Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE LETRAS CLÁSSICAS E VERNÁCULAS O ensino do Português no Brasil Trabalho final da disciplina Introdução ao Estudo da Língua Portuguesa I, sob a orientação dos Profs. Drs. Vanessa Martins do Monte e Phablo Roberto Marchis Fachin Nome do aluno: Fernanda Elis Ribeiro nº USP: 6888033 Nome do aluno: Gabriel Gustavo de Oliveira nº USP: 9764711 Nome do aluno: Isabela Cristina Ferreira nº USP: 7239812 Nome do aluno: Luana Damasio Dos Santos nº USP: 9821090 Nome do aluno: Marisa Moraes nº USP: 9823602 1º horário – matutino São Paulo Junho-2016 SUMÁRIO 1 - INTRODUÇÃO ................................................................................................... 3 2 - OBJETIVOS ....................................................................................................... 5 3 - MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................. 6 3.1 - O ensino do Português no Brasil e sua gramática ...................................... 6 3.2 - Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) ............................................... 8 3.3 - Os livros didáticos e exercícios dados em sala .......................................... 9 3.4 - A variação linguística nas escolas brasileiras............................................12 4 - RESULTADOS ................................................................................................. 13 5 - CONCLUSÃO .................................................................................................. 16 6 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................. 18 RESUMO O objetivo do ensino do Português na escola brasileira é ajustar a língua já adquirida pelo aluno em sua casa à diversos contextos sociais e comunicativos. A gramática ensinada nas escolas é a normativa, ou seja, é a que prescreve as regras e admite apenas uma única forma para realização da língua. O erro do ensino da gramática normativa consiste no fato da escola impor ao indivíduo que ele deve usá-la em todas as situações, como modelo universal. Mas não podemos esquecer que os livros didáticos também colaboram para um método antiquado de ensino pois não estimulam a escrita e a leitura. O aluno aprende o Português mas não irá fixá-lo pois a forma que foi ensinado é coercitiva, sem escolha de quando usará a norma padrão. Infelizmente, o ensino do português herdou muitos preconceitos e até mesmo os próprios professores aprendem durante sua vida acadêmica que aqueles que falam de um jeito diferente da norma padrão e com variedades linguísticas fala errado, disseminando o preconceito linguístico. Porém a escola não deve propagar essa visão, e sim formar cidadãos capazes de se expressar oralmente e por escrito. Para isso, os professores também devem ser leitores e estarem sempre abertos às diferenças. Palavras-chave: Ensino. Português. Gramática. Escola. Didática 3 1 - INTRODUÇÃO A presente monografia tem como objeto o ensino do Português no Brasil. Visamos relatar então o trajeto histórico desse processo e assim compreender porque as aulas dessa disciplina precisam melhorar a fim de que haja mais valorização por parte dos alunos e da sociedade em geral. É relevante realizar pesquisas sobre esse tema pois um ensino de qualidade do Português faz com que um indivíduo desenvolva habilidades de escrita e leitura e, consequentemente, consiga interpretar com facilidade a realidade. É muito importante buscar soluções para os problemas do ensino do Português e, principalmente, por um fim na coerção da gramática normativa pois assim o aluno não sentirá medo de falar e sofrer duras repreensões por não ter falado de acordo com a norma padrão. O trabalho acadêmico intitulado Falar, Ouvir, Escrever, Ler no ensino da Língua Materna da professora Rosa Virgínia Mattos e Silva, do Instituto de Letras da Universidade Federal da Bahia mostra a importância da leitura. Em sua tese, Mattos e Silva (1990, p.52) defende que “precisamos deixar que o Brasil fale, não só nas ruas e assembleias mas, antes que mais, nas escolas” Para a presente monografia foram levantadas as seguintes hipóteses: - A correção gramatical por parte do professor de Língua Portuguesa intimida o aluno; - Os Estados do Brasil com maior rendimento dos alunos em Língua Portuguesa são os que investem mais em bibliotecas; - A leitura influencia na escrita. Portanto, o presente trabalho responderá as seguintes questões: ● Quais são as principais teorias que sustentam as pesquisas sobre o tema? ● Quais são as ideias centrais mais aceitas em torno desse tema? ● Que tipo de dados linguísticos são usados habitualmente nas pesquisas sobre o tema? Não é tão simples aplicar as soluções para melhorar o ensino pois o problema remonta desde a escola antiga e esbarra também na falta de estímulo que alguns professores passam e que, infelizmente, acaba sendo disseminada nas escolas atuais. 