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Programa de resPonsabilidade ambiental e social (Pras) Ficha bibliográFica Ferrari, Maria Vitória Duarte Blumenschein, Raquel Naves Zanoni, Vanda Sposto, Rosa Maria Guia de Compra Responsável na construção: Gestão Estratégica e Mecanismos operacionais. Maria Vitória Duarte Ferrari, Raquel Naves Blumenschein, Vanda Zanoni, Rosa Maria Sposto. 90p. Ilust. 1 Responsabilidade ambiental e Social, 2 Responsabilidade social corporativa, 3 Rastreabilidade, 4 Riscos, 5 Cadeia Produtiva da Indústria da Construção.Título. revisão Rodrigues, Sarah Victoria Almeida Tomé, Filipe Ferrari diagramação, Programação visual e ilustrações Gadioli Cipolla Branding e Comunicação guia de comPras resPonsáveis na construção Brasília, DF outubro de 2014 Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) Serviço Nacional da Indústria (Senai) Universidade de Brasília (UnB) Laboratório do Ambiente Construído, Inclusão e Sustentabilidade (Lacis) Programa de resPonsabilidade ambiental e social (Pras) 98 1 SIGLAS E ABREVIAÇÕES siglas e abreviações ABCP Associação Brasileira de Cimento Portland ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas CBIC Câmara Brasileira da Indústria da Construção CCB Centro Cerâmico do Brasil CDS Centro de Desenvolvimento Sustentável CERFLOR Programa Brasileiro de Certificação Florestal CIPA Comisão Interna de Prevenção de Acidentes CITES Convention on International Trade in Endangered Species CNI Conselho Nacional da Indústria CPIC Cadeia Produtiva da Indústria da Construção FAU Faculdade de Arquitetura e Urbanismo FIBRA-DF Federação das Indústrias de Brasília FSC Forest Stewardship Council GRI Global Reporting Initiative IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IC Indústria da Construção ICQ Instituto de Certificação de Qualidade ILO International Labour Organization INMETRO Instituto Nacional de Metrologia ISO Internacional Standardization for Organization LACIS Laboratório do Ambiente Construído Inclusão e Sustentabilidade MME Ministério de Minas e Energia NBR Norma Brasileira NR Normas Regulamentatoras do Trabalho OAC Organismos de Avaliação da Conformidade OEDC Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico OCOs Organismos de Certificação de Obras OHSAS Occupacional Health and Safety Assessment ONU Organização das Nações Unidas PBQP-H Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade no Habitat PCMAT Programa de Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção Civil PIT Programa de Inovação Tecnológica PRAS Programa de Responsabilidade Ambiental e Social da Construção PROCOMPI Programa de Apoio à Competitividade das Micro e Pequenas Indústrias PSQ Programa Setorial da Qualidade RAS Responsabilidade Ambiental e Social SAI Social Accountability International SBAC Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade SEBRAE Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas SECIS/MCT Secretaria de Ciência e Tecnologia para Inclusão Social – Ministério de Ciência e Tecnologia SiAC Sistema de Avaliação da Conformidade de Empresas de Serviços e Obras SIG Sistemas de Gestão Integrados SIAC Sistema de Avaliação da Conformidade de Empresas de Serviços e Obras da Construção Civil SIMAC Sistema de Qualificação de Materiais, Componentes e Sistemas Construtivos SINDUSCON-DF Sindicato da Indústria da Construção do Distrito Federal Sinmetro Sistema Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial SST Saúde e Segurança do Trabalho UnB Universidade de Brasília 11 SIGLAS E ABREVIAÇÕES 1 10 2 ApRESEntAÇão 1312 Este guia oferece diretrizes para que profissio- nais da indústria da construção possam efeti- var aquisição de produtos e serviços de forma ambiental e socialmente responsável, levan- tando questões sobre transparência de origem de materiais e serviços, apoiando a decisão informada do que é aceitável ou não comprar. O Guia contém conceitos, valores e informa- ções que podem ser utilizadas por profissionais responsáveis pelos projetos arquitetônicos, de estrutura e de instalações, considerando a ori- gem dos materiais para além de suas caracte- rísticas intrínsecas. As informações podem ser utilizadas também na formação e treinamento de profissionais da construção nas áreas admi- nistrativa, de engenharia e de arquitetura, que trabalharão em processos de projetos, execu- ção e gestão de obras. O Guia de compra responsável é resultado do Programa de Responsabilidade Ambiental e Social para Construtoras (PRAS), uma parceria da Universidade de Brasília, por meio do La- boratório do Ambiente Construído Inclusão e Sustentabilidade (Lacis), com o Sindicato da Indústria da Construção do Distrito Federal (Sinduscon-DF) e a Federação das Indústrias do Distrito Federal (Fibra-DF), com apoio fi- nanceiro do Serviço de Apoio às Micro e Pe- quenas Empresas (Sebrae) e Programa de Apoio à Competitividade das Micro e Peque- nas Indústrias e Conselho Nacional da Indús- tria (Procompi/CNI). Duas versões anteriores desse Guia foram produzidas no período de 2007 a 2009. A versão 1.0 foi avaliada por especialistas do setor público, academia, terceiro setor e se- ApRESEntAÇão 2 1514 aPresentação tor produtivo e a versão 2.0 foi avaliada e validada por vinte e duas construtoras do Distrito Federal que participaram do primei- ro piloto do PRAS. O Guia de compra responsável foi aperfei- çoado e atualizado, considerando, principal- mente, as demandas nacionais e mundiais de responsabilidade ambiental e social, e o au- mento da importância da demonstração de responsabilidade e transparência na publi- cação de relatórios corporativos de sustenta- bilidade e passou a integrar uma das metas do Projeto 08 Conhecimento para Inovação do Programa de Inovação Tecnológica (PIT) da CBIC. O Projeto 08 do PIT é coordenado pela Universidade de Brasília, por meio do Laboratório do Ambiente Construído Inclu- são e Sustentabilidade (Lacis) e que constitui um dos nove sub programas que integram o PIT, uma iniciativa da CBIC. Aqui são encontradas informações para de- senvolver uma gestão estratégica de com- pras, além de mecanismos operacionais de rastreabilidade para informar às pessoas res- ponsáveis pela aquisição de materiais, com- ponentes e elementos, e pela contratação de serviços no processo construtivo. Dessa for- ma, é possível aumentar a transparência da cadeia de suprimentos e analisar os riscos en- volvidos na contratação de fornecedores que se encontram fora dos requerimentos legais do Estado, e morais do consumidor moderno. As informações contidas no Guia apoiam a criação de uma política de compras respon- sável, incluindo a seleção de fornecedores, e pode ser utilizada como uma ferramenta de gestão para avaliar a sustentabilidade do relacionamento com fornecedores. Assim, pode ser utilizado pelos próprios fornece- dores, promovendo sua competitividade em um mercado cada vez mais exigente. Qualquer empresa que adquira materiais de construção e contrate serviços relacionados pode utilizar este Guia como diretriz de res- ponsabilidade ambiental e social para seu procedimento de compras. O Guia está estruturado em duas partes: a primeira, teórica, para gestão estratégica e a segunda, operacional, com critérios para verificação em processos de compras, além de uma estrutura para criação de banco de dados informatizado. Os requisitos do Guia podem ser utilizados como referência para uma auto avaliação, por meio de auditorias internas, ou para emissões de declarações de desempenho por audito- rias externas. A leitura dos princípios para gestão estraté- gica e a aplicaçãodos requisitos contribuem para o desenvolvimento de uma cultura proativa de aquisição social e ambiental- mente responsável de materiais e contrata- ção de serviços na indústria da construção, e ainda fornece elementos para elaboração de um plano de ação para verificar resultados e aprender com a experiência. A aplicação dos requisitos de compra respon- sável pode ser utilizada como mecanismo de comunicação e marketing para informar aos acionistas e clientes, bem como a sociedade em geral, que o produto da construção inclui a responsabilidade ambiental e social na ca- deia de suprimentos. 