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1 COMÉRCI O I NTERNACI ONALUNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL – UNIJUÍ VICE-REITORIA DE GRADUAÇÃO – VRG COORDENADORIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA – CEaD Coleção Educação a Distância Série Livro-Texto Ijuí, Rio Grande do Sul, Brasil 2008 José Dalmo de Souza Dieter Rugard Siedenberg COMÉRCIO INTERNACIONAL COMÉRCI O I NTERNACI ONAL 2 2008, Editora Unijuí Rua do Comércio, 1364 98700-000 - Ijuí - RS - Brasil Fone: (0__55) 3332-0217 Fax: (0__55) 3332-0216 E-mail: editora@unijui.edu.br www.editoraunijui.com.br Editor: Gilmar Antonio Bedin Editor-adjunto: Joel Corso Capa: Elias Ricardo Schüssler Designer Educacional: Jociane Dal Molin Responsabilidade Editorial, Gráfica e Administrativa: Editora Unijuí da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí; Ijuí, RS, Brasil) Catalogação na Publicação: Biblioteca Universitária Mario Osorio Marques – Unijuí S729c Souza, José Dalmo de. Comércio internacional / José Dalmo de Souza, Dieter Rugard Siedenberg. – Ijuí : Ed. Unijuí, 2008. – 90 p. – (Coleção educação a distância. Série livro-texto). ISBN 978-85-7429-682-1 1. Comércio internacional. 2. Relações internacionais. 3. Comércio exterior. I . Siedenberg, Dieter Rugard II.Título. III. Série. CDU : 399 339.5 3 COMÉRCI O I NTERNACI ONAL SumárioSumárioSumárioSumário APRESENTAÇÃO ............................................................................................................................5 CONHECENDO OS PROFESSORES .........................................................................................7 EMENTA ...........................................................................................................................................9 INTRODUÇÃO .............................................................................................................................. 11 UNIDADE 1 – O COMÉRCIO INTERNACIONAL ................................................................. 13 Seção 1.1 – Um Pouco de Quase Tudo (até ideologia, menos economia pura) .................. 13 Seção 1.2 – Um Pouco de Teoria... ............................................................................................. 17 Seção 1.3 – Complicômetros do Comércio Internacional... .................................................... 20 UNIDADE 2 – AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS ............................................................... 27 Seção 2.1 – Fundamentos de Relações Internacionais ........................................................... 27 Seção 2.2 – Estrutura das Relações Internacionais ................................................................ 29 Seção 2.3 – As Organizações Internacionais ........................................................................... 30 Seção 2.4 – As Empresas Transnacionais .................................................................................. 31 Seção 2.5 – Cronologia das Relações Internacionais .............................................................. 33 2.5.1 – Uma Perspectiva Histórica e Geográfica ................................................. 33 2.5.2 – Uma Perspectiva Econômica .................................................................... 34 2.5.3 – Uma Perspectiva Política ........................................................................... 35 2.5.4 – Uma Perspectiva Jurídica .......................................................................... 35 UNIDADE 3 – COMÉRCIO EXTERIOR................................................................................... 37 Seção 3.1 – Formação de Preços no Comércio Exterior .......................................................... 37 Seção 3.2 – Meios de Pagamentos no Comércio Exterior ...................................................... 40 Seção 3.3 – Informação, Marketing e Pesquisa de Mercado ................................................. 45 3.3.1 – Informações Comerciais............................................................................. 45 3.3.2 – Marketing Internacional ........................................................................... 52 COMÉRCI O I NTERNACI ONAL 4 3.3.3 – Pesquisa de Mercado ..................................................................................54 3.3.4 – Internacionalização da Empresa ..............................................................54 3.3.4 – Feiras Internacionais e Missões Empresariais ........................................56 Seção 3.4 – Outros Aspectos Operacionais ...............................................................................58 3.4.1 – Siscomex .......................................................................................................58 3.4.2 – NBM/NCM/Naladi ......................................................................................60 3.4.3 – Incoterms ......................................................................................................61 UNIDADE 4 – TÓPICOS ESPECIAIS ........................................................................................65 Seção 4.1 – Normas e Técnicas ...................................................................................................65 4.1.1 – Sistema Aduaneiro Internacional e Brasileiro ........................................65 4.1.2 – Aladi ..............................................................................................................67 Seção 4.2 – Exportação ................................................................................................................68 4.2.1 – Para Exportações Simplificadas ................................................................70 Seção 4.3 – Para Obtenção de Preferências ...............................................................................70 4.3.1 – Sistema Geral de Preferências (SGP) ........................................................71 4.3.2 – Sistema Global de Preferências Comerciais (SGPC) ..............................72 Seção 4.4 – Certificado de Origem ..............................................................................................73 Seção 4.5 – Câmbio .......................................................................................................................74 Seção 4.6 – Tratamento Tributário ..............................................................................................78 Seção 4.7 – Comércio Exterior: legislação básica .....................................................................80 Seção 4.8 – Consórcios Internacionais .......................................................................................86 À GUISA DE CONCLUSÃO .........................................................................................................89 5 COMÉRCI O I NTERNACI ONAL ApresentaçãoApresentaçãoApresentaçãoApresentação Nosso componente curricular se chama Comércio Internacional. Com ele, pretende- mos que você, aluno, tenha uma noção abrangente e clara do que significa este importante aspecto da vida econômica e, portanto, da vida tanto dos cidadãos quanto dos próprios países. Para cumprir tais objetivos, é necessário que alguns passos sejam seguidos. Por exem- plo, alguns conhecimentos devem ser construídos – isso mesmo, construídos, pois você é parte importante deste processo – antes de outros. Para ilustrar, podemos ver o seguinte caso. O comércio é apenas uma das formas das relações internacionais. Embora nos dias de hoje o comércio detenha a maior parte da atenção de todos os países e em torno do qual as demais relações gravitam – diplomáticas, políticas ... – as relações comerciais não detiveram sempre esta primazia. Durante a Guerra Fria, as relações estratégicas, apoiadas por relações comerciais, davam o tom da conversaentre os países... Interessante, não? Por outro lado, como falar de empresas multinacionais, sem antes discutir o que é a tal de “nacionalidade”, ou seja, o atributo do Estado Nacional? Portanto, para um caminho fácil, tranqüilo e sem surpresas – isto em geral não é muito bom quando se trata de ensino-aprendizagem – construiremos todo o conteúdo passo a passo. E, ao final, voilá, eis que você armazenará uma “bagagem” de conhecimento! Olhemos inicialmente nossa ementa. COMÉRCI O I NTERNACI ONAL 6 7 COMÉRCI O I NTERNACI ONAL José Dalmo de Souza Nascido na capital do estado de São Paulo e radicalizado gaúcho, reside em Ijuí desde 1995. Economista formado pela Universidade Mackenzie, fez mestrado na área de Economia no Programa de Pós-graduação em Integração da América Latina da Universidade de São Paulo – Prolam/USP com bolsa The Ryoichi Sasakawa Young Leaders Fellowship Fund – Sylff. Entre seus estudos, dedica-se à economia, mas apenas para tentar entender como o mundo funciona. Já descobriu algumas coisas, dentre elas, que no mundo não há somente coisas do mundo! Casado com a Lucia com quem – além de compartilhar a foto – namora há 23 anos, é pai do João Paulo (7 anos) e da Alice (5 anos), dois ijuienses e da Clarissa uma paulistana de... (não se deve dizer a idade de uma dama, mas é verdade que tem mais ida- de do que o rostinho de adolescente revela...). É conhecido como um economista que fala coisas que se en- tende e recebe isto como um elogio... Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo. (João 16:23) Conhecendo os ProfessoresConhecendo os ProfessoresConhecendo os ProfessoresConhecendo os Professores COMÉRCI O I NTERNACI ONAL 8 Dieter Rugard Siedenberg É natural de Ijuí (RS), onde cursou primário, ginásio e cientí- fico. Quase cinquentão, portanto. Concluiu os cursos de Gradua- ção em Administração de Empresas e Ciências Contábeis pela Unijuí, ainda no milênio passado. Da mesma forma, realizou e concluiu seu Mestrado em Planejamento Regional na Universida- de de Karlsruhe (Alemanha), como bolsista do DAAD (Serviço Ale- mão de Intercâmbio Acadêmico) entre 1987 e 1990. Ingressou na carreira acadêmica em 1990, atuando como docente no Departamento de Estudos da Administração (DEAd), da Unijuí. Entre 1990 e 1995 também atuou numa equipe multidisciplinar mantida por esta mesma instituição, dedicada à elaboração de Planos Diretores de Desenvolvimento, bem como aos estudos sobre o tema e assessoria de planejamento para o desen- volvimento de municípios e regiões. Em 1996 iniciou seu Doutorado na Universidade de Tübingen (Alemanha), no Institut für Wirtschaftsgeographie, como bolsista da Capes. Nesta etapa de sua qualificação debruçou-se sobre ques- tões relacionadas ao desenvolvimento regional, concluindo seu Doutorado em 2000. Após seu regresso ao Brasil, retomou as atividades docentes e de pesquisa no DEAd e, pouco tempo depois, passou a atuar também como professor no Programa de Mestrado em Desenvolvi- mento, mantido pela Unijuí, a partir de 2002. Concomitantemente passou a atuar como docente do Programa de Mestrado e Douto- rado em Desenvolvimento Regional, mantido pela UNISC, em Santa Cruz do Sul (RS). Desde então a sua vida acadêmica “entrou no tranco”. Es- poradicamente presta assessoria ao Fórum dos Conselhos Regio- nais de Desenvolvimento do Rio Grande do Sul, uma vez que suas pesquisas estão direcionadas a questões ligadas ao planejamento e desenvolvimento regional, gestão pública, cidadania e temas afins. Em função disto, possui alguns livros, capítulos de livros e artigos, publicados, bem como trabalhos apresentados sobre estes temas, participando ainda de grupos de pesquisa e orientando graduandos, mestrandos e doutorandos sobre assuntos correlatos. É descendente não-fanático de alemães (mas também, com esse nome!), casado com Solange Siedenberg, professora, dois fi- lhos (estoque humano reposto), todos gremistas. A sua ficha aca- dêmica está no Lattes, atualizada por força das circunstâncias pro- fissionais. E, se depois de tudo isso a curiosidade ainda não estiver estancada, o negócio é perguntar diretamente... 9 COMÉRCI O I NTERNACI ONAL Cronologia das Relações Internacionais. Fundamentos de Relações Internacionais. Organismos Internacionais. Estrutura e órgãos reguladores. Barreiras do comércio interna- cional. Normas e técnicas de exportação. Normas e técnicas de importação. Formação de preços no comércio exterior. Sistema aduaneiro internacional e brasileiro. Incoterms. Meios de pagamento no comércio exterior. Outros aspectos operacionais. Siscomex, NBM/NCM/ Naladi. Informação, marketing e pesquisa de mercado. Internacionalização da empresa. Consórcios internacionais. Feiras internacionais. Missões empresariais. Podemos perceber que nosso curso inicia, com um espectro bem amplo, de Relações Internacionais e se aprofunda até o nível de termos usados em comércio exterior (incoterms), bem como uma visão de como uma empresa pode fazer para internacionalizar-se. É uma grande aventura, fascinante. E você é nosso convidado de honra. EmentaEmentaEmentaEmenta COMÉRCI O I NTERNACI ONAL 10 11 COMÉRCI O I NTERNACI ONAL IntroduçãoIntroduçãoIntroduçãoIntrodução O comércio é a forma mais sofisticada que o ser humano desenvolveu para elevar a satisfação das sociedades e dos indivíduos, depois do advento da produção. Isto significa que, trocando mercadorias, o bem estar das comunidades e dos indivíduos pode elevar-se para além daqueles patamares que poderiam ser atingidos somente pela própria produção. É importante, neste sentido, entendermos como o comércio surgiu e como passou a ser praticado entre os países. Para isto, precisamos de um pouco de história das relações interna- cionais, pois as relações de comércio exterior são uma forma de relação internacional. Depois, perceberemos que, conforme a sociedade internacional se estrutura e se complexifica, o comércio adquire um valor ainda maior e passa a ser institucionalizado, ou seja, passa a ser alvo de legislação por parte dos países que compõem o sistema mundial. Mas surge uma pergunta: como fazer isso se não existe um Governo Mundial que tenha um poder Executivo Mundial, um Legislativo Mundial e um poder Judiciário Mundial? Viu como estudar comércio não é só estudar comércio, mas estudar todos os aspectos interligados a ele? O ensino universitário é fascinante por causa disto. Pelas relações que estabelece entre todas estas coisas importantes que se entrelaçam e formam o nosso dia-a- dia. Perceberemos, depois, que o comércio internacional forma um subsistema dentro do sistema mundial e que, para participar dele, uma empresa situada em um país, deve, além de observar alguns procedimentos, adotar uma postura de internacionalização. Vamos, portanto, estudar tais procedimentos e, lógico, esta postura de empresa que se internacionaliza. Nesta nossa grande jornada, o livro texto do professor Dr. Argemiro Luís Brum será nosso valioso guia. Portanto, tenha em mãos o seu exemplar de Economia Internacional: uma síntese da Análise Teórica. COMÉRCI O I NTERNACI ONAL 12 Mas é claro que nosso curso não é a leitura do livro. Ele deve ser lido, consultado. E um subsídio para nossas discussões. É um ponto de apoio. É uma âncora. O navio é nosso curso... Bons estudos! 13 COMÉRCI O I NTERNACI ONAL Unidade 1Unidade 1Unidade 1Unidade 1 O Comércio Internacional Seção 1.1 Um Pouco de Quase Tudo (até ideologia, menos economia pura) Neste curso, adotaremos o ponto de vista da Teoria Clássica do Comércio Internacio- nal, ou seja, aproximadamente a idéia que quase todos temos e que foi aprendida (e é ainda ensinada) nas escolas durantea fase de aprendizado para se chegar à graduação em uma instituição de Ensino Superior. Atenção: Existem outros pontos de vista, e um deles é abordado no compo- nente curricular Globalização e Análise de Cenários. Aqui não abordare- mos este aspecto de efeito influência, ou seja, o uso político do comércio exterior, pois não é nosso objetivo criticar o sistema mas ver, de modo mais pragmático, como ele funciona. Deixemos a crítica para mais tarde... Deste ponto de vista por nós adotado, o comércio existe porque uma comunidade não pode produzir tudo o que necessita. Às vezes falta um ou mais dos recursos necessários. Pode ser que falte terra adequada a um determinado plantio; ou falte tecnologia para a fabricação de dado produto. Com isto, as comunidades utilizam aquela parte da produção que não é consumida internamente e troca pelas mercadorias que precisa. É preciso, como você pode ver, que uma outra parte queira adquirir esta produção e ao mesmo tempo, se desfazer daquela parte que destinou para o comércio. COMÉRCI O I NTERNACI ONAL 14 Este raciocínio impõe duas observações: 1 – A troca direta (escambo) é pouco adequada a um número grande de transações, envol- vendo uma diversidade imensa de produtos. Por isto, surgiu a moeda como unidade de valor. A moeda é, assim, uma intermediária de troca. A comunidade vende o que foi des- tinado ao comércio exterior, ou seja, fora da comunidade, e com o dinheiro recebido, compra o que precisa; 2 – Aquela parte da produção doméstica, que não é consumida, fica à disposição para ser tocada, ou seja, transacionada e pode ser chamada de modo muito simples como exce- dente econômico. Desta forma, o comércio exterior surge pela existência do excedente econômico e é por isso que o comércio é bom para todos os envolvidos: através daquilo que não é usado do- mesticamente, a comunidade pode adquirir dinheiro para comprar o que precisa e não é capaz de produzir, ou produz de modo ineficiente. Para nossos propósitos, bastaria dizer, com maior preço ou menor qualidade, enfim, com mais sacrifício. Então, é melhor comprar de fora. A fórmula é então: O comércio é bom para todos os envolvidos e, mais comércio é melhor do que menos comércio. Ou seja: sempre que se puder aumentar o comércio, isto é melhor para todos os envolvidos. Em um sistema mundial no qual o comércio deve ser incentivado, é claro que se deve ter algum tipo de indicador do grau de comércio de cada país. Este indicador é a Taxa de abertura de um país, uma fórmula para medir o comércio, ou antes, a quantas anda o comércio de um país: TA = 0,5x[(EXPORTAÇÕES + IMPORTAÇÕES)/PIB] x 100 15 COMÉRCI O I NTERNACI ONAL A Teoria Clássica do Comércio Internacional – TCCI defen- de que o comércio internacional é positivo a todos os que dele participam. Isso é o que se chama de jogo de soma não-nula. Mas como funciona este jogo? Atualmente se crê que a especialização internacional se faça segundo a utilização relativa dos fatores de produção em cada país. Para isto, é preciso lembrar o que são os fatores de produção. Mas como isto chegou a ser assim? Estas respostas devem ser buscadas na História. O império romano anexou grande parte do então mundo conhecido, desde antes da nossa Era Comum, ou seja, do nasci- mento de Cristo. Anexava, exigia obediência e pagamento de tri- butos, mas deixava vigorar a cultura e alguns aspectos da vida cotidiana. Depois, o império romano se dividiu em dois, o impé- rio do Ocidente e o império do Oriente. O império do ocidente sofreu um colapso primeiro do que o outro. Muito mais tarde o império romano no oriente também sofreu um colapso. Com a desarticulação do império romano, as regiões