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Secularização ou Ressacralização? O debate sociológico contemporâneo sobre a teoria da secularização - Zepeda (Resenha)

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Resenha: Secularização ou Ressacralização?
O debate sociológico contemporâneo sobre a teoria da secularização
José de Jésus Legorreta Zepeda
Introdução
	“A religião sempre foi um fenômeno sociocultural inevitável quando se tenta analisar e compreender qualquer sociedade.” A partir dessa análise Zepeda sustenta que alguns autores, como Comte, Durkheim, Marx, Weber e Parsons, afirmavam que o desenvolvimento da modernidade o centro da vida da sociedade iria para a periferia, também “transferiria funções essenciais que a religião desempenhava nas sociedades tradicionais para outras instituições e referências simbólicas”, como legitimação, coesão social e sentido. Alguns autores também afirmavam que com a modernização da sociedade, a religião poderia decrescer e até parar de existir. Zepeda afirma que: “A este conjunto de mudanças pelo qual a religião perde sua relevância social, ideológica e institucional é o que genericamente chamamos secularização.” Portanto, a secularização seria a maneira pelo qual a religião perderia seu valor para a sociedade, ou desaparecimento, de acordo com a modernização desta. 
	A partir do século XX o projeto da modernidade estava em crise e a religião se tornou um elemento referencial pois estava resistindo e surgindo novos movimentos religiosos. Dessa forma o problema passa a ser o de explicar porque e como a religião estava resistindo na crise da modernidade globalizada. Nesse ponto de vista a secularização seria colocada à prova, ou seja, se realmente estava ocorrendo uma secularização, já que com o aumento de movimentos religiosos, provava o contrário. Sociólogos da religião afirmavam que a secularização era importante para entender a existência da religião, mesmo naquele momento de crise. 
A teoria da secularização em debate
	Conceito de modernidade é dado a partir de discussões sociológicas: “Trata-se de um processo sócio-histórico complexo e multidimensional – original da Europa Central -, caracterizado fundamentalmente por uma visão de mundo descentrada, profana e pluralista”, desestabilizando a experiência, as instituições e os conhecimentos, resultando em uma realidade contraditória e precária. As características da modernidade seria: “a primazia da razão instrumental, o individualismo, a compreensão otimista da história como progresso, bem como a diferenciação institucional.” Com o desenvolvimento da modernidade, há mudanças no papel da religião em sociedades tradicionais, se tornando legitimador e integrador, dando sentido e articulando as diferentes esferas sociais. Esse processo se denomina “processo de secularização”, onde Comte, Spencer e Marx entenderam como uma “dinâmica de emancipação”, resultando em sociedades “sem religião”. 
Motivos pelo qual esses autores consideravam uma sociedade sem religião: 
O descolamento da religião-institucional do centro para a periferia na sociedade moderna europeia.
Perda do monopólio da visão de mundo da religião.
Declínio do valor dos símbolos e instituições religiosas. 
Já Marx, Nietzsche e Freud apoiavam a ideia de que a emancipação da religião resultaria no seu fim, nisso Zepeda afirma ser um “programa político-ideológico”. Essa ideia é denominada de “tese dura ou forte da secularização”. Já Durkheim e Weber foram contrários à essa forma de pensamento, afirmando que apesar da decadência da religião, ela iria apenas se modificar e adotar novas fórmulas para sua sobrevivência. Estes denominados “tese suave da secularização”.
A partir do século XX Peter Berger e Thomas Luckmann trouxeram uma nova reflexão sociológica sobre a secularização, constatando limites para a “tese dura da secularização”. Berger afirmava que “o processo de racionalização, institucionalizado na economia, a técnica e a burocracia haviam deslocado a religião do centro da sociedade para o âmbito privado” e também “advertia que esse fato possibilitava o pluralismo religioso, desmonopolizando as tradições religiosas hegemônicas, colocando-as em concorrência umas com as outras, mas não eliminando-as.” Já Luckmann persistia em uma constante antropológica, porém que havia possibilidade de mudanças: “Luckmann provou, a partir de uma perspectiva histórico-antropológica, como a religião, em vez de destruir, transformava-se influenciada pela estrutura simbólica e social na qual tinha lugar.” 
Críticas à teoria da secularização
	A maioria das críticas à secularização foram voltadas para a “tese dura”, se dando em duas vertentes: 
Afirmação de uma religiosidade exuberante e permanente.
Exemplo de Wilson, que a “tese dura” faz referência à uma ideologia (secularismo) do que uma teoria social.
Já o conceito da secularização é criticado de modo que “se com o avanço da modernidade a religião tende a decrescer, isto faria supor que em algum momento do passado existiu algo como “a idade da fé”. Porém, uma análise histórica mais adequada mostrará quão longe estiveram outras sociedades de se algo mais que religiosas.” Zepeda trás o pensamento de Beriain e Casanova, onde não há apenas uma modernidade e uma religião, porém várias delas, e sendo assim não dá para relacioná-las à um destino único e inescapável da secularização.
Secularização: um paradigma multidimensional
	Existe um grupo de sociólogos que não descartam a secularização. Entre eles há o Karel Dobbelaere, este afirma que a “teoria da secularização é primeiramente um “conceito de sensibilização” que oferece um sentido geral de referência e orientação, abordando casos empíricos. Ele “também adverte que caso se queira fazer uso científico do conceito e não utilizá-lo simplesmente como um “estereótipo vago” é preciso diferenciar três dimensões: laicização, mudança religiosa e participação em igrejas.” 
Laicização: Medição das inter-relações entre instituições sociais e religiosas a partir de 3 processos: profanação, diferenciação e transposição.
Mudanças no interior do mundo religioso, como ritos, e rebaixamento e surgimento de comunidades religiosas.
Mudanças entre o indivíduo e as instituições religiosas: “referindo-se ao grau de integração normativa dos indivíduos com respeito às corporações religiosas.” 
Peter Beyer concordou e assumiu quase todas as diferenciações e afirmações, tais como conceitos, de Dobbelaere. Já José Casanova referiu-se “à secularização como um paradigma no qual distingue três diferentes propostas:” Secularização como diferenciação estrutural e funcional das esferas seculares com respeito às instituições e às normas religiosas; Secularização como declínio nas crenças e práticas religiosas; Secularização como marginalização da religião à esfera privada.
Já Luckmann, Voyé, Beyer, Wilson, Tschannen, Luhmann, Rubio e Mardones acreditavam que a tese da secularização trás consigo elementos valiosos acerca da dimensão institucional e/ou social. Tschannen sustenta a secularização forma quadro coerente de conceitos que podem ser resumidos dentro de três questões: diferenciação, racionalização e mundanização. Tschannen “supera abordagens reducionistas e teleológicas, ao mesmo tempo em que consegue identificar e valorizar um quadro conceitual sociológico útil para dar conta das dinâmicas e das tendências do fenômeno religioso nas sociedades contemporâneas, tanto na persistência de suas antigas expressões, como em suas novas formas.” 
Secularização, pós-modernidade e globalização
	Já que não houve, de fato, uma secularização na sociedade contemporânea, mas sim um aumento de movimentos sociais, agora há como importância procurar compreender as tendências e causas do ressurgimento da religião, ou seja, “ressacralização ou “reencantamento”. 
	Zepeda sustenta que muitos estudiosos concluíram precipitadamente o fim da teoria da secularização e que se deve identificar qual religião ressurge e como se dá na modernidade, refletindo se essas religiões abalam, ou não, a teoria da secularização. Apesar das igrejas católicas, luteranas e anglicanas terem perdido influência na sociedade moderna, observa-se um aumento na diversidade religiosa, adotando o espírito da “modernidaderadicalizada”: “desconfiança ante a racionalidade contemporânea, pretensão de ruptura ante as práticas e as formas religiosas institucionais herdadas e de forte carga emocional e individual”. (Zepeda, p. 135)
	O “ressurgimento” de certas religiões não sustentam o fim da teoria da secularização, pois a proliferação de movimentos religiosos não possibilitam a coesão social. Já de acordo com a teoria da dessecularização, Zepeda defende que esta: “...coexiste com o processo de secularização, isto é, mantém-se a emancipação de diversas instituições da tutela religiosa, ao mesmo tempo em que as crenças e as práticas herdadas coexistem e interpenetram-se com novas crenças e movimentos religiosos, criando uma situação inédita, pois nem se trata de um simples retorno religioso do passado, tampouco de uma dissolução da secularização.” (Zepeda, p. 136)
	
