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Scheila Maria 2016 1 GASTRO – CONSTIPAÇÃO Definição: Constipação é uma condição na qual a freqüência ou quantidade de defecação é reduzida. Critérios de ROMA II: o Esforço pelo menos 25% das evacuações o Fezes endurecidas ou fragmentadas em pelo menos 25% das evacuações o Sensação de evacuação incompleta em pelo menos 25% das evacuações o Sensação de obstrução ou interrupção da evacuação em pelo menos 25% das evacuações o Manobras manuais para facilitar pelo menos 25% das evacuações o Menos de 03 evacuações por semana São considerados constipados aqueles que apresentam 2 ou mais desses sintomas por pelo menos três meses (não necessariamente consecutivos) no último ano. Mais comum em mulheres – 4 x mais frequente no sexo feminino Etiologia: o Fatores dietéticos: baixa ingestão de fibras, baixa ingestão hídrica o Fatores gerais: falta de exercícios, pacientes acamados o Congênita: aganglionose, meningocele, tumores medulares ou sacrais neonatais o Endócrina: hipotireoidismo, hipercalcemia, hipocalemia... o Neurológica: Parkinson, lesões medulares, AVC prévio o Cirurgias abdominais o Metabólicas: diabetes melittus o Distúrbios intestinais: CA, pólipos, SII, endometriose, megacólon. o Medicamentos: opióides, antidepressivos, ferro, antipsicóticos... o Idiopática: Inércia colônica, obstrução de saída [retocele, enterocele, anismus] Inércia colônica: distúrbio de etiopatogenia ainda desconhecida caracterizada por dismotilidade generalizada dos cólons, causando constipação crônica incapacitante que costuma não responder a medidas conservadoras. Quando não há resposta ao tratamento clínico indica-se a cirurgia que consiste na colectomia total com ileorretoanastomose, visto que as ressecções segmentares não apresentam resultados satisfatórios. Enterocele: herniação do saco peritoneal entre o reto e a vagina, no interior da qual podem ser encontradas alças de intestino delgado. Sua causa exata não é conhecida. A correção da enterocele é cirúrgica e consiste na plicatura do fundo de saco. Sigmoidocele: presença do sigmóide numa herniação do fundo de saco de douglas entre o reto e a vagina. As sigmoidoceles podem ser de primeiro, segundo ou terceiro graus. A de terceiro grau é de tratamento cirúrgico e consiste na sigmoidectomia. Anismus: contração paradoxal do puborretal Scheila Maria 2016 2 Exames complementares o Laboratoriais o Colonoscopia o Enema opaco o Biópsia retal o Manometria anorretal o Tempo de trânsito colônico o Defecograma Tempo de trânsito colônico: 20 A 24 marcadores são engolidos. São feitas chapas de RX no D1 (24 h), D3 (72 h) e D5 (120 h). A retenção de mais de 20 % dos marcadores é diagnóstico de inércia colônica. Uma vez tendo sido feito o diagnóstico de inércia colônica, é preciso afastar pandismotilidade com um trânsito de delgado utilizando radioscopia. Tratamento: o Aumentar ingestão de fibras – 30 a 35 g / dia o Aumentar ingestão de água – 2 a 2 ,5 litros/dia o Estimular atividade física o Evitar alimentos constipantes o Horário e obediência do reflexo da evacuação o “Laxantes – uso racional – preferencialmente osmóticos” o “A investigação das outras causas deve ser iniciada quando não há resposta às medidas iniciais ou quando já existe suspeita de uma causa específica já na primeira consulta.” OBS: Os laxativos devem ser usados com muita cautela e por curto período de tempo. Tem indicação especial nos casos de suspeita de constipação secundária. O laxante catártico estimula os plexos de Meissner e Auerbach a produzir o reflexo de evacuação. O laxante osmótico têm outro mecanismo de atuação. CASO CLÍNICO 1: Paciente de 27 anos com história de que há cerca de 4 anos está com dificuldade para evacuar. Ritmo intestinal de 1 vez a cada 4 a 5 dias com fezes bastante ressecadas. Refere ainda sangramento anorretal ao evacuar, em pequena quantidade, de coloração vermelho vivo sem proctalgia associada. Nega co-morbidades, uso de medicamentos, cirurgias prévias. Ao exame físico: abdome normal. Proctológico: doença hemorroidária grau II. Conduta? OD com suplemento de fibras. Ligadura elástica das hemorroidas. Paciente jovem, sem provável causa secundária da sua constipação tem provável ingesta inadequada de fibras e/ou líquido. Scheila Maria 2016 3 CASO CLÍNICO 2: Paciente de 30 anos com história de ressecamento há aproximadamente 6 meses associado a proctalgia e sangramento anorretal durante a evacuação, em pequena quantidade, de coloração vermelho vivo. Ritmo intestinal de 1 vez a cada 7 dias. Refere ter gastrite em uso contínuo de hidróxido de alumínio. Nega cirurgias prévias. Ao exame físico: abdome normal. Proctológico: fissura crônica em comissura anal posterior com plicoma sentinela e hipertonia esfincteriana