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1 Capítulo I Apresentação e Aplicação Walter Trinca 1. Introdução Neste livro falaremos, basicamente, de dois veículos principais de investigação clínica da personalidade, que fazem parte do corpo teórico e prático das técnicas de investigação clínica da personalidade, utilizadas no diagnóstico psicológico e na psicoterapia. São eles o “Procedimento de Desenhos-Estórias” (*) (abreviado de D-E) e o “Procedimento de Desenhos de Família com Estórias” (abreviado de DF-E). ------------------------------- (*) Apesar de que alguns autores recomendam o emprego da palavra história quando se tratar de narrativa de ficção, o uso consolidou a grafia estória, que se incorporou à língua portuguesa; ------------------------------- As técnicas de investigação clínica da personalidade formam uma categoria abrangente no contexto do diagnóstico psicológico, constituindo um assunto bastante complexo em Psicologia Clínica, graças aos problemas particulares que elas apresentam. No diagnóstico psicológico, são conhecidas como técnicas que não se prendem a fidedignidade, a sensibilidade e a padronização próprias dos testes psicológicos, mas geralmente possui a capacidade de conduzir uma exploração ampla da personalidade e de pôr em relevo a dinâmica emocional dos processos inconscientes. Dentre essas técnicas, são conhecidos em nosso meio a Hora de Jogo Diagnóstica (Aberastury, 1962), o Jogo dos Rabiscos (Winnicott, 1971), a Observação Lúdica com a Participação dos Pais, a Dramatização Diagnóstica, etc. O conjunto delas é difícil de determinar, pois variam de região para região, em conformidade com as condições em que os profissionais trabalham e com as circunstâncias do atendimento dos clientes. Hoje em dia, constituem instrumentos habituais e indispensáveis do psicólogo clínico familiarizado com a Psicanálise. As características técnicas da D-E e da DE-F são: a) O uso da associação livre por parte do examinando; b) O objetivo de atingir a exploração de aspectos inconscientes da personalidade; c) A participação em recursos de investigação próprios das técnicas projetivas em geral, pela inserção de estímulos que se prestam a diferentes interpretações; d) O emprego de meios indiretos de expressão, como os desenhos, a pintura, a dramatização, o relato de sonhos, o ato de contar estórias etc.; e) A ampliação da observação livre e da entrevista clínica não-estruturada, tomando destas as propriedades de flexibilidade, espontaneidade e imprevisibilidade que permitem uma sondagem abrangente da vida psíquica. Elas sobrevivem graças à facilidade de deixar o examinando livre para realizar sua comunicação, ao mesmo tempo em que oferecem um substrato básico de procedimentos estáveis para os participantes se conduzirem. As informações que se obtém por meio dessas técnicas são reunidas às demais no interior dos processos diagnóstico ou terapêutico, combinando-se com estes. Dentro desse espírito surgiram o Procedimento de D-E e o Procedimento de DF-E, dos quais falaremos a seguir: 2. Procedimento de Desenhos-Estórias (D-E) 2.1. Natureza e Características Foi introduzido em 1972, como meio auxiliar de ampliação do conhecimento da dinâmica psíquica no diagnóstico psicológico, sendo uma técnica de investigação clínica, que tem por base os desenhos livres e o emprego do recurso de contar estórias. A hipótese principal para formular sua introdução foi: “O desenho livre, associado a estórias que se figuram como estimulo para essas estórias, constituindo instrumento com características próprias para obter-se informações sobre a personalidade em aspectos não facilmente detectáveis pela entrevista psicológica direta”. Assim, os desenhos livres servem como estímulos de apercepção temática. O Procedimento de D-E reúne e utiliza informações oriundas de técnicas gráficas e temáticas de modo a se constituir em 2 nova e diferente abordagem da vida psíquica. Basicamente, é formado pela associação de processos expressivo-motores (nos quais se inclui o desenho livre) e processos aperceptivo-dinâmicos (verbalizações temáticas). Dessa junção surge um instrumento individualizado que se diferencia de outras técnicas de investigação. Ele consiste de 5 unidades de produção, que são realizadas pelo examinando, sendo cada qual composta por desenho livre, estória, “inquérito“ e título. O examinando faz o primeiro desenho livre, com o qual verbaliza uma estória e, em seguida, responde às questões do examinador por meio de associações dirigidas do tipo “inquérito”, oferecendo, finalmente, um título para essa unidade de produção. Ele repete os mesmos procedimentos em relação às demais unidades de produção. A ordem seqüencial composta de desenho livre, estória, “inquérito” e titulo, não se modifica ao longo do exame, até que, em condições normais, se obtenham as 5 unidades de produção. 2.2. Aplicação A técnica de aplicação é bastante simples, baseando-se em um convite que se faz ao examinando de ir se aprofundando em sua vida psíquica, especialmente por meio de associações livres. Solicita-se que ele realize e argumente uma série de 5 desenhos livres (cromáticos ou acromáticos), cada qual sendo estimulado para que conte uma estória, associada livremente, logo após a realização de cada desenho. Tendo concluído cada D-E, o examinando fornece esclarecimentos (fase do “inquérito") e o título. Destina-se a sujeitos de ambos os sexos, que podem pertencer a qualquer nível mental, sócio-econômico e cultural. De início, pensávamos que a aplicação deveria se circunscrita a sujeitos de 5 a 15 anos de idade. Posteriormente verificamos que a faixa etária poderia ser estendida a crianças de 3 e 4 anos, bem como a adultos de todas as idades. 2.2.1. Condições de Aplicação A administração do procedimento é individual, devendo ser aplicado por psicólogos devidamente qualificados. O horário preferencial de aplicação é o período diurno, porque, sendo usados estímulos cromáticos, o tipo de fonte luminosa pode alterar a percepção destes. As condições do sujeito são aquelas normalmente exigidas para o exame psicológico, com especial referência à verificação de saúde, disposição psíquica para o exame, ausência de fadiga, etc. Quanto ao ambiente, deve haver silêncio, instalações confortáveis, iluminação adequada e ausência de terceiros na sala. 2.2.2. Material Necessário a) Folhas de papel em branco, sem pauta, de tamanho ofício. b) Lápis preto (ponta de grafite), entre macio e duro (nº 2). c) Caixa de lápis de cor de 12 unidades, nos tons cinza, marrom, preto, vermelho, amarelo-escuro, amarelo- claro, verde-claro, verde-escuro, azul-claro, azul-escuro, violeta e cor-de-rosa. 2.2.3. Técnica de Aplicação a) Preenchidas as condições anteriores, o sujeito é colocado sentado à uma mesa, e o examinador senta-se à sua frente. É dada a tarefa após a verificação de bom rapport entre examinando e aplicador. b) Espalha-se os lápis sobre a mesa, ficando o lápis preto (ponta de grafite) localizado ao acaso entre os demais. c) Coloca-se uma folha de papel na posição horizontal com o lado maior próximo ao sujeito. Não se menciona a possibilidade deste alterar essa posição, nem se enfatiza a importância do fato. d) Solicita-se do examinando que faça um desenho livre: “Você tem esta folha em branco e pode fazer o desenho que quiser, como quiser“. e) Aguarda-se a conclusão do primeiro desenho. Quando estiver concluído, o desenho não é retirado da frente do sujeito. O examinador solicita, então, que conte uma estória associada ao desenho: “Você, agora, olhando o desenho, pode inventar uma estória, dizendo o que acontece”. f) Na eventualidade do examinando demonstrar dificuldades de associação e elaboração da estória, pode-se introduzir recursos auxiliares, dizendo-lhe,por exemplo: “Você pode começar falando a respeito do desenho que fez”. g) Concluída, no primeiro desenho, a fase de contar estória, passa-se ao “inquérito”. Neste, podem solicitar-se quaisquer esclarecimentos necessários à compreensão e interpretação do material produzido tanto no desenho quanto na estória. O “inquérito” tem também, o propósito de obtenção de novas associações. h) Após a conclusão da estória, e ainda com o desenho diante do sujeito, pede-se-lhe o título da produção. i) Chegado a este ponto, retira-se o desenho do campo de visão do sujeito. Com isso teremos concluído a primeira unidade de produção, composta de desenho livre, estória, “inquérito”, título e demais procedimentos relatados. 3 j) O examinador tomará nota detalhada da estória, verbalização do sujeito enquanto desenha, ordem de realização das figuras desenhadas, recursos auxiliares utilizados, perguntas e respostas da fase de “inquérito”, título, bem como todas as reações expressivas, verbalizações paralelas e outros comportamentos observados durante a aplicação. k) Pretende-se conseguir uma série de 5 unidades de produção. Assim, concluída a primeira unidade, repetem-se os mesmos procedimentos para as demais unidades. l) Na eventualidade de não se obter 5 unidades de produção em uma única sessão de 60 minutos, é recomendável combinar o retomo do sujeito a uma nova sessão de aplicação. Não se alcançando o número de unidades de produção igual a 5, ainda que utilizado o tempo de duas sessões, será considerado e avaliado o material que nelas o examinando produziu. Se as associações verbais forem muito pobres, convém reaplicar o processo, a começar da fase de contar estória. 