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PALMA FORRAGEIRA NA ALIMENTAÇÃO DE VACAS EM LACTAÇÃO Airon Aparecido Silva de Melo Prof. Adjunto UFRPE/UAG, E-mail: airon@uag.ufrpe.br RESUMO: A palma forrageira das espécies (Opuntia-fícus indica Mill e Nopalea cochenillifera Salm Dyck) foi introduzida no Brasil com o objetivo de hospedar o inseto cochonilha (Dactylopius cocus) para produção de um corante vermelho conhecido pelo nome de Carmim. Não alcançando êxito, passou a ser cultivada como planta ornamental, quando um dia por acaso verificou-se que era forrageira, despertando o interesse dos criadores que passaram a cultivá-la com intensidade. De composição química variável segundo a espécie, idade, época do ano e tratos culturais. É um alimento rico nos nutrientes água, carboidratos, principalmente carboidratos não- fibrosos, e matéria mineral, no entanto, apresenta baixos teores de fibra em detergente neutro comparada com alimentos volumosos, além de apresentar alta digestibilidade da matéria seca. Aspectos estes que deverão ser levados em consideração quando da sua utilização na alimentação dos animais. Pois estes nutrientes poderão interferir no trato digestível, através da taxa de passagem, digestibilidade, fermentação, produtos finais, absorção e consequentemente no desempenho e saúde animal. Quando utilizada como volumoso exclusivo provoca distúrbios metabólicos, tais como, diarréia não patológica, baixa ruminação além de variação negativa do peso vivo dos animais. Quando associada a uma fonte de fibra efetiva, considerando a relação carboidratos fibrosos/carboidratos não-fibrosos, tem-se obtido bons resultados. Portanto, devendo a palma forrageira ser utilizada como um ingrediente da ração animal, a qual deverá ser balanceada junto com outros ingredientes pára atender a necessidade dos animais, sabendo que a mesma não possui fibra efetiva suficiente para manter o ambiente ruminal em estado ótimo. PALAVRAS CHAVES: Palma Forrageira, Vacas em Lactação, Carboidratos ABSTRAT: The species of cactus pear (Opuntia ficus-indica Mill and Nopalea cochenillifera Salm Dyck) was introduced in Brazil in order to host the cochineal insect (Dactylopius Cocus) to produce a red dye known as Carmine. Not successful, he began to be cultivated as an ornamental plant, by chance one day when it was found that was fodder, raising the interest of farmers who began to cultivate it with intensity. Chemical composition varies according to species, age, season and cultural practices. It is a nutrient rich food in the water, carbohydrates, especially carbohydrates, no fiber, and mineral matter, however, has low levels of neutral detergent fiber compared with bulky foods, and have high dry matter digestibility. These issues should be taken into account when its use in animal feed. For these nutrients may interfere tract digestible by the rate of passage, digestibility, fermentation end products, absorption and consequently the performance and animal health. When used as sole causes massive metabolic disorders such as diarrhea, not pathological, low rumination as well as negative changes of body weight of animals. When coupled with an effective fiber source, considering the relationship fibrous carbohydrate / carbohydrate, no fiber, we have obtained good results. Therefore, the cactus should be used as an ingredient in animal feed, which must be balanced with other ingredients to meet the needs of animals, knowing that it does not have enough effective fiber to maintain rumen in perfect conditions. KEYWORDS: Cactus, Lactating Cows, Carbohydrates INTRODUÇÃO A palma forrageira das espécies (Opuntia-fícus indica Mill e Nopalea cochenillifera Salm Dyck) foi introduzida no Brasil com o objetivo de hospedar o inseto cochonilha (Dactylopius cocus) para produção de um corante vermelho conhecido pelo nome de Carmim (PESSOA, 1967). Segundo Santos et al. (1997), o objetivo inicial não alcançou êxito, passando a palma ser cultivada como planta ornamental, quando um dia por acaso verificou-se que era forrageira, despertando o interesse dos criadores que passaram a cultivá-la com intensidade. A partir desta descoberta e seu cultivo intenso iniciou-se as pesquisas com relação à parte agronômica da planta, pois se trata de uma cactácea que se adapta as condições adversas do semi-árido, suportando grande período de estiagem devido às propriedades fisiológicas, caracterizado por um processo fotossintético que resulta em grande economia de água. O semi-árido nordestino tem como traço principal as freqüentes secas, que tanto podem ser caracterizadas pela ausência, escassez, pouca freqüência e limitada quantidade, quanto pela simples má distribuição das chuvas, durante o período do inverno (FERREIRA, 2005). Segundo Viana (1969), o bom desempenho dessa cultura está relacionado com áreas de clima entre 400 e 800 mm anuais de chuva, umidade relativa do ar acima de 40% e temperatura entre 18 e 38º C. Neste contexto, a palma forrageira é uma cultura adaptada às condições edafo- climatica da região e apresenta altas produções de matéria seca por unidade de área (SANTOS et al., 1997), sendo freqüentemente utilizada na alimentação de bovinos leiteiros, notadamente nos período de estiagem prolongadas. De composição química variável segundo a espécie, idade, época do ano e tratos culturais. Caracteriza-se por ser alimento rico em água, carboidratos não-fibrosos, principal fonte de energia ou energia prontamente disponível para fermentação e crescimento microbiana e, matéria mineral, no entanto, apresenta baixos teores de fibra em detergente neutro (FDN) comparada com alimentos volumosos, além de apresentar alta digestibilidade da matéria seca. Segundo FERREIRA 2005, Estes aspectos deverão