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Emp III Unidade II Comissão

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UNIDADE II - COMISSÃO (CC, Arts. 693 a 709) 
 
 
 
 
2.1 - Conceito. 
 
 É o contrato pelo meio do qual uma pessoa, o comissário, 
celebra, em nome próprio, negócios de compra e venda de bens 
móveis ou imóveis, mas no interesse de outrem, o comitente, 
mediante o pagamento de uma remuneração, a comissão. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2.1.1 – A comissão pode ser relativa a atividades empresariais e civis? 
 
CCom, Art. 165 - A comissão mercantil é o contrato do mandato relativo a negócios mercantis, 
quando, pelo menos, o comissário é comerciante, sem que nesta gestão seja necessário declarar 
ou mencionar o nome do comitente. 
CC, Art. 2.045. Revogam-se a Lei no 3.071, de 1o de janeiro de 1916 - Código Civil e a Parte 
Primeira do Código Comercial, Lei no 556, de 25 de junho de 1850. 
 
2.1.2 – Só haverá comissão de bens móveis? 
 
MANDATO. PRESTAÇÃO DE CONTAS. MORTE DO MANDANTE. O direito de exigir a prestação 
de contas do mandatário transmite-se aos herdeiros do mandante, pois o dever de prestar decorre 
da lei e não está vinculado à vigência do contrato. Na hipótese, o contrato foi firmado para 
alienação de imóvel, portanto o prazo prescricional da ação de prestação de contas inicia-se após 
a realização de seu objeto. Assim, a obrigação do mandatário de prestar contas subsiste a extinção 
do mandato. De fato, a morte do mandante cessa o contrato; porém, por força do art. 1.784 do CC, 
uma vez aberta a sucessão, os herdeiros ficam automaticamente investidos na titularidade de todo o 
acervo patrimonial do de cujus, formando-se o vínculo jurídico com o mandatário. (REsp 474.983-
RJ, DJ 4/8/2003. REsp 1.122.589-MG, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 
10/4/2012). 
 
 
2.2 - Natureza jurídica. 
 
 Na dicção do código de 2002 o contrato de comissão é tipo contratual autônomo, que se 
rege por normas próprias e peculiares a sua destinação. 
 
2.2.1 – Classifica-se em: 
 
a) BILATERAL, uma vez que gera obrigações para o comitente e o comissário: este tem de 
realizar a alienação ou aquisição a que se obrigou, e aquele tem de prestar-lhe a remuneração 
ajustada. 
 
b) CONSENSUAL, porque se aperfeiçoa com o acordo de vontades, independentemente da 
entrega do objeto e de qualquer solenidade especial. 
 
c) ONEROSO, pois ambos os contratantes obtêm proveito, tendo o comissário direito à 
contraprestação ou comissão pelos serviços prestados. Por sua natureza, opõe-se a qualquer 
ideia de liberalidade ou doação. 
 
d) COMUTATIVO, tendo em vista que as obrigações recíprocas são certas e conhecidas das 
partes. Se uma delas não cumpre a que assumiu, a outra pode deixar de executar a sua 
invocando a exceptio nom adimpleti contractus. 
 
e) NÃO SOLENE, visto que não está adstrito a forma prescrita em lei, podendo ser celebrado 
verbalmente e provado por todos os meios de provas permitidos em direito, inclusive por 
verificação dos livros mercantis do comissário. 
 
f) INTUITU PERSONAE, por ser celebrado em consideração à pessoa do comissário, levando-
se em conta as suas qualidades específicas e profissionais, como competência e honestidade, 
que a credenciam á realização do negócio. 
 
 
2.3 - Sujeitos. 
 
 O contrato de comissão envolve ao menos três sujeitos, dois 
deles se vinculam pelo próprio contrato e outro em decorrência deste. 
Vejamos: 
 
 
2.3.1 - Comitente. 
 
 É o dono do negócio, dos bens a serem alienados ou o interessado 
nos bens a serem adquiridos. Este por não ter qualificação ou até mesmo 
dispor de recursos, para a celebração do negócio, o comitente procura uma 
pessoal natural ou jurídica, para celebrar o negócio em nome próprio, mas 
em seu interesse. 
 
CC, Art. 693. O contrato de comissão tem por objeto a aquisição ou a 
venda de bens pelo comissário, em seu próprio nome, à conta do comitente. 
 
 
2.3.2 - Comissário. 
 