2.2.4. “Inquérito” Esta fase serve para se obter esclarecimentos e novas associações destinados à ampliação do exame como um todo. Não nos é possível formular indicações precisas para a condução do “inquérito”, senão apenas apontar alguns pressupostos norteadores. O aplicador estará conduzindo um procedimento que, no geral, contém as características que fazem o exame se aproximar tanto da entrevista clínica não-estruturada, quanto ao relato dos sonhos. Por isso, o incentivo a novas associações e o esclarecimento dos pontos obscuros não devem perder de vista o fato de que o D-E se baseia nos princípios da associação livre. O “inquérito” deverá ser realizado com o máximo de penetração onírica possível por parte de ambos os participantes, ou seja, em estado de “mergulho” na atmosfera de sonhos que recobre toda a sessão de aplicação. Se o examinador não interferir no ato espontâneo do examinando ao conduzir-se aos pontos sensíveis das dificuldades emocionais, espera- se que os elementos essenciais dos conflitos e perturbações inconscientes tenham ocasião de emergir. Desse modo, convém que os conteúdos simbólicos do material sejam imediatamente reconhecidos, a fim de que a conversação que ocorre na fase de “inquérito” se conecte diretamente a tais conteúdos. É necessário considerar que geralmente há uma continuidade de comunicação a nível simbólico entre as várias unidades de produção. 2.2.5. Observações Gerais a) O examinador não deverá se deixar levar facilmente pelas primeiras recusas do examinando perante a tarefa, especialmente quando este se encontra em processo de elaboração interior. Muitas vezes, uma recusa formal pode ser contornada pelo estabelecimento de um bom rapport. b) Diante de perguntas como “que tipo de estória?”, “que desenho?”, “precisa pintar?”, “qual o modo de fazer?” e outras semelhantes, o psicólogo esclarecerá que o sujeito deve proceder como quiser. c) O uso da borracha deve ser evitado para melhor se caracterizam certas áreas em que o sujeito tem maiores dificuldades de desenhar. O uso da borracha faria desaparecer algumas configurações gráficas de valor psicológico. Se o examinando quiser, ser-lhe-ão entregues novas folhas de papel onde ele possa refazer o desenho, recolhendo-se, porém, a produção anterior. 2.3. Fundamentação O Procedimento de D-E tem sua fundamentação baseada nas teorias e práticas da Psicanálise, das Técnicas Projetivas e da entrevista clínica. No essencial, essa fundamentação se sustenta em algumas afirmações principais: a) Quando a pessoa é colocada em condições de associar livremente, essas associações tendem a se dirigir para setores nos quais a personalidade é emocionalmente mais sensível; b) A pessoa pode revelar seus esforços, disposições, conflitos e perturbações emocionais ao completar ou estruturar uma situação incompleta ou sem estruturação; c) Diante de estímulos incompletos ou pouco estruturados, há uma tendência natural do sujeito realizar uma organização pessoal das respostas, desde que tenha liberdade de composição; d) Quanto menos diretivo e estruturado for o estímulo, maior será a probabilidade do aparecimento de material pessoal significativo; e) Havendo um setting adequado, o cliente pode, nos contatos iniciais, comunicar os principais problemas, conflitos e distúrbios psíquicos que o levaram a procurar ajuda; f) No atendimento psicológico, os desenhos e as fantasias aperceptivas são modos preferenciais de comunicação da criança e do adolescente do que a comunicação verbal direta; g) Quando o sujeito realiza determinada seqüência de repetição, de provas gráficas ou temáticas, ocorre um fator de ativação dos mecanismos e dinamismos da personalidade, alcançando-se maior profundidade e clareza. 4 2.4. Finalidades Procedimento de D-E destina-se à investigação de aspectos da dinâmica da personalidade, especialmente quando esta apresenta comprometimento emocional. Pode ser utilizado para a obtenção de informações a respeito de sujeitos normais, neuróticos e psicóticos. Em combinação com outros recursos, como as entrevistas e os testes psicológicos, oferece elementos adicionais ou complementares para a realização do diagnóstico psicológico. Proporciona meios de incentivar a expressão e a comunicação de conflitos e perturbações inconscientes da personalidade, ajudando na elucidação desses dinamismos. O D-E pode ser empregado no conhecimento dos focos conflitivos que se expressam como desajustamentos emocionais, prestando auxílio na intervenção terapêutica. 2.5. Avaliação A avaliação do Procedimento D-E, bem como os problemas decorrentes dele se constituir em instrumento de investigação aberta e não-dirigida, serão discutidos em outro capitulo à parte. De modo geral, é aconselhável que em cada caso o psicólogo possa relacionar as queixas e outras dificuldades com os conteúdos latentes apresentados no D-E. Para isso, ele usará de toda a sua experiência, tentando descobrir, com a ajuda das entrevistas e dos demais recursos diagnósticos, aquilo que faz uma pessoa sofrer. A leitura e a decodificação do material serão feitas com base no contexto presente em que o examinando e/ou seus familiares depositam as angústias, dificuldades, fantasias inconscientes e urgências de compreensão. O contexto presente do atendimento traz em seu bojo indicações sobre como deve ser avaliado o D-E em cada caso. O profissional deverá procurar nesse contexto as interpretações que lhe pareçam mais significativas, selecionando o essencial. Esta seleção se conectará estreitamente com a elucidação dos significados dos sofrimentos, considerando que cada indivíduo humano organiza uma constelação de especificidade simbólica. O D-E, foi construído visando sintonia com a pessoa e adaptando-se ao modo particular dela ser e de se manifestar. 2.6. Inserção no Diagnóstico Psicológico Sendo uma técnica de investigação clinica da personalidade (e não um teste psicológico), o Procedimento de D-E define-se como um recurso de “faixa larga” dentro do diagnóstico psicológico, ou seja, oferece grande amplitude de informações com pouca segurançaobjetiva (se tomarmos por base os testes objetivos). Por isso, quando foi inicialmente apresentado, caracterizou-se como instrumento que ocupava posição intermediária entre os testes projetivos e as entrevistas clinicas não-estruturadas. Hoje essa posição pode ser revista, considerando-se as mudanças pelas quais passou o diagnóstico psicológico nos últimos anos. Na verdade, pela forma como foi construído, o D-E contém os elementos estruturais básicos dos testes projetivos e das entrevistas clinicas. Discordo que ele ocupe posição intermediária no sentido de ser empregado somente para o preenchimento de lacunas dos conteúdos situados entre os testa projetivos e as entrevistas clínicas. Seu uso tem demonstrado que ocupa “posição central” no diagnóstico psicológico de tipo compreensivo. Este processo diagnóstico designa: “...uma série de situações, incluindo, entre outros aspectos, o de encontrar um sentido para o conjunto das informações disponíveis, tomar o que é relevante e significativo na personalidade, entrar empaticamente em contato emocional é, também, conhecer os motivos profundos da vida emocional de alguém” (Trinca, 984). São fatores estruturantes do processo compreensivo: a) Elucidar o significado das perturbações; b) Ênfase na dinâmica emocional inconsciente; c) Considerações de conjunto para o material clínico; d) Procura de compreensão psicológica globalizada do cliente; e) Seleção de aspectos centrais e nodais; f) Predomínio do julgamento clínico; g) Subordinação do processo diagnóstico ao pensamento clínico; e h) Prevalência do uso de métodos e técnicas de exame fundamentados na associação livre. Uma simples verificação dos postulados e determinantes do diagnóstico compreensivo já permite configurar o D-E como instrumento central desse processo, pelas similaridades de propósitos e de fundamentos existentes entre ambos. Ou melhor, o D-E constitui, precisamente, um dos meios mais importantes utilizados na realização do diagnóstico psicológico de tipo compreensivo. Neste, como naquele, o psicólogo compõe um espaço de acolhimento destinado à representação dos aspectos 5 centrais de rupturas e outras dificuldades que interferem na harmonia dinâmica e dialética da personalidade. Mas, em especial, ambos diferem de uma abordagem fragmentária da mente, voltando- se a uma visão integradora. O profissional não busca apenas a explicação e a classificação dos problemas, senão seu próprio alargamento mental para apreender a experiência íntima de cada pessoa e para alcançar os sentidos particulares de cada existência individual, lançando luz, se possível, no foco da problemática da existência humana. 