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CAMPUS RIO DAS OSTRAS - RJ CURSO DE LETRAS PORTUGUÊS-INGLÊS A RELEVÂNCIA DO ENSINO DA LÍNGUA LATINA NAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO LEONARDO DE AQUINO ANDRADE RA 1707584 RIO DAS OSTRAS – RJ 14/12/2020 LEONARDO DE AQUINO ANDRADE A RELEVÂNCIA DO ENSINO DA LÍNGUA LATINA NAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO O projeto de pesquisa irá apresentar o curso de Letras Português e Inglês da Faculdade UNIP, EAD, a ser utilizado como diretrizes para a manufatura do Trabalho de Curso (TC). Professora Orientadora Taís Oliveira RIO DAS OSTRAS – RJ 2020 AGRADECIMENTOS A minha esposa, que sempre foi uma fiel companheira e que esteve comigo nos momentos mais difíceis para me ajudar, apoiar e aconselhar. ao Colégio Conceito de Rio das Ostras e aos professores. A minha família, que sempre esteve comigo, me apoiando até os dias de hoje. Aos meus professores que estiveram comigo em toda a trajetória do curso, mesmo de longe, auxiliando para que eu alcançasse os melhores resultados, em especial aos meus orientadores, Professor Ricardo, a Professora Taiz Oliveira. Ao Colégio Conceito de Rio das Ostras, onde aprendi não apenas sobre matérias escolares, como também carinho, amor e respeito. A todos aqueles que fizeram parte desta trajetória, meus sinceros agradecimentos. “Quem não estudou as estruturas do Latim ignora ainda do que é capaz a linguagem humana”. Werner Jaeger RESUMO O trabalho de conclusão de curso aqui apresentado, tem como objetivo reconhecer e apresentar a importância do latim dentro da sociedade contemporânea e dentro das instituições de ensino. Desta forma, este projeto visa mostrar e ressaltar a verdadeira relevância do latim, tendo em vista a importância da língua latina, não só no processo de criação das línguas românicas, como também na história da humanidade. Historicamente reconhecida como mãe da língua portuguesa, torna-se fundamental o aprendizado da língua latina, uma vez que reflete diretamente no conhecimento da nossa própria cultura e ancestralidade. Portanto, o aprendizado do latim não está somente conectado ao saber da língua portuguesa, mas também contribuindo na formação de uma nova visão sobre o mundo, novas perspectivas, auxiliando na formação de um cidadão crítico e consciente de sua própria história. ABSTRACT The final paper here presented, aims to recognize and present the importance of Latim inside contemporary society and the educational institutions. Thus, this project aims to show and reinforce the true relevancy of Latim, bearing in mind the significance of the Latim language, not only creating Romance' languages, as well as in the history of mankind. Historically recognized as the mother of Portuguese language, Latim language apprenticeship becomes essential, since it reflects directly on the knowledge of our own culture and ancestry. Therefore, Latim apprenticeship it’s not only connected to the knowledge of the Portuguese language, but also contributes to the formation of a new vision about the world, new perspectives and assisting in the formation of a critical citizen and aware of his own history. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 - A influência do latim nas propagandas publicitárias……...………………..18 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS MEC Ministério da Educação. USAID United States Agency for International Development. UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO...……………………………………..........10 2. A ORIGEM DO LATIM………...……...............................12 3. O DESAPARECIMENTO DO LATIM....…………...….….17 4. A INFLUÊNCIA DO LATIM ............................................19 5. A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DO LATIM…………....22 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS………………………………24 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS………………...