ser levados em consideração quando da sua utilização na alimentação dos animais, pois estes nutrientes poderão interferir no trato digestível, através da taxa de passagem, digestibilidade, fermentação, produtos finais, absorção e consequentemente no desempenho animal. Estes nutrientes poderão ser utilizados com bastante eficiência na alimentação de vacas em lactação, principalmente na época de escassez de água e ou nas fases de maior produção e exigência de energia destes animais. ESTIMATIVA DA ÁREA DE PALMA FORRAGEIRA NO ESTADO DE PERNAMBUCO Estima-se que a área plantada com palma forrageira no Brasil seja da ordem de 500 mil hectares, esta área esta distribuído em quase todos os estados do Nordeste, com destaque para os estados de Pernambuco com a variedade gigante (Opuntia fícus Indica Mill) e o estado de Alagoas que tem como aptidão o plantio e cultiva da variedade miúda (Nopalea cochenillifera), seguidos pelos estados da Paraíba e Sergipe. Em levantamento feito no estado de Pernambuco por meio do diagnóstico da cadeia produtiva do leite (dados não publicados), constatou-se que a área de palma forrageira por propriedade ou estabelecimento de produção de leite é da ordem de 3,39 ha. O que a principio parece pouca ou irrisória, porém considerando que o estado de Pernambuco tem 53.939 estabelecimentos que trabalha com vacas de leite (IBGE, 2006), o que dará uma área de palma forrageira da ordem de 182.853 ha. Segundo esta estimativa o estado de Pernambuco detém em torno de 36% da área de palma plantada no Brasil. UTILIZAÇÃO DE PALMA FORRAGEIRA NO ESTADO DE PERNAMBUCO No mesmo diagnóstico realizado no ano de 2008 verificou-se que 70% dos produtores de leite do estado de Pernambuco utilizam a palma forrageira como volumoso no período seco do ano e que esta é fornecida junto comconcentrado, uma vez que 95% destes produtores adotam o fornecimento de concentrado aos animais, sendo 61% deles durante o ano todo e 34% utilizam apenas no período da seca. Além do fornecimento de um volumoso junto com a palma, em que 56% dos produtores utilizam a silagem de milho ou sorgo, capim in natura das capineiras e cana de açúcar, como fonte de fibra. Destaque para a capineira que correspondia a 42% do total (Dados não publicados). Composição Química Bromatológica da palma forrageira A composição química bromatológica da palma forrageira é variável de acordo com a espécie, idade dos artículos e época do ano (SANTOS, 1989). Tabela 1 – Composição química bromatológica da palma forrageira, em porcentagem da matéria seca Gênero MS PB FDN FDA CNF MM Autores Opuntia (redonda) 10,4 4,2 - - - - Santana et al (1972) Opuntia (redonda) 10,9 4,2 - - - - Santos (1989) Opuntia (gigante) 9,4 5,6 - - - - Santos (1989) Nopalea (Miúda) 16,5 2,5 - - - - Santos (1989) Opuntia (gigante) 7,6 4,5 27,6 17,9 55,6 10,2 Araújo et al (2002) Nopalea (Miúda) 13,0 3,3 16,6 13,6 71,1 7,0 Araújo et al (2002) Opuntia (gigante) 10,7 5,0 25,3 21,7 53,2 14,2 Melo (2002) A palma forrageira apresenta baixa porcentagem de matéria seca (11,24%), consequentemente alto teores de água. Quando da utilização de rações com grande proporção de palma, estas dietas normalmente, possuem alta umidade, o que pode ser favorável em regiões onde a água é um nutriente escasso em determinadas estações do ano, podendo esta água torna-se quase que suficiente para atender a necessidade dos animais dependendo do nível de produção. LIMA (2002) verificou que vacas mestiças produzindo em torno de 15 kg de leite/dia e alimentadas com dietas contendo aproximadamente 50% de palma gigante, tiveram as exigências de água, praticamente atendidas pela dieta consumida. Um fato importância com relação ao teor de matéria seca é a quantidade apresentada pelas diferentes espécies colhidas na mesma época do ano, pois a palma miúda (Nopalea cochenillifera) apresenta mais de 50% de matéria seca (14,75%) em relação à palma gigante (Opuntia fícus-indica) (9,23%), observação de importância fundamental, quando se fornece alimentos para os animais com base na matéria natural. Podemos citar como exemplo uma medida utilizada com grande freqüente pelos produtores da região Nordeste, o balaio, pois em média um balaio pesa aproximadamente 30 kg de matéria natural, se for de palma gigante estará fornecendo (30* 0,0923) 2,93 kg de matéria seca e se for miúda (30*0,1475) 4,43 kg de matéria seca. Esta diferença muitas vezes leva a conclusão errônea com relação à comparação entre as espécies, uma vez que se considerarmos a quantidade de matéria natural a palma miúda apresenta superioridade em relação a gigante. O teor médio de proteína bruta da palma forrageira (4,22%) pode ser considerado baixo, necessitando ser complementada com outras fontes desse nutriente. Segundo Ferreira (2005) Um erro muito comum cometido por produtores e técnicos, quando da utilização da palma na dieta de vacas de leite, é o fornecimento da mesma com concentrado na base de 1 kg para cada 3 kg de leite produzidos. No inicio desta recomendação os concentrados eram formulados com teor de proteína bruta (PB) de 24%. Se fizermos uma analise desta recomendação vamos encontrar a seguinte situação, tomando como exemplo uma vaca de 450 kg de peso vivo, produzindo 15 kg de leite/dia com teor de gordura de 4% e a mesma estando na décima semana de lactação. Vamos encontrar uma estimativa de consumo de matéria seca de 14 kg por dia, sendo este total subdividido entre a quantidade de concentrado e volumoso. O concentrado com base na produção de leite, 1 kg de concentrado para cada 3 kg de leite (15 / 3) = 5 kg de matéria natural de concentrado por dia, considerando a matéria seca do concentrado de 88% temos: (5 * 0,88) = 4,4 kg matéria seca do concentrado. Se a exigência é de 14 kg de MS menos a quantidade de MS do concentrado (14,0 - 4,4 ) = 9,6 kg de MS volumoso. O volumoso considerado para o calculo final deverá ter um teor de proteína bruta de aproximadamente 8%, o que corresponde a uma silagem de milho de boa qualidade, que fornecerá (9,6 * 0,08) = 0,77 kg de proteína. Sendo a exigência de 1,85 kg de proteína por dia o déficit entre a exigência e o fornecido pelo volumoso será: (1,85 - 0,77) = 1,08 kg de proteína. Portanto, a porcentagem de proteína bruta do concentrado será: a quantidade de matéria seca fornecida pelo concentrado que neste caso corresponde a 100% e o déficit de proteína. 