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Programa de Educação Continuada a Distância Curso de Entrevista Motivacional Aluno: EAD - Educação a Distância Parceria entre Portal Educação e Sites Associados 2 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. Curso de Entrevista Motivacional MÓDULO I Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização do mesmo. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. 3 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. SUMÁRIO MÓDULO I 1 PRINCÍPIOS BÁSICOS 1.1 O QUE É ENTREVISTA MOTIVACIONAL 1.2 CINCO PRINCÍPIOS GERAIS DA ENTREVISTA MOTIVACIONAL 1.2.1 Expressar Empatia 1.2.2 Desenvolver Discrepância 1.2.3 Evitar a Argumentação 1.2.4 Acompanhar a Resistência 1.2.5 Promover a Autoeficácia 1.3 AMBIVALÊNCIA 1.4 RESISTÊNCIA MÓDULO II 2 MOTIVAÇÃO PARA MUDANÇA DE COMPORTAMENTO 2.1 O QUE É MOTIVAÇÃO 2.2 COMO ESTIMULAR A MOTIVAÇÃO 2.3 AVALIAÇÃO DA MOTIVAÇÃO E ESTADO GERAL DO PACIENTE 2.4 SITUAÇÕES ESPECIAIS NA PRÁTICA DA ENTREVISTA MOTIVACIONAL MÓDULO III 3 O PROCESSO DE MUDANÇA 3.1 MODELO TRANSTEÓRICO 3.2 OS ESTÁGIOS DE MUDANÇA 3.2.1 Pré-contemplação: Não está pronto para mudar! Estágio da Resistência! 4 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. 3.2.2 Contemplação: Pensando sobre mudar! Estágio da análise de riscos e benefícios! 3.2.3 Preparação: Preparando-se para fazer mudanças! O estágio do compromisso com a ação 3.2.4 Ação: Fazendo a mudança! O estágio da implementação do plano! 3.2.5 Manutenção: Sustentar a mudança de comportamento até que seja integrada ao estilo de vida! 3.3 OS PROCESSOS DE MUDANÇA 3.4 BALANÇA DECISIONAL 3.5 AUTOEFICÁCIA 3.6 MANUTENÇÃO DA MUDANÇA MÓDULO IV 4 INTERVENÇÕES BREVES, TERAPEUTA E EXEMPLO DE CASO 4.1 AS INTERVENÇÕES BREVES 4.2 O APRENDIZADO DA ENTREVISTA MOTIVACIONAL 4.3 O EXEMPLO DE UM CASO REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 5 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. MÓDULO I 1 PRINCÍPIOS BÁSICOS 1.1 O QUE É ENTREVISTA MOTIVACIONAL A partir do entendimento que boa parte dos problemas de saúde está relacionada à mudança de comportamento e, que a adesão ao tratamento desses problemas também requer a mesma atitude, a Entrevista Motivacional surge com o um instrumento para auxiliar o terapeuta nessa difícil tarefa de construir com o paciente a promoção da mudança comportamental. A Entrevista Motivacional surgiu a partir da experiência clínica de seus autores, William Miller e Stephen Rollnick, no tratamento de pacientes com problemas com o abuso de álcool. Seu objetivo foi de auxiliar nos tratamentos desses pacientes, pois as antigas abordagens não vinham oferecendo eficácia para tal situação. Até surgir essa abordagem, o dependente químico era tratado como alguém com “falha de caráter” ou como se a dependência fosse um traço de personalidade (se a personalidade do indivíduo é apresentada como imutável, portanto, o dependente químico estaria fadado a sua doença, sem chances de recuperação). Não havia, pois, um entendimento de possibilidade de mudança para esses casos e essa mentalidade impedia os terapeutas de pensar em alternativas para melhorar a adesão do paciente e seu comprometimento com a mudança de comportamento. Assim, o dependente químico era visto como uma pessoa com muitas defesas e sem motivação para mudar seu comportamento. As práticas mais utilizadas para o tratamento desses pacientes eram as chamadas abordagens de 6 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. confronto, que preconizam que a confrontação das situações problema do paciente e pressão para mudar o comportamento é a melhor forma de tratamento para esse tipo de conflito. Com a Entrevista Motivacional, que é uma intervenção terapêutica que visa a ajudar as pessoas a reconhecer e modificar seu comportamento-problema, foi possível mudar a mentalidade a respeito dos conflitos que envolvem a necessidade de mudança no estilo de vida ou de comportamento. Assim, é uma intervenção que pode ser utilizada no tratamento de qualquer problema que envolva motivação, ambivalência e mudança de comportamento (como no caso de transtornos alimentares, do jogo patológico, de dependência de substâncias psicoativas, e até mesmo em comportamentos não patológicos com o objetivo de promover a saúde – pré-natal, por exemplo). É uma abordagem composta por várias abordagens já existentes, como terapia centrada no cliente, terapias breves, terapia cognitiva e terapia sistêmica, com alguns novos conceitos. A partir de um aconselhamento diretivo, ajuda na resolução de problemas que envolvem sentimentos como a ambivalência e, assim, é útil com pessoas que têm dificuldades para promover mudanças de comportamento em suas vidas. É um método de comunicação para facilitar a mudança natural de comportamento, ou seja, trabalha com a motivação intrínseca do paciente. Desta forma, a Entrevista Motivacional configura-se como uma intervenção terapêutica individualizada e direcionada para cada estágio de mudança comportamental. Desempenha o papel de aumentar a adesão ao tratamento, promover junto ao paciente a mudança do comportamento-problema para um novo comportamento e mantê-lo na nova situação. Além disso, também se preocupa com possíveis recaídas que o paciente possa ter. Nesta abordagem, o terapeuta não assume um papel autoritário e os pacientes são livres para aceitar ou não seus conselhos. Portanto, as estratégias da Entrevista Motivacional são mais persuasivas do que coercitivas, mais encorajadoras do que argumentativas. Assim, a relação terapeuta-paciente é de troca e colaboração entre as partes, visando à autonomia e escolha do paciente. Será o paciente quem apresentará os argumentos para mudança de comportamento, muito 7 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. mais que o terapeuta. A meta final do terapeuta é aumentar a motivação intrínseca do paciente, de forma que a mudança venha de dentro em vez de imposta de fora. Embora possa parecer que o terapeuta motivacional tenha que assumir um papel relativamente inativo, não é o que acontece. Simplesmente ele trabalha com estratégias muito bem focadas e tem objetivos claros quanto à meta que pretende alcançar junto ao paciente. Além disso, é essencial que tenha noção do tempo exato de fazer interferências em momentos cruciais ao tratamento. Portanto, para que a Entrevista Motivacional se estruture na sessão terapêutica e possa ser eficaz no tratamento dos pacientes, é essencial que siga alguns conceitos que serãoapresentados abaixo de forma ampla e, nos demais módulos de forma detalhada. São eles: Motivação do paciente para mudança; A não imposição do desejo e argumentações do terapeuta; Ambivalência do paciente quanto a mudar ou não seu comportamento; Resistência do paciente quanto à mudança; Estágios de mudança. Existem três outras principais abordagens que se relacionam com o objetivo de trabalhar com a mudança de comportamento e motivação. O quadro abaixo descreve as diferenças da Entrevista Motivacional em relação à abordagem de confronto da negação, abordagem de treinamento de habilidades e abordagem não diretiva. 8 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. QUADRO 1 - DIFERENÇAS ENTRE A ABORDAGEM DO CONFRONTO DA NEGAÇÃO E ENTREVISTA MOTIVACIONAL Abordagem do Confronto da Negação Abordagem da Entrevista Motivacional A aceitação do diagnóstico é vista como essencial para a mudança. A aceitação do diagnóstico é vista como desnecessária para a mudança. Ênfase na patologia da personalidade. Ênfase na escolha pessoal e na responsabilidade pela decisão quanto ao comportamento futuro. O terapeuta tenta convencer o paciente a aceitar o diagnóstico a partir das evidências do problema percebidas pelo terapeuta. O terapeuta faz avaliações objetivas, concentrando-se em eliciar as preocupações do paciente. A resistência é vista como negação do problema e, assim, deve ser confrontada com correção e argumentação. A resistência é tratada com reflexão e vista como um padrão de comportamento interpessoal, influenciado pelo comportamento do terapeuta. Em razão da negação, o paciente é visto como incapaz de tomar decisões a respeito de seu problema. Assim, o terapeuta estabelece as metas de tratamento e as estratégias de mudança. As metas de tratamento e as estratégias de mudança são negociadas entre paciente e terapeuta, baseadas em dados e aceitabilidade. O envolvimento do paciente e sua aceitação das metas são vistas como essenciais ao tratamento. 