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tn !'l[{ ..~' <(1) , "::J < , C) I::J INTRODUÇÃO ~ IOQ. O ! Por dedicar-se exclusivamente ao trabalho agrícola:1m e pastoril, o vocabulário dos romanos era, no início, E ~ restrito à vida simples, suficiente a exprimir seus afazeres,~".- '~ diários, de significação prática e concreta . +"' i Mas nenhum povo pode manter-se isolado paramO sempre. O contato com outras civilizações é inevitável.Foi assim que, para preencher suas necessidades deC ~, ~ .~f$ comunicação, adotaram vários termos de origem etrusca~a N " e grega, enriquecendo progressivamente seu restritoI Q) " vocabulário inicial. "r'""" :R Entre os mais importantes habitantes primitivos da. _.~ Q. -~ , Península Ibérica, vamos encontrar os iberos e os celtas,'.- F. povo este de origem germânica, que ali se estabeleceu-"CX) tc Q) • após o século V antes de Cristo. ~Estes dois povos'~ Q) •. • terminam-se fundindo, formando os chamados celtiberos. O "r'""" t lCO - ',' Devido a certa semelhança entre os idiomas latinoo_..J i e celta, os celtiberos acabam aceitando a romanização:::JW c·" ,cg_mos costumes e língua de Roma."'O ::J •~ O r Com a soberania sobre os cartagineses, quer-s.... CO [- governavam a Península Ibérica em 197 a.C., os romanos..•.....• "C C f dominam este território, fazendo-o, parte do Império·C ~. "'O Romano. À procura das riquezas da região, estabelecem-O rC t se também gregos e fenícios que fundam um bom número,_ O k..•.....• ! de cidades ...•.....• _..J« . I A conquista da Grécia enriquece os romanos queC O se impregnam da filosofia, costumes e religião e, na.-O s... f linguagem, de termos abstratos para exprimir oCf) ~m Q.) C I pensamento grego. Com isso, apertelçoa-se a língua.Z O Ser espiritual que é, o homem sofre de irresistível.-- o , inclinação para expressar seus sentimentos íntimos e- .- I_..J "'C I« E 19((I l(1)::J tn profundos, as belezas e a genialidade próprias do espírito humano. A necessidade de expressão cultural e artística atrai esse povo para os modelos gregos e se apercebe . da necessidade de uma língua literárié!i~,i Assim apareceram escritores e teóricos da ltnquaqem "que poliram, ordenaram e adaptaram a língua primitiva e pobre às necessidades literárias, estabelecendo normas gramaticais e transformando o antigo idioma de lavradores e pastores numa língua pura, rica e bela'" . A língua latina torna-se, assim, senhora de uma literatura invejável, espalhando-se por todos os povos conhecidos, pela sua objetividade e mensagem cívica, humanística, jurídica, etc. Torna-se língua universal, por isso mesmo de emprego obrigatório do homem culto; de transmissão dos conhecimentos da fala dos professores das universidades e dos trabalhos científicos, como De revolutionibus orbium coelestium, de Nicolau Copérnico, para citar um só exemplo. Deve-se levar em conta que as reqroes conquistadas "eram habitadas por povos diferentes cada um com sua língua própria". Enquanto o Império Romano esteve unido, havia unidade lingüística pelo ensino do latim nas escolas, pelo serviço militar obrigatório que mantinha jovens de todo Império em contato direto. Ao regressar às suas regiões de origem, falavam um latim não dialetado. Com a queda do Império, fecham-se as escolas, desfazem-se as relações com Roma, propiciando a evolução dos dialetos, que se transformam em romanços, e estes, com o passar do tempo, acabam numa nova língua. Romanço, de románice fabulare (falar à maneira românica ), é a Iase-interrnediária "entre as últimas manifestações do latim vulgar" (no português, segundo Bourciez, entre o século séc. V ao século IX) "e as primeiras manifestações de cada uma das línguas neolatinas": (português, francês, italiano, espanhol e outras.) Desse modo temos: Latim Clássico Línguas Neolatina.s ' 20 Apesar do pouco decurso de tempo, não se pode escrever, hoje, como escreveram José de Alencar e Castro Alves, por exemplo. Se a linguagem, a realidade, estilo e outros aspectos, como vocabulário, são diferentes dentro de um espaço de tempo bem 'recente ao ponto de nos causar estranheza, imaginem-se as diferenças de colonização realizadas em épocas e regiões tão diversas e distantes. De fato, as várias conquistas efetuadas pelos romanos deram-se num espaço aproximado de quatro séculos e em regiões muito extensas. Após o século V d.C, outros povos culturalmente inferiores invadiram a Península, adotando a língua latina, que já sofria processo de dialetação cada vez maior. E como é que temos hoje uma porção de línguas neolatinas com características diferentes, se provêm de uma única, a latina? Como sabemos, havia duas modalidades de uma mesma língua, a latina: 1. uma, denominada de clássica ou sermo urbanus , a língua das pessoas cultas: escrita, empregada pelos4 GULART, Audemaro Taranto; SILVA, Oscar Vieira da, Estudo dirigido de gramática histórica e teoria literária. São Paulo:Editora do Brasil, v.1, [19--] 21 Luisa Realce Luisa Realce poetas e demais escritores prosadores, dentre os quais juristas, teatrólogos, que primavam pela escolha do vocabulário, pelo rigor da correção gramatical e elegância de estilo. ,__.,.,.