4,4 kg MS ------------100% 1,08 kg PB ----------- X% X = 24,55% de PB Tabela 2 – Exigência e proporção de nutrientes Itens MS (kg) PB (kg) PB (%) Exigência 14,00 1,85 13,21 Concentrado 4,4 1,08 24,59 Volumoso 9,60 0,77 8,00 Portanto, a recomendação de 1 kg de concentrado, com 24% de proteína bruta, para cada três litros de leite produzido, tem sua origem em uma dieta formulada com um volumoso de boa qualidade que tenha 8% de proteína bruta, possivelmente um milho em seu estado vegetativo do grão no ponto de pamonha, que é a recomendação para o processo de ensilagem. À medida que se foi introduzindo a palma forrageira na dieta animal, como um ingrediente da ração e não mais como alimento de sobrevivência em período de longas estiagens, surgiu à necessidade de novas formulações para o concentrado, devido a respostas negativas dos animais com a utilização do fornecimento de 1 kg para 3 kg como era recomendado, ou teriam que aumentar a quantidade de concentrado para atender a exigência de proteína dos animais. Em observações feitas em diversas propriedades localizadas na área que corresponde a “bacia leiteira” do estado de Pernambuco, verifica-se que os produtores de modo geral fornece pouca palma por animal, correspondendo a aproximadamente 40 kg de matéria natural por vaca/dia. Neste caso teríamos: 40 kg de palma com 9,23% de MS (40 *0,0923) = 3,69 kg de MS com 4,22% de PB (3,69 * 0,0422) = 0,16 kg PB. Sendo a diferença do volumoso com 8% de PB (5,91 * 0,08) = 0,45 kg de PB. Sendo a exigência de 1,85 kg de proteína por dia o déficit entre a exigência e o fornecido pelo volumoso será: (1,85 – (0,16 + 0,45) = 1,24 kg de proteína. Portanto, a porcentagem de proteína bruta do concentrado será: a quantidade de matéria seca fornecida pelo concentrado que neste caso corresponde a 100% e o déficit de proteína. 4,4 kg MS ------------100% 1,24 kg PB ----------- X% X = 28,19% de PB. Este percentual de proteína bruta atualmente é encontrado na maioria dos concentrados comercializados no estado de Pernambuco. Outra situação que deverá ser considerada no momento da formulação do concentrado, é a de quando se tem a forragem com um percentual de proteína próximo a 5% ou até mesmo inferior, palma com resto de cultura ou mesmo gramíneas em estagio de vegetação avançado, neste caso o concentrado para ser fornecido nesta proporção de 1:3 deverá ter um percentual de proteína entre 32 a 35%. Os carboidratos nos vegetais são os componentes de maior porcentagem da matéria orgânica, portanto os principais fornecedores de energia para os ruminantes, podendo ser classificados em fibrosos e não fibrosos, sendo os fibrosos representados pela fibra em detergente neutro (FDN) e a fibra em detergente ácido (FDA) e os demais em carboidratos não-fibrosos (CNF). A palma forrageira conforme observado na Tabela 1, apresenta alta teor de CNF e baixa de FDN e FDA quando comparada a alimentos volumosos, podendo ser fatores determinantesna utilização da mesma na dieta animal, pois os primeiros são prontamente disponível para fermentação microbiana e os demais têm importante papel na manutenção das condições normais do rúmen. Além dessas variáveis citadas a palma forrageira apresenta ainda como característica marcante a alta digestibilidade da matéria seca, que segundo Santos et al. (1997) apresenta coeficiente de digestibilidade in vitro da ordem de 74,4; 75,0; e 77,40% para as cultivares redonda, gigante e miúda, respectivamente. O que leva a um alto teor de Nutrientes Digestíveis Totais (NDT), pois esta forma de expressão do valor energético dos alimentos tem como base a digestibilidade aparente dos nutrientes. Na Tabela 3, são apresentados os teores de NDT da palma forrageira estimada através da equação proposta pelo NRC (2001) e experimento de ensaio de digestibilidade. Tabela 3 – Teor de nutrientes digestíveis totais de alguns alimentos Alimento NDT 1 (%MS) NDT (NRC) Autores Palma (Opuntia) - 63,73 Melo (2002) Palma (Opuntia) 64,33 65,91 Mendes neto (2003 Palma (Opuntia) - 61,13 Magalhães (2002) Feno Tifton 59,94 53,11 Mendes neto (2003) Silagem sorgo - 52,07 Melo (2002) Silagem milho 59,56 - Rocha Jr. et al (2003 1 = Estimado a partir do ensaio de digestibilidade Como podemos observar, a palma forrageira apresenta em média 64,66% de NDT, quantidade esta bastante superior à maioria dos alimentos volumosos utilizados na ração animal na região semi-árida. Superior até mesma a silagem de milho, volumoso considerado de alta qualidade utilizado na alimentação de vacas em lactação. Portanto, evidenciando a palma forrageira como alimento energético a ser incorporado na dieta animal. Utilização da Palma Forrageira na alimentação de Vacas leiteiras Após a grande descoberta da palma como alimento forrageiro, passou-se a utilizar a mesma com bastante freqüência, no entanto sem nenhum conhecimento técnico. A Empresa Pernambucana de Pesquisa em Agropecuária (IPA) vem desenvolvendo pesquisas com palma forrageira desde a década de 50. Segundo Santos et al. (1997), durante este período tem sido estudado o comportamento das espécies em diferentes espaçamentos, níveis de adubação, manejo de colheita, valor