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Scheila Maria 2016 1 CARDIO – PÉ DIABÉTICO E ÚLCERAS DE PERNA PÉ DIABÉTICO [INTRODUÇÃO] A Diabete Melito (DM) causa distúrbios na metabolização de glicídios e lipídeos que, cronicamente causam alterações em outros órgãos. A ocorrência de doença vascular, infecção e neuropatia pode produzir lesões nos pés de certos pacientes diabéticos que, por suas características específicas criam um quadro clínico suficientemente caracterizado para merecer a denominação: pé diabético. O termo engloba múltiplos sinais e sintomas que ocorrem no pé do diabético desde os distúrbios funcionais leve iniciais até as lesões gangrenosas multilantes finais. Antes de surgirem as lesões distróficas já ocorrem deformidades: sindactilia (sinal de Arduino); atrofia do coxim dermoadiposo plantar; dedos em martelo; dedos sobrepostos; Halux valgus; cabeça de metatarsianos proeminentes; convexidade mediana reduzida; queda de pêlos; anidrose; subluxações articulares; anomalias das unhas; “queda” do hálux (A.duque). Tais deformidades logo se associam a distúrbios: micoses interdigitais e ungueais; calosidades; mal perfurante; fissuras no calcâneo (f. Duque); ulcerações superficiais e hiperpigmentação macular. Diante da vulnerabilidade causada pelos distúrbios nervosos e vasculares o pé diabético é facilmente vítima de lesões traumáticas ou bacterianas formando: abscessos; celulites; úlceras; linfangite; necrose tecidual; gangrenas; lesões ósseas e infecções de pele. Os sintomas subjetivos quase sempre são a primeira manifestação das lesões. Podem surgir antes da instalação de lesões vasculares e estruturais e da hiperglicemia franca, no entanto podem estar ausentes quando há lesões tróficas de monta. Na maioria das vezes a neuropatia sensitiva periférica surge após se instalar a hiperglicemia e se manifesta por: HIPOESTESIA, ANESTESIA, PARESTESIA, DOR FULGURANTE, URÊNCIA CUTÂNEA e DISTÚRBIOS VASOMOTORES. [CLASSIFICAÇÃO] a. Macroangiopáticas: A macroangiopatia diabética é a diminuição da circulação sangüínea nos vasos sangüíneos de maior calibre devido à sua obstrução ou estreitamento. A aterosclerose no diabético é mais precoce e grave acometendo freqüentemente as artérias da perna. São lesões cutâneas do tipo isquêmica geralmente nos pododáctilos ou locais onde ocorreu trauma, muito dolorosas (exceto quando há neuropatia sensitiva), grande dificuldade de cicatrização, sem sinais de infecção, pálidas, sem tecido de granulação, bordos irregulares ou necróticos. Scheila Maria 2016 2 b. Microangiopáticas: A microangiopatia diabética é uma alteração vascular periférica que se caracteriza pela diminuição da circulação sangüínea nos pequenos vasos devido ao seu estreitamento ou obstrução. Atinge a retina, os rins, a pele e nervos evoluindo para a neuropatia diabética. A isquemia (falta de circulação sangüínea) é geralmente bilateral, multi segmentar e afeta, principalmente, os vasos abaixo dos joelhos. Lesões cutâneas bem localizadas e delimitadas em regiões de pé ou perna sem relação com pontos de pressão, muito dolorosas, difícil cicatrização, bordos atróficos, fundo pálido, sem tecido cicatricial ou de granulação. Estudo arteriográfico normal. c. Infecciosa: A microangiopatia e a neuropatia fazem com que o diabético esteja mais predisposto à infecção do que outras pessoas devido a má oxigenação dos tecidos decorrente da circulação sangüínea deficiente e diminuição das s defesas protetoras. As lesões são purulentas, com edema, tecido infectado com ou sem abscessos, rubor perilesional, dor, reação inflamatória a distância (febre, alterações no hemograma, aumento de linfonodos regionais e descompensação do DM). Pode ocorrer em mão, braço e pênis com menor frequência. d. Neuropática: O diabetes mellitus pode afetar o sistema nervoso central, o periférico e o autonômico, causando disfunção dos mesmos – neuropatia diabética. A neuropatia diabética periférica mais comum é a neuropatia simétrica bilateral em "meia ou bota" nos membros inferiores e causa a diminuição da sensibilidade