9 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. O principal problema da abordagem Confronto da Negação é a falta de evidências em relação a sua eficácia no tratamento de comportamentos aditivos. Inclusive, seu caráter confrontador pode ser prejudicial a indivíduos com baixa autoestima. Além disso, por preconizar que a adição está fortemente enraizada na personalidade do indivíduo, sendo assim um transtorno de personalidade, apoia-se no preceito de que o indivíduo terá muitas defesas e sua recuperação ficará muito difícil de ser tratada com terapias sem confrontação. Já que, segundo esta linha, os transtornos de personalidade são difíceis de tratar com abordagens não confrontacionais. QUADRO 2 - DIFERENÇAS ENTRE A ABORDAGEM DO TREINAMENTO DE HABILIDADES E ENTREVISTA MOTIVACIONAL Abordagem do Treinamento de Habilidades Abordagem da Entrevista Motivacional Pressupõe que o paciente esteja motivado, nenhuma estratégia direta é usada para estimular a motivação. Emprega princípios e estratégias específicas para estimular a motivação do paciente para a mudança. Busca identificar e modificar cognições desadaptadas. Explora e reflete as percepções do paciente sem rotulá-las ou corrigi-las. Prescreve estratégias específicas de enfrentamento. Elicia estratégias possíveis de mudança do paciente. Ensina comportamentos de enfrentamento por meio da instrução, da modelagem, de prática dirigida e do feedback. A responsabilidade pelos métodos de mudança é do paciente, não há treinamento, modelagem ou prática. São ensinadas estratégias específicas de solução de problemas. Processos naturais de solução de problemas do paciente e de seus familiares são eliciados. 10 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. Neste caso, é uma abordagem que também é usada com frequência com o nome de cognitivo-comportamental e, o maior problema está em supor que o indivíduo já está motivado à mudança quando este ainda não está. Desta forma, o trabalho do terapeuta será focado em mudar o comportamento antes mesmo de o paciente entender-se capaz de produzir tal mudança. Todavia, a abordagem cognitivo-comportamental tem grande influência na Entrevista Motivacional, uma vez que muitas de suas técnicas podem ser utilizadas, desde que o paciente esteja pronto para isso. QUADRO 3 - DIFERENÇAS ENTRE A ABORDAGEM NÃO DIRETIVA E ENTREVISTA MOTIVACIONAL Abordagem não diretiva Abordagem da Entrevista Motivacional Permite ao paciente determinar o conteúdo e o direcionamento ao aconselhamento. Direciona sistematicamente o paciente para a motivação para a mudança. Evita os conselhos e o feedback do terapeuta. Oferece o feedback e os conselhos do terapeuta quando for adequado. A reflexão empática é usada de forma não contingente. A reflexão empática é usada seletivamente, para reforçar certos processos. Explora os conflitos e emoções do paciente em sua forma atual. Busca criar e ampliar a discrepância do paciente, de modo a aumentar a motivação para mudança. 11 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. Na abordagem não diretiva, o maior entrave está no fato de seguir uma terapêutica muito passiva. Embora a Entrevista Motivacional seja centrada no paciente (como são as abordagens não diretivas), ainda assim há um direcionamento de objetivos e estratégias para motivá-lo à mudança, ele é instigado a pensar sobre seu problema e resolver os conflitos que o impedem de mudar. Na abordagem não diretiva, o terapeuta espera que o cliente se manifeste em relação à mudança, o que pode demorar muito tempo e causar um sofrimento prolongado ao mesmo. 1.2 CINCO PRINCÍPIOS GERAIS DA ENTREVISTA MOTIVACIONAL Por se tratar de uma abordagem diretiva, a Entrevista Motivacional segue cinco princípios essenciais que formam a base para sua aplicação, os quais serão apresentados a seguir. 1.2.1 Expressar Empatia Empatia pode ser confundida com simpatia, mais é importante ressaltar que a definição de Empatia é colocar-se no lugar do outro, compreender seu sofrimento. É, pois, o entendimento do problema que envolve a vida do paciente, é a capacidade de partilhar dos sentimentos e emoções de outra pessoa. Enquanto simpatia trata-se da afinidade que aproxima duas ou mais pessoas. Outro ponto de confusão quanto ao conceito de empatia é pensar que, para ser empático, o terapeuta tem que identificar-se com os problemas do paciente. Na verdade, a identificação não é necessária, não é preciso ter vivências semelhantes as do paciente para entender sua situação e seu problema. O terapeuta precisa entender o contexto do paciente e compreender os seus significados para o 12 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. problema vivido. E isso não significa que o terapeuta precise aprovarou concordar com a forma como o paciente lida com seus problemas. É possível ser empático e ao mesmo tempo diferir dos pontos de vista do paciente. Esta é uma questão importante na compreensão do papel do terapeuta que, como em qualquer abordagem terapêutica, deve desenvolver o máximo de neutralidade possível e não confundir sua vida e valores com os do paciente. Cada pessoa tem motivações diferentes para entender os fatos e, embora o terapeuta tenha o papel de auxiliar na mudança de paradigmas do paciente, ele não pode conduzir a vida do mesmo como conduz a sua. O ponto-chave do estilo empático é a escuta respeitosa do paciente e a intenção de compreender suas perspectivas. É fundamental na Entrevista Motivacional, pois é a aceitação da posição do paciente em relação ao seu problema, sem julgar ou criticar tal postura. É aplicado em todo o processo da Entrevista Motivacional, do início ao fim da intervenção. A aceitação do entendimento do paciente em relação ao seu problema, portanto, é o princípio que fundamenta a empatia e, esta aceitação é trabalhada com o paciente por meio do uso da escuta reflexiva. A escuta reflexiva é uma técnica da Entrevista Motivacional e requer do terapeuta treinamento e habilidade para usá-la. Escutar reflexivamente não significa apenas ouvir o que o paciente tem a dizer, é primordialmente a forma de responder ao que o paciente diz. O terapeuta ouve o que o paciente diz, entende, decodifica e refaz a frase do paciente em forma de nova afirmação. Exemplo 1: Paciente: “Às vezes, me preocupo com a quantidade de cerveja que bebo no final de semana”. Terapeuta: “Você está me dizendo que tem bebido muito no final de semana”. 13 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. Exemplo 2: Paciente: “Eu poderia comer um pouco menos”. Terapeuta: “Você come demais e isso tem lhe preocupado”. Exemplo 3: Paciente: “Meu marido poderia estar mais em casa, me ajudar com as crianças”. Terapeuta: “Você quer dizer que está infeliz com o afastamento de seu marido das atividades da família e sente-se sobrecarregada com as atribuições de mãe”. A escuta reflexiva deve fazer uma inferência quanto ao que o paciente quer dizer e não diz. É preciso escutar atentamente e decodificar a mensagem que está sendo transmitida. Existem algumas respostas que poderiam ser dadas ao paciente que são contraproducentes, são chamadas de Obras na pista, pois atrapalham o desenvolvimento da intervenção e da escuta reflexiva, interrompendo a direção na qual o paciente está se desenvolvendo. Assim, o paciente terá que se ocupar de “desviar” das obras na pista o que atrapalhará o processo da intervenção. São elas: Ordenar Ameaçar, advertir Fazer sugestões, oferecer soluções Moralizar, dizer o que o paciente deve fazer Julgar, culpar Usar argumentações Envergonhar, rotular Aprovar, elogiar, concordar Consolar, solidarizar‐se Analisar, interpretar Mudar de assunto, distrair‐se Interrogar 14 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. Exemplo: Paciente: “Estou em dúvida quanto a me separar de meu marido”. Terapeuta: “No seu caso, a separação seria a melhor solução, seu marido não está lhe fazendo bem” (dizer o que o paciente deve fazer). Paciente: “Bom, é que ainda gosto dele. E ele tem características muito boas também”. Terapeuta: “Você acha melhor continuar com ele desse jeito?” (criticar, julgar). Paciente: “Não sei, mas talvez nossa relação possa melhorar”. Terapeuta: “Você vai desperdiçar sua vida com ele por mais quanto tempo?” (advertir, ameaçar). Paciente: “Preocupo-me em deixá-lo, sinto-me egoísta”. Terapeuta: “Tenho certeza que você fará a coisa certa e ficará bem” (consolar). Esta não é a forma correta de auxiliar o paciente a explorar sua ambivalência, e sim uma maneira de pressioná-lo a tomar uma decisão. Neste exemplo, o terapeuta não escutou a