2.7. Notícia Histórica No inicio da década de 70, muitos psicólogos no Brasil e no exterior perguntavam-se a respeito da validade do emprego de processos então vigentes no diagnóstico psicológico. Esses processos priorizavam uma visão psicrométrica e/ou uma abordagem psicológica com base no modelo médico. A identidade profissional do psicólogo ainda não tinha se consolidado inteiramente (Trinca, 1984 e 1987). A Psicologia Clínica parecia manietada em sua situação de tributária às outras ciências, Buscava-se substituir os modelos em voga pela introdução de métodos não-invasivos, mais libertos de rigidez excessiva e condizentes com a atuação profissional do psicólogo. Foi quando a Psicanálise (ou mais propriamente o método psicanalítico) apareceu como uma alternativa eminentemente psicológica para proporcionar ao diagnóstico um referencial que fosse ao mesmo tempo específico e abrangente (Freud, A., 1971), A Psicanálise considerava a pessoa como totalidade indivisível, que podia ser dinamicamente estudada em seus componentes conscientes e inconscientes, privilegiando a observação do que se passava no âmbito do relacionamento psicólogo- cliente. Assim, ela abriu espaço para a ampliação do diagnóstico psicológico, abrigando uma nova série de recursos e meios de investigação decorrentes de sintonia com o cliente e de contato profundo. Era mais importante o desenvolvimento das habilidades existentes na personalidade do profissional do que os instrumentos clássicos de mensuração. Nesse contexto, os testes projetivos vieram desempenhar uma função decisiva, visto que, justamente por serem testes, eles podiam combinar até certo ponto as características antigas com as novas concepções que foram surgindo. Serviram (como ainda servem) de mediadores na passagem das formas ultrapassadas para as novas formas que se impunham. Eles eram usados como instrumentos de medida relativamente bem fundamentados nos modelos clássicos, mas simultaneamente sobressaiam na prática como técnica de investigação clinica da personalidade. Assim, espalhou-se a necessidade de flexibilizar o processo diagnóstico como um todo, nos mesmos moldes do que se fazia em psicoterapia. Muitos testes projetivos caminharam na direção dessa transformação, adaptando-se como modalidades de técnicas de investigação pelo acréscimo de novas dinâmicas. Por exemplo, o emprego de longos “inquéritos” nos testes gráficos, a proliferação de estórias gráficas, o uso do TAT (Themalic Apperception Test) e do CAT (Children’s Apperception Test) como formas de entrevistas. Nesse novo contexto histórico nasceu o “Procedimento de D-E”, juntamente com outras técnicas de investigação, como “A Hora de Jogo Diagnóstica” e “O Jogo de Rabiscos”, o D-E ajudou a consolidar uma nova maneira de encarar o diagnóstico psicológico, que se tornou de predomínio clínico. lmpôs-se fortemente o uso do processo diagnóstico de tipo compreensivo. Para tanto, além da Psicanálise, foram incorporadas as contribuições provenientes dos mais variados campos de atividade psicológica, como a Psicologia Fenomenológico-Existencial, a Psicologia da Gestalt, o Behaviorismo, os estudos sobre a dinâmica familiar e sobre os processos de desenvolvimento humano. A proposta central dessa nova concepção vinha a ser a integração das diversas conquistas ocorridas em diferentes áreas do conhecimento (Ancona-Lopez, 1984). Desde então, o diagnóstico psicológico deu um grande salto, libertando-se em grande parte das concepções estritamente mecanicistas, elementaristas, associacionistas, deteministas, racionalistas, empiristas, positivistas, pragmatistas, etc. Em vez de continuar sendo somente tributário de outras áreas do conhecimento, passou a utilizá-las em benefício de uma síntese própria. Com o surgimento das novas técnicas de investigação, entre as quais se destaca o Procedimento de D-E, o diagnóstico psicológico pôde evoluir para uma visão humanística integradora, que considera a perturbação emocional dentro de um processo global de rupturas e reequilíbrios na personalidade. 2.8. Outras Questões 6 2.8.1. Vantagens Diversas vantagens no emprego do Procedimento de D-E têm sido descritas, a saber: a economia de materiais, a facilidade e a rapidez de aplicação, a fácil adaptação às necessidades de comunicação do examinando, a intervenção urgente como medida preventiva, o atendimento de populações carentes para as quais os métodos tradicionais se tornam pouco realistas, a abrangência de utilização clínica, etc. Além dessas, há uma vantagem que se pode enfatizar a concisão, a brevidade e a “incisividade” com que, na maioria dos casos, o D-E efetua a penetração e obtém o desvendamento dos processos inconscientes do examinando. 2.8.2. Pontos Focais de Distúrbios O Procedimento de D-E revela a particularidade de facilitar a expressão de aspectos inconscientes relacionados a pontos focais de angústias presentes em determinado momento ou em determinada atuação de vida da pessoa. Muitas vezes, verifica-se na situação atual detectada pelo D-E uma reinscrição de angústias pregressas, que são indicadas por focos profundos fomentadoresde perturbações. Nesse caso, a função principal do D-E não é realizar um inventário horizontal e extensivo da personalidade, e sim um exame vertical e intensivo de certos pontos nos quais se representam, como fatos selecionados, os focos conflitivos e as perturbações emergentes. 2.8.3. O Desenho Livre Como Estímulo de Apercepção Temática No Procedimento de D-E, o desenho livre não é estimulo de apercepção temática no sentido de que serve somente para elicidar estórias, mas deve ser interpretado de modo integrado com as estórias e demais componentes da produção gráfico-verbal. O desenho livre não é mero substituto das pranchas dos testes de apercepção temática; ele constitui com a verbalização uma unidade indissolúvel de comunicação. Todos os elementos do D-E estão interligados na composição de um objeto unificado, formando em seu conjunto uma unidade coerente e indivisível. 2.8.4. Seqüência A reiteração seqüencial de 5 unidades de produção não resulta em unidades isoladas, e sim em comunicação contínua servindo aos propósitos do todo. O examinando usa do tempo e dos meios ao seu dispor para centralizar a comunicação em seus problemas emocionais. O D-E foi concebido como estrutura simplificada e sintética, cuja virtude está precisamente na configuração dinâmica de sua identidade gráfico-verbal. 3. Procedimento de Desenhos de Família com Estórias (DF-E) 3.1. Natureza e Características A partir de 1978, divulguei uma técnica de investigação clínica da personalidade que se caracteriza pela facilidade de obtenção de informações sobre as situações intrapsíquicas e intrafamiliares da pessoa no contexto da família. Desde o inicio, essa técnica foi ensinada na disciplina “Técnicas de Investigação Clínica da Personalidade”, do curso de pós-graduação em Psicologia (Área de Concentração Psicologia Clínica) do Instituto de Psicologia da USP. Associando técnicas gráficas e técnicas de apercepção temática, introduzimos o Procedimento de DF-E. Depois de passar por uma fase anterior, em que as consignas se modificavam ligeiramente, o DF-E tem hoje a seguinte forma: O examinando realiza uma série de 4 desenhos de família, cromáticos ou acromáticos, cada qual sendo estímulo para que conte uma estória associada livremente logo após a realização de cada desenho. Tendo concluído o desenho e a respectiva estória, o sujeito segue fornecendo esclarecimentos (fase de “inquérito”) e o título da produção. Cada desenho de família tem uma instrução definida e uma ordem regular no processo de aplicação, que são as seguintes: a) “Desenhe uma família qualquer”; b) “Desenhe uma família que você gostaria de ter”; c) “Desenhe uma família em que alguém não está bem”; d) “Desenhe a sua família”. O instrumento tem sua origem em técnicas gráficas e temáticas, sendo desenvolvido segundo padrões semelhantes ao Procedimento de D-E. Como neste, desenho, estória, “inquérito”, título e demais elementos presentes sob cada consigna constitui uma unidade de produção que, no total de 4, 7 transmitem mensagens em si mesmas indivisas, tendo como fator central os conflitos e as perturbações emocionais relacionados à dinâmica da família. Não se trata de teste psicológico, e sim de instrumento para uso clínico e pesquisa. 3. 2. Aplicação A aplicação é individual, podendo ser usado indistintamente para crianças, adolescentes e adultos de ambos os sexos, que conseguem desenhar e verbalizar. As condições de aplicação e o material necessário são os mesmos descritos para o D-E (vide 2.2.1. e 2.2.2.). Idênticas recomendações se faz em relação ao “inquérito” e às observações gerais do D-E (vide 2.2.4. e 2.2.5.). 3.2.1. Técnica de Aplicação a) Verificando-se que há bom rapport entre examinando e examinador, espalham-se os lápis sobre a mesa na qual ambos realizam o trabalho. b) Coloca-se uma folha de papel na posição horizontal com o lado maior próximo ao sujeito. Não se menciona a possibilidade dele alterar essa posição. c) Solicita-se que faça um desenho de acordo com a primeira consigna: “Desenhe uma família qualquer”. d) Aguarda-se a conclusão do desenho. Quando estiver pronto, não é retirado da frente do sujeito. O examinador solicita, então, que conte uma estória associada ao desenho: “Você, agora, olhando o desenho, pode inventar uma estória, dizendo o que acontece”. e) Concluída a fase de contar estória, passa-se ao “inquérito”, em que se exploram amplamente as possibilidades de novas associações gráfico-verbais, obtêm-se esclarecimentos a respeito do material produzido, etc. f) A seguir, pede-se o título. Este não corresponde somente ao titulo da estória, e sim a uma possível síntese da produção gráfico-verbal até o momento. g) Chegando-se a este ponto, retira-se o desenho da vista do sujeito. O examinador terá anotado detalhadamente tudo o que se passou: verbalizações do sujeito enquanto desenhava, reações não-verbais, a estória com respectivas pausas e entonações, as perguntas e respostas da fase de “inquérito”, o título, as dificuldades verificadas na condução do processo, a atitude do sujeito, as emoções do aplicador, etc. Assim, conclui-se a primeira unidade de produção. h) Repetem-se os mesmos procedimentos para as demais unidades de produção, observando-se para cada qual as respectivas consignas. Como sabemos, para a segunda condigna é: “Desenhe uma família que você gostaria de ter”. Para a terceira. “Desenhe uma família em que alguém não está bem". Para a quarta “Desenhe a sua família". i) Pretende-se obter em uma única sessão a série completa de 4 unidades de produção. Não sendo isto possível, é recomendável o retomo do examinando a uma nova sessão de aplicação. 