentro de uma restauração metalocerâmica são desenvolvidas por uma infraestrutura metálica adequadamente desenhada e pelo uso de um metal com coeficiente de expansão térmica (ver texto explicativo a seguir) ligeiramente superior ao da porcelana. Esta ligeira diferença na expansão térmica fará com que a porcelana seja atraída em direção ao metal durante o resfriamento após a cocção. c) As forças de Van der Waals compreendem uma afinidade baseada em uma atração mútua de moléculas carregadas. Elas contribuem para a união, mas são uma força mínima que não é tão significativa quanto já se considerou. Apesar de a atração molecular fazer apenas uma pequena contribuição à força de união total, ela é significativa no desencadeamento do mecanismo mais importante, a união química. d) A união química é resultante da formação de uma camada de óxido metálico e pela força de união aumentada pela cocção em uma atmosfera oxidante. Fatos Importantes sobre CET Se, por exemplo, utilizarmos uma porcelana com um CET (Coeficiente de Expansão Térmica) de 13,8–15,2·10-6·K-1 melhores resultados são alcançados quando o CET da liga metálica (medidas a 25-600°C) situa-se entre 14,0–14,4 ·10-6· K-1. As ligas metálicas que apresentam um CET>14,5 ·10-6· K-1 devem, a partir da primeira queima de dentina, ser submetidas a um programa de queima com resfriamento lento. A cerâmica de recobrimento geralmente sofre um resfriamento rápido a partir de uma temperatura na qual apresenta uma consistência viscosa ou líquida. Nesta condição, formam-se tensões na matriz vítrea durante o resfriamento, pois a camada mais externa da metalocerâmica sofrerá um resfriamento mais rápido do que a da camada interna. Como consequência, a camada mais externa sofrerá a ação de tensões distensivas ou de cisalhamento, e a camada mais interna sofrerá ação de tensões compressivas. Se o CET da liga for muito mais elevado que o da porcelana, um resfriamento lento será necessário para minimizar as tensões geradas no interior da metalocerâmica. Assim, ligas metálicas que apresentam CET elevados, não devem ser submetidas à um processo de resfriamento entre 900 - 700°C em menos do que 3 minutos. Se o CET do material de subestrutura for muito inferior ao CET da cerâmica de recobrimento, as tensões distensivas tangenciais aumentam e levam à formação de trincas internas radiais, que propagam de dentro para fora. Isto poderá resultar no surgimento de trincas tardias. (Fig.2) Fig. 2. Corte esquemático ilustrando a trinca provável ao utilizarmos liga com CET muito inferior da porcelana Porcelana Infraestrutura metálica PORTA, SRS. Cerâmica Odontológica13 Se o CET do material de subestrutura for muito superior ao CET da cerâmica de recobrimento, as forças compressivas aumentam e levam à formação de trincas internas paralelas em relação à subestrutura. Isto poderá resultar em descolamentos da porcelana. (Fig. 3) Fig. 3. Corte esquemático ilustrando a trinca provável ao utilizarmos liga com CET muito mais elevado que da porcelana A relação ideal entre as forças compressivas tangenciais e as tensões distensivas é assegurada, se o CET da cerâmica for combinado de maneira adequada com o CET do material da subestrutura. (Fig.4) Fig. 4. Corte esquemático ilustrando a força compressiva ideal, o que é possível quando o CET da porcelana é apenas um pouco menor que o da liga utilizada na infraestrutura. É desejável que a cerâmica de recobrimento apresente um valor de CET um pouco menor que o material da subestrutura. Devido à união adesiva, a cerâmica acompanha obrigatoriamente o comportamento térmico do material da subestrutura. Desta forma, durante a fase de resfriamento, a cerâmica sofrerá uma leve força compressiva tangencial. Além do valor do CET, a espessura da camada de cerâmica é um dos fatores determinantes durante o recobrimento de uma cerâmica sobre um material de subestrutura. No interior da cerâmica se formam diferenças de tensões (tensão distensiva radial), as quais ficam