nutritivo e melhoramento genético. Só a partir do final da década de 60 e inicio da década de 70 inicio-se os trabalhos de pesquisa com palma na alimentação animal. Nesta época, já tinha desenvolvido na cultura popular alguns paradigmas com relação à utilização da palma forrageira, paradigmas estes que persistem até hoje, para as pessoas menos esclarecidas: Animais que consomem palma apresentam fezes liquefeitas; diminui o consumo de alimentos; apresentam queda no teor de gordura do leite; diminui o período de ruminação, apresentam acentuada variação negativa do peso vivo, além de ter de fornecer 1,0 kg de concentrado para cada 3 kg de leite/produzido, sendo este concentrado formulado com 22 a 24% de PB. Com o intuito de verificar estes efeitos descritos pelos criadores foi elaborado um trabalho de pesquisa em que a palma era fornecida para um grupo de animais, como volumoso, junto com um alimento concentrado muito utilizado na época, a torta gorda de algodão, conforme a recomendação de 1 kg de torta para cada 3 kg de leite produzido, um outro grupo de animais recebeu o mesmo tratamento trocando a palma por silagem de milho e um terceiro grupo recebeu 10 kg de silagem de milho, palma e torta de algodão. Os resultados obtidos são apresentados na Tabela 4. Tabela 4 – Desempenho de vacas da raça Holandesa alimentadas com palma forrageira e ou silagem de milho Itens Tratamentos Palma Silagem Palma+silagem Consumo de MS (%PV) 3,12 3,35 3,22 Produção de leite (kg/dia) 10,37 10,63 10,11 Gordura leite (%) 3,20 3,30 3,10 Variação do PV (kg/dia) -0,46 0,44 -0,24 Adaptado de Santana et al. (1972) Conforme observado na Tabela 4, os animais apresentaram produções de leite, consumo de matéria seca, e teor de gordura do leite semelhante. Porém os animais que consumiram palma forrageira como volumoso apresentaram variação negativa do peso vivo bastante acentuado, sendo observados valores inversos para o grupo de animais que receberam silagem de milho. Os autores relataram constantes diarréias não patológicas e ausência de ruminação nos animais que consumiam palma forrageira como volumoso exclusivo. Portanto, confirmando as observações feitas pelos produtores. Santos et al. (1997) revisando trabalhos desenvolvidos com palma forrageira, recomendaram que a mesma devera ser complementada com outros alimentos protéicos e fibrosos. Segundo Hall (1999), desordens são observadas na fermentação ruminal, tais como redução do pH ruminal, redução da ruminação, variação no consumo de alimentos durante o dia, fezes no mesmo grupo de animais variando de normal a diarréica, além do aumento do tamanho das partículas de fibra e muitas vezes grão não digerido, são observados nas fezes de animais alimentados com ração contendo alta concentração de carboidratos digestível e conseqüentemente baixa quantidade de fibra efetiva. Estes efeitos relatados anteriormente parece serem os mesmos observados quando animais em lactação são alimentados com palma forrageira como volumoso exclusivo, uma vez que, a quantidade de CNF dessa dieta encontra-se bem acima dos valores máximos recomendados para estes animais, devido à grande quantidade que a palma apresenta em sua composição. Nível adequado de fibra se faz necessário na ração de ruminantes, principalmente na ração de vacas lactação, exigentes em tal componente para o normal funcionamento do rúmen e de atividades pertinentes e ele, como ruminação, movimentação ruminal, homogeneização do conteúdo ruminal, secreção salivar e manutenção do teor de gordura do leite (MERTENS, 1997). O NRC (2001) recomenda que rações de vacas em lactação devam conter um mínimo de carboidratos fibrosos e que dentro deste mínimo uma porcentagem vem de uma fonte de fibra efetiva, tudo isto relacionado com teores máximos de CNF, conforme mostrado na tabela 5. Tabela 5 – Teores mínimos de FDN da fonte de fibra efetiva, FDN e FDA total da ração, e teores de CNF máximo em porcentagem da matéria seca FDN volumoso (mínimo) FDN ração (mínimo) CNF ração (máximo) FDA ração (mínimo) 19 25 44 17 18 27 42 18 17 29 40 19 16 31 38 20 15 33 36 21 Adaptado do NRC (2001) Portanto, deve-se considerar a recomendação feita por Santos et al. (1997) de que a palma deverá ser fornecida com uma fonte de fibra, uma vez que, estimando a porcentagem de carboidratos, principalmente CNF das rações compostas por palma forrageira como volumoso, no trabalho desenvolvido por Santana et al. (1972), estaria bem acima da recomendação do NRC (2001) conforme apresentada na Tabela acima. Associação da palma Forrageira com volumosos Como mostrado anteriormente à palma forrageira apresenta alta digestibilidade dos seus compostos orgânicos e baixa concentração de fibra quando comparada com alimentos volumosos, fibra necessária para manutenção das condições normais do rúmen, e quando associadas com alimentos concentrados não atende as necessidades mínimas de FDN para vacas de leite. Portanto existe a necessidade da associação da mesma com fontes de fibra, a fim de prevenir desordens metabólicas (FERREIRA, 2005). A associação da palma forrageira (cultivar gigante) com diferentes volumosos (sacharina, silagem de sorgo, bagaço de cana hidrolisado e in natura) em rações para vacas mestiças (Gironlanda) foi estudada por Mattos et al. (2000) conformemostrado na Tabela 6. Tabela 6 – Associação da palma forrageira com diferentes volumosos. Composição e desempenho animal Itens Fontes de fibra Sacharina Silagem de sorgo Bagaço hidrolisado Bagaço in natura Composição Palma 40,40 38,00 45,70 55,40 Concentrado 24,60 23,20 28,10 25,30 Volumoso 35,00 37,80 24,60 17,60 Desempenho CMS (%pv) 2,81 3,09 2,71 2,80 PL (kg/dia) 13,26 13,96 12,40 13,59 Gordura (%) 3,89 4,01 3,87 3,90 Variação peso (kg/dia) -0,10 -0,04 -0,06 -0,06 Adaptado de Mattos et al. (2000); Sacharina: produto obtido da cana de açúcar enriquecida com minerais e nitrogênio não-protéico fermentada por um período de 48 horas e seca ao sol. Observa-se a proporção de palma forrageira variou dependendo da fonte de fibra utilizada, pois dependendo da fonte se obtém maior quantidade de fibra efetiva e consequentemente menor teor de energia. Pode-se verificar que não houve influencia da fonte de fibra, principalmente, no consumo de MS, na produção e composição do leite, porém, observa-se pequena variação negativa do peso vivo, variação bastante inferior quando ncomparada com os resultados obtidos no trabalho desenvolvido por Santana et al. (1972), provavelmente este menor efeito ocorreu devido ao balanço dos carboidratos (FDN:CNF), uma vez que, em ambos os experimentos os animais consumiram nutrientes suficientes para atender as necessidades de mantença e produção observada. Neste mesmo sentido Wanderley et al. (2002) e Andrade et al. (2002) desenvolveram experimento com o intuito de determinar o melhor nível de associação da palma forrageira com a fonte de fibra (silagem de sorgo) na ração de vacas de média produção. Tabela 7. Tabela 7 – Efeito da substituição da silagem de sorgo por palma forrageira em rações para vacas em lactação Itens Proporção de palma na ração (% MS) 0,00 12,00 24,00 36,00 Composição FDN (%) 41,24 36,57 31,90 27,22 CNF(%) 33,06 37,76 43,42 48,49 Desempenho CMS (%PV) 3,59 3,35 3,54 3,18 PLCG (kg/dia 26,59 26,61 28,39 26,30 Gordura (%) 3,81 3,99 4,11 3,91 Digestibilidade DMS 73,15 77,61 79,98 73,01 DFDN 64,56 61,93 62,89 43,85 DCNF 9,06 92,10 93,24 90,51 Adaptado de Wanderley et al. (2002) e Andrade et al (2002) Com a adição da palma forrageira em substituição a silagem de sorgo houve diminuição nos teores de FDN da ração e aumento dos CNF, porém isto não influenciou o consumo de MS e a produção de leite, no entanto, a porcentagem de gordura apresentou efeito quadrático, provavelmente devido ao mesmo efeito apresentado na digestibilidade aparente dos nutrientes, com isto mostrando o efeito positivo dos carboidratos da palma forrageira até determinado limite, a partir do qual, ou seja, acima do nível Maximo recomendado pelo NRC (2001) que é de 44%, observa-se o efeito quadrático das variáveis, evidenciando a necessidade da associação da palma forrageira com uma fonte de fibra efetiva e o balanceamento da relação FDNvolumoso:CNFração. Observação constante deverá ser feita quando se utiliza palma forrageira na dieta de vacas em lactação, uma vez que deverá ser formulada para atender o mínimo de fibra e atento para não ultrapassar o máximo de CNF sugerido pelo NRC 2001. A partir deste e de outros trabalhos de pesquisa e as recomendações do Conselho Norte-americano de nutrição, observa-se a quebra de alguns dos paradigmas, uma vez que animais alimentados com dietas contendo altas concentrações de palma forrageira não apresentaram diarréia, consumo de alimento acima da estimativa para o nível de produção observada, teor de gordura do leite equivalente para as diversas formulações, porém quando a quantidade de CNF excede o máximo recomendado, observa-se diminuição do teor de gordura e digestibilidade aparente dos nutrientes, mostrando que os paradigmas relacionados à palma forrageira, estão ligados ao desbalanço entre os nutrientes. Ponto importante a ser observado é com relação à quantidade de água apresentada pela palma forrageira no momento de confecção das rações, além da diferença entre as espécies, Opuntia e Nopalea, bem como a quantidade de concentrado fornecido aos animais, uma vez que, são pontos de discussão entre os produtores, pois entre os paradigmas quanto à utilização da palma, encontra-se como limitante a quantidade de água, a espécie e a proporção de concentrado e porcentagem de PB do mesmo. Com base nestas observações foi desenvolvido trabalho de pesquisa, visando avaliar o desempenho de vacas mestiças em lactação, alimentadas com rações contendo duas cultivares de palma forrageira (gigante e miúda) com ou sem adição de milho as mesmas. Tabela 8 – Proporção dos ingredientes e composição química das rações com duas cultivares de palma com ou sem adição de milho Ingredientes PGCM PGSM PMCM PMSM Palma (%) 36,00 50,00 36,00 50,00 Capim Elefante (%) 37,00 37,00 37,00 37,00 Concentrado 1 (%) 27,00 - 27,00 - Concentrado 2 (%) - 13,00 - 13,00 Porcentagem dos ingredientes do concentrado Soja (%) 31,00 69,50 31,00 69,50 Milho (%) 56,00 - 56,00 - Minerais (%) 6,00 17,50 6,00 17,50 Uréia (%) 7,00 13,00 7,00 13,00 Composição do concentrado PB (%) 32,50 68,50 32,50 68,50 NDT(%) 73,00 56,30 73,00 56,30 PGCM = palma gigante com milho; PGSM = palma gigante sem milho; PMCM = palma miúda com milho; e PMSM = palma miúda sem milho. Adaptado de Araújo et al (2004). Tabela 9 – Desempenho de vacas mestiças alimentadas com duas cultivares de palma forrageira com e sem milho Itens Palma Milho Gigante Miúda Com milho Sem milho CMS (%PV) 3,00 3,09 3,19 2,90 C. água (l/dia) 6,64 25,50 18,00 14,14 P. leite (kg/dia) 14,84 14,38 15,24 13,99 PLCG (kg/dia) 15,49 15,23 15,89 14,83 Gordura (%) 4,31 4,39 4,29 4,41 Adaptado de Araújo et al (2004) e Lima (2002) Segundo os autores do trabalho não houve diferença entre as cultivares de palma em nenhum dos itens estudados, com exceção o consumo de água. Os mesmos relataram que não foram observadas diarréias, fezes liquefeitas, e que os animais apresentaram variação positiva do peso vivo da ordem de 0,21 e 0,46 kg/dia para as cultivares gigante e miúda, respectivamente. Esta variação positiva poderia mostrar certa vantagem da cultivar miúda em relação a gigante, no entanto, experimentos em que o delineamento experimental é o quadrado latino de curtos períodos