…..25 10 INTRODUÇÃO O mundo atual é repleto de diferentes povos, culturas, línguas e particularidades. Cada dialeto é a forma como cada indivíduo utiliza para se comunicar entre si e com o mundo. De acordo com Barbosa (2015), a linguagem é a ferramenta utilizada pelo homem para modelar seu pensamento, expressar sua vontade e seus atos; é o instrumento com o qual ele influencia e é influenciado, a base última e mais profunda da sociedade humana. Uma pesquisa realizada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) em fevereiro de 2020 constata que, atualmente, o mundo tem aproximadamente 6 mil diferentes línguas e 43% delas estão em risco. O crescente fenômeno econômico e político que tem se alastrado pelo mundo conhecido como globalização, cada vez mais, tem levado consigo muitos idiomas. O desaparecimento de uma língua, carrega consigo toda a história de um povo, suas culturas e etnias. Tendo em vista o desaparecimento em massa de diversas línguas espalhadas pelo mundo, muitos se questionam sobre o Latim e se ainda há espaço para essa língua dentro da sociedade contemporânea. Embora seja uma língua antiga e considerada por muitos como uma língua morta, o latim deu origem a nossa língua materna: a língua portuguesa. Além disso, é o ponto de partida para muitos outros idiomas presentes na sociedade. Bettio (201-) corrobora: “português, italiano, francês, romeno, espanhol, dentre outros, são idiomas que tem sua origem no latim, porém, além destes, muitas outras línguas possuem termos provenientes de tal. Das palavras que o Brasil e Portugal falam, 80% são de procedência latina.” Ou seja, embora não utilizada por completo na sociedade atual, a língua ainda se faz muito presente em nosso dia-dia. Arruda (2009) lembra que, “deixar de lado a língua que, não só deu origem ao português e demais línguas neolatinas, como também influenciou tantas outras, é deixar de lado a oportunidade de entender, historicamente, como todas essas línguas se relacionam e se transformam”. A sociedade moderna caminha de forma que, os estudos diacrônicos vem sofrendo um enorme desapreço com o passar dos tempos e os sincrônicos ganhando preferência com grande velocidade. A ancestralidade da cultura brasileira, cada vez mais, é acometida por uma série de desprezo e desafeição. Em um 11 período onde a atenção está voltada para os avanços das novas tecnologias e para as atividades cibernéticas, nossas raízes ficam para trás e esquecidas. Tendo em vista a linguagem como produtora de diferentes culturas e sentidos, torna-se essencial o estudo e o conhecimento da mesma, uma vez que sua essência está presente dentro de todos e na história da humanidade. 12 1 A ORIGEM DO LATIM A origem do latim é oriunda de um dialeto antigo, pertencente à família das línguas indo-europeias. A língua originou-se em uma pequena região conhecida como Lácio(Latium), localizada na península Itálica. Martins (2006) diz que, o indo-europeu ,supostamente, deu origem ao latim e também a idiomas falados no continente Asiatico (Índia, Paquistão, Irã, Ceilão). O indo-europeu foi um idioma hipoteticamente comum entre grupos da região entre os anos de 5.000 a.C. a 2.000 a.C. “...o latim não é documentalmente oriundo da língua indo-europeia, pois a mesma não existia como língua, senão como um conjunto de línguas originárias e hipotéticas, das quais não se encontram atualmente nenhum registro escrito. Aceita-se, pois, como hipótese a ideia generalista de um sistema de correspondências entre línguas de um tronco comum, o que nos faz refletir sobre uma possível existência de um nascedouro linguístico a que chamamos de indo-europeu.” (LOURENÇO e SILVA, ca. 2010, p. 171) Localizados próximos à antiga cidade de Tróia, na região do Lácio, habitavam as tribos descendentes dos falantes de indo-europeu. A população da tribo apresentava como idioma nativo o latim arcaico. Bastos (2019) expressa que o rei Latino governava o povo conhecido como Latinos, habitantes da península Itálica há quase mil anos antes de Cristo. Os troianos, fugindo da lendária cidade de Tróia, se