potencializadas de acordo com o aumento da espessura da camada cerâmica. Padrão de cera da infraestrutura metálica O padrão de cera deverá ser esculpido com o contorno completo da restauração terminada. Só então as áreas a serem revestidas por porcelana serão cortadas. O padrão deverá ter 0,4 a 0,5mm na área a ser revestida por cerâmica considerando que ele será afinado para aproximadamente 0,3mm depois de ter sido fundido. O desenho da infraestrutura metálica tem grande influência no sucesso ou fracasso da restauração. Em estruturas de próteses parciais fixas, a configuração da região interproximal deve ser de uma forma que permita a higienização por parte do paciente. PORTA, SRS. Cerâmica Odontológica 14 Espessura do metal A espessura do metal deve possibilitar que seja aplicado de 1,5 a 2,0 mm de porcelana. A camada de porcelana deve ser uniforme para obtenção de resistência e estética adequada e controle na contração. Espessura superior a 2,0 mm perde a ação de abraçamento ao metal, podendo ocorrer fratura, além de contração excessiva (fig. 05). As deficiências na superfície oclusal do preparo do dente e áreas interproximais causadas por cáries ou restaurações prévias, devem ser delineadas no preparo ou compensadas com uma espessura extra da infraestrutura metálica nestas regiões. Fig. 05 – O desenho da infraestrutura deve permitir a aplicação de uma camada uniforme de porcelana (máximo 2,0 mm) (A). Cantos agudos na infraestrutura e camadas espessas de porcelana resultam em trinca e descolamento (B). A junção externa da porcelana com o metal deve formar um ângulo reto para evitar contração do metal e a fratura subsequente da porcelana. Se a borda do metal na linha da junção entre este e a porcelana for chanfrada ou arredondada, a porcelana terminará em uma borda saliente, através da qual aparecerá o metal oxidado ou o opaco. A transição entre metal e cerâmica de recobrimento nunca deve se situar em regiões de pontos de contato e superfícies funcionais ativas. A longevidade e resistência máximas da restauração são adquiridas por meio da rigidez do metal. O metal não pode se distorcer durante o assentamento ou quando submetido a forças oclusais porque esta flexibilidade provocaria tensão na porcelana e ocasionaria seu cisalhamento. Para se obter a resistência e a rigidez adequada, a infraestrutura deve ter espessura mínima de 0,2mm para ligas de NiCr e 0,3mm para ligas com metal nobre. No entanto, a espessura metálica pode variar, dependendo da configuração do preparo. O importante é deixar um espaço o mais uniforme possível para a aplicação da porcelana: pelo menos 1,0mm nas paredes axiais e 1,5 a 2,0mm na superfície oclusal. Infraestrutura (IE) pronta, o material é encaminhado para o dentista fazer a prova na boca. Esta prova é necessária para verificar a adaptação da peça e o espaço existente para a aplicação da porcelana. Por mais cuidadoso que tenha sido o registro oclusal para a montagem dos modelos de trabalho, nem sempre o espaço disponível nos modelos corresponde exatamente à situação na boca. Este espaço também deve ser avaliado nas bordas cervicais ou incisais. Deve haver, ainda, espaço para a abertura das ameias incisais e espaço interproximal suficiente. Feita a prova, o CD faz um registro intermaxilar com resina do tipo Duralay e molda a peça em posição na boca, para que o TPD faça novo modelo, remonte em ASA e prepare a peça para a aplicação da cerâmica. Ao enviar, para o laboratório, o molde para a remontagem o CD deverá também encaminhar orientações quanto à cor da Porcelana Infraestrutura A B PORTA, SRS. Cerâmica Odontológica 15 porcelana a ser aplicada e às características intrínsecas desejadas (por exemplo: translucidez, alguma mancha...). Preparo da infraestrutura metálica para aplicação da porcelana O tratamento da IE, seja ela metálica ou cerâmica, para a aplicação de cerâmica de cobertura depende do sistema cerâmico utilizado e do tipo de liga empregado. Os passos descritos a seguir são