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1 EQUILÍBRIO HIDROELETROLÍTICO II: Cálcio, Fósforo e Magnésio Universidade Federal de Santa Maria Centro de Ciências da Saúde Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas Bioquímica Clínica I Prof. Rafael Noal Moresco Santa Maria, 2013 ELETRÓLITOS São íons carregados positivamente (cátions) ou negativamente (ânions) que estão em solução em todos os líquidos corporais. Principais funções: • Manutenção da pressão osmótica • Distribuição da água nos compartimentos do corpo • Manutenção do pH fisiológico • Potencial de ação nas células e contração muscular • Cofator enzimático CONCENTRAÇÃO DOS ELETRÓLITOS NOS LÍQUIDOS INTRA (LIC) E EXTRACELULARES (LEC) LIC: principais cátions (K+, Mg++) e ânions (proteínas, fosfato) LEC: principais cátions (Na+) e ânions (Cl-, HCO3-) • É o mineral mais abundante no organismo. • Distribuição: - 99% no esqueleto na forma de cristais de hidroxiapatita - 1% nos tecidos moles - < 0,2% no LEC • Vitamina D é essencial para a absorção intestinal do cálcio. • Ocorre uma troca diária de cálcio entre o LEC, intestino, ossos e rins. • Para que o balanço do cálcio seja mantido é necessário que a sua absorção líquida seja igual à perda urinária diária. CÁLCIO • Principais funções fisiológicas: - Mineralização óssea - Coagulação sangüínea - Manutenção do potencial de membrana - Contração muscular - Atua como segundo mensageiro afetando a atividade enzimática e a secreção hormonal CÁLCIO • O cálcio existente no plasma apresenta-se sob as formas: - Cálcio livre (~ 50%): biologicamente ativo - Cálcio ligado a proteínas (~ 40%): 80% destes associados à albumina e 20% às globulinas - Cálcio complexado (~ 10%): forma complexada a uma variedade de ânions como citrato, fosfato, entre outros •• CálcioCálcio livrelivre:: forma biologicamente ativa • Variações de pH e na concentração de proteínas afetam a distribuição das formas nas quais o cálcio se encontra. • ↑ pH: ↑ cálcio ligado a proteínas • ↓ pH: ↑ cálcio ionizado • ↓ Albumina: ↑ cálcio ionizado CÁLCIO 2 • Hormônio da paratireóide (paratormônio, PTH) • Vitamina D • Calcitonina HOMEOSTASE DO CÁLCIO • É o regulador mais importante do cálcio. • Hormônio de 84 aminoácidos secretado pelas glândulas paratireóides em resposta a uma diminuição dos níveis de cálcio livre. • A secreção de PTH também é influenciada pelos níveis fosfato, magnésio e vitamina D. • PTH atua sobre sobre os rins, ossos e intestino. PARATORMÔNIO (PTH) • Rins: ↑ reabsorção tubular distal de cálcio através do mecanismo adenilato ciclase-AMP cíclico. • Ossos: ↑ efluxo de cálcio. • Intestino: ↑ reabsorção intestinal de cálcio. PARATORMÔNIO (PTH) • Excesso de PTH: - hipercalcemia - hipofosfatemia - ↑ ALP • Deficiência de PTH (hipoparatireoidismo): - hipocalcemia - hiperfosfatemia PARATORMÔNIO (PTH) • É um hormônio esteróide que tem um importante papel na regulação dos níveis corporais de cálcio, fosfato e na mineralização dos ossos. • Vitamina D, ou como D3 ou D2, não tem atividade biológica. Devem ser primeiramente convertida na forma biologicamente ativa; No fígado, o colecalciferol é hidroxilado a 25- hidroxicolecalciferol pela enzima 25-hidroxilase; No rim, a 25-vitamina D serve como substrato para a enzima 1-alfa-hidroxilase, produzindo 1,25- dihidroxicolecalciferol, a forma biologicamente ativa da vitaminaD. • Mensuração: através dos níveis do metabólito 25(OH)D: principal forma circulante da vit. D, possuindo uma meia-vida de 21 dias. VITAMINA D Metabolismo da Vitamina D: VITAMINA D 3 • Efeitos: - estimula a absorção de cálcio e fósforo no intestino delgado; - ↑ mobilização de cálcio do osso (juntamente com o PTH); - ↑ reabsorção renal de cálcio e fósforo. VITAMINA D • Principais estímulos para a síntese da forma ativa da vitamina D: - ↓ concentração plasmática de cálcio - ↑ secreção de PTH - ↑ níveis intracelulares de fósforo DEFICIÊNCIA DA VITAMINA D VERSUS DOENÇAS • Evidências recentes sugerem o envolvimento desta vitamina em diversos processos celulares vitais, como na diferenciação e proliferação celular, secreção hormonal, assim como no sistema imune e em diversas doenças; - DM tipo 2: ↓↓↓↓↓↓↓↓ na síntese e secreção da insulina. - Obesidade: depósito de vit. D nos adipócitos → ↓↓↓↓↓↓↓↓ sua