3.3. Fundamentação Tendo por referência imediata o Procedimento de D-E, o DF-E sustenta-se, mutatis mutandis, em afirmações que servem de base para aquele. O Procedimento de DF-E encontra sua fundamentação, entre outros aspectos, em: a) Conhecimentos psicanalíticos sobre o inconsciente; b) Regra fundamental da associação livre, tal como é utilizada na Psicanálise; c) Conhecimentos sobre as relações entre os desenhos e os sonhos; d) Princípios das técnicas projetivas gráficas; e) Formas de apercepção temática das técnicas projetivas; f) Processos de realização de entrevistas clínicas não-estruturadas e semi-estruturadas; g) Referenciais e modelos que atribuem importância à dinâmica da família na gênese dos distúrbios emocionais; h) Evidências clínicas de que a reiteração, em seqüência, do par desenho-verbalização conduz à explicitação com maior clareza dos conflitos e dificuldades emocionais. 3.4. Finalidades O Procedimento de DF-E tem por finalidade a detecção de processos e conteúdos psíquicos de natureza consciente e inconsciente, que dizem respeito às relações do examinando com os objetos internos e externos pertinentes à dinâmica familiar. Tendo sido elaborado com vistas à importância da família no desenvolvimento da pessoa, o DF-E é empregado especialmente para a ampliação do conhecimento sobre as relações intrapsíquicas e intrafamiliares do examinando; São elações atinentes no seu meio familiar, tal como se expressam em sua vida psíquica. Assim, espera-se que o DF-E 8 facilite a comunicação de conflitos profundos vividos no meio familiar, de fantasias inconscientes a respeito das figuras significativas e do jogo de forças emocionais existente no seio da família. 3.5. Utilização Usa-se o DF-E no contexto do estudo diagnóstico como meio auxiliar à ampliação do conhecimento da dinâmica da personalidade. Esse uso clínico mostra evidências de tratar-se de uma técnica eficaz para a apreensão de conflitos significativos que ocorrem em determinados momentos na vida da pessoa. Recomenda-se sua aplicação nos casos em que o profissionalintua que as perturbações emocionais se devem predominantemente a conflitos e fatores familiares, presentes no mundo interno e/ou no mundo externo do examinando. Essas perturbações podem ser mais facilmente apreendidas nos casos de adoção, separação dos pais, institucionalização, etc. O emprego do DF-E estende-se a sujeitos adultos, tanto no diagnóstico individual e de casal, quanto na utilização cruzada entre a criança e os pais, considerando-se a necessidade de avaliação da dinâmica familiar. Nesse particular, Lima (1991) examinou a psicodinâmica da família que se entrelaça com a adaptação escolar ineficaz de crianças de ambos os sexos com queixas escolares. O DF-E foi aplicado às crianças e aos pais, tendo-se encontrado um sentido para os sintomas dentro do contexto da história pessoal e familiar. Os problemas vividos pelas famílias nos níveis consciente e inconsciente afetam sensivelmente a escolaridade da criança. Um objeto familiar inconsciente modela a qualidade das interações no seio da família. Antes disso, Brasil (1989) já havia usado o DF-E para estudar o fracasso escolar, enfatizando o universo simbólico da criança dentro dos pressupostos básicos da teoria junguiana. No estudo psicológico, o DF-E auxilia a liberação associativa gráfico-verbal de crianças e adolescentes, por ser uma forma adaptável às necessidades especificas de comunicação nessas faixas etárias. Sendo mínimas a direção e a estruturação dadas pela técnica, não chegam a interferir nas associações livres do examinando. A seqüência e a reiteração da solicitação da tarefa introduzem um enquadramento favorável a energética de fatores inconscientes. 3.6. Avaliação O Procedimento de DF-E constitui uma forma de comunicação direta e indireta de pontos nodais de angústias, fantasias inconscientes, sentimentos, atitudes, desejos, etc, que são mobilizados na situação de exame. A avaliação é feita com base em conhecimentos provenientes de várias fontes. São fontes imediatas as teorias psicanalíticas, as técnicas de interpretação de desenhos projetivos, os testes de apercepção temática e os conhecimentos sobre a dinâmica da família. Os significados dos conteúdos são interpretados segundo a experiência clínica e em conformidade com o desenvolvimento pessoal e profissional do avaliador. Essa tarefa se torna simplificada se ele estiver familiarizado com o referencial psicanalítico, combinando-o com a própria sensibilidade e intuição. Para facilitar a avaliação sugiro que se levem em conta os seguintes itens: a) Características peculiares das figuras paterna e/ou materna; b) Tipos de vínculo e formas de interação com as figuras parentais; c) Trocas sexuais e afetivas entre as figuras parentais; d) Relacionamentos com figuras fraternas e outras figuras do meio familiar; e) Determinantes da estrutura e da dinâmica familiar; f) Forças psicopatológicas e psicopatogênicas existentes na família; g) Eventos familiares reveladores de conflitos e dificuldades; h) Pontos centralizadores de conflitos e dificuldades no examinando; i) Descrição que o examinando faz de si próprio; j) Atitudes para com a vida e a sociedade; k) Tendências, necessidades e desejos; l) Tonalidades das angústias e das fantasias inconscientes predominantes; m) Características das forças de vida e de destrutividade; n) Mecanismos de defesa; o) Fatores de aquisição da individualidade e de integração do self; p) Outras áreas de experiência emocional. A pluralidade de fatores conscientes e inconscientes e a maneira como os temas articulam-se podem ser encontradas no contexto do exame psicológico como um todo. O DF-E deve ser avaliado 9 em interdependência com as demais informações disponíveis. Uma avaliação do conjunto das 4 unidades de produção tanto pode partir da análise em separado de cada unidade na ordem em que foram produzidas, quanto pode originar-se de uma apreciação globalística do conjunto das unidades de produção, em combinação com as entrevistas clinicas, os testes psicológicos e os demais recursos empregados. Aplicam-se ao DF-E as recomendações gerais sobre avaliação descritas para o Procedimento de D-E. Um estudo exploratório tentou investigar a concordância de diferentes avaliações do DF-E em um mesmo caso clinico feitas por psicólogos independentes entre si, empregando o referencial psicanalítico. Os resultados indicaram razoável nível de concordância entre as avaliações, resultando em descrições satisfatórias para a compreensão da problemática da criança. 3.7. Notícia Histórica Animados com a aceitação alcançada pelo Procedimento de D-E, concebemos o Procedimento de DF-E tendo por base, justamente, o fator que permitiu a expansão do primeiro: a junção das técnicas gráficas com as técnicas de apercepção temática. O DF-E consiste na utilização modificada e ampliada das formas gráficas de expressão anteriormente existentes sob o tema da família. Ele se baseia em estudos de desenhos de família, cujas origens remontam à década de 30 e cuja paternidade é discutível. Minkowski (1952) e Cain e Gomila (1953) atribuem primazia a Françoise Minkowska. Outros estudiosos, como N. Appel (1931) e Trude Taube (1937) os empregaram antes. Parece que surgiram do uso clínico simultâneo e independente de diversos pesquisadores, em diferentes regiões geográficas. Esta é a opinião de Hammer (1969). Tradicionalmente, nós os encontramos como técnica gráfica aplicada sob as consignas: “desenhe sua família" e/ou “desenhe uma família". Essa técnica foi inicialmente difundida na Europa por Porot (1954) e Corman (1964). No extremo oriente, foi divulgada por Fukuda (1958). Nos EUA, uma variante denominada Desenhos Cinéticos de Família (KFD) foi proposta por Burns e Kaufman (1970). No Brasil, merecem menção especial o trabalho pioneiro de Barcellos (1952) e a pesquisa de Maggi (1970), que não só desenvolveu um amplo inquérito padronizado como, ainda, foi precursora do uso do desenho colorido da família. Empreendemos ensaios clínicos preliminares sobre os desenhos de família como estímulos de apercepção temática no início da década de 70. Uma versão elaborada desta técnica foi divulgada nos anos de 1978 a 1985. Na ocasião, o Procedimento de DF-E já se compunha de 4 unidades de produção, contendo as características e os passos que determinaram a forma atual do instrumento. Basicamente, ele era constituído pela obtenção, para cada sujeito, de uma seqüência de desenhos de família, sendo cada desenho um estímulo para que se contasse uma estória de livre associação imediatamente após a realização do mesmo. Concluída a estória, o examinando seguia fornecendo esclarecimentos (fase do “inquérito”) e o titulo. Na primeira unidade, o desenho era de “uma família qualquer”; na segunda, era “de sua própria família”, na terceira, de “uma família que gostaria de ter"; finalmente, na última unidade, o desenho era de “uma família onde existe uma criança que tem o seguinte problema...” (especificava-se o problema que aparecia como queixa principal). A aplicação era individual, usando-se, além do lápis preto, uma caixa de lápis de cor de 12 unidades. Desde os momentos iniciais de apresentação do DF-E, estimulamos a realização de estudos visando sua validação clinica e estatística. Um dos estudos de validação, que temos a satisfação de mencionar, foi realizado pela