os que adotamos para o tratamento de IE metálicas: I. Para a usinagem utilize pontas de óxido de alumínio ou brocas para metal de corte cruzado (fig. 06). Verifique a uniformidade de espaço para a aplicação da porcelana. Lembre-se que a espessura final mínima é de 0.3mm para ligas nobres e 0.2mm para NiCr. II. Em seguida, é feito jateamento com jato de 50µ de óxido de alumínio para assegurar a perfeita adesão entre a porcelana e metal. Para a manutenção da cor amarelada em ligas áureas pode-se utilizar a esfera de vidro para jateamento. III. Limpeza da infraestrutura com vapor ou ultrassom. Este passo é importante uma vez que qualquer remanescente ou partículas abrasivas embutidas na superfície do metal pode oxidar e liberar gases durante a cocção (queima da porcelana). Os óleos da pele, deixados durante o manuseio da restauração metálica, são outra maneira de contaminação. IV. Oxidação da infraestrutura metálica, segundo as instruções do fabricante da liga utilizada. Este passo aumenta ainda mais a adesão entre a porcelana e metal. Além da formação de uma camada de óxidos, este tratamento térmico da liga permite a liberação do gás hidrogênio, incorporado à liga no momento da fundição. Este gás pode enfraquecer a união porcelana/metal, causando a formação de bolhas na porcelana. V. Aplicação do ‘wash opaque’: importante para uma melhor aderência da liga com a porcelana. Pode-se utilizar o opaco (em pó ou pasta) em uma camada mais fina. Seguir temperatura de queima sugerida pelo fabricante da liga utilizada para infraestrutura. Se após esta etapa a cor apresentada for esverdeada, repetir todos os passos acima. OBSERVAÇÃO: Os passos acima podem variar de acordo com a liga utilizada. Recomenda-se seguir as instruções do fabricante! Fig. 06 – Brocas de tungstênio indicadas para a usinagem de infraestruturas metálicas PORTA, SRS. Cerâmica Odontológica 16 Aplicação do Opaco O opaco tem a função de cobrir a estrutura metálica e esconder o aspecto acinzentadodo metal. Ele é desenvolvido para cada tipo de cor da escala, com o objetivo de se obter o matiz escolhido. O opaco é disponibilizado em pasta ou em pó. Não misture opaco em pó com opaco em pasta! Aplicação do opaco em pasta: Retire a quantidade suficiente de opaco da cor selecionada e coloque na placa de vidro. Na abertura do frasco do opaco em pasta poderá ocorrer o aparecimento de excesso de líquido sobre a pasta. Isso ocorre para evitar o endurecimento do opaco. Assim, incline o pote a fim de se evitar o excesso de líquido na retirada do opaco em pasta. Não se mistura água ao opaco em pasta!!! Caso seja necessário diluí-lo, utilize o líquido apropriado. A diluição em excesso poderá provocar fraturas depois da queima. Segundo o fabricante da porcelana Noritake, para infraestruturas em ligas de metal contendo 75%-80% de paladium, NiCr sem berílio ou CoCr, use a pasta BA para a primeira aplicação, prevenindo o esverdeamento da porcelana. Depois da aplicação da pasta BA, 70% da infraestrutura deverá estar recoberta. Para a aplicação do opaco utiliza-se um pincel apropriado (ponta reta). Antes da queima, certifique-se de que não há resíduos de opaco em pasta no interior da infraestrutura metálica. Se houver, limpar com pincel seco. Após a primeira queima, o opaco deve apresentar um leve brilho na superfície. Aplique a segunda camada recobrindo toda a infraestrutura. Após a segunda queima, a superfície deve apresentar leve brilho como na primeira camada. A camada de opaco deve ser a mais fina possível, mascarando o metal, com aproximadamente 0,3mm de espessura. Caracterizações individualizadas: Modificadores de opaco podem ser aplicados, isoladamente ou misturados com o opaco, na segunda aplicação. Quando aplicados isoladamente, dilua, sem excessos, com o líquido de opaco e aplique em forma de pintura. Aplicação do opaco em pó: Umedeça a superfície da estrutura metálica com pincel úmido. Então, aplique uma fina camada de opaco na superfície com um instrumental