1716 aPresentaçãoGuIA dE CompRAS RESponSáVEIS nA ConStRuÇão 3 AntES dE LER 1918 Se na aquisição de materiais ou contratação de serviços de construção há informações suficientes que permitam rastrear a origem primária dos materiais, identificar os impac- tos ambientais e sociais e a empresa tem a garantia que não há riscos de ter seu nome, imagem e marca vinculados a eventuais vio- lações de direitos humanos, ou se essas in- formações não são relevantes, a leitura desse Guia é dispensável. No entanto, antes de sua tomada de deci- são, gostaríamos de propor uma reflexão. O conhecimento da procedência de produtos e serviços na indústria da construção deve estar associado à qualidade e competência de uma boa escolha para que a fabricação do produto atinja bons resultados, alcancem a excelência e atendam à demanda do mer- cado. Tomemos como exemplo a cadeia pro- dutiva dos bons vinhos. Os apreciadores e estudiosos da produção de vinho estão preocupados com o sua origem e garantem a boa procedência e rastreabi- lidade a todo processo, desde a escolha dos insumos básicos, os tratos culturais e a colhei- ta, o clima, o solo, a genética e fisiologia da planta, bem como o tempo e as condições de fermentação e envelhecimento da bebida. Todas as cadeias produtivas devem funcio- nar da mesma forma em relação à garantia da transparência da origem de seus servi- ços e produtos, se considerar sua contribui- ção verdadeira para a sustentabilidade da vida no Planeta. Se tomarmos a definição do Instituto Ethos (2004) de responsabilidade social empresa- rial, perceberemos que, assim como esco- lhemos um bom vinho considerando sua procedência, devemos proceder quanto a todos os produtos que consumimos: “a forma de gestão que se define pela relação ética e transparente da empresa com todos os públicos com os quais ela se relaciona e pelo estabelecimento de metas empresariais compatíveis com o desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para gerações futuras, respeitando a diversidade e a redução das desigualdades sociais”. Esperando que você tenha tomado a de- cisão de se posicionar como a geração de profissionais que estão dispostos a mudar o paradigma do sistema tradicional de com- pras, incluindo a responsabilidade ambien- tal e social como fator de decisão, está dis- posto a influenciar a responsabilidade de toda a cadeia de fornecedores e contribuir para colocar no mercado produtos que pos- sam ter transparência quanto à sua origem, contribuindo, de fato para a sustentabilida- de, desejamos uma boa leitura! AntES dE LER 3 2120 antes de ler 4 SumáRIo E LIStAS 2322 1.1 - Compra responsável: requisitos ---------------------------------------------------------------------------- 1.2 - Objetivo e escopo ----------------------------------------------------------------------------------------------------- 2 - Requisitos --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 2.1 - Compromisso com a compra responsável ---------------------------------------------------------- 2.2 - Gestão de fornecedores ------------------------------------------------------------------------------------------ 2.3 - Gestão de fornecedores: detalhamentos de requisitos ----------------------------------- 2.3.1 - Seleção de fornecedores: Requisitos de seleção ---------------------------------- 2.4 - Requisitos de qualidade ------------------------------------------------------------------------------------------ Termos e definiçoes ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Siglas e abreviações ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Apresentação ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Antes de ler ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Sumário e listas --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Parte 1 - Princípios, valores e diretrizes para gestão estratégica ------------------------------------------ 1 - Introdução ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 2 - Programa de Compra Responsável ----------------------------------------------------------------------------------- 2.1 - Premissa ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 2.2 - Política de Compra Responsável --------------------------------------------------------------------------- 2.2.1 - Elaboração da Política -------------------------------------------------------------------------------- 2.2.2 - Principais elementos da política -------------------------------------------------------------- 2.2.3 - Comunicação da política de compra responsável ------------------------------ 2.3 - Diretrizes para Compra Responsável ------------------------------------------------------------------- 2.3.1 - Aquisição de materiais originados de processos social e ambientalmente responsáveis -------------------------------------------------- 2.3.2 - Avaliação dos riscos das fontes de materiais e serviços --------------------- 2.3.3 - Rastreabilidade das matérias primas na cadeia de suprimentos ----- 2.3.4 - Uso restrito e controlado de matéria-prima com potencial de risco ------ 2.3.5 - Qualidade na aquisição de materiais de construção --------------------------- 2.3.6 - Função Compras ------------------------------------------------------------------------------------------ 2.3.7 - Valorização de parcerias com fornecedores que buscam a adesão a sistemas voluntários de certificação ---------------------------------- 2.4 - Seleção de fornecedores para compra responsável ----------------------------------------- 2.5 - Avaliação de fornecedores ------------------------------------------------------------------------------------- 2.5.1 - Parâmetros para a avaliação de fornecedores -------------------------------------- 2.6 - As diretrizes para ação: princípios, critérios e indicadores ----------------------------- 2.6.1 - Princípios ------------------------------------------------------------------------------------------------------- 2.6.2 - Critérios e indicadores para aquisição responsável de materiais ---- 2.6.3 - Referenciais Normativos ---------------------------------------------------------------------------- 3 - Implantação do programa de compra responsável ------------------------------------------------------- 3.1 - Etapas de implantação e manutenção do programa de compra responsável ----- 3.2 - Responsabilidades na implantação do programa de compra responsável ------ 3.3 - Verificação dos critérios de compra responsável ----------------------------------------------3.4 - Elaboração da política de compra responsável ------------------------------------------------- 3.4.1 - Procedimentos para a comunicação da política de compra responsável --- Parte 2 - Mecanismos Operacionais --------------------------------------------------------------------------------------------- 1 - Introdução ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 7 11 17 21 25 27 29 30 30 31 31 32 32 32 36 37 41 43 44 47 47 48 48 50 50 51 52 58 58 59 60 60 61 63 65 65 65 66 66 66 68 68 68 73 29 30 33 34 37 38 39 Figura 1. Estrutura hierárquica dos princípios, critérios e indicadores de compra responsável. Figura 2. Estrutura dos requisitos de compra responsável. ------------------------------------------------------------- Figura 3. Internalização e externalização de custos. ----------------------------------------------------------------------- Figura 4. Plano de Gestão Estratégica. -------------------------------------------------------------------------------------------- Figura 5. Rastreabilidade na cadeia de suprimentos da IC. ------------------------------------------------------------ Figura 6. Ramificação de processos produtivos e fornecedores na CPIC. ------------------------------------ Figura 7. Riscos ambientais e sociais na cadeia de suprimentos. -------------------------------------------------- 34 35 39 47 Quadro 1. “Sete Diretrizes” que podem ser aplicadas a micro e pequenas empresas (SEBRAE, 2003). ---------------------------------------------------------------------------- Quadro 2. “Sete Diretrizes” que podem ser aplicadas a micro e pequenas empresas (SEBRAE, 2003). ------------------------------------------------------------------------------ Quadro 3. Classificação das informações: responsabilidade ambiental e social quanto a origem. --------------------------------------------------------------------------------------------- Quadro 4. Modelo para Compra Responsável: dimensões de responsabilidade para a seleção de fornecedores para aumento da capacidade de competitividade. --------------- SumáRIo LIStA dE fIGuRAS LIStA dE QuAdRoS 2524 GuIA dE CompRAS RESponSáVEIS nA ConStRuÇão sumário e listas pARtE 1 5 pRInCípIoS, VALoRES E dIREtRIzES pARA GEStão EStRAtéGICA 2726 Parte 1 - PrincíPios, valores e diretrizes Para gestão estratégica a cadeia Produtiva da indÚstria da construção e o Programa de resPonsabilidade ambiental e social na construção A importância da cadeia produtiva da cons- trução para o desenvolvimento econômico do país é inegável, por gerar e movimentar uma parcela considerável da renda nacional, por empregar um grande número de traba- lhadores, além de ser responsável pela pro- dução do ambiente construído, incluindo infraestrutura, habitações e edificações. A rede de suprimentos que abastece os processo construtivos abrange praticamen- te todo território nacional. Grande parte da indústria de base, paralela a um sem nú- mero de trabalhadores configura-se como extremamente ramificada, com inúmeros processos produtivos, fornecedores, e um 1 - IntRoduÇão enorme volume de recursos materiais. A dificuldade de monitorar todas estas tran- sações, as relações informais tradicionais na economia brasileira e a dispersão geo- gráfica contribuem para que a responsabi- lidade social e ambiental pela origem dos materiais seja dispersa e não assumida por nenhum decisor chave. O desenvolvimento de um Programa de Res- ponsabilidade Ambiental e Social (PRAS) para a Cadeia Produtiva da Indústria da Constru- ção (CPIC) visa colaborar com as mudanças de paradigma traduzidas pela busca do com- promisso por meio da definição de valores e princípios empresariais que incorporem as diversas dimensões da responsabilidade, alinhando-se à demanda cada vez maior da sociedade por produtos que resultam de pro- cessos ambiental e socialmente responsáveis. pRInCípIoS, VALoRES E dIREtRIzES pARA GEStão EStRAtéGICA 5 pARtE 1 pRInCípIoS, VALoRES E dIREtRIzES pARA GEStão EStRAtéGICA 2928 O PRAS está em convergência com a