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Módulo 3 01M DIREITO CONSTITUCIONAL

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DIREITO CONSTITUCIONAL 
PROF. PAULO ADIB CASSEB 
 
HERMENÊUTICA CONSTITUCIONAL 
 
Compreende, em sentido amplo, a análise da validade, vigência, aplicabilidade, 
interpretação e integração das normas constitucionais. 
 
VALIDADE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS 
 
Norma válida é aquela elaborada de acordo com o processo legislativo prescrito no 
ordenamento, é a chamada validade formal. Além disso, a norma válida possui o conteúdo 
compatível com o ordenamento vigente, é a chamada validade material. Estes conceitos de 
validade formal e validade material servem para as normas jurídicas em geral. 
 
Validade das normas constitucionais originárias (produzidas pelo poder constituinte 
originário): as normas constitucionais originárias são sempre válidas, afinal são produzidas 
por um poder ilimitado, incondicionado. Sendo assim, essas normas originárias que nascem 
com a Constituição serão sempre válidas do ponto de vista formal e do ponto de vista 
material. 
 
Houve discussão sobre a possibilidade ou não de aplicação da tese do alemão Otto 
Bachof, que sustenta a possibilidade do reconhecimento da inconstitucionalidade das 
normas constitucionais originárias, o que ficou conhecido como “Fenômeno da 
Inconstitucionalidade de Normas Constitucionais”. A matéria chegou ao Supremo Tribunal 
Federal e na ADIN nº 815 o STF rejeitou a aplicação desta tese no Brasil. Portanto, se a 
norma é produzida pelo poder constituinte originário, não cabe a um poder constituído 
como o Judiciário invalidá-la. Deste modo, todas as normas constitucionais originárias da 
CF/88 são válidas. Destacou o STF que as cláusulas pétreas do nosso modelo constituem 
apenas uma limitação ao poder de reforma, e não ao poder constituinte originário. Assim 
sendo, o STF desbancou no Brasil a tese de Otto Bachof, para quem seria possível o 
reconhecimento da inconstitucionalidade de norma originária da Constituição que 
contrariasse num primeiro momento um direito suprapositivo como, por exemplo, o direito 
natural ou então que contrariasse o núcleo central da própria Constituição, do próprio 
direito constitucional positivo. As duas hipóteses aventadas por Bachof foram repelidas pelo 
STF. Portanto, no direito brasileiro as normas constitucionais originárias são sempre 
válidas. 
 
Validade das normas constitucionais derivadas (produzidas pelo poder de emenda, 
pelo poder constituinte derivado reformado): para estas normas existe a possibilidade de se 
questionar sua constitucionalidade. Exatamente porque foram produzidas por um poder 
derivado, que é subordinado, limitado, condicionado, estas normas se sujeitam a análise de 
sua constitucionalidade. Portanto, é possível questionar a validade das normas 
constitucionais derivadas. 
 
Deve-se atentar às questões de concurso que apresentam a matéria de forma muito 
genérica. Imagine-se uma questão no seguinte sentido: “no Brasil não se admite a hipótese 
da inconstitucionalidade de normas constitucionais”. Tal afirmação está correta ou errada? 
Colocada assim de modo genérico está errada, porque o que não se admite é a 
 
 
 
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inconstitucionalidade de normas constitucionais originárias, mas admite-se a 
inconstitucionalidade de normas constitucionais derivadas. 
 
VIGÊNCIA DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS 
 
Vigência: é a qualidade da norma que dá a ela compulsoriedade, força executória. 
Neste sentido, as normas da Constituição possuem vigência imediata, salvo disposição em 
contrário. 
 
Portanto, a vigência das normas constitucionais é imediata, tanto das normas 
constitucionais originárias quanto das normas constitucionais derivadas, salvo expressa 
previsão em contrário no corpo da própria norma constitucional. 
 
É importante ter presente a repercussão da vigência da nova Constituição em relação 
ao ordenamento jurídico anterior, tanto em relação ao ordenamento constitucional quanto 
em relação ao ordenamento infraconstitucional. 
 
Consequências da vigência de uma nova Constituição em relação à Constituição 
anterior: no Brasil prevalece o entendimento de que a vigência de uma nova constituição 
provoca a revogação total da Constituição anterior, ou seja, a ab-rogação da Constituição 
anterior, salvo expressa menção em sentido contrário na nova Constituição. 
Foi o que ocorreu, de forma parcial, em relação à CF/88: o art. 34 do ADCT da CF/88 
estatui que as normas da Constituição anterior sobre o sistema tributário permaneceriam 
ainda vigentes por um certo tempo. Portanto, por força de dispositivo da nova Constituição, 
manteve-se por um certo tempo a vigência das normas da Constituição anterior sobre 
sistema tributário. 
 
Há um outro fenômeno que não é reconhecido no Brasil, mas que merece menção pois 
já apareceu em diversas provas, que é a figura da desconstitucionalização. Por este 
fenômeno, as normas das Constituição anterior que não foram reproduzidas pela nova 
Constituição e que não contrariam a nova Constituição permaneceriam vigentes. Haveria, 
então, um aproveitamento de parte da Constituição anterior não conflitante com a nova 
Constituição. Porém, como seria inviável a convivência de duas Constituições, essas normas 
não conflitantes da Constituição anterior continuariam vigentes, mas com natureza de 
legislação infraconstitucional. Aquilo que era norma constitucional perde essa natureza, 
passa a ser legislação comum, daí o nome desconstitucionalização. Este fenômeno é próprio 
de estados que passaram por forte crise política, instabilidade política, o que acaba gerando 
instabilidade constitucional devido à adoção de sucessivas constituições em pouco tempo. 
Assim, para preservar a própria sociedade de um caos institucional, aproveita-se o que a 
Constituição anterior previa e que a nova não reproduziu, desde que não haja colidência. 
Isto foi aplicado, por exemplo, na França, que teve uma sucessão impressionante de 
Constituições desde o final do século XVIII. 
 