antes anexadas recobram sua autonomia e começa a se esboçar a for- mação daquilo que seriam os estados modernos. Estas regiões constroem uma certa “personalidade” e buscam a consolidação de sua independência. Mas esta independência é a outra face da crescente interdependência que ocorre entre eles, principalmen- te pelas relações internacionais que se estabelecem. Dentre es- tas, o comércio é o principal vetor de transmissão de influência. O comércio apresenta, então, uma fase de crescimento. Não-nula Um jogo de soma não-nula significa que para um ganhar não é preciso que o outro ou os outros jogadores percam. Todos ganham! É assim que a TCCI vê o comércio. Fatores de Produção Recursos ou fatores de produção são todas aquelas coisas que são utilizadas para a produção dos bens e serviços que satisfazem as diversas necessidades dos seres humanos. De forma tradicional, são os seguintes: Terra, Tecnologia, Trabalho, Capital (produtivo e financeiro) e Capacidade Empreendedora. COMÉRCI O I NTERNACI ONAL 16 O renascimento do comércio, a busca por novos mercados abastecedores e também por mercados compradores foi um aspecto importante das Cruzadas. Estas excursões político-religiosas servi- ram também, além de muitas outras coisas, de base para o expansionismo comercial. A todo este reflorescimento do comércio chamamos fase Mercantilista. Ela antecede o surgimento do Capitalismo. Todo este dinamismo do comércio foi o responsável pela acumulação de capitais que possibilitou o surgimento da Revo- lução Industrial. No entanto, já havia sido engendrada uma nova forma de regime econômico, o capitalismo, baseado na busca por lucro através da propriedade privada e seus direitos. Avaliação: Leia o capítulo 1 do livro “Economia Internacional: uma síntese da análise teórica” e responda o questionário a seguir. Questionário: 1 – Como as grandes navegações das potências ibéricas se inse- rem no quadro do mercantilismo, durante a Idade Moderna? 2 – Quais os pontos principais do Acordo Cobden-Chevalier entre Inglaterra e França? 3 – Depois deste acordo, que tipo de relações prevaleceu no mun- do, sobretudo após 1880: ( ) acordos multilaterais; ( ) acordos bi-laterais; ( ) integração econômica; ( ) guerra comercial; ( ) n.d.a. Mercantilismo Note que Feudalismo é um regime político, de administra- ção dos feudos e reinos. Já mercantilismo é um regime econômico. 17 COMÉRCI O I NTERNACI ONAL Seção 1.2 Um Pouco de Teoria... Adam Smith (1723-1790), economista hoje classificado como clássico, demonstrou que os países deveriam se especializar naquilo que poderiam produzir de maneira mais barata. Para ele, o importante eram os custos que regulavam os fluxos de mercadorias entre as nações e, por isto, concentrou sua atenção em explicar como a produtividade dos fatores de produção influenciariam a fabricação dos produtos e, por conseguinte, o comércio. Para Adam Smith, a produtividade se relacionava diretamente com vantagens na- turais (por exemplo: clima, solo e riquezas minerais) ou adquiridas (por exemplo, apti- dões e técnicas especiais). Assim, para este autor, uma nação produziria um determina- do bem a um custo menor se detivesse alguma vantagem absoluta em relação aos fatores utilizados neste bem. Esta é, de modo rápido, uma idéia da Teoria das Vantagens Abso- lutas – TVA. Na TVA, o comércio, para ser benéfico a todos, exige que cada país seja o produtor de menor custo de pelo menos um bem vendido no exterior. Mas David Ricardo (1772-1823) não estava satisfeito com esta formulação e pensava consigo: se for assim, quando uma nação tiver vantagem absoluta em todos os bens do seu comércio exterior, ela não vai comprar nada de ninguém... Por isso, e observando o comércio entre as nações, ele formulou uma nova versão da TVA. Ela se chamou Teoria das Vantagens Comparativas – TVC. Nesta teoria, o comércio pode ocorrer mesmo quando um país é mais eficiente em todos os bens produzidos, pois o comércio é benéfico paratodos os envolvidos, em quaisquer circunstâncias. Ricardo ainda se baseava nos custos, mas agora, pensava em termos de custos relati- vos entre os participantes do comércio, ou seja, de como o custo de um país se relacionava com o custo de outro país, entre todos os bens produzidos. COMÉRCI O I NTERNACI ONAL 18 Dados dois países com produtividades diferentes e com ne- cessidades complementares, a partir das vantagens naturais ou adquiridas, a nação mais eficiente (que produz um bem com me- nor custo) deve se especializar na produção do bem que lhe ga- rante o maior benefício, enquanto que a outra nação deve se es- pecializar no bem que sua desvantagem absoluta é menor. Um exemplo para ilustrar: Suponha que você seja extremamente eficiente em fazer dois produtos diferentes. Lembre-se, você é realmente muito bom em fazê-los. E seu vizinho não é tão bom quanto você em fazer estes mesmos dois produtos. Mas vocês dois precisam da mesma forma de ambos. Você, então, faz os dois produtos? Claro que não. Faça aquele que lhe dá mais vantagem, que você tem uma maior vantagem absoluta. E deixe para seu vizi- nho fazer o outro produto, que você faz melhor do que ele, mas faz de maneira menos eficiente do que faz aquele produto que escolheu para fazer. Viu? Mesmo sendo mais eficiente do que ele em produzir ambos os produtos, assim mesmo é melhor para você comprar o segundo produto dele e se concentrar em produzir aquele no qual obtém mais benefício. Este raciocínio intrincado é a Teoria das Vantagens Com- parativas. Mas este seria o fim da história? Teoria das Vantagens Comparativas Cuidado com a nomenclatura: Pode-se dizer Lei das Vanta- gens, Teoria das Vantagens ou Princípio das Vantagens. Esta é uma questão importante para os estudiosos da metodologia mas que, no entanto, aqui, não será considerada. Vale o registro. 19 COMÉRCI O I NTERNACI ONAL Não. Note que segundo Brum (2001, 16), em seu livro Economia Internacional: uma síntese da análise teórica (que aliás, é nosso livro-texto. Leia-o com cuidado e consulte sempre. É precioso), as condições de concorrência imperfeita vigentes no comércio de bens e serviços, reforça o comércio de fatores de produção entre os países. Isto quer dizer que as diferenças entre os consumos de produtos se perpetuam e se reforçam com o comércio de fatores e ao mesmo tempo intensificam este mesmo comércio. Isto é a base da internacionalização do capital com as “multinacionais”, também chamadas ”empresas transnacionais”. A base da teoria atualmente aceita em comércio internacional baseia-se no fato de que a oferta e a demanda (note: não mais só a oferta é levada em consideração) dos fatores de produção, sendo distintas de um país para outro, fazem com que os custos relativos também sejam diferentes. Esta é contribuição de Heckscher e Ohlin, abreviada para Teoria HO (ainda bem! com este nome...). Logo, segundo Brum: Os diferentes processos de produção implicam em aplicações de diferentes quantidades de traba- lho e capital na produção de um bem. Isto define a diferença dos preços relativos das mercado- rias entre as nações e o respectivo padrão de vantagens comparativas (2001, p. 48). Esta teoria ainda sofre um refinamento técnico sofisticado pelo economista estadunidense Paul Samuelson, mas deixemos esta particularidade para a leitura do livro- texto... daqui a pouco! Exercício para revisão: Leia o capítulo 2 de nosso livro-texto. Responda: você está seguro de ter entendido as duas primeiras colocações de David Ricardo sobre a Teoria das Vantagens Comparativas? Reveja-as em seu contexto (página 38) e diga uma das conseqüências que você consegue perceber a partir destas duas observações (DICA: multinacionais...). COMÉRCI O I NTERNACI ONAL 20 Seção 1.3 Complicômetros do Comércio Internacional... As barreiras comerciais Embora todo o discurso oficial dos estados nacionais sejam em torno do livre-comér- cio, a prática, no entanto, não é sempre convergente com tais idéias... Dizendo de modo claro: Às vezes – vezes demais, é verdade – os objetivos nacionais de um estado são incompa- tíveis com a prática do livre comércio. A própria formação de blocos econômicos pode ser uma forma de desvio de comércio. Você verá mais deste assunto no componente curricular Globalização e Análise de Cenários. Por ora, nos interessa que, em virtude desses objetivos nacionais, o comércio pode ser dificultado e até interrompido apesar de toda a sua importância. Dica: Leia o capítulo 6 do livro-texto. Isto facilitará o entendimento deste nosso as- sunto, pois abordaremos aqui o assunto de forma complementar àquela exposição. O protecionismo pode ser definido como a negação do livre-comércio. Esta negação, concretizada por meios técnicos (econômicos), obedece, entretanto, a duas naturezas dis- tintas, a econômica e a política. Como costuma ocorrer no campo da economia política, estas duas áreas não estão bem delineadas, ou seja, com suas fronteiras bem definidas, e constantemente estão imbricadas quando não sobrepostas. 