ou pincel. A restauração é então submetida à uma leve vibração para condensar a porcelana e o excesso de água é removido com lenço de papel. A queima é realizada na temperatura indicada pelo fabricante. Após a queima da primeira camada em pó, aplique a segunda camada, recobrindo toda a infraestrutura, e queime. A superfície deve ter a aparência semelhante ao brilho de casca de ovo, após a segunda queima. Aplicação da porcelana de dentina e de esmalte Aplica-se a porcelana de dentina sobre a camada de opaco com um pincel ou com uma espátula pequena, começando na margem cervical da restauração metálica. Em alguns casos, pode-se aplicar porcelana específica para cervical, misturando com PORTA, SRS. Cerâmica Odontológica 17 dentina, para obter a cor desejada. Neste caso, consulte a tabela de combinação de cores fornecida pelo fabricante da porcelana. Desenvolva todo o contorno da coroa na porcelana de dentina. Quando a porcelana estiver condensada e seca, recubra o terço oclusal/ incisal e proximal com porcelana de esmalte (fig. 1). Não aplique porcelana incisal no lado palatino. Excessos na espessura da aplicação de porcelana incisal podem levar ao esbranquiçamento. Em seguida aplica-se porcelana transparente cobrindo toda a superfície da coroa. Existem diferentes níveis de porcelana transparente. A aplicação na face proximal é feita com a peça fora do modelo. Remova qualquer porcelana que estiver no interior da peça metálica com um pincel seco. As porcelanas disponíveis no mercado exibem contração linear significativa durante a cocção. Faça com que a coroa fique 1/5 maior do que o tamanho desejado para compensar a contração de 10 a 20% que ocorrerá durante a cocção. Para minimizar a contração, condense bem a porcelana com ajuda de um instrumento e lenços de papel. Os contornos insuficientes poderão ser corrigidos através da adição da porcelana adequada em uma nova cocção. Em caso de pequenos acréscimos de porcelana, diminua 10°C em relação à queima anterior. Após serem obtidos o contorno e a oclusão desejados, a superfície da restauração deverá receber tratamento para melhor lisura, sendo o glaze o tipo mais usado. O glaze é uma porcelana de baixa fusão, pincelada na superfície da restauração e depois queimada a uma temperatura muito inferior à da porcelana de dentina e de esmalte. Se a tonalidade final de uma coroa metalocerâmica ficar mais escura que o desejado, é quase impossível clareá-la através das alterações cromáticas padronizadas sem tornar a aparência opaca. No entanto, se ela ficar mais clara, poderá ser modificada. Temperatura de queima O resultado de queima de uma cerâmica dental depende fortemente das condições de trabalho e dos procedimentos individuais executados pelo ceramista. O tipo de forno e o tamanho da peça protética são fatores importantes para o resultado de queima. As orientações e as tabelas de queima apresentadas pelo fabricante são baseadas nas inúmeras experiências e testes próprios realizados pela empresa. Porém, estes valores somente poderão servir como uma base de orientação para o usuário. Se a superfície, transparência ou grau de brilho não forem de acordo com as expectativas, o procedimento de queima deverá ser ajustado. Decisivo para a queima da cerâmica não é somente a temperatura de queima informada pelo forno, mas sim a aparência e o aspecto da superfície da cerâmica de recobrimento após a queima. O grau de queima correto de uma cerâmica de recobrimento sofre, além da temperatura de queima, outras influências importantes, como por exemplo: – Temperatura e tempo de pré-secagem – Tempo de aquecimento para a temperatura de queima – Tempo de manutenção na temperatura de queima ideal – Vácuo (Potência e tempo) – Posição do suporte de queima no forno cerâmico PORTA, SRS. Cerâmica Odontológica 18 Recomenda-se assim, que a temperatura de queima e o tempo de aquecimento da cerâmica de recobrimento sejam ajustados corretamente para cada forno de queima. A temperatura e o tempo de