paciente, apenas lhe impôs mais dúvidas. Para fazer uma boa escuta reflexiva é preciso prestar atenção na forma como fazemos a aplicação da frase ao dar o retorno ao paciente. Ao usar esta técnica, não devemos fazer perguntas. Embora o terapeuta não tenha certeza se sua inferência (se aquilo que entendeu do que o paciente disse está correto), a afirmação reflexiva diminui a resistência do paciente. Perguntar distancia o paciente da vivência e lhe impulsiona a buscar respostas para algo ainda não resolvido em sua mente e o paciente se defende das perguntas feitas. Veja nos exemplos acima que o terapeuta sempre retorna uma afirmativa composta pelo conteúdo dito pelo paciente. Existe uma tendência a respondermos ao paciente com perguntas, talvez pela necessidade de confirmar o que entendemos do que foi dito, porém a escuta reflexiva se presta também para esta confirmação. Ao fazer a inferência do que foi entendido pelo terapeuta sob forma de afirmação, haverá a oportunidade para o paciente dizer se esta inferência está correta ou não. 15 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. Então, as respostas de escuta reflexiva devem ser feitas na forma de afirmações. Para isso é preciso ter atenção à inflexão feita ao pronunciar a frase, veja a diferença: Você não está feliz com os últimos acontecimentos? (pode gerar resistência, soar como ameaçador). Você não está feliz com os últimos acontecimentos. (gera reflexão ao paciente sobre o que foi dito, e confirmação do entendimento do terapeuta sobre o que ouviu). É necessário treinar o pensamento para usar a escuta reflexiva. Pensar reflexivamente é entender que nem sempre o que se acredita ser o que o paciente está querendo dizer o é. Usar a escuta reflexiva é uma forma de verificar se o que o terapeuta entendeu é realmente o que o paciente disse. Muitas afirmações dos pacientes podem ter sentidos múltiplos, como a frase: “eu gostaria de ser mais descontraído”. Significados: Eu fico nervoso quando estou entre estranhos; Eu gostaria de ter mais amigos; Eu não me sinto amado; As pessoas me acham desagradável; Sinto-me tímido e inadequado entre pessoas de minha idade. Um terapeuta empático saberá que a relutância em abandonar um comportamento-problema é esperada durante o tratamento e usará a escuta reflexiva como técnica de apoio ao estilo empático, entendendo a situação do paciente como de imobilidade, por razões psicológicas suas. 16 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. 1.2.2 Desenvolver Discrepância Discrepância é demonstrar a diferença entre o comportamento atual do paciente e o comportamento que ele gostaria de ter. Então, desenvolver a discrepância é aumentar e evidenciar a distância que há entre seu comportamento e suas metas mais amplas. Esta técnica é útil para que o paciente tenha consciência das consequências de seu comportamento atual e, assim, vendo a discrepância deste comportamento e de seus objetivos futuros, possa ficar mais motivado a fazer mudanças. Uma pessoa com problemas importantes, algumas vezes, não reflete sobre sua situação, apenas segue um determinado comportamento sem perceber o quanto este pode estar indocontra suas próprias aspirações. Quando o paciente puder entender que seu comportamento comprometerá planos futuros de sua vida ou família, então ficará mais fácil promover a mudança. O desenvolvimento da discrepância, no contexto da Entrevista Motivacional, é explorar as consequências potenciais ou efetivas de seu comportamento atual que entram em conflito com seus objetivos de vida. Tem por objetivo trabalhar questões de ambivalência e mudar as percepções do paciente sem criar uma sensação de pressão ou coação. É nesse momento que o próprio paciente apresentará as razões para mudança de comportamento. 1.2.3 Evitar a Argumentação Este é um princípio fundamental dentro da Entrevista Motivacional, pois fundamenta sua aplicação em fazer com que o paciente ouça a ele mesmo e perceba suas próprias razões para mudar. Dentro desta perspectiva, a argumentação tende a criar resistência, pois é uma forma confrontativa de encarar a 17 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. resolução do problema. Argumentações geram discussões que são contraprodutivas no processo de mudança, pois suscitam defesas. 1.2.4 Acompanhar a Resistência Acompanhar a resistência significa fluir com ela, ao invés de se opor a ela. É preciso saber qual o melhor momento para fazer uma inferência ao paciente, pois as percepções do paciente podem mudar em relação ao tratamento. Portanto, as novas perspectivas do paciente são bem-aceitas, mais não devem ser impostas. A resistência deve ser percebida como algo natural no processo de mudança e, acompanhá-la é envolver o paciente no processo de solução de problemas. É necessário confiar no paciente e em sua capacidade de buscar soluções para seu problema, mesmo que esta busca demore um pouco para acontecer. Neste ponto, o terapeuta precisa ter paciência e esperar o momento exato para auxiliar o paciente a mudar sua percepção quanto ao comportamento atual. Assim, a própria resistência do paciente poderá ser usada ao seu favor. 1.2.5 Promover a Autoeficácia Autoeficácia é a crença da própria pessoa em sua habilidade de executar e ter sucesso em uma determinada atividade. Este é um elemento essencial na motivação do paciente, já que esta tem relação direta com a capacidade do paciente em acreditar em si mesmo. O papel do terapeuta é mostrar ao paciente que ele pode fazer uma mudança bem-sucedida em seu comportamento-problema. Para isso, o próprio terapeuta precisa acreditar nesta possibilidade. 18 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. A promoção da autoeficácia está relacionada à autoestima do paciente, mas ainda assim, mesmo que este tenha uma baixa autoestima, poderá ser orientado em direção a sua capacidade de ter sucesso. Uma forma de promover a autoeficácia é por meio da responsabilidade pessoal do paciente com seu comportamento-problema. Somente o paciente poderá fazer a mudança, ninguém poderá fazê-la em seu lugar. “Se você quiser, poderei ajudá-lo a mudar”; “Você decidirá o que fazer com essas informações, se a mudança ocorrer será você que terá feito”; frases como estas podem ajudar no processo. Outra forma de encorajar o paciente a sentir-se capaz é usar exemplo de pessoas que conseguiram alcançar objetivo semelhante ao pretendido pelo paciente. A existência de uma gama de abordagens existentes para resolução de problemas pode servir de alternativa para motivar o paciente a encontrar a melhor abordagem para si. Algumas vezes, o não sucesso do paciente em outras tentativas de mudar o comportamento, está ligado à abordagem de trabalho que está sendo aplicada e não a sua capacidade de promover a mudança de comportamento. 1.3 AMBIVALÊNCIA Este conceito pode ser visto como um dos mais importantes trabalhados dentro da Entrevista Motivacional. Toda mudança, por mais simples que seja, envolve dúvida quanto a aspectos positivos e negativos. É um conflito que não se restringe a problemas terapêuticos, ao contrário, pode estar presente até mesmo nas escolhas mais simples de nossas vidas (p. ex.: Gostaria de fazer uma viagem, devo ir para praia ou para serra?). Para decidirmos precisamos pensar nos aspectos positivos e negativos de irmos à praia e, da mesma forma, nos aspectos negativos e positivos de irmos à serra. Assim, a ambivalência é o conflito psicológico natural que se instala quando precisamos 19 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. decidir entre duas opções. Ela existe porque em cada lado do conflito há benefícios e prejuízos. A ambivalência, no contexto da entrevista motivacional é o primeiro princípio norteador do processo de mudança. Trabalhar a ambivalência é trabalhar a essência do problema e entendê-la ajuda o terapeuta a conhecer o problema e a forma como o paciente vive suas escolhas. Há, portanto, na ambivalência, sentimentos conflitantes coexistentes. O conflito da ambivalência existe em graus diferentes e pode aumentar e diminuir ao longo do tempo, dependendo de como o paciente está apegado ou não ao seu comportamento-problema. Alguns padrões de aprendizagem ou de condicionamento podem ser fontes de apego ao comportamento-problema, ou seja, a forma como o paciente está habituado a exercer esse comportamento o faz ter mais apego a ele. Assim, a ambivalência torna-se um conflito mais resistente e arraigado à escolha do paciente. Existem três tipos de conflitos na ambivalência: o conflito aproximação- aproximação, em que a pessoa está dividida entre duas alternativas positivas (p. ex. decidir sobe a compra de um carro, quando há dois igualmente atraentes); o conflito evitação-evitação, em que a pessoa deve escolher entre duas alternativas desfavoráveis (p. ex. vender o carro ou a casa para pagar uma dívida); e o conflito aproximação-evitação, em que a pessoa sente-se atraída e repelida pelo mesmo objeto, sabe que há coisas boas e ruins nos dois lados. QUERO parar de beber. NÃO QUERO parar de beber. 