de tempo, esta variação não é uma variável confiável. Quanto ao consumo de água verifica-se que os animais beberam mais quando consumiram palma miúda e praticamente tiveram suas exigências atendidas quando receberam palma gigante, sem que esta ingestão de água via alimento interferissem no consumo de matéria seca, pois o mesmo foi superior as estimativas para categoria e produção animal observada. Portanto, a observação de que a quantidade de água presente na palma seria um ponto negativo com relação ao consumo de alimento, parece não ser verdadeira, bem como, a diferença entre as espécies, gigante e miúda, em relação ao consumo, produção e teor de gordura do leite. Outro paradigma que o atual trabalho mostra é com relação à quantidade de concentrado e teor de proteína destes a serem oferecidas a animais em lactação quando alimentadas com palma forrageira. Quando se considera os ingredientes normais utilizados na formulação (fonte de fibra, palma e concentrado composto de milho soja, minerais e uréia, observa-se fornecimento de concentrado na ordem de 1 kg para cada 3,00 kg de leite produzido (palma com milho) e composição do concentrado de 32,50% de PB (Tabela 8), diferente da composição dos concentradoscomerciais que apresentam composição entre 24 a 29% de PB. Para as rações formuladas com palma forrageira como fonte de energia (palma sem milho) observa-se fornecimento de concentrado na ordem de 1 kg para cada 6,0 kg de leite produzido, neste caso exigindo um concentrado com 68,50% de PB. Esta quantidade de proteína alta se deve ao fato da retirada do milho ou fubá de milho da composição do concentrado. Se tomarmos como exemplo um concentrado com 28% de proteína bruta. Composto de fubá de milho, farelo de soja e minerais terá a seguinte porcentagem de cada ingrediente: Normalmente a quantidade de minerais em um concentrado é de 3% do total de matéria seca, então: 100% MS - 3% MM = 97% MS de milho e soja 97% MS ------------- 28% PB 100% MS-------------- X% PB X = 28,87% PB. Balanceando o concentrado pelo método do quadrado de Pearson. Farelo de soja 50% PB (18,87 *100)/40 = 47,18% Fubá de milho 10% PB (21,13 * 100)/40 = 52,82%; Então teremos: 3% sal mineral (97 * 47,18%)/ 100 = 45,76% de farelo de soja (97 * 52,82%)/ 100 = 51,24% de fubá de milho. Considerando o exemplo anterior de uma vaca com produção de 15 kg de leite por dia e consumo de matéria seca de 14 kg, a quantidade de MS de concentrado será (14 * 27% de concentrado (Araújo et al., 2004)/100 = 3,78 kg. A quantidade de milho neste caso será (3,78 * 51,24%) = 1,94 kg MS. Substituindo esta quantidade de matéria seca do fubá de milho pelo equivalente de energia da palma, obtém o seguinte resultado: Energia da palma expressa em Nutrientes Digestíveis Totais (NDT) que é de 64,66% (tabela 3) e a energia do fubá de milho 85,54% (VALADARES FILHO, 2006) o equivalente energético do milho em relação a palma gigante Será: (85,54 /64,66) = 1,32. Ou seja, para cada kg de matéria seca do milho terá de ser substituído por 1,32 kg de MS da palma para que a dieta apresente a mesma quantidade de energia. No exemplo a quantidade de palma fornecida na dieta foi de (14 kg MS exigência * 36% de palma (ARAÚJO et al,. 2004) = 5,04 kg MS que dividido pela MS da palma (9,23% / 100) = 54,60 kg de matéria natural de palma gigante. Acrescentada a 28,87 quantidade de palma que irá substituir a quantidade de milho da dieta (1,94 kg MS do fubá de milho * 1,32 do equivalente milho:palma) = 2,56 kg de MS de palma ou (2,56 / (9,23/100) MS da palma) = 27,74 kg matéria natural da palma gigante. Neste caso, o fornecimento total de palma forrageira por animal será de (54,34 + 27,74) = 82,34 kg MN/dia e o concentrado passará de 4,30 kg de matéria natural para (4,20 – (1,94/0,88) = 2,10 kg por dia, composto de: farelo de soja, sal mineral e uréia com percentual de proteína bruta de 64,03%. Concentrado: 86,59% farelo de soja 6% sal mineral 7,40% uréia, No entanto cada animal irá consumir a mesma quantidade de proteína bruta (4,3 kg MS * 0,325) = 1,23 kg de PB via concentrado e ( 2,1 * 0,6403) = 1,24 kg de proteína bruta. Formas de fornecimento da palma forrageira Muitas vezes os resultados de pesquisas não são reproduzidos em campo, e em alguns casos são questionados por técnicos e produtores. Este é um fato que deverá ser analisado com bastante interesse, pois existem vários fatores que poderão levar a esta conclusão. Um dos fatores que poderá levar a esta diferença de resultados é a forma de fornecimento do alimento aos animais. Para que os animais produzam a quantidade estimada de leite é preciso que os alimentos sejam consumidos em quantidade e proporção conforme a formulação indicada. Segundo Ferreira (2005), na prática, a forma mais comum de fornecimento de palma forrageira para bovinos leiteiros é picada no cocho sem mistura de qualquer outro alimento, enquanto o concentrado é fornecido separadamente na hora das ordenhas. Com o fornecimento dos alimentos em separado, nem sempre é possível a obtenção de estimativa da ingestão real dos mesmos, principalmente quando mais de um alimento volumoso é consumido. Isso decorre pela preferência por determinados alimentos, tornando difícil o calculo do consumo médio individual e a caracterização da dieta consumida pelo animal. O uso de ração completa ou TMR (ração em mistura total) tem se tornado corrente como meio de regular a composição da dieta consumida (VAN SOEST, 1994). Neste sentido, Pessoa (2003) conduziu um experimento para investigar o efeito de diferentes estratégias alimentares sobre o desempenho de vacas da raça Holandesa em lactação. A composição da ração foi de 39% de palma forrageira, 31% de silagem de sorgo, e 30% de concentrado. Os tratamentos experimentais