ao toque. Conduta? Trata-se de um caso de constipação secundária ao uso de hidróxido de alumínio. Devemos suspender hidróxido de alumínio, repetir EDA. OD com suplemento de fibra solúvel e tratar a fissura anal. CASO CLÍNICO 3: Paciente de 27 anos com queixa de fezes ressecadas há cerca de 2 anos, com piora progressiva. Ritmo intestinal de 1 vez a cada 5 a 7 dias, com fezes em sibalos. Refere ainda que bebe muita água e come frutas e verduras todos os dias e mesmo assim não consegue evacuar. Nega co-morbidades, cirurgias prévias. Exame físico e proctológico: normais Conduta? Já que a paciente já está ingerindo fibras e líquidos adequadamente, trata-se possivelmente de um caso de constipação secundária. A conduta inicial deve ser a de iniciar investigação + associar um laxante osmótico (lactulona ou macrogol). Manter a ingesta adequada de frutas, verduras, folhas e água. o Investigação: Hemograma, ureia, creatinina, glicemia, cálcio, potássio, magnésio, T3, T4, TSH, reação de Machado Guerreiro. [Os exames revelaram T4 baixo e TSH elevado – conclusão: constipação intestinal secundário a hipotireoidismo.] Conduta? Iniciar reposição de hormônio tireoidiano e investigar causa do hipotireoidismo. CASO CLÍNICO 4: Paciente de 57 anos com queixa de ressecamento há 6 meses com piora progressiva, chegando a ficar 10 dias sem evacuar, associado a fraqueza e perda de peso (10 Kg em 1 ano). Refere ainda que as fezes estão saindo afiladas (fezes em fita). Informa ser hipertenso controlado com captopril. Nega cirurgias prévias. Exame físico: paciente com queda do estado geral, descorado ++/IV, eupneico, anictérico. Abdome plano, simétrico, indolor à palpação, sem visceromegalias ou massas palpáveis. Exame proctológico: presença de fezes escurecidas no dedo de luva. Conduta? A história é compatível com constipação secundária a provável neoplasia de cólon esquerdo alto (constipação recente com fezes escurecidas). A conduta inicial deve ser: OHD + laxante osmótico + iniciar investigação para constipação secundária e, neste caso, por se tratar Scheila Maria 2016 4 de uma paciente com idade superior a 50 anos e ter sinais e sintomas compatíveis com neoplasia de cólon devemos acrescentar uma colonoscopia já na fase inicial da investigação. o Investigação: Hemograma, ureia, creatinina, glicemia, cálcio, potássio, magnésio, T3, T4, TSH, reação de Machado Guerreiro. [Os exames laboratoriais revelaram uma anemia microcítica e hipocrômica. A colonoscopia mostra presença de lesão vegetante em cólon descendente proximal, ocupando ¾ da luz, que impedia a progressão do aparelho. A biópsia revelou: adenocarcinoma bem diferenciado. ] Conduta? Tratamento cirúrgico (colectomia a esquerda) CASO CLÍNICO 5: Paciente de 32 anos de idade com história de ressecamento intestinal associado a desconforto abdominal por gás há cerca de 3 anos. Informa que só consegue evacuar se fizer uso de laxativos. Informa uso regular de lactopurga (bisacodil) há 5 anos, sendo que teve de aumentar a dose porque já não estava fazendo mais efeito. Nega cirurgias prévias, co-morbidades. Exame físico e exame proctológico: normais Conduta? Orientar suspender laxante catártico. OHD + fibras + pode associar um laxante osmótico + lavagem intestinal com água se ficar mais de 3 dias sem evacuar. Paciente retorna ao consultório informando que só consegue evacuar se fizer uso de lavagem intestinal Conduta? Iniciar investigação para constipação secundária. o Investigação: Hemograma, uréia, creatinina, glicemia, cálcio, potássio, magnésio, T3, T4, TSH, reação de Machado Guerreiro. [Todos os exames normais] Conduta? Continuar investigação: colonoscopia, enema opaco, Ultrassonografia de abdome total. [Todos resultados normais.] Conduta? Continuar investigação: tempo de trânsito colônico [Resultado: Houve retenção de 90 % dos marcadores metálicos ao nível do cólon esquerdo após o quinto dia. Conclusão: inércia colônica.] Conduta? Tentar tratamento com prócinético (tegaserode) e cirurgia se não houver resultado (colectomia total com ileorretoanastomose) CASO CLÍNICO 6: Paciente de 45 anos com queixa de intenso esforço evacuatório e tenesmo há 4 anos. Nega sangramento retal. Ritimo intestinal de 1 vez ao dia, porém tem que colocar muita força.Nega co-morbidades, cirurgias prévias, uso de medicações . Exame físico: normal. Ao exame proctológico: presença de retocele. Scheila Maria 2016 5 Conduta? OHD + fibras solúveis (aumentar o volume fecal). Solicitar defecograma. Paciente retorna ao consultório informando que não melhorou. Traz resultado do defecograma: presença de retocele grande com retenção de 90% do contraste ao esforço evacuatório Conduta? Indicar tratamento cirúrgico da retocele
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