biodisponibilidade da vitamina D. - Hipertensão: ocorre via sistema renina-angiotensina e função vascular; - Câncer: propriedades anticancerígenas → inibição da proliferação celular em tumores. Possível mecanismo de aumento de eventos cardiovasculares a partir da deficiência de vitamina D Lee et al., 2008 • Hormônio produzido pelas células parafoliculares da tireóide • Reduz a perda óssea de cálcio e fósforo • Inibe a reabsorção de cálcio e fósforo pelos túbulos renais CALCITONINA • Elevação dos níveis de cálcio no LEC. • Causada pelo: - aumento da absorção intestinal de cálcio - aumento da retenção urinária de cálcio - aumento da reabsorção óssea - combinação de mecanismos • Características clínicas da hipercalcemia: - alterações neurológicas e psiquiátricas tais como letargia, depressão - problemas gastrointestinais: anorexia, nâusea, vômito, constipação - problemas renais: poliúria, cálculos renais - arritmias cardíacas HIPERCALCEMIA • Causas mais comuns (90 a 95% de todas as causas de hipercalcemia): - hiperparatireoidismo primário (pacientes ambulatoriais) PTH N ou ↑↑↑↑ e 1,25-diidróxivitamina D ↑↑↑↑ - neoplasias (pacientes hospitalizados) ↑↑↑↑ proteína relacionada com o PTH (PTH-rP) que liga-se ao receptor do PTH e estimula a reabsorção óssea • Hipervitaminose D (tratamento da osteoporose) CAUSAS DE HIPERCALCEMIA 4 • Diminuição dos níveis de cálcio no LEC. • Características clínicas da hipocalcemia: - hiperexcitabilidade neuromuscular - tetania - sinais cardiovasculares que resultam em ECG anormal HIPOCALCEMIA • Hipoparatireoidismo • Hipoalbuminemia (cálcio total ↓ e cálcio livre N ou ↑) - 1 g/dL de albumina se liga a aproximadamente 0,8 mg/dL de cálcio • Insuficiência renal crônica - ↓ 1,25-diidróxivitamina D e ocorre um aumento da resistência ao PTH • Síndromes caracterizadas pela deficiência de vitamina D ou distúrbios associados à sua absorção • Pancreatite aguda • Doença hepática crônica CAUSAS DE HIPOCALCEMIA • Soro (amostra de escolha), plasma heparinizado ou urina. MÉTODOS - Cálcio total: Espectrometria de absorção atômica é o método de referência para a dosagem sérica deste analito. O método espectrofotométrico com a utilização da o-cresolftaleína é amplamente utilizado nos laboratórios clínicos. - Cálcio livre: Eletrodos Íon-Seletivos (ISEs) e potenciômetros. • Amostras de urina de 24 horas: adicionar 20 a 30 mL de HCl 6 mol/L • Amostras aleatórias: adicionar 1 a 2 mL de HCl 6 mol/L • Adição do HCl → previnir a precipitação dos sais de cálcio Valores de Referência: Cálcio total: 8,6 a 10,3 mg/dL Cálcio Ionizado: 4,6 a 5,3 mg/dL DETERMINAÇÃO LABORATORIAL DO CÁLCIO • Dosagem de cálcio urinário é útil na investigação dos efeitos da vitamina D e PTH sobre a reabsorção óssea. • Também utilizado na avaliação da nefrolitíase. • AUMENTADO (HIPERCALCIÚRIA): - Hipercalcemias - Hiperabsorção intestinal de cálcio - Distúrbios na reabsorção tubular de cálcio - Osteoporose - Hipertireoidismo - Corticoterapia - Síndrome de Cushing CÁLCIO URINÁRIO • DIMINUÍDO (HIPOCALCIÚRIA): - Pode ser secundária à hipocalcemia - Insuficiência renal - Osteomalácia - Raquitismo - Uso de estrógenos • Valor de referência (urina de 24h): 50 a 200 mg/24h CÁLCIO URINÁRIO • É um importante ânion intra e extracelular. • É amplamente distribuído no corpo humano sob a forma de fosfato inorgânico ou ésteres de fosfato orgânico. • Fosfato inorgânico é a fração mensurável no soro nos laboratóriosclínicos. • Distribuição: - Fosfato no esqueleto (85%): cristais de hidroxiapatita - Fosfato intracelular (15%): ATP e outros fosfatos energéticos - Fosfato extracelular (< 0,1%) • Aproximadamente 10% do fosfato no soro são ligados a proteínas, 35% complexados (com sódio, cálcio e magnésio) e o restante é livre (55%). FOSFATO 5 • Formação dos cristais de hidroxiapatita • Fundamental nas ligações fosfato de alta energia • Constituinte de alguns nucleotídeos - Monofosfato cíclico de adenosina (AMPc) - Nicotinamida adenina dinucleotídeo fosfato (NADP) • Constituinte de membranas celulares • Colabora no funcionamento de vários sistemas enzimáticos • Atua como tampão no plasma e na urina FUNÇÕES DO FOSFATO • Intestino delgado, rins e esqueleto são os principais órgãos envolvidos na homeostase do fosfato. • Geralmente os fatores que regulam os