abordagem conhecida como ciclo PDCA -“Plan, Do, Check, Act” das normas de sistema de gestão de qualidade, meio ambiente, saúde e segurança e responsabilidade social, considerado essencial para a implantação de um sistema efetivo de gestão. Preconiza um ciclo contínuo, com aperfeiçoamento permanente de etapas de planejamento, implantação, monitoramento e tomada de ações para correção efetiva dos problemas, reiniciando uma nova etapa de planejamento considerando sempre o aprendizado com erros e acertos anteriores. Um sistema de gestão requer a de- finição de especificações, que estão apresentadas nesse Guia como requisitos para compra responsável. O PRAS permite verificar o desempenho ambiental e social quanto ao cumprimen- to de requerimentos legais, gestão técnica, ambiental e social da cadeia principal, onde processos construtivos são executados e da cadeia de suprimentos da CPIC. Possibili- ta, ainda, maior transparência à sociedade, além de buscar, em todos os agentes da ca- deia produtiva da construção, importantes aliados nos diagnósticos e no processo de adaptação gradual à responsabilidade am- biental e social na cadeia de fornecedores. O Programa de Responsabilidade Ambien- tal e Social na Construção - PRAS é compos- to de quatro subprogramas e está estrutu- rado para ser desenvolvido e implantado em etapas: Rotulagem de Materiais de Construção – tem como objetivo identificar diretrizes e critérios para a proposição de um modelo de rotulagem de materiais de construção com vistas a atender demanda de certificações de construções sustentáveis; Canteiros de obra com responsabilidade ambiental e social – tem como objetivo subsidiar empresas construtoras na implan- tação de estratégias de prevenção e controle de impactos ambientais e projetos de res- ponsabilidade social; Capacitação e Treinamento: Sustentabili- dade e Inclusão – tem como objetivo suprir a demanda do setor da construção civil por colaboradores capazes de atuarem como agentes ambientais em canteiros de obra; Compra Responsável – que constitui o tema desse Guia e tem como objetivo pro- mover uma nova forma de atuação das em- presas no processo de compras, mediante o compromisso ambiental e socialmente responsável na aquisição de produtos e ser- viços, requerendo a responsabilidade so- cioambiental e econômica dos fornecedores e a sustentabilidade do processo de trans- formação das matérias primas, desde sua obtenção até o emprego final no ambiente construído. O Programa de Compra Responsável aplica- se a toda a cadeia de suprimentos de ma- teriais, componentes e elementos da cons- trução e requer uma declaração formal de compromisso, de adoção de requisitos para seleção de fornecedores e aquisição de ma- teriais. A origem e processamento da maté- ria-prima, componentes e elementos, bem como serviços destinados à cadeia principal devem atender, no mínimo, às legislações ambientais, trabalhistas, tributárias, fiscais, de segurança e saúde no trabalho, além de exercer boas práticas sociais e ambientais. Uma Política de compra responsável é a expressão do compromisso da construtora com a responsabilidade ambiental e social 2 - pRoGRAmA dE CompRA RESponSáVEL A Compra Responsável pode ser definida como a integração entre estratégias organi- zacionais e práticas de aquisição de materiais que se baseia na responsabilidade ambien- tal, econômica e social e temcomo objetivo promover uma nova forma de atuação das empresas, assumindo o compromisso como instituição responsável na especificação e aquisição de produtos e serviços. O Programa de Compra Responsável é uma ferramenta para que empresas construtoras avaliem a visibilidade da origem dos mate- riais que adquire e serviços que contra- ta, e de seu desempenho em relação a requisitos de responsabilidade am- biental e social na relação com os fornecedores. Este programa inclui princípios, compos- tos por critérios, e estes, por sua vez, são constituídos de indicadores e verificado- res. Este conjunto permite avaliar a compra responsável de matérias-primas, materiais, componentes e elementos para a edifica- ção, bem como a contratação de serviços, contribuindo para melhorar o desempenho social e ambiental da cadeia de suprimento, aumentando, gradativa e continuamente, o comprometimento de todos os integrantes da CPIC com a sustentabilidade (Figura 1). saiba mais sobre o Pras Figura 1. Estrutura hierárquica dos princípios, critérios e indicadores de compra responsável. pRInCípIo CRItéRIo IndICAdoR no uso de recursos e na contratação de ser- viços, contribuindo para a sustentabilidade do ambiente construído. Para exercer essa responsabilidade a construtora depende da responsabilidade do comprometimen- to dos fornecedores das cadeias de supri- mentos e assim, sucessivamente, em todo o ciclo de vida. Portanto, uma declaração do compromisso pela construtora tem um efeito em cascata sobre os fornecedores em toda a cadeia de suprimentos. Além de contribuir para maior integração en- tre a sociedade e a cadeia produtiva, o PRAS fortalece o comportamento ético. Permite ain- da, estruturar uma visão transparente das res- ponsabilidades ao longo da cadeia,reduzindo custos sociais, ambientais e econômicos, inefi- ciências e desperdícios, promovendo um posi- cionamento diferenciado no mercado e maior agregação de valor à marca em consonância com a crescente demanda pela responsabili- dade social corporativa, no escopo da compra sustentável. Além disso, o atendimento aos re- quisitos propostos é um importante subsídio para estruturação e composição de relatórios de sustentabilidade empresarial. 3130 GuIA dE CompRAS RESponSáVEIS nA ConStRuÇão Parte 1 - PrincíPios, valores e diretrizes Para gestão estratégica GuIA dE CompRAS RESponSáVEIS nA ConStRuÇão a cultura da compra responsável será construída. Uma boa política deverá de- finir todos os objetivos e o que é acei- tável ou não pelo comprador. Ela deve demonstrar claramente os valores da organização e como esses valores são postos em prática. 2.2.1 - elaboração da Política Não há uma fórmula definitiva para ela- boração de uma boa política. A política será eficiente, efetiva e eficaz se seus ob- jetivos forem claros, mensuráveis, alcan- çáveis e realistas. Também é importante que os organizadores dessa política con- siderem suas consequências antes de sua implementação. Políticas muito comple- xas podem tornar-se caras e insustentá- veis. Políticas muito fracas não alcançam comprometimento. É importante buscar o equilíbrio. 2.1 - Premissa A Compra Responsável baseia-se na premis- sa de que as iniciativas de sustentabilidade no processo construtivo são inócuas se não é possível garantir a origem social e ambien- talmente responsáveis dos materiais e servi- ços, pois a organização se torna correspon- sável pelos passivos legais, ambientais ou sociais de seus fornecedores. 2.2.2 - PrinciPais elementos da Política A política de compra responsável deve de- monstrar claramente o comprometimento da organização com a responsabilidade ambiental e social. É importante que ela contenha referências a: • Eliminação de fontes ilegais de mate- riais que não respeitem as legislações referentes à segurança e saúde no tra- balho, normas ambientais e que causem impactos ambientais e sociais negativos; • Transparência alcançada por meio da rastreabilidade dos materiais contidos na cadeia de suprimentos até sua ori- gem primária; • Contribuição para o aumento contínuo da proporção adquirida de serviços, ma- térias-primas, materiais e componentes originados de processos social e am- bientalmente responsáveis. 2.2 - Política de comPra resPonsável A Política é a declaração formal de compro- misso da empresa com a compra responsá- vel, mediante seu público interno e externo. Ela contem informações necessárias para a tomada de decisão na seleção, qualificação ou eliminação do fornecedor. Um ponto fundamental da política é o estabelecimento dos limites em que Figura 2. Estrutura dos requisitos de compra responsável. pRInCípIo 1 CRItéRIo 1.1 CRItéRIo 1.2 IndICAdoR 1.2.1 IndICAdoR 1.2.1 IndICAdoR 1.1.1 Os princípios constituem referência funda- mental para a compra de materiais e contra- tação de serviços, que estrutura e norteia a aplicação de critérios e indicadores especí- ficos para cada situação. Os critérios são re- quisitos objetivos para o cumprimento dos princípios de compra responsável. Os indi- cadores são dados qualitativos ou quantita- tivos utilizados para verificar o cumprimen- to de um critério (Figura 2). Parte 1 - PrincíPios, valores e diretrizes Para gestão estratégica 3332 2.2.3 - comunicação da Política de comPra resPonsável O principal objetivo de comunicar a política é garantir que ela esteja disponível e acessí- vel, e que seja possível, para qualquer parte interessada verificar a transparência e com- prometimento da empresa com a responsa- bilidade ambiental e social. Uma vez desenvolvida a política de com- pra responsável, e, ou adaptada a políticas existentes na empresa, tais como qualidade, meio ambiente, saúde e segurança, é impor- tante que a organização a dissemine ampla- mente e elabore e implemente um plano de ação com metas e prazos. 2.3 - diretrizes Para comPra resPonsável Para estabelecer requisitos de compra res- ponsável, algumas diretrizes são recomen- dadas como eixos norteadores para os pro- cedimentos e condutas a serem adotadas nos setores de compra, visando à seleção de fornecedores na aquisição de insumos e con- tratação de serviços. 