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Apostila conteudo FiloGeJur2014.1

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Unidade 1 Filosofia: origem, conceito e objeto 
1.1. O que é Filosofia? 
1 .2. Objetos de estudo da Filosofia. 
O saber filosófico é a base de todo o conhecimento, bem como estimula o desenvolvimento de um pensamento reflexivo significativo para o desenvolvimento pleno do Ser (homem). 
A Filosofia é o alvorecer do florescimento do pensamento racional, devemos reconhecer as contribuições para o desenvolvimento do conhecimento científico, em especial para o conhecimento e debate acerca dos fundamentos das doutrinas jurídicas.
O conceito de Filosofia, os assuntos de seu interesse: sua utilidade e, em síntese, seu caminhar na história do pensamento. 
A sua relação com os demais campos do conhecimento humano. É relevante observar que não basta compreender sua definição para iniciar-se no filosofar. 
O termo Filosofia é constituído por duas palavras gregas philos e sophia. O filósofo não adquire o saber de uma vez, é uma aquisição contínua, é aquele que busca a sabedoria, por meio de um espírito indagador. 
A filosofia configura um conhecimento específico que a torna diferente das outras áreas de saber e afasta do mito, considerado como primeira manifestação de cultura ocidental, no mundo grego. 
Conforme ensina Severo Hryniewicz a filosofia é “uma proposta de meditação e leitura crítica da realidade. Uma tentativa de obtenção de um conhecimento global e totalizante do homem no mundo, dentro de uma fundamentação racional.” 
Nesse sentido, A filosofia apresenta áreas específicas de estudo, dentre as quais destacamos: 
Metafísica (estudo do Ser), 
Lógica (estudo das regras do raciocínio), 
Teoria do Conhecimento (estuda o conhecimento em geral), 
Filosofia Prática (estudos sobre a vida moral, sobre os fundamentos do direito e legitimidade do poder) e
Estética (estudo do belo e da arte). 
A filosofia como um saber coerente, profundo, abrangente e crítico. Os conteúdos ministrados nesta aula visam demonstrar sua aplicabilidade prática e teórica quando: 
- Evidenciam a importância da reflexão filosófica no processo de compreensão da realidade social, ajudando o aluno a refletir, a partir dos conceitos filosóficos, a realidade que o cerca; 
- Colaboram na compreensão dos fundamentos do conhecimento e, em especial do Direito, como fenômeno cultural.
 O aluno deverá consultar seu material didático a fim de responder aos seguintes casos concretos: 
Caso 1 - O cidadão moderno quer mais do que explicações de como tudo acontece e sai em busca do porquê dos fatos do dia-a-dia.
O estudante Rafael Rogara, 17, a dona de brechó Denise Pini, 50, e o médico pernambucano Mozart Cabral, 42, vivem em mundos completamente diferentes. Mas os três reservam pelo menos uma noite por mês para tentar entender o que está por trás de sentimentos tão díspares quanto coragem, desejo e medo da morte. Com a ajuda de filósofos e historiadores, buscam decifrar o sentido dos acontecimentos cotidianos para viver melhor. [...] Abertos a pessoas de todas as idades que não precisam ter formação filosófica, os cerca de 230 cafés espalhados pelo mundo (mais da metade deles na França) viraram um espaço para debater questões cotidianas à luz da filosofia, como faziam os gregos há mais de 2.000 anos. “As reuniões nos cafés são exercícios da cidadania. A reflexão filosófica sobre o que está por trás de acontecimentos diários que parecem banais desestabiliza preconceitos e aumenta a capacidade dos participantes de avaliar adequadamente os acontecimentos”, diz a professora de filosofia da USP Olgária Matos. 
Viver melhor 
A filosofia ajuda a se viver melhor porque desperta a interrogação, aprofunda a reflexão, pesquisa os motivos ocultos e reinterpreta os fatos, ridicularizando justificativas aparentes ou falsas. “Diante de afirmações dogmáticas, a filosofia introduz a dúvida. Ela é um exercício de vigilância critica”, diz o filósofo Israel Alexandria, um dos mentores do Café filosófico, versão soteropolitana do Café des Phares — o “pai” dos cafés filôs. Além de reunir pessoas de várias profissões, os cafés filosóficos brasileiros conseguiram atrair adolescentes, profissionais que poderiam ser seus pais e aposentados que poderiam ser avós. Aos 17 anos, Rafael Rogara é um dos mais jovens freqüentadores do Filosofia no Cotidiano. O mais velho tem 84. “Achávamos que a maioria do público ficaria na faixa dos 40, 50 anos. O grande número de adolescentes e jovens adultos foi uma agradável surpresa”, conta Tovani. Na primeira edição do café de Santo André, 65% do público tinha menos de 40 anos. O interesse dos jovens pela filosofia pode surpreender hoje, mas era propagado desde a Grécia Antiga. No século 4 a.C., o filósofo grego Epicuro já dizia que “ninguém é pouco nem demasiado maduro para conquistar a saúde da alma”. Segundo ele, “quem diz que a hora de filosofar ainda não chegou ou já passou assemelha-se ao que diz que ainda não chegou ou já passou a hora de ser feliz”. A falta de tempo livre, imposta pela correria do mundo moderno, tampouco deve se tornar motivo que impeça a reflexão. “A falta de tempo não é uma armadilha à prática da filosofia. Ao contrário, por viverem correndo, as pessoas querem fazer algo relevante com o pouco tempo livre que lhes resta”, diz Cortelia. (Fonte: Atitude filosófica dá qualidade de vida. FALCÃO, Daniela. Editora Equilíbrio. Disponível em: http:I/wwwl .folha.uol.com.br/fsp/equilibrio/eq2l 0620011 3.htm>. Acesso em: 22 jun. 2010.)”. 
Pergunta-se: 1 
1. Que é Filosofia? 
2. Qual é o significado etimológico do termo Filosofia? 
3. O que se entende por reflexão crítica da realidade? 
Caso 2 - Azeitonas de Atenas 
Até os deuses precisam ser criativos quando disputam o “eleitorado”: a explicação mitológica grega para o surgimento das oliveiras assemelha-se a uma boa estratégia de marketing. Uma importante cidade necessitava de um patrono. Poseidon, senhor dos mares, e Atena, a deusa da sabedoria, estavam no páreo. Assessorados por outros deuses, eles sabiam que o vencedor seria aquele que tivesse o melhor desempenho diante da população. Para resolver a contenda, reuniram-se com os mortais no local onde, até hoje, ergue-se a Acrópole. Poseidon bateu seu tridente em uma rocha e um jato de água marinha subiu aos céus. Nascida da cabeça de Zeus-deus, supremo para os antigos gregos, Atena não se fez de rogada: do chão, fez brotar a primeira oliveira e as primeiras azeitonas, que logo se tornariam o principal produto agrícola da Grécia. A deusa foi então escolhida como patrona da cidade, batizada de Atenas em sua homenagem. (Fonte: Folha de São Paulo, 13 de setembro de 2001.) 
Pergunta-se: 
1. O que é mito? 
2. Por que os gregos buscavam fundamento na narrativa mitológica para explicar a realidade
 3. Distinga Mito de Filosofia. 
Propõe-se, ainda, que se assista ao filme Matrix, para debate com seus colegas, na próxima aula. Os temas para debate sugeridos por Severo Hryniewicz (2008, p. 37), disponível em seu material didático são:
1. A possibilidade de uma atitude crítica, apesar dos diversos tipos de condicionamentos; 
2. A questão da busca de sentido da existência hoje. 
Caso 1 – GABARITO
 
1 — Sugestão de resposta: A filosofia é uma proposta de meditação e leitura crítica da realidade. Uma tentativa de obtenção de um conhecimento global e totalizante do homem no mundo, dentro de uma fundamentação racional” (HRYNIEWICZ, 2008, p. 19). 
“A filosofia é um modo de pensar que acompanha o ser humano na tarefa de compreender o mundo e agir sobre ele. Mais que postura teórica, é uma atitude diante da vida, tanto nas condições corriqueiras como nas situações-limite que exigem decisões cruciais.” (ARANHA; MARTINS, 2003, p. 81) 
2 — Sugestão de resposta: A origem etimológica do termo Filosofia - constituído por duas palavras gregas philos e Sophia. 
3- A filosofia tem por objetivo despertar a interrogação, aprofundar a reflexão, pesquisar os motivos ocultos, reinterpretar os fatos e afastar justificativasaparentes ou falsas. Podem ser discutidos alguns papéis fundamentais da filosofia, tais como negar “pré-conceitos” e “pré-juízos” bem como interrogar o porquê das coisas. O papel crítico se exerce no ato de julgar e discernir de forma correta, examinar racionalmente, sem preconceitos, além de examinar idéias, valores, costumes e comportamento. 
Caso 2— GABARITO 
1 - Sugestão de resposta: A origem etimológica do termo mito (Mythos = “palavra”, “o que se diz”) e destacar a definição que se encontra no material didático segundo a qual “o mito apresenta-se como uma narrativa, onde os problemas encontram respostas prontas, convincentes, através de ações ordenadoras dos deuses” (HRYNIEWICZ, 2008, p. 19). 
2- Sugestão de resposta: Os primeiros filósofos foram gregos; que a passagem da visão mítica à racional se dá na fase em que a Grécia se chamava Hélade; os mitos gregos surgiram em época anterior ao advento da escrita e eram transmitidos pela tradição oral (cantores ambulantes e relatos populares). 
3 - Sugestão de resposta: As diferenças entre mito e filosofia está no material didático (HRYNIEWICZ, 2008, p. 19). (...) o pensamento filosófico é algo muito diferente do mito, por resultar de uma ruptura quanto à atitude diante do saber recebido. Enquanto o mito é uma narrativa cujo conteúdo não se questiona, a filosofia problematiza e, portanto, convida à discussão. No mito a inteligibilidade é dada, na filosofia é procurada. A filosofia rejeita o sobrenatural, a interferência de agentes divinos na explicação dos fenômenos. Ainda mais: a filosofia busca a coerência interna, a definição rigorosa dos conceitos, organiza-se em doutrinas e surge, portanto, como pensamento abstrato.” (ARANHA; MARTINS, 2003, p. 84) 
Conclusão.