Admite-se na doutrina tanto a desconstitucionalização expressa quanto a 
desconstitucionalização tácita. Como no Brasil não se admite a aplicação da 
desconstitucionalização, só é possível ter esse fenômeno se eventualmente uma futura 
Constituição brasileira expressamente fizer previsão da desconstitucionalização da CF/88. 
 
 
 
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Consequências da vigência de uma nova Constituição em relação à legislação 
infraconstitucional anterior: a legislação infraconstitucional anterior que não contrariar a 
nova Constituição permanecerá vigente, será recepcionada. Aplica-se, portanto, o chamado 
“Princípio da Recepção”. Trata-se de ficção jurídica criada para evitar caos jurídico 
instaurado com o advento de uma nova Constituição, afinal, em tese, como a Constituição é 
o fundamento de validade de todo o ordenamento jurídico, o advento de uma nova 
Constituição imporia a reelaboração de toda a legislação inferior, o que geraria, na prática, 
grande confusão; daí a figura da recepção. O que ocorre na realidade é verdadeira novação 
da legislação anterior. A legislação anterior compatível passa por uma novação porque 
adquire um novo fundamento de validade. Tecnicamente a lei é a mesma, mas com novo 
fundamento de validade. 
 
A nova Constituição impõe um juízo de conformidade material entre a legislação 
anterior e a nova Constituição. Isto significa que, para que se identifique a recepção, basta a 
compatibilidade material, de conteúdo, entre a lei anterior e a nova constituição. Não 
importa eventual discrepância formal: para que ocorra recepção é suficiente que o conteúdo 
da lei anterior seja materialmente compatível com a nova constituição. Assim, imagine-se 
que uma nova Constituiçãoexija Lei Complementar para a disciplina de certa matéria, e já 
havia uma lei anterior sobre essa mesma matéria, porém Lei Ordinária. Havendo 
compatibilidade de conteúdo está lei será recepcionada, mesmo diante desta 
incompatibilidade formal. 
 
Isto não pode ser confundido com uma outra situação: imagine-se a hipótese de uma 
lei anterior à nova Constituição e que já era, à luz daquela Constituição anterior 
incompatível, formal e/ou materialmente. Esta lei não será recepcionada pela nova 
Constituição. Em síntese, não haverá recepção de lei que já era inconstitucional do ponto 
de vista material ou formal, diante da Constituição anterior, afinal a nova Constituição não 
recepciona lei que já era inconstitucional à luz da Constituição anterior. 
 
O que ocorre se a lei anterior conflitar com a nova Constituição? Lei anterior que seja 
contrária à nova Constituição não é recepcionada. Para o STF, a não recepção gera a 
revogação da lei anterior. A doutrina discute bastante essa terminologia ainda empregada 
pelo Supremo, pois, técnica e tradicionalmente, o termo revogação é destinado apenas a 
normas de mesmo patamar hierárquico; assim, norma constitucional revoga norma 
constitucional e norma legal revoga norma legal. Porém, o Supremo mantém a terminologia 
e prefere usar a palavra revogação para designar a consequência da lei anterior à 
Constituição que não é recepcionada. Alguns autores, como o português Jorge Miranda, 
sugerem que se diga que houve a caducidade da lei. 
 
Há também a tese de que a lei anterior não recepcionada geraria a figura da 
inconstitucionalidade superveniente, porque a lei era válida à luz da Constituição anterior e 
tornou-se inconstitucional com o advento da nova Constituição. Há segmento doutrinário 
que prefere conceber esse fenômeno, contudo no Brasil não prevalece tal entendimento, 
prevalece que a não recepção da legislação anterior implica revogação. 
 
Isso tem repercussão prática concreta: se a não recepção gera revogação, se não há a 
figura da inconstitucionalidade superveniente, não é possível utilizar ação direta de 
 
 
 
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inconstitucionalidade para questionar leis anteriores à Constituição. Portanto, para 
questionar a não recepção há, no âmbito do controle concentrado, apenas a figura da 
“Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental” (ADPF). Além disso, é possível 
questionar a não recepção de leis por meio do controle difuso, pela via de exceção ou defesa. 
 
APLICABILIDADE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS 
 
Eficácia da norma é a possibilidade que ela tem de produzir efeitos, ao passo que 
aplicabilidade é a sua concretização. 
 
Para a doutrina clássica, as normas constitucionais poderem ser divididas, quanto à 
aplicabilidade: em normas autoexecutáveis (self-executed) e normas não-autoexecutáveis 
(not self-executed). 
 
a) normas autoexecutáveis: seriam as normas completas e, portanto, de aplicabilidade 
imediata. 
 
b) normas não-autoexecutáveis: por dependerem de regulamentação posterior, 
seriam meras recomendações ao legislador, não teriam caráter impositivo, seriam 
praticamente normas “não jurídicas”, recomendações, conselhos que o legislador pode 
seguir se assim desejar. 
 
Para a doutrina contemporânea, por outro lado, não há norma constitucional sem 
eficácia, todas possuem eficácia jurídica, todas possuem caráter coercitivo, e o que varia é o 
grau de aplicabilidade. 
 
Atualmente, a classificação mais utilizada das normas constitucionais quanto à 
aplicabilidade é a seguinte: 
 
1. NORMAS CONSTITUCIONAIS DE EFICÁCIA PLENA: 
 
 São as normas constitucionais completas, claras, que já contém as informações 
essenciais para sua compreensão, portanto, os elementos necessários para sua incidência 
direta e imediata. Por este motivo as normas constitucionais de eficácia plena possuem 
aplicabilidade imediata. 
A CF/88 está repleta destas normas, inclusive, o ideal é que esta seja a regra geral. 
Portanto, no momento em que a Constituição diz que “ninguém será obrigado a fazer ou 
deixar de fazer algo senão em virtude de lei”, a norma é clara, completa e tem aplicabilidade 
imediata. Da mesma forma, quando a constituição diz que “são brasileiros natos aqueles que 
nascerem no território nacional”, a essência da norma pode ser compreendida, logo a norma 
tem aplicabilidade imediata. 
 