21 COMÉRCI O I NTERNACI ONAL Entretanto, podemos, sem prejuízo, adotar que a natureza econômica do protecionis- mo se revela quando o objetivo final da prática é a consecução de um aspecto de uma política macroeconômica no sentido de uma intervenção corretiva. Desta maneira, podemos falar em protecionismo regulador quando a ação do governo for necessária para a correção de rumos da economia por influência de fatores “alheios” ao mercado que alteram o livre jogo da demanda e da oferta; podemos falar em protecionismo educador quando a inter- venção do governo é feita visando à proteção de determinados setores, por exemplo, as in- dústrias nascentes e, podemos também nos referir ao protecionismo para Equilíbrio do Balanço de Pagamentos, inclusive previsto no Gatt (General Agreement of Tarifs and Trade), de caráter provisório, e que serve para restaurar o equilíbrio das contas em caso de crise do balanço de pagamentos. Contrariamente, o protecionismo político caracteriza-se por uma intervenção do go- verno como meio para a obtenção de um objetivo de política mais amplo que o âmbito econômico, ou seja, onde os fatores econômicos são secundários. Neste caso temos, não uma tipologia, mas práticas diversas de acordo com a necessidade surgida no momento e que, supostamente, respondem melhor às orientações dos formuladores de políticas. Independentemente, porém, da natureza da ação protecionista, esta concretiza-se atra- vés de alguns instrumentos. Dois são os tipos principais: instrumentos tarifários e instru- mentos não-tarifários. O primeiro consiste na estrutura de taxas impostas às mercadorias importadas pelo país; o segundo, na estrutura de todas as demais restrições ao livre-comércio. Intermediaria- mente, há o denominado método misto, que consiste na exigência de licenças prévias ou outra restrição não-tarifária e simultaneamente a utilização de taxas múltiplas de câmbio desfavoráveis às importações constituindo um similar às barreiras tarifárias. A criação da variedade de barreiras não-tarifárias (BNT) e a gradual transferência na preferência de seu uso em relação às barreiras tarifárias (BT) estão associadas à mudança de objetivos do protecionismo (sua natureza), que passaram de instrumento econômico de defesa para instrumento de política de poder nacional. COMÉRCI O I NTERNACI ONAL 22 Este fenômeno é denominado neoprotecionismo. A UNCTAD (United Nations Conference on Trade and Development) classifica o uni- verso do neoprotecionismo (BNT) em cinco categorias principais: 1) Para-tarifárias: abrange mecanismos como depósitos de importação, aplicação de maio- res tarifas em determinadas épocas do ano (tarifassazonais) ou a utilização de tarifas diferenciadas, de acordo com o volume de bens importados (quotas tarifárias); 2) controle de níveis de preços: objetiva manter o preço das importações em um patamar desejado, o que pode ser atingido pelo estabelecimento de preços mínimos, pelo monitoramento dos preços dos bens importados, pela cobrança de direitos compensatórios ou anti-dumping, por acordos de restrições “voluntárias” de preços entre exportadores e importadores, etc. 3) controle de níveis de quantidade: inclui medidas destinadas a impedir, limitar ou monitorar as importações. Entre elas, destacam-se a proibição de importar determinados produtos, a fixação de quotas, as restrições “voluntárias” de exportações (como, por exemplo, os acordos bilaterais relacionadas ao comércio de têxteis, negociados no âmbito do Acordo Multifibras – MFA) e as autorizações condicionais de importações; 4) exigências aplicáveis a importações específicas: consiste em exigências de formalida- des alfandegárias adicionais ou certificados de cumprimento de determinados padrões estabelecidos pelo país importador quanto à saúde, qualidade, etc.; 5) internas (non-border measures): compreendem as medidas que regulam a venda de pro- dutos domesticamente, como impostos de consumo discriminatórios, e as que beneficiam a produção de bens que competem com as importações: subsídios, facilidades de crédito, concessões tributárias, compras governamentais preferenciais, etc. O neoprotecionismo é uma intervenção direta no comércio, sob alguns aspectos, po- lítica. Este caráter não é um privilégio das grandes nações em sua política de potência nacional, inobstante ser um expediente de uso regular nas relações internacionais quer econômicas quer políticas. 23 COMÉRCI O I NTERNACI ONAL Isto porque, o arcabouço jurídico internacional (Ordem Jurídica Internacional Vigente – OJI) que define e rege as relações internacionais e, portanto, as relações econômicas – e comerciais – entre os Estados é determinada pelos principais países no cenário internacional. É isto o que expressou Gonçalves (1994) ao discutir a nova Organização Mundial de Comércio – em substituição ao Gatt – ao dizer que, se os principais países não emprestarem seu apoio à nova instituição, esta não será capaz de desempenhar satisfatoriamente seu papel (veja capítulo sobre o Brasil no livro texto). Por este ângulo, não parece surpreendente que, mesmo com o Gatt o neoprotecionismo tenha crescido tanto e faça parte tão solidamente das relações internacionais, a ponto de comprometer o sistema internacional de relações comerciais. O próprio Banco Mundial per- guntava em seu Relatório sobre o desenvolvimento Mundial, em 1987, na página 144: Por que motivo o movimento na direção de um clima comercial mais liberal foi interrompido? Seria o novo surto de protecionismo uma reação temporária à crise atual ou o início de uma nova tendência provocada pela falta de fé num sistema comercial aberto? E respondia: Na primeira hipótese, a recuperação econômica pode pôr f im à presente onda de neoprotecionismo. Mas, se os principais países já não acreditam que as normas do GATT aten- dem a seus interesses, então a abertura comercial corre sério perigo. O perigo maior advém do fato que, se assim é (segunda hipótese), o efeito influência do comércio (e, dentro deste, o neoprotecionismo) tende a ser exacerbado. Saiba mais sobre o Efeito Influência no Componente Curricular Globalização e Análi- se de Cenários. COMÉRCI O I NTERNACI ONAL 24 QUADRO SINÓPTICO: Classificação de Barreiras Não-Tarifárias Segundo Principais Categorias UNCTAD TIPOS ESPECIFICAÇÃO 1. Medidas Para-tarifárias depósitos de importação tarifas sazonais quotas tarifárias tarifas diferenciadas 2. Medidas de Restrição Quantitativas quotas quotas por países quotas sazonais autorização condicionada de importação proibições totais ou condicionadas acordos voluntários de exportação 3 . Medidas de Controle de Preços fixação de preços mínimos monitoramento de preços das importações direitos compensatórios (antidumping) acordos de restrições voluntárias 4 . Exigências Aplicáveis a Importações Específicas formalidades alfandegárias padrões: saúde, segurança, qualidade, etc. 5 . Medidas Internas impostos discriminatórios sobre consumo subsídio à produção doméstica facilidades creditícias concessões tributárias compras governamentais preferenciais Fonte: Reproduzido de Batista Jr. P. N. & Lima, M. P. S. N. Protecionismo dos países industria- lizados e suas implicações para a América Latina. In: Revista Indústria e Produtividade, R. J., 22 (251): 34-42, Março/90. 25 COMÉRCI O I NTERNACI ONAL SÍNTESE DA UNIDADE 1 Nesta unidade compreendemos como se viabiliza a prática do comércio, de que forma ela se desenvolve e sua finalidade na socie- dade atual. Fizemos um breve “passeio” pelas origens históricas do comércio e as teorias que tentam explicar este intrincado universo. Além disso, também nos familiarizamos com as práticas utilizadas em todo o mundo para proteger o comércio dos países por meio da imposição de barreiras comerciais. COMÉRCI O I NTERNACI ONAL 26 27 COMÉRCI O I NTERNACI ONAL As Relações Internacionais Seção 2.1 Fundamentos de Relações Internacionais Desde que os povos se constituíram em sociedades politica- mente organizadas e teceram relações entre si, temos a existên- cia das relações exteriores. Com a constituição dos estados nacio- nais, as relações entre as nações (para todos os efeitos, Estado Nacional = Nação, daí o termo “nacional” e “inter-nacional”) passaram a ser chamadas de relações entre os estados nacionais, entre as nações, inter-estados, inter-nações, internacionais. Embora existam inúmeros agentes internacionais, tais como sindicatos, empresas e times de futebol e as formas de relações entre estes assumam incontáveis tipos, tais como culturais, eco- nômicas, políticas, os Estados Nacionais continuam sendo o prin- cipal tipo de agente internacional. São eles que moldam a socie- dade internacional e influenciam seu âmbito e seu caráter con- forme suas decisões domésticas e seus efeitos exteriores. Ao lado deles, estão outros atores no cenário internacional. São eles: as organizações ou organismos internacionais e as empresas transnacionais (multinacionais). Pois bem, as relações entre os estados nacionais (os princi- pais atores, pelo menos por enquanto...) podem assumir duas for- mas básicas: Unidade 2Unidade 2Unidade 2Unidade 2 Relações Internacionais Relações Internacionais são, portanto, as interações entre os estados nacionais, entre estes e as organizações internacionais, as relações entre os organismos internacio- nais e as relações entre os Estados e as empresas nacionais com as empresas transnacionais. Ah, já estávamos esquecendo: as relações entre os organis- mos internacionais – geralmen- te acionados pelos governos dos estados nacionais – e as firmas nacionais ou transnacionais, também fazem parte das relações internacio- nais... COMÉRCI O I NTERNACI ONAL 28 1. interações pacíficas: são as relações de reciprocidade; relações de cooperação e coordena- ção; e relações de integração; 2. interações conflituosas: relações onde perspectivas diferentes, conforme o interesse nacio- nal doméstico, levam para o setor externo a existência de desacordos e litígios, dos quais o mais grave é o conflito bélico, a guerra. Para refletir: Parece ser claro para todos nós que a queda do muro de Berlim, o fim do conflito entre Estados Unidos (com aliados) e a ex-União Soviéti- ca em meados da década de 1980 (a tal de Guerra Fria) jogaram o mundo em um novo nível de relações internacionais.Neste novo nível, a ênfase está centrada na competição internacional e no aspecto econômico-co- mercial da coexistência na sociedade internacional. O comércio é conhecido como uma extensão da política de paz, um substituto da guerra. Mas cada vez mais se fala de guerra comercial... Há aqueles que tratam o conjunto de estados no planeta Terra como sendo uma socieda- de internacional, ou seja, um lugar onde existem diversos atores com suas respectivas res- ponsabilidades para consigo próprio e para com todos os demais. Outros tratam este mesmo conjunto como uma comunidade internacional, enfatizando, com isso, que haja um inte- resse comum e uma certa convergência de ações por parte de cada um para a consecução deste objetivo. Para refletir: E você? Como encara a tal “economia internacional”? Já pensou nisto? 