4 Em linhas gerais, este trabalho divide-se em duas seções. A primeira refere-se à história do ensino da gramática, como funcionam os livros didáticos e o levantamento dos problemas que os professores enfrentam ao lecionar a Língua Portuguesa. Na segunda seção, que já seria o encerramento do trabalho, serão feitas sugestões para que haja uma possível melhoria do ensino do Português. 5 2 – OBJETIVOS Os objetivos gerais da presente monografia são expor a forma que é ensinado o Português no Brasil, as dificuldades que os alunos enfrentam ao aprender a gramática normativa e como ela está disposta nos livros didáticos e, finalmente, buscar soluções através de teorias para melhorar o ensino do Português nas escolas brasileiras. Os objetivos específicos são: ● Expor o método da correção linguística por parte do professor; ● Entender o que mudou e o que permanece no ensino do Português; ● Relacionar o português que se aprende em casa com o português ensinado na escola; ● Verificar se existe espaço para a variação linguística dentro da sala de aula. Para atingiresses objetivos, no que concerne à importância da leitura e escrita nas escolas, os trabalhos da professora Rosa Virginia Mattos e Silva do Instituto de Letras da Universidade Federal da Bahia são de grande auxílio, uma vez que suas teses explicitam o quanto o ensino do português pode proporcionar o desenvolvimento da leitura e escrita, além de mostrarem o quanto é equivocado a correção linguística nas escolas. O ensino da gramática ao longo da história e os problemas que as escolas enfrentam ao ensinar Português têm como base as teorias do gramático e filólogo Evanildo Bechara e do linguista Carlos Alberto Faraco. Os trabalhos das professoras Erotilde Goreti e Aliana Lopes, ambas da Universidade Estadual Paulista de São José do Rio Preto são usados para explicar sobre os livros didáticos. Na seguinte monografia encontra-se também a programação, ou seja, o currículo do ensino da Língua Portuguesa nas escolas do Brasil, com foco no ensino fundamental e ensino médio. Para isso, é cabível utilizar os Parâmetros Curriculares Nacionais realizados pelo Ministério da Educação que auxiliará comparar como é previsto que o Português seja ensinado e como as escolas o fazem. 6 3 - MATERIAIS E MÉTODOS Os materiais e métodos utilizados para elaborar o estudo são expostos em quatro subitens. No primeiro é descrito como foi o ensino do Português e como é hoje, além de explicar o papel que a gramática normativa sempre teve dentro e fora da escola. No segundo é mostrado como funcionam os PCN’s (Parâmetros Curriculares Nacionais) e o que é previsto para ser dado no conteúdo escolar no que concerne à Língua Portuguesa. No terceiro é mostrado como são os exercícios de gramática e interpretação de texto nas salas de aula.Por fim, no quarto e último subitem procura-se demonstrar por meio de teorias o espaço que a variação linguística tem na sala de aula. 3.1 - O ensino do Português no Brasil e sua gramática Todo falante conhece sua língua materna, sendo capaz de formar sentenças já desde criança e aparenta ter certo conhecimento de seus códigos. Sendo assim, é cabível perguntar: Qual o papel da escola então, no que tange ao ensino da Língua Portuguesa? Por que um falante nativo de Português frequentaria as aulas dessa língua? O papel da escola é ensinar ao aluno a construir sentenças socialmente mais aceitas e ajudá-lo a escrever textos mais elaborados, com argumentação coerente. O que se busca no curso de Língua Portuguesa é que o aluno use mais adequadamente o conhecimento que já possui de sua língua nativa. Por exemplo, toda criança falante do português tem a capacidade de construir a seguinte sentença: Tem um gato em cima do muro A escola, no âmbito do ensino da gramática normativa, mostrará para o indivíduo que há a possibilidade de escrever ou dizer essa sentença de outra forma, ou seja, aquela usada em textos literários, sendo por isso mais