O ensino da filosofia tem como competência “promover as condições da formação de uma cidadania plena e a finalidade de aprimorar no educando uma formação ética e o desenvolvimento de uma autonomia intelectual e de um pensamento crítico” (LDB, art 35, inciso III). 
Para tanto, o professor é apenas um mediador, propiciando aos alunos os meios para que desenvolvam um olhar crítico sobre os conteúdos propostos em cada aula. 
O método a ser utilizado é a análise conceitual como ponto de partida para tratar dos assuntos em destaque na aula. Incentivar o uso de dicionários e pesquisas em livros e sites na Internet. Deve-se estimular uma conduta proativa. 
Os conteúdos ministrados nesta aula demonstram sua aplicabilidade prática e teórica quando: • Evidenciam a importância da reflexão filosófica no processo de compreensão da realidade social, ajudando o aluno a refletir, a partir dos conceitos filosóficos, a realidade que o cerca; • Colaboram na compreensão dos fundamentos do conhecimento e, em especial do Direito, como fenômeno cultural.
Plano de Aula: Unidade 1 — Filosofia: Origem, conceito e objeto.
Objetivos da Aula.
• Conhecer o conceito de Filosofia jurídica; 
• Estudar os objetos de investigação da Filosofia Jurídica; 
• Compreender o valor da Filosofia para uma leitura crítica das doutrinas jurídicas.
 1.3. Objetos de estudo da Filosofia Jurídica. 
A problemática inicial da Disciplina parte da conceituação do que seja uma Filosofia Jurídica. Que significa incluí-la no curso de Direito? Que conexão existe entre Filosofia e Direito? Os filósofos mencionam que de cada ciência é interessante conhecer a sua história. Mas o valor de tal conhecimento é muito maior quando se tratam das disciplinas filosóficas: pois revelam que o presente sem o passado, perde sentido. Os problemas filosóficos que hoje discutimos são fundamentalmente os mesmos que os filósofos antigos estudaram, ainda que de modo rudimentar ou ingênuo sob alguns aspectos. 
Ao buscarmos a filosofia como uma reflexão crítica da experiência jurídica, aprendemos a perceber a que conclusões podemos chegar quando escolhemos certas premissas e, nesse aspecto, nos aproximamos de um olhar maduro diante da experiência jurídica. Cretella Jr.( 2006, p. 4) afirma que Gustavo Hugo, um dos fundadores da Escola Histórica, teria usado a expressão “filosofia do direito” pela primeira vez, quando elaborou a obra editada em 1797, denominada de Tratado do direito natural ou Filosofia do direito positivo. Observa, ainda, que o estudo do direito, em qualquer dos aspectos em que se desdobra, não pode desvincular-se do estudo da filosofia, a não ser que se pretenda ter do mundo jurídico apenas uma visão técnica e prática, imediatista e utilitária. Na realidade pode-se advogar mediocremente (e até razoavelmente) sem conhecer filosofia do direito, mas não pode haver jamais um expoente, na arte de advogar, que não conheça lógica, filosofia e filosofia do direito, porque é impossível versar grandes questões de direito com o emprego tão-só da técnica de advogar. http://porta1doa1uno.webau1a.com.br/. asp?CodTopico=7 154... 29/O 1/2011.
 No caso particular da Filosofia Jurídica, percebemos que em todas as épocas se meditou sobre o problema dos fundamentos do Direito e da Justiça. Assim, podemos dizer que a Filosofia Jurídica (BITTAR e ALMEIDA, 2004, p. 50-54): 
• É um saber crítico a respeito das construções jurídicas e práticas do Direito; 
• Apresenta como tarefa buscar os fundamentos do Direito; 
• É uma reflexão atenta às modificações no mundo jurídico e seus institutos; 
• Oferece suporte reflexivo ao legislador; 
• Desvela as ideologias que fundam certas práticas jurídicas. 
Considerando tais afirmações podemos dizer que uma filosofia jurídica é o campo de investigação da Filosofia que tem por objeto o Direito. 
Esta área de saber pode ser estudada do ponto de vista filosófico, por filósofos de formação ou por juristas, focalizando temas como Justiça, Propriedade, Liberdade, Igualdade, o conceito de Direito, Legitimidade das normas e o papel do Direito nas sociedades. 
Se buscarmos uma história da Filosofia Jurídica teremos que percorrer um caminho que parte da investigação filosófica sobre temas considerados jurídicos. Quando tais temas são os objetos de investigação filosófica, estamos no âmbito de uma Filosofia Jurídica, parte da Filosofia. 
Outra definição relevante que precisamos considerar é a oferecida por Paulo Nader ( 2003, p. 11) segundo a qual “a Filosofia Jurídica consiste na pesquisa conceitual do Direito e implicações lógicas, por seus princípios e razões mais elevados, e na reflexão crítico-valorativa das instituições jurídicas.” E importante observar, ainda, a advertência que o autor (NADER, 2003, p. 3) faz, a saber:” Se é verdade que a condição de filósofo não se adquire por título universitário, senão pela constância do pensamento dialético, também é certo que somente atinge a situação de jurisfilósofo o jurista que exercita, como hábito, a atitude filosófica”. E nesse sentido, que é relevante frisar que a Filosofia jurídica provém de filósofos, juristas e jurisfilósofos e que é um exercício contínuo do pensamento crítico. Deve-se destacar nesta aula a figura do jusfilósofo. Trata-se daquele que conhece as correntes filosóficas, bem como as categorias lógicas do Direito, com o objetivo de avaliar o rigor lógico dos conceitos jurídicos e a adequação do Direito Positivo às necessidades sociais atuais. 
Nas reflexões de Miguel Reale (1998, p. 9), a Filosofia Jurídica é a própria Filosofia voltada para a realidade jurídica, porque o Direito é um fenômeno universal que decorre da existência humana e o jurisfilósofo problematiza o que para o operador do Direito se configura como seguro. E nos sugere algumas indagações típicas dos jurisfilósofos: “ Por que o Juiz deve apoiar-se na lei? Quais as razões lógicas e morais que levam o juiz a não se revoltar contra a lei, e a não criar solução sua para o caso que está apreciando, uma vez convencido da inutilidade, da inadequação ou da injustiça da lei vigente? Por que a lei obriga? Como obriga? Quais os limites lógicos da obrigatoriedade legal?” (p. 10). 
A Filosofia Jurídica é um estudo reflexivo sobre o Direito e se divide emdois planos de reflexão: o plano da reflexão epistemológica em que se observa o conceito de direito. Entendendo epistemologia como uma teoria da ciência, logo um estudo da ciência do Direito e, por outro, um plano axiológico que promove uma reflexão valorativa, Sendo o termo axiológico entendido como estudos dos valores. 
Indagar “O que é o Direito?” é uma preocupação do jurisfilósofo e provoca outras pesquisas importantes sobre norma jurídica como expressão do Estado; sobre coação como essência do Direito; se o Direito é justo e se sua efetividade é essencial à validade (NADER, 2003). E uma investigação norteada pelos princípios éticos, mormente pelo valor Justiça. Um bom exemplo está nos debates contemporâneos sobre eutanásia, aborto de anencéfalos, tortura etc., que extrapolam os limites da ciência jurídica em direção aos postulados éticos. Por conseguinte, enquanto na esfera epistemológica o debate se limita ao âmbito do Direito sob o ponto de vista conceitual, na esfera axiológica, se pretende uma reflexão valorativa que se preocupa com os fundamentos do agir correto. Com Radbruch (1997, p. 45) precisamos considerar o Direito mergulhado no mundo dos valores, porque Filosofia Jurídica considera o Direito como um valor de cultura. É pertinente relembrar o conceito de cultura para que se compreenda a concepção do Direito como fenômeno cultural e a importância que a Filosofia assume nesse contexto. 
Lançando mão do método de análise conceitual, é preciso que se reconheça a importância de se trabalhar com definições rigorosas, compreendendo o conceito de Filosofia estudado na aula anterior associado ao termo “jurídica”. E mais. Compreender o sentido de cultura, do que seja buscar os fundamentos de uma ciência, o sentido de fenômeno cultural e do termo valores. 
Os conteúdos ministrados nesta aula demonstram sua aplicabilidade prática e teórica quando: 
• Colaboram na compreensão dos fundamentos do conhecimento e, em especial do Direito, como fenômeno cultural. 
• Compreender os objetos de estudo da Filosofia Jurídica. 
O aluno deverá consultar seu material didático a fim de responder ao seguinte caso concreto: 
Caso 1 — A filosofia jurídica e a busca pelo fundamento de legitimação da norma jurídica 
A belíssima versão clássica do mito sobre a Antígona é descrita na obra “Antígona” do dramaturgo grego Sófocles, sendo até hoje considerada um dos mais importantes textos da literatura ocidental. Nela, Sófocles retrata em toda a sua verticalidade alguns dos mais caros valores humanos como amor, lealdade e dignidade. Além disso, essa obra é um verdadeiro marco para a filosofia do direito ao enfocar, já no Séc. V a.C. alguns de seus problemas mais fundamentais; o conflito entre tradição e lei, entre lei natural lei dos homens, além de tratar das relações entre o poder e o direito, o poder e a família, o direito positivo e as leis positivas. A peça inicia com Antígona discutindo com a irmã, Ismênia, o édito baixado pelo tio Creonte, rei de Tebas. No referido diploma legal proibia-se a celebração fúnebre em honra de Polinicies. Isto porque este e o outro irmão de Antígona, Etéocles, haviam morrido em combate. Etéocles na defesa de Tebas, e Polinicies, por Argos, contra Tebas. Creonte, tio de Antígona, que, com a morte dos irmãos assume o poder em Tebas, promulga uma lei impedindo que os mortos que atentaram contra a lei da cidade (entre eles, Polinicies) fossem enterrados. Tal decisão acabava por caracterizar uma grande ofensa para o morto e sua família, pois se entendia que nestas circunstâncias a alma do morto não poderia fazer a transição adequada ao mundo dos mortos. Fiel aos laços de família, Antígona que acompanhara o pai, Édipo, até a morte, infringe o decreto de Creonte apresentando como alegação o fato de haver uma lei divina, universal, que transcende o poder de um soberano. Por isto, a oferece ao irmão morto as cerimônias fúnebres tradicionais com impressionante destemor. A peça segue seu curso mostrando relações familiares passionais. A casa de Antígona ascende aos primórdios míticos da formação da Atica. Como consequência ao ato de desrespeito à ordem do déspota Creonte, Antígona é presa e conduzida a uma caverna, que lhe servirá também de túmulo ainda em vida. Sem conseguir dissuadir o pai, Hêmon, namorado de Antígona e filho de Creonte, acaba por se matar, quando o rei já estava disposto a abrir mão da lei editada para salvar a vida de Antígona. 