psicóloga Valceque R. N. Porto, em 1985, no curso de pós-graduação em Psicologia Clinica da PUC de Campinas. Combinamos a realização de uma pesquisa em que o DF-E, na forma até então desenvolvida e apresentada, fosse comparado estatisticamente com outro instrumento já validado e de uso corrente na prática do diagnóstico psicológico. A escolha deste instrumento-padrão recaiu sobre o Teste de Atitudes Familiares de Jackson (1957). Tanto o DF-E quanto o instrumento-padrão foram aplicadosa 28 sujeitos, de ambos os sexos, em idades compreendidas entre 6 e 12 anos (inclusive) com queixas de dificuldades emocionais. Os protocolos foram avaliados independentemente por 6 psicólogos de comprovada experiência clínica. Sobre os resultados dessas avaliações, procurou-se verificar se havia concordância entre ambos os instrumentos na aferição de dinamismos da personalidade, aplicando-se para isto a Prova Binomial. Levantados 25 fatores dinâmicos da personalidade, encontrou-se concordância em apenas 2, sendo que para os demais fatores não houve equivalência entre o DF-E e o teste de Jackson. Concluiu-se que cada instrumento media fatores diferentes na dinâmica da personalidade. Apesar dessa conclusão, 10 exames de natureza clínica prosseguiram dentro dos estudos de casos e em comparação com os processos psicoterapêuticos, acompanhados em clínicas-escolas e em consultórios particulares. Uma reflexão crítica, todavia, impôs-se a respeito do Procedimento de DF-E, derivada do uso clínico e da pesquisa de Porto (1985). Enquanto a tendência geral das técnicas projetivas era eliciar o universo de fantasias, em especial as fantasias inconscientes, o DF-E em sua última unidade de produção, focava explicita e diretamente o sintoma manifesto, questionando o examinando em aspectos conscientes, dolorosos e difíceis. Mobilizava, assim, resistências à tarefa. Por essa razão, empreendi alterações na forma do DF-E, permanecendo idênticas sua substância e finalidades. A versão atual foi apresentada em 1986, no Instituto de Psicologia da USP. Destinava-se originalmente a crianças e adolescentes de ambos os sexos em idades compreendidas entre 5 e 15 anos (inclusive). Posteriormente, o uso clínico e as pesquisas demonstraram que se adequava, também, a adultos. Desse modo, desde seu lançamento, o DF-E introduziu a particularidade dos temas nos desenhos que servem de estímulos de apercepção temática. Afora nossa proposta, não encontramos outras referências à utilização do expediente de contar estórias junto a desenhos de família. Dadas as concepções a respeito do diagnóstico psicológico em consonância com a prática de atendimento de casos, as alterações que introduzi nos tradicionais desenhos de família foram: Solicitação de expressão de fantasias aperceptivas temáticas; Criação de novas formas de representação gráfica da família; Extensão da natureza da tarefa, de modo a configurar uma exploração qualitativamente ampla, una e indivisa; Caracterização da fase de “inquérito-livre”, não interferente no fluxo normal da associação livre do examinando; Oferecimento de novas alternativas de avaliação globalística dos desenhos de família. 4. Considerações Finais Verifica-se que tanto o Procedimento de D-E, quanto o Procedimento de DF-E constituem-se em meios penetrantes de investigação clinica de personalidade, que visam atingir os distúrbios principais, os conflitos e as perturbações nodais que estão presentes, em determinados momentos, na vida das pessoas. Trata-se de importantes recursos de avaliação, acompanhamento e terapia das dificuldades emocionais. Ao longo do tempo, ajudaram a dar ao diagnóstico psicológico um status de maior flexibilidade, corroborando a importância do diagnóstico de tipo compreensivo. Prevalece antes o espírito de investigação do que a submissão dos padrões estabelecidos pelas teorias dominantes. As conclusões clínicas decorrem de se poder conduzir a investigação às suas últimas conseqüências. Aconselha-se que esses instrumentos sejam aplicados e avaliados por profissionais que tenham suficiente experiência clínica, a fim de que se... ??? A experiência e as habilidades profissionais continuam sendo o melhor “instrumento” de penetração na vida psíquica. Não sendo um “testólogo”, o psicólogo confronta-se com o fato de que os principais recursos para seu trabalho estão contidos em sua personalidade. Os principiantes, naturalmente, deverão buscar supervisão, prática clínica, psicoterapia ou análise. Contudo, é fundamental, no contato com o examinando, poder deixar-se ir despreconcebidamente em estado de mobilidade psíquica. Esse é um assunto que envolve não só a contratransferência, mas a sensibilidade, a intuição, a empatia, a capacidade para o acolhimento e o alargamento mental como um todo. Está em jogo a abertura dos canais da comunicação emocional e da sintonia profunda; um mergulho em “atmosfera psíquica”. 11 Capítulo III Utilização Clínica Eva Maria Migliavacca Qualquer tentativa de apreender a vida que pulsa na mente de um indivíduo e que determina sua relação consigo mesmo e com o mundo exterior, necessariamente implica admitir a existência de um espaço interno único, particular, não totalmente acessível e no qual cada pessoa se movimenta e cria suas fantasias. O processo de aproximação a este espaço inclui inúmeras dificuldades, tanto para o psicólogo que se propõe a essa tarefa, quanto para o paciente que toma a iniciativa dela. Tais dificuldades não se circunscrevem apenas ao sofrimento provocado pelo contato profundo com a própria mente, referem-se também à necessidade e até à urgência em encontrar um modo de comunicação que seja suficientemente favorável à elucidação das angústias que mobilizam o paciente, assim como dos recursos a que pode recorrer para com elas conviver. As observações da prática clínica têm inegavelmente confirmado que a atividade lúdica muito facilita o contato entre um paciente-criança e seu terapeuta. Quando ambos se debruçam interessadamente sobre o pedido ora mais, ora menos claramente expresso pela criança, torna-se possível o desvelamento dos vários aspectos mentais que jogam um papel na turbulência emocional que se apresenta. Se o psicólogo faz ao seu pequeno paciente uma proposta que lhe é familiar e dentro de possibilidades de expressão e a proposta é aceita, estabelece-se um campo comum de trabalho que minimiza as naturais diferenças entre um adulto e uma criança. Brincar, inventar, sonhar permite verificar o que pode ser tolerado e ampliar a percepção do mundo mental. Certamente são inúmeras as formas lúdicas que podem facilitar o encontro entre um terapeuta e seu paciente. Existem técnicas consagradas, como o jogo de rabiscos de Winnicott ou a própria hora de observação lúdica. Ao mesmo tempo, existe a necessidade de que o terapeuta possa usar de sua inventividade para auxiliar a criança severamente comprometida em sua forma de expressão e que não responde às técnicas conhecidas. Na verdade, não cabe neste espaço discorrer nem a respeito de umas nem de outras. O que pode ser bem observado é que a prática clínica exige a presença interessada da dupla em jogo, para que o trabalho desenvolvido possa ter alguma eficácia, no sentido de esclarecer quais são as situações mentais que precisam de uma atenção mais cuidadosa. O Procedimento de D-E presta-se de modo excelente à facilitação do acesso à vida emocional da criança, sendo um auxiliar de valor no processo de diagnóstico psicológico. O procedimento pode ser usado em vários momentos do atendimento clínico-diagnóstico, tanto em entrevistas iniciais, quanto ao longo do processo, e inclusive ao final do mesmo, em entrevistas devolutivas. Gostaria de assinalar que neste contexto se compreende o diagnóstico como um processo que permite o esclarecimento da dinâmica de funcionamento mental, considerando as angústias, desejos e defesas do paciente. Numerosas são as técnicas para sua realização, incluindo-se aí o uso dos chamados testes projetivos, dos testes de nível mental, da avaliação psicomotora, além das entrevistas com o paciente e familiares. Não é infreqüente, também, a necessidade de exames com outros profissionais, como fonoaudiólogo, psicopedagogos ou médicos. Evidentemente, cada caso requer consideraçõesespecificas quanto ao que convém utilizar e que exames são necessários. O Procedimento de D-E atua na área de investigação da personalidade. Usado juntamente com outras técnicas projetivas complementa-as, permitindo uma avaliação abrangente. Neste sentido, sua inclusão no processo de diagnóstico psicológico adquire um especial valor, pois mostra ser uma técnica que traz à tona aspectos profundos da dinâmica do funcionamento mental. Gostaria de apresentar um exemplo de como o Procedimento de D-E pode ser revelador do estado mental de uma criança. Realizou-se um diagnóstico amplo, com a intenção de responder às questões mais ou menos bem formuladas tanto pela mãe quanto pela própria criança a respeito de suas dificuldades. Não será apresentado aqui o caso completo, mas apenas o que se obteve com o Procedimento de D-E. No caso, um menino de 8 anos e 10 meses, trazido a atendimento por causa de mau desempenho escolar e de dificuldades de fala. Já passara por tratamento fonoaudiológico e por acompanhamento psicopedagógico, sem qualquer resultado eficaz. Os pais tem pouca instrução, a mãe vende roupas e o pai é caminhoneiro, chegando a fazer viagens de até 15 dias. A mãe refere ter deixado de trabalhar por causa do filho e se arrepende. Acha que o menino é retardado mental. O pai não comparece a nenhuma