culta: Há um gato em cima do muro 7 A gramática tal qual a conhecemos no sentido moderno foi criada pelos gregos e romanos, com reflexões de caráter filosófico que especulavam sobre a natureza própria da linguagem humana e que exploravam a análise da língua grega como parte da construção da lógica. Segundo Faraco (2006) os gregos se propuseram a estudar seus autores comparando-os com manuscritos antigos com o objetivo de dar ao texto uma forma canônica. Nascia aí a nossa tradição normativa. A concepção de culto, de ser um intelectual que fala e escreve bem, estava atrelada a imitação dos autores clássicos. O ensino de língua, destinado a alunos do gênero masculino, resumia-se a desenvolver com habilidade a comunicação em público e a escrita. Uma gramática famosa desta época é a gramática de Prisciano. Em 1827 foi estabelecido no Brasil que os professores deveriam ensinar a ler e escrever utilizando a gramática da língua nacional mas até então a gramática em vigor era a latina. Com os avanços da ciência e da linguagem, a gramática foi se enriquecendo, transformando a sala de aula, segundo Bechara (1986), num “palco de erudição”. Daí surge o problema da escola querer transformar os alunos, ainda não amadurecidos para isso, em escritores, cientistas ou universitários. Gramatiquice “é o estudo da gramática como um fim em si mesmo; ” (Faraco, 2006, p.21) e normativismo é a atitude da não compreensão de que a norma padrão é apenas uma das variedades da língua. Assim, os estudantes, através da coerção, são levados a crer que a forma mais “pura” e “certa” de se falar é através da gramática normativa, ou seja, da norma padrão. O ensino de gramática nas escolas deve ter como objetivo ajudar o aluno a desenvolver sua competência para se comunicar, para interpretar textos e elaborá-los e usar a fala de forma eficaz, a fim de expressar o que deseja. É importante também que os professores incentivem o aluno à leitura e escrita para que possa haver plena assimilação dos códigos de sua língua. Além disso, a escola deve dar muita importância para a oralidade, permitindo que o aluno fale e ao mesmo tempo ouça seus colegas de classe. É claro que a escrita e a leitura também são essenciais pois permitem que o indivíduo recupere sua História e desenvolva sua capacidade de interpretação. Porém, de acordo com Mattos e Silva (1990) é o diálogo que deve ser a base da 8 pedagogia de ensino e aprendizagem. Os professores irão, dessa forma, conviver com diversidades culturais mas para isso, eles precisam ter certo preparo no seu curso de formação de professores. 3.2 - Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) Os Parâmetros Curriculares Nacionais são a referência básica para a elaboração da programação das aulas durante todo o período escolar. Precisam ser atualizados com certa frequência pois orientam os professores quanto à metodologia do ensino. O ensino da Língua Portuguesa, segundo o PCN, deve voltar-se para a função social da Língua. As provas de Língua Portuguesa da Aneb, Anresc (Prova Brasil) e o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) dão prioridade à leitura e interpretação de texto. O aluno deve ser avaliado pela sua capacidade de assimilação das informações do texto e, a partir delas, responder as questões. Raramente é cobrado literatura brasileira, exceto nos vestibulares exigidos para se ingressar no ensino superior. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental, Ao longo dos oito anos do ensino fundamental, espera-se que os alunos adquiram progressivamente uma competência em relação à linguagem que lhes possibilite resolver problemas da vida cotidiana, ter acesso aos bens culturais e alcançar a participação plena no mundo letrado. (1997,p.33) Para que essa expectativa se concretize, o ensino de Língua Portuguesa deve fazer com que o aluno desenvolva as seguintes habilidades: ● Expandir o uso da linguagem em todas as instâncias, tanto particular quanto pública, dominando o discurso e produzindo textos (orais ou escritos); ● Utilizar diferentes registros da língua, sabendo aplicar a norma padrão nos momentos que a exigem; ● Respeitar as variedades linguísticas do português falado; ● Compreender os textos orais e escritos em qualquer situação social e interpretá-los; ● Valorizar a leitura como fonte de conhecimento. 