2. NORMAS CONSTITUCIONAIS DE EFICÁCIA CONTIDA: 
 
Alguns autores denominam essas normas como “Normas de Integração Restringíveis 
ou Redutíveis” ou ainda “Normas Constitucionais de Eficácia Relativa”. 
 
 
 
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A Norma Constitucional de Eficácia Contida é aquela que também é completa, clara, 
que pode ser compreendida por aquilo que está no próprio texto e, portanto, também 
possui aplicabilidade imediata. Porém, esta norma prevê a possibilidade ou a necessidade da 
prática de um ato posterior, de uma providência posterior pelo poder público, de uma lei 
posterior que reduza o alcance da própria norma constitucional, que restrinja o efeito 
consagrado na própria norma constitucional. 
Assim, ela não se confunde com as normas que dependem de regulamentação para 
serem aplicadas: as normas de eficácia contida, por serem completas, já são aplicadas de 
imediato e o papel da lei ou ato posterior é o de conter, reduzir o alcance da norma. 
O exemplo mais conhecido (e com grande incidência em provas) é o inciso XIII do art. 
5º da CF/88: 
 
XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as 
qualificações profissionais que a lei estabelecer; 
 
A primeira parte do inciso dispõe que “é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício 
ou profissão”, ou seja, norma clara, de aplicabilidade imediata. Porém, o restante do 
dispositivo preceitua o atendimento das qualificações profissionais que a lei estabelecer, o 
que significa que a lei poderá, ao fixar qualificações profissionais, restringir aquela liberdade, 
reduzir o alcance daquela norma constitucional. É exatamente o caso da Lei Federal que 
prevê o Exame de Ordem como requisito para o exercício da profissão de advogado. O STF já 
reconheceu essa norma do inciso XIII como norma de eficácia contida. 
Segundo José Afonso da Silva, também são normas de eficácia contida aquelas que 
preveem algumas providências do Poder Público ou a contenção de direitos em situações de 
calamidade pública, necessidade, utilidade pública, interesse social, necessidade de 
manutenção da ordem, grave comprometimento da ordem, iminente perigo público, dentre 
outras, porque nestes casos o indivíduo normalmente exerce plenamente o direito, porém, 
em razão do surgimento de uma circunstância, haverá um ato estatal que restringirá tal 
direito. 
Como exemplo, o inciso XXV do art. 5º da CF/88, que prevê a figura da requisição 
temporária de bens particulares: 
 
XXV - no caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar de 
propriedade particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver dano; 
 
Referido dispositivo prevê que na hipótese de iminente perigo público poderá ocorrer 
a requisição de bens particulares e apenas se houver dano haverá indenização. Portanto, 
neste caso não se trata de desapropriação, apenas a requisição temporária de um bem 
devido à circunstância de iminente perigo público. 
 
3. NORMAS CONSTITUCIONAIS DE EFICÁCIA LIMITADA: 
 
Também conhecidas como “Normas de Integração Completáveis” ou ainda “Normas 
de Eficácia Relativa Dependentes de Complementação”. 
As normas anteriormente tratadas eram normas de aplicabilidade imediata, por serem 
normas completas. As normas constitucionaisde eficácia limitada são normas incompletas e, 
 
 
 
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portanto, sua aplicabilidade depende de regulamentação posterior. Por isso, são conhecidas 
como normas de aplicabilidade diferida ou mediata. 
Pela leitura da norma constitucional não é possível compreender sua essência e seus 
objetivos e, portanto, não é possível implementá-la de imediato, há a necessidade de 
regulamentação. 
Um dos exemplos mais conhecidos é a norma constitucional que prevê que “lei 
complementar instituirá o imposto sobre grandes fortunas” – é apenas o que diz a 
Constituição, que remeteu à legislação inferior a disciplina, ou seja, pelo que dispõe a 
própria Constituição não é possível aplicar o tributo, há a necessidade da regulamentação. 
O outro exemplo, que foi considerado como tal pelo STF, é a previsão constitucional do 
direito de greve do servidor público. Havia grande divergência na doutrina e na 
jurisprudência sobre a natureza desta norma constitucional, alguns classificando como 
norma de eficácia contida e outros como norma de eficácia limitada. O STF optou por 
considerá-la norma constitucional de eficácia limitada, ou seja, há necessidade de 
regulamentação para permitir sua compreensão e, portanto, sua incidência direta. Por isso, 
o Supremo admitiu mandado de injunção para viabilizar o exercício do direito de greve do 
servidor público, afinal mandado de injunção serve exatamente para viabilizar as normas 
constitucionais ou exercício de direito previstos em normas constitucionais de eficácia 
limitada. 
Alguns autores, como José Afonso da Silva, identificam entre as normas constitucionais 
de eficácia limitada duas modalidades: normas institutivas ou de princípio institutivo e 
normas programáticas ou de princípio programático. 
 
Normas Institutivas: são aquelas que preveem a necessidade ou possibilidade de 
criação, disciplina ou organização de competências de instituições, órgãos em geral e até 
mesmo de entes políticos como municípios, estados-membros, territórios federais. Daí o 
nome “institutivas”, a Constituição prevê, de forma bem genérica, uma determinada 
instituição ou determinado órgão que deverá ser criado por lei ou cujas competências 
deverão ser disciplinadas por lei. Enquanto não houver essa regulamentação a norma 
constitucional não é aplicada. 
É o exemplo do art. 134 da CF/88 que prevê que cada estado criará uma Defensoria 
Pública, trata-se de norma de eficácia limitada institutiva, pois a CF/88 remeteu a 
regulamentação à lei, sem a instituição por parte do estado, não há a implementação da 
norma constitucional. 
É interessante notar que as normas institutivas podem ser impositivas ou facultativas. 
Por vezes, a norma constitucional impõe a criação da instituição, como é o caso do art. 134, 
que trata das Defensorias Públicas, é uma norma institutiva impositiva, não há liberdade 
para a criação ou não, elas devem ser criadas. Na norma institutiva facultativa a Constituição 
faculta a criação de determinada instituição, de determinado ente político como, por 
exemplo, está disposto no art. 18, §§ 2º, 3º e 4º da CF/88, que faculta a criação de territórios 
federais, novos estados-membros e novos municípios. 
 