29 COMÉRCI O I NTERNACI ONAL Seção 2.2 Estrutura das Relações Internacionais O fato de dizermos que a sociedade internacional é composta por atores e que estes atores são os estados nacionais, as organizações internacionais e as firmas transnacionais nos traz a pergunta: De quem estamos exatamente falando? Exercícios: • Quantos estados nacionais (países) existem atualmente no mundo? • A maior parte deles surgiu antes ou depois da Segunda Guerra Mundial? • Cite pelo menos três organizações internacionais que você conhece. Cite cinco empresas transnacionais que você conhece e diga seu país de origem (sua nacionalidade). A descrição pormenorizada do que se entende por estado nacional, seus tipos, seus objetivos e suas funções não constitui parte de nosso interesse neste componente curricular. Um pouco deste assunto (exceto os tipos de estados) é abordado no componente curricular Globalização e Análise de Cenários. Aqui, nós iremos nos ater nos outros dois elementos da sociedade internacional, quais sejam: as organizações internacionais e as firmas transnacionais. COMÉRCI O I NTERNACI ONAL 30 Seção 2.3 As organizações internacionais São também conhecidas por organismos internacionais. Por mais óbvio que pareça, a definição de uma organização internacional engloba dois aspectos: • Organização, ou seja, permanência e vontade própria dos sujeitos; e • Internacional, ou seja, seus elementos são sujeitos de direito internacional. A organização internacional é uma tentativa de estabelecer uma ordem nas relações internacionais pelo estabelecimento de vínculos duradouros entre os governos nos estados ou grupos dentro dos estados e outros agentes para além de suas fronteiras nacionais, esta- belecendo funções entre os estados. Para se compreender a existência das atuais organizações internacionais, é preciso recorrer ao panorama mundial imediato do segundo pós-guerra. A necessidade de reestruturar o mundo e reorganizar os fluxos de comércio e demais relações pacíficas entre as nações, determinou a vontade dos governos nacionais de montarem uma estrutura mundial que favorecesse a estabilidade e reduzisse o grau de incerteza nas negociações internacionais, notadamente o comércio. É a partir desta gênese que se pode entender a atual sociedade internacional no to- cante às organizações internacionais. O comércio precisa de estabilidade, ou seja, de proce- dimentos duradouros quanto ao valor das moedas nacionais umas em relação às outras (taxa de câmbio) e, portanto, de estabilidade de preços (ausência de inflação) bem como de comportamentos determinados por regras de modo a reduzir o grau de incerteza não só dos estados mas de todo o sistema. Para isto, foi desenhada uma estrutura em que, segundo os princípios da economia, surgiria esta maior estabilidade e previsibilidade: uma rede interligada de organizações, li- gadas entre si de maneira horizontal mas toda ela vinculada a uma organização guarda- chuva. 31 COMÉRCI O I NTERNACI ONAL Uma organização-filha cuidaria de investimentos produtivos nos estados membros; Outra, de empréstimos monetários para combater instabilidades cambiais; Outra ainda, das relações comerciais e seus assuntos correlatos; Outra, por sua vez, trataria dos interesses dos países quanto ao desenvolvimento de seu bem-estar... Exercícios: Leia o capítulo 12 do livro-texto e responda: 1 – Quais os objetivos do FMI, do Banco Mundial, do Gatt, da OMC e da Unctad? 2 – Qual a impressão pessoal que você tinha destes organismos antes de estudá-los? Sua opinião mudou? 3 – Será que muitas pessoas não têm uma opinião negativa sobre estas organizações porque percebem que elas foram desviadas de suas funções originais e usadas como arma política pela comunidade internacional para defender certos interesses em detrimento dos interesses nacionais dos países? Seção 2.4 As Empresas Transnacionais São também chamadas, em diferentes circunstâncias e como forma de enfatizar certos aspectos e secundarizar outros, de empresas multinacionais, plurinacionais, conacionais e supranacionais. São firmas produtoras de bens e/ou serviços com sede (matriz) em um esta- do nacional e filiais em outros estados. COMÉRCI O I NTERNACI ONAL 32 Existem ETNs em todos os setores, industriais, comerciais, bancárias, seguradoras, de informação, de publicidade e outras. É possível perceber na história que, inicialmente, a gêne- se das empresas transnacionais é européia. As atividades fo- ram principalmente a exploração de matérias-primas e de re- cursos naturais, produtos alimentares e farmacêuticos. Tam- bém a questão da infra-estrutura é importante, inclusive, trens e vias férreas. A segunda fase caracteriza-se por empresas estadunidenses com concentração na exploração de energia (petróleo) e indús- tria de transformação, tais como automobilística, química, far- macêutica e outras. Por fim, uma terceira fase pode ser detectada, com uma gran- de diversidade de atividades – em especial o setor de serviços, por exemplo, o setor bancário – e sedes de empresas transnacionais, bem como uma ampla ocupação de quase todos os países nos continentes. Trata-se da fase de expansão e consolidação das empresas transnacionais. É importante notar que, hoje em dia, a maior parte dos ne- gócios do mundo ocorre sob a responsabilidade das ETNs. Como toda empresa, também as ETNs perseguem um obje- tivos triplo: sobrevivência, lucro e crescimento e para isto otimizam suas decisões em quatro setores: decisões estratégicas (logística), decisões administrativas, decisões pol íticas e decisões operacionais. A diferença marcante é que a arena é o planeta e seus estados nacionais e, por enquanto, nem o céu é o limite, pois já há consórcios para fabricação de aeronaves para passeios estratosféricos... Empresas Estadunidenses São empresas dos EUA, uma vez que o termo “americanas” está incorreto. 33 COMÉRCI O I NTERNACI ONAL Exercícios: Argumente contra a existência das ETNs. Agora argumente a favor delas. Percebeu os dois lados da questão? Seção 2.5 Cronologia das Relações Internacionais Agora é preciso saber, também, como chegamos até aqui. Para tanto, pode-se adotar quatro visões diferentes, mas complementares entre si: 2.5.1 – UMA PERSPECTIVA HISTÓRICA E GEOGRÁFICA Embora seja razoavelmente claro que as cidades-estado da era clássica grega negocias- sem entre si e com outras áreas geográficas, percebe-se também que estas entidades e as circunjacentes foram absorvidas pelos impérios persa e romano. Tais impérios não eram so- ciedades internacionais. Somente com a ruína do império romano iniciaram-se as relações internacionais propriamente ditas. Assim, divide-se a historiografia das relações internacionais em três grandes fases: • De 476 era comum a 1492 era comum Formação da sociedade internacional, gestação dos estados nacionais a partir dafrag- mentação do império romano. O ano de 1492 é significativo pela expulsão árabe da penín- sula ibérica e o contato com os demais continentes através das grande navegações; COMÉRCI O I NTERNACI ONAL 34 • De 1493 e.c. a 1918 e.c. Formação de uma sociedade internacional a partir da matriz européia. Em seguida, européia-americana, no sentido de relação com os Estados Unidos e, mais tarde, uma socie- dade internacional em escala mundial. A data de 1919 é paradigmática como pós-guerra do primeiro conflito mundial em escala realmente global e a formação do Pacto da Sociedade das Nações. • De 1919 e.c. a nossos dias Consolidação de uma sociedade internacional institucional, regida por direito inter- nacional, com base em acordos, tratados e organizações internacionais representativas. 2.5.2 – UMA PERSPECTIVA ECONÔMICA Relações comerciais de grande vulto existem desde os fenícios, cartagineses, gregos e romanos antigos. No entanto, a revolução nos transportes, nas comunicações e a formação de organizações internacionais com a finalidade de organizar, coordenar e fiscalizar as rela- ções, realmente fizeram a diferença, a partir da Idade Média. Assim, a partir do comércio da Europa com a Ásia em uma primeira fase, segue-se outra, com as grandes rotas do comércio nas Cruzadas e Grandes Navegações. A época dos “descobrimentos”, formação das colônias. Já no século 19 vigorou o comércio livre-cambista, ou seja, livre-comércio e, mais tarde, entre 1880 e 1940, da transição ao bilateralismo. Comércio com intervenção ativa nas taxas de câmbio por parte dos estados nacionais bem como nos fluxos de comércio (protecionismo). A partir da Segunda Grande Guerra (1939-1945), há a institucionalização da econo- mia internacional e a formação de comércio multilateral, gênese do processo de globalização- regionalização. 