foram dispostos de acordo com a estratégia de fornecimento dos alimentos: Mistura completa (MC); ingredientes separados (IS); Silagem de sorgo + concentrado juntos (S+C/P); palma+concentrado juntos (P+C/S); palma+silagem juntos (P+S/C), conforme resultados de desempenho mostrado na Tabela 10. Tabela 10 – Desempenho de vacas em lactação sob diferentes estratégias de fornecimento dos alimentos Tratamentos Itens RC IS S+C/P P+C/S P+S/C CMS (%PV) 3,40a 3,30a 3,40a 3,30a 3,40a P. leite (kg/d) 22,51a 21,88a 21,31a 21,81a 22,51a PLCG (kg/d) 23,30a 20,94b 20,88b 21,44ab 22,29 ab Gordura (%) 3,72a 3,22b 3,42ab 3,41ab 3,46 ab Adaptado de Pessoa (2003) Apesar das diferentes estratégias de fornecimento de alimentos, o consumo de matéria seca e a produção de leite não foram alterados. No entanto, o teor de gordura do leite e a produção de leite corrigido para 3,5% de gordura foram alterados em função das estratégias de fornecimento das rações. Pode-se observar menor percentual de gordura no leite nos tratamentos em que a silagem foi oferecida separada. Esta ausência de significância no consumo de alimento e produção de leite ocorreu, provavelmente, pelo fato dos ingredientes terem sido fornecidos ao mesmo tempo, bem como, a boa palatabilidade da silagem de sorgo. Diferentemente de outras situações onde a fonte de fibra é de baixa palatabilidade (resto de culturas, palhadas e bagaço de cana) permitindo aos animais que façam seleção dos alimentos. Palma forrageira como concentrado ou volumoso Muitas vezes somos indagados de como classificar a palma forrageira, se como concentrado ou volumoso. Observando a classificação tradicional dos alimentos, tomando como base a quantidade de fibra bruta (FB) e a concentração de energia (NDT), observamos que a palma é um alimento concentrado, pois apresenta menos de 17% de FB (SANTOS et al., 1997) e mais de 60% de NDT (MELO et al., 2003), valores estes utilizados como padrão para classificação dos alimentos em concentrados e volumosos. Por outro lado, por ser a palma utilizada na alimentação animal in natura e ocupar grande volume da ração total ofertada aos animais, apresenta a forma de volumoso. Independente se volumoso ou concentrado, a palma deverá ser fornecida aos animais como um ingrediente da ração, na qual fornece nutriente e que estes nutrientes deverão ser balanceados para atender as exigências dos animais, sem esquecer a necessidade dos microrganismos por nutrientes e principalmente ambiente adequado para sua multiplicação. A quebra dos grandes paradigmas quando da utilização da palma forrageira, nos permite utilizar a mesma como ingrediente base na formulação de ração para vacas de leite, obtendo-se excelentes resultados, como mostrado na Tabela 11. Tabela 11 – Desempenho de vacas da raça Holandesa alimentadas com caroço de algodão como fonte de fibra e proteínaem substituição a silagem e farelo de soja em dietas a base de palma forrageira Itens Níveis de caroço de algodão 0,00 6,25 12,50 18,75 25,00 Composição Palma (%) 29,00 29,00 29,00 29,00 29,00 Silagem (%) 27,30 23,70 19,50 15,90 12,10 Caroço (%) 0,00 6,25 12,50 18,75 25,00 Farelo soja (%) 23,90 20,90 18,70 16,00 13,00 Desempenho CMS (%PV) 3,30 3,28 3,37 3,66 3,59 PL (kg/dia) 29,50 30,24 31,25 32,67 32,27 PLCG(kg/dia) 26,70 28,12 30,22 30,74 31,68 Adaptado de Melo (2004) Pode-se verificar que a palma forrageira quando utilizada como ingrediente da dieta, associada com fontes de fibra efetiva (forragem ou não-forragem) e atendida todas as exigências nutricionais e recomendações quanto ao balanceamento dos carboidratos é possível obter de média a alta produção, sem comprometer a saúde animal. Pois, segundo o autor do trabalho os animais apresentaram fezes consistentes, tempo de mastigação e ruminação compatível com a literatura, e variação positiva do peso vivo de 0,45 kg/dia, média da variação de todo o período experimental. Neste trabalho, o grande objetivo foi aferir a palma como ingrediente básico da ração de vacas em lactação, ao mesmo tempo em que se substituiu 55% da fonte de fibra (silagem de sorgo) e 45% do concentrado (farelo de soja) pelo caroço de algodão. Esta inclusão do caroço de algodão na dieta tem como base a alimentação praticada pelos produtores da região semi-árida na época em que se produzia bastante algodão Nordeste. Todos sabem que o uso de alimentos conservados nesta região é insignificante por todas as condições edafo-climática, como solos rasos e poucos mecanizáveis, com possibilidade de encharcamento nos períodos de grande precipitação e ou longos períodos de estiagem ou de veranicos observado na maioria dos anos, e que para se produzir leite com eficiência durante todo o ano é preciso uma constancia na produção e fornecimento de alimento para os animais. Com o fato de que o caroço de algodão com linter, pelugem que recobre o mesmo, bem como a casca do caroço, funciona como fonte de fibra que permite maior ruminação e menor taxa de passagem do alimento pelo trago digestorio, funcionando como fonte de fibra não forrageira, além de conter boa quantidade de óleo e proteína, permitiu esta substituição, proporcionado bons resultados como os observados na tabela. Como exemplo com estas observações podem concluir que uma vaca que consome 25 kg de matéria natural de uma fonte de fibra e 2 kg de farelo de soja no concentrado com o uso do caroço de algodão possibilita a substituição de 13 a 14 kg da silagem e 0,9 kg do farelo de soja e mesmo assim os animais continuam produzindo a mesma quantidade de leite. Estas observações nos trazem bastante segurança, uma vez que se tendo a matéria prima, caroço de algodão, possibilita a redução da produção e conservação de forragem em ate 50%. Palma forrageira com casca de mandioca Prática corriqueira