20 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. Uma maneira de ilustrar a ambivalência é usando a imagem de uma balança, a Balança Decisória, em que se colocam de um lado aspectos negativos e do outros aspectos positivos do comportamento-problema. Essa é uma forma do paciente enxergar os dois lados de sua ambivalência. LEMBRE-SE: É preciso que esta técnica de reconhecimento de problema seja usada sem julgamento, apenas com o objetivo de listar aspectos positivos e negativos do comportamento-problema. Outra forma é usar uma Folha de Balanço, que pode ser útil para criar possibilidades positivas e negativas para cada item pensado. Veja abaixo: Benefícios da mudança. Custos da mudança. 21 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. Com a ambivalência, em particular, o terapeuta precisará ter alguns cuidados: O terapeuta não pode esperar que seu paciente entenda um determinado custo ou benefício da mesma forma que ele. Se para o terapeutaum problema respiratório ocasionado pelo cigarro é motivo suficiente para parar de fumar, para seu paciente pode não ser. Seus valores são diferentes. As expectativas do paciente em relação ao tratamento também podem ser diferentes das expectativas do terapeuta. A autoestima do paciente pode interferir de forma significativa no progresso do paciente e em sua ambivalência. Crenças sociais e culturais afetam as percepções dos pacientes a respeito de custos e benefícios da mudança. O terapeuta não deve supor que conhece os custos e benefícios da ambivalência do paciente. Precisa trabalhar com ele tais questões e descobrir como interferem nesse processo. Continuar a fumar Mudar o hábito de fumar Benefícios Custos Benefícios Custos Ajuda-me a relaxar. Posso ficar doente. Ficarei mais saudável. Não vou conseguir relaxar. Eu me sinto mais seguro quando estou fumando. Sou mau exemplo para meus filhos. Não terei vergonha de meus filhos. Ficarei inseguro em alguns lugares. Gasto muito dinheiro com isso. Posso usar esse dinheiro em outras coisas. 22 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. 1.4 RESISTÊNCIA Este é outro conceito-chave no trabalho com a Entrevista Motivacional. A resistência é um processo inerente a qualquer pessoa e pode surgir, principalmente, em situações de confrontação, nas quais o indivíduo terá uma tendência a defender sua posição. Assim como acontece com a ambivalência, a resistência também pode estar presente em situações cotidianas e não somente em situações terapêuticas. Até mesmo em uma simples discussão sobre um jogo de futebol, por exemplo, quando cada pessoa defende seu ponto de vista sobre a qualidade de seu time. Neste caso, a resistência se expressa em aceitar os defeitos de seu time e enxergar as qualidades do time do outro. Portanto, a resistência é um comportamento que sinaliza ao terapeuta que o paciente não está acompanhando sua linha de trabalho e pode ser observado durante o processo terapêutico. Pode ainda indicar que as técnicas que o terapeuta está usando não são as mais adequadas ao estágio de prontidão à mudança no qual se encontra o paciente. O estágio motivacional em que se encontra o paciente é muito importante para a escolha das estratégias a serem usadas no tratamento (veremos os estágios motivacionais no Módulo 3). Na Entrevista Motivacional evitar a resistência é uma das principais metas, pois um paciente resistente raramente irá mudar seu comportamento. Como se considera que a resistência está ligada de forma especial ao estilo do terapeuta, é importante mudar seu estilo à medida que encontrar resistência no paciente. Para facilitar a identificação da resistência do paciente, existem quatro categorias que ajudam nesta tarefa: Argumentar – o paciente contesta o conhecimento do terapeuta, desafiando o que o terapeuta diz e/ou depreciando a experiência do terapeuta, hostilizando o terapeuta. 23 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. Interromper – o paciente interrompe a fala do terapeuta de maneira defensiva, sobrepondo sua fala enquanto o terapeuta ainda está falando, ou simplesmente “cortando” a fala do terapeuta. Negar – o paciente nega seu problema, culpando outras pessoas, discordando das sugestões do terapeuta. Justifica seu comportamento e diz que não corre risco algum, minimiza sua situação e diz que o terapeuta está exagerando. Assume uma postura pessimista em relação a si e aos outros, mostra relutância contra as orientações do terapeuta, mostra-se sem disposição para mudar. Ignorar – o paciente ignora o terapeuta, ficando desatento à sessão, não responde as perguntas do terapeuta (oferece outra informação ao invés da resposta), não oferece reação às perguntas do terapeuta, o paciente muda de assunto. Estas categorias servem apenas para ajudar na identificação da resistência, não é necessário detalhá-las no processo terapêutico. O aparecimento de resistência durante o processo terapêutico não é motivo de preocupação, pois é normal que o paciente a apresente no início do tratamento. É preciso, pois, ter cuidado para trabalhá-las de forma eficaz para que não atrapalhem o andamento do tratamento. Será o modo como o terapeuta responderá à resistência que irá diferenciar a Entrevista Motivacional de outras abordagens. Como fazer isso? Há estratégias de reflexão que podem ajudar nessa etapa. A reflexão simples, em que o terapeuta apenas faz um reconhecimento da discordância, da emoção ou percepção do paciente, evita a armadilha do confronto negação. A escuta reflexiva ou uma mudança de ênfase pode ser a solução. 24 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. Exemplo: Paciente: Eu não quero parar de beber. Terapeuta: Você acha que não conseguirá. A reflexão amplificada é uma forma de refletir o que o paciente disse de forma exagerada. Pois fará com que o paciente recue um pouco já que o terapeuta afirmou algo de forma mais extrema do que ele. Assim, poderá sentir-se encorajado a pensar no outro lado e sua ambivalência. Exemplo: Paciente: O álcool não me afeta, ainda estou em pé quando todos não aguentam mais. Terapeuta: Você não precisa se preocupar, o álcool não pode lhe afetar. A reflexão dupla é expressa por reconhecer o que o paciente diz e adicionar o outro lado da ambivalência dele. Exemplo: Paciente: Mesmo tendo alguns problemas com bebida, não sou um alcoolista. Terapeuta: Está difícil perceber que a bebida lhe faz mal, mas você não quer ser rotulado como alcoolista. Além das formas de reflexão, outras abordagens também podem ser utilizadas. Desviar o foco do paciente daquilo que parece um obstáculo no caminho pode evitar a resistência. 25 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. Exemplo: Paciente: Não quero ser chamado de alcoolista. Terapeuta: Ok, isso não é o mais importante realmente. Eu estou preocupado, tanto quanto você, com outros problemas que surgiram em sua vida a partir do uso de álcool, pode me falar um pouco sobre isso? A resistência também pode ser acompanhada com a concordância inicial com o que o paciente diz, seguida de uma pequena mudança de direção. Exemplo: Paciente: Você e minha mulher estão fixados no quanto eu bebo. Qualquer um beberia se estivesse atormentado por ela. Terapeuta: Você tem toda a razão. Problemas de bebida envolvem toda a família. A resistência está relacionada com o fenômeno de reatância (quando uma pessoa acha que sua liberdade de escolha está sendo ameaçada, reagem reafirmando sua liberdade), comum a qualquer pessoa ou situação. Portanto, é importante dar ênfase a escolha pessoal do paciente. Deixar claro, logo no início, que será o paciente quem determinará o que acontece no tratamento pode diminuir a reatância e assim, a resistência. Exemplo: Terapeuta: A escolha é sua, só você decidirá se vai mudar seu comportamento ou não. 26 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa.Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. Também é possível usar a estratégia de reformulação para acompanhar a resistência. Consiste em reconhecer as informações fornecidas pelo paciente dando uma nova interpretação a elas, com informações detalhadas do problema. Especialmente quando o paciente está se utilizando de negação do problema. Exemplo: Terapeuta: Então, você bebe mais que a maioria sem sentir-se bêbado. Algumas pessoas não sabem, talvez seja seu caso, mais o fato de beber muito e não ficar bêbado pode ser um sinal ruim. Ao passo que a sensação de bebedeira “avisa” as pessoas que é hora de parar de beber, com você isso não acontece. Então, você perde essa noção e seu organismo não avisa quando parar, quer dizer que problemas de saúde pela frequente intoxicação exagerada podem surgir sem que você se dê conta. Ainda podemos utilizar a estratégia do paradoxo terapêutico. Essa é uma estratégia que deve ser utilizada com muito cuidado para não surtir efeito contrário ao que se pretende. O objetivo é que a oposição ou resistência do paciente resultem em benefício próprio. Um exemplo clássico dessa estratégia é prescrever o problema, se mais nada funcionar, o terapeuta pode recomendar que o paciente continue tendo seu comportamento-problema, não mude. Nesse caso, o tom de voz influenciará de forma substancial, portanto, é preciso que seja calmo e direto. 27 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. Exemplo: Terapeuta: Diante de tudo que conversamos sobre seu comportamento, suas dificuldades e problemas em relação a ele, sobre as várias opções que há para você mudá-lo, percebo que nenhuma delas lhe parece boa. Então, me parece que você está feliz do jeito que as coisas estão na sua vida, pelo menos quando pensa na possibilidade de mudar. Neste sentido, me parece que você deve continuar como está. Não faz sentido fazer um esforço para mudar se você realmente não quer. A resistência pode criar alguns comportamentos em relação à sessão terapêutica. É necessário que o terapeuta fique atento às questões como falta de sessões, elas podem ocorrer por muitos motivos (falta de empatia do terapeuta, ambivalência quanto a seus objetivos, etc.). Embora seja uma situação esperada, o terapeuta pode adotar uma posição ativa e entrar em contato com o paciente para saber por que está faltando às sessões. Isso fará com que o paciente se sinta mais seguro quanto ao tratamento e interesse do terapeuta. O terapeuta deve enxergar a resistência como uma oportunidade de trabalhar questões do paciente que o impedem de mudar seu comportamento- problema. Muitas vezes, o aparecimento da resistência é um rememorar outras situações de tratamento já vividas pelo paciente. Alguns têm histórico de tratamentos malsucedidos e por isso estão resistentes ao que o terapeuta vai dizer ou propor. Seja um terapeuta diferente, não caia nas armadilhas que seu paciente impõe a si mesmo e a você. ----------- FIM DO MÓDULO I ----------- Programa de Educação Continuada a Distância Curso de Entrevista Motivacional MÓDULO II Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização do mesmo. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. 29 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. MÓDULO II 2 MOTIVAÇÃO PARA MUDANÇA DE COMPORTAMENTO 2.1 O QUE É MOTIVAÇÃO Todos os problemas que envolvem mudança de comportamento, também envolvem a motivação do indivíduo para mudar. Sem a motivação não há como estabelecer qualquer tipo de trabalho terapêutico com esse objetivo. Assim, a motivação pode ser definida como a probabilidade de que uma pessoa entre no processo de mudança, permaneça nele e o adote como novo estilo de vida. Não se trata de uma característica estagnada, ao contrário é percebida como um estado de prontidão, uma característica dinâmica. Ou seja, a qualquer momento - dependendo de variáveis externas e internas ao paciente que podem influenciar suas decisões, especialmente do entendimento dele de sua situação como problemática - o paciente poderá produzir a mudança de comportamento, passando de um estado de prontidão para a mudança a outro. Não é algo mágico, só acontecerá com muito trabalho, porém é preciso entender que a motivação está “dentro” do paciente e pode ser “acesa” quando as questões certas para cada paciente são trabalhadas. Com uso de técnicas adequadas e uma abordagem favorável ao desenvolvimento da motivação – como é o caso da Entrevista Motivacional – pode-se chegar ao sucesso terapêutico. Desta forma, a motivação não pode ser pensada como um traço de personalidade, inerente ao caráter do indivíduo, mais sim como algo crucial na atividade do terapeuta, ele precisa motivar para conseguir algum avanço no processo de mudança. 30 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. Geralmente a preocupação em torno da motivação está em avaliar o que o paciente diz a esse respeito e não o que faz. No entanto, um paciente que faz afirmações que levam o terapeuta a pensar que está motivado, não garante que a mudança de comportamento seja feita. Essa mudança se dará à medida que houver adesão ao tratamento ou ao plano terapêutico, isso está relacionado com resultados bem-sucedidos e com a motivação do paciente. De forma geral, os quadros abaixo descrevem como se costuma avaliar, de maneira precipitada, um paciente como motivado ou desmotivado. A partir de uma avaliação neste contexto, o terapeuta corre o risco de trabalhar na direção errada, pois não se dará conta das dificuldades do paciente em comunicar sua falta de motivação. Certamente ter um paciente que aceita tudo o que é dito pelo terapeuta é mais fácil do que tratar alguém que discorda e rebate o que o terapeuta diz. No entanto, aqui se encontra uma grande armadilha terapêutica, nem sempre “o paciente bonzinho” é o que terá maior adesão ou sucesso no tratamento. O fato de contestar e de se opor a colocações do terapeuta a respeito de si pode significar um pedido de ajuda. O terapeuta tem que aprender a ler o que o paciente diz nas entrelinhas. Assim, saber se um paciente está ou não motivado depende de muitas variáveis e não acontecerá logo na primeira sessão terapêutica. Um paciente motivado... Concorda com o terapeuta Aceita o diagnóstico do terapeuta Expressa vontade ou necessidade de ajuda Um paciente desmotivado... Discorda do paciente Não aceita o diagnóstico Não expressa necessidade de ajuda 31 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. 2.2 COMO ESTIMULAR A MOTIVAÇÃO Pensando que a motivação é uma probabilidade de mudança de comportamento, é preciso utilizar estratégias para aumentaressa probabilidade. Existem oito estratégias descritas que representam uma compilação do que há na literatura a respeito do que motiva as pessoas. Para serem mais bem memorizadas, essas estratégias são descritas em ordem alfabética de A a H, a partir das palavras em inglês. São elas: Aconselhar (giving Advice): O terapeuta precisa dar ao paciente uma orientação clara a respeito de seu problema, para que isso seja feito de forma eficaz deve identificar o problema e a área de risco, explicar a importância da mudança de comportamento e recomendar uma mudança específica. Uma forma de fazer isso é utilizar os resultados da avaliação pré-tratamento, com os cuidados necessários. Remover Barreiras (remove Barriers): Barreiras significativas a mudança comportamental devem ser rapidamente identificadas e removidas. Essas podem estar relacionadas ao início do tratamento, à adesão e ao próprio processo de mudança. Questões como distância da casa do paciente até o local de tratamento, custo com transporte, espera, entre outros empecilhos podem ser exemplos de barreiras específicas. O terapeuta deverá identificar tais barreiras junto ao paciente e ajudá-lo a encontrar soluções práticas para tais situações. 