9 A partir da quinta série (sexto ano), o aluno já pode trabalhar com a oralidade através de seminários e, na oitava série (nono ano) é recomendado participar de debates em classe. Quanto à leitura, é importanteque os alunos tenham contato com livros paradidáticos e, no nono ano, já tenham noção de literatura brasileira a partir de livros adaptados para suas idades. Por isso, os PCN’s alertam que é necessário refletir com os alunos sobre as diferentes modalidades de leitura e os procedimentos que elas requerem do leitor. São coisas muito diferentes ler para se divertir, ler para escrever, ler para estudar, ler para descobrir o que deve ser feito, ler buscando identificar a intenção do escritor, ler para revisar. É completamente diferente ler em busca de significado — a leitura, de um modo geral — e ler em busca de inadequações e erros — a leitura para revisar. Esse é um procedimento especializado que precisa ser ensinado em todas as séries, variando apenas o grau de aprofundamento em função da capacidade dos alunos. (1997, p.45) O ensino do Português no Ensino Médio pressupõe maior foco na linguagem verbal. O aluno deve ter as seguintes competências: ● Considerar a Língua Portuguesa como fonte de condutas sociais e como representação simbólica de experiências humanas manifestadas nas formas de sentir, pensar e agir na na vida social; ● Analisar os recursos expressivos da linguagem verbal, relacionando textos; ● Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as várias manifestações da linguagem verbal; ● Compreender e usar a Língua Portuguesa como língua materna e fonte de significado. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio, Os conteúdos tradicionais de ensino de língua, ou seja, nomenclatura gramatical e história da literatura são deslocados para um segundo plano. O estudo da gramática passa a ser uma estratégia para compreensão, interpretação e produção de textos e a literatura integra-se à área de leitura (2000, p. 18) 3.3 - Os livros didáticos e exercícios dados em sala O Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), implantado em 1985, tem como principal objetivo auxiliar os professores no ambiente pedagógico. O 10 Ministério da Educação avalia as obras e distribui pelas escolas, desde o ensino fundamental ao ensino médio. Na tese das professoras Erotilde Goreti e Aliana Lopes, intitulada Da descrição ao ensino da oração adjetiva: a perspectiva dos livros didáticos de Língua Portuguesa, descreve que Um dos principais pressupostos do ensino de português no guia de livros didáticos PNLD1 é que a gramática não é um saber em si mesmo, desvinculado do ensino de leitura e escrita; ao contrário, o ensino de gramática deve necessariamente partir do texto e para a compreensão de seus sentidos e de sua estruturação (2014, p. 141) Por muito tempo, os professores acreditaram que ensinar gramática levará o aluno a escrever melhor, o que de fato é um equívoco. A gramática normativa descontextualizada não auxilia o desenvolvimento da escrita e leitura. Os manuais do professor mostram-se contrários a um ensino de gramática fora de contexto, com sentenças fragmentadas e os livros modelo PNLD preocupam-se com o ensino do Português vinculado à escrita e leitura. A obra didática que ganhou grande importância no Brasil, no que concerne ao ensino da gramática, é a cartilha Caminho Suave, vigente a partir de 1948 até meados da década de 1990. A cartilha usava o método de alfabetização pela imagem. Exemplo: a letra “a” está inserida no corpo de uma abelha, a letra “f” no corpo de uma faca etc. A Caminho Suave utilizou dois métodos durante seu período de vigência: - Método sintético: obedece a uma hierarquia (da letra ao texto) - Método analítico: maior liberdade didática aos professores As cartilhas desapareceram do mercado e agora se fala em livro de alfabetização. Consequentemente, desapareceu também o conceito de método, e não é possível ensinar a ler e escrever sem uma metodologia. Os livros de alfabetização não contêm muitas orientações pedagógicas aos professores que, por sua vez, acabam recorrendo às cartilhas ou ensinam da forma que foram alfabetizados. Mesmo com a tentativa de sempre focar a leitura e escrita, os livros didáticos ainda apresentam certos equívocos, encontrados no seguinte exercício destacado pelas professoras Erotilde Goreti e Aliana Lopes: 1- O conselho decidiu que terá de ser você, Bárbara, a resolver a situação que você criou... a) Quantas orações há no trecho em destaque? b) Quais são as funções do que e como ele é