Diante da síntese acima apresentada, responda as perguntas abaixo: 
1 Podemos considerar que o caso concreto apresenta a célebre discussão acerca da legitimidade das normas? Justifique. 
2. Por que o acaso narrado revela uma das preocupações da filosofia Jurídica? Propõe-se, ainda, que se leia o Livro Antígona. O aluno deve investigar o sentido de justiça no caso: a lei ditado pelo governante (Creonte), ou o cumprimento de um direito natural? (Antígona) 
Caso 2 — Sobre os fundamentos da Justiça 
O que funda a justiça? Seus fundamentos estariam na razão, na linguagem, na transcendência divina, ou na consciência? Eis algumas das linhas de discussão que envolvem a questão dos fundamentos da justiça da qual nos ocuparemos agora. Antes de tudo, chamemos a atenção para o fato de que o senso comum tende sempre a confundir justiça com o Poder Judiciário. O termo “acesso à justiça”, tão propalado nos nossos dias, não diz nada além da possibilidade de acesso ao Poder Judiciário, no sentido do rompimento das barreiras que separam o cidadão da instituição destinada a proteger os seus interesses. Não diz do acesso à justiça mas do alcance do órgão estatal que, por definição, é o lugar das lamentações em torno dos conflitos humanos gerados a partir da obrigatoriedade da coexistência a que todos estamos condenados por sentença dos deuses, desde as nossas obscuras origens. Portanto, deixamos claro que os fundamentos da justiça que buscamos jamais se comprometeram com as instituições destinadas à efetivação da sua eficácia, ressalvada a configuração aproximativa do ideal de justiça. A pergunta pelos fundamentos da justiça vai muito além da crença na sua realizabilidade institucional, uma vez que esta se mostra apenas na órbita dos possíveis e não na esfera fundante disso que nomeamos justiça na milenar trajetória da vida do espírito. (...) Começar a entender os fundamentos da justiça implica entender esse fluir da vivência na sua mais primitiva manifestação, pois é nesse campo primitivo, do atemático, da ausência de quaisquer categorias que se instaura o apelo à justiça. Mas o que é a justiça? De onde vem e quais são os seus indicadores? Eis a questão! (GUIMARAES, Aquiles Côrtes. Pequena introdução à filosofia política. A questão dos fundamentos. 2. ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2007. p. 87-90.) 
Diante do texto apresentado, responda as perguntas abaixo: 
1 — É possível dizer que o texto apresenta uma reflexão filosófica sobre o Direito? 
2 — Destaque uma parte do texto que justifica sua resposta anterior. 
Plano de Aula 3 Fundamentos para uma Filosofia Jurídica. 
Objetivos da Aula.
• Conhecer em linhas gerais a importância de Platão para tradição Filosófica; 
• Estudar a dualidade na Alegoria da Caverna • Compreender o papel do filósofo na República e a relação entre justiça e lei; 
• Compreender a idéia de justiça retributiva apresentada no mito de Er.
Unidade 2 — Fundamentos para uma Filosofia Jurídica 
2.1. Platão: justiça e a fundação do Estado. 
a. A Ética Socrática.
 Contextualização.
Os filósofos pré-socráticos (600-470 a.C.) eram naturalistas, isto é, direcionavam a reflexão filosófica para o Cosmos e a Natureza.
Os Sofistas eram professores de Retórica que relativizavam as tradições culturais, sendo os primeiros a refletirem sobre o papel do homem na sociedade.
 A vitória contra os persas (Guerras Médicas) durante o século V a.C. garantiu a autonomia Grega e o desenvolvimento da Filosofia. Nestes conflitos ocorreram as famosas batalhas de Maratona(490 a.C) e Termópilas (480 a.C.).
A Guerra do Peloponeso termina com a vitória de Esparta, produzindo uma crise profunda na democracia ateniense (431-404 a.C.).
A Ética propriamente dita.
Sócrates (470-399 a.C.) é considerado o fundador da Ética, pois foi o primeiro pensador a refletir filosoficamente sobre aspectos da convivência humana.
Sócrates se opõe aos Sofistas, pois afirma que o Bem é um valor absoluto que não pode ser relativizado.
Sócrates não escreveu obras filosóficas, e todas as fontes primárias a seu respeito provêm de Platão, Aristófanes e Xenofonte.
O pensamento socrático foi influenciado pelo Orfismo, corrente religiosa cuja máxima afirmava que: “O corpo é o túmulo da alma.”
Um dos pontos originais do pensamento socrático é a valorização da alma: “Visto que a alma é a atividade pensante, sendo também a parte mais nobre e importante do ser humano, daí conclui-se que a principal virtude será o desenvolvimento desta atividade.”
Desta forma, a riqueza, a posição na sociedade, o êxito no campo de batalha, a saúde do corpo são aspectos secundários perante a grandeza da alma.
Para engrandecer a alma, precisamos conhecê-la, daí a máxima: “Conhece-te a ti mesmo”, herdada do oráculo de Delfos.
“O autoconhecimento implica o reconhecimento deste ser verdadeiro. O auto-exame é uma disciplina constantemente exigida para distinguir seu julgamento das sugestões de outros elementos de nossa natureza, intimamente ligados ao corpo e seus interesses perturbadores.”
“A alma que vê o que é realmente bom infalivelmente deseja o Bem por ela discernido.”
Portanto, ninguém faz o mal porque quer, mas sim por ignorância do Bem.
“A pior ignorância é não saber e pensar que se sabe.”
Por isso Sócrates dizia: “Só sei que nada sei.”
A Dialética socrática
Ironia: perguntas simples, irônicas, esclarecem as crenças habituais, revelando contradições.
Maiêutica: o reconhecimento da ignorância abre as portas para o nascimento do conhecimento.
n) A Virtude consiste no conhecimento verdadeiro e o Vício consiste na ignorância.
o) Sócrates foi condenado à morte por corromper a juventude e pregar contra os deuses da cidade. Foi o primeiro “mártir” da Filosofia.
b. A relação entre as Virtudes e a Ordem Política em Platão.
 Contextualização.
Platão (428-348 a.C.) frequentou, a partir dos vinte anos, o círculo de Sócrates.
Em 388 a.C viaja para a Itália onde visita comunidades pitagóricas.
Em 387 a.C., sob a influência pitagórica, funda a Academia, em cujo frontispício estava escrito: “Quem não souber geometria não entra na Academia.” Nesta linha de pensamento estabelece a tese central que as proporções harmônicas da natureza são um reflexo das proporções de um mundo transcendente, as quais devem ser o modelo para orientar a vida do homem e da pólis (cidade-estado grega).
Ao contrário de Sócrates, Platão constrói um elaborado sistema filosófico, criando novos conceitos que articulam todas as dimensões da realidade: a separação entre Mundo Inteligível ou Mundo das Idéias e o Mundo Sensível sintetiza a sua ontologia; o Mundo Inteligível como fonte do conhecimento e o uso da Dialética como método para a sua obtenção sintetiza a sua Epistemologia; a prática da virtude como um ato de conhecimento sintetiza a sua Ética.
 A Tripartição da Alma. 
- A alma racional corresponde à parte superior do corpo humano (cabeça), sendo mais desenvolvida nos filósofos.
- A alma irascível corresponde à parte mediana do corpo humano (peito), sendo mais desenvolvida nos guardiões e guerreiros. 
- A alma apetitiva corresponde à parte inferior do corpo humano (baixo ventre), sendo mais desenvolvida nos artesãos, nos comerciantes e no povo.
 A Virtude e a Ordem Política em Platão.
a) Quadro de Relações.
Partes da Alma Classes Função Virtude
Racional Filósofos Dirigir Sabedoria
Irascível Guardiões Defender Coragem
 Apetitiva Comerciante/Operários Suprir Temperança
A Classe dos Guerreiros/Guardiões que tem a parte Irascível da Alma mais desenvolvida tem a função de defender/proteger a Polis e a virtude correspondente é a coragem.
A Classe dos Comerciantes/Operários que tem a parte Apetitiva da Alma mais desenvolvida tem a função de produzir a subsistência da Polis e a virtude correspondente é a temperança.
Por analogia, a sociedade justa é aquela em que os filósofos comandam as demais classes: “O mundo só terá paz quando os filósofos tornarem-se reis.”
b) O homem justo é aquele em que a parte racional dirige e comanda as partes Irascível e Apetitiva.
c) Por analogia, a sociedade justa é aquela em que os filósofos comandam as demais classes: “O mundo só terá paz quando os filósofos tornarem-se reis.”
d) O vício é uma consequência da desordem entre as partes da alma.
e) As obras platônicas são escritas sob a forma de Diálogos onde o protagonista normalmente é representado por Sócrates.
f) Nestas obras, por intermédio de um processo dialético, o conhecimento das idéias aflora gradativamente. Somente este conhecimento permite a prática da virtude.
g) Ninguém pode praticar a virtude se não conhece a idéia da virtude, portanto a Ética só é possível pelo conhecimento, característica que revela a influência socrática em Platão.
h) Na “República”, obra mais conhecida de Platão, é apresentado o modelo de sociedade justa. Neste livro também encontramos a famosa Alegoria da Caverna.
