Aspectos jurídicos do filme Erin Brockowich

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IPTAN – INSTITUTO DE ENSINO SUPERIOR “PRES. TANCREDO DE ALMEIDA NEVES”
Maria do Carmo
Direito Processual Civil I: Resenha de “Erin Brockovich”- uma análise sob a perspectiva das leis brasileiras
Professora: Karin Myiahira
SÃO JOÃO DEL-REI
Junho de 2016
Sumário
Introdução ------------------------------------------------------------------------------ 3
Aspectos jurídicos presentes no filme à luz do ordenamento jurídico brasileiro -------------------------------------------------------------------- 4
Conclusão ------------------------------------------------------------------------------ 7
Referências Bibliográficas -------------------------------------------------------- 8
Introdução
O longa americano “Erin Brockovich: uma mulher de talento” dirigido por Steven Soderbergh conta a história verídica de Erin, uma mulher que enfrenta diversas dificuldades, que sofre preconceitos vários devido à sua não adequação aos padrões sociais estabelecidos acerca do “modelo ideal de mulher” e, ainda assim, consegue se reerguer, consolidar uma carreira na área jurídica e auxiliar diversas pessoas através de seu trabalho.
A história começa com Erin pleiteando na justiça danos materiais devido a um acidente automobilístico no qual figurava como vítima. Contudo, devido ao seu linguajar não apropriado no tribunal e ao seu comportamento desviante do que se constrói enquanto padrão, ela sucumbe na lide. É imperioso ressaltar o caráter injusto de tal acontecimento, afinal, o acesso à justiça deveria ser universal e independer do status social dos litigantes, entretanto, empiricamente, não é o que se observa.
Deste modo, desesperada, sem emprego, com custas hospitalares a pagar e três filhos para sustentar, Erin vai até o escritório de advocacia do qual o advogado que lhe representou na causa de danos morais é dono, e o convence a empregar-lhe como arquivista.
Assim, no desempenho de suas funções, Erin descobre um processo de compra e venda no qual constam exames médicos. Intrigada com a relação entre os exames médicos e um procedimento de venda de um imóvel, ela começa a investigar o caso e descobre que uma eminente empresa de gás e eletricidade – Pacific Gas and Eletric – estava envolvida na contaminação do meio ambiente de determinada região, visto que, negligentemente, despejava no solo e na água um composto químico extremamente prejudicial à saúde, o cromo hexavalente.
A contaminação da água originou diversos problemas de saúde nos moradores da região. Algumas pessoas sofreram tão somente problemas respiratórios, outros contraíram, inclusive, câncer. 
Após sua descoberta, Erin dedica seu tempo a colher provas e, devido à sua assessoria, o pequeno escritório no qual trabalha move uma ação sem precedentes nos Estados Unidos, e consegue vencer a lide, conseguindo cerca de 330 milhões em indenizações para os litigantes – tendo cada qual recebido sua parte de acordo com a extensão do dano sofrido.
Aspectos jurídicos presentes no filme à luz do ordenamento jurídico brasileiro
Considerando esta pequena sinopse, podemos encontrar alguns aspectos jurídicos que podem ser discutidos sob a luz do ordenamento jurídico brasileiro. Dentre tais aspectos, gostaríamos de destacar a questão dos precedentes, do conjunto probatório e da possibilidade de litisconsórcio.
No que concerne aos precedentes, é interessante, primeiramente, diferenciarmos o sistema de Civil Law (adotado pelo Brasil e baseado nos códigos) e o sistema de Common Law (adotado pelos Estados Unidos, onde os fatos do filme aconteceram, e baseado em jurisprudências e precedentes). Assim, a questão de precedentes ainda é uma novidade em nosso sistema e está ganhando força com o Novo Código de Processo Civil. Segundo Jaldemiro Rodrigues de Ataíde Júnior, a adoção de precedentes no sistema jurídico brasileiro visa:
se volta a solucionar com maior segurança jurídica, coerência, celeridade e isonomia as demandas de massa, as causas repetitivas, ou melhor, as causas cuja relevância ultrapassa os interesses subjetivos das partes
Assim, os precedentes podem auxiliar a celeridade da justiça e podem garantir isonomia às questões que se mostrem semelhantes. Nos Estados Unidos, haver precedentes sobre a questão pleiteada é crucial para que a ação seja bem sucedida. Portanto, como não havia precedentes, o trabalho de Erin foi pioneiro e, bem mais difícil. No Brasil, os precedentes não são tão determinantes, no entanto, com o Novo Código de Processo Civil, este cenário vem mudando, o caput do artigo 926 do CPC preleciona:
Os tribunais devem uniformizar sua jurisprudência e mantê-la estável, íntegra e coerente. 