aliam ao rei Latinus, visando uma futura aliança entre os dois povos. Após a união, o rei Latinus ofereceu terras e a mão de sua própria filha ao líder do grupo dos troianos, Enéias. O acordo entre os povos culminou, por volta de 753 a.C, na criação da geração responsável por fundar a histórica cidade de Roma. Após uma fusão cultural, herdada das tribos de Latinus, o latim disseminou-se e manteve-se como língua nativa. Martins (2006) afirma que, o latim clássico, ao longo dos séculos III a.C. ao V a.C., permaneceu estável dentro das dependências da cidade de Roma e, consequentemente, do Império Romano. Suas fases revelam mudanças culturais ocorridas naquela região e apresentam-se separadas por diferentes períodos durante a história. Iniciando a partir da origem do idioma latino com o surgimento da cidade de Roma (753 a.C), permanecendo até a queda do Império Romano (476 d.C.), a 13 língua latina é subdividida em quatro fases classificadas como: latim arcaico, latim clássico, latim culto e, por fim, o latim vulgar. Considerada como uma das línguas mais antigas do mundo, a estruturação do latim como o idioma caminhou junto à evolução e transformação da sociedade romana, sofrendo influência, também, das tribos recém-chegadas de exilados da antiga cidade de Tróia. Sua mais antiga representação documentada, está gravada em uma fivela de cinto. A mais antiga inscrição latina, data de aproximadamente 600 a.C., e é, na verdade, um latim dialetal, o prenestino: “MANIOS MED FHEFHAKED NVMASIOI” = “Manius me fecit Numério” “Manios me fez para Numério”. Trata-se de uma inscrição em uma fivela de ouro, encontrada em Preneste (hoje em dia Palestrina), por isso o nome “fíbula prenestina”. (MARTINS, 2006, p. 21) Durante a fase arcaica, a língua latina possuía algumas variações, tais como: prenestino e falisco. Ambas as variações, apresentavam mais características próximas ao indo-europeu do que a própria variação denominada como latim arcaico. O latim arcaico possuía pouquíssimos textos escritos, logo, tornou-se a fase mais curta de toda a história da língua latina. Iniciada em 81 a.C. até seu fim em 14 d.C, a fase clássica do latim marcou a forma estilizada da língua, conhecida por ser o período marcado por grandes obras da literatura latina na cidade de Roma. De acordo com Martins (2006, p.23), "seus principais representantes são Cícero, César e Salústio, na prosa e, no verso, Virgílio, Horácio, Ovídio, Lucrécio e Catulo". Logo, esse período é caracterizado pela construção da nova língua literária. Ainda de acordo com o autor mencionado, “pode-se dizer que o latim até hoje vive. É a língua do Vaticano e de toda a documentação da Igreja Católica,...” (2006, p.23). No decorrer desta fase, o latim passou por um grande processo de elaboração e amadurecimento até o seu auge em um período conhecido como áureo. A elaboração da língua sofreu grande influência helênica, sendo padronizada e aperfeiçoada com o passar dos tempos pela classe culta da época. 14 Nesse "aperfeiçoamento" é evidente a influência helênica, que se faz através dos gramáticos e dos escritores. Iniciava-se, assim, o fenômeno que iria conter a expansão natural da língua falada, pela ação dos gramáticos, da literatura e da classe culta. (MARTINS, 2006, p. 22 - 23) Em sua penúltima fase, conhecida como culto falado, o latim passou por um processo de elitização. Conhecida também como Sermo Urbanus, esta fase representou uma variação do latim praticado pelas altas classes de Roma, reconhecida como a maneira correta de se comunicar do ponto de vista gramatical. Assim sendo, foi a responsável por criar um distanciamento ainda maior entre a elite romana e o restante da população. Ainda de acordo com Martins (2006, p.24), “do ponto de vista gramatical, o Sermo Urbanus é uma língua correta e não apresenta os “erros” do latim vulgar; mas tampouco apresenta o exagero de refinamentos estilísticos da prosa e poesia artísticas.” Tendo isso em vista, o linguajar propagado no culto falado (Sermo Urbanus), foi criado com o intuito de afastar a fala utilizada nos campos, pela classe plebéia, da fala utilizada pela classe nobre. Martins (2006, p.25) ressalta, “Quintiliano diz que o bom latim é o da cidade de Roma (urbanitas) e não a língua do campo (rusticitas)”. Por fim, sua última fase é caracterizada pelo latim vulgar. O latim vulgar, também conhecido como baixo latim, era utilizado pelos comerciantes e funcionários da época e consiste em um vocabulário popular e informal. O “Latim vulgar” era o latim essencialmente falado pela grande massa popular menos favorecida e quase que inteiramente analfabeta do Império Romano. Foi propositalmente ignorada pelos gramáticos e escritores romanos pois era considerada indigna de consideração. Distinguia-se do latim culto falado (e por extensão do latim clássico ou literário) em todos os aspectos gramaticais. Era mais simples em todos os níveis, mais expressivo, mais concreto e mais permeável a elementos estrangeiros. Continuou se transformando ao longo dos séculos até que em mais ou menos 600 d.C. já constituía os primeiros “romances” (ou seja, as primeiras manifestações das línguas românicas, muito próximas ainda do latim vulgar) e depois, a partir do séc. IX, as línguas românicas. (MARTINS, 2006, p. 25) 15 Tendo em vista o desprezo dos escritores da época por esta fase em particular, documentos que datam seu início são imprecisos, o mais próximo encontrado são documentos que datam o começo do século I a.C, período Republicano na cidade de Roma. Martins (2006 p. 25) ressalta que, “o latim vulgar é, na verdade, um latim popular que existiu em todas as épocas da língua latina.” O latim vulgar representa a fala daqueles que foram privados de alfabetizaçãoe, por conseguinte, aos modelos literários da época. É possível afirmar que, embora reconhecida apenas como um período, existiu desde o princípio, visto que o direito à escolaridade e a alfabetização sempre esteve ao alcance apenas nos mais nobres. Bastos (2019) afirma que, a primeira igreja fundada em Roma pelo apóstolo Pedro, pouco tempo depois de Cristo, teve como escolhida a língua oficial o latim, pois o objetivo era a aproximação da Igreja e do Império. Mesmo reconhecendo o grego como o idioma mais utilizado naquele período para a comunicação entre os cristãos, o latim tornou-se dialeto oficial para a pregação de cultos. Em razão disso, a Igreja Cristã daquele período foi uma das responsáveis pela proliferação da língua latina na Europa. Duas importantes figuras da Igreja no século IV, Ambrosio e Hilário de Poitiers, tornaram-se precursores de hinos em latim que valorizavam a fé, e disseminavam com maior força o idioma. Ainda de acordo com o autor mencionado, a proliferação desses hinos fortaleceram o credo e combateram a heresia ariana (aquela que negava a existência de cristo) naquele período. Apesar de sua ascensão, o latim vinha sofrendo variações no restante do território romano, ao passar dos anos e com a enorme diversificação cultural que existia em todo o território, o idioma latino fundiu-se a idiomas nativos de lugares variados, dando origem a outros dialetos, falados por determinadas culturas. Um dos principais fatores de divulgação (extensão ou implantação) do latim no vasto Império Romano foi o exército. O soldado romano ensinava a sua língua e a sua pronúncia, mas ao mesmo tempo aprendia a prosódia e a língua de seus companheiros. Formava-se assim um latim um pouco misturado, pois se casava com os dialetos afins e por isto mesmo apresentava arcaísmos condenados em Roma. (Martins, 2006, p.19) . 16 Em toda a história de expansão do Império Romano, seus guerreiros espalharam e colheram os frutos de uma mescla de idiomas ao longo dos anos. Segundo Martins (2006, p. 20) “Quando os romanos começaram a se projetar, o latim era um mosaico de raças. O latim é na verdade a língua dos dominadores da região”. Sendo assim, combatentes que firmavam-se em territórios conquistados, constituíam famílias com parceiros nativos. Ao espalhar seu dialeto e cultura e em troca absorver o dialeto e a cultura local, inevitavelmente a mescla de línguas, aconteceu de forma involuntária.. O latim ao espalhar-se mundo afora, foi misturando-se até transformar-se em variações semelhantes. Dando início às línguas românicas, tais como: português, italiano, francês, espanhol e romeno. 