classificado? (2014, p.147) 11 Em seguida, as professoras fazem os seguintes comentários sobre o exercício: Observa-se que todas as perguntas exigem que o aluno mobilize conhecimentos sobre análise morfossintática do período composto, ora identificando e classificando o referente, ora identificando as orações. Há uma pressuposta equivalência semântica entre oração adjetiva e adjetivo (função caracterizadora), que é abordada por alguns dos livros didáticos na apresentação do conceito de oração adjetiva. [...] Não há, portanto, um consenso entre os autores sobre o termo função. (2014, p.148) As educadoras também criticam a contradição existente nas informações existentes nos manuais do professor e nos exercícios dos livros didáticos: [...] apesar de os livros didáticos afirmarem, nos manuais para o professor, sua preocupação em ensinar gramática no texto, as orações que servem para reflexão e definição do conceito são, de modo geral, construídas pelos autores. Quando, por outro lado, os exemplos são extraídos de textos, não há um trabalho para mostrar o papel da oração no contexto de onde foi retirada. Na verdade, o texto é usado apenas como pretexto para o ensino de gramática, pois, ao ser extraída, a sentença ganha autonomia e é tratada isoladamente sem nenhuma reflexão sobre seu papel na construção dos sentidos do texto e na efetivação das intenções comunicativas do falante. (2014, p.152) Além disso, Goreti e Lopes enfatizam a importância das histórias em quadrinhos nos livros didáticos, como esta a seguir que foi selecionada pelas próprias educadoras (2014, p.159) de um livro didático: Esse tipo de situação mostra, simultaneamente, a escrita e a fala, uma vez que há a presença de diálogos entre personagens (no exemplo dado, um monólogo). Assim, o aluno consegue discernir a norma padrão da coloquial. 12 3.4 - A variação linguística nas escolas brasileiras Assim como na escola antiga, o professor comete o erro de entender como ‘língua’ apenas a modalidade culta, e assim considera errado o saber linguístico adquirido em casa. Consequentemente, o aluno nativo do Português que tem suas particularidades ao falar, será corrigido. Por exemplo, um jovem do Nordeste que estuda em São Paulo, ouvirá de seu professor que o correto é dizer ‘mãe’, e não ‘mainha’. O que seu educador não leva em conta são as variedades que a língua portuguesa comporta e corrige o aluno. Sem perceber, o professor acaba disseminando o preconceito linguístico entre os alunos, que por sua vez, irão considerar as particularidades de cada fala um desvio da norma padrão. A escola precisa livrar-se do mito que a forma “certa” de se falar é aquela que se espelha na escrita e que esta é um espelho da fala e, portanto, é preciso corrigir a fala do aluno para que ele não escreva errado. Os professores de Língua Portuguesa precisam ter em mente que o ensino da gramática normativa é importante para ajudar o aluno a se expressar e se comunicar com maestria, porém, deve ensiná-lo a discernir os momentos que a norma padrão deve ser utilizada, considerando o contexto de comunicação. Sendo assim, o papel da escola é ensinar o aluno a adequar sua linguagem à diferentes situações. A educadora Mattos e Silva(1991, p. 51) comenta que “no âmbito do ensino e aprendizagem da língua materna o critério de correção linguística tem de ser reavaliado para ser substituído pelo critério de adequação linguística às diversas situações sociais”. Daí podemos complementar esse pensamento com o de Evanildo Bechara (1986), no qual cabe ao professor transformar o aluno num poliglota de sua própria língua, ou seja, ajudá-lo a adequar em todas as situações sociais os códigos de sua língua nativa. Surge assim a importância da oralidade nas salas de aula para que o professor esteja aberto às diferenças e consciente que falar de jeito diferente não é sinônimo de falar errado. O ato de corrigir um aluno pelo fato dele ter suas particularidades ao falar, leva-o ao emudecimento pois sempre se sentirá intimidado pela norma padrão ensinada na escola. Por isso, Bechara utiliza o termo “opressão” do ensino da gramática normativa, e “liberdade” no que concerne à livre escolha do aluno de quando usar a norma padrão. 