 Comissário e a pessoa que celebra com o comitente o contrato de comissão. É ele quem 
celebra a compra e venda de bens para o comitente. Faz tal negócio em nome próprio. 
 O valor auferido na venda de bens pertence ao comitente que pagará pelo serviço 
prestado a respectiva comissão ao comissário. E na compra de bens o domínio deste pertence 
ao comitente á conta de quem o comissário celebrou o negócio. 
 Diante da unificação do direito empresarial ao direito privado na atualidade tem-se 
entendido que não é obrigatório que o comissário seja empresário deste ramo específico de 
atividade. 
 
 
2.3.3 - Terceiro. 
 
 O terceiro esta presente na relação mas não faz parte diretamente 
do contrato de comissão, é o alienante ou adquirente dos bens negociados 
pelo comissário. 
 Não mantém o terceiro vinculo com o comitente, e na maioria das 
vezes nem sabe de sua existência presumindo que o comissário é o dono 
do negócio, pois este atua em nome próprio. 
 
 
2.4 Características. 
 
2.4.1 - Duplicidade de relações. 
 
a) Relação entre comissário e terceiro 
 
CC, Art. 694. O comissário fica diretamente obrigado para com as pessoas com quem contratar, 
sem que estas tenham ação contra o comitente, nem este contra elas, salvo se o comissário ceder 
seus direitos a qualquer das partes. 
 
CC, Art. 290. A cessão do crédito não tem eficácia em relação ao devedor, senão quando a 
este notificada; mas por notificado se tem o devedor que, em escrito público
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 ou particular, 
se declarou ciente da cessão feita. 
 
CC, Art. 294. O devedor pode opor ao cessionário as exceções que lhe competirem, bem 
como as que, no momento em que veio a ter conhecimento da cessão, tinha contra o 
cedente. 
 
 
PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CONTRA O COMISSÁRIO MERCANTIL. LITISCONSÓRCIO 
PASSIVO NECESSÁRIO DO COMITENTE. INOCORRÊNCIA. ART-166 DO CÓDIGO COMERCIAL 
(CCM-50). No contrato de comissão mercantil, o terceiro, que contratar com o comissário, não tem 
 
1 Há duas espécies de notificações: Uma delas é a comunicação a determinada pessoa, para lhe dar conhecimento oficial e 
legal de uma carta ou documento. A outra é comunicação de qualquer fato a determinada pessoa, para ciência, para que faça 
ou deixe de fazer alguma coisa, ou ainda, para conhecimento de qualquer texto determinado ao destinatário da carta (art. 160 
da Lei 6.015/1973). O mais usual é a notificação para constituição em mora. Muitos acordos são realizados graças à notificação 
extrajudicial, o que evita o processo judicial. Portanto, notifica-se alguém para se fazer prova do recebimento e de ter sido 
dado conhecimento do conteúdo de qualquer ato jurídico. Essa é uma maneira inequívoca de se fazer a constatação de que o 
notificado recebeu o documento e ficou ciente de seu conteúdo. O oficial que procede à notificação possui fé pública, 
entregando-a na forma da lei em vigor. O cartório que entrega a sua notificação possui fé pública, o que significa que, caso o 
destinatário se negue a receber ou assinar o recebimento, será registrada essa ocorrência e certificada a recusa, valendo como 
prova da entrega. 
 
ação contra o comitente, nem este contra aquele (ART-166 do Código Comercial). Portanto, em 
ação proposta contra o BRDE baseada em contrato por este firmado como comitente, não pode ser 
chamado o BNDES à lide como litisconsórcio passivo necessário, na condição de comitente. 
Excluído o BNDES da lide, remetem-se os autos à Justiça Estadual, competente para julgar o 
conflito entre as partes remanescentes. (TRF-4 - AMS: 14692 RS 96.04.14692-0, Relator: ANTONIO 
ALBINO RAMOS DE OLIVEIRA, Data de Julgamento: 10/11/1998, QUARTA TURMA, Data de 
Publicação: DJ 23/12/1998 PÁGINA: 665)CC, Art. 699. Presume-se o comissário autorizado a conceder dilação do prazo para pagamento, na 
conformidade dos usos do lugar onde se realizar o negócio, se não houver instruções diversas do 
comitente. 
 
 
 
 
 
 
CC, Art. 700. Se houver instruções do comitente proibindo prorrogação de prazos para pagamento, 
ou se esta não for conforme os usos locais, poderá o comitente exigir que o comissário pague 
incontinenti ou responda pelas conseqüências da dilação concedida, procedendo-se de igual modo 
se o comissário não der ciência ao comitente dos prazos concedidos e de quem é seu beneficiário. 
 
 
 
 
 
 
b) Relação entre comissário e comitente. 
 