17 2 O DESAPARECIMENTO DO LATIM Marcada pelo seu grande e influente legado, com o decorrer do tempo, a língua latina foi deixando de ser usada por completo. A perda de espaço da língua divide opiniões: aqueles que percebem o impacto de sua influência até os dias de hoje e aqueles que a consideram como uma língua morta. Em meio a tantos questionamentos e diferentes pontos de vista, o que ainda perpetua é: o latim realmente desapareceu? Alarcón e Silva (2018, p.14) expressam que, “o latim tende não mais ser considerada uma língua extinta da sociedade contemporânea e sim, valorizada e reconhecida. Tomando conhecimento de sua influente presença em nosso cotidiano.” Embora o latim fosse uma língua influente e muito utilizada na península Ibérica, dividia espaço com outros dialetos de povos que também ocupavam aquele espaço. Botelho (2010) ressalta que, “além disso, o contato com as línguas dos habitantes das terras conquistadas, embora fossem suplantadas, influenciavam o latim, tornando-o cada vez mais diferente da língua de Roma. A partir do séc V d.C., período marcado pelo início da Idade Média, o Império Romano estava em crescente decadência quando é invadido pelos Bárbaros e totalmente destruído. Botelho (2010) expõe que, “os bárbaros, como eram chamados pelos romanos, fizeram várias incursões ao Norte da península Ibérica. Tal fato acelerou a dilatação do latim que já vinha sendo influenciado pelos substratos linguísticos da península.” . Com as conquistas territoriais e políticas do Império, o Latim passou por diversas etapas. Segundo Williams (1973), o Latim como língua viva estava sujeito a constantes modificações. Enquanto a língua das classes cultivadas, o Latim clássico se tornava cada vez mais uniforme sob a influência estabilizadora da cultura e do aprendizado, a língua do povo que era o Latim vulgar se tornava cada vez mais diversificado na medida em que se disseminava com a expansão do vasto Império Romano. O Latim Clássico se tornava uma língua morta, enquanto o Latim Vulgar se desenvolvia nas chamadas línguas neolatinas ou românicas. (ALARCÓN, SILVA, 2018, p. 8) 18 Deu-se início a um processo de transformação, os góticos, embora vencedores, não disseminaram de imediato com a língua latina. Após um processo de combinação entre as culturas góticas e a cultura romana, o latim foi, paulatinamente, se disseminado e, consequentemente, assumindo outras formas. Botelho (2010) afirma que após essa combinação de culturas e idiomas, instaura-se um caos linguístico que, de forma progressiva, vai se organizando e criando características próprias nos reinos gótico-cristãos. Ainda de acordo com o autor mencionado, a partir do séc. VIII d.C., a região sofre com a invasão dos árabes, trazendo consigo mais uma língua para concorrer o espaço com o latim. Embora o árabe não tenha tido influência significativa sobre as línguas ali presentes, ainda sim demonstrou grande contribuição no léxico das línguas românicas daquela época. É apreciável saber sobre as línguas românicas que, de acordo Concesso (2002), a partir do século III d.C., não havia mais unidade linguística no império. Esta língua mais popular foi, aos poucos, dando origem a novas línguas devido às influências dos povos conquistados. Estas novas línguas são conhecidas como novilatinas, neolatinas ou românicas. Alguns fatos históricos contribuíram para esta deterioração do Latim Erudito. Com Caracala, o direito de cidadania, antes restrito a uma elite, foi estendido a todos os cidadãos livres do império. Com Diocleciano (284-305), a política administrativa foi descentralizada... (ALARCÓN, SILVA, 2018, p. 9) Alarcón