A religião na globalização
	Análise da modernidade radicalizada onde é visível um processo acelerado de intercâmbio entre indivíduos, culturas, instituições e etc., desterritorializando as mesmas, e até relações econômicas. Zepeda ilustra que a globalização é uma consequência da modernidade radicalizada, pois esta proporcionou condições socioinstitucionais. De acordo com o pensamento de Beyer acerca da religião na globalização, Zepeda afirma que: “a religião comporta-se tanto como uma força negativa da globalização, servindo, para certos grupos, de referência para uma identidade histórica ou étnica e fortalecendo, assim, a cultura local, quanto como uma força pró-ativa, que assume um caráter eminentemente expansivo e homogeneizador, como ocorre com o catolicismo romano e alguns movimentos islâmicos na modernidade globalizada.” (Zepeda, p. 137)
	
Conclusão
Muitas das primeiras teorias sociológicas sobre a secularização tentavam explicar “a perda da relevância social e subjetiva da religião nas sociedades modernas” (Zepeda, p. 138). Já apesar do debate sociológico contemporâneo demonstrou que as primeiras teorias a respeito da secularização vinham baseadas no viés iluminista, estas identificaram mudanças socioestruturais (diferenciação institucional e pluralismo, por exemplo), que tornaria “irreversível a descentralização e o deslocamento experimentado pela religião nos processos de modernização...” (Zepeda, p. 139).
A teoria da secularização ainda trata debates e discussões teorias a partir de investigações empíricas, permitindo revisar seus pressupostos e melhor compreender o processo de secularização e seus derivados, de nossas sociedades.
Lígia Martins

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