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A Sociologia Política do reconhecimento - A Intuição Hegeliana Original - Patrícia Mattos (Breve Resumo)

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A Sociologia Política do reconhecimento
A Intuição Hegeliana Original
Patrícia Mattos
	Patrícia Mattos introduz sobre a intuição hegeliana a partir de uma reconstrução do pensamento hegeliano feito por Axel Honneth dizendo que essa reconstrução diz respeito ao traço: "a ambição de unir o tema da doutrina moderna da liberdade individual com a concepção clássica e aristotélica que enfatiza o dado da eticidade e dos laços comunitários." (Mattos, 2006, pp. 19)
	Há uma síntese do trabalho de Hegel afirmando que a luta por reconhecimento está diretamente ligado aos conflitos sociais a partir do contrato social. Afirma que Maquiavel (2000), em O Príncipe, mostra que há uma luta entre sujeitos a partir de uma ambição para realizar seus desejos. Maquiavel queria entender e delimitar bases estruturais para resultar em ações por poder. 
	Já Hobbes (1996) "acredita ser possível interpretar a essência humana de forma mecanicista". (Mattos, 2006, pp. 20) Para ele o estado de natureza se daria a partir de uma intensificação para manter o poder, resultando em guerra de todos contra todos. Dessa forma, o Contrato Social daria fim a essa guerra, já que possibilitarua a autoconservação individual.
	Hegel vai contra esse pensamento ao afirmar que o contrato possibilita uma luta por reconhecimento pela individuação e autonomia dos seres humanos, e para assegurar a evolução de uma sociedade. Hegel acredita que os costumes, por exemplo, possibilita um consenso prévio intersubjetivo para que ocorra um acordo intersubjetivo onde os indivíduos esperam ser levados em consideração a partir de suas ações. Esse consenso prévio faz com que as pessoas obedeçam as normas jurídicas, pois acreditam que obedecendo tais normas terão uma liberdade, mesmo que limitada.
	Patrícia Mattos esclarece as ideias principais dos primeiros estudos de Hegel, como a existência de um caráter condizente com a ética formada com a relação de sujeito entre sujeito que passa no meio de todas as relações, e também sobre a influência de Aristóteles nessa perspectiva. A conclusão de Hegel a partir do pensamento de Aristóteles em relação ao indivíduo, é que só é possível a autonomia individual a partir do reconhecimento intersubjetivo.
	Hegel apresenta a teoria fichtiana em sua obra O Sistema de Eticidade afirmando que para Fichte o processo de reconhecimento mútuo dentro da comunicação equivale à compreensão de Aristóteles como várias formas de eticidade humana, o objetivo de Hegel a partir disso, é determinar o potencial da eticidade. 
	Para Hegel existe três fases para se atingir o reconhecimento: O amor que teria como instituição o matrimônio e que resulta na autoconfiança, o direito com instituição a sociedade civil, resultando no auto-respeito e a solidariedade com o Estado, finalizando com a auto estima. Essas esferas vão corresponder com a autoconsciência do espírito de cada um. Tendo essas três esferas concretizadas, Hegel compreende que o ser humano se torna auto-realizado. A realização do espírito só ocorrerá a partir do espírito subjetivo, do espírito efetivo, e do espírito absoluto. 
	"Resumindo, pode-se dizer que a esfera da eticidade é caracterizada por um determinado modelo de práticas sociais que se distinguem por um processo peculiar de reconhecimento recíproco e autorealização". (Mattos, 2006, pp. 22)
	Patrícia Mattos refere-se às relações amorosas de sexo a partir da concepção de Honneth, onde essas relações "introduzem uma condição constitutiva da autoconsciência de uma pessoa de direito". (página 22). Honneth afirma que dessa forma os indivíduos podem conhecer-se uns aos outros, incluindo a amizade dentro da eticidade, porque vai de encontro ao reconhecimento mútuo do outro.
	Hegel afirma que o processo para que um indivíduo seja considerado de direito, se dá a partir de um meio social e que as relações jurídicas fomentam o conflito, desenvolvendo a eticidade de dada sociedade. Um exemplo para compreender isso é quando ocorre um ato criminoso, feito por um indivíduo em uma certa sociedade, que só irá ocorrer para que esse sujeito tenha seu auto reconhecimento, podendo resultar no questionamento das normas jurídicas. Um ato como esse tem como finalidade o amadurecimento e a transformação de sua realidade social. Dessa forma a sociedade civil se amplia de acordo com o reconhecimento das novas formas de concretização do direito.
	Outra maneira de se compreender esse exemplo é a partir do pensamento do criminoso em seus atos, mostrando que sua vontade individual não contempla a vontade geral de sua sociedade, podendo ter a conclusão de que as regras jurídicas foram feitas de forma abstrata que não contemple sua vontade individual, ou então "que não contemple as diferenças de acesso às condições de igualdade pressupostas pelo ordenamento jurídico." (Mattos, 2006, pp. 25)
	Já Honneth compreende que dada um conflito por poder a partir de indivíduos da mesma família, por exemplo, o conflito social ocorre devido a uma desconsideração do acordo intersubjetivo. Nessa casião, não há como resultado a implementação de normas jurídicas, e o indivíduo que perde esse conflito familiar tente a lesar sua pose para obter o reconhecimento do outro no seu lugar. Ou seja, os dois sujeitos irão lutar para obter seus reconhecimentos individuais.
	Hegel vê o processo de formação da vontade geral concretizada de forma gradativa a partir dos conteúdos de reconhecimento jurídico, onde o sistema jurídico possui as dimensões institucional e moral. A eticidade deve abranger relacionamentos comunicativos que são formados pelo processo de modernização social e que apresentam caráter institucional, do mesmo modo que podem mudar e sofrar adaptações. A partir do exemplo de família, Hegel compreende que cada membro deve deixar um pouco sua autonomia de lado para se ter a auto-realização, já que cada indivíduo tenta se fixar em sua individualidade (a partir de relaçãoes com outras pessoas) dentro da sociedade civil, com o seguinte exemplo: "Assim como no amor, existe na sociedade civil uma pressuposição normativa baseada no reconhecimento mútuo". (Mattos, 2006, pp. 26)
	A formação do Estado é o terceiro estágio de reconhecimento denominado por Hegel. O Estado faz parte do terceiro estágio, porém apresenta o âmbito organizatório das outras duas esferas de eticidade. Desse modo o Estado deveria ser visto a partir da mesma lógica de análise das relações jurídicas, porém Hegel não dá esse enfoque, sendo criticado por Honneth.
	Para Honneth, o Hegel não apresenta a relação do Estado com os membros da sociedade e não percebeu que quando os costumes se inserem nas rotinas e hábitos intersubjetivados das pessoas, passam a ter o valor de instituições. "O erro de Hegel foi considerar que o Estado seria a instância máxima na qual se exterioriza o espírito absoluto, na qual a vontade geral se contrai em um". (Mattos, 2006, pp. 27)
Lígia Martins

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