13 Por trás da variação linguística não existem apenas formas distintas de uso da língua, mas uma valoração social para cada uso que se faz dela. Todas as línguas apresentam diversidade de uso das formas em todos os níveis (fonético, fonológico, sintático, etc.) De posse desta informação é preciso entender que quando se fala de forma correta de uso, não se está falando que essa variedade é melhor que as demais. Por estar a variedade associada ao prestígio de determinada classe, alimentada pelo nível de escolaridade e poder aquisitivo de seus falantes, acaba-se estabelecendo no ensino de língua portuguesa a norma padrão como um fator de exclusão presente na aprendizagem. 4 – RESULTADOS São expostos a seguir os dados obtidos pelo Governo do Estado de São Paulo referente ao desempenho dos alunos de ensino fundamental e ensino médio na disciplina de Língua Portuguesa na prova do SARESP (Sistema de Avaliação e Rendimento Escolar do Estado de São Paulo) do ano de 2015: A tabela representa o melhor desempenho na educação estadual em oito anos. Porém, não é uma realidade de todos os Estados do Brasil. A seguir temos as médias atingidas em Língua Portuguesa no SAEB (Sistema de Avaliação da Educação Básica) entre 2005 e 2011 dos alunos de nono ano em alguns Estados. Os dados foram obtidos juntamente com o IPECE (Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará): 14 A tabela indica que os Estados com menor média de desempenho são os do Nordeste e Norte. Isso ocorre devido à falta de verbas para as escolas dessas regiões e à falta de investimentos em bibliotecas e no professorado. É preciso ressaltar também que o SARESP não avalia redação, portanto, as médias mostradas na primeira tabela são insuficientes para representar verdadeiras melhorias no ensino do Português. Segue agora uma tabela mostrativa do desempenho dos candidatos no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) na redação, em 2014: 15 Os candidatos que zeraram na redação superou o número dos que atingiram a nota máxima. Esse resultado é alarmante e comprova que a escrita e a leitura não estão sendo desenvolvidas na escola, sendo que são duas habilidades de suma importância, de acordo com Rosa Virginia Mattos. O fato dos alunos terem pouca leitura na escola e em casa colabora muito para que a dificuldade de dissertar se acentue. Portanto, faz-se necessário o investimento em bibliotecas e atividades que envolvam leitura nas escolas, além de debates em sala de aula para que o aluno conviva com a oralidade e com o diálogo. 16 5 - CONCLUSÃO A crise que a escola brasileira atualmente enfrenta é a disseminação dos meios de comunicação em massa e, consequentemente, o não incentivo à leitura. Assim, o coloquialismo vem ganhando mais valor em detrimento da língua popular. Os alunos têm cada vez menos contato com os textos literários e não desenvolvem a habilidade para dissertar, uma vez que estão lendo menos. Mas para que esse quadro mude, é preciso também haver melhorias por parte do professorado. Os cursos de formação de professores desconsideram as variedades linguísticas e as diversas situações de comunicação, pregando aos futuros professores que o aluno cuja fala desviar-se da norma padrão, fala errado. Portanto, nunca se leva em conta a língua já aprendida em casa pelo aluno e que o papel da escola é apenas mostrar ao indivíduo uma outra forma de escrever e falar o Português que ele já sabe. É por isso que cursos como Pedagogia, Letras e as Licenciaturas no geral, precisam mudar sua grade curricular a fim de respeitar as variedades linguísticas. No exercício de sua prática docente, o professor deve propor aos seus alunos nas aulas de Língua Portuguesa atividades que estimulem a percepção da existência da variedade linguística e deixar explícito que a gramática normativa é importante para facilitar a comunicação e para se expressar melhor, porém, suas regras não se aplicam a todas as situações. Por exemplo, o professor pode simular um diálogo entre dois amigos íntimos e um debate sobre política com o ministro da Educação. A primeira situação permite uma linguagem coloquial, informal, com emprego de gírias. Já a segunda, exige o emprego da norma padrão, ou seja, a linguagem que está nos livros e nos textos literários. Basta deixar isso claro para os alunos para que eles não enxerguem mais a gramática como a representação da opressão da fala. A escola precisa auxiliar o falante de Português a dispor de todas as formas para se expressar, tanto formal quanto coloquialmente pois saberá quando usar uma dessas maneiras. Portanto, o aluno não deve ter medo da gramática e sim, usá-la ao seu favor. Para