2.3.1 - aquisição de materiais originados de Processos social e ambientalmente resPonsáveis A aquisição de insumos baseada em crité- rios ambientalmente responsáveis no Brasil ainda é incipiente, mas as empresas devem visar o aumento contínuo da proporção ad- quirida de matérias-primas, componentes, elementos e serviços originados de proces- sos ambientalmente responsáveis. Alguns insumos amplamente consumidos nas construções muitas vezes não possuem identificação de procedência ou não contam com fornecedores certificados, e muitas ve- zes apresentam problemas até mesmo de cumprir requerimentos legais. Como exem- plo podem ser citados, principalmente, ma- teriais de extração direta ou pouco processa- dos ou manufaturados, tais como a madeira, areia, brita, tijolos,pedras ornamentais, den- tre outros. Para os produtos que causam impacto am- biental negativo é necessário estabelecer estratégias que permitam evidenciar, pelo menos o cumprimento dos requerimentos legais. Para reduzir o consumo de madeiras originadas de exploração ilegal de florestas nativas tem-se a alternativa de adquirir ma- teriais renováveis como a madeira prove- niente de florestas plantadas, quando pos- sível e disponível, de unidades de manejo certificadas. Para contribuir com a redução da explora- ção mineral no consumo de areia e brita, por exemplo,é possível utilizar material gerado no próprio canteiro de obras ou adquirir ma- terial reciclado, cooperandopara redução dos impactos negativos decorrentes da ex- tração destes recursos e a redução de quan- tidade de resíduos. De maneira geral, pode-se afirmar que a qualidade do material adquirido está corre- lacionada com os impactos ambientais ne- gativos. A decisão por um material de menor preço, portanto, pode estar associada a cus- tos ambientais e sociais invisíveis e não inter- nalizados pela organização (figura 3). De maneira geral, o valor agregado de um produto, o tempo de mercado, o porte e al- cance da empresa estão relacionados positi- vamente na percepção da importância dos sistemas de gestão. Qualidade, meio am- biente, saúde e segurança, bem como prin- cípios e normas de Responsabilidade Social Corporativa geralmente são incorporadas ao Figura 3. Internalização e externalização de custos. emPresa construtora Política de Compromisso para compra responsável Gestão de Fornecedores Origem Legal, Ambiental e Social IntERnALIzAÇão dE CuStoS ExtERnALIzAÇão dE CuStoS R$ R$ Custos invisíveis Atividade organizacional Atividade organizacional Contabilidade Transferência de responsa- bilidades Responsa- bilidade Obrigações não identifi- cadas Passivos (obrigações) plano de gestão estratégica que alcançam essa maturidade (figura 4). Porém os fabricantes e fornecedores de pe- queno porte também podem aderir a esses movimentos, exercitando os princípios de responsabilidade social e ajustando-os à escala e tamanho do empreendimento. As grandes empresas que possuem fornece- dores de pequeno porte podem contribuir em rede para a melhoria de seu processo de gestão e responsabilidade ambiental e so- cial, por meio de programas de treinamento e qualificação. Baseados nos sete temas que o Instituto Ethos estabeleceu para tratar da Responsa- bilidade Social Empresarial (Valores e Trans- parência, Público Interno, Meio Ambiente, Fornecedores, Consumidores e Clientes, Co- munidade, Governo e Sociedade), o SEBRAE, por razões didáticas, adaptou-os para “Sete Diretrizes” que podem ser aplicadas a micro e pequenas empresas (Quadro 1). 3534 GuIA dE CompRAS RESponSáVEIS nA ConStRuÇão Parte 1 - PrincíPios, valores e diretrizes Para gestão estratégica As organizações ou normativas que pro- movem o movimento de responsabilidade social de empresas, em linhas gerais, con- templam princípios similares e se comple- mentam. Além do Pacto Global (Quadro 2) os principais instrumentos e normativas que fundamentam a responsabilidade so- cial, destacam-se: Norma ABNT NBR 16001:2012 - Responsabi- lidade Social – Sistema de Gestão – Requisitos; Norma ABNT NBR ISO 26000:2010 - Dire- trizes sobre responsabilidade social; Quadro 2. Dez Princípios do Pacto Global (ONU) 2004 10 PrincíPios universais do Pacto global 9 encorajar tecnologias que não agridem o meio ambiente 5 abolir o trabalho infantil 7 apoiar uma abordagem preventiva aos desafios ambientais 3 apoiar a liberdade de associação no trabalho 1 respeitar e proteger os direitos humanosprincípios de direitos humanos princípios de direitos do trabalho princípios de proteção ambiental princípios contra a corrupção 10 combater a corrupção em todas as suas formas, inclusive extorção e propina 6 eliminar discriminação no ambiente de trabalho 8 Promover a responsabilidade ambiental 4 abolir o trabalho forçado 2 impedir violações de direitos humanos Como adesão às boas práticas, a empre- sa pode requerer que seus fornecedores adotem os Dez Princípios Universais do Pacto Global (quadro 2). Esses princípios são derivados da Declaração Universal de Direitos Humanos, da Declaração da Organização Internacional do Trabalho sobre Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho, da Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento e da Convenção das Nações Unidas Contra a Corrupção, uma iniciativa desenvolvi- da pela Organização das Nações Unidas (ONU) que propõe diretrizes de respon- sabilidade social e ambiental às empre- sas. Estes princípios foram observados na concepção do Guia e na elaboração dos requisitos de compra responsável. Figura 4. Plano de Gestão Estratégica. VALoR AGREGAdo, tEmpo dE mERCAdo, poRtE E ALCAnCE dA EmpRESA Sistema de Gestão de Saúde e Segurança Sistema de Gestão Ambiental Sistema de Gestão de Responsa- bilidade Social Sistema de Gestão de Qualidade Quadro 1. “Sete Diretrizes” que podem ser aplicadas a micro e pequenas empresas (SEBRAE, 2003). 7 diretrizes da resPonsabilidade social emPresarial adote valores e trabalhe com transparência envolva parceiros e fornecedores valorize empregados e colaboradores Proteja clientes e consumidores Faça sempre mais pelo meio ambiente Promova a sua comunidade comprometa-se com o bem comum GuIA dE CompRAS RESponSáVEIS nA ConStRuÇão Parte 1 - PrincíPios, valores e diretrizes Para gestão estratégica 3736 Norma SA 8000:2008 - Responsabilidade So- cial,concebida pelo Órgão de Credenciamen- to do Conselho de Prioridades Econômicas, vinculado à ONU, unindo ONGs e empresas; Diretrizes da Global Reporting Initiative (GRI), uma organização sem fins lucrativos e de âmbito mundial, formada por multis- takeholders para elaboração de Relatórios de Sustentabilidade; Metas do Milênio, propostas pela Organi- zação das Nações Unidas (ONU) por meio da Declaração do Milênio; Pacto Nacional pela Erradicação do Tra- balho Escravo, formado pela Organização Internacional do Trabalho, pela ONG Repór- ter Brasil, pelo Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social e pelo Instituto Ob- servatório Social; 2.3.2 - avaliação dos riscos das Fontes de materiais e serviços Adquirir materiais e contratar serviços sem critérios de avaliação é arriscar-se em con- tribuir para repassar, na cadeia de custódia, os passivos legais, ambientais e sociais dos fornecedores associados aos produtos e serviços, além da possível associação de sua imagem institucional. Neste Guia, risco está sendo considerado como a combinação da probabilidade de um acontecimento e de suas consequên- cias (ISO Guide 73; 2009). O simples fato de existir uma atividade, abre a possibilida- de da ocorrência de eventos ou situações cujas consequências constituem oportuni- dades para obter vantagens ou ameaças. A falta de informação sobre a origem de um material adquirido ou serviço contratado no que diz respeito, pelo menos, ao cum- primento de leis, já se constitui um risco. A possibilidade de identificação da fonte de matéria-prima ou serviço é o primeiro pas- so para a tomada de medidas visando mini- mizar esse risco. É necessária, no mínimo, uma gestão sim- plificada do risco na aquisição de materiais e serviços, identificando-se a fonte e o nível de informação capaz de ser obtida de cada fornecedor. Dessa forma a empresa pode decidir se mantém ou não determinado for- necedor, ou ainda, se está disposta a propor um programa de qualificação de fornecedo- res, que podem adequar-se, em etapas, aos requerimentos da empresa. O cumprimento ou não dos requisitos do Guia constituem-se em ferramentas para a tomada de decisão. Figura 5. Rastreabilidade na cadeia de suprimentos da IC. Prazo o QuE QuEREmoS VER? o QuE QuEREmoS SABER? Até ondE SE EStEndE A RESponSABILIdAdE? Como A ConStRutoRA podE InfLuEnCIAR? VISíVEIS InVISíVEIS Preço documentação qualidade condições de trabalho saÚde e segurança do trabalhador imPactos ambientais negativos Extração de Recursos Processos de fabricação Transporte Rodovia Edificações Construtor/ Comprador De acordo com o Anexo SL das DiretivasISO para todas as novas normas de sistema de gestão de qualidade e meio ambiente in- cluem a análise de risco como requisito. 