35 COMÉRCI O I NTERNACI ONAL DICA: Sobre este importante processo de globalização-regionalização, veja componente curricular Globalização e Análise de Cenários! 2.5.3 – UMA PERSPECTIVA POLÍTICA A formação de um sistema internacional e sua dinâmica pode ser abordada, do ponto de vista da política, sob diversas configurações. A nós interessa, de momento, ressaltar a existência de uma recente estrutura bi-polar de poder, ou seja, o contexto da guerra fria entre Estados Unidos e ex-União Soviética, a existência de um movimento de países não alinhados ideologicamente de maneira inflexível com estes dois pólos – mas na prática, de difícil neutralidade – e a atual formação multipolar, na qual o poder mundial está dividido em mais de dois blocos de poder. É um sistema de interdependência internacional, que em- bora assimétrica, não é definida por sistema de dependência... 2.5.4 – UMA PERSPECTIVA JURÍDICA A perspectiva jurídica se dá com a formação de uma cultura de coexistência entre estados soberanos, onde inexiste um poder centralizado que exerça as funções governa- mentais em nível internacional, como os governos nacionais o fazem em seu âmbito domés- tico. Em outras palavras, na inexistência de um Poder Executivo, um Poder Legislativo e um Poder Judiciário, a coexistência é baseada em instituições – regras do jogo – acordadas entre as partes. São acordos, tratados, protocolos... que unem os Estados em compromissos entre si, em todas as áreas de atividades. Para refletir: Como se começou com Pacto da Sociedade das Nações e se chegou à Orga- nização das Nações Unidas (ONU)? Busque na internet argumentos. COMÉRCI O I NTERNACI ONAL 36 SÍNTESE DA UNIDADE 2 Nesta unidade estudamos como as relações internacio- nais fazem parte do cotidiano das sociedades, por meio de interações pacíficas, que trazem inúmeros benefícios ou de interações conflituosas, geradas por divergências de interesses entre os países. Neste conteúdo conhecemos um pouco dos significados das organizações internacionais e sua importância para o bom andamento e estruturação dos fluxos de comércio entre os países. Além disso, estudamos as empresas transnacionais, como se originaram sob uma perspectiva his- tórico-geográfica, econômica, política e jurídica. Você compreendeu tudo? Lembre-se, não passe a estudar outra uni- dade sem ter bem claro estes conceitos. 37 COMÉRCI O I NTERNACI ONAL Unidade 3Unidade 3Unidade 3Unidade 3 Comércio Exterior A partir deste momento, passamos para uma nova fase em nosso componente curricular Comércio Internacional. Seção 3.1 Formação de Preços no Comércio Exterior Existem diferentes formas dae se estabelecer o preço do produto, estudadas em Admi- nistração e Economia. Mas todas elas devem tratar o básico: levar em consideração os cus- tos de produção (custos fixos, variáveis e totais), as potenciais receitas auferidas (quantida- de vendida multiplicada pelo preço praticado) e, também, através destes, a margem. Assim, percebe-se que além daqueles itens de domínio da empresa, estão envolvidas variáveis que fogem completamente ao controle da firma, a demanda. Para o mercado externo, os cuidados devem ser redobrados, pois trata-se de um ambien- te diverso e mais complexo do que o contexto doméstico. Por isto, recomenda-se sempre um bom estudo das condições do mercado alvo. Para refletir: Atuando no comércio exterior, a empresa deve enfrentar: A possibilidade de não interferência direta por parte da empresa atra- vés de publicidade para influenciar o consumidor a adquirir o produto; COMÉRCI O I NTERNACI ONAL 38 A possibilidade de mudança das regras do jogo por alteração de políticas cambiais perpetradas pelos países envolvidos; Um nível extremamente acirrado de competição por parte de outros ofertantes do produto. Para uma empresa nova no mercado, as exigências são ainda maiores, pois uma vez que vai competir com firmas já estabelecidas, cujos produtos já são aceitos, a estreante no comércio exterior deve apresentar, além do preço atrativo, também uma qualidade compatí- vel com as exigências do mercado. Compatível, aqui, significa a mesma qualidade dos ou- tros concorrentes ou uma qualidade maior. Tudo isto, cuidando do preço... Por isto, a primeira observação, para a formação do preço a ser praticado no comércio exterior é – além dos custos de produção, é claro – uma verificação rigorosa de todos os benefícios fiscais (mecanismos tributários) e financeiros (por exemplo, tipos de financia- mentos) disponíveis para utilização. Para refletir: Existir uma isenção de custos ou um incentivo qualquer e a firma não usar porque desconhece sua existência? Por exemplo, existem diversas modalidades de financiamento às exportações, tais como BNDES-exim Pré-Embarque; BNDES-exim Pré- Embarque Especial e BNDES-exim Pós-Embarque. Além disso, pode-se utilizar o Adiantamento sobre Contrato de Câmbio (ACC) e Adiantamento sobre Cam- biais de Exportação ou Cambiais Entregues (ACE) junto à rede bancária. Há também, à disposição do exportador o Programa de Financiamento às Exportações do Banco do Brasil (Proex) nas modalidades Proex Financiamento, Proex Equalização bem como o Proex Letras de Exportação (Export Notes). 39 COMÉRCI O I NTERNACI ONAL Uma segunda observação envolve os demais custos que normalmente são diferentes daqueles praticados para o mercado doméstico, tais como os relativos ao transporte, despe- sas com embalagens específicas para exportação, fretes e seguros, além de custos novos, tais como despesas portuárias, despesas com despachantes e também com assessoria especializa- da em comércio exterior. Já imaginou: Ter esquecido que deve pagar as despesas de estadia e embarque no porto? Por isto, além de ler os contratos, é preciso também conhecer os termos ali usa- dos. Mas isto já é outra história que veremos depois. Assim, podemos começara pensar em como determinar o preço a ser praticado no mercado externo a partir do preço já existente no comércio doméstico. Isto requer duas observações: • Pressupomos que a firma já opera no mercado doméstico e está se inserindo no comércio exterior; • E também que a empresa vai praticar preços diferenciados para os mercados interno e externo visando auferir o máximo possível de benefícios. PREÇO EXTERNO = PREÇO INTERNO – (DESP. D) + (DESP. E) + MARGEM DE LUCRO (%) A TAXA DE CÂMBIO CONTRATADA COMÉRCI O I NTERNACI ONAL 40 Aqui abreviamos por despesas D aquelas despesas que normalmente existem na for- mação de preço doméstico mas que não existem para o mercado externo. São exemplos as isenções fiscais de vários tipos (este assunto será tratado mais tarde), mas também a comis- são de vendas no mercado interno, os gastos de distribuição e despesas financeiras relativas à comercialização no mercado doméstico. Quanto às despesas E, aqui estão agrupadas aquelas que não estão presentes na composição do preço doméstico, mas que integram o preço no mercado internacional, tais como, por exemplo entre outros, gastos com embalagens para exportação, despe- sas com transporte e comissão de agentes no exterior (para maiores detalhes, veja: Incoterms). Seção 3.2 Meios de Pagamentos no Comércio Exterior Os meios de pagamentos no mercado internacional são aqueles aceitos pelo costume, ou seja, algumas moedas nacionais com trânsito livre nas transações comerciais por todos os parceiros da sociedade internacional e o ouro. Devemos lembrar que as moedas nacionais têm trânsito livre e curso forçado somente dentro de seus respectivos territórios e que, na sociedade formada por estados nacionais autônomos e soberanos, não existe um governo que obrigue todos os países a aceitarem uns as moedas dos outros. Deve haver aceitação comum, pactuada, ou seja, acordada. Assim, estas moedas “internacionais” são denominadas de divisas. As principais divisas atualmente são: o dólar estadunidense e o ECU (Euro). Ao lado delas, também é aceito como meio de pagamento o ouro. 41 COMÉRCI O I NTERNACI ONAL Lembre-se: Meios de pagamentos: Divisas (Dólar Estadunidense e Euro) e ouro. Mas as moedas internacionais não têm curso forçado e poder liberatório dentro dos territórios dos outros países, ou seja, não têm trânsito livre, exceto em seus próprios países, pois, no fundo, são apenas moedas nacionais. Veja a diferença: • Divisas são apenas moedas nacionais aceitas em relações internacionais; • As moedas nacionais têm trânsito livre dentro de seus próprios países, mas não são aceitas internacionalmente; • As divisas são aceitas internacionalmente, mas não têm trânsito interno livre. Por isto, todos os pagamentos internacionais acabam sendo centralizados pelos Ban- cos Centrais dos Países. Funciona assim: Quando o exportador vende no mercado externo, as divisas recebidas ficam em poder do Banco Central de seu país que o paga em moeda nacional, através do sistema bancário. Já o importador, paga ao Banco Central de seu país em moeda nacional (que é tudo que ele pode ter) através da rede bancária ao Banco Central que guarda estas moedas e paga ao Banco Central do país exportador em divisas (mais informações sobre este assunto você verá, no próximo componente curricular, Globalização e Análise de Cenários). Quanto às formas de pagamentos que existem entre os países – realizadas com os meios de pagamentos – existem as seguintes modalidades: COMÉRCI O I NTERNACI ONAL 42 • Pagamento antecipado É uma forma que não oferece grande risco ao importador somente quanto há confian- ça justificada entre os parceiros. E se a mercadoria não for embarcada? E se chegar ao destino fora das condições especificadas? Pelo grau de confiança exigido, pode ser utilizada nas negociações entre matriz e filial, por exemplo. Ao lado desta exigência, no entanto, oferece a vantagem para o importador de preca- ver-se quanto eventuais oscilações de preços no futuro. Após o ato de embarque da mercadoria, o exportador encaminha os papéis originais da transação para que o importador desembarace a encomenda no porto de destino. Cópias devem ser fornecidas à agência do sistema bancário pela questão de contratação de câmbio da moeda estrangeira. Fonte: elaboração do autor. • Cobrança documentária O conjunto de regras que rege a Cobrança Documentária é denominada URC 522 (Uniform Rulles for Collections) ou Brochura 522 da Câmara de Comércio Internacional. 