dos produtores de leite do estado de Pernambuco é o fornecimento de palma forrageira associada a casca de mandioca, resíduo da mandioca no processamento nas casas de farinha, em alguns casos ou na maioria das vezes a compra a casca tornasse bastante onerosa e muitas vezes transportada por longas distancias, desde modo inviabilizando o uso n ração animal. Com base na composição química-bromatológica da casca de mandioca verificasse que a mesma apresenta composição muito próxima a composição da palma forrageira, como exemplo o conteúdo de proteína, fibra e carboidratos não fibrosos. Deste modo, pode-se verificar que a grande diferença entre a palma e a casca de mandioca seria a composição de matéria seca, uma vez que a palma em média apresenta em torno de 10% e a casca tem em média 35% de matéria seca. Com base nestas informações foi idealizado e executado um trabalho em que a palma forrageira, cultivar gigante, foi substituída pela casca de mandioca. Foram utilizados animais mestiços com média de produção no inicio do trabalho de 15 kg de leite por dia, em que as mesmas ficavam em pastejo direto de capim brachiaria, e recebiam no cocho silagem de milho e concentrado a base de farelo de milho, farelo de soja, farelo de trigo e sal mineral numa proporção de 1 kg de concentro para cada 3 litros de leite produzido. Que na época correspondia a aproximadamente 5,5 kg de concentrado por vaca/dia. Tabela 12 – Desempenho de vacas mestiças alimentadas com casca de mandioca em substituição a palma forrageira Itens Níveis de casca de mandioca 0,00 25 50 75 100 Composição da ração Palma (%) 50,00 37,5 25,00 12,5 0,00 Silagem (%) 33,00 33,00 33,00 33,00 33,00 Casca (%) 0,00 12,5 25,00 37,5 50,00 Concentrado (%) 17,00 17,00 17,00 17,00 17,00 Desempenho CMS (%PV) 3,30 3,28 3,37 3,66 3,59 PL (kg/dia) 17,67 17,17 18,3 18,57 17,7 PLCG(kg/dia) 17,39 16,87 18,95 18,44 19,21 Observa-se que não houve diferença na produção de leite para os animais alimentados com dietas contendo palma forrageira ou casca de mandioca, assim como para as combinações de ambos os alimentos. Neste caso ficando a critério da disponibilidade e custo de produção da palma ou da casca de mandioca para utilização na alimentação animal. Tirando a obrigatoriedade da combinação de ambas, e permitindo ao produtor que tem como produzir palma eficientemente no Agreste de solos rasos e de menor precipitação pluviométrica utilizar apenas a palma na dieta a animal, e para o outro lado do Agreste que apresenta solos arenosos e maior precipitação utilizar a casca de mandioca que é produzida e disponibilizada nesta região. Quanto a produção de leite corrigido para gordura observa-se efeito linear crescente com maior produção nos animais que consumiram a dieta com casca de mandioca, sendo este efeito devido ao maior consumo de matéria seca e conseqüente maior consumo de fibra e produção de gordura do leite acima dos 4%. No entanto os animais que consumiram a dieta com palma produziram leite com teor de gordura de 3,95%. Na idealização deste trabalho foi utilizado todo o conhecimento desenvolvido ao longo dos anos na pesquisa e aplicação destas no campo. Uma vez que foi utilizado o mínimo de concentrado sendo o mesmo composto apenas de fonte de proteína verdadeira, farelo de soja, nitrogênio não-protéico, uréia e sal mineral e a substituição da fonte de energia do concentrado, milho, por palma ou casca de mandioca. CONSIDERAÇÕES FINAIS A Empresa Pernambucana de Pesquisa em Agropecuária (IPA) e a Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) vêm realizando pesquisando com palma forrageira desde o final da década de 50. Durante este período o IPA pesquisou inicialmente a parte agronômica, tendo inicio as pesquisas na alimentação animal no final da década de 60, sendo intensificada nos últimos dez anos, através do acordo IPA/UFRPE. 1 – A palma forrageira apresenta composição química bromatológica variável de acordo com a espécie, idade dos artículos e época do ano, principalmente, a quantidade de matéria seca. Apresenta baixa concentração de carboidratos fibrosos e alto teor de carboidratos não-fibrosos e matéria mineral; 2 – É fonte de energia, pois apresenta em sua composição 64,66% de nutrientes digestíveis totais; 3 – Devido à alta porcentagem que a palma forrageira compõe as rações e o baixo teor de proteína bruta que a mesma apresenta, torna-se inviável a utilização de concentrados comerciais de baixo teor de proteína; 4 – A palma quando utilizada como volumoso associada a concentrado, provoca: diarréianão patológica, ausência de ruminação e variação negativa do peso vivo; 5 – Devendo a mesma ser associada a uma fonte de fibra que apresente efetividade, e a qualidade desta fonte ira depender do nível de produção e exigência animal; 6 – A porcentagem de palma na ração ira depender da fonte de fibra utilizada, pois, dietas composta com bagaço de cana, devido à alta concentração de fibra e baixa de energia, a quantidade de palma será maior do que rações compostas com silagens ou gramíneas de boa qualidade; 7 – A porcentagem da fonte de fibra efetiva esta diretamente relacionada com a quantidade de carboidratos fibrosos e não-fibrosos da ração; 8 – A quantidade de concentrado fornecido por litro de leite produzido ira depender do nível de produção do animal, menores produções maior amplitude concentrado/litro de leite; 9 – Rações compostas com palma forrageira, sempre que possível deverão ser fornecidas na forma de mistura completa; 10 – A palma devera ser utilizada na ração animal como um ingrediente que fornece nutrientes de acordo com sua composição e que não apresenta fibra efetiva suficiente para atender as necessidades dos bovinos leiteiros. 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