Normas Programáticas: são aquelas que impõem ao Poder Público a implementação 
de programas sociais e econômicos, como ocorre com o dispositivo constitucional, que 
prevê que cabe ao poder público implementar políticas de contenção do risco de doenças e 
outros agravos. 
 
 
 
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Tem prevalecido o entendimento de que as normas programáticas têm aplicabilidade 
progressiva, uma vez que dependem da disponibilidade orçamentária e financeira do Poder 
Público, não são implementadas de imediato, a aplicabilidade é progressiva. Porém, como 
tem destacado o STF, quanto ao “mínimo existencial” elas devem ser implementadas, 
independentemente de disponibilidade orçamentária e financeira porque estas normas 
também vinculam, também são cogentes. Portanto, quanto ao “mínimo existencial” devem 
ser imediatamente implementadas. 
É importante frisar uma última observação quanto às normas de eficácia limitada. 
Deve-se atentar para as perguntas de prova que se colocam da seguinte maneira: “norma 
constitucional de eficácia limitada é aquela que não possui eficácia, pelo menos antes da 
regulamentação?”. Cuidado! O nome da norma já indica, não são normas constitucionais 
sem eficácia, são normas constitucionais de eficácia, porém limitada. Portanto, um mínimo 
de efeitos todas as normas constitucionais produzem de imediato, inclusive as de eficácia 
limitada como, por exemplo, o fato de provocarem a não recepção da legislação anterior 
com elas incompatível. Isso é um efeito imediato. Mesmo que a norma tenha eficácia 
limitada, dependa de regulamentação para ser aplicada, um efeito imediato ela já produziu, 
qual seja, a não recepção do que havia antes da Constituição e que conflitasse com ela. 
Também condiciona a atuação futura do legislador, de modo que a norma não poderá 
ser aplicada porque não há regulamentação, mas também o legislador não poderá contrariá-
la. É um outro efeito imediato. 
 
4. NORMAS CONSTITUCIONAIS DE EFICÁCIA EXAURIDA: 
 
Também conhecidas como “Normas Constitucionais de Eficácia Esgotada ou Esvaída”, 
são aquelas que já cumpriram todos os seus objetivos, todos os seus propósitos. As 
disposições transitórias têm inúmeros exemplos, tais como o art. 2º, que previu a realização, 
em 1993, de um plebiscito sobre a forma e o sistema de governo. 
 
5. NORMAS CONSTITUCIONAIS DE EFICÁCIA ABSOLUTA: 
 
São as cláusulas pétreas. 
 
INTERPRETAÇÃO DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS 
 
Para a interpretação da Constituição, a doutrina e o próprio STF têm usado também 
métodos clássicos de interpretação das normas em geral, como, por exemplo, o método 
histórico de interpretação, segundo o qual o intérprete deve buscar a vontade do legislador 
(no caso da Constituição, a vontade do Constituinte), ou seja, deve buscar as justificativas 
das propostas, os debates parlamentares (no caso de uma Assembleia Constituinte, os 
debates dos constituintes), das comissões que integram esses órgãos, buscando assim 
identificar a vontade daquele que preparou a norma jurídica. Hoje não é considerado um 
dos métodos mais avançados, mas por vezes ainda é utilizado. 
 
Outro método clássico que também é empregado na interpretação constitucional é o 
método teleológico, segundo o qual o intérprete busca identificar a finalidade da norma. 
 
 
 
 
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Também há o método de interpretação gramatical, literal, que é considerado o ponto 
de partido de todos os outros mecanismos de interpretação constitucional e interpretação 
das normas em geral. Por vezes é o único que pode ser utilizado. Por exemplo: a CF/88 diz 
que são 11 (onze) os ministros do STF. Não há outro método interpretativo que possa ser 
utilizado neste caso, apenas o literal. 
 
É importante lembrar que no plano constitucional há a figura da interpretação 
autêntica, que é aquela realizada por ato de mesma natureza daquele que foi interpretado. 
Por exemplo, a edição de uma lei para interpretar outra lei, a edição de uma emenda para 
interpretar uma norma constitucional, é isso o que a doutrina denomina interpretação 
autêntica. 
 
Outros métodos clássicos de interpretação também são aproveitados para a 
interpretação constitucionais. 
 
Existem também alguns métodos e princípios que são utilizados, alguns 
exclusivamente e outros não exclusivamente, mas principalmente, para a interpretaçãoconstitucional. 
 
1. PRINCÍPIO DA SUPREMACIA CONSTITUCIONAL 
 
A Constituição é primeira norma de toda a cadeia normativa, logo este princípio é 
utilizado exclusivamente para a interpretação constitucional. 
 
2. PRINCÍPIO DA UNIDADE CONSTITUCIONAL 
 
Significa que as normas constitucionais devem ser interpretadas como um sistema, um 
conjunto de normas válidas de mesma estatura hierárquica, um corolário de interpretação 
sistemática. 
 
3. PRINCÍPIO DO EFEITO INTEGRADOR 
 
Sempre que possível, é preciso dar à Constituição uma interpretação que favoreça ou 
promova a integração política e social do Estado e da sociedade, que garanta a unidade 
política do Estado. 
 
4. PRINCÍPIO DA COLOQUIALIDADE 
 
Os termos e as palavras empregadas pela Constituição devem ser interpretados, 
sempre que possível, no sentido não-técnico, ou seja, no sentido coloquial. Isto porque a 
Constituição é um documento essencialmente político, feito indiretamente pelo povo e, 
portanto, deve ser por ele compreendido. Daí a lógica da coloquialidade que rege a redação 
constitucional. 
 