Platão nasceu em 427 a.C. e faleceu na mesma cidade, Atenas, em 347 a.C. Filho de uma família da aristocracia ateniense dedicada à política, foi discípulo de Crátilo (séc. V a.C.) que por sua vez foi seguidor de Heráclito de Éfeso; posteriormente, Platão tornou-se discípulo de Sócrates. 
Em seu pensamento encontramos a primeira formulação clássica da Filosofia, ou seja, a problemática do conhecimento como possibilidade de tomada da realidade. Para isso, apresentou uma preocupação direta sobre o método, indagando se é possível o conhecimento; numa verificação se o conhecimento passa pelos sentidos ou pela razão; os mundos sensível e inteligível como objetos de conhecimento. Platão reproduziu em suas obras o jogo dialógico de Sócrates convidando o leitor a uma verdadeira investigação filosófica, inserindo-o na tarefa maiêutíca de buscar a verdade pelo procedimento dialético. A partir dessa perspectiva, em que constrói o seu pensamento filosófico, ancorado na crítica do conhecimento verdadeiro, Platão toma a Filosofia como um conjunto de princípios cuja função é pensar os fundamentos de sua cultura no intuito de reformá-la. 
A realidade política de Atenas estava marcada pela injustiça e pela corrupção, fazendo com que Platão desistisse de ingressar na vida pública, o que fez, pois percebeu que a corrupção era um fenômeno desintegrador da cidade, mas que caberia à Filosofia resgatar a ordem e a justiça nas relações sociais. O seu programa pedagógico visava instaurar uma política fundamentada no saber cujo fim primeiro era norteado pelo princípio de justiça. A obra a República contempla a idéia de uma comunidade alternativa àquelas existentes, daí a relevância da educação no seu pensamento como marca singular de sua filosofia, que buscava edificar uma sociedade a partir de novos laços integrativos, implicando, logicamente, a criação de uma identidade cultural cujo sentido passasse por uma unidade comunitária. 
Nessa perspectiva, Platão é o primeiro pensador a defender o caráter público da educação, entregando ao poder comunitário a responsabilidade não só de sua execução como também sua formulação teórica. Portanto, como o fundamento da educação é comunitário, e a política visa por meio daquela estabelecer laços integrativos, no interior da pólis, a razão é a medida de tudo que possa ser perceptível pela inteligência e, nesse contexto, a justiça afigura-se como a virtude suprema do cidadão,o fundamento da pólis, pois, se para Platão sua carência propicia a degeneração dos regimes políticos, a obediência às leis configura um quanto de harmonia como cópia da ordem cósmica. Partindo dessa premissa temos que compreender o paralelo que o autor do Banquete estabeleceu entre a tripartição da alma e sua teoria sobre a polis. Na República, livro IV, Platão concebe a alma como tripartite, ou seja, a mesma se divide em uma parte racional, e outra irracional que, ao seu turno se subdivide em irascível (impulsos e afetos) e concupiscente (necessidades elementares). A parte racional é regida pela sabedoria ou prudência, capaz de estabelecer o que convém a cada um. A parte irascível corresponde à fortaleza e coragem que permite seguir os imperativos da razão. Já a parte da concupiscência está relacionada ao sentido das necessidades elementares. As duas dimensões da parte irracional da alma devem se submeter a parte racional através da virtude da temperança ou moderação. Com tais virtudes surge a virtude da justiça que estabelece o equilíbrio de cada uma das faculdades em seu âmbito próprio e função específica. Estabelecendo uma analogia da alma com a cidade, Platão apresenta o que podemos chamar de concepção organicista de sociedade, na qual a Cidade constaria de três classes diferenciadas por suas funções próprias. A primeira seria a dos magistrados (filósofos) ou governantes, guiados pela sabedoria; a segunda dos guerreiros que defenderiam a polis interna e externamente, cultivando a fortaleza; a terceira seria constituída pelos artesãos (artífices), comerciantes, agricultores e aqueles que formavam a base econômica da cidade. As classes dos guerreiros e dos artífices aceitam o domínio dos governantes pela ação da temperança ou moderação. Assim como na alma, a justiça, na cidade, apresenta-se primordialmente para garantia do funcionamento do todo e da manutenção da hierarquia baseada nas tarefas específicas de cada classe. O pensamento político de Platão inspirou-se no postulado segundo o qual a parte se subordina ao todo, o que significa dizer que as classes se subordinariam ao bem comum da cidade, dado pela razão divina, que por sua vez é contemplada pela dialética ascendente, o que leva Platão a operar uma inversão na concepção individualista da sofística quanto à relatividade das coisas, buscando a universalidade pela superação da individualidade absoluta. Nesse modo de ver, o indivíduo se situa no plano coletivo e não em uma autonomia absoluta perante a pólis, que por sua vez existe para tornar possível a vida humana. Destarte, o horizonte do indivíduo seria o horizonte do cidadão. Ressalte-se que as classes da República não se baseiam em uma ordem hereditária, já que o ponto fulcral repousa sobre as aptidões pessoais dos membros da polis, desenvolvidas pela cidade através do processo educacional. A aristocracia de Platão, diferentemente daquela calcada na propriedade fundiária ou na riqueza advinda do comércio, é uma aristocracia do espírito cujo saber legitima o poder, porque só pode governar a cidade aquele que é justo por conhecer as implicações e mecanismos das ações justas, fornecidas, obviamente, pelo conhecimento filosófico. Ademais, Platão, preocupado com as bases integrativas de sua sociedade, não admitia que o poder estivesse nas mãos daqueles que manipulavam a vida econômica ou a estrutura bélica, pois a cidade se constituiria em uma verdadeira tirania, ao passo que uma sociedade comandada por filósofos estaria ordenada sob princípios universais dados pela razão. É bom lembrar que os governantes, submetidos a esse conjunto de princípios, deveriam ter por escopo, através do seu projeto político-pedagógico, suprimir a instituição família como também a propriedade privada para as duas classes superiores dos magistrados e dos guerreiros, isso a fim de afastar interesses particulares que pudessem conduzir à corrupção. Somente as duas classes superiores teriam participação na vida pública, enquanto que o complexo dos artífices estaria limitado à vida na esfera privada. Na cidade platônica, governada pelo sentido da filosofia, não seria necessário o direito positivo, pois os magistrados (filósofos) deveriam decidir, em cada caso particular, o que a justiça exigiria segundo as circunstâncias. Esse pensamento não perdura nos diálogos considerados tardios, O Político e As Leis. Platão, mais velho e desiludido com as experiências na Sicília, admite a necessidade de fixar princípios de governo em leis positivas. Reconhece ainda a importância da família e da propriedade privada, evitando-se o excesso de riqueza e de pobreza, pois, no seu entender, seria essa relação de contradição a causa de toda a discórdia civil. 
Assim, a cidade descrita na obra As Leis se afigura como uma teocracia em que os magistrados (filósofos) assumem a dignidade de intérpretes da vontade divina, No diálogo Político, apresenta a necessidade de uma legalidade como ordem estável da cidade, muito embora confirme a aristocracia como sistema ideal na administração da coisa pública. Platão nos oferece duas classificações distintas das formas de governo, uma na República, livros VIII e IX e outra no Político. Na Republica descreve cinco formas. Entretanto, somente uma assume o caráter de justa e legítima: a aristocracia do espírito ou governo dos sábios. Todas as restantes são formas corruptas que não permitem a realização da justiça. Se os guerreiros tomarem o poder, teremos uma timocracia ou timarquia que significa governo da honra, caracterizado pela ambição do espírito belicoso. Esta forma poderia conduzir a uma oligarquia que liga o poder à fortuna. Todavia, o enriquecimento de poucos e a extrema pobreza de muitos poderá gerar a democracia, o governo da multidão, que aspira à igualdade absoluta, desrespeitando hierarquias naturais e legítimas. Dessa forma, a democracia, desemboca na desordem, que acaba por ser aproveitada por algum indivíduo ambicioso e audacioso, capaz de instaurar uma tirania que desvelaria um caráter violento e desenfreado. Os seus excessos provocariam a reação dos mais decididos e com seu derrube encerra-se o ciclo constitucional, ou seja, a dinâmica política. No Político apresenta dois critérios de formas de governo: o número dos que participam do governo e a legalidade ou ilegalidade dos mesmos. Encontramos três formas legais e três ilegais de governo. As legais são a monarquia ou realeza, a aristocracia e a democracia. As formas corruptas das formas legais, respectivamente, são: a tirania, a oligarquia e a democracia (demagogia). Nas Leis, acrescenta um novo termo: uma forma mista de governo, ou seja, uma mistura de monarquia e democracia que se apresenta como a única capaz de assegurar a paz social. Esta concepção assimilada por Aristóteles influenciará seu pensamento político. 
A idéia socrática de que a Cidade (o poder político), na qual a família e o indivíduo formavam um todo harmônico, permanece na obra República e se torna o fundamento da idéia de justiça como virtude, que significa a observância permanente da lei e, ao mesmo tempo, como idéia da razão. O sentido de ordem política ideal é o de justiça que correlaciona intrinsecamente lei e justiça. As leis são justas porque são editadas por quem pratica a virtude da justiça e a conhece em sua estrutura para além do plano das aparências, isto é, numa imagem divina. Nesse sentido, encontramos a ligação entre as duas perspectivas do conceito de justiça em Platão: justiça como idéia (forma pura) e justiça como virtude, ação do homem virtuoso. Segundo Joaquim Carlos Salgado (1995, p. 24-29), o pensamento platônico sobre a justiça é o ponto de partida para uma reflexão sobre a idéia de justiça como igualdade. Platão apresenta duas perspectivas de sua concepção de justiça na obra República, a saber: a justiça como idéia e a justiça como virtude ou prática individual. Nas primeiras obras, Platão apresenta o conceito de justiça comprometido com a idéia de virtude do cidadão ou do filósofo. Ao relacionar o célebre livro VII, da República,que narra a Alegoria da Caverna em conjunto com sua teoria da reminiscência, compreendemos com maior clareza o que o fundador da Academia assinala na Carta VII, isto é, “só conhece a justiça àquele que é justo’ ou seja, só conhece a justiça aquele que a compreende na perspectiva divina, pelo conhecimento da alma e não dos sentidos, o conhecimento verdadeiro dado pela matriz dialética e desenvolvido pela educação. 