e Silva (2018) reforçam que, devido ao contato do latim com uma ampla variedade de culturas, a língua modificou-se involuntariamente a partir da influência e contato com as outras culturas regionais. A partir do contato com culturas como: celtas, iberos, árabes, entre outros, o latim transformou-se, abrindo espaço para criação das línguas românicas: português, espanhol, italiano, francês e romeno. Os idiomas citados possuem atualmente mais de 1 bilhão de falantes ao redor do mundo. Ainda que passados por um longo processo de transformação e adaptação, não deixam de apresentar suas muitas semelhanças e influências perantea língua latina . 19 3 A INFLUÊNCIA DO LATIM NA LÍNGUA PORTUGUESA E NA CONTEMPORANEIDADE Durante a Idade Média, o Latim e o Grego perderam força e prestígio de forma gradual. Como já exposto anteriormente, após a invasão dos bárbaros, fato que decretou o fim do Império Romano, uma nova onda de cultura e etnia fez-se presente, direcionando o foco para outros aspectos linguísticos e culturais. Com o decorrer do tempo, o renascimento foi o responsável por resgatar a cultura greco-latina, retomando sua soberania que logo teria fim. Cagliari (2009) afirma que a morte do Latim na Europa como língua nativa deu, as línguas vernáculas, o status de língua culta. Obras literárias como A Divina Comédia, Os Lusíadas, Dom Quixote etc, tornaram-se os novos clássicos, evidenciando que o Latim não era mais necessário. Apesar do destaque conquistado pelas línguas vernáculas, a influência do latim nunca deixou de existir. É importante ressaltar que, a presença de uma língua na sociedade faz dela integrante da cultura da humanidade, por conseguinte, está diretamente vinculada ao processo de evolução e transformação dentro da sociedade a qual está inserida. O latim sofreu uma mutação conjunta à sociedade, porém, sua essência foi mantida. Como já mencionado anteriormente, as raízes da língua portuguesa provêm do latim. A língua latina, não só se transformou na língua portuguesa (entre outras), como serviu de modelo para as primeiras manifestações de escrita desta língua. (CAGLIARI 2009). Além da sua combinação com o português desenvolvida com o decorrer dos séculos, até 1964 o latim era disciplina obrigatória nas escolas brasileiras, considerada obsoleta apenas após um acordo entre o Ministério da Educação (MEC) e a United States Agency for International Development (Usaid) que decretou a não obrigatoriedade do seu ensino dentro das salas de aulas. Em meio a tanta influência, vale ressaltar que o latim vulgar foi o grande influenciador perante a origem do português. Após uma série de transformações e adaptações, transformou-se no português que hoje conhecemos. Ressalta-se que, embora passem despercebidas, a sociedade moderna possui palavras derivadas do latim utilizadas em seu dia-dia. A célebre expressão carpe diem, por exemplo, significa viver e aproveitar o momento atual é de origem 20 latina. Além disso, o cotidiano do brasileiro é recheado com muitas outras palavras, como, por exemplo: habeas corpus, vice versa, gratis, alibi, agenda, etc (et caetera). A influência do latim na língua portuguesa e na sociedade contemporânea vai muito além de palavras e expressões empregadas no vocabulário moderno. Embora os Estados Unidos exerça grande influência sobre o mercado publicitário brasileiro, existem inúmeras referências pautadas na língua latina. Fotografia 1 - A influência do latim nas propagandas publicitárias Fonte: Perez (201-) Como observado na imagem acima, produtos de marcas famosas usam o latim como referência para representar sua marca. Magnum, no latim Magnus, significa “o grande”. Bis, também uma palavra latina, refere-se a repetição. Lux, refere-se a luz. Assim por diante, é possível perceber que o latim habita nossa sociedade de forma muito presente e atual. Além das referências pautadas em marketing, Duarte (201-) ressalta que outros vocábulos latinos compartilham do nosso cotidiano, como, por exemplo: manus (mão), pater (pai), filium (filho), canis (cão), bônus (bom), malus (mal), aqua (água), entre tantos outros. Ao observar os vocábulos latinos, percebe-se que parte deles possuem terminações como: “-one”, “-anu” e “-ane”. No processo de mutação e transição do latim para o português, essas terminações abriram espaço para outras, tais como: “-ão”, “-ã” e “-am”. Hoje em dia, após um longo e contínuo processo de transição, o 21 português contemporâneo utiliza muito das terminações: “-ãos” e “-ães”. Nações, por exemplo, era o mesmo que natione, ao mesmo tempo que, tentações equivale a tentatione, cães a cane e grãos a granu. Assim sendo, além de possuir raízes em outras línguas, as raízes com a língua latina se sobressaem, deixando claro que há muitas similaridades entre os dois idiomas. Embora erroneamente classificada como uma língua morta, o latim mostra-se presente não só através da escrita, da leitura e da fala, como também, na sociedade brasileira contemporânea. 22 4 A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DE LATIM NAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO A presença do latim dentro da grade curricular das instituições de ensino como objeto de estudo significa estudar a história da nossa língua materna e, consequentemente, da nossa construção como sociedade. Embora dono de sua própria história, características e aspectos morfológicos, o latim possui sua história entrelaçada à origem da língua portuguesa. Negar sua relevância, provocando seu desaparecimento, é apagar parte da nossa própria cultura. Catrola (2017) expressa que, “o latim é a língua do conhecimento, tornando-se essencial para a transmissão do conhecimento, não só de quem somos, das nossas origens, da nossa cultura e sentido dos nossos costumes, como também essencial para um correto conhecimento da língua portuguesa e até de outras que não têm origem no latim, mas com vocábulos de raiz latina, como o inglês ou o alemão, por exemplo”. Atualmente, o estudo do latim faz-se presente apenas para aqueles que optam por cursar Letras. As universidades oferecem a opção do estudo da língua latina como segunda língua, porém, para aqueles que optarem pelo estudo de outra língua, a grade curricular de algumas universidades integra o “latim básico” como disciplina. O decreto assinado pelo Ministério da Educação (MEC) e a United States Agency for International Development (Usaid) há 56 anos atrás, decretou o fim da obrigatoriedade do ensino do latim dentro das instituições de ensino básico e médio. A aprovação deste decreto enfraquece a importância do latim na nossa história e, consequentemente, nos cursos de nível superior. O jovem cresce e se forma sem o mínimo de contato com sua cultura. É privado do conhecimento da construção linguística da sua língua materna. Após anos de estudo da língua portuguesa nos cursos de nível básico e médio, é apenas ao alcançar o nível superior que o aluno terá contato com a língua latina, sua trajetória e influência pelo mundo. Tal fato não prejudica apenas aos jovens, como também possui um impacto direto na formação do futuro profissional de Letras, que chegará às universidades sem conhecimento nenhum de algo primordial para a sua carreira profissional. O estudo do latim tem o dom de conseguir desenvolver as capacidades de análise e raciocínio, para além de nos ensinar a escrever melhor, pois enriquece o 23 vocabulário e ajuda na compreensão textual na língua materna e até nas línguas estrangeiras, como, as já referidas línguas germânicas. (Catrola, 2017) O contato dos jovens com alíngua latina desde a idade mais tenra, não só amplia o conhecimento e contato do aluno com sua própria história e cultura, como intensifica a formação do aluno, impactando diretamente no seu desenvolvimento intelectual e na formação de um aluno crítico-consciente. Silva (2012) reforça que, “é difícil ensinar bem sobre a estrutura da língua portuguesa sem um mínimo conhecimento da estrutura do latim, assim como ensinar latim para quem