__ , 2. outra, oriunda das múltiplas variaçõês da fala empregada pelo povo simples, inculto, cuja preocupação única era a comunicação diária, pouco se interessando, portanto, com regras e normas da gramática, com a ordem inversa da frase e com a tendência sintética empregada pelos usuários da norma culta, o latim clássico. 5 Eram já denunciados desvios de linguagem da norma culta latina em: 1- inscrições oficiais, inscrições em paredes (cf., ruínas de Pompéia); 2- comédias de Plauto; Satiricon, imputado a Petrônio (séc.11Id.C.); o Asno de Ouro de Apuleio (séc.1Id. C.); 3-Mulomedicina Chironis, tratado de veterinária; 4- De architectura, interessante obra do arquiteto Vitrúvio (séc.IV d.C.); 5- escritos de pessoas pouco cultas como em Peregrinatio ad loca sancta da freira espanhola Etéria (séc.IVou V d.C.); 6- Defixionum tabellae, fórmulas de encantamento ou maldição, redigidas por elemento de cultura rudimentar. 7- coletânea de erros gramaticais, colegidos, corrigidos e condenados, denominados Appendix Probi (Apêndice à gramática de Probo, séc. 111ou IV d.C). Esta modalidade de linguagem popular fora levada às mais diversas regiões conquistadas, tendo por falantes os legionários romanos, os comerciantes e demais pessoas simples, encontrando lá povos com tipos e hábitos lingüísticos próprios, não podendo, por essa razão, conservar unidade perfeita. Em quase quatro séculos, as conquistas romanas tiveram espaço diferenciado, com dificuldades próprias de assimilação dos hábltos lingüísticos do conquistador. As tendências de transformações do latim para o português, por exemplo, "obedeceram a leis constantes e invariáveis durante certa época, e em certas regiões, mas variáveis de uma época para outra e de região para outra"6 A assimilação e aceitação romana se deram também em vista do tipo de benefícios proporcionados pelo colonizador. Assim se expressa a equipe de Jânio Quadros: "Após a conquista, vários fatores influencia- ram as populações nativas em busca da romanização, podendo-se destacar entre elas: 1.O grande número de estradas de rodagemque permitia o constante intercâmbio com a metrópole (Roma). 2. O serviço militar obrigatório a todos os jovens das províncias conquistadas. Tais jovens ao regressar aos seus lares, levavam consigo os usos, costumes e passavam a utilizar a língua empregada, quando da prestação de tal serviço. 3. O direito de cidadania romana a todos os cidadãos das províncias romanas .... 4. Todavia o mais importante dos fatores surgiria com a expansão do cristianismo, pregado pelos padres através de um latim acessível a todas as camadas sociais."? E continua a mesma equipe: "Essa romanização realizou-se de maneira tão surpreendente e uniforme que já Estrabão (Século I da EraCristã) relatava: "os 22 6 SILVEIRA, Sousa da. Lições de Português. 6.ed. melh. Rio de Janeiro: Livros de Portugal, 1960, p.21. ? QUADROS, Jânio et aI. Curso prático da língua portuguesa e sua literatura, v.1.(Gramática histórica). São Paulo: Formar, 1966, p.55. 5 Asim, são conhecidas: a fala empregada pelo povo na comunicação diária (sermo quotidianus), o linguajar do povo do campo (sermo rusticus), a linguagem dos soldados (sermo castrensis), etc. 23 turdetanos, e mormente os ribeirinhos do Bétis, adotaram todos os costumes romanos, e até nem se lembram da própria l~ngua".8 Como sabemos, o português veio do tc;t~!I1através de três vias: <S"," a) popular, sofrendo as transformações de modo integral, efetuada nos primórdios da língua, formando o léxico primitivo, originário do latim vulgar. b) semi-erudita ou semi-popular, em que parte se transforma ou cai e parte se conserva como no latim clássico. Com outras palavras: na formação semi- erudita, as palavras sofrem transformações parciais. Ex.: felicitate > felicidade (só houve alteração nas 2 consoantes surdas (t) que passaram a sonoras (d». c) erudita que tomou palavras vindas diretamente do latim, sem sofrerem alteração, apenas recebendo roupagem portuguesa em seu final, para acomodar- se ao espírito da língua. Entraram no idioma através dos escritores que as buscaram nas obras clássicas ou no dicionário. Assim: luna > lua> lua lunático vita > vida vital (via popular) (via erudita) (via popular) (via erudita) 8 Idem, ibidem. A citação fiel, retirada de Carolina Michaelis de Vasconcelos é, na verdade: "os Turdetanos .... , e mormente os ribeirinhos do Betis (Gualdaquivir) havi- am adaptado de todos os costumes romanos, e até nem já se lembravam da própria Iíngua"(Lições de filologia portuguesa. Edição da Revista de Portugal, Série A, 1913? ,p.9). 24
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