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1 OS CONTRATOS ELETRÔNICOS SOB A ÓTICA DA REALIDADE BRASILEIRA Bárbara Lisley Nunes Rocha Faculdade Comunitária de Manhuacu - DOCTUM Bacharelado em Direito 30/10/2014 RESUMO: O presente artigo sem a pretenção de esgotar o tema , tem como principal finalidade apresentar de maneira objetiva e concisa os contratos eletrônicos da contemporaneidade, bem como abordar as normas e procedimentos de natureza processual-adjetiva referentes a competência territorial para dirimir eventuais conflitos advindos dessa relação jurídica contratual . Portanto, pretende-se ressaltar algumas concepções desde a Constitucionalização do Direito Civil , tendo como propósito fim , enfoque nos contratos eletrônicos e princípios ; juntamente com o código de defesa do consumidor e sua atuação no exterior, contribuíndo assim , no conhecimento tecnico dos contratos via e-commerce . Palavras-chave: Contrato Eletronico; Direito Contratual ; Direito do Consumidor . ELECTRONIC CONTRACTS UNDER THE PERSPECTIVE OF BRAZILIAN REALITY ABSTRACT: This paper without the pretense of exhausting the topic, whose main purpose is to present an objective and concise way of contemporary electronic contracts, as well as addressing the standards and procedures of adjective-procedural nature relating to territorial jurisdiction to settle any disputes arising this contractual legal relationship. Therefore, it is intended to highlight some concepts from the Constitutionalization of civil law, with the end purpose, focusing on electronic contracts and principles; along with the code of the consumer and their overseas activities, thus contributing to the technical knowledge of contracts via e-commerce. Keywords: Electronic Contract; Contract Law; Consumer Law. 2 1 INTRODUÇÃO Com o surgimento da Internet, instrumento habitualmente social , econômico e jurídico , as interações entre as pessoas tornaram-se muito mais “ágeis” e eficientes. Foi através deste recurso, que surgiu o contrato eletrônico , que é considerado uma nova técnica contratual existente no mercado atual. A celebração de negócios por meio da rede mundial de computadores, que, conforme a concepção majoritária de doutrinadores contemporâneos, não é um novo tipo de contrato e sim uma nova técnica de formação dos mesmos, é o mais recente e prático método de integralização da tecnologia , com o comércio brasileiro e internacional. Que cosconserva-se no entanto os princípios, elementos e requisitos essenciais dos contratos convencionais. Entretanto, a atual relação contratual “online” , traz muitas dúvidas relacionadas a certos pontos, tais como, a proteção do consumidor , a assinatura digital, o correio eletrônico e principalmente a privacidade de dados. Juntam-se a estas, a questão da validade como instrumento de prova em juízo, que é problema da jurisdição para dirimir eventuais conflitos. Para que se possa compreender e acompanhar essa contínua evolução da realidade contratual, faz-se necessária uma nova maneira de interpretar os conceitos tradicionais, de modo a permitir que a hermeneutica contemporânea acolha esses desafios cada vez mais complexos. O presente estudo visa, justamente, o entendimento dessa nova casualidade, em especial no que se refere aos contratos eletrõnicos na contemporaneidade e competências em quesito territorial para suprimir futuros conflitos, por meio da reflexão sobre antigos dogmas e exigências dos contratos tradicionais tambem conhecidos como contratos de “ papel” . 3 2 A RELAÇÃO CONTRATUAL SOB NOVA ÓTICA CIVIL-CONSTITUCIONAL Atualmente , com a era da globalização e a intensa massificação contratual, findou- se o conceito tradicional de contrato bem como a sua essencia. Nessa fase de pós- modernidade vive-se uma dubiedade: ora uma certa insegurança quanto ao seu procedimento legal, ora uma hiper certeza, praticidade em sua adaptalidade que justifica a edição de normas mais rígidas. Verifica-se, pois, uma desestruturação, negação dos modelos tradicionais, crises paradigmáticas, desmistificação dos conceitos tradicionais, que passam a ser interpretados de acordo com uma nova ótica constitucionalizante. Essa contingência se traduziu no aumento do volume de leis e sua especialização. As relações negociais conjuntas com o comércio exterior e, interno, fez com que diversos institutos jurídicos brasileiros se modernizassem para se adaptar as novas exigências sociais. O contrato, sob o ponto de vista econômico, por exemplo, passou de “instrumento da propriedade” para “instrumento da empresa”. Busca-se, então, uma harmonização do sistema. O jurista preocupa-se em identificar no ordenamento jurídico um novo centro para o entendimento do Direito Civil. É justamente neste ambiente que surge a preocupação com as possibilidades negociais trazidas pela Internet. Preocupação que se justifica na exata medida em que este novo campo de atuação dos indivíduos traz uma nova série de conceitos e complexidades, que desafiam os operadores jurídicos. Dentre a problemática sobretudo, ressalta-se a imprescindível observância ao princípio da dignidade da pessoa humana (artigo 1º, III, CR/88), valor fundamental a ser realizado pelo ordenamento jurídico. Assim sendo, todas as normas de hierarquia infraconstitucional só podem ser lidas em função dos princípios que com ela se relacionem, sublinhando-se como de exponencial importância para o que aqui concerne – por sua incidência também no Código Civil e no Código de defesa do Consumidor – os princípios da solidariedade social (art. 3º, I), da prevalência do bem comum (art. 3º, IV), da igualdade (art. 5º, caput) e o princípio da proteção da confiança, deduzindo do ordenamento constitucional. 