aquecimento estão corretos para o respectivo forno se o corpo de prova apresentar cor intensa, transparência, brilho e cantos agudos. Uma temperatura final alta demais resulta em um corpo de prova muito brilhante e cantos arredondados. Uma temperatura final baixa demais e um aquecimento muito rápido resulta em um corpo de prova leitoso e opaco. Nos casos em que for necessário o ajuste da temperatura de queima, fazê-lo com pequenos ajustes, de 5 a 10 ºC. A cerâmica de recobrimento deve apresentar um brilho suave na superfície para confirmar a execução de um programa de queima correto. Glazeamento A utilização de uma fina camada de glaze, na fase final da confecção da prótese metalocerâmica objetiva formar uma película vítrea, que contribui para minimizar a formação de trincas na porcelana. Indica-se o uso de um glaze com coeficiente de expansão térmico menor do que a porcelana subjacente para criar nesta uma força residual compressiva, contribuindo para aumentar a resistência da cerâmica. 3.2 Porcelana de Margem (Ombro Cerâmico) A utilização do ombro cerâmico pressupõe a eliminação da margem cervical da infraestrutura metálica e o acabamento, nessa região, sendo feito apenas em porcelana. Com isso há uma melhora substancial na estética, devido a uma maior translucidez e ao fato de não haver uma sombra escura na cervical da peça, resultante da presença do colarinho metálico. Procedimentos laboratoriais Este tipo de trabalho requer que o cirurgião dentista faça um preparo dentário do tipo ombro (90°)ou chanfrado profundo, pelo menos na superfície vestibular. A infraestrutura é esculpida em cera e depois fundida com o término na união interna do ombro, ou seja, não termina no limite do preparo, deixando o espaço correto para o ombro cerâmico (fig. 07). Para alcançar uma integração estética perfeita na região marginal e evitar a formação de sombras, a infraestrutura deve sofrer uma redução para ombro cerâmico inclusive nas regiões interproximais. Deve-se prestar atenção para que o canto metálico gerado pela redução na infraestrutura seja arredondado e afinado. Fig. 07 – Infraestrutura com desenho para ombro cerâmico. PORTA, SRS. Cerâmica Odontológica 19 Após a fundição, o metal deve sofrer o tratamento correto para a aplicação da porcelana, limpeza e oxidação. O opaco convencional pode ser aplicado em duas queimas. O troquel é então preparado com uma solução endurecedora nas margens (selante) para a aplicação da porcelana de ombro. Se o troquel utilizado for de poliuretano ou resina epóxi não necessita de selamento. Em seguida, deve ser aplicada uma fina camada de líquido separador no troquel para isolar a porcelana. A porcelana de ombro é aplicada sobre a margem vestibular com o uso de um pincel de pelo de marta. Retira-se o excesso, faz-se a condensação da porcelana, espera-se a porcelana secar e retira-se a infraestrutura do troquel para sinterização da porcelana de ombro. Após a queima da porcelana de ombro, a porcelana convencional é aplicada para a reconstrução do dente. REFERÊNCIAS AMOROSO, A. P. et al. Cerâmicas odontológicas: propriedades, indicações e considerações clínicas. Rev Odontol Araçatuba, v.33, n.2, p. 19-25, Jul/Dez, 2012. BABU, P. J. et al. Dental Ceramics: Part I – An Overview of Composition, Structure and Properties. Am J Mat Eng Techn, v.3, n.1, p. 13-18, 2015. BOTTINO, M. A. et al. Estética em Reabilitação Oral: Metal Free. São Paulo: Artes Médicas, 2002. 496 p. FELTRIN, P. Características de próteses metalocerâmicas de elementos unitários posteriores. TCC, 2009. FERNANDES NETO, A. J.; SIMAMOTO JÚNIOR, P. C. Cerâmicas Odontológicas. Apostila. 2006. 14p. FONSECA, A.S. Odontologia Estética: A arte da perfeição. São Paulo: Artes Médicas, 2008. 685 p. JUNIOR, N. T. 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Porcelana de Ombro: Procedimentos Laboratoriais – Relato de Caso Clínico. PCL – Rev Bras de Prot Clin e Lab. n.5, p.16-21.
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