Por exemplo, no momento em que o art. 5º da CF/88 faz referência à liberdade de 
associação – associação aí é considerada em sentido coloquial, não no sentido técnico do 
Direito Civil, que distingue sociedade de associação. 
 
 
 
 
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5. PRINCÍPIO DA CEDÊNCIA RECÍPROCA 
 
Significa que, diante de eventual conflito entre normas constitucionais, é preciso 
buscar uma interpretação conciliatória, que permita a aplicação de todas elas – por isso 
alguns denominam tal princípio como “Princípio do Efeito Harmonizador” – o objetivo deste 
princípio é promover a harmonização, a conciliação das normas constitucionais para que 
todas elas sejam aplicadas. 
 
6. PRINCÍPIO DA MÁXIMA EFETIVIDADE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS 
 
Segundo este princípio, é preciso dar à Constituição uma interpretação que permita 
que suas normas alcancem de forma efetiva seus objetivos. Portanto, entre múltiplas 
interpretações é recomendável que se escolha aquela que aproxime a norma constitucional 
da concretização de seus objetivos. 
 
7. PRINCÍPIO DA MÁXIMA EFETIVIDADE DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS 
 
Em primeiro lugar, sempre que possível é preciso dar às normas constitucionais que 
tratam de direitos fundamentais uma interpretação que favoreça sua aplicabilidade 
imediata. 
Em segundo lugar, diante de eventual conflito entre uma norma que trate de direitos 
fundamentais e outra de tema diverso, é preciso dar primazia à primeira. 
 
8. PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E DA PROPORCIONALIDADE 
 
Há um segmento minoritário da doutrina que identifica esses princípios, porém a 
maioria diferencia um do outro. Razoabilidade é um parâmetro de valoração das normas e 
dos atos do Poder Público para verificar se eles estão imbuídos do ideal de justiça. Pressupõe 
moderação, equilíbrio, ação segundo o senso comum. 
Não há dúvida que isso leva a concepções um tanto quanto subjetivas, não fosse assim 
o nome do princípio não seria razoabilidade. Evidentemente, na tentativa de tornar esse 
princípio menos subjetivo, a doutrina tem enfatizado que a identificação da razoabilidade 
deve tomar como critérios os valores tradicionais de toda organização estatal, como paz, 
justiça, ordem, solidariedade. Por exemplo, diante de duas possibilidades interpretativas, 
seria razoável, diante de uma situação concreta, aquela que favorecesse a solidariedade. 
São, portanto, parâmetros que procuram tornar menos subjetiva a figura da razoabilidade. 
A doutrina consente também que a razoabilidade deve ser limitada pelo próprio 
ordenamento jurídico interno de um país, é o que se chama de razoabilidade interna. E 
também consente que a razoabilidade deve se adequar aos objetivos da própria 
Constituição, é a chamada razoabilidade externa. 
 
O Princípio da Proporcionalidade significa que os atos do Poder Público devem ser 
implementados apenas na exata medida do necessário. Por isso o Princípio da 
Proporcionalidade também é conhecido como Princípio da Proibição do Excesso. 
 
São requisitos do Princípio da Proporcionalidade: a adequação, a necessidade e a 
proporcionalidade em sentido estrito. Adequação significa que é preciso constatar que de 
fato não havia outro meio apto para que o Estado atingisse sua finalidade – aquele meio 
 
 
 
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escolhido é realmente o meio apto para tanto, portanto o meio adequado. A necessidade 
significa que é preciso verificar se não há outro meio menos oneroso para que o Estado 
atinja seus objetivos. Finalmente, a proporcionalidade em sentido estrito significa que é 
necessário promover uma ponderação, verificando se o ônus acarretado pelo ato do Poder 
Público não supera as vantagens decorrentes deste ato o que, portanto, justificaria sua 
prática. 
 
Estas mesmas noções são utilizadas para a interpretação das normas constitucionais. 
Com grande frequência o STF tem utilizado esses princípios como instrumentos de 
ponderação até mesmo entre direitos fundamentais. Com base nesses princípios, o STF 
reconheceu que, excepcionalmente, com base na razoabilidade e na proporcionalidade e 
diante das circunstâncias concretas, seria possível admitir prova obtida de forma ilícita, 
apesar da redação constitucional clara e rigorosa, que veda expressamente a admissão de 
provas obtidas de forma ilícita. 
 
9. MÉTODO EVOLUTIVO DE INTERPRETAÇÃO 
 
Em oposição ao método histórico, pelo método evolutivo cabe ao intérprete buscar a 
interpretação que dá à norma utilidade à luz da realidade presente. Portanto, permite ao 
intérprete que, alterada a realidade social, extraia um novo significado da Constituição por 
meio de uma interpretação que dê mais utilidade diante desta nova realidade social, por isso 
é considerado um dos mecanismos mais avançados de interpretação constitucional e este 
método evolutivo é instrumento importantíssimo para a viabilização da chamada mutação 
constitucional. 
Mutação constitucional designa o fenômeno de alteração da Constituição por 
instrumentos informais, não oficiais de reforma, exatamente como a fixação de uma nova 
interpretação. 
 
Para finalizar a questão da interpretação constitucional, destaca-se uma consideração 
de Peter Häberle, que é frequentemente cobrada em provas, no sentido de que a 
interpretação constitucional moderna não deve ser exclusiva dos juízes: na verdade, deve 
ser atribuída a toda sociedade, a todos os segmentos sociais, a todos os órgãos públicos. É o 
que ele denominou de “Sociedade Aberta dos Intérpretes da Constituição”. 
 
INTEGRAÇÃO DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS 
 
A matéria refere-se às lacunas da Constituição, às omissões da Constituição e aos 
mecanismos que a doutrina admite para a solução dessas lacunas. 
 