43 COMÉRCI O I NTERNACI ONAL O exportador envia a mercadoria ao importador e entrega ao seu banco a letra de câmbio. O banco remetente encaminha por carta-cobrança esta cambial ao banco cobra- dor, no país do importador, que faz chegar nas mãos do importador mediante aceite do saque ou pagamento. Então, com estes documentos, o importador pode desembaraçar a mercadoria. Os trâmites no sistema financeiro incorrem em gastos, geralmente – exceto por acordo explícito – a cargo do exportador. Fonte: elaboração do autor. • Carta de Crédito Forma de pagamento internacional regida pela Brochura 500 (UCP 500) das Regras e Usos Uniformes sobre Créditos Documentários da Câmara de Comércio Internacional. O importador solicita a um banco (banco emissor) em seu país que emita a Carta de Crédito. Este documento representa um compromisso de pagamento do banco ao exporta- dor da mercadoria e nele são especificados os dados da transação, dentre os quais estão, COMÉRCI O I NTERNACI ONAL 44 entre outros: valor, beneficiário, documentação exigida, prazo, portos de destino e de em- barque, descrição da mercadoria, quantidades, bem como a forma de pagamento (à vista, por aceite de letra de câmbio, por diferimento a uma data especificada ou por negociação da Carta de Crédito com um banco). A Carta de Crédito é em geral de caráter irrevogável, exceto quando dela constar ex- pressamente que é revogável. Fonte: elaboração do autor. 45 COMÉRCI O I NTERNACI ONAL Seção 3.3 Informação, Marketing e Pesquisa de Mercado 3.3.1 – INFORMAÇÕES COMERCIAIS Quando falamos de informações comerciais, estamos tratando de um universo muito amplo, pois conhecimento de taxa de câmbio ou dos termos acordados no vocabulário téc- nico no comércio internacional são também exemplos de informações comerciais. No entanto, aqui trataremos de algumas fontes de informações gerais sobre o comér- cio internacional. Eis uma lista com alguns dos principais órgãos: – Câmara de Comércio Exterior (Camex) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior: Órgão normativo que trata do estabelecimento de políticas de comércio exterior visando uma inserção competitiva do Brasil no comércio interna- cional. Câmara de Comércio Exterior – Camex Esplanada dos Ministérios, Bloco J, 7º andar e-mail: camex@mdic.gov.br Site: http://www.mdic.gov.br/comext/camex/camex.htm – Ministério das Relações Exteriores (MRE) • Subsecretaria-geral de assunto de integração, econômico e de comércio exterior (SGIE): Assessora o Secretário Geral das Relações Exteriores em suas atividades no tocante a comércio exterior, assuntos de integração e economia internacional. Site: http://www.mre.gov.br • Departamento Econômico (DEC): Formula diretrizes de política comercial exterior. COMÉRCI O I NTERNACI ONAL 46 • Departamento de Integração Latino-americana (DIN): Formula propostas de política exterior no tocante à integração latino-americana, especialmente, o Mercosul. • Departamento de Promoção Comercial (DPR): Planejador e executor de programas e atividades de promoção comercial no exterior. Ministério das Relações Exteriores Departamento de Promoção Comercial Esplanada dos Ministérios, BlocoH – Anexo I, Sala 220 – Brasília – DF e-mail: dpr@mre.gov.br site: http://www.braziltradenet.gov.br • Divisão de Informação Comercial (DIC) – dic@mre.gov.br • Divisão de Programas de Promoção Comercial (DPG) – dpg@mre.gov.br • Divisão de Operações de Promoção Comercial (DOC) – doc@mre.gov.br – Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) • Secretaria de Comércio Exterior (Secex): atua no sentido de ampliar a inserção ativa do país no comércio internacional. Formula propostas de políticas e programas de comércio exterior, estabelece normas, coordena a aplicação de defesa contra práticas desleais de comércio e demais salvaguardas. Trata do aperfeiçoamento do sistema operacional de comércio exterior e age como centro difusor de informações. Secretaria de Comércio Exterior – Secex Esplanada dos Ministérios, Bloco J – 8º andar Site: http://www.mdic.gov.br/comext/default.html • Departamento de Operações de Comércio Exterior – Decex/RJ • Departamento de Defesa Comercial – Decom/RJ • Departamento de Negociações Internacionais – Deint/DF • Departamento de Políticas de Comércio Exterior – Depoc/DF 47 COMÉRCI O I NTERNACI ONAL – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES): Vinculado ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Cuida de financiamentos de longo-prazo para o desenvolvimento do país. Sua Agência Especial de Financiamento Industrial (Finame) trata da linha de financiamento de exportação, o BNDES-exim. O BNDES também possui o Fundo de Garantia para a Promoção da Competitividade (FGPC – Fundo de Aval) que cuida do acesso ao crédito para exportações por micro, pequenas e médias empresas. BNDES Edifício de Serviços do Rio de Janeiro Av. República do Chile, 100 CEP 20139-900 Rio de Janeiro – RJ Site: http://www.bndes.gov.br – Ministério da Fazenda (MF) • Banco Central do Brasil (BACEN): É o responsável por fiscalizar e controlar a aplicação das normas em operações de câmbio. Analisa as operações de exportação (SISCOMEX) e possui sistema integrado de informações cambiais (SISBACEN). BACEN SCS Quadra 3, Bloco B CEP 70074 900 Brasília – DF Site: http://www.bacen.gov.br • Secretaria da Receita Federal (SRF): Administra a questão tributária interna e adua- neira; fiscaliza entrada e saída de produtos e arrecadação de direitos aduaneiros sobre importações brasileiras. Utiliza o Siscomex. Secretaria da Receita Federal (SRF) Esplanada dos Ministérios, Bloco P, 7º andar, sala 733 CEP: 70048-900 Brasília DF e-mail: expedito@receita.fazenda.gov.br Site: http://www.receita.fazenda.gov.br COMÉRCI O I NTERNACI ONAL 48 • Banco do Brasil (BB): É o agente financeiro do Brasil. Disponibiliza ao exportador um Programa de Financiamento às Exportações (Proex– Financiamento e Proex- Equalização). Banco do Brasil S. A. SBS – Quadra 04, Bloco C, Lote 32 – Brasília DF http://www.governo-e.com.br/proex – Ministério das Comunicações (MC) Site: http://www.mc.gov.br • Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT): O Progra- ma Exporte Fácil visa, através da capilaridade da empresa e legislação para fechamento de câmbio simplificado, disponibilizar um instrumento ágil para exportações em mon- tantes de até US$ 10 mil (dez mil dólares por operação). Ministério das Comunicações – MC ECT Agência Central SBN Quadra 1 – Bloco A – Edifício Sede Brasília – DF – CEP 70002-9000 Site: http://www.correios.com.br – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAA) MAA Esplanada dos Ministérios, Bloco D CEP : 70043-000 – Brasília – DF http://www.agricultura.gov.br http://www.agricultura.gov.br/spc/index.htm Capilaridade Capilaridade é a inserção da empresa no mercado. 49 COMÉRCI O I NTERNACI ONAL • Secretaria de Defesa Agropecuária (SDA): Estabelece os procedimentos para a certificação sanitária das exportações nacionais. O MAA comprova a sanidade das exportações de origem vegetal e animal pela emissão de certificado (Certificado Sanitário/Fitossanitário Internacional), através de seus departamentos: Departamento de Defesa e Inspeção Vegetal (DDIV) e do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Dipoa). • Secretaria de Produção e Comercialização (SPC). Atua no sentido de elevar a partici- pação do agronegócio nas exportações nacionais. É composta pelos seguintes depar- tamentos • Departamento do Açúcar e do Álcool – DAA; • Departamento do Café – Decaf; • Departamento de Comercialização – DCO – Agência de Promoção de Exportações S/A (Apex): Organismo para repasse de recursos do sistema Sebrae para microempresas e pequenas empresas. As demais empresas podem ser incluídas no caso de suas ações resultarem em benefício (elevação de oportunidades co- merciais, por exemplo). Agência de Promoção de Exportações S/A (Apex) SBN – Quadra 1 – Bloco B – 10º andar. Edifício CNC Brasília – DF CEP 70041 902 e-mail: apex@apexbrasil.com.br Site: http://www.apexbrasil.com.br – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae): Trata-se de uma socie- dade civil sem fins lucrativos que atua no apoio ao desenvolvimento da atividade empre- sarial de micro e pequeno porte para o fomento e difusão de programas e projetos que visam à promoção e o fortalecimento das micro e pequenas empresas e, para o caso aqui estudado, inclusive no tocante ao comércio exterior. COMÉRCI O I NTERNACI ONAL 50 Sebrae – SEPN Quadra 515, Bloco C, Loja 32 CEP 70770-530 Brasília – DF e-mail: webmaster@sebrae.com.br – Seguradora Brasileira de Crédito à Exportação S/A (SBCE): Oferece ao mercado instrumen- to de garantia às exportações (seguros). SBCE Rua Senador Dantas, 105 – 30º andar CEP 20030-201 – Centro – Rio de Janeiro – RJ e-mail: sbce@sbce.com.br Site: http://www.sbce.com.br – Confederação Nacional da Indústria (CNI): Atua no interesse do setor industrial brasileiro em várias frentes (política econômica e industrial, relações de trabalho, qualidade, produ- tividade e tecnologia, meio ambiente, comércio exterior, integração internacional e ou- tras). Especificamente quanto ao comércio exterior e relações internacionais, atua na for- mulação de propostas de comércio exterior e de política de atração de investimentos exter- nos; elaboração de estudos e disseminação de informações; suporte às negociações de integração regional e hemisférica; recepção de missões estrangeiras, manutenção de banco de dados eletrônico sobre comércio exterior (Comex); negociação de acordos internacio- nais de cooperação; e participação em conselhos e comitês bilaterais e multilaterais. CNI – SBN – Quadra 01 – Bloco C – 16º andar. CEP: 70040 903 Brasília – DF Site: http://www.cni.org.br – Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB): Objetiva confeccionar estudos relaciona- dos com comércio exterior brasileiro, propor soluções e aperfeiçoar o sistema de crédito e seguro à exportação. Coloca à disposição de seus associados assistência técnica legal em nível de consultoria. 