entrevista. O paciente, que chamaremos de Carlos, foi um filho não desejado, pois a família recém chegara a São Paulo, vinda de outro estado e com outro filho ainda muito pequeno, atualmente com 10 anos. Carlos chorava noite e dia, quando bebê. Teve uma bronquite aguda muito forte com cerca de um ano, a qual se curou com certas ervas, segundo a mãe. Esta é muito ansiosa, falando ininterruptamente. Carlos é retraído no primeiro contato, mas é evidente que o aprecia, o que se confirma depois. Tudo o que diz é compreensível. Em teste de nível mental, atingiu resultado levemente inferior à média (WISC:QI=89). Procedimento de Desenhos-Estórias Unidade de Produção 1 (vide figura 1.1.) Título: O homem lotado de lixo Verbalização: “Era um homem pondo sujeira na lata de lixo, dois carros, uma árvore, um sol, quatro nuvens, uma casa. O homem ia entrar dentro de casa, ia pôr lenha no fogo, depois ia dormir, aí ia sair com capa e fazer despesas, aí jogou o sol fora, ligou a TV, aí depois ele foi dormir, aí ele foi ver as horas no braço, que já era prá ir trabalhar, “são cinco e meia, preciso ir trabalhar”, ai acabou a estória”. Unidade de Produção 2 (vide figura 1.2.) Título: Carga maluca Verbalização: “Aqui os carro tava prá descarregar, um tava indo prá lá, um tava carregando carreta, aí bateu no poste e o poste quebra, aí o sinal fecha, aí o pneu furou, aí chama, conserta o poste e o pneu, aí o caminhão sai e descarrega, (Pausa: Inquérito: E daí?). O outro caminhão tava carregado, aí o carrinho corria, ele bateu (Inq: Quem bateu?) O carrinho. (Inq: E depois?) O motorista ficou machucado, mas não muito (Inq: Como termina?) O caminhão ia carregar de novo prá viajar”. Unidade de Produção 3 (vide figura 1.3.) Título: Mesinhas Verbalização: “Aqui é a casa do gigante, aí a casa dele ficou um castelo, foi transformado num castelo, ficando grande, grande para sempre, aí foi brincar de escrever lá em cima do telhado, ficou lá sozinho, aí foi no mercado comprar um monte de sorvete, ai tudo ficou grande que era dele, a escada foi grande (Faz a escada vermelha. Inq: Por quê?). Porque ele jogou pé de arroz là perto da casa dele, ai o pé de arroz não gostava da casa, ficou, mandou tudo ficar grande. (Inq: Porque ele não gostava da casa?). Porque ele achava ela ruim. (Inq: Porque?). Por causa que ela era pequena. (Inq: E aí?). Aí ele ficou con- tente porque a casa dele ficou grande. Daí ele saiu, a casa dele ficou mais grande, quando chegou a casa dele ficou um castelo. Ele achou mais legal. Aí ficou tudo antigo. Carro antigo, comprou um monte de coisa, só com um cruzeiro. Aí foi, foi, foi, foi ficando mais contente. Chegou um homem, falou que era príncipe, a mulher que era rainha, e o gigante que era rei. Aí ele falou: queria morar aqui com o senhor. E ficou a vida inteira. Aí um dia ele plantou um monte de árvores, ficou tudo grande, tudo do tamanho dele, monte de folhas, só”. Unidade de Produção 4 (vide figura 1.4.) Título: Carreteiro de laranja Verbalização: “Aqui é uma carreta levando um monte de frutas para São Paulo. Ia viajar para todo lugar. Tinha um bilhão de frutas, dava quatro caixa prá todo mundo de fruta, aí veio um monte de gente, deu seis, sete caixa. Aí ficou mexendo, mexendo, tinha um bilhão de carreta, tudo de fruta, tinha quem pegava, repetia, pegava muito, fazia suco. Aí o filho dele gostava muito de laranja, chupou bastante, aí deu um monte de caixa prá mãe dele, fez suco, vitamina, ai comprou uma carreta cheia de laranja, deu uma prá mãe dele e mais um monte de geladeira, senão não cabia. Só". Unidade de Produção 5 (vide figura 1.5.) Título: Riquero de tesouro Verbalização: “Aqui é um caminhão levando ouro. O homem era bem rico, ia levar prá Luzera, o colega dele que chamava, o caminhão tava cheio, levou monte de barra, tava cheio de jóia... Aí o caminhão foi, tinha um monte de carro no meio, chegou lá, ‘tem ouro’, descarregou, voltou, aí chegou e disse: “não vou pegar mais tesouro, tô cansado, tem bastante tesouro. Aí o outro tem muito tesouro, tá cada vez mais rico, tem monte de loja, aí o colega dele dava tesouro pro primo dele, aí ficou muito rico, porque gosta de dar, tinha monte de caminhão, ai tudo que faria era um milhão de carreta, ai ficou mais rico, que ele, ai tinha fazenda, aí ficou mais rico que ele, aí pegou, foi pr'outro lugar, não queria mais ficar em São Paulo, foi a Campinas. (lnq: Por quê?). Porque achava ruim, não gostava, por causa que os colegas dele só pediam coisa pra ele. Ele deu três barão prá os colega dele, aí os colega ‘obrigado’, ai foi embora, ai esqueceu o caminhão, voltou, ‘agora não pode me deter’, aí pegou o relógio que ele gostava, aí ficou rico, rico, ficou bilionário, inventou uma música, cantou, ficou mais rico ainda, igual o Menudo, aí cantou música com cinco moço, aí ficou rico, rico, aí pôde comprar caixa de lápis de cor, monte de caixa, carro, caminhão, carreta, vinte e cinco apartamentos, aí ficou rico, rico, aí acabou a estória”. Carlos encontra um pai ausente e uma mãe tão ansiosa que não percebe que ele tem necessidades vitais a serem atendidas, revela a psicóloga, através do Procedimento de D-E, todo o movimento mental que faz para tentar manter-se minimamente equilibrado em sua vida emocional. Logo na primeira unidade, mostra um estado de grande sofrimento, sente-se carente, abandonado. Ele é a sujeira na lata de lixo, um homem jogado de lixo. Não há sol para aquecê-lo, portanto só há morte e desolação. É como se sente por dentro. O ressentimento e o ódio por tal estado é inibido pela paralisação quando surge qualquer indício de agressividade, ele vai dormir, Isso se estende à segunda unidade, onde há o risco de uma catástrofe enorme iniciada com um acidente e impedida, porém, pelo sinal que fecha e pelo pneu que fura, expressões de Carlos que revelam seu desejo de preservar a vida, a despeito de tanta adversidade. Se pensarmos em termos diagnósticos, não estaria nesse estado angustioso de Carlos, que não encontra nos pais o acolhimento adequado para suas necessidades, a raiz das dificuldades que o impedem de progredir na escola? Pois, dar-se liberdade para a busca do conhecimento e para a expressão de seu interesse e curiosidade, implica conhecer também seuódio e seus impulsos destrutivos. A seguir, é deveras interessante o destino que Carlos nos mostra que dá à sua angústia. A partir da terceira unidade, em vez da destruição, da desolação e do abandono, surgem a abundância, o exagero, o excesso de coisas. Carlos transforma-se num gigante plenamente satisfeito, farto mesmo, independente dos pais, realizando por meio de uma fantasia desenfreada o desejo de suprir a profunda carência em que se vê mergulhado, Desenvolve essa reação nas unidades seguintes. Pleno de riquezas tem tudo em excesso e pode dar à vontade. Por essa reação contrária à realidade interna dolorosa, o menino expressa o desejo de preencher seu vazio interior. Esse contraste impressionante revela, na verdade, ainda mais o quanto Carlos se sente pequeno e indefeso. Se fizermos o caminho inverso e tirarmos o disfarce (a abundância) podemos ver o estado de profunda desolação e dor em que ele se encontra, podemos perceber que a satisfação pela abundância pode ser traduzida em ódio pela falta, pois o próprio excesso denuncia a carência. 15 Evidentemente, há muitos acréscimos que poderiam ser feitos a esses comentários, pois as associações de Carlos são ricas em detalhes e em elementos simbólicos, que permitem interpretações mais amplas. Contudo, o caso está aqui apresentado apenas para ilustrar como o Procedimento de D- E se presta a tornar claro o estado da mente de uma criança e como permite a apreensão de tal estado. A facilidade com que geralmente as crianças respondem à proposta do Procedimento faz deste um instrumento clínico animador. Compreende-se que, uma vez que o psicólogo tenha tal instrumento em mãos, pode dele fazer uso em vários momentos de suas atividades clínicas. No que diz respeito ao diagnóstico, o psicólogo pode, baseado nele e, escusado dizer, respeitando princípios éticos, esclarecer outros profissionais (por exemplo, médicos, educadores, profissionais afins) acerca da problemática do paciente. Nesse sentido, seu uso se estende de consultórios para instituições de saúde física e mental. Existem grandes limitações ao acesso de boa parcela da população a serviço de saúde física e mental que respondam a freqüente urgência na identificação de problemas emocionais. A facilidade e a economia de recursos na aplicação do Procedimento de D-E, somadas à sua eficácia clínica, torna-o uma técnica de trabalho valiosa. O aspecto lúdico do D-E permite a manifestação indireta de angústias latentes na mente da criança e sua posterior conscientização. Dessa forma, ele é um meio, um caminho facilitador para o surgimento de aspectos mentais que podem atingir camadas bastantes profundas A partir dai, evidentemente, estabelece-se a necessidade de auxiliar o paciente na elaboração daquilo que agora lhe está mais próximo. Ou seja, após atingir seu objetivo, o D-E pode, então, ser abandonado. Assim sendo, é notável, dentre os vários momentos em que se pode recorrer ao Procedimento de D-E, sua utilidade nas entrevistas devolutivas, tanto com pais de crianças e adolescentes, quanto com o próprio paciente. Freqüentemente, contribui para a elaboração de angústias e dúvidas. Gostaria de apresentar a entrevista devolutiva realizada com um menino de 12 anos, na qual o Procedimento de D-E foi muito bem utilizado tanto pela psicóloga quanto pelo paciente. O atendimento foi