2.3.3 - rastreabilidade das matérias Primas na cadeia de suPrimentos A compra responsável é um dos vetores de contribuição para a sustentabilidade do processo produtivo, uma vez que a rastrea- bilidade ao longo da cadeia de suprimen- tos da IC auxilia na transparência identifi- cação e comunicação da origem ambiental e socialmente responsável das matérias -primas, componentes, elementos e servi- ços utilizados no processo construtivo. Toda a matéria prima recebida pela empresa deve ter procedimentos para identificação, registro e controle de entrada. Portanto, o objetivo da rastreabilidade é que dados vísiveis – preço, prazo, qualidade, docu- mentação – tornem-se ainda mais claros, e aqueles, até então, invisíveis – como condi- ções de trabalho, impactos ambientais ne- gativos, entre outros – tornem-se realmente evidentes (figura 5). A rastreabilidade completa dos materiais adquiridos deve ser feita até a origem pri- mária, na extração de recursos naturais. No entanto, nem sempre isso será possível, porque a construtora não adquire, via de 3938 GuIA dE CompRAS RESponSáVEIS nA ConStRuÇão Parte 1 - PrincíPios, valores e diretrizes Para gestão estratégica Areia Cimento Tijolo Concreto Ferragens Componentes eletroeletrônicos Componentes e elementos plásticos A identificação e registro do local de ori- gem da matéria-prima recebida podem ser confirmados pela documentação de trans- porte e de compras e podem, também, ser verificados por amostragem. Deve haver uma pessoa responsável e treinada para recebimento e registro dos materiais e gestão das informações sobre fornecedo- res. Uma lista cadastral de fornecedores, matérias primas e suas origens deve ser mantida atualizada. As fontes de materiais podem ser classifica- das em categorias quanto às informações so- bre responsabilidade ambiental e social de sua origem, utilizando critérios adaptados às características e escala do empreendimento (quadro 3). Essa classificação permite uma vi- sualização geral ao gestor da quantidade de fornecedores, de quanto se conhece sobre as fontes de materiais, do quanto falta para que se conheça completamente a origem e se tenha segurança sobre a responsabilidade Quadro 3. Classificação das informações: responsabilidade ambiental e social quanto a origem. Nível de Identificação da fonte Característica Desconhecida Fonte da qual não se tem acesso a informações sobre o cumpri-mento de leis ambientais e sociais. Conhecida mas não comprovada Fonte que o fornecedor declara compromisso com a política de compra responsável e tem respostas afirmativas sobre o cumpri- mento de requerimentos legais e sociais por auto declaração do fornecedor, sem comprovação. Conhecida e verificada Fonte que atende integralmente critérios do PRAS por meio de auditoria externa. regra, materiais de fornecedores respon- sáveis pela extração direta do recurso na natureza, uma vez que seus insumos va- riam de areia e brita, até artigos eletrôni- cos altamente manufaturados e formados por centenas de componentes. Além disso, nem sempre haverá informações dispo- níveis sobre todos os elos anteriores e os materiais adquiridos podem ter passado por uma cadeia de custodia ramificada e complexa (figura6). A transparência completa da cadeia de supri- mentos, desde a origem dos recursos, só será possível com um sistema de rastreabilidade que abranja todos os materiais e matérias primas. A construção deste sistema será um longo processo, porém é preciso começar com um primeiro passo. Primeiro, os forne- cedores imediatos são avaliados, depois os fornecedores dos fornecedores, e assim por diante. O mesmo mecanismo de avaliação pode ser aplicado em cada passo. A cadeia hipotética representada na figu- ra 6 demonstra a identificação de riscos ao longo da cadeia de suprimentos. A caixa verde no comprador indica a declaração de compromisso na aquisição responsável por bens e serviços, no entanto, esse compro- misso pode ser impactado negativamente, se há riscos ambientais e,ou sociais quanto à origem do material. A caixa verde no for- necedor representa ausência de passivos ambientais e sociais nos requerimentos em que ele pode controlar. A caixa amarela re- presenta um risco potencial baixo e a caixa vermelha, um alto risco. As caixas pretas in- dicam completa ausência de informações a respeito da origem (figura 7). Figura 7. Riscos ambientais e sociais na cadeia de suprimentos. gestão de Fornecedores Origem legal, ambiental e social Procedência • Conhecida e Verificada • Conhecida, porém não comprovada (baixo risco) • Inadequada (alto risco) • Risco desconhecido Figura 6. Ramificação de processos produtivos e fornecedores na CPIC. intensa ramiFicação de processos produtivos e fornecedores na CPIC resPonsabilidade social e ambiental diFusa ao longo da cadeia devido a capilaridade das relações GuIA dE CompRAS RESponSáVEIS nA ConStRuÇão Parte 1 - PrincíPios, valores e diretrizes Para gestão estratégica 4140 ambiental e, ou social associadas. Junto com outras informações, a verificação de atendi- mento dos requisitos permitirá avaliar os es- forços necessários para qualificar os fornece- dores. Uma avaliação periódica da situação permitirá avaliar a evolução do desempenho quanto à compra responsável. A manutenção de dados e informações so- bre a cadeia de suprimentos pode variar de registros em papel a planilhas eletrônicas ou banco de dados. De maneira geral, quan- to mais complexa a cadeia de suprimentos (grande número de fornecedores e produ- tos), maior a necessidade de manter uma base de dados informatizada. Esta base de dados informatizada pode ser implementa- da com adaptações de sistemas já existentes de gestão integrada, da qualidade, meio am- biente, saúde e segurança, por exemplo. Um mapa pode ser montado, incluindo os fornecedores, permitindo avaliar onde exis- tem lacunas e informações incompletas ao longo da cadeia de fornecedores. Este mapa será modificado à medida que novas infor- mações sejam incluídas, para que o gestor avalie rapidamente a situação geral apenas com o olhar. Os dados coletados podem gerar informa- ções que permitam a organização verificar como a política está sendo efetivamente aplicada à cadeia de suprimentos. Podem ser utilizados também para comparar com informações posteriores à implantação da política e que permita que a melhoria de de- sempenho dos fornecedores possa ser con- ferida, contribuindo com o aumento de sua responsabilidade ambiental e social. Uma rede de informações sobre uma “lista verde de fornecedores” pode ser comparti- lhada entre empresas, contendo dados so- bre os melhores fornecedores e podendo incluir recursos sobre cumprimento de legis- lação ambiental e social, adesão a esquemas de certificação, tais como qualidade, meio ambiente, saúde e segurança, responsabili- dade social, além de adesão a boas práticas. 2.3.4 - uso restrito e controlado de matéria -Prima com Potencial de risco As matérias-primas, com potencial de risco de impactos ambientais e sociais,devem ser adquiridas pela empresa, para o uso restrito e controlado, mediante avaliação de riscos de origem de fontes inaceitáveis. A existên- cia de um risco pode ser um alerta e a ava- liação da parceria como fornecedor pode levar a empresa a eliminar o fornecedor ou propor um programa gradual de qualifica- ção, porém a permanência do risco ao longo do tempo deve servir como indicador para eliminação. As fontes de materiais devem ser relaciona- das e avaliadas quanto à origem para estabe- lecer critérios de seleçãode fornecedores e que pontos devem ser avaliados. Restrições a práticas ilegais de âmbito social e ambien- tal, tais como extração de matéria-prima licença ambiental, destinação incorreta do resíduo produzido, contratação de mão de obra infantil, falta de condições de saúde e segurança para os trabalhadores, entre ou- tros, podem ser incluídas em cláusulas con- tratuais de compra e venda e contratação de serviços e que podem significar a não con- tratação ou eliminação. Os materiais a serem adquiridos podem ser classificados quanto ao grau de risco à saú- de ou ao meio ambiente. Areia, cascalho, argila, brita, pedras ornamentais e madeira nativa, por exemplo, estão entre os produ- tos que apresentam potencial de risco para origem ilegal, ambiental e, ou social. Por- tanto, o cuidado para adquirir esses produ- tos deve ser maior. Para os fornecedores identificados como “de risco”, especial atenção deve ser dada a partir da comunicação da Política de Compra Res- ponsável.