Platão enfatiza o agir justo na medida em que considera o outro como portador dos mesmos direitos para a superação da ótica individualista dos sofistas, assinalando para a alteridade como descoberta de si numa dimensão exterior ao comprometimento do homem com a sua pólis. Tanto na República quanto no Górgias, Platão enfatiza através de seu personagem, Sócrates, que fazer a justiça é melhor que recebê-la, e sofrer a injustiça é melhor que praticá-la. Na República, exprime que o melhor modo de viver é o viver praticando a justiça, correlacionando, desse modo, os atos justos com uma alma sadia. A justiça é uma virtude que fundamenta e fortifica a alma, Embora no Críton, a concepção de justiça se apresente como a conformidade das ações com a lei, a essência da idéia de justiça platônica não se limita somente a esse entendimento. Na República, livro I, Platão expressa a difusa idéia de justiça em um conceito preciso a partir do entendimento do poeta Simônides, (PLATÃO, República, 322c, 433a e 433e) que afirmava a idéia de justiça como dar a cada um o que lhe é devido. Platão amplia essa idéia para além da simples relação entre particulares e a relaciona diretamente com a estrutura de sua cidade. No dizer de Salgado: “O que é devido a cada um, o que lhe pertence por natureza é o posto que corresponde às suas aptidões e função que cada um, por força dessas mesmas aptidões, pode desempenhar no Estado”) PLATÃO, República, 433a; SALGADO, 1995, p. 27). 
Platão concebe a justiça como uma preocupação política que repousa na idéia de igualdade; uma igualdade geométrica, na medida em que garante a cada um o que lhe é devido, segundo suas aptidões. O seu conceito de justiça assume também o caráter de universalidade enquanto se vincula à idéia de representação da harmonia do cosmos. A justiça é um compromisso do cidadão com a Cidade, na dedicação ao bom funcionamento da vida coletiva a partir das aptidões naturais de cada um. Sendo assim, Platão elabora duas vertentes do conceito de justiça: a justiça como idéia norteadora do direito e da justiça como virtude norteada e determinada pela lei. Ou, dizendo de outro modo, a idéia de justiça como hábito de cumprir o direito. Por fim, Platão desenvolve um conceito de justiça retributiva e transcendente. Vejamos. Na República, livro X, encontra-se o mito de Er que consagra o sentido de justiça retributiva e transcendente. O mito narra a história de um guerreiro chamado Er que vivendo a experiência da justiça como recompensa no além-túmulo. 
Er, natural da Panfília, na Ásia Menor, bravo soldado que morreu em combate, estendido na pira funerária dez dias após sua morte. subitamente, volta à vida e narra o que viu no mundo além-túmulo. Disse que, depois de morto, viajou até uma terra estranha onde o solo era rasgado por dois grandes abismos. Por cima, havia dois buracos correspondentes no Céu. Entre os abismos estavam sentados os juizes que julgavam todas as almas e as marcavam com um sinal: os justos entravam pelo abismo da direita, para o Céu; os injustos entravam pelo abismo da esquerda, que conduzia ao mundo subterrâneo. Er não foi autorizado a entrar em qualquer um dos dois buracos, mas foi escolhido para levar uma mensagem aos mortais. Observou que as almas dos injustos passavam por uma longa experiência vivenciando dez vezes mais todo o mal que causaram. Este e o sentido retributivo da justiça em Platão. As almas dos justos falavam em felicidade e alegria, recompensas de uma vida virtuosa. As almas vindas dos subterrâneos após expiarem todo o mal que praticaram, vivenciam as dores do arrependimento, eram encaminhadas ao trono das Parcas: Laquesis, Atropo e Cloto para receberem novas vidas como mortais. Cada alma poderia escolher a vida que desejasse, algumas eram sensatas outras tolas. Todas as almas, após suas escolhas, bebiam a água do rio do esquecimento, de modo que perdessem todas as recordações da vida passada, para renascer em novas vidas. Muitas praticavam os mesmos erros. Assim, podemos concluir que a justiça para Platão não é deste mundo, mas se configura como a recompensa para aquele que escolhe a vida moral e conforme ao direito. Considerando o mito acima descrito, pode-se compreender o sentido das palavras que Platão, colocadas por Sócrates no final da Apologia, onde este após beber cicuta se dirige aos que estavam presentes e assevera: “Mas, está na hora de irmos: eu, para morrer; vós para viverdes. A quem tocou a melhor sorte, é o que nenhum de nós pode saber, exceto a divindade 
Caso 1 - O papel do filósofo na República
 
A discussão acerca dos melhores critérios para escolha daquele que deve governar uma determinada sociedade sempre foi tema de longos debates no decorrer da história. Tomando como exemplo as eleições americanas do ano passado, o candidato republicano à Casa Branca, John McCain, surpreendeu jornalistas e eleitores quando anunciou sua escolha para vice-presidente: a governadora do Alasca Sarah Palín. Ela não estava entre os nomes mais citados nas apostas americanas, mas por ser uma figura feminina proeminente, Palin poderia trazer também uma boa parcela das eleitoras da ex-pré- candidata democrata Hillary Clinton. Durante a campanha, em razão da avançada idade de John McCain, muito se discutiu acerca da capacidade intelectual de Palin para administrar a mais poderosa nação do mundo.
 Diante da situação acima apresentada, responda: 1- Que critério entendia Platão como o correto para a escolha daqueles que deveriam exercer os poderes da polis? Fundamente sua resposta. 
2 - Pelo que você leu no texto acima e pelos seus conhecimentos acerca do processo eleitoral americano, a atual candidata a vice-presidência americana, muito popular entre certa camada social daquele país, cumpre os requisitos exigidos para exercer o poder, segundo aqueles que entendem como correta a visão platônica? 
Caso 2 - A relação entre justiça e lei 
Leia o texto abaixo, retirado do endereço eletrônico http://www1.folha.uoI.com.br/foIha/bbc/uIt272u4228OO.shtml, respondendo, a seguir, as questões que seguem: Governo argentino e ruralistas retomam disputa com protestos da BBC Brasil, em Buenos Aires Com duas manifestações que reuniram multidões em dois pontos diferentes da capital Argentina nesta terça-feira, o governo da presidente Cristina Kirchner e os ruralistas retomaram a disputa após um período de trégua. Os protestos em Buenos Aires ocorreram um dia antes da votação no Senado da proposta do governo que prevê o aumento dos impostos sobre as exportações do setor agropecuário. (...) Em um discurso de quase 30 minutos, o ex-presidente Kirchner fez fortes críticas aos ruralistas: “Quiseram destituir o governo nacional e popular (de Cristina)”, disse o ex-presidente. “Damos a outra face, porque estamos em defesa do povo.” Já o Presidente da Sociedade Rural, Luciano Miguens disse: “Essa medida não pode ir adiante”, disse “É injusta, confiscatória e inconstitucional.” (grifo nosso) 1. A possibilidade de uma lei ser injusta é largamente discutida nos dias de hoje. A partir de uma perspectiva platônica de Estado, expressa na obra República, é natural que o filósofo-rei elabore regras concretas injustas? Justifique. 2. Tomando o caso argentino acima como referência, Platão consideraria possível que uma regra injusta pudesse ser emanada por um governo popular? Por quê? 
Caso 1— GABARITO 1 - Sugestão de resposta: A partir do dualismo platônico, desenvolver a questão do exercício do poder por aqueles que apresentam maior aptidão a conhecer a verdade, a justiça e a beleza: o rei-filósofo. Afinal, o governante máximo desta sociedade,que tem por objetivo uma perfeição assentada na razão, imaginada por Platão em ‘A República” (Politéia), era o rei-filósofo porque, segundo o pensamento desenvolvido pelo grande filósofo grego, apenas eles, por serem os que mais próximos estão das idéias do Bem, do Belo e do Justo, têm condições de agir como “condutores da sociedade”, já que o governo da Razão deve sempre predominar sobre o instável Reino dos Sentimentos. 
2 - Sugestão de resposta: Não, pois as virtudes exigidas para o exercício do poder, segundo Platão, não estariam sendo levadas em conta. No caso em tela, segundo a reportagem, mais pesou o fato de ser a candidata do sexo feminino do que seu preparo para o exercício da função. 
Caso 2 
1. Sugestão de resposta: E interessante que se aborde a impossibilidade daquele que conhece o mundo essencial, agir em contrariedade a esse conhecimento. Nesse caso, ao conhecer a verdade e a justiça, é ilógico que o rei-filósofo elabore regras concretas injustas já que em A República a palavra do rei-filósofo poderia ser considerada justa e a melhor expressão das leis. 
2. Sugestão de resposta: É interessante que se aborde a impossibilidade daquele que conhece o mundo essencial, agir em contrariedade a esse conhecimento. Nesse caso, ao conhecer a verdade e a justiça, é ilógico que o rei-filósofo elabore regras concretas injustas já que em A República” a palavra do rei-filósofo poderia ser considerada justa e a melhor expressão das leis. 
Unidade 2 — Fundamentos para uma Filosofia Jurídica
 
Aristóteles (384 – 322 a.C.) ingressou na Academia aos 18 anos, sendo aluno de Platão por 20 anos.
Após a morte de Platão, abandona a cidade de Atenas e torna-se Professor de Alexandre Magno por 6 anos (342 - 366 a.C.).