realizado numa instituição pública. José Carlos, assim o chamaremos, foi trazido à clínica por exigências da escola, uma vez que seu comportamento deixa a desejar. Ele é muito bagunceiro e briguento com os colegas. Curiosamente, os professores dizem que, com eles, José Carlos é respeitoso. Sua relação com os pais, que são separados, mas mantém contato constante, é turbulenta, mas também muito colorida afetivamente, em especial com a mãe que, à sua maneira e dentro de suas condições, atende bem o filho. Após a realização do processo de diagnóstico psicológico, foi marcada uma entrevista devolutiva com José Carlos. Segue-se o relato da mesma. Foram feitas alterações julgadas necessárias para proteger a identidade do cliente. O diálogo inicial refere-se à continuação do horário de entrevista e ao fato dela ter sido feita apenas com a mãe, e não diretamente com o paciente. Não será aqui apresentado o material gráfico do Procedimento de D-E, pois o objetivo é apenas mostrar um modo possível de utilizá-lo numa entrevista de final de diagnóstico psicológico. José Carlos chegou 15 minutos atrasado. A psicóloga estava aguardando quando ele chegou e parecia estar muito nervoso: José Carlos: Por que você não me avisou? Psicóloga: JC., você poderia me esperar na sala de espera por um instante? JC.: Por que você não me avisou? P: Você pode aguardar por um minuto na sala de espera? JC.: Tá bom, mas você não me avisou por quê? P.: A gente conversa sobre isso quando entrar na sala, tudo bem? JC.: Tá bom. (Depois de alguns minutos). P.: Vamos entrar. JC.: Vamos. Por que você não me avisou? P: Você não tinha me pedido na semana passada que era para eu avisar sua mãe e esta lhe avisaria? JC.: É, tá certo, eu tinha me esquecido. É por que eu fui acusado de roubo? 16 P.: Você poderia me contar melhor essa história? JC.: A diretora, todo mundo me acusou de ter roubado o X. P.: Como assim? (Segue-se o relato de um incidente na escola, no qual não fica muito claro o episódio do roubo). P.: E agora? JC.: E agora eu não sei, a diretora mandou chamar minha mãe, eu encontrei com ela quando estava vindo pra cá e falei pra ela que a diretora queria falar com ela e falei também que eu estava sendo acusado, ela perguntou o que eu tinha feito, e falei pra ela perguntar pro Ro (irmão), porque eu já tinha contado tudo pro Ro. P.: E quando você falou pro Ro, o que ele achou? JC.: Ele não falou nada. P.: Ele acreditou em você? JC.: Acho que sim. Não sei o que fazer, acho que vou fugir de casa. P.: Fugir? JC.: É. P.: Por quê? JC.: Eu não agüento mais isso. P.: O que você não agüenta mais? JC.: Isso, ser acusado. Em casa todo mundo briga comigo, me deixam de castigo. P: Você pensa em fugir para que não briguem com você? JC.: É, mas eles não me batem não, só de vez em quando. P.: Quem é que bate em você de vez em quando? JC.: A minha mãe e o Ro. Eu acho que eles não vão acreditar em mim, vou me ferrar, por isso que eu penso em fugir. P.: Mas você não me disse que já contou para o Ro e ele acreditou em você? JC.: É, eu não sei o que faço. P.: Como o Ro acreditou um você, a sua mãe não poderia acreditar, também? JC.: É. P.: Então fugir pra quê? JC.: É, quando eu falei em fugir eu não sabia o que estava falando, é besteira. Tem vezes que eu penso em fugir, mas sei que é besteira, que não ia ser bom, que não ia adiantar nada. P.: Sei. E, quando você pensa em fugir, você pensa em fugir pra onde? JC.: Pra casa do meu pai, do meu tio. E hoje é o último dia que eu venho aqui? P.: É. JC.: O que eu vou fazer hoje? P.: Hoje nós vamos conversar sobre o que eu pude compreender de você. JC.: Sei. P.: Então, nós já conversamos antes: eu pedi para você falar alguns desenhos, contar estórias, tudo para eu compreender o que ocorre com você. JC.: Sei. (Aqui há um diálogo a respeito do resultado dos testes de nível mental, que confirmam a adequação do paciente quanto à capacidade intelectual). P.: Eu pude perceber também, através das nossas conversas, que você é uma pessoa muito ligada nas coisas que acontecem ao seu redor, que se interessa pelas coisas que acontecem com você, com seus amigos, com seus familiares; enfim, o que acontece com as pessoas que você conhece. Você17 não é uma pessoa passiva, que olha para o que acontece e não faz nada. Por exemplo, há pessoas que reclamam da vida, falam que a vida é uma merda e não fazem nada para mudar. Acho que você não é assim, você vai à luta. JC.: Ás vezes é assim (pausa). P.: Pude observar que você é uma pessoa muita atenta, tem muito interesse pelas coisas que acontecem com você. Por exemplo, você se lembra quando perguntou para mim o que era o eletro, pra que servia? JC.: Lembro. P.: Então, essas perguntas me fizeram ver como você se interessa pelas coisas que acontecem com você. JC.: É. (pausa). P.: Pude perceber também que, quando você tem que fazer alguma coisa que você não sabe fazer, você age com cautela. JC.: Cautela? Não, eu não sou assim não! P.: Então você não é uma pessoa que age com cautela? JC.: Não, eu não sou cauteloso, eu faço as coisas sem pensar e por isso que eu me ferro sempre. P.: Você poderia contar alguma coisa sobre isso? JC.: Quando, por exemplo, a Ma (irmã) não limpa a casa, eu brigo com ela, só reclamo, e quando minha mãe chega, ela fala que eu bati nela e eu confirmo, então eu me ferro, porque eu faço as coisas sem pensar, daí depois que eu me ferrei, eu falo que não bati na Ma, que era mentira dela, mais ai não adianta, já me ferrei. P.: Mais alguma coisa? JC.: Na escola, quando alguém faz alguma coisa, assim como jogar giz em alguém, a professora pergunta quem foi? Aquele que tacou fala que sou eu, e eu confirmo e me ferro, vou falar com a diretora, levo advertência. Depois, não adianta falar que não fui eu, pois ninguém acredita. P.: Eu acho que isso que você me contou tem mais a ver com assumir a culpa dos outros, proteger os outros. O que você acha? JC.: É, acho que é isso mesmo. Mas eu não penso quando eu faço isso e me ferro. P.: E como é isso de você se ferrar sem ter feito nada? JC.: Eu não sei, eu não gosto. (pausa). P.: Eu tinha falado que você pensava antes de agir, de tomar alguma decisão, porque você vivia perguntando sobre a terapia, e a terapia seria algo novo pra você. Então, eu achei que você perguntava sobre a terapia para pensar e depois tomar uma decisão. JC.: É, foi só isso que pensei, mas sempre eu faço as coisas sem pensar. P.: E você tem alguma idéia por que isso acontece? JC.: Não, quando vi já me ferrei. (Pausa). P.: Bom, agora queria lhe falar sobre o impulso, algo que tem a ver com o que você falou, de fazer as coisas sem pensar. Você sabe o que é impulso? JC.: Sei. P.: O que seria impulso pra você? JC.: É, é, ih, acho que não sei. P.: Tudo bem, impulso seria o tipo de uma força que existe dentro de nós. Essa força é responsável por muitas coisas que fazemos, que faz a gente lutar por alguma coisa. Por exemplo, há uma força sexual, que faz com que homens se sintam atraídos por mulheres, que faz com que eles procurem uma companheira, uma parceira sexual. Enfim, essa força sexual faz com que homens e mulheres sintam vontade de transar. Você já deve ter sentido essa força? JC.: É, eu entendo o que você fala. 18 P.: Essa energia sexual ganha mais força na adolescência, fazendo com que os garotos e as garotas tenham curiosidade pelo sexo, que descubram seu corpo, que sintam vontades que nunca sentiram antes. JC.: É, eu sei, mas só existe esse tipo de impulso? P.: Não, existe também uma força dentro de nós, força essa que está ai para nos defendemos, mas essa força, em determinados momentos, não temos controle sobre ela. Por exemplo, você se lembra que me contou que uma vez estava conversando com uma namorada sua, e um amigo seu ficou “tirando barato” da sua cara? JC.: Lembro. P.: Você contou também, que não conseguiu se segurar para bater nele fora da escola, e bateu nele na escola mesmo e se ferrou. JC.: É o que eu te falei: eu faço as coisas sem pensar e me ferro. Ás vezes tenho vontade de fazer algo, mas sei que não é certo e que vou me ferrar, e mesmo assim eu faço. P.: Entendo. Eu acho que você vai ter que aprender a lidar com isso. JC.: Uma terapia pode me ajudar a ser mais cauteloso? Assim, tipo não fazer as coisas sem pensar, não ficar brigando com todo mundo, não fazer tanta bagunça? P.: Eu acho que sim. Uma terapia pode ajudar a resolver seus problemas. JC.: Mas se eu não quiser fazer, eu não faço. P.: Tudo bem. Você é quem decide se vai querer ou não resolver seus problemas com a ajuda da terapia. JC.: Acho que não vou fazer não. P.: Tudo bem. Eu não posso obrigá-lo a fazer coisas que você não quer. JC.: É. (pausa). P.: Agora, eu queria falar um pouco sobre o que eu pude compreender pelos seus desenhos. (A psicóloga coloca os desenhos do D-E sobre a mesa). P.: Você se lembra desses desenhos? JC.: Lembro. P.: E das estórias que você contou? JC.: Lembro. P.: Neste primeiro desenho você contou que era uma fazenda, que você tinha duas filhas e que um dia apareceu um ladrão para assaltar a fazenda e te matou. JC.: E minha esposa e minhas filhas viveram felizes para sempre. P.: É, então eu pensei que você poderia estar me dizendo, através do desenho e da estória, que em algum momento da sua vida você passou por uma situação em que sentiu que foi muito agredido, que maltrataram você. JC.: Sem que isso tivesse acontecido, eu senti, é isso? P.: É, aconteceu algo que te feriu muito, que ficou muito chateado. JC.: Estou entendendo. P.: Eu pensei que esse sentimento de ter sido maltratado pudesse estar ligado à separação dos seus pais, que deve ter sido pra você muito difícil, pois você ainda era muito pequeno quando isso aconteceu, e acho que isso marcou muito você, pois é difícil para uma criança de 4 anos lidar com a separação dos pais. (JC. ficou muito angustiado, seu rosto passou a impressão de tensão e seus olhos ficaram marejados). P.: Acho, também, que ainda você não conseguiu aceitar a separação de seus pais, e que a separação deles o deixa muito triste. É difícil para você conviver com isso. (pausa). Essa experiência, que você viveu quando era um garotinho, significou pra você uma tristeza muito grande. Acho que você deve ter pensado: “meu mundinho cor-de-rosa acabou, o que vai ser de mim, sem papai e sem mamãe juntos?”