É importante que a empresa com- preenda o compartilhamento de responsa- bilidade. O fato de comprar material definido como de “origem inaceitável”ou sem qual- quer informação sobre a origem aumenta o risco de contribuir com o fluxo dos impactos GuIA dE CompRAS RESponSáVEIS nA ConStRuÇão Parte 1 - PrincíPios, valores e diretrizes Para gestão estratégica 4342 negativos. Problemas de caráter ambiental e social, causados pelo fornecedor, e seus pre- juízos têm custos ambientais e sociais que são repartidos com a sociedade. Muitos materiais de construção como car- petes, adesivos, produtos de madeira, re- vestimentos sintéticos, tintas, lâmpadas, plásticos, biocidas, colas, papéis especiais e têxteis, espumas, ligas, vidros, baterias, pig- mentos, cerâmica, resinas, asfalto, soldas, en- tre outros, possuem substâncias tóxicas pre- sentes que podem ser emitidas para o meio ambiente de diversas formas. As substancias tóxicas podem ser emitidas para o ar e em suspensão, inaladas, ou podem ser lixiviadas e contaminar solo e corpos d ‘água. A pre- missa de que materiais reciclados são social e ambientalmente amigáveis nem sempre é verdadeira. Apenas uma declaração ambien- tal do produto, feita por meio de técnicas de Avaliação de Ciclo de Vida, pode fornecer in- formações claras sobre o consumo de ener- gia, materiais e resíduos e seus respectivos impactos ambientais negativos, mas essa ainda não é uma prática comum no Brasil. Na falta de informações claras sobre o ciclo de vida e seus impactos, e em função da pre- sença de substâncias perigosas nos materiais de construção, torna-se necessário utilizar uma abordagem de precaução e restringir o uso daqueles cujos riscos de contaminação ambiental sejam maiores. A mera substituição de um produto que apresenta potencial de risco para a saúde do trabalhador ou meio ambiente por ou- tro aparentemente mais inofensivo também pode constituir um risco. A OIT (2012) cita como exemplo as substituições das tintas de base solvente por tintas de base aquosa com adição de produtos biocidas. A substituição de hidroclorofluorcarbonetos por clorofluor- carbonetos aumentou o risco de exposição a substâncias cancerígenas, assim como o risco de incêndio. Toda e qualquer atividade econômica exige um equilíbrio entre riscos e benefícios e a adoção de materiais e produtos inovadores exige verificação e controle rigorosos das ca- racterísticas e desempenho. Os materiais de construção podem conter substâncias tóxicas que são emitidas com intensidade variável desde a extração de matérias-primas até a produção e uso dos materiais e componentes. Não existe um protocolo de declaração de resíduos gera- dos na extração de recursos e na produção de materiais, tampouco dados relativos às emissões. Portanto, esta é uma prática que deve ser implantada paulatinamente junto aos fornecedores. A melhoria desta situação pode ser buscada por meio do estímulo ao consumo de produ- tos com baixa emissão de substâncias tóxi- cas ao longo do ciclo de vida. Entretanto, a quantificação das emissões nem sempre é possível, pois as empresas costumam consi- derá-las confidenciais. É relevante, portanto, ter acesso a informa- ções sobre os possíveis procedimentos de mitigação ou eliminação de resíduos na ma- nufatura e fabricação de materiais com me- nores emissões como resultados de política de gestão ambiental, inovações tecnológi- cas e controles adotados no processo fabril. Esses problemas devem diminuir ao longo do tempo com a tendência de se proceder a Avaliação do Ciclo de Vida de produtos e serviços, e se estabelecer rotulagem dos pro- dutos por meio da declaração ambiental, de acordo com critérios da ISO 14.025, porém, essa prática ainda é incipiente no Brasil. O Programa Brasileiro de Avaliação de Ciclo de Vida (PBACV) vem trabalhando para a consolidação dos inventários que permitirão identificar impactos ambientais. O PBACV, no âmbito do Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (CONMETRO), foi aprovado com o objetivo de estabelecer diretrizes para o Sistema Nacional de Metrologia, Normali- zação e Qualidade Industrial (SINMETRO), “e dar continuidade e sustentabilidade às ações de ACV no Brasil, apoiar o desenvol- vimento sustentável e a competitividade ambiental da produção industrial brasileira, bem como promover o acesso aos merca- dos interno e externo”1. No entanto há ainda um longo percurso até que a indústria da construção passe a usar Declarações Ambientais de Produto no pro- cesso de tomada de decisão na especifica- ção e aquisição de materiais, e produtos. 2.3.5 - qualidade na aquisição de materiais de construção A qualidade compreende o grau de atendi- mento, ou conformidade, de um produto, processo ou serviço a requisitos mínimos estabelecidos em normas ou regulamentos técnicos ao menor custo possível para a so- ciedade. As empresas que adotam os Siste- mas de Gestão da Qualidade e a fabricação de produtos com base na conformidade ganham maior credibilidade e reconheci- mento. A obtenção de certificação de qua- lidade, de acordo com a Norma ABNT NBR ISO 9001,confere maior qualidade nos em- preendimentos, pois é resultado de ações de padronização, sistematização, inspeção, controle e monitoramento de procedimen- tos de projeto e produção. Além de garantir os prazos e preços, as relações de parceria 1 - Disponível em <http://pbacv.blogspot.com.br/>. Acesso em: 30 de mar. 2014. 4544 GuIA dE CompRAS RESponSáVEIS nA ConStRuÇão Parte 1 - PrincíPios, valores e diretrizes Para gestão estratégica estabelecidas entre as empresas e seus for- necedores buscam a melhoria da qualidade. Os relacionamentos mais estreitos e dura- douros aumentam as relações de confiança e credibilidade, que resultam em maior com- prometimento com a qualidade, tornando o fornecedor parceiro dos negócios da empre- sa. Os fornecedores comprometidos com a política de compra responsável devem for- necer às empresas declaração da qualidade de seus produtos em conformidade com as normas técnicas e ensaios recomendados. 2.3.6 - Função comPras O setor de compras de uma empresa é o res- ponsável pela aquisição dos insumos, que são os recursos necessários para a materialização dos produtos. No caso da construção de infra -estruturar e edificações os insumos são os ma- teriais, elementos, componentes, assim como os serviços realizados por pessoas e os projetos arquitetônicos, de estrutura e de instalações. No contexto do Programa de Compra Res-ponsável, o processo de aquisição de mate- riais pertence a um espectro maior, caracteri- zando-se como uma das atividades da função compras. A função compras é parte integran- te da cadeia de suprimentos da construção civil e desempenha um papel estratégico. Tradicionalmente a função compras era exer- cida pelos departamentos de compras das empresas de construção e caracterizava-se como uma atividade predominantemente de aquisição de material, mediante a negociação de menor preço e prazo de entrega.Atualmen- te as empresas tendem a se reorganizar em função das novas formas de relacionamento, arranjos produtivos, comercialização de pro- dutos e escalas de competitividade, além dos avanços tecnológicos que exigem fornecedo- res mais especializados e participativos. A função compras tem evoluído para se incor- porar a um processo complexo e integrado, envolvendo outras áreas da organização, tais como: engenharia, qualidade, finanças, logís- tica, marketing, entre outras, que exercem papel estratégico na estrutura organizacional. A compra de insumos por critérios exclusi- vamente técnicos, isto é, com base no preço e na especificação meramente descritiva do material já não mais satisfaz as exigências do cliente e da sociedade. Além disso, ganha dimensões de importância global, e mobili- za instituições como UNEP/ONU, UN Global Compact, ISO, OECD, constituindo uma ten- dência mundial para pressionar as organiza- ções por maior transparência e responsabili- dade corporativa. O Comitê Técnico 277 da ISO lançou em 2013 uma Minuta de Norma Internacional sobre a Compra Responsável. Portanto, nessa nova tendência, a aquisição de material deve ser feita mediante as especifica- ções de desempenho, entendidas como um conjunto de requisitos e critérios que expressam as funções da edificação ou de seus sistemas. Neste novo patamar de entendimento das questões que envolvem um desenvolvimen- to sustentável, o custo global de um produto não pode ser definido somente pelo custo de fabricação, mas também pelos custos de operação e de manutenção ao longo de sua vida útil, além das considerações necessárias que devem ser feitas em relação ao descarte no final do seu ciclo de vida e ainda aos cus- tos ambientais e sociais associados. Na indústria da construção, a especificação de materiais, componentes e sistemas é uma atividade complexa devido ao elevado nú- mero de itens envolvidos no processo produ- tivo, a diversidade de materiais, componen- tes e elementos com características distintas e as diversas funções que a edificação deve desempenhar. É importante considerar, tam- 4746 GuIA dE CompRAS RESponSáVEIS nA ConStRuÇão Parte 1 - PrincíPios, valores e diretrizes Para gestão estratégica bém, que a especificação de materiais é uma função que muitas vezes é delegada ao se- tor de compras. A definição dos materiais é determinada pelas especificações de desem- penho, que é parte integrante do processo de projeto. Portanto, as exigências quanto à qualidade nascem com o projeto. O setor de compras deve participar das espe- cificações e projetos e contribuir na decisão da escolha dos materiais que farão parte dos novos projetos. Para isso é necessário desen- volver competências da equipe que integra a função compras. O fornecedor comprometido com a parce- ria estabelecida colabora ativamente subsi- diando os setores de planejamento e projeto com informações pertinentes aos produtos e suas inovações tecnológicas. Considerado como um critério da qualidade, a especificação deve ser definida pelo setor de projeto, pois deve considerar os aspectos re- lacionados ao desempenho da edificação. Por isso, a caracterização do material a ser adquiri- do deve ter sua especificação de desempenho estabelecida com base na vida útil de projeto e nos atendimento aos requisitos do cliente. Ao setor de compras cabe a responsabilida- de de planejar as aquisições, selecionar os fornecedores conforme os critérios estabele- cidos e realizar as negociações para a aquisi- ção do produto conforme as especificações fornecidas pelo setor de projeto e produção. À obra cabe o recebimento do produto, in- cluído as atividades de inspeção, controle da qualidade e armazenamento, além da avalia- ção do fornecedor. 