dolorosa e térmica da região. O pé com neuropatia é caracteristicamente sadio e bem nutrido, tem pêlo e mantém boa pulsação arterial na sua extremidade. As lesões surgem em pontos de maior pressão, atróficas, com espessamento cutâneo, indolores, resistentes ao tto, acompanhadas de lesões ósseas, presença de mal perfurante plantar (úlcera isolada em ponto de pressão na região plantar, com bordos elevados e fundo vascularizado, sem sinais de infecção), apresentam progressão lenta formando áreas centrais de necrose. e. Mistas: Os tipos de lesão podem estar associados (angiopáticas e infecciosas, neuropáticas e infecciosas, neuropáticas e angiopáticas). [FISIOPATOLOGIA] A neuropatia sensitivo-motora e a autonômica são a causa mais importante das úlceras diabéticas. Ocorre redução da sensibilidade a dor não alertando para a presença de lesão. A arteriopatia oclusiva crônica gera isquemia e é outro fator contribuinte para a formação de lesões juntamente com a predisposição a infecção. Desta forma há as ulcerações puramente neuropáticas e puramente isquêmicas e há um grupo misto de úlceras neuro- isquêmicas. Além a própria hipergligemia a aterosclerose* e a esclerose da camada média são causas comuns de complicações vasculares no diabético. A ateroesclerose causa isquemia pelo estreitamento e oclusão dos vasos [A lesão endotelial atrai macrófagos que viram células gordurosas depositando lipoproteínas e contribuindo na formação de placas de gordura]. A esclerose da média (esclerose de Moenckeberg) é a calcificação da camada média produzindo Scheila Maria 2016 3 um conduto rígido sem, no entanto, invadir o lúmen arterial (portanto não causa isquemia mas interfere de forma grave nas medições indiretas da pressão arterial) O aumento de lípases como LPL + hipoinsulinemia culminam em aumento de triglicérides e redução de HDL aumentando a viscosidade do sangue e facilitando fenômenos oclusivos. OU SEJA: as lesões do pé diabético frequentemente resultam de uma combinação entre dois ou mais fatores de risco ocorrendo concomitantemente. Na neuropatia diabética periférica, todas as fibras, sensitivas, motoras e autonômicas, são afetadas. A neuropatia sensitiva está associada à perda da sensibilidade dolorosa, pressão, temperatura e propiocepção. Devido a isso os estímulos para percepção de ferimentos ou traumas estão diminuídos. A neuropatia motora acarreta atrofia e enfraquecimento dos músculos intrínsecos do pé, resultando em deformidades e padrão anormal da marcha formando áreas de maior pressão, como sob os metatarsos e dedos. A neuropatia autonômica conduz a redução da secreção sudorípara, levando ao ressecamento da pele, com rachaduras e fissuras. Além disso, há um aumento do fluxo sangüíneo, através dos shunts artério-venosos, resultando em um pé quente, algumas vezes edematoso, com distensão das veias dorsais. Nas úlceras plantares, os calos formam-se devido ao estresse mecânico repetitivo, e, finalmente, desenvolve-se a úlcera, muitas vezes, precedida de uma hemorragia subcutânea. A doença vascular periférica (DVP) é o fator mais importante relacionado ao resultado de uma úlcera no pé. Quando em combinação com traumas leves ou danos triviais pode resultar em uma úlcera dolorosa, puramente isquêmica. Entretanto, a DVP e a neuropatia estão presentes, mais freqüentemente, no mesmo paciente. A microangiopatia, no entanto nunca deve ser aceita como causa primária de uma úlcera Edemas relativamente leves, causados, por exemplo, por traumas, trombose séptica ou infecção podem resultar em uma oclusão totaldas artérias distais já comprometidas, levando à gangrena do pododáctilo. A infecção raramente é a causa direta de uma úlcera. No entanto, uma vez que a úlcera já se tenha complicado por uma infecção, o risco de uma amputação subseqüente é maior. Embora diversos estudos tenham demonstrado que os traumas relacionados aos calçados constituam o evento precipitante mais importante de uma úlcera, muitas das vias fisiopatológicas descritas anteriormente agem em conjunto na maioria das úlceras do pé diabético. O