Em 335 a. C. retorna para Atenas e funda o Liceu.
Ao contrário de Platão, Aristóteles valorizava também o conhecimento empírico, escrevendo uma vasta obra sobre todas as áreas do conhecimento.
2) A Ética propriamente dita.
A “Ética a Nicômacos” é a sua principal obra que trata sobre o tema.
A determinação do que é Ética não se faz pelos valores em si, mas pela observação pura dos modos de viver institucionalizados na sociedade, por intermédio dos costumes e das leis.
Para Aristóteles, toda ação humana tende para um determinado fim ou objetivo que representa um bem.
Qual seria, então o soberano bem, o objetivo supremo?
 O soberano bem é a felicidade (eudaimonia) e consiste na perfeição daquilo que diferencia o homem dos demais seres, isto é, no exercício de uma autêntica vida racional.
Portanto, o homem que deseja viver bem deve fazê-lo de acordo com a razão.
Viver de acordo com a razão significa viver praticando as virtudes éticas.
Para Aristóteles a alma humana divide-se em alma vegetativa (responsável pelas funções básicas da vida), (responsável alma sensitiva pelos sentimentos e emoções) e alma racional.
A virtude ética é o resultado do domínio da alma racional sobre as demais partes.
Os impulsos, as paixões e os sentimentos tendem ao excesso ou à falta, cabendo a virtude impor o justo meio. Os excessos e faltas caracterizam os vícios.
O justo meio não é a mediocridade, mas um ato de culminância da razão, de sabedoria prática diante dos acontecimentos. Trata-se, portanto, de uma excelência de caráter.
Exemplos de justo meio fornecidos por Aristóteles na “Ética a Nicômacos”: a coragem é o justo meio entre a temeridade (excesso) e a covardia (falta); a liberalidade em relação ao dinheiro é um meio termo entre a avareza (falta) e a prodigalidade (excesso); a pessoa amável de maneira adequada é amistosa enquanto aquela que se excede é aduladora e a que peca pela falta é desagradável.
Assim “a excelência moral (virtude ética) é uma disposição da alma relacionada com a escolha de ações e emoções, disposição esta consistindo num meio termo determinado pela razão.
Esta virtude se adquire por intermédio do hábito, daí a famosa frase de Aristóteles: “uma andorinha não faz verão”.
Explicar o conceito de equidade em Aristóteles.
A equidade é um princípio de ação que visa nortear os julgamentos quando a lei é omissa, sendo corretiva da justiça legal – quando esta engendra uma injustiça pela generalidade dos seus preceitos normativos.
A justiça é a virtude social por excelência.
O homem é um ser social, porque só pode realizar todas as suas potencialidades vivendo em sociedade: “É na polis que o homem se realiza”.
“Quem vive isolado, afastado da polis ou é um semi-deus ou é uma besta selvagem, porque não necessita do convívio humano”.
A política é a prática responsável pelo governo da polis, tendo importância decisiva para a realização do ser humano.
2.2. Aristóteles: o sentido polissêmico de justiça (legalidade e equidade). 
Nesta aula estudaremos um dos filósofos mais importantes para a Ciência, a partir de uma breve apresentação de sua contribuição para o pensamento científico, compreenderemos a relação com o seu antecessor, Platão. Em seguida, verificaremos que Aristóteles elaborou duas obras fundamentais ao Direito: Ética a Nicômaco e Política. Este pensador trabalhou temas diretamente ligados à Filosofia Jurídica (Igualdade, proporcionalidade, equidade, justiça distributiva e comutativa etc). E foi considerado pelos estudiosos da História das idéias como sistematizador do pensamento ocidental, tendo contribuído, ainda, no campo das Ciências Naturais, História da Filosofia, Psicologia, as leis da argumentação e da Lógica. 
Ao contrário de Platão, não define o direito a partir da idéia de justiça, mas define a justiça em função do direito, sendo possível no interior da Pólis (definir este conceito. Pólis ou cidade-estado: nova forma de convivência centrada na ágora (praça pública) para o debate sobre interesses comuns. Neste contexto, surge a figura do cidadão, aquele que fazendo uso público de sua razão, delibera conjuntamente aos seus pares os destinos da cidade). Segundo o entendimento de Aristóteles, a política é ciência da felicidade humana, uma ciência prática que busca o conhecimento como meio para a ação e que se divide em ética e política. A felicidade, em seu modo de ver, significa certa maneira de viver específica do homem, ser social por natureza, destinado a desenvolver suas potencialidades na vida em sociedade. Segundo Paulo Nader (2003, p. 110) “Diferentemente de seu mestre, que situava as questões filosóficas em um plano de profunda abstração, Aristóteles procurava ligar-se mais aos fatos empíricos”. É importante apresentar em linhas gerais o conteúdo do livro Política como o estudo das constituições das poleis. A obra está dividida em três partes, a saber: os livros I, II e III, que tratam da teoria do Estado em geral e da classificação das várias espécies de constituições; os livros IV, V e VI, em que se analisa a política prática, ou seja, estuda a natureza das constituições existentes e dos princípios para seu bom funcionamento; e os livros VII e VIII, em que se examina a política ideal. Na obra Ética a Nicômaco [A Ética a Nicômaco ou Nicomaquéia foi assim chamada por ter sido, provavelmente editada por Nicômaco, filho de Aristóteles. Ética a Eudemo, por ter sida editada ou redigida pelo seu discípulo deste nome, uma refundição da anterior. A Grande Ética ou Ética Maior, um resumo posterior. (TRUYOL Y SERRA, p.132)] aprofunda os ensinamentos que retira de Platão (República), elabora sua teoria ética a partir das estruturas morais vigentes na comunidade grega do séc. V a.C. De um modo geral, podemos dizer que a sua teoria apresenta o procedimento do homem prudente como um valor, cuja opinião da experiência da vida e os costumes da cidade são condições objetivas para se filosofar politicamente. Diferentemente de Platão, Aristóteles humanizou o fim último na medida em que o tornou terreno, por isso, o ético em Aristóteles é entendido a partir do ethos (do costume), da maneira concreta de viver vigente na sociedade. Neste aspecto, interessa mencionar que a suaética compreende duas categorias de virtudes: as virtudes morais, fundamentadas na vontade, e as virtudes intelectuais, baseadas na razão. Como exemplo de virtudes morais: a coragem, a generosidade, a magnificência, a doçura, a amizade e a justiça. As virtudes intelectuais ou dianoéticas [Diánoi entendimento. Em Aristóteles é usada como um termo geral para atividade intelectual. Noético - relativo ao pensamento; noetikos — inteligente.] são: a sabedoria, a temperança, a inteligência e a verdade. Para este pensador, uma ação pode ser considerada como justa quando realiza o equilíbrio das virtudes morais e quando alcança as virtudes intelectuais. O objetivo da ação moral é a justiça, assim como, a verdade é o objetivo da ação intelectual. Em sentido lato, a justiça [livro V da Ética a Nicômaco.] configura o exercício de todas as virtudes, observando-se a instância da alteridade, ao passo que em sentido estrito, encontra-se como uma virtude ética que implica o princípio da igualdade. Assim a justiça aparece como um valor ético que se desvela em nossos atos, logo “toda virtude e toda técnica nascem e se desenvolvem pelo exercício”(SALGADO, 1995, p. 33). 
Na Ética a Nicômaco, Aristóteles enumera três condições para que um ato seja virtuoso, a saber: primeiro, o homem deve ter consciência da justiça de seu ato; segundo, a vontade deve agir motivada pela própria ação; terceiro, deve-se agir com inabalável certeza da justiça do ato. É relevante o conceito de virtude, apresentando que virtude poderá apresentar algumas acepções, a saber: qualidade daquilo que está de acordo com o que é considerado correto e desejável do ponto de vista da moral; qualidades morais como a temperança, a modéstia, a generosidade e a justiça; aquilo que está de acordo com os princípios do bem. A virtude para este autor, será uma espécie de meio termo, termo médio entre os extremos, evitando, assim por dizer, o excesso e a deficiência, uma vez que a justiça é uma virtude que só pode ser praticada em relação ao outro e de modo consciente. O objeto da justiça é realizar a felicidade na Pólis, o seu oposto, a injustiça, poderá ocorrer por falta ou por excesso. 
Depois de uma análise cuidadosa do termo virtude, é interessante observar como Aristóteles distinguiu duas classes de justiça: a universal e a particular. A justiça universal significa a justiça em sentido amplo que pode ser definida como conformidade ao nomos (norma jurídica, costume, convenção social, tradição). Esta norma constituinte do nomos é dirigida a todos, e assim sendo toda ação deve corresponder a um tipo de justo que é o justo legal. O membro da Pólis se relaciona com todos os demais, ainda que virtualmente, e compartilha com todos os efeitos de sua atitude ou omissão. A justiça universal ressalta a importância da legalidade como um dos aspectos que fundamenta a coesão social. Logo a comunidade existe virtualmente na pessoa de cada membro, e o homem virtuoso é aquele cujo agir necessariamente observa o princípio neminem laedere (não prejudique a ninguém). A justiça particular significa em sentido estrito o hábito de realizar a igualdade como uma relação direta entre as partes, típica da experiência citadina, justiça mutativa. Esse tipo de justiça vincula-se com a justiça universal, pois o transgressor da se compromete também diante do nomos. 
O justo particular apresenta-se em duas formas distintas: o justo particular distributivo que assinala a justiça distributiva e o justo particular corretivo que apresenta a justiça corretiva. 
A idéia de justiça distributiva surge no sentido de igualdade na devida proporção. Essa modalidade de justiça regula as ações da sociedade política com seus membros e tem por objeto a justa distribuição dos bens públicos: honras, riquezas, encargos sociais e obrigações. Essa prática também se fundamenta na igualdade que não se confunde com uma igualdade matemática e rígida, mas proporcional na medida em que observa o dever de dar a cada um o que lhe é devido; observa os dotes naturais do cidadão, sua dignidade, o nível de suas funções, sua formação e posição na hierarquia organizacional da pólis. O princípio de igualdade que figura neste tipo de justiça exige uma desigualdade de tratamento, pois sendo diferentes segundo o mérito, os benefícios a serem atribuídos também devem ser diferentes. 