Percebemos a valorização dos precedentes com o intuito de garantir a justiça a todos de forma igualitária. E o artigo 927 complementa o antecedente da seguinte forma:
Os juízes e os tribunais observarão:
I – as decisões do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de constitucionalidade;
II – os enunciados de súmula vinculante;
III – os acórdãos em incidente de assunção de competência ou de resolução de demandas repetitivas e em julgamento de recursos extraordinário e especial repetitivos;
IV – os enunciados das súmulas do Supremo Tribunal Federal em matéria constitucional e do Superior Tribunal de Justiça em matéria infraconstitucional;
V – a orientação do plenário ou do órgão especial aos quais estiverem vinculados.
Resta claro que não só as leis positivadas, mas as decisões sobre causas semelhantes devem desempenhar papel fundamental nas deliberações dos magistrados. Cumpre lembrar que ao final do filme, é mencionado o fato de que após a vitória em face da empresa PG&E, vários outros casos foram instaurados e ganhos pelo escritório de advocacia no qual Erin trabalha, ou seja, os precedentes foram essenciais para novas vitórias. E é esta a realidade que está se instituindo no Brasil.
Em relação ao litisconsórcio, assistimos no filme a formação de um polo ativo com cerca de seiscentos litigantes. A pluralidade de partes tanto no polo ativo quanto no polo passivo é uma possibilidade no ordenamento jurídico brasileiro, como previsto no artigo 113:
Duas ou mais pessoas podem litigar, no mesmo processo, em conjunto, ativa ou passivamente, quando:
I – entre elas houver comunhão de direitos ou de obrigações relativamente à lide;
II – entre as causas houver conexão pelo pedido ou pela causa de pedir;
III – ocorrer afinidade de questões por ponto comum de fato ou de direito.
No Brasil, visando à celeridade do processo, é possível que o juiz limitasse o número de litigantes, afinal, uma ação com seiscentos autores poderia acabar obstruindo o andamento do processo. E esta possibilidade de limitação está prevista no parágrafo único do supracitado artigo, na condição de o litisconsórcio ser facultativo.
Percebemos, ainda, que cada litigante recebeu uma indenização correspondente aos danos sofridos, assim, podemos afirmar que houve um litisconsórcio simples, já que determinou indenizações diferentes para cada um dos autores.
Passemos, agora, para a questão das provas. Marinoni e Mitidiero conceituam prova como:
meio retórico, regulado pela legislação, destinado a convencer o Estado da validade de proposições controversas no processo, dentro de parâmetros fixados pelo direito e de critérios racionais
A partir deste conceito, percebemos que as provas permitem uma reconstrução dos fatos ocorridos, buscando a maior proximidade possível da verdade. Cabendo salientar que a verdade absoluta seria uma utopia, visto que cada parte apresentará a sua versão da história e uma reconstrução perfeita da realidade seria impossível, assim, o conjunto probatório permite a construção da verdade jurídica. E, através desta reconstrução, o magistrado deverá julgar se os pedidos são procedentes ou não.
Erin se dedicou a reunir o maior número de provas possíveis. Ela chegou a invadir o terreno da empresa para coletar amostras da água contaminada. Além disso, elaconversou com cada um dos moradores afetados e os convenceu a entrar na lide, a dar seus depoimentos pessoais. De outra feita, Erin conseguiu tirar cópias de documentos que demonstravam a contaminação na Comissão de Água. Na justiça brasileira, poderíamos questionar os métodos nada ortodoxos utilizados para obter as provas – a parte contrária poderia, inclusive, alegar que algumas provas foram obtidas de maneira ilícita (invasão de propriedade e acesso clandestino a determinados documentos, por exemplo).
Nada obstante, as provas foram acolhidas e os pedidos pleiteados deferidos. Da mesma maneira, as provas funcionam nas ações em nosso país.
Conclusão
	
Diante desta breve análise, conseguimos discernir determinada semelhança entre nosso ordenamento jurídico e o ordenamento jurídico americano. E, percebemos que, embora sem uma formação convencional na área jurídica, Erin foi capaz de assessorar uma lide e beneficiar centenas de pessoas através do seu empenho.
Referências Bibliográficas
ATAIDE JR, Jaldemiro Rodrigues de. Uma proposta de sistematização da eficácia temporal dos precedentes diante do projeto de novo CPC. O projeto do Novo Código de Processo Civil. Estudos em homenagem ao Professor José Joaquim Calmon de Passos (Coord. Fredie Didier e Antonio Adonias Aguiar Bastos). Salvador: Juspodivm, 2012.
MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. “Código de processo civil comentado”. São Paulo: RT, 2011. 3ª ed.