32 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. Oferecer Escolhas (providing Choices): Sabemos que a motivação interna do paciente é estimulada pela percepção de que ele fez sua escolha sem coerção ou influências externas. Assim, o terapeuta deve oferecer alternativas ao paciente, sem tentar pressioná-lo para escolher um determinado caminho. Essa é uma forma de diminuir a resistência e a desistência, melhorando, portanto, o resultado do tratamento. Diminuir o Aspecto Desejável do Comportamento (Decreasing desirability): Todo comportamento que é mantido tem uma razão, ou seja, tem algo de bom. Por isso, o terapeuta deve identificar os aspectos positivos do comportamento- problema e buscar formas de diminuir estes aspectos e aumentar os aspectos negativos. Nesse caso, técnicas comportamentais podem ajudar. Praticar Empatia (practicing Empathy): Como já descrito, trabalhar o entendimento do paciente a partir do uso da escuta reflexiva, de forma respeitosa pode constituir um importante apoio no processo de mudança. E para lembrar: Não se trata de identificar-se com o paciente, mais de entendê-lo. 33 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. Proporcionar Feedback (providing Feedback): É preciso manter o paciente consciente de como ele está na situação presente. Isso será feito a partir de feedback (retornos) proporcionado aos pacientes. Eles podem ser feitos a partir de preocupações dos familiares, resultados de testes, pela manutenção de um diário de automonitoramento, etc. Proporcionar feedback deve ser uma ação frequente dentro da abordagem da Entrevista Motivacional. Esclarecer Objetivos (clariffing Goals): O estabelecimento de objetivos claros, metas que se pretende alcançar, ajuda ao longo do processo de tratamento, pois servem como parâmetro de comparação entre os objetivos e onde o paciente está. Também serve para demonstrar sucessos já alcançados, à medida que o terapeuta pode lembrar ao paciente onde ele estava quando chegou ao tratamento e o quanto evoluiu até o presente momento. Deve-se ter cuidado para que os objetivos sejam realistas e atingíveis. Ajudar Ativamente (active Helping): O terapeuta precisa estar ativamente e afirmativamente envolvido na mudança de comportamento do paciente. Isso pode ser feito a partir da expressão de cuidado, como ligar quando o paciente falta a uma sessão. O paciente precisa sentir que o terapeuta acredita no seu sucesso em mudar o comportamento- problema e que se dedica a isso. 34 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. As oito estratégias descritas acima são questões amplas que devem permear o clima terapêutico da Entrevista Motivacional em relação à motivação do paciente. Porém, existem outras cinco estratégias mais específicas que podem ser úteis como técnicas de apoio ao processo motivacional. A primeira delas é o uso das perguntas abertas. O paciente deve ser encorajado a falar o máximo possível. Alguns exemplos de perguntas abertas: Então, o que traz você aqui? Qual é seu problema? Comece me contando como seu problema teve início? Como você enxerga sua situação atual? O terapeuta precisa conhecer o paciente: Perguntas abertas ajudam a estabelecer confiança. E ajudam o paciente a explorar seu problema, favorecendo o diálogo e a fala do paciente. Como podemos fazer isso? 35 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. Perceba que em nenhuma das perguntas o paciente poderia dar uma resposta do tipo sim ou não. Isso são perguntas abertas! A segunda estratégia específica é o uso da escuta reflexiva. Embora esse tópico já tenha sido explorado no Módulo 1, é importante relembrar que se trata de uma técnica baseada na escuta sem julgamentos e seu produto é uma afirmação feita, ao paciente, a partir do que o terapeuta ouve e infere sobre o discurso. Não devemos usar perguntas, a escuta reflexiva pressupõe afirmações! Embora a escuta reflexiva seja uma forma de encorajar o paciente em sua motivação, fazer isso de forma direta também pode ser muito útil em determinados momentos. Elogios e afirmações de compreensão e apreciação ajudam a encorajar o paciente a não desistir e a dar espaço a sua motivação. Esta é a terceira estratégia específica para motivar o paciente. Exemplo: Tentar mudar um comportamento não é fácil. Você deu um grande passo em vir até aqui! Essa é uma boa sugestão! Você tem convivido com esse problema por muito tempo e mesmo assim ainda está estruturado. A Entrevista Motivacional também supõe que o terapeuta faça resumos do que o paciente diz ao longo da intervenção. Fazer resumos é a quarta estratégia específica que ajudará na motivação, pois reforçam o que foi dito, mostram que o terapeuta escutou com atenção e permitem ao paciente ouvir o que disse ao terapeuta. E, por fim, as afirmações automotivacionais são a quinta estratégia específica de motivação. São essenciais ao progresso motivacional do paciente, pois podem ser utilizadas para resolução da ambivalência. Na Entrevista Motivacional quem apresenta os argumentos para a mudança é o paciente e não o terapeuta, por isso, é necessário ajudá-lo na elaboração das afirmações automotivacionais. Essas 36 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. afirmações dividem-se em quatro categorias: reconhecimento do problema, expressão de preocupação, intenção de mudar e otimismo. Assim, existem algumas maneiras de auxiliar na evocação das afirmações automotivacionais. Para cada categoria há afirmações automotivacionais que podem ser proferidas pelo paciente e perguntas para evocar tais afirmaçõesque podem ser proferidas pelo terapeuta. Técnicas como perguntas evocativas, balança decisória, aprofundar tópicos motivacionais, usar extremos, olhar para trás, olhar para frente, explorar metas, usar paradoxo, podem ser úteis para eliciar as afirmações motivacionais. Abaixo quadros com afirmações automotivacionais e sugestões de perguntas evocativas de tais afirmações. RECONHECIMENTO DO PROBLEMA Começo a perceber o quanto a bebida está me fazendo mal Perguntas evocativas Como isso tem sido um problema em sua vida? Em que situações você se sente prejudicado ou prejudicando alguém? Quais suas dificuldades em relação ao seu comportamento-problema? EXPRESSÃO DE PREOCUPAÇÃO Estou preocupado quanto a minha saúde Perguntas evocativas Como você se sente quanto ao seu hábito de beber? Como você acredita que ficará sua vida se você não fizer a mudança? O que lhe preocupa no seu comportamento? INTENÇÃO DE MUDAR Está na hora de pensar em parar de beber Perguntas evocativas Que motivos você tem para fazer uma mudança? O que lhe leva a pensar em fazer uma mudança? Quais as vantagens e desvantagens de fazer uma mudança? OTIMISMO Eu consigo parar de beber Perguntas evocativas O que lhe faz pensar que conseguirá fazer a mudança? O que lhe dá certeza que pode mudar se quiser? Se decidisse mudar, o que acha que funcionaria para você? 37 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. Mais uma alternativa para ajudar o paciente a manter sua motivação é a técnica da Balança Decisória (ou decisional). Consiste em discutir os aspectos positivos e negativos do comportamento-problema. Tem por objetivo resolver a ambivalência e fazer com que o paciente sinta-se a vontade para falar. Pode-se solicitar ao paciente que faça uma lista do que gosta e o que não gosta em seu comportamento-problema. Depois, discutir com ele o que tem mais peso neste momento e na sua vida futura. Esta técnica é muito boa para que o paciente pense nos dois lados da situação em que se encontra. Aprofundar um tópico motivacional significa aproveitar quando um tema importante sobre o comportamento-problema do paciente surgir para falar um pouco mais sobre ele. Pedir ao paciente que use exemplos para explicar o que acontece (como descrever um dia típico em que o comportamento-problema é observado) e o quanto se sente preocupado com tal situação ajudará na evocação de afirmações automotivacionais, pois fará com que reflita sobre esta situação. Dentro desta mesma perspectiva, podemos solicitar ao paciente que reflita sobre o ponto mais extremo de sua preocupação, o que ele acha que poderia acontecer de pior se ele continuar com o comportamento atual (O que mais lhe preocupa nesta situação? Quais as piores coisas que podem acontecer?). Duas outras formas de ajudar nesta tarefa são: pedir ao paciente que olhe para trás, relate como era sua vida antes de ter o problema, e compare com a situação atual; então, solicitar que pense em como será seu futuro a partir da sua mudança de comportamento e discutam sobre isso. Em seguida, a técnica de explorar metas pode ser uma sequência interessante ao processo motivador. O objetivo é desenvolver discrepância entre o que o paciente quer e acredita como valores de vida e seu comportamento atual. Consiste apenas em perguntar ao paciente sobre seus objetivos e valores, para que ele possa fazer a reflexão sobre o quão longe está disso tudo no momento presente. O uso do paradoxo deve ser feito com muito cuidado e principalmente quando o terapeuta já se sente mais seguro. À medida que se trata de uma técnica em que o terapeuta assume uma postura do tipo “não existe problema algum em seu comportamento atual”, pode criar uma ideia de que o terapeuta não está entendendo 38 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. bem o problema ou não está se importando com