PRINCIPAIS MECANISMOS DE INTEGRAÇÃO CONSTITUCIONAL: 
 
1. ANALOGIA CONSTITUCIONAL 
 
É o emprego de norma que disciplina certa situação fática para regular situação 
semelhante. Evidentemente, só se admite a figura da analogia constitucional entre normas 
da própria Constituição. 
 
 
 
 
 
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2. COSTUME CONSTITUCIONAL 
 
Mecanismo pouco utilizado no Brasil, tratam-se de práticas reiteradas que 
reconhecem poderes e faculdades a cidadãos e autoridades. Como todo costume, há divisão 
de seus elementos em objetivos e subjetivos. O elemento objetivo do costume (elemento 
externo) é a própria prática reiterada sem a oposição do Estado e da sociedade. O elemento 
subjetivo ou interno é a convicção social de que determinadocomportamento, determinada 
prática reiterada é necessária e obrigatória. 
 
3. PRINCÍPIOS GERAIS DO CONSTITUCIONALISMO 
 
São princípios que informaram as primeiras Constituições (no sentido contemporâneo 
de Constituição) e que, em razão de sua importância, de seu valor para figura da 
Constituição foram preservados ao longo da evolução do constitucionalismo. São princípios 
como a separação de poderes e o princípio democrático 
 
4. TEORIA DOS PODERES IMPLÍCITOS 
 
Significa que sempre que a Constituição atribui expressamente competências e 
poderes a órgãos e autoridades, implicitamente atribui também todos os instrumentos 
necessários para viabilizar plenamente o exercício desses poderes, dessas competências 
Foi com base nesta teoria que a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal admitiu 
que o Ministério Público tem poder de investigação: se ele é o titular da ação penal, recebeu 
da Constituição os poderes necessários para viabilizar esta atribuição. Foi também com 
fundamento da Teoria dos Poderes Implícitos que no Brasil reconheceu-se a figura da 
reclamação para preservação da autoridade das decisões do STF e de sua competência. 
Antes que houvesse previsão constitucional, antes que houvesse previsão no Regimento do 
Supremo, o Pleno já havia reconhecido essa figura da reclamação com base na Teoria dos 
Poderes Implícitos, pois, se a Constituição reconhece o STF como seu guardião, 
implicitamente deve assegurar também um instrumento necessário para preservar a 
autoridade de suas decisões e sua competência. 
 
Estes são os principais mecanismos de integração constitucional. É importante lembrar 
que o próprio STF reconheceu que algumas lacunas da Constituição são propositais. São 
omissões que não podem ser sanadas, não podem ser supridas. É o que se denomina 
“silêncio eloquente”, lacunas propositais. Exemplo disso, o STF reconheceu como silêncio 
eloquente o que consta do art. 102, I, “a”, da CF/88, que prevê que cabe ao STF apreciar, 
julgar a ação direta de inconstitucionalidade de leis e atos normativos federais ou estaduais 
em face da Constituição Federal. A norma silencia a respeito de leis atos normativos 
municipais, portanto o Supremo entendeu que se trata de um silêncio eloquente, porque a 
Constituição não quis ADIN para questionar lei municipal em face da Constituição Federal. 
 
TIPOS DE INCONSTITUCIONALIDADE 
 
A figura da inconstitucionalidade, especialmente num modelo jurídico como o 
brasileiro, que adota o princípio da rigidez constitucional e em consequência, o da 
supremacia formal da Constituição, pode ser analisada, estudada sob várias perspectivas, de 
modo de pode ser classificada de várias maneiras: 
 
 
 
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1. INCONSTITUCIONALIDADE POR AÇÃO E INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO 
 
Inconstitucionalidade por ação: é aquela que decorre da edição de leis e atos 
normativos contrários à Constituição, daí a literalidade da expressão “inconstitucionalidade 
por ação”, que designa a inconstitucionalidade decorrente da prática de um ato de conteúdo 
normativo, porque a figura da inconstitucionalidade no seu sentido estrito pressupõe um 
conflito normativo – uma norma inferior que contraria a norma suprema. 
 
 Inconstitucionalidade por omissão: designa a falta de regulamentação das normas 
constitucionais de eficácia limitada, ou seja, as normas constitucionais cuja aplicabilidade 
depende de uma regulamentação, de uma providência posterior do poder público. Não 
havendo tal regulamentação, a vontade da Constituição é desrespeitada, afinal aquela 
norma constitucional não pode ser aplicada enquanto não houver a regulamentação. A 
inconstitucionalidade por omissão não decorre de uma ação, e sim da inércia do Poder 
competente para a regulamentação da Constituição. 
A doutrina reconhece a figura da omissão total, omissão pura e da omissão parcial. A 
omissão pura é a própria ausência de regulamentação, ao passo que na omissão parcial a 
regulamentação existe, mas é insuficiente para atingir aos desígnios da Constituição, para 
atingir os objetivos da norma constitucional regulamentada. Um exemplo reconhecido pelo 
Supremo é a regulamentação do inciso IV do art. 7º da CF/88, dispositivo que trata do salário 
mínimo. Trata-se de norma de eficácia limitada porque remete à lei a definição do valor do 
salário mínimo. A regulamentação existe, mas não atinge em sua plenitude aquilo que 
espera o inciso IV do art. 7º, que prevê um salário mínimo que atenda às necessidades do 
trabalhador, de modo que se depara com exemplo de omissão parcial. 
 
2. INCONSTITUCIONALIDADE MATERIAL E INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL 
 
Inconstitucionalidade material: é aquela que está no conteúdo da lei ou do ato 
normativo. Pode ser total ou parcial, dependendo da extensão do vício. 
 
Inconstitucionalidade formal: como o próprio nome indica, não está no conteúdo, é 
encontrada no processo legislativo, no processo de elaboração da lei ou do ato normativo. 
Portanto, a doutrina fala em inconstitucionalidade formal por vício subjetivo e 
inconstitucionalidade formal por vício objetivo. 
 