 
 
CC, Art. 697. O comissário não responde pela insolvência das pessoas com quem tratar, exceto em 
caso de culpa e no do artigo seguinte (cláusula del credere). 
 
 
 
 
CC, Art. 698. Se do contrato de comissão constar a cláusula del credere, responderá o comissário 
solidariamente com as pessoas com que houver tratado em nome do comitente, caso em que, salvo 
estipulação em contrário, o comissário tem direito a remuneração mais elevada, para compensar o 
ônus assumido (compensação pecuniária particular). 
 
Cláusula 'del credere'. No que consiste. Trata-se de acordo acessório no qual o 
comissário assume a responsabilidade de responder pela solvência daqueles que, por sua 
intermediação e em decorrência da revenda desses produtos, vierem a contratar com a 
comitente, ou seja, o "comissário deixa de ser um simples intermediário e passa a ser gerente da 
solvabilidade de terceiro". 
 
 
Qual o propósito da cláusula del credere? 
 
Pode o comissário ter compensação pecuniária particular nos casos de 
pagamento á vista? 
 
A cláusula deve ser expressa ou pode ser tácita? 
 
Qual a natureza jurídica da cláusula? 
 
2.4.2 Bilateralidade. 
 
 Como já visto alhures o contrato de comissão trás obrigações para ambos os 
contratantes, comitente e comissário, inferindo-se dai o sinalagma desse contrato. Vejamos 
essas obrigações. 
 
2.4.2.1 Obrigações do comissário. 
 
a) Agir de acordo com as instruções do comitente. 
 
CC, Art. 695. O comissário é obrigado a agir de conformidade com as ordens e instruções do 
comitente, devendo, na falta destas, não podendo pedi-las a tempo, proceder segundo os usos em 
casos semelhantes. 
§ único. Ter-se-ão por justificados os atos do comissário, se deles houver resultado vantagem para 
o comitente, e ainda no caso em que, não admitindo demora a realização do negócio, o comissário 
agiu de acordo com os usos. 
 
 
 
Pode o comitente se recusar a cumprir o contrato que foi realizado fora de suas 
instruções? 
 
 
 
 
 
CC, Art. 704. Salvo disposição em contrário, pode o comitente, a qualquer tempo, alterar as 
instruções dadas ao comissário, entendendo-se por elas regidos também os negócios pendentes. 
 
 
O comissário faz jus a indenização caso as novas orientações o prejudiquem? 
 
 
 
 
 
b) Dever de agir como homus medius (com plus adicional). 
 
CC, Art. 696. No desempenho das suas incumbências o comissário é obrigado a agir com cuidado 
e diligência, não só para evitar qualquer prejuízo ao comitente, mas ainda para lhe proporcionar o 
lucro que razoavelmente se podia esperar do negócio. 
§ único. Responderá o comissário, salvo motivo de força maior, por qualquer prejuízo que, por ação 
ou omissão, ocasionar ao comitente. 
 
 
c) Dever de conservar os bens que lhe foram confiados em consignação. 
 
CCom, Art. 170 - O comissário é responsável pela boa guarda e conservação dos efeitos de seus 
comitentes, quer lhe tenham sido consignados, quer os tenha ele comprado, ou os recebesse como 
em depósito, ou para os remeter para outro lugar; salvo caso fortuito ou de força maior, ou se a 
deterioração provier de vício inerente à natureza da coisa. 
 
 
 
CCom, Art. 171 - O comissário é obrigado a fazer aviso ao comitente, na primeira ocasião oportuna 
que se lhe oferecer, de qualquer dano que sofrerem os efeitos deste existentes em seu poder, e a 
verificar em forma legal a verdadeira origem donde proveio o dano. 
 
CCom, Art. 172 - Iguais diligências deve praticar o comissário todas as vezes que, ao receber os 
efeitos consignados, notar avaria, diminuição, ou estado diverso daquele que constar dos 
conhecimentos, faturas ou avisos de remessa; se for omisso, o comitente terá ação para exigir dele 
que responda pelos efeitos nos termos precisos em que os conhecimentos, cautelas, faturas, ou 
cartas de remessa os designarem; sem que ao comissário possa admitir-se outra defesa que não 
seja a prova de ter praticado as diligências sobreditas. 
 
d) Obrigação de indenizar. 
 
CC, Art. 696. § único. Responderá o comissário, salvo motivo de força maior, por qualquer 
prejuízo que, por ação ou omissão, ocasionar ao comitente. 
 
CC, Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito 
(imprevisibilidade) ou força maior (inevitabilidade), se expressamente não se houver por eles 
responsabilizado. 
§ único. O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato necessário, cujos efeitos não era 
possível evitar ou impedir. 
 