A outra modalidade de justiça particular é a justiça corretiva ou sinalagmática, que se divide em comutativa e judicial. Trata- se de um tipo de justiça que regula as relações entre cidadãos e utiliza o critério do justo meio aritmético ou igualdade. Observa-se que este tipo não focaliza em primeiro plano as pessoas, mas sim as coisas. Medem-se os benefícios ou prejuízos que as pessoas podem experimentar, ou seja, as coisas e os atos no seu valor efetivo. Nos casos de ações que geram constrangimento para uma das partes, caberá ao juiz restabelecer a igualdade rompida através de uma sentença. Quando há a vontade dos interessados como elemento principal, chama-se justo comutativo (sinalagma) e, quando por decisão do juiz a vontade de um deles é contrariada, 
Neste último caso, o sujeito de uma injustiça é sancionado a reparar o dano provocado indevidamente a outrem. Pode-se perceber que o princípio de igualdade que figura em seu pensamento recorda as especulações pitagóricas acerca da justiça. 
Segundo o pensamento político-jurídico de Aristóteles, a idéia de justiça política se refere aquela que organiza a vida comunitária e que, em particular, deve observar o processo deliberativo social. Nesse sentido, o justo político abrange duas outras formas de justiça: o justo natural e o justo legal. O justo natural significa o que será sempre o mesmo em toda parte, independe da vontade humana, ou melhor, para existir não precisa de qualquer decisão ou ato de positividade. O 
que em princípio poderia ser cumprido de maneiras diferentes, passa a ser obrigatório por ser assumido pelo nomos vigente em uma Pó1is. Esse tipo de justo decorre do ato legislativo e configura-se no conjunto de disposições vigentes na Pólis. 
Tanto o justo natural como o justo legal constituem a ordem normativa da cidade. O justo natural é constituído por noções e princípios comuns que encontram fundamento na própria natureza racional do homem. Há uma lei natural ou direito natural que desvela a natureza da comunidade política. O ponto de partida é o princípio da naturalidade da sociedade política; o homem, animal político é chamado a viver na Pólis por força de sua própria essência, e dessa forma sendo a cidade-estado uma realidade natural, exige-se, logicamente, que toda relação política esteja vinculada aos preceitos da razão, da legalidade e da igualdade. 
Temos que observar que o justo legal encontra sua origem no justo natural. Essa relação se esclarece quando se percebe que se caminha do geral para o particular, ou seja, um princípio geral pode acarretar uma lei específica. O princípio neminem laedere que significa que não devemos prejudicar as pessoas, um preceito da justiça natural, pode ser positivado em norma que prevê uma punição para atos como o homicídio, a injúria e etc. Os conflitos entre preceitos jurídicos legais e jurídicos naturais, segundo Aristóteles, não deveriam invalidar a ordem jurídica da Pólis, exceto em um sistema corrompido. 
Por isso que a eventual tensão entre a generalidade abstrata da lei e a singularidade concreta dos casos reais era mediada pela equidade (epeikéia), em atenção à justiça natural. 
A equidade é pensada como forma corretiva da justiça legal quando esta engendra certa injustiça pela própria generalidade de seus preceitos normativos. 
Conforme esse princípio, o julgador coloca-se como legislador, e opera a adaptação da lei ao caso concreto, portanto, o julgador assumindo a postura do legislador torna-se um homem preocupado com a correção ética da justiça, um homem équo, definido como aquele que não é rigoroso na aplicação da justiça, quando esta se configura como a pior solução,mas que fundamenta seus juízos nos preceitos de uma ação justa racional. Para Aristóteles, ordem é a lei e o governo da lei é preferível ao de qualquer cidadão, porque é a lei, razão sem apetites’ (ARISTOTELES, 1997) pondera Aristóteles na Política. 
Se o objetivo da atividade humana é a vida na Pólis, esta deve ser anterior ao indivíduo. Aristóteles assevera que há no homem um impulso social que se desvela primeiramente na família, em seguida na aldeia, até alcançar a estrutura equivalente a uma Pólis. A cidade é por sua natureza uma unidade na diversidade, cuja lei escrita ou não escrita, o nomos, surge da experiência citadina e, portanto, é intrinsecamente superior a qualquer decisão individual por mais sábia que seja. Por ser o nomos, a razão desprovida de paixão, deve ser a suprema autoridade da sociedade política, e no Direito da Pólis há elementos naturais e permanentes, convencionais e mutáveis, pois sendo a razão comum a todos os homens, todos serão iguais, até porque o nomos é razão que realiza a igualdade jurídica formal. Destarte a lei comum seria uma lei natural-original, tendo validade geral, independente da opinião dos homens. 
Em Aristóteles, a conformidade com a lei apresenta a relação que o sentido de justiça particular mantém com a idéia de equidade indagar sobre o conceito de equidade: reconhecimento de que os direitos são iguais para todos, expresso em julgamento, ação, atitude etc.; característica de quem ou do que revela senso de justiça, imparcialidade; lisura, correção no modo de agir ou opinar; que em si aponta para o fato de que o justo ultrapassa a simples dimensão da lei escrita, ou seja, vai além da razão de ser da lei escrita e se liga diretamente ao sentido de lei natural na medida em que pode ser compreendido como um critério de ajuizamento da igualdade ditada pela razão conforme a lei natural. Observa-se que a razão significa uma forma superior da natureza humana em que a equidade surge para corrigir os lapsos da lei convencional, sobretudo quando a lei, aplicada mecanicamente, não corresponde à essência da justiça. As circunstâncias particulares exigem a aplicação da equidade para dirimir um caso concreto, buscando uma igualdade entre as partes. Enfim, o sentido de equidade em Aristóteles passa pelo aspecto da igualdade, pelo espírito da alteridade, que em última instância marca sua visão de justiça: mecanismos políticos que vislumbrem o bem comum. 
Caso 1 — O justo como meio termo A idéia de virtude como justo meio entre extremos traz a possibilidade de que busquemos o agir correto em um modelo de proporção. O agir correto liga-se então a essa idéia de proporcionalidade. “Revisão do decreto de crimes ambientais deve chegar à Casa Civil nesta sexta Claudia Andrade UOL Notícias Em 09/10/2008 - 20h20 
A proposta de revisão do Decreto 6.514, que regulamenta a Lei de Crimes Ambientais, deverá ser entregue à Casa Civil nesta sexta-feira. O texto foi elaborado em conjunto pelos ministérios do Meio Ambiente, Agricultura, Desenvolvimento Agrário e Justiça. (...) Os representantes do agronegócio, contudo, querem mais mudanças no decreto. (...) O deputado Valdir Colatto, presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária reclama, por exemplo, das multas definidas para diferentes infrações ambientais. “As multas são exorbitantes, são confiscatórias. A lei diz que a multa tem que ser proporcional ao patrimônio, o que não ocorre no decreto’, argumenta, referindo-se à Lei 9.605, de fevereiro de 1998, a Lei de Crimes Ambientais.” 
(ANDRADE, C. In: UOL notícias. Disponível em: http://cienciaesaude.uol.com.br/ultnot/2008/10!09/ult4477U1032.jhtm.) 
Como podemos observar, a idéia de proporcionalidade é utilizada como referência de medida justa. Nesse sentido pergunta-se: 
1. E possível, em Aristóteles, relacionar a idéia de justo meio à idéia de proporcionalidade no direito? Justifique sua resposta. 
2. No caso acima, constatada que a lei não respeita a proporcionalidade entre o valor da multa, seria esta justa na concepção aristotélica? 
3 — A idéia aristotélica de justo meio foi recepcionada, de alguma forma, no sistema jurídico brasileiro hodierno? 
Caso 2 – Equidade
Aristóteles, ao desenvolver sua teoria de justiça, acabou por nos proporcionar um mecanismo de adequação do justo, muito importante mesmo nos dias de hoje: a equidade. Leia a reportagem abaixo, extraída do endereço virtual http:/www folha. uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u419353.shtml e, após, responda as questões que se seguem: Tarso descarta mudança na lei seca para motoristas -RENATA GIR.ALDI da Folha Online, em Brasília O ministro Tarso Genro (Justiça) descartou nesta sexta-feira qualquer possibilidade de modificação na lei denominada tolerância zero que proíbe a ingestão de álcool por motoristas. Tarso disse que a “lei é boa” e sua aplicabilidade depende do “bom senso” dos policiais. Para o ministro, o erro está em aplicar a lei de forma mecânica. Ele defendeu sua continuidade alegando que “está dando certo”. (...) 
“[O ideal é que] não seja aplicada mecanicamente. Tem que ter uma tolerância, dependendo do caso concreto até 0,2, o que ressalva o bombom, o sagu [doce preparado com vinho] e o anti-séptico”, brincou o ministro. Em seguida, Tarso brincou com o caso de um padre que venha a tomar um cálice de vinho ao celebrar a missa. ‘O padre sai da missa, tomou um cálice de vinho, poderia ter tomado um suco de uva, aí ele [padre] chega diante da autoridade que pede sua carteira [de motorista], O policial que está ali vai registrar e certamente vai acolher [as explicações do padre]’, disse o ministro. 1. O que é equidade em Aristóteles? 
2. No caso apresentado pelo Ministro Tarso Genro, um possível acolhimento aos argumentos do padre pelo policial, poderia ter como fundamento a utilização do conceito aristotélico de equidade? Fundamente. 