entendimento dessas vias que levam à ulceração capacitam o desenvolvimento de estratégias para permitir a identificação de pacientes de alto risco e prevenir as interações potencialmente perigosas, as quais, freqüentemente, resultam em ulcerações. OBS*: A aterosclerose no diabético é mais frequente, afeta indivíduos mais jovens, progride mais rapidamente, é multissegmentar e é mais distal. [DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO] O diagnóstico é basicamente clínico e deve ser feito conforme a lesão predominante. Ou seja, antes de iniciar o tratamento deve-se classificar a lesão para que a terapêutica possa ser individualizada. Scheila Maria 2016 4 Um simples exame clínico, avaliando-se a cor e temperatura da pele, a palpação dos pulsos dos pés, a medida da pressão do tornozelo, pode diagnosticá-la. Dor em repouso resultante da isquemia pode estar ausente em pacientes diabéticos devido à neuropatia periférica Uma abordagem conservadora deve envolver um programa de caminhadas, uso de calçados adequados, suspensão do fumo e tratamento incisivo da hipertensão e dislipidemia, caso não haja úlcera ou gangrena presentes. As taxas de patência (patency) e de recuperação dos membros após revascularização não são diferentes entre pacientes diabéticos e não diabéticos; portanto o diabetes não é uma razão para se adiar o tratamento. a. Lesões isquêmicas: O diagnóstico da isquemia na extremidade inferior é basicamente clínico, palpando-se os pulsos pediosos, tibiais, poplíteos e femorais. O Doppler portátil pode ser útil em casos de pulsos de difícil palpação. Quando há calcificação da camada média as medidas de pressão pelo índice tornozelo-braço não detecta o fluxo de sangue de forma adequada. A medida da pressão deve ser avaliada por pequenos manguitos nos pododáctilos. O estudo arteriográfico deve ser feito em todos os casos com perspectiva de tto cirúrgico. O tratamento clínico é muito importante porém há algumas alternativas: pulsoterapia venosa e stents vasculares por exemplo. b. Lesões neuropáticas: Usualmente não é difícil diagnosticar lesões cutâneas provocadas pela neuropatia diabética devido às características típicas. Usualmente se confirma o diagnóstico pelo estudo radiológico do pé onde podem estar presentes alterações ósseas conhecidas como pé de Charcot. Pode-se excluir através da palpação dos pulsos e do Doppler. Exame neurológico detecta redução dos reflexos aquiliano e patelar bem como diminuição da sensibilidade dolorosa. [todo pé diabético neuropático deve ser radiografado e mostram imagens bastante características como reabsorção óssea em ponta de lápis]. Alguns dos testes importantes para detecção de neuropatia são: a. Monofilamentos de Semmes-Weinstein: a incapacidade de percepção de um monofilamento de 10g nos dedos ou dorso do pé prevê futuras ocorrências de úlceras nos pés b. Testes de percepção de vibração. Estudos prospectivos demonstraram que a diminuição na sensação vibratória prevê subseqüente ulceração c. O diapasão graduado 128 Hz pode ser utilizado como uma alternativa para medir a sensação vibratória Em sua fase mais avançada o pé neuropático é deformado e com pontos de pressão alterados. Se o diagnóstico de neuropatia diabético é obtido, a única opção de tratamento disponível, no momento, é o controle metabólico rígido. O tto clínico consiste em confecção de sapatos especiais que se adequem aos novos pontos de pressão de forma a prevenir as úlceras. O tto cirúrgico inclui ressecções e enxertos de pele. Scheila Maria 2016 5 c. Lesões infecciosas: O tratamento deve ser precoce, com ATB de largo espectro e cirurgia, quando necessário. Usualmente há descompensação metabólica que deve ser tratada com reposição hidroeletrolítica parenteral e insulinoterapia venosa nos casos mais graves. As formas mais graves são abscessos plantares e fasciítes. O tratamento inclui a fasciotomia plantar. Todas as formas clínicas podem evoluir para a amputação, sendo mais frequentes em pacientes com isquemia ou infecções graves.
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