2.3.7 - valorização de Parcerias com Fornecedores que buscam a adesão a sistemas voluntários de certiFicação São parcerias desejáveis aquelas cujos fornece- dores adotam, voluntariamente, algum siste- ma de gestão ou de certificação. Os sistemas de gestão e os processos de certificação repre- sentam a busca pela melhoria contínua dos processos de projeto, suprimento e produção. O sistema de gestão ou certificação adotado deve abranger os produtos e/ou serviços pres- tados ao comprador e cobrir a atividade reali- zada. O fornecedor que adota algum sistema de gestão ou certificação voluntária deve de- monstrar os documentos comprovantes e seu sistema de manutenção e controle. 2.4 - seleção de Fornecedores Para comPra resPonsável A implantação de uma política de compra res- ponsável implica em processo criterioso para estabelecer os critérios de seleção de forne- cedores.A seleção de fornecedores baseia-se em quatro dimensões competitivas: custos, qualidade2, flexibilidade e prazos, sendo que a dimensão prazo é dividida em confiabilida- de e velocidade de entrega3. Ainda podem-se acrescentar as dimensões capacidade e habi- lidades de produção, confiabilidade, serviço pós-venda e localização do fornecedor4. Para o processo de compra ambiental e so- cialmente responsável, além das dimensões citadas, a seleção de fornecedores deve ba- sear-se, ainda, nas dimensões que podem contribuir com a capacidade de competitivi- dade: conformidade legal, responsabilidade ambiental e social. Um modelo de dimensões competitivas para a seleção de fornecedores, adaptado para compra responsável pode ser concebido e está sintetizado no Quadro 4. Este modelo está refletido nos requisitos dos princípios, critérios e indicadores desse Guia. 2 - Os requisitosda NBR ABNT 15575 – Norma de Desempenho, lançada em 2013 para edificações habitacionais devem ser considerados. 3 - Haga (2000) 4 - Palacios (1995),Ferrão (2002),Ribeiro (2006), Santos e Jungles (2008) Nível de Identificação da fonte Custos Considerado dimensão mais ampla que o preço (custo percebido pelo cliente), a produção a custos menores que os concorrentes, demonstra competitividade. Qualidade Capacidade técnica para produzir, fornecer e desenvolver produtos com qualidade perce- bida pelo cliente e conforme as especificações. Flexibilidade Capacidade de produção relacionada à quantidade e às exigências técnicas do produto, além dos aspectos de desempenho, que representa maior ou menor capacidade de o sistema produtivo mudar o que faz, adaptando as operações com rapidez. Prazo: Velocidade de Entrega Fazer rápido, tanto da realização de atividades quanto ao relacionado à percepção do cliente. Neste aspecto, a localização do fornecedor é significativa, pois além de representar menor custo de aquisição e menores impactos ambientais negativos sobre emissão de carbono, aumenta a agilidade de entrega. Prazo: Confiabilidade de Entrega Fazer pontualmente, tanto na realização de atividades e processos, quanto ao relacionado à percepção do cliente. Confiabilidade Principalmente solidez financeira do fornecedor e ao seu capital reputacional. A reputação de empresa está ligada à reputação de seus parceiros. Serviço pós-venda Relacionado a produtos que exigem assistência técnica na fase de uso, atendimento bem-organizadoe ágil, além da disponibilidade de peças de reposição. Conformidade Legal Capacidade de demonstrar o cumprimento das leis, normas e resoluções aplicáveis ao setor. Responsabilidade social Responsabilidade ambiental Compromisso com o controle de impactos ambientais negativos de sua atividade. Quadro 4. Modelo para Compra Responsável: dimensões de responsabilidade para a seleção de fornecedores para aumento da capacidade de competitividade. 4948 GuIA dE CompRAS RESponSáVEIS nA ConStRuÇão Parte 1 - PrincíPios, valores e diretrizes Para gestão estratégica A criação de uma base de dados informa- tizada, contendo informações sobre os principais fornecedores, cadastrando as não-conformidades e os procedimentos adotados para sanar os problemas contri- bui com a centralização das informações, agilidade na avaliação e visão sistêmica de todo o processo. A capacidade de atender as expectativas e fortalecer as parcerias exige do fornecedor forte envolvimento com a especificação dos materiais e desenvolvimento dos produtos junto aos setores de planejamento e projeto. Portanto, estratégias como feedback, ben- chmarking, entre outros são recursos para fortalecer a cultura organizacional com a compra responsável. Esses setores também devem avaliar os fornecedores. O fornecedor deve ter acesso à sua avalia- ção contínua de desempenho de forma cla- ra para que possa dimensionar os esforços necessários para alcançar melhor desem- penho. Devem-se fornecer meios para que ele conheça os processos internos da em- presa, em especial o projeto e especificação de materiais e o planejamento operacional. Assim, o processo de qualificação e seleção de fornecedores permite diminuir a sub- jetividade e imprevisibilidade associada à aquisição de insumos. 2.5.1 - Parâmetros Para a avaliação de Fornecedores A avaliação do desempenho dos fornece- dores quanto aos acordos firmados na for- mação das parcerias e durante os processos de negociação e aquisição requer o cumpri- mento dos requerimentos legais, técnicos, econômicos, ambientais e sociais da com- pra responsável. A avaliação do fornecedor compreende duas partes: a avaliação feita pelos se- tores de planejamento, de projeto e de produção e a avaliação feita pelo setor de compras, visando o recredenciamento e a requalificação do fornecedor já existente, assim como pode ser utilizado no cadas- tramento de novos fornecedores. O setor de produção, responsável pelo re- cebimento, conferência, aplicação e mo- nitoramento do desempenho do produto, deve avaliar o fornecedor de forma com- partilhada com o setor de compras. Entre os parâmetros a serem contemplados pelo instrumento de avaliação, são apresentados aqueles que afetam diretamente a qualida- de do produto final. O fornecedor que preza a parceria estabele- cida atende os requisitos do Código de Defe- sa do Consumidor. Sem burocracia,apresen- ta os termos de garantia legal dos produtos e serviços e de garantia certificada, honra os prazos de garantia certificada, apresenta o manual de garantia juntamente com o ma- nual técnico de uso, operação e manuten- ção do produto ou serviço, além de garantir o fornecimento de assistência técnica, com facilidade de comunicação e rapidez na so- lução de problemas. No mínimo, o fornecedor deve fornecer re- latórios de ensaios tecnológicos e inspeção. Ainda, deve apresentar o Manual de Proce- dimentos para a Qualidade e padronização de seus processos. Para alguns fornece- dores, quando conveniente e conforme o seu enquadramento, devem ser exigidos Sistemas de Gestão da Qualidade implanta- dos, Certificação de Sistema de Gestão da Qualidade ou Certificado de Avaliação da Conformidade de acordo com o PSQ, assim como a declaração de vida útil de projeto do produto fornecido. O fornecedor comprometido com a compra responsável cumpre os prazos de entrega, apresenta nota fiscal com a descrição deta- lhada da especificação do produto e identifi- cação da fonte da matéria-prima, compatível com as ordens de compra com as especifi- cações e os itens de projeto. Entregues na quantidade certa e na qualidade comprova- da, os produtos devem apresentar embala- gens identificadas. 2.5 - avaliação de Fornecedores A avaliação de fornecedores é um mecanis- mo de controle que registra o desempenho, as não conformidades e os procedimentos adotados para sanar os problemas por meio de ações corretivas. A criação de uma base de dados contendo informações sobre os principais fornecedores de materiais e de serviços facilita o credenciamento de novos fornecedores e o recredenciamento dos for- necedores já cadastrados, fortalecendo e va- lorizando as parcerias. É importante elaborar um diagnóstico inicial, visando identificar o nível atual de responsa- bilidade ambiental e social dos fornecedo- res. Esse diagnóstico confrontado com os valores estabelecidos pela política adotada permite a decisão sobre a eliminação de um fornecedor o estabelecimento de um plano gradual de adequação. Devido à extensão e complexidade da rede de fornecedores de matéria-prima, elementos, componentes e serviços, a ade- quação a todos os critérios pode ser feita em etapas. Uma vez tendo sido diagnos- ticado o grau de distanciamento entre o desempenho ambiental e social atual dos fornecedores e o atendimento aos requisi- tos de compra responsável do PRAS, é pos- sível estabelecer um plano de qualificação de fornecedores, com o estabelecimento de metas e planos de ação, com prazos de- finidos para sua adequação. A atividade de avaliação da conformidade está organizada por processos. Depois de es- tabelecida a parceria entre comprador e for- necedor, é necessário um processo contínuo de avaliação do fornecedor visando manter a qualificação desses fornecedores como par- ceiros comprometidos com o processo de compra responsável. 