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COMÊNIO, ROUSSEAU E AS BASES DA EDUCAÇÃO MODERNA Fundamentos da Educação Marcílio Jr. Resumo: Com as mudanças na Europa que marcam o declínio da Idade Média, as concepções acerca de educação – anteriormente sob grande controle de Igreja – passam por algumas reformulações. Rousseau e Comênio serão aqueles que vão dar algumas das bases para as concepções de educação contemporânea. O Contexto: Com a queda do império romano e o advento do cristianismo na Europa, podemos dizer que uma vez que a igreja passou a ser a única instituição que praticava e promovia a atividade intelectual, a prática da educação e do ensino durante alguns séculos ficou a cargo dessa instituição. Esse quadro passa a mudar a partir do sec. XVI com o renascimento. Este movimento que buscou independência das questões científicas com relação à fé cristã, também teve aspectos transformadores na filosofia e nas artes. No que se refere ao campo científico podemos apontar os primeiros avanços no campo da técnica. A mecanização da economia passou a ser uma das novidades mais significativas do período. A experiência com as inovações levou alguns filósofos a refletirem acerca de quais mudanças eram possíveis a partir dessas novas técnicas que surgiam. Entre eles podemos destacar o papel de Johannes Amós Comênio. COMÊNIO Johannes Amós Comênio pode ser visto como um dos primeiros grandes nomes entre os pensadores da educação após a um grande período de influencia da igreja católica no campo da educação e da intelectualidade. Não significa que a herança do pensamento religioso tenha sido completamente apagada de seus trabalhos. Comênio defende que a finalidade última da educação é conduzir os homens para a felicidade eterna com Deus. Vejamos abaixo, alguns aspectos essenciais da educação segundo Comênio: Desenvolvimento Natural: Comênio acreditava que era preciso considerar o desenvolvimento natural do ser humano no processo de educação. A didática necessária responde precisamente a idade e nas capacidades presentes no indivíduo. Uma criança não seria capaz de aprender segundo uma formação intelectualizada. Era preciso considerar que Foco nas Experiências Sensoriais na infância: As conseqüências desse foco no desenvolvimento natural levam Comênio a afirmar que a educação para as crianças deve ser a partir das coisas. “As crianças devem aprender com coisas para em seguida aprender com palavras” afirma ele. Escreveu muitos livros didáticos com foco em imagens como meios de ensinar as crianças. Mecanização: Comênio usa correntemente a metáfora da mecanização. Metáfora, por que em se tratando de educação, não se pode considerar seres humanos como bens produzidos por máquinas. Em todo caso, ele descreve sua concepção de educação ligada as necessidades da produção em massa. Em seu tempo viam-se as maravilhas do desenvolvimento das novas máquinas que alimentavam a atividade industrial. Comênio acreditava que da mesma forma como as novas máquinas tipográficas eram capazes de produzir documentos escritos em larga escala, também a educação deveria possuir um método de educar em massa a fim de alcançar a universalização da educação: esse método seria útil para educar pessoas em massa. Para além da mecanização da educação: A compreensão de Comênio sobre a educação não se resume a esses aspectos de metáforas da mecanização. A comunicação era um dos seus problemas de destaque. Diz ele: “Inventar uma pedagogia da comunicação, atraente, sem fraqueza, aberta a todos, aplicável ao mais vasto campo – tanto espiritual como profissional – uma metodologia sem autoritarismo, doce clara eficaz, que renda os valores morais os cuidados que merecem. (...)Trata-se de colocar de colocar a disposição de todos uma ética intelectual fundada sobre a comunicabilidade dos seres, uma verdadeira antropologia, cujos alicerces repousam sobre a transmissão e cujos aspectos se inscrevem em termos tanto políticos como econômicos”. Vemos que mecanização, e comunicação acessível são alguns dos aspectos pelos quais Comênio acredita que podemos produzir uma educação capaz de ser universal. Vale observar que esse universalismo difere daquele que encontramos na educação romana, chamada de humanitas, por Cícero. O universalismo da educação de Comênio não apenas se volta para as capacidades humanas, como também possui uma natureza quantitativamente relevante; a educação deve formar um numero cada vez maior de pessoas até ser acessível a todos os cidadãos. ROUSSEAU Jean Jacques Rousseau foi um dos mais importantes pensadores do sec. XVIII. Apesar de ter seu nome fortemente ligado ao iluminismo, que acima de tudo defendia a racionalidade como a faculdade humana capaz de emancipar o homem da ignorância e de fazê-lo senhor de si mesmo e do mundo, tem sua contribuição no campo da educação por pensar um projeto de educação sob a perspectiva romântica. O romantismo, como uma corrente do pensamento filosófico e das artes surge no final do sec. XVIII e compreende o homem na busca pela liberdade. Em oposição ao racionalismo, afirma que é a intuição, a criatividade, as emoções, a fantasia, que devem ser libertadas, e que realizam o ser humano. Essa perspectiva também possui fortes raízes no naturalismo. Espontaneidade: Nessa perspectiva romântica, Rousseau constrói a sua visão do ser humano na qual este seria naturalmente bom em sua essência. A sociedade é que o corrompe. Dessa forma as instituições sociais seriam perigosas para o homem na medida em que estes podem afastar o ser humano de suas capacidades e inclinações naturais para a bondade. Rousseau acusa a civilização de ter afastado o homem de sua própria natureza. A espontaneidade nesse sentido, consiste em reconhecer que é preciso que o modelo de educação ideal seja projetado para preservar aquilo que há de melhor no ser humano e que é perdido quando a sociedade o corrompe. Seus bons sentimentos, suas intuições e sua criatividade. Natureza e sentimentos como os maiores mestres do homem: Sendo a natureza do homem essencialmente boa, Rousseau afirma que os maiores mestres do ser humano são a sua própria natureza, sua intuição e seus sentimentos. Ao escutá-los o ser humano caminharia sem erros para a bondade. Educação e processo natural: Sendo essas mesmas instituições sociais perigosas para a natureza humana, o cuidado da escola e dos agentes de educação deve ser todo direcionado para preservar a natureza e os sentimentos do homem a fim de que este se desenvolva em liberdade e de que seu estado natural não seja corrompido. Entre as muitas contribuições de Rousseau, podemos dizer que de destacam o fato de ele ter percebido que a educação é um processo vital que dura toda a vida. a criança como agente do processo educativo; como sendo capaz de construir ativamente seu aprendizado espontaneamente; de vê-lo não como um simples receptor de conhecimentos. Essa perspectiva exerceu bastante influencia no pensamento de John Dewey e sua concepção de escola nova.
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