ele. Todavia, se o terapeuta for habilidoso para tal técnica poderá suscitar o oposto do que está dizendo no paciente, ou seja, o paciente evocará expressões de otimismo, preocupação e intenção e mudar o comportamento. Além de usar estratégias para estimular a motivação do paciente, também é útil ter cuidado com armadilhas que podem comprometer o progresso do tratamento. Armadilha da Pergunta Resposta O que acontece? O terapeuta faz perguntas durante toda a sessão e o paciente responde com respostas curtas do tipo sim ou não. Por que isso acontece? Pode ser porque o terapeuta que saber questões específicas do paciente; ou pela ansiedade, tanto do terapeuta (de manter o controle da sessão), quanto do paciente de ficar numa posição passiva. Qual é o prejuízo? Ensina o paciente a responder com respostas curtas e simples; sugere que o terapeuta seja o especialista ativo no processo e o paciente passivo; diminui as oportunidades do paciente de explorar seu problema. Como evitar? Uso de perguntas abertas e escuta reflexiva. Armadilha do Confronto Negação O que acontece? O terapeuta percebe que o paciente tem um problema e passa a afirmar que este problema é sério. O paciente passa a se opor à ideia de que seu problema é tão sério. Por que isso acontece? Porque o terapeuta pretende alertar o paciente para a gravidade de seu problema e esquece que argumentações desse tipo geram relutância. Qual é o prejuízo? Criar resistência no paciente e este pode decidir não mudar. Como evitar? Uso de escuta reflexiva e estimulação de afirmações automotivacionais. 39 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. Armadilha do Especialista O que acontece? O terapeuta cria a ideia de que sabe todas as respostas. Por que isso acontece? Porque o terapeuta pode entusiasmar-se com seu conhecimento. Qual é o prejuízo? Criar uma condição de passividade para o paciente, em que ele não explore seus problemas. Como evitar? Uso de escuta reflexiva e perguntas abertas, permitindo ao paciente explorar sua ambivalência. Armadilha da Rotulação O que acontece? O terapeuta rotula o paciente (ex. alcoolista). Por que isso acontece? Porque o terapeuta acredita na importância do uso de rótulos para o tratamento. Qual é o prejuízo? Pelo estigma social dos rótulos, algumas pessoas resistem a eles e, novamente, gera resistência. Como evitar? Deixar de lado os rótulos. Armadilha do Foco Prematuro O que acontece? O terapeuta direciona o foco da discussão para o comportamento-problema específico (ex. alcoolismo), enquanto o paciente quer falar de questões mais amplas. Por que isso acontece? Porque o terapeuta quer tratar o foco do problema. Qual é o prejuízo? Desmotivar o paciente, que pode ficar na defensiva. Como evitar? Iniciar pelas preocupações do paciente e não do terapeuta. 40 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditosdeste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. 2.3 AVALIAÇÃO DA MOTIVAÇÃO E ESTADO GERAL DO PACIENTE Este tópico está especialmente direcionado para o tratamento de pacientes com problemas relacionados ao uso de drogas. Fazer uma boa avaliação do estado de motivação do paciente pode ser útil na identificação dos problemas, no estabelecimento do diagnóstico, no direcionamento das prioridades, na adequação do tratamento e no entendimento de como o indivíduo pensa ou age em sua vida. É preciso deixar claro ao paciente que a avaliação é um processo importante para iniciar o tratamento e que talvez seja necessária a utilização de instrumentos para isso. Além disso, as medidas utilizadas para avaliar motivação podem servir para ajudar o terapeuta na mudança do comportamento-problema ou ainda como medidas de resultados. Alguns instrumentos podem ser utilizados na avaliação de resultados de pacientes com comportamentos-problemas. A escala SOCRATES (The Stages of Change Readiness and Treatment Eagerness Scale), criada por Miller e Tonigan, em 1996, e a escala URICA (University of Rhode Island Change Assessment Scale), criada por McConnaughy, Prochaska, Velicer, em1983, têm objetivos semelhantes: Armadilha da Culpa O que acontece? O paciente sente-se culpado por seu comportamento. Terapeuta e paciente passam muito tempo falando disso. Por que isso acontece? Porque o paciente sente-se culpado por tudo que está acontecendo em sua vida. Qual é o prejuízo? Gerar defesas no paciente. Como evitar? Usar reflexão e reformulação das preocupações do paciente. 41 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. são utilizadas para pacientes com problemas de dependência, focando no problema- alvo do paciente. Todavia, é importante ressaltar que a escala URICA mede estágios gerais de mudança e não apenas os relacionados aos comportamentos aditivos. Os exames laboratoriais configuram-se em recursos fundamentais para tratamento de dependentes químicos. O mais comumente utilizado é a análise de urina, que detecta a presença de droga no organismo; o exame de sangue também pode ser utilizado para detecção de intoxicação aguda de drogas e para detecção de prejuízos causados ao fígado pelo uso crônico de álcool. Outro exame utilizado é o screening, que avalia as enzimas no fígado por meio de provas de função hepática. Esses tipos de avaliação podem ser necessários para que o terapeuta saiba a frequência e a quantidade de uso da droga. Como o uso de drogas pode afetar vários sistemas no organismo, é prudente solicitar ao paciente que vá a um médico para fazer exames gerais de revisão. Esses exames devem incluir avaliação neuropsicológica ou neurológica. Falar para o paciente sobre os danos já existentes em seu organismo provenientes do uso de drogas pode ser um bom motivador à parada, pois a motivação para a mudança se dá quando o paciente consegue perceber a discrepância entre a posição que ele está (as condições de vida e saúde que tem) e aquela na qual gostaria de estar. No entanto, alguns cuidados com o feedback dos resultados de inventários ou instrumentos devem ser observados: O terapeuta não deve usar os resultados como “provas” de alguma coisa que disse ao paciente ou para pressioná-lo a aceitar o diagnóstico. Exemplos de como iniciar o feedback no momento de ler os resultados obtidos na avaliação: Não sei se isso vai lhe interessar, mas... Isto pode ou não lhe preocupar... Eu não sei o que você vai pensar sobre esse resultado, mas.... 42 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. O terapeuta deve cuidar para não usar um tom de advertência ao ler o resultado da avaliação. Isso poderá gerar constrangimento e resistência no paciente. É preciso sempre solicitar e refletir as reações do paciente ao ouvir os resultados. Aqui é possível eliciar afirmações automotivacionais. Exemplo de como fazer isso: O que você acha disso? Como você se sente em relação a isso? O terapeuta deve ficar atendo às reações e manifestações não verbais do paciente. Ele pode expressar de forma corporal o que está sentindo (fazendo caretas, franzindo a testa, movimentando a cabeça, etc.). Aqui uma boa estratégia é usar a escuta reflexiva. Exemplo de como fazer isso: Isso realmente lhe pegou de surpresa, não era o que você esperava. É difícil acreditar. Isso é perturbador para você. O terapeuta deve estar preparado para que o paciente tenha fortes reações emocionais quando lhe for passado o resultado de avaliações. Especialmente se houver algum prejuízo físico já instaurado. O terapeuta deve criar um plano específico para o processo de avaliação, no qual é importante preparar o paciente para a avaliação, pensar em que aspectos quer acrescentar na avaliação pré-tratamento para conseguir a avaliação correta da motivação e, principalmente, como apresentar os achados da avaliação de forma motivacional. 43 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. O terapeuta deve lembrar-se de resumir o que foi dito no feedback. Como esse é um resumo um pouco mais difícil de ser feito, existem alguns elementos básicos que devem constar: 1. Os riscos e problemas que surgiram nas avaliações; 2. As reações do paciente ao feedback, incluindo as afirmações automotivacionais que foram feitas; 3. Perguntar ao paciente se ele quer incluir algo no resumo. Esses tópicos do resumo podem ajudar na confirmação do comprometimento do paciente com o tratamento. Para a avaliação de sintomas de ansiedade e depressão, muito comuns no usuário de drogas, o inventário de ansiedade de Beck (BAI) e o inventário de depressão (BDI), criados por Aron Beck, podem ser utilizados. Também é preciso ter uma avaliação geral dos problemas que o paciente vem enfrentando provenientes de seu comportamento-problema. Essa será uma boa estratégia para identificar também dificuldades que possam interferir no tratamento ou na recuperação do paciente. Com esse objetivo, um instrumento bastante utilizado é o CAGE. Uma forma de chegar direto a motivação do paciente é perguntar sobre sua disposição para isso. E, nesse momento, é preciso levar em consideração o julgamento que ele tem sobre a necessidade de mudar; como ele percebe a possibilidade de mudar; o quanto ele se sente confiante (autoeficácia) para mudar e sua intenção de mudar. Todos os resultados das avaliações precisam ser vistos pelo terapeuta e pelo paciente como parte do aconselhamento motivacional. 