Por vício subjetivo é a inconstitucionalidade formal verificada na iniciativa legislativa. 
Por exemplo, a CF/88 prevê a iniciativa exclusiva do Presidente da República para certas 
matérias. Se o projeto for apresentado por um parlamentar, haverá inconstitucionalidade 
formal por vício subjetivo. A inconstitucionalidade formal por vício objetivo é aquela 
detectada nas demais etapas do processo legislativo. 
 
Em geral, a inconstitucionalidade formal é total, o que significa que invalida toda a lei. 
No exemplo anterior, o vício de iniciativa (projeto seria de iniciativa exclusiva do Presidente 
da República e é o parlamentar que apresenta), o vício compromete a íntegra do ato, há 
inconstitucionalidade total. Num outro exemplo, se determinado projeto deveria ter sido 
aprovado por maioria absoluta e foi por maioria simples, também há comprometimento da 
íntegra do ato e a inconstitucionalidade é total. 
 
 
 
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Contudo, excepcionalmente, em situações muito específicas, pontuais, admite-se a 
inconstitucionalidade formal parcial. É o caso, por exemplo, de uma Lei Ordinária que 
apenas em alguns de seus dispositivos tenha invadido campo reservado a Lei Complementar. 
Portanto, apenas aqueles dispositivos são inconstitucionais, haverá inconstitucionalidade 
formal parcial. Este exemplo é clássico de inconstitucionalidade formal, pois houve a opção 
por um instrumento legislativo diferente, a Constituição exigia Lei Complementar e foi 
editada Lei Ordinária, portanto há inconstitucionalidade formal. No exemplo, se isso ocorreu 
apenas em alguns dispositivos da lei, haverá, então, inconstitucionalidade formal parcial. 
Há ainda um tipo de inconstitucionalidade formal que merece referência, a 
inconstitucionalidade formal orgânica, que é aquela que se refere às leis que contrariam a 
repartição constitucional de competências. Por exemplo, uma lei municipal que tenha 
invadido competência de estado-membro – o vício é formal, o conteúdo da lei pode não ter 
contrariado a Constituição, o vício está na forma, a Constituição reservou a matéria para lei 
estadual e foi editada lei municipal. A inconstitucionalidade formal orgânica pode ser parcial 
se o vício estiver apenas em alguns dispositivos da lei. 
 
3. INCONSTITUCIONALIDADE DIRETA, INCONSTITUCIONALIDADE POR 
ARRASTAMENTO E INCONSTITUCIONALIDADE REFLEXA 
 
Inconstitucionalidade Direta: é a hipótese de uma lei que contraria frontalmente o 
texto constitucional. 
 
Inconstitucionalidade por arrastamento também é chamada de inconstitucionalidadepor atração, inconstitucionalidade consequente ou inconstitucionalidade por derivação: 
Neste caso, uma lei apresenta, em princípio, uma inconstitucionalidade parcial. Porém, 
como sem essa parte tida por inconstitucional o restante perde o sentido, outros 
dispositivos ou todo o restante daquela mesma lei também será declarado inconstitucional. 
Por isso é chamada inconstitucionalidade por arrastamento, uma inconstitucionalidade 
arrasta a outra. 
Por exemplo, imagine-se uma lei que tenha cinco artigos. Só o art. 1º contraria a 
Constituição, os outros não. Porém, todos os demais artigos fazem referência ao art. 1º, 
então embora os artigos não contrariem diretamente a Constituição, sem o art. 1º eles 
perdem o sentido, portanto, todos serão considerados inconstitucionais, por conta da 
inconstitucionalidade por arrastamento. 
Também é possível a inconstitucionalidade por arrastamento numa outra situação: 
uma lei é inconstitucional e, por consequência, o decreto que a regulamenta também o será, 
porque se uma lei contraria a Constituição frontalmente, o decreto que a regulamentou não 
subsiste sozinho, também será inconstitucional. 
A fórmula que o Supremo utiliza para reconhecer a inconstitucionalidade por 
arrastamento é muito simples: declara a inconstitucionalidade, por exemplo, do art. 1º da 
Lei X e, por arrastamento, dos arts. 2º, 3º, 4º, etc. Ou então, declara a inconstitucionalidade 
da Lei Y e por arrastamento do Decreto Z que a regulamentou. 
 
Inconstitucionalidade reflexa, também chamada inconstitucionalidade oblíqua: não 
deve ser confundida com a hipótese anterior. Neste caso, um ato regulamentar contraria a 
lei por ele regulamentada. Na verdade, é uma situação de ilegalidade, mas toda ilegalidade 
respinga na Constituição, quando há ilegalidade a Constituição é, de modo oblíquo ou 
 
 
 
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reflexo, atingida, viola-se o princípio da legalidade, por isso é denominada 
inconstitucionalidade reflexa ou oblíqua. Mas, como na verdade se trata do fenômeno da 
ilegalidade, o STF não admite ADIN para questionar inconstitucionalidade reflexa. 
 
 
4. INCONSTITUCIONALIDADE PROGRESSIVA 
 
Enquanto as normas da Constituição não forem implementadas, é possível admitir em 
determinadas situações a preservação da disciplina legal anterior sobre a matéria, ainda que 
conflitante com a disciplina constitucional, pelo menos por um certo tempo, até que surja a 
nova disciplina. Por isso, se fala em leis ainda constitucionais ou leis em trânsito para a 
inconstitucionalidade. 
Por exemplo, o STF reconheceu a inconstitucionalidade progressiva do art. 68 do 
Código de Processo Penal, que prevê a competência do Ministério Público para a propositura 
de determinadas ações judiciais em benefício de desfavorecidos economicamente. Ora, pela 
CF/88 essa atribuição nitidamente coube à Defensoria Pública. Porém o Supremo entendeu 
que enquanto não surgirem Defensorias em todos os Estados, persiste essa competência do 
MP. Este é o caso de uma norma em trânsito para a inconstitucionalidade – que estará 
consumada quando surgirem Defensorias nos termos da Constituição. 
 