Caso 1— GABARITO 1 - Sugestão de resposta: Sim. Aristóteles reconheceu corretamente a igualdade como proporcional, geométrica, analógica. Afirmava o estagirita que o igual é um meio entre o demais e o de menos. Mas como o igual é um meio, assim também o direito é um meio. Assim, porque o justo é proporcional, o direito, que deve ser justo, também é proporcional 
2 - Sugestão de resposta: Não, pois as virtudes exigidas para o exercício do poder, segundo Platão, não estariam sendo levadas em conta. No caso em tela, segundo a reportagem, mais pesou o fato de ser a candidata do sexo feminino do que seu preparo para o exercício da função.
Caso 2— GABARITO 
Sugestão de resposta: Aristóteles, preocupado com o problema da aplicação da lei - que deve ser sempre geral - ao caso concreto, e tendo em conta que a justiça legal não pode prever os casos particulares, apresenta a teoria da justiça de conveniência ou adaptação, que equivale à equidade. Para ilustrá-la, refere-se à régua de chumbo utilizada pelos construtores em Lesbos, a qual não é rígida e se adapta à forma da pedra; da mesma forma a lei deve se adaptar aos fatos. Assim, o eqüitativo é justo segundo um corretivo de justiça legal, e não segundo a lei. Assim, de outra forma podemos dizer que a equidade consiste na adaptação da regra existente à situação concreta, observando-se os critérios de justiça e igualdade. Pode-se dizer, então, que a eqüidade adapta a regra a um caso específico, a fim de alcançar a justiça no caso concreto. Ela é uma forma de se aplicar o Direito, mas sendo o mais próximo possível do justo para as partes envolvidas. 2. Sugestão de resposta: Sim, pois a lei, sendo geral, deveria ser aplicada também ao padre. Porém, no caso concreto, a aplicação da norma geral não é justa, equânime, conforme se observa no caso. Nesse caso, a aplicação da norma, respeitada a sua literalidade, tornaria injusto seu resultado. 3. Lembrar ao aluno que o princípio da proporcionalidade é um dos mais utilizados princípios no atual contexto jurídico, principalmente por aqueles que se dizem seguidores da chamada escola pós-positivista, O próprio inciso LIV do art. 5º da ConstituiçãoFederal é considerado o dispositivo que constitucionaliza esse princípio no ordenamento brasileiro, já que due processo of Iaw nos EUA representa o princípio da razoabilidade, que, sob uma perspectiva substancial, equipara-se ao nosso princípio da proporcionalidade. 
Unidade 2 - Fundamentos para uma Filosofia Jurídica 
Objetivos:
• Conhecer em linhas gerais a importância do pensamento estóico para a teoria do direito natural;
• Estudar os conceitos de natureza, ordem, justiça, liberdade, igualdade e direito natural;
• Compreender a relação entre justiça e direito natural segundo os estóicos; 
• Compreender a influência do estoicismo na doutrina do direito natural de Cícero;
2.3. O Estoicismo e o direito natural. 
O Estoicismo surge no período helenista, em que a cultura grega é difundida por intermédio das conquistas de Alexandre Magno.
Por outro lado, a perda da autonomia das pólis gregas influencia as novas correntes filosóficas, ao invés da realização por intermédio da atividade política, como preconizava Aristóteles, o homem deve cultivar um refúgio interior que lhe propicie paz de espírito.
Além do Estoicismo, o Epicurismo e o Ceticismo foram correntes filosóficas importantes do helenismo.
Em 300 a.C. Zenão de Cítio funda a escola, que funcionava a céu aberto, junto a um pórtico (stoá, em Grego. Daí o nome Estóico/estoicismo).
O Estoicismo dividiu-se em três períodos: o antigo, o médio e o imperial.
No período imperial surgiram os estóicos que ficaram mais conhecidos: Sêneca (4-65 a.C.), Epiteto (117 d.C. – um escravo liberto) e Marco Aurélio (121-181 d.C. – imperador romano).
O Estoicismo era uma filosofia sistemática que podia ser representada pela metáfora do pomar, onde a cerca simboliza a Lógica, as árvores simbolizam a Física e os frutos simbolizam a Ética.
A Física Estóica.
Somente existem entidades que afetam ou podem ser afetadas: os corpos.
Os dois princípios que regem o universo estão presentes nos corpos: um princípio passivo, que é a matéria; um princípio ativo, que é a forma (fogo artífice, pneuma, razão universal, Deus).
“Dado que o princípio ativo, que é Deus, é inseparável da matéria e como não existe matéria sem forma, Deus está em tudo e Deus é tudo.” (Panteísmo Cosmológico).
Neste contexto, podemos entender a simpatia universal: “O universo é assim como que um grande organismo, no qual o todo e as partes se harmonizam e simpatizam, ou seja, sentem em correspondência uma com a outra e conseqüentemente com o todo.”
“A lei natural nos liga à humanidade inteira e a nossa relação de um com outro é como entre as partes do corpo.”
A ordem que mantém os nossos corpos vivos é proveniente da ordem maior do Cosmos.
“A parte é sempre menor que o todo, e se o homem possui racionalidade, então o Cosmos deve possuí-la em mais alto grau.”
Estamos para o macrocosmo da mesma forma que um microorganismo está para nós.
A Ética estóica.
Se o Cosmos é racional então o homem deve: aceitar o seu destino, porque tudo que acontece tem um propósito para o conjunto do universo; viver conforme a natureza, isto é, ter a natureza como modelo; cultivar a reta razão, pois esta é a faculdade do Cosmos que se manifesta de forma consciente no homem.
A ataraxia não é mera passividade, mas um estado de serenidade da alma adquirido pela aceitação dos acontecimentos que independem da vontade pessoal. Isto é possível com a supressão das paixões (pathos – desequilíbrio emocional).
As paixões obscurecem a razão (crimes passionais, apaixonado, patológico, são termos que derivam de pathos, isto é, paixão).
Temos liberdade para dar significado (assentimento a uma representação) aos fatos que nos afetam de acordo com um critério racional.
O ser humano, para ser feliz, deve dominar as suas representações, isto é, a maneira que ele dá significado aos eventos da sua vida (transformar a crise em oportunidade).
A virtude é expressão de uma adesão à ordem cósmica, que é o bem em si.
A prática da virtude não visa nenhuma recompensa neste ou em outro mundo. Trata-se da disciplina consciente. 
A simpatia universal da Física implicava no respeito aos familiares, aos cidadãos da pólis e aos cidadãos do mundo, daí o estoicismo ser considerado uma filosofia cosmopolita que se adaptou bem ao Império Romano, ultrapassando as fronteiras nacionais dos povos conquistados, em nome de uma missão civilizadora.
Viver conforme a natureza é manter a união com as forças que nos conservam vivos: nas plantas esta união é totalmente inconsciente; nos animais as forças se manifestam instintivamente; nos homens temos a razão.
Todos os males do mundo que não dependem de nós são indiferentes. Todos os males do corpo são moralmente indiferentes.
Para refletir:
AULA PRÁTICA DE DIREITO 
Uma manhã, quando nosso novo professor de “Introdução ao Direito” entrou na sala, a primeira coisa que fez foi perguntar o nome a um aluno que estava sentado na primeira fila:
- Qual é o teu nome? 
- Chamo-me Juan, senhor. 
- Saia de minha aula e não quero que voltes nunca mais! - gritou o desagradável professor. 
Juan estava desconcertado. Quando voltou a si, levantou-se rapidamente, recolheu suas coisas e saiu da sala. Todos estávamos assustados e indignados porém ninguém falou nada. 
- Agora sim! - e perguntou o professor - para que servem as leis?... 
Seguíamos assustados porém, pouco a pouco, começamos a responder à sua pergunta: 
- Para que haja uma ordem em nossa sociedade. 
- Não! - respondia o professor. 
- Para cumpri-las. 
- Não! 
- Para que as pessoas erradas paguem por seus atos. 
- Não!! 
- Será que ninguém sabe responder a esta pergunta?! 
- Para que haja justiça - falou tímidamente uma garota. 
- Até que enfim! É isso... para que haja justiça. E agora, para que serve a justiça? 
Todos começávamos a ficar incomodados pela atitude tão grosseira. Porém, seguíamos respondendo: 
- Para salvaguardar os direitos humanos... 
- Bem, que mais? - perguntava o professor. 
- Para diferençar o certo do errado... Para premiar a quem faz o bem... 
- Ok, não está mal porém... respondam a esta pergunta: agi corretamente ao expulsar Juan da sala de aula?... 
Todos ficamos calados, ninguem respondia. 
- Quero uma resposta decidida e unânime! 
- Não!! - respondemos todos a uma só voz. 
- Poderia dizer-se que cometi uma injustiça? 
- Sim!!! 
- E por que ninguem fez nada a respeito? Para que queremos leis e regras se não dispomos da vontade necessária para praticá-las? 
Cada um de vocês tem a obrigação de reclamar quando presenciar uma injustiça. 
- Não voltem a ficar calados, nunca mais! 
Vá buscar o Juan - disse, olhando-me fixamente. 
Naquele dia recebi a lição mais prática no meu curso de Direito. 
Quando não defendemos nossos direitos perdemos a dignidade e a dignidade não se negocia.
Reflexos do estoicismo no Direito.
É costume distinguir na escola estóica três fases: a antiga, a média e o estoicismo novo. 
Temos como conceitos importantes a ideia de um universalismo político na concepção de universo como civitas(cosmopolitismo) comum aos homens, o que possibilita uma compreensão mais clara do sentido de igualdade construído por essa corrente de pensamento.
 A consequência mais importante do princípio da igualdade formulado pelos estóicos a partir da concepção da racionalidade como patrimônio comum é a teoria do direito natural, porque há um conjunto de princípios que dimanam da natureza que na concepção desses pensadores, se configura numa grande Razão que rege o universo. E, neste aspecto, governa a todos os homens enquanto racionais. 
Este está diretamente ligado à Filosofia Jurídica com seus debates sobre a concepção de justo e sobre o significado e valor dos direitos naturais e da Liberdade como um constructo muito importante para o pensamento moderno. Observa-se que o estoicismo grego propôs uma imagem do universo segundo a qual tudo seria

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