44 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. 2.4 SITUAÇÕES ESPECIAIS NA PRÁTICA DA ENTREVISTA MOTIVACIONAL Para qualquer paciente, existem pessoas significativas em sua vida. A concordância ou não dessas pessoas com o tratamento interfere em seu sucesso. Situações particulares com cônjuges de paciente podem ser bastante favoráveis às mudanças comportamentais. Assim, como em todo o processo da Entrevista Motivacional, características confrontacionais do cônjuge também evocarão resistência no paciente. No entanto, se o cônjuge for uma pessoa colaborativa e estiverde acordo com o tratamento do paciente e com as possibilidades de mudança de comportamento, é interessante tê-lo como figura colaborativa no tratamento. A participação do cônjuge poderá ajudar no processo motivacional à medida que este oferecer feedback construtivo sobre o comportamento-problema, ou seja, compartilhar suas expectativas e preocupações sobre o comportamento-problema pode auxiliar como elemento motivador à mudança. Além disso, ele pode oferecer apoio ao processo de mudança de comportamento ajudando o paciente no comprometimento com seus objetivos. Comentar favoravelmente e reconhecer os esforços do paciente em lidar com seu problema tem bons resultados na adesão ao tratamento. O papel do terapeuta é estimular o cônjuge a expressar seu apoio ao paciente, sem, no entanto, oferecer um treinamento específico para isso, pois quem está em tratamento é o paciente e não seu cônjuge. Assim algumas questões também devem ser trabalhadas com o cônjuge, sem, no entanto, tirar o foco do paciente. LEMBRE-SE de quem é seu paciente! Não faça conluios com o cônjuge, isso pode gerar desconfiança por parte do paciente, ele pode sentir-se ameaçado e pressionado. Além do cônjuge, o paciente pode ter outras pessoas significativas. Não importa quem virá ajudar no tratamento, desde que seja uma pessoa com uma relação afetiva e contato frequente com o paciente, que saiba de seu problema e tenha disposição para ajudar. Seja com quem for, as técnicas de Entrevista 45 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. Motivacional para incluir a pessoa significativa no tratamento e utilizar sua ajuda são semelhantes às utilizadas com o paciente. Para conseguir êxito num tratamento com a presença da pessoa significativa, o terapeuta precisa tomar alguns cuidados: 1. Evitar a armadilha da culpa, em que surgem acusações referentes a quem é o culpado pela situação atual. Isso é possível mantendo o controle da sessão. 2. Promover a motivação da pessoa significativa, pois algumas vezes ainda não está comprometida com a mudança. Aqui podem ser utilizadas técnicas que estimulem a reflexão e eliciem afirmações automotivacionais. 3. Envolver a pessoa na avaliação de metas e montagem do plano de mudança, pois essa pessoa pode ajudar no processo de mudança e será como uma testemunha do compromisso do paciente. Outra situação especial na prática da Entrevista Motivacional são os pacientes coagidos, ou seja, pacientes que são forçados a tratar-se por uma decisão judicial ou risco de perda do emprego, por exemplo, ou ainda por imposição dos pais no caso de adolescentes. Certamente pacientes com essas demandas estarão mais resistentes ao tratamento e demorarão mais tempo para estar prontos à mudança, no entanto, o terapeuta deverá seguir os mesmos pressupostos da Entrevista Motivacional que usaria para um paciente não coagido. A maneira correta é não alhear-se ao coercitor e ter claro o direito de escolha do paciente. Assim, acompanhando sua resistência e imprimindo a escuta reflexiva, o terapeuta conseguirá trabalhar a ambivalência no processo de mudança do paciente. Mais um ponto importante a considerar é como fazer a introdução do problema quando o paciente não está consciente dele ou está muito resistente em aceitá-lo. Uma boa técnica é o uso de perguntas abertas, pois essas permitem avaliar o estado motivacional sem gerar muita resistência. Todavia, essa técnica dependerá do contexto do tratamento e do paciente. Pode ser relativamente mais fácil com algumas pessoas e situações do que em outras. As perguntas devem ser feitas de maneira natural e direta, seguindo o fluxo da conversa. 46 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. Exemplos de perguntas fechadas e abertas: É importante lembrar que as perguntas fechadas suscitam respostas do tipo sim ou não. O que dificulta o diálogo entre terapeuta e paciente e impede que o terapeuta conheça o contexto do paciente. Perguntas abertas estimulam a falar sobre o assunto perguntado e criam um clima de liberdade para o paciente falar. É fácil imaginar que quando alguém está com um problema relacionado a drogas ou outro que lhe suscite a necessidade de mudança de comportamento, sua vida está desorganizada. Neste contexto, a tendência do paciente é não encontrar “luz no fim do túnel” e ficar tão envolvido com os prejuízos sociais causados pelo comportamento-problema, que acabará desviando da questão principal. Para fugir dessa armadilha, o terapeuta precisa apenas reconhecer a percepção do paciente e focalizar a atenção em passos construtivos para a mudança, ao invés de desqualificar o modo como o paciente está vendo sua situação. Aqui também é útil utilizar a escuta reflexiva e acompanhar a resistência. LEMBRE-SE que ir contra a resistência do paciente (interpretá-la) não ajuda em nada o processo de motivação à mudança. PERGUNTAS FECHADAS Geram resistência Você fuma muito, certo? Você está me dizendo que tem problemas com álcool, concorda? Você não acha que seu hábito de usar cocaína é a causa deste problema? PERGUNTAS ABERTAS Para abrir a discussão Como é seu consumo de cigarro numa semana típica? O que você gosta no hábito de beber? Como a cocaína pode estar interferindo em sua vida? 47 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. Outra situação semelhante é quando o paciente desvia para um assunto menos produtivo ao tratamento, isso ocorre porque o paciente tem associações naturais de pensamento ou ainda pode ser intencional para escapar de falar do problema que o levou ao tratamento. A melhor estratégia, neste caso, é fazer um resumo do que o paciente está falando, mostrando um claro entendimento de seu discurso e, então, redirecioná-lo para a questão principal. Por se tratar de uma intervenção terapêutica que pode ser aplicada por profissionais não especializados, a gama de locais e de situações na qual a Entrevista Motivacional pode ser usada é grande. Os profissionais não especializados trabalham em muitos lugares em que os terapeutas especializados não estão. Além disso, pessoas com problemas relacionados a drogas, geralmente não procuram tratamento, todavia, algumas apresentam outros problemas de saúde associados que as leva a procurar um médico, então, surge a oportunidade para tratar também a dependência de drogas. Um exemplo é o uso da Entrevista Motivacional nos casos de não adesão a tratamentos crônicos, como por exemplo, o diabetes, as cardiopatias, disfunções alimentares, etc. Sabemos que pacientes com esses problemas de saúde tendem a não aderir ao tratamento em razão das mudanças, muitas vezes, radicais no seu estilo de vida. Dessa forma, aumentam as chances de complicações de saúde e de agravamento de suas doenças. A Entrevista Motivacional, como uma intervenção que trabalha a motivação do paciente, pode ajudar complementando o processo de tratamento dessas e de outras doenças crônicas. O trabalho dos profissionais não especializados em terapia é exatamente negociar mudanças de comportamentos. A Entrevista Motivacional é uma boa intervenção para qualquer problema que envolva ambivalência, resistência, motivação e mudança de comportamento.
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