 
2.4.2.2 - Obrigações do comitente. 
 
 As obrigações do comitente dizem respeito aos direitos pecuniários devidos ao 
comissário, pela sua atuação, sendo ainda obrigado a suportar os riscos do negócio, se o 
comissário não tiver dado causa aos prejuízos que possa vir a sofrer. 
 
 
2.4.3 - Onerosidade. 
 
 Como visto alhures o contrato de comissão é revestido de onerosidade, visando ambas as 
partes vantagens econômicas, que correspondem a sacrifícios recíprocos, um entrega ou 
adquire bens e outro recebe uma remuneração, chamada comissão. 
 
Remuneração regra geral é ajustada previamente entre as partes: 
 
a) Geralmente se traduz num percentual bruto do valor da operação. 
b) Pode ser estipulado um valor fixo para cada operação. 
 
Não estipulada a remuneração devida ao comissário, será ela 
arbitrada segundo os usos correntes no lugar (CC, Art. 701). 
 
 
 
 
No caso de morte do comissário, ou, quando, por motivo de força 
maior (caso fortuito § único Art. 393 do CC), não puder concluir o 
negócio, será devida pelo comitente uma remuneração 
proporcional aos trabalhos realizados (CC, Art. 702). 
 
 
 
Ainda que tenha dado motivo à dispensa, terá o comissário 
direito a ser remunerado pelos serviços úteis prestados ao 
comitente, ressalvado a este o direito de exigir daquele os 
prejuízos sofridos (CC, Art. 703). 
 
 
CC, Art. 884. Aquele que, sem justa causa, se enriquecer à custa de outrem, será obrigado a 
restituir o indevidamente auferido, feita a atualização dos valores monetários. 
 
Se o comissário for despedido sem justa causa, terá direito a ser 
remunerado pelos trabalhos prestados, bem como a ser ressarcido 
pelas perdas e danos resultantes de sua dispensa (CC, Art. 705). 
 
 
 
 
O comitente e o comissário são obrigados a pagar juros um ao 
outro; o primeiro pelo que o comissário houver adiantado para 
cumprimento de suas ordens; e o segundo pela mora na entrega dos 
fundos que pertencerem ao comitente (CC, Art. 706). 
 
 
 
 
 
O crédito do comissário, relativo a comissões e despesas 
feitas, goza de privilégio geral, no caso de falência ou 
insolvência do comitente (CC, Art. 707). 
 
Para reembolso das despesas feitas, bem como para 
recebimento das comissões devidas, tem o comissário direito de retenção 
sobre os bens e valores em seu poder em virtude da comissão (CC, Art. 708). 
 
 
LF, Art. 83. Aclassificação dos créditos na falência obedece à seguinte ordem: 
 
 I – os créditos derivados da legislação do trabalho, limitados a 150 (cento e cinqüenta) salários-
mínimos por credor, e os decorrentes de acidentes de trabalho; 
 
 II - créditos com garantia real até o limite do valor do bem gravado; 
 
 III – créditos tributários, independentemente da sua natureza e tempo de constituição, 
excetuadas as multas tributárias; 
 
 IV – créditos com privilégio especial, a saber: 
 
 a) os previstos no art. 964 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002; 
 
 b) os assim definidos em outras leis civis e comerciais, salvo disposição contrária desta Lei; 
 
 c) aqueles a cujos titulares a lei confira o direito de retenção sobre a coisa dada em 
garantia; 
 
 V – créditos com privilégio geral, a saber: 
 
 a) os previstos no art. 965 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002; 
 
 b) os previstos no parágrafo único do art. 67 desta Lei; 
 
 c) os assim definidos em outras leis civis e comerciais, salvo disposição contrária desta 
Lei; 
 
 
2.5 Espécies. 
 
2.5.1 - Comissão ordinária ou com consignação. 
 
 É a comissão em que o comitente deixa sob a guarda do comissário os bens que serão 
objeto de alienação. Não há transferência de propriedade dos bens do comitente para o 
comissário, ou seja, o comitente continua a exercer o domínio sobre a coisa, sendo o comissário 
um mero possuidor. 
 
2.5.2 - Comissão consigo mesmo. 
 
 Na comissão consigo mesmo o comissário adquirirá os bens que ele mesmo vende em 
nome próprio. É de bom alvitre que conste no contrato de comissão autorização expressa para 
tal venda, para que haja consonância com o que determina o Art. 117 do CC: 
 
Art. 117. Salvo se o permitir a lei ou o representado, é anulável o negócio jurídico que o 
representante, no seu interesse ou por conta de outrem, celebrar consigo mesmo.

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