51 COMÉRCI O I NTERNACI ONAL AEB Av. General Justo, 335 – 4º andar CEP: 20021-130 – Rio de Janeiro – RJ Site: http://www.aeb.org.br – Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex): Auxilia no desenvolvimento do comércio exterior elaborando e divulgando estudos setoriais na área de comércio inter- nacional, treinando pessoal técnico especializado, promovendo cursos e elaborando pes- quisas por encomenda. Funcex Av. Rio Branco , 120 , Gr. 707. CEP: 20040-001 – Rio de Janeiro – RJ Site: http://www.funcex.com.br – Federações Estaduais. Desenvolvem ações de promoção de negócios em comércio exterior para firmas em âmbito estadual: São responsáveis pela emissão de Certificados deOrigem do Mercosul e da Aladi. Atuam na área de Comércio Internacional através de Centros Internacionais de Negócios (CIN). Site: http://www.cni.org.br/federacoes.htm – Câmaras de Comércio: Objetivam estimular o comércio bilateral entre países. Têm como associados pessoas físicas e jurídicas dos países que representam. – Conselho Monetário Nacional (CMN): Órgão normativo superior do sistema financeiro nacional. Responsável pelas diretrizes de políticas monetária, creditícia e cambial do Brasil. • Câmara de Comércio Exterior – Camex. Define as diretrizes e procedimentos relativos à efetiva implementação da política de comércio exterior. Câmara de Comércio Exterior – Camex Esplanada dos Ministérios, Bloco J, 7º andar e-mail: camex@mdic.gov.br Site: http://www.mdic.gov.br/comext/camex/camex.html COMÉRCI O I NTERNACI ONAL 52 Além destas fontes, no Rio Grande do Sul: – Secretaria do Desenvolvimento e dos Assuntos Internacionais (Sedai). Av. Borges de Medeiros, 1501 – 16º e 17º Andares – Porto Alegre – RS www.sedai.rs.gov.br. 3.3.2 – MARKETING INTERNACIONAL Quando pensamos em marketing para uma empresa no comércio exterior, pensamos no conjunto de ações que servem de estrutura na qual a empresa se apóia para otimizar seus negócios, ou seja, sua venda. Isto inclui o conhecimento do mercado demandante, ou seja, qual a necessidade das pessoas daquela localidade que a empresa pretende satisfazer, oferecendo seu produto. Isto se baseia no conhecimento de economia que mostra que um produto é um con- junto de elementos (forças e materiais) que as pessoas buscam para satisfazer uma necessi- dade. Como elas preferem ter a necessidade satisfeita do que manter seu dinheiro consigo, elas compram o produto e se desfazem do dinheiro. Já o vendedor prefere o dinheiro e, assim, se desfaz do produto... Pense nisto: O comprador é alguém que prefere o produto ao dinheiro que tem no bolso. E o vendedor é alguém que prefere o dinheiro ao produto que tem na vitrine. Por isto, é importante saber a necessidade do consumidor, para poder oferecer um produto que ele vai preferir ao dinheiro que tem no bolso! 53 COMÉRCI O I NTERNACI ONAL Porém, para além da utilidade do produto – aqui, no sentido econômico de ser a qua- lidade de poder satisfazer uma necessidade específica – o consumidor também elege o pro- duto que vai comprar, baseado em outros critérios, em gostos e preferências: cor, estilo, idéia que suscita, design, procedência, material utilizado, condições de manuseio e facilidades, especificações técnicas, exigências legais, etc. A comunicação entre o importador e o exportador deve ser um aspecto de constante observação por parte da empresa que atua no mercado exterior. A distância física e as dis- tâncias relativas – culturas diferentes, exigências legais distintas, perfis políticos diferencia- dos, tempo decorrido entre a ação e a reação da outra parte... – tudo isto faz com que a comunicação deva ser muito bem realizada. Assim, os dados devem ser claros e completos, em inglês e na língua nacional do im- portador. Fotos e ilustrações devem, além de bem cuidadas visualmente, também transmitir a idéia exata do produto, como cor, tamanho e outras características como robustez ou fragilidade, etc. As informações exigidas dependem da cultura do país importador e sua região, mas em geral, alguns dados são comuns em todos os negócios: referências bancárias, histórico da empresa, tecnologia utilizada, recursos empregados, dimensões da firma e a existência de laços comerciais com firmas do país do importador no território do exportador, por exemplo, filiais de empresas transnacionais. Para o consumidor final e seu intermediário (o importador) também é importante a publicidade e a propaganda. Para isso, o exportador deve cuidar que os materiais de divul- gação sejam verdadeiros, exatos e bem cuidados. Para além destas questões, somam-se o preço (evidentemente), a qualidade (é claro), a embalagem (é fundamental) e os serviços pós-venda, tais como assistência técnica, presta- ção de informações, reposição (não pode esquecer), etc. Porém, uma variável em geral não é muito lembrada: o trajeto que o produto vai percorrer entre o exportador, o importador e o consumidor final. A linha de distribuição é um importante aspecto para a aceitação do produto em um mercado com tais distâncias relativas. COMÉRCI O I NTERNACI ONAL 54 3.3.3 – PESQUISA DE MERCADO A pesquisa de mercado é uma ferramenta extremamente útil para a empresa que deseja atuar no mercado exterior e mesmo para aquelas que, já atuando, querem diversificar suas exportações ou sentem mudanças significativas em seu ambiente internacional. Com a pesquisa de mercado é possível identificar potenciais importadores, ou seja, os compradores do produto dentro de seu próprio ambiente; o perfil da demanda, ou seja, as exigências de gosto, de qualidade e variantes de consumo, bem como o trata- mento tarifário que o produto sofre naquele mercado específico. Fontes para Pesquisas de Mercado: • Brasil: Ministério das Relações Exteriores, Divisão de Informações Comerciais (DIC), BrazilTradeNet. Para informações sucintas so- bre potencial de exportação de seu produto a firma pode consul- tar no BrazilTradeNet o item Informações sobre Produtos. • ITC – International Trade Center. • Financial Times. 3.3.4 – INTERNACIONALIZAÇÃO DA EMPRESA Internacionalizar a empresa significa que a firma participa de forma ativa no comércio exterior, ou seja, que atua em merca- dos externos. Com o maior grau de abertura da economia brasileira a par- tir da década de 1990, as firmas nacionais ficaram mais expostas à competição internacional, inclusive, dentro do próprio merca- Internacionalização da Empresa Uma empresa internacionaliza- da é uma empresa exposta à competição com empresas do mundo inteiro, o que pressu- põe modernização de sua produção e qualidade de seus produtos, segundo critérios amplos e de aceitação global. 55 COMÉRCI O I NTERNACI ONAL do doméstico. Desta forma, não basta competir dentro do mercado nacional somente. O mercado externo, através da internacionalização da empresa, é um caminho seguro para se manter competitivo dentro e fora das fronteiras do país. Assim, embora a internacionalização da empresa seja um objetivo a ser perseguido por aquelas firmas que reúnem condições para tal, este é um processo que deve ser conduzido com cautela, aliás, como tudo em administração de empresas. Uma inserção eventual em mercados externos não significa internacionalização da empresa. É preciso atuar de forma consistente, no mercado exterior, e isso é fruto de um planejamento estratégico por parte da empresa. Deve-se considerar, em primeiro lugar, que o ambiente no qual a empresa vai atuar é significativamente diferente do que lhe é habitual. Países diferentes podem ter idiomas dife- rentes e, com certeza, hábitos e culturas também diferentes. Isto implica em regras, leis, procedimentos distintos. Além disso, as negociações internacionais envolvem muitas variá- veis que não são formalizadas e que, nem por isso, deixam de ser importantes. Por exemplo, o sexo do negociante, a postura agressiva ou comedida do empresário, etc. Por isso, para uma empresa ser uma exportadora ativa, por exemplo, é preciso que adote uma postura firme e busque uma estratégia consistente, inclusive, modificando o produto se isto for necessário a uma melhor inserção nos mercados internacionais. Isto independe se vai trabalhar com exportação direta, ou seja, um contrato entre o exporta- dor e o importador em outro país ou se a transação será de exportação indireta, ou seja, venda a uma empresa dentro do Brasil que se encarrega de revender o produto para o
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