 
5. INCONSTITUCIONALIDADE SUPERVENIENTE 
 
A inconstitucionalidade superveniente não foi reconhecida no Brasil na hipótese do 
advento de uma nova Constituição. Seria a hipótese de uma lei válida que passaria a ser 
inconstitucional diante do advento de uma nova Constituição. No Brasil isso não foi 
admitido, o Supremo tem entendido que leis anteriores incompatíveis com a nova 
Constituição não são recepcionadas, o que significa que foram revogadas, o STF não admite 
a inconstitucionalidade superveniente. 
 
Mas, e diante de uma emenda à Constituição? Ou seja, não se trata de nova 
Constituição, e sim atuação do poder derivado. Uma lei é válida até que a Constituição é 
reformada por uma emenda e, à luz deste texto remodelado a lei se torna com ela 
incompatível. Haveria, nesta hipótese, inconstitucionalidade superveniente? Embora alguns 
autores defendam que sim, o STF entendeu que também neste caso não há 
inconstitucionalidade superveniente, haverá simplesmente a não recepção provocada pela 
atuação do poder de reforma. 
 
É bom lembrar que alguns autores defendem a figura da inconstitucionalidade 
superveniente como uma consequência de uma mutação constitucional, uma reforma 
“informal” da Constituição. Por exemplo, uma lei válida torna-se inválida porque houve uma 
mutação constitucional, foi dada nova interpretação a um dispositivo constitucional e, com 
essa nova interpretação, aquela lei anteriormente válida tornou-se incompatível. Alguns 
autores sustentam que nesta hipótese poderia ser reconhecida a inconstitucionalidade 
superveniente. 
 
 
 
 
 
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6. INCONSTITUCIONALIDADE PARCIAL SEM REDUÇÃO DE TEXTO 
 
Neste caso, uma lei é considerada, em princípio, válida, mas será inconstitucional se 
for aplicada a determinadas situações; por isso parcial e sem redução de texto, porque 
nenhum trecho desta lei será eliminado ou invalidado, ela apenas não poderá ser aplicada a 
determinadas situações. 
Por exemplo, o STF declarou a inconstitucionalidade parcial sem redução de texto de 
uma norma estadual que concedia isenções fiscais. O STF disse que a norma era válida desde 
que se referisse a ICMS, porque para tanto haveria necessidade de convênio, dentre outros 
requisitos. Portanto, a norma estadual seria inconstitucional naquela situação. É uma norma 
válida, aplicável à sociedade, porém inconstitucional se aplicada a determinadas situações. 
 
7. INTERPRETAÇÃO CONFORME A CONSTITUIÇÃO 
 
Para concluir, é importante observar que antes de invalidar uma lei, o STF deve tentar 
preservá-la. Assim, se o STF perceber que determinada lei comporta múltiplas 
interpretações, visualizando uma interpretação que pode tornar a lei compatível com a 
constituição, sem que sua finalidade seja alterada, o Supremo dirá que esta lei só será válida 
com aquela interpretação definida pela Corte. É o que se denomina “Interpretação 
Conforme a Constituição”. 
É o mecanismo que o STF utilizou para julgar ação que discutia dispositivo do Código 
Civil que fala da união entre homem e mulher. O Supremo reconheceu a possibilidade de 
união homoafetiva entendendo que este dispositivo do Código Civil deve ser interpretado 
em consonância com a Constituição, o dispositivo constitucional que trata da vedação à 
discriminação. Portanto, o Supremo promoveu uma interpretação conforme a Constituição. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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PERGUNTAS: 
 
1) O que é hermenêutica constitucional? 
2) Qual a diferença entre validade formal e material? 
3) Todas as normas constitucionais são sempre válidas? 
4) O que é vigência das normas constitucionais? Quais suas consequências? 
5) O que é desconstitucionalização? É possível no Brasil? 
6) O que é recepção? 
7) Uma lei inconstitucional pode ser recepcionada com a nova constituição? 
8) A lei anterior não recepcionada é revogada ou inconstitucional? Qual a conseqüência 
desta discussão? 
9) O que a aplicabilidade das normas constitucionais? Como se classifica pela doutrina 
clássica? 
10) O que são normas constitucionais de eficácia plena? 
11) O que são normas constitucionais de eficácia contida? Dê exemplos. 
12) O que são normas constitucionais de eficácia limitada? Dê exemplo. 
13) O que são normas institutivas? 
14) O que são normas programáticas? Qual a forma de sua aplicação? 
15) A norma constitucional de eficácia limitadatem eficácia antes de ser regulamentada 
por lei? 
16) O que são normas constitucionais de eficácia exaurida? 
17) O que são normas constitucionais de eficácia absoluta? 
18) Quais os métodos de interpretação das normas constitucionais? 
19) O que é o princípio da supremacia constitucional? 
20) O que é o princípio da unidade constitucional? 
21) O que é o princípio do efeito integrador? 
22) O que é o princípio da coloquialidade? 
23) O que é o princípio da cesdência recíproca? 
24) O que é o princípio da máxima efetividade das normas constitucionais e dos direitos 
fundamentais? 
25) Qual a diferença entre os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade? 
26) O que é o método evolutivo de interpretação? 
27) É possível analogia constitucional? 
28) O que é costume constitucional? 
29) O que são princípios gerais do constitucionalismo? 
30) O que é teoria dos poderes implícitos? Dê exemplo. 
31) O que é silêncio eloquente? 
32) Qual a diferença entre inconstitucionalidade por ação e omissão? 
33) Qual a diferença entre inconstitucionalidade material e formal? 
34) Qual a diferença entre inconstitucionalidade direta por arrastamento e reflexa? 
35) O que é inconstitucionalidade progressiva? 
36) O que é inconstitucionalidade superveniente? É possível no Brasil? 
37) O que é inconstitucionalidade sem redução de texto? 
38) O que é interpretação conforme a constituição?

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