níveis séricos de fosfato são os mesmos que atuam sobre os níveis de cálcio. • Cálcio sérico ↓: PTH estimula a dissolução óssea com a liberação de cálcio e fosfato para a circulação. ↑ eliminação urinária de fosfato a fim de preservar os níveis de cálcio. • Vitamina D: ↑ reabsorção tubular de fosfato. • Hormônio do crescimento: promove a absorção intestinal e a reabsorção renal de cálcio e fosfato. HOMEOSTASE DO FOSFATO • Geralmente secundária à incapacidade dos rins em excretar o fosfato (Insuficiência Renal → causa mais comum). • Também pode ocorrer por: - Hipoparatireoidismo (↓ PTH com ↓ da excreção renal de fosfato) - Pseudo-hipoparatireoidismo: resistência ao PTH pelos tecidos - Acromegalia (↑ hormônio dos crescimento): ↑ o limiar renal do fosfato. • Hemólise intravascular • Manifestações clínicas: - Hiperparatireoidismo secundário - Osteíte fibrosa - Calcificação do tecido mole renal, vasos sangüíneos, córnea, pele e tecidos articulares HIPERFOSFATEMIA • A hipofosfatemia é definida como a concentração de fosfato no soro abaixo do intervalo de referência (< 2,5 mg/dL). • Pode ser causada por: - deslocamento do fosfato extracelular para o meio intracelular - perda renal de fosfato - redução na absorção intestinal - perda de fosfato intracelular • Hiperparatireoidismo: ↑ PTH com ↑ excreção urinária de fosfato • Defeitos congênitos da reabsorção tubular de fosfato • Síndrome de má absorção HIPOFOSFATEMIA • Administração de insulina ou estimulação de sua secreção: promove um aumento do transporte de fosfato e glicose para dentro da célula, causando hipofosfatemia. • Alcalose respiratória: ↑ pH intracelular, ativa a fosfofrutoquinase e acelera a glicólise, promovendo a passagem do fosfato para o meio intracelular. • Manifestações clínicas (fosfato sérico <1,5 mg/dL): - fraqueza muscular - insuficiência respiratória aguda - insuficiência cardíaca HIPOFOSFATEMIA • Soro, plasma heparinizado (valores mais baixos do que no soro) e urina. • Não aceitar amostras com hemólise. • A maioria dos métodos espectrofotométricos para a dosagem de fósforo no soro baseia-se na reação com o molibdato de amônio em pH ácido, formando um complexo fosfomolibdato (medido no UV). • Valores de Referência (soro): 2,5 a 4,5 mg/dL DETERMINAÇÃO LABORATORIAL DO FÓSFORO 6 • Dosagem útil na avaliação do equilíbrio entre cálcio e fósforo e no estudo dos cálculos urinários. • AUMENTADO: - Hiperparatireoidismo - Deficiência de vitamina D - Acidose tubular renal - Uso de diuréticos • DIMINUÍDO: - Desnutrição - Hipoparatireoidismo - Intoxicação por vitamina D - Uso de antiácidos • Valor de referência (urina de 24h): 300 a 1000 mg/24h FÓSFORO URINÁRIO • É o quarto cátion mais abundante no organismo e segundo mais concentrado no meio intracelular. • Distribuição: - Esqueleto (55%) - Tecidos moles (45%) - LEC (1%) • No soro, cerca de 55% do magnésio no soro são livres, 30 % associados a proteínas e 15% complexados (com fosfato, citrato). MAGNÉSIO • Cofator em mais de 300 reações enzimáticas • Ativador alostérico de muitas enzimas (adenilato ciclase) • Fosforilação oxidativa, biossíntese protéica,... • Essencial na manutenção da estrutura do RNA, DNA e ribossomos • Estabilizador de axônios neurológicos (redução em seus níveis promove uma diminuição do limiar de excitabilidade) Homeostase do Magnésio • PTH: ↑ liberação óssea de magnésio e a reabsorção renal • Aldosterona: promove a excreção de magnésio FUNÇÕES DO MAGNÉSIO • Comum em pacientes hospitalizados • Insuficiência dietética acompanhada de má absorção, vômito severo, diarréia ou outras causas de perda intestinal • Diurese osmótica • Uso prolongado de diuréticos • Terapia com medicamentos nefrotóxicos que impedem a reabsorção tubular renal de magnésio HIPOMAGNESEMIA • Ingestão excessiva de magnésio (antiácidos, laxantes,...) • Ingestão excessiva no tratamento da doença hipertensiva da gestação (pré-eclâmpsia). • Desidratação severa HIPERMAGNESEMIA • Soro, plasma heparinizado (valores mais baixos do que no soro) e urina. • Não aceitar amostras com hemólise. • Método de escolha: espectrometria de absorção atômica • Métodos espectrofotométricos • Valores de Referência (soro): 1,6 a 2,6 mg/dL DETERMINAÇÃO LABORATORIAL DO MAGNÉSIO
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