não conhece as bases gramaticais de sua própria língua, visto que a aprendizagem é conseguida por agregação das informações novas às anteriores já fixadas e por comparação de elementos já fixados com os novos”. Viaro (1999) corrobora com a ideia de que o aprendizado da língua latina serve-nos de trampolim para aprofundar nossa visão de mundo. O aprendizado do latim carrega consigo a história da humanidade, conhecer a língua e sua história está diretamente ligada ao fato de conhecer novas culturas e etnias. Com tamanha importância reconhecida, a reflexão que perpetua é: como uma língua que influenciou e influencia tantas outras pode ser considerada morta? Ademais, a história perdura-se em um ciclo eterno. Embora o profissional de Letras, na maioria dos casos, forme-se com algum conhecimento sobre a língua latina, enquanto o conhecimento da mesma seguir privado das escolas, a língua latina nunca receberá devida relevância, pois não terá como e onde ser partilhada. Assim, o conhecimento da língua latina e da história e origem da língua portuguesa torna-se elitizado, restrito apenas a aqueles com acesso ao curso de nível superior. Furlan (2006) ressalta que, "Latim é importante para disciplinar a mente, e adquirir cultura humanística, é conhecer e valorizar a nossa língua portuguesa". Desta maneira, é possível perceber que a lacuna deixada pela falta da língua latina como objeto de estudo e ponto de referência para a história do país dentro das instituições de ensino acarreta a carência do saber sobre os primórdios da língua portuguesa e da construção da humanidade a qual conhecemos hoje. Esta carência, possui impacto direto na formação de seres humanos pensantes, críticos-conscientes, detentores de conhecimento sobre o mundo e a sociedade à sua volta e cientes da sua história e ancestralidade. 24 CONSIDERAÇÕES FINAIS Em virtude do que foi mencionado, percebe-se que há grande influência do latim na contemporaneidade e em seu papel na origem da Língua Portuguesa. Viaro (1999) ressalta que, “aprender ou não latim não é a questão. Ele já vive conosco, pois é a alma de nossa língua e bastaria reconhecê-la.” Embora com o tempo o papel do latim como meio de comunicação tenha sido reduzido até desaparecer como dialeto principal de um povo, é imprescindível observar que, ainda sim, ele faz-se muito presente na língua portuguesa, através de palavras, expressões, vocábulos e termos utilizados em diversas áreas e profissões; na sociedade contemporânea, fazendo-se presente nos anúncios publicitários e no cotidiano do cidadão brasileiro e no mundo, devido a grande influência sob muitos outros países e idiomas além da língua portuguesa. Portanto, através dos aspectos analisados, entende-se que o latim foi responsável pela criação dos idiomas românicos: português, francês, italiano, espanhol e romeno, consequentemente, responsável pela construção linguística do mundo que conhecemos hoje. Martins (2011) corrobora que, “o estudo do latim e das culturas clássicas, em geral, não é um bem precioso apenas ao alcance de alguns, mas antes a língua mãe que nos deu a identidade.” Assim sendo, conclui-se que os benefícios do conhecimento da língua latina vão muito além do aprendizado da nossa língua mãe. O latim representa uma grande parcela da história da humanidade, deixando um legado que marcará para sempre na história mundial. É de suma importância sua presença nas instituições de nível básico, secundário e superior, a fim de formar cidadãos conscientes sobre suas próprias raízes linguísticas e culturais. 25 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALARCÓN, Y. G. L.; SILVA, E. D. Latim ontem, hoje e sempre. Hon no Mushi, Amazonas, v. 3, n. 4, p. 1-19, 2018. ARRUDA, F. E. C. Por que (não) estudar latim hoje?. Disponível em: <http://linguaportuguesa.uol.com.br/linguaportugesa/gramatica-ortogafia/18/por-que- não-estudar-latim-hoje-se-a-lingua-143917-1.asp>. Acesso em: 10 dez. 2020. 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