isso, o professor não deve dizer que está errado quando o aluno diz “nóis vai” e sim, alertá-lo que é uma variação da língua, de caráter informal e que não se aplica a situações que exigem a norma padrão, como uma 17 conversa entre pessoas desconhecidas, uma entrevista de emprego etc. O professor deve mostrá-lo a outra forma de se dizer essa sentença, que seria “nós vamos” mas sem utilizar o método da correção pois faz com que o aluno se intimide perante às aulas de Língua Portuguesa. Outro ponto a se discutir é a leitura em sala de aula. Um professor que não tem o hábito de ler, não incentivará o aluno a ter contato com os livros pois aquele não enxerga a importância da leitura. Consequentemente, a escola formará cidadãos com extrema dificuldade de escrita e interpretação de texto. É importante pois, haver leitura individual e em grupo pois esta última abrange outro método que algumas escolas não adotam: a oralidade. O aluno precisa ouvir seus colegas e também falar, pois assim perceberá as diferentes formas de se expressar e respeitará as particularidades da fala de cada um. Conclui-se que a questão não é se devemos ou não ensinar a gramática da norma padrão na escola, mas como nos livrarmos de práticas preconceituosas dentro da sala de aula. Pois, “gramatiquices” e “normativismos” não colaboram para o desenvolvimento da linguagem nos alunos e nem contribuem para a formação da cidadania. É importante ressaltar que historicamente o modelo de língua presente nas gramáticas e livros didáticos é arcaico e artificial. O melhor exemplo disto é o caso de colocação pronominal: não se usa mesóclises no dia a dia e o auno não entenderá a importância de aprendê-la pois ninguém ao seu redor usa também. Os livros didáticos devem ter um método de ensino de gramática mais atual, de maneira que mostre ao aluno diversas formas de secomunicar e que, principalmente, incentive à leitura. Além disso, é importante a presença de histórias em quadrinhos nesses livros pois mostram situações mais próximas do estudante Quando o aluno chega na escola e aprende que não apenas ele, mas todos os seus familiares, colegas de classe e pessoas mais próximas falam “errado”, cria-se uma barreira na aprendizagem de língua portuguesa quase inquebrantável. Quebrar este ciclo é tarefa do educador e de todos aqueles estudiosos que sabem ser a língua um instrumento vivo e apaixonante de estudo. 18 6 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BECHARA, Evanildo. Ensino da gramática. Opressão? Liberdade?. São Paulo: Ática, 1986. FARACO, Carlos Alberto. Ensinar x Não ensinar gramática: ainda cabe essa questão?. Revista Calidoscópio da Universidade do Vale do Rio Dos Sinos, v. 4, n.1, p.15-26, janeiro/abril 2016. Disponível em: http://revistas.unisinos.br/index.php/calidoscopio/article/view/5983. Acesso em: 03 de junho de 2016. PEZATTI, Erotilde G; CÂMARA, Aliana L. Da descrição ao ensino da oração adjetiva: a perspectiva dos livros didáticos de língua portuguesa. Linguística, v. 30, n. 2, dezembro, 2014. Disponível em: http://www.scielo.edu.uy/pdf/ling/v30n2/v30n2a07.pdf. Acesso em: 30 de maio de 2016. MATTOS E SILVA, Rosa Virgínia. Falar, ouvir, escrever, ler no ensino da língua materna. Hyperion, Salvador, n. 1, p. 47-52, 1990. Disponível em: http://media.wix.com/ugd/c8e334_ee73813b4b954b8ba1d941a0a5d346e1.pdf Acesso em: 26 de maio de 2016 Secretaria de Educação Fundamental - Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental - Língua Portuguesa. Brasília, 1997. Disponível em http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro02.pdf. Acesso em: 01 de junho de 2016 Secretaria de Educação Média e Tecnológica - Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio. 2000. Disponível em http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/blegais.pdf. Acesso em: 01 de junho de 2016. 19 As tabelas presentes no trabalho foram retiradas das seguintes fontes: Tabela referente ao Saresp 2015: http://www.educacao.sp.gov.br/a2sitebox/arquivos/documentos/1090.pdf Tabela referente às médias atingidas em Língua Portuguesa no SAEB: http://www.ipece.ce.gov.br/publicacoes/ipece- informe/Ipece_Informe_78_18_junho_2014.pdf Tabela referente às notas da redação dos candidatos do ENEM 2014 http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/eu- estudante/especial_enem/2015/01/13/especial-enem-interna,466144/inep- revela-media-de-notas-dos-alunos-no-enem-2014.shtml .
Compartilhar