. JC.: É, eu não sei, eu não me lembro. 19 P.: Mas hoje você vai ter que aprender aos poucos conviver com a separação de seus pais, numa boa. .Sei que vai ser um caminho muito difícil, mas acho que você pode conseguir. JC.: É. (Parece estar muito triste e pensativo). P.: Acho que para você é muito difícil essa separação, pois se você fica com sua mãe, você sente falta de seu pai, se você fica com seu pai, você sente falta de sua mãe. Isso deve ser muito difícil. JC.: É. (pausa). P.: Que bom seria que papai e mamãe ficassem juntos, assim você não sentiria a falta de um quando estivesse com o outro. Assim não precisaria escolher com quem ficar, já que você gosta muito de sua mãe e de seu pai. JC.: É. P.: Mas a vida nem sempre é como a gente gostaria que fosse. JC.: É. P.: Como eu disse, você vai ter que aprender a conviver com a separação de seus pais. (Neste momento, parece que JC ia falar algo). P.: Você quer falar alguma coisa? JC.: Eu não sei. P.: Você está pensando em alguma coisa que tem a ver com o que eu disse? JC.: É, não é nada, deixa pra lá. (pausa). P.: Agora vou falar sobre este segundo desenho. JC.: Tá bom. P.: Você se lembra da estória? JC.: Do carro que eu construí com muito esforço. P.: É, eu acho que, depois da separação de seus pais, você teve que mudar de vida. Faça de conta queesse carro aqui, o antigo, era sua vida com seus pais juntos; e esse outro carro aqui, a vida que você construiu para viver com a separação de seus pais. JC.: Sei. P.: Então, foi com muito esforço que você conseguiu viver com a separação de seus pais. Foi com muito sofrimento que você teve de fazer algumas modificações na sua vida para conseguir viver com a separação deles. Só que esse carro que você reformou já está defasado; como você disse, “ele ficou antigo, pois vieram os carros de luxo”. JC.: Eu não disse isso, não. Reformei meu carro e ele ficou bom e não ficou antigo. P.: Sei, você acha, então, que como você está, como você se sente em relação à separação de seus país, está bom. JC.: É eu não sei... não, o carro precisa de reformas, só que eu não falei da estória em que o carro tinha ficado antigo porque vieram os carros de luxo; falei só que eu tinha construído com muito esforço o meu carro. P.: É, eu sei que foi muito difícil e foi com muito esforço que você construiu seu carro. Acho, também, que este desenho pode estar dizendo que houve um momento na sua vida em que você teve de tomar conta de si mesmo, de crescer sozinho, e que você é uma pessoa com muitas capacidades para crescer, para viver. JC.: E esse desenho aqui, do homem que foi baleado? P.: Eu pensei que este desenho poderia estar falando sobre como você sente que o mundo, as pessoas te machucam, te fazem ficar triste. JC.: Sei. P.: E quando você se sente assim, magoado, ferido, o que você faz? JC.: Eu não sei. 20 P.: Eu acho que você se sente muito triste, e se critica muito. Fica achando que você não presta, que só faz coisas erradas. Por exemplo, quando você fez o teste de inteligência, você achou que era burro e ficou muito triste. JC.: É, eu acho que é assim mesmo, não sei. P.: É, eu acho também que, além disso, em outros momentos, você se faz de forte, não deixa ninguém perceber que não está bem. É como se tivesse um hotdog gigante. (Ambos olham o desenho do hotdog) JC.: (rindo). Um hotdog gigante! P.: Você sente que tem um super hotdog de aço inoxidável, que ninguém pode destruir. JC.: Tem vez que eu não dou o braço a torcer. E este aqui da Mata Atlântica? P.: O que você acha que este desenho poderia estar falando de você? JC.: Eu não (...), eu não sei. P.: Eu penso que este desenho poderia estar falando da sua sexualidade. Lembra-se de quando você falou que o menino foi à escola e que se perdeu, porque quis se aventurar? JC.: Lembro. P.: Eu acho que a sexualidade, para você, deve ser como a Mata Atlântica: causa interesse e curiosidade, mas também é perigosa, pois o menino se perde. Como assim? Você deve ter curiosidade de saber como é uma relação de homem com mulher, e como é uma relação de homem com homem. Como será? Será certo, errado, ruim, bom? Por exemplo, você me falou que assiste filmes pornô, que mostra interesse pelo sexo. JC.: É. P.: Então, você não fica pensando que o que aparece nos filmes é real? Acontece mesmo entre homem e mulher, e se acontece é bom? JC.: Ah, não. Não é assim, eu não fico pensando sobre isso que você falou, eu já sei de tudo. P.: Sabe de tudo? JC.: É, eu já sei como é a relação de homem com a mulher, já sei que é bom e como se faz. P.: E como você aprendeu? Posso saber? JC.: É, você sabe como a gente aprende isso; só há um jeito, você sabe. P.: Eu não sei. As pessoas aprendem sobre sexo de formas diferentes. JC.: Eu já... Eu já... Como eu posso falar?... P.: Você quer dizer que já transou? JC.: É. P.: E quando foi? JC.: A menina hoje tem 16 anos. Ela tinha 13 e eu 9 anos, e aí a gente fez. P.: Fez? JC.: Transou. P.: E como foi essa experiência pra você? JC.: Foi bom. Então, eu já sei como é, não fico pensando sobre como será. P.: Uma experiência sexual de garoto não pode ser diferente da de um homem? JC.: É tudo igual, sexo é tudo igual. (pausa). P.: Eu acho, também, que a mata pode estar representando a entrada na adolescência. Um mundo novo e desconhecido, cheio de emoções. Mas, apesar de algo novo, muito legal, há momentos em que crescer pra você é muito difícil, ser adulto é muito difícil pra você, ter responsabilidades. Como você disse, é muito chato, ser adulto é muito chato. Você não disse que queria ser um adulto-criança? JC.: É, eu disse. 21 P.: Então, ao mesmo tempo em que você quer crescer, ser um homem, há momentos em que isso lhe causa muito medo, e você pensa se não seria melhor ser criança e ficar com a mamãe, feliz para sempre. JC:. Esse foi o final da estória. P: É, acho que quando as coisas ficam difíceis, você prefere ser criança e ficar protegido pela sua mãe. JC.: Eu sempre converso com minha mãe. Eu não vou mais fugir de casa, isso é coisa de criança. Eu vou ficar e enfrentar essa acusação. Não fiz nada mesmo, estou sendo acusado injustamente. P.: É isso ai; quem não deve, não teme. JC.: Hoje é o último dia? P.: É. O que você acha? JC.: A terapia começa quando? P.: Acho que só no ano que vem. JC.: Eu vou fazer terapia, pode me... me... P.: lnscrever? JC.: É, eu quero fazer. P.: Então tudo bem. Nosso tempo está acabando, e eu gostaria de saber se você tem mais alguma dúvida. JC.: Não. P.: Então, eu vou te inscrever para terapia... JC.: Tudo bem. (Segue-se um rápido diálogo de despedida e de continuação da entrevista devolutiva com os pais). Essa entrevista foi apresentada praticamente na íntegra, por tornar possível a observação de que houve um trabalho de elaboração mental por parte do menino, de que a entrevista devolutiva foi evolutiva e de que utilizar o Procedimento de D-E contribuiu grandemente para isso. O paciente pôde fazer uso da oportunidade que lhe foi oferecida para concluir algo a seu respeito, inclusive quanto à discriminação de benefícios que um trabalho subseqüente poderia lhe trazer. José Carlos identificou as próprias associações, solicitou interpretações, deu-as ele mesmo e relacionou-as com situações de sua vida, com experiência intimas, com a percepção de que existem confusões internas que ele necessita desfazer, concluindo que a ajuda de um profissional pode lhe ser de alguma valia. Uma vez que esse trabalho foi realizado, o D-E cumpriu sua função no momento e respondeu a uma necessidade que precisava ser atendida. Com o desenvolvimento desse menino, pode ser novamente utilizado para dar conta de situações futuras. Cabe notar, também, que a sensibilidade da pessoa que o atendeu, que não se opôs, mas sim acolheu suas dúvidas e questionamentos, contribuiu valiosamente para o desenrolar da entrevista. Desde sua concepção, em 1972, o Procedimento de D-E conserva a característica principal de ser uma técnica diagnóstica. As muitas pesquisas já realizadas assim o confirmam, sendo que seu uso se ampliou em termos da idade das pessoas às quais pode ser aplicado. Atualmente, é usado livremente com adultos, e não mais só com crianças e adolescentes. Muitas são as atuações clínicas nas quais se pode recorrer ao uso do Procedimento de D-E, e que estão ainda disponíveis para pesquisas mais completas. Quando se fazem necessários diagnósticos breves, por exemplo, a agilidade desse instrumento facilita sua realização. Assim, podem- se considerar demandas relacionadas com dificuldades na escolha de profissão, na área de orientação vocacional, que requerem uma resposta rápida, mas nem por isso menos cuidadosa. O fato de o D-E trazer à tona conflitos, assim como recursos do indivíduo, permite que se discrimine, pelo menos, quais são os aspectos do funcionamento mental que necessitam de atenção específica,
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