5150 GuIA dE CompRAS RESponSáVEIS nA ConStRuÇão Parte 1 - PrincíPios, valores e diretrizes Para gestão estratégica 2.6 - as diretrizes Para ação: PrincíPios, critérios e indicadores Os processos de compra das empresas de construção sempre se pautaram em valo- res econômicos, prevalecendo sobre os valores ambientais e sociais. No entanto, a CPIC caminha para um novo patamar que requer mais compromisso com a responsa- bilidade sócio ambiental e com a confor- midade. Esse processo é evolutivo e para ser consolidado é necessária a aprendiza- gem organizacional. Tradicionalmente, os fornecedores da CPIC não estão habituados a fornecer dados subs- tanciados em suas atividades produtivas e seus impactos. Esse paradigma deve ser mu- dado na medida em que os compradores, exercendo o seu poder de compra, passem a exigir o cumprimento dos requisitos para aquisição de insumos conforme os princí- pios de compra responsável. A meta, em curto prazo, é estabelecer princí- pios, critérios e indicadores que possam ser cumpridos progressivamente, fortalecendo as relações de compromisso entre compra- dores, fornecedores e a sociedade. 2.6.1 - PrincíPios Os princípios de uma política de compra responsável são as referências fundamen- tais para estabelecer padrões de conduta para as tomadas de decisão. São os princí- pios que regem as ações e os procedimen- tos a serem tomados. Uma empresa comprometida com a compra responsável tem por princípio selecionar for- necedores responsáveis e estabelecer parce- rias dentre aqueles comprometidos com a sua política. O processo de compra responsável visa a melhoria daqualidade e o combate à não conformidade sistemática. Isso requer parce- rias com fornecedores que buscam adequa- ção às normas técnicas e a adesão a sistemas de gestão e certificação. A seleção de insumos deve ser feita com base em aspectos de sustentabilidade e as empresas devem visar o aumento contínuo da proporção adquirida de matérias-primas, componentes, elementos e serviços origi- nados de processos ambiental e socialmen- te responsáveis. Os impactos ambientais e sociais podem ocorrer desde a extração de recursos, como na produção, na comerciali- zação e no fim do ciclo de vida dos materiais. Portanto, a rastreabilidade e a conformidade legal são a base para a aquisição responsável de materiais. O processo de compra com base no menor preço e em critérios exclusivamente técnicos deve ser suplantado pela aquisição de insu- mos que considere os custos globais, e isso inclui responsabilidade ambiental e social. O custo do ciclo de vida do produto considera os custos de operação, manutenção e demo- lição durante a sua vida útil, além dos custos de fabricação. Com base nos princípios e suas diretrizes são determinados os critérios para a aquisição responsável dos materiais. 2.6.2 - critérios e indicadores Para aquisição resPonsável de materiais A empresa construtora deve assegurar que o processo de compra esteja conforme os seus princípios para aquisição responsável 5352 GuIA dE CompRAS RESponSáVEIS nA ConStRuÇão Parte 1 - PrincíPios, valores e diretrizes Para gestão estratégica de insumos. Para cada princípio são estabe- lecidos os critérios mínimos que devem ser atendidos para a compra responsável. Os critérios determinam objetivamente quais são as condições mensuráveis do pro- duto a ser adquirido que devem ser atendi- das para satisfazer as necessidades mínimas do cliente. Os critérios adotados fortalecem a política de compra responsável, contri- buindo com o cumprimento, por parte dos fornecedores, dos princípios declarados. O uso de indicadores e verificadores auxilia este processo, permitindo a verificação dos documentos e instrumentos necessários requeridos nas negociações para a compra, validando os critérios estabelecidos. 2.6.3 - reFerenciais normativos Os referenciais normativos tratados nesse Guia dizem respeito ao sistema de normali- zação, normas técnicas voluntárias nacionais e internacionais. No escopo das normas técnicas nacionais o Instituto Nacional de Metrologia (Inme- tro) é o organismo brasileiro responsável pela gestão dos Programas de Avaliação da Conformidade, no âmbito do Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformida- de - SBAC. O Inmetro também é o acredi- tador dos Organismos de Avaliação de Conformidade (OAC), ou Organismos Certificadores, responsáveis pelas audito- rias de certificação. Seu objetivo é implantar de forma assisti- da programas de avaliação da conformi- dade de produtos, processos, serviços e pessoal, alinhados às políticas do Sistema Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Sinmetro) e às práticas internacionais, promovendo com- petitividade, concorrência justa e proteção à saúde e segurança do cidadão e ao meio ambiente. Cabe ao Inmetro acreditar os or- ganismos que atuam na avaliação da con- formidade dos produtos alvos. Os OAC fornecem os serviços de avaliação da conformidade: certificação de sistemas de gestão, certificação de produtos, certi- ficação de pessoas, ensaios, calibração e inspeção. O Foro Nacional de Normalização e o órgão representante do Brasil no Sistema Internacional de Padronização (Interna- tional Standardization for Organizational– ISO) é a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Na ABNT os Comitês Bra- sileiros são responsáveis pelos conteúdos das Normas Brasileiras (NBR) Os processos de certificação dos sistemas de gestão da qualidade e meio ambiente baseiam-se em normas da série ISO 9.000 e ISO 14.000. A série ISO 9.000 – Normas de Sistema de Gestão da Qualidade e Garantia da Quali- dade enfatizam a implantação de uma ges- tão empresarial com padrões gerenciais e organizacionais que busca melhorar a qualidade por meio da melhoria contínua dos processos, aumentando a satisfação do cliente na medida em que atende os seus requisitos. A certificação pode ser de sistema ou de produto. É importante res- saltar que a certificação de sistema de ges- tão, por si só, não garante a qualidade de um produto. Para certificar um produto é necessária a realização de testes e ensaios em laboratórios acreditados, de acordo com normas específicas e procedimentos padronizados. A Certificação de Sistema de Gestão da Qualidade é realizada por meio da verifica- ção de conformidade aos requisitos e pro- cedimentos de gestão definidos na norma ABNT NBR ISO 9001 - Sistemas de gestão da qualidade - Requisitos. A série ISO 14.000 é composta de normas que enfocam os diversos aspectos da ges- tão ambiental das empresas e dos produ- tos. Algumas normas da série estão desta- cadas. ABNT NBR ISO 14.001:2005- Sistema de gestão ambiental - Requisitos com orien- tações para uso. Esta norma especifica re- quisitos relativos a um sistema de gestão ambiental permitindo a uma organização desenvolver uma política e objetivos que considerem requisitos legais e outros re- quisitos para controle de impactos am- bientais. É a norma auditável da série. Série ABNT NBR ISO 14.020 a 14.025 - Rotulagem ambiental de produtos - abrangem as normas de avaliação dos pro- dutos e aspectos ambientais da produção incluindo, respectivamente: princípios bá- sicos; auto declarações; símbolos; metodo- logia para testes e verificações ambientais; princípios, práticas, critérios e procedi- mentos de certificação e metas e princí- pios de toda rotulagem ambiental. ABNT NBR ISO 14.040:2009- Gestão Am- biental – Avaliação do ciclo de vida – Prin- cípios e estrutura - Esta Norma especifica a estrutura geral, princípios e requisitos para conduzir e relatar estudos da avaliação do ciclo devida. ABNT NBR ISO 14.044 - Gestão ambien- tal– Avaliação do ciclo de vida – Requi- sitos e orientações para avaliação de ciclo de vida. Além das séries ISO 9.000 e ISO 14.000, ou- tras normas técnicas embasam o forneci- mento de serviços de avaliação da confor- midade. Para as certificações relacionadas 5554 GuIA dE CompRAS RESponSáVEIS nA ConStRuÇão Parte 1 - PrincíPios, valores e diretrizes Para gestão estratégica com a Responsabilidade Social, os principais documentos técnicos são: A NBR 16.001:2012 - Responsabilidade social - Sistema da gestão – Requisitos é a norma brasileira que estabelece os re- quisitos mínimos relativos a um sistema da gestão da responsabilidade social, permi- tindo à organização formular e implemen- tar uma política e objetivos que levem em conta os requisitos legais e outros, seus compromissos éticos e sua preocupação com a promoção da cidadania, do desen- volvimento sustentável e a transparência das suas atividades. A NBR ISO 26.000:2010 - Diretrizes sobre Responsabilidade Social fornece diretri- zes visando orientar as organizações de to- dos os tipos e tamanhos sobre os cuidados e princípios que devem ser observados por instituições, empresas e demais entidades que desejam ser socialmente responsáveis, maximizando sua contribuição para o de- senvolvimento sustentável. A Norma AS 8000:2008 - Responsabili- dade Social publicada pela Social Accou- ntability International (SAI) especifica os requisitos de responsabilidade social para certificação/declaração de adesão ao mo- vimento de responsabilidade social. As normas e guias que tratam da seguran- ça e saúde do trabalhador compreendem diversos documentos que se complemen-
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