1 1 COSTA, 1992, p. 138. 4 O direito civil não deve apenas flexibilidade as normas Constitucionais mas também aos principios implicitos e explicitos nela contidos . A proteção da propriedade, da empresa, a execução dos contratos se dá enquanto instrumentos de proteção à dignidade humana e de justiça social. A expressão Direito Civil Constitucional quer apenas realçar a necessária releitura do Direito Civil, redefinindo as categorias jurídicas civilistas a partir dos fundamentos principiológicos constitucionais, da nova tábua axiológica fundada na dignidade da pessoa humana (art. 1º, III), solidariedade social (art. 3º, III) e na igualdade substancial (arts. 3º e 5º). Ou seja, a Constituição promoveu uma alteração interna, modificando a estrutura, o conteúdo, das categorias jurídicas civis e não apenas impondo limites externos.2 . Esta modificação no critério hermenêutico que perpassa o Direito Civil, segundo os preceitos constitucionais, importa em estabelecer novos parâmetros para a definição de ordem pública, relendo o direitocivil, de maneira a privilegiar, a transição das relações negociais-contratuais tradicionais para o mercado eletrõnico , de forma a estabelecer maior segurança jurídica aos consumidores envolvidos no novo mercado online. 3 OS CONTRATOS ELETRÔNICOS E O DIREITO CIVIL NA CONTEMPORANEIDADE O contrato eletrônico é a manifestação jurídica do comércio eletrônico, que significa em sua essência, deslocamento de bens e serviços realizados mediante o E-commerce ( meio utilizado, para combinar e otimizar todas as tecnologias de comunicação disponíveis para o desenvolvimento do comércio).3 Com a popularização da Internet em todo o mundo, criou-se um novo tipo de estabelecimento comercial, o virtual. Este tipo de estabelecimento é diferente dos demais, pois não há presença empresarial física, e o consumidor ou adquirente de bens e serviços tem acesso aos mesmos, somente por transmissão eletrônica de dados. 2 FARIAS; ROSENVALD, 2007, p.27 3 GLANZ, , p. 70-75. 5 Segundo o Código Civil Brasileiro em seu art 1.142, é considerado estabelecimento “ todo complexo de bens organizado, para o exercício da empresa, por empresário ou por sociedade empresária “. Existem três tipos de estabelecimento virtual segundo Fábio Ulhoa: � O B2B, que vem da expressão business to business, neste tipo de estabelecimento virtual os internautas compradores que acessam são também empresários, ou seja, serve para os empresários comprarem materiais para seus estabelecimentos comerciais. � O B2C, que vem da expressão business to consumer, os internautas que acessam esse tipo de estabelecimento virtual são consumidores. � O C2C, que deriva da expressão consumer to consumer , os negócios são feito entre internautas consumidores, e o empresário responsável pelo estabelecimento virtual, apenas interrnedia a negociação. Ë importante ressaltar que os contratos celebrados por estabelecimentos virtuais B2B, são regidos pelo Código Civil. Já os celebrados pelo Estabelecimento virtual B2C, são regidos pelo Código do Consumidor e no caso dos C2C, as relações entre o empresário titular virtual do estabelecimento virtual e os internautas são regidos pelo Código do Consumidor, mas o contrato celebrado entre esses últimos serão regido pelo Código Civil. A principal característica do contrato eletrônico é a inexistência do contrato (forma escrita) propriamente dito, ou seja, houve a “desmaterialização” onde este contrato exerce um papel secundário nesse tipo de relação. O recente modelo de relação contratual é realizada sem o contato entre as partes, ou seja, não há a “pessoalidade” no uso do mesmo computador entre duas partes, houve a “despersonalização”, uma vez que ambos podem utilizar de diversos meios eletrônicos, e podem ajustar-se a propria maneira para celebração do contrato. 6 3.1 PRINCÍPIOS QUE NORTEAM OS CONTRATOS ELETRÔNICOS No Direito Contratual são vários os princípios utilizados entre eles temos: � A AUTONOMIA DA VONTADE: que é o principio pelo qual se permite aos contratantes, capazes, de gozar de liberdade para acordarem sobre o objeto, lícito, e os termos do contrato, desde que respeitem a função social do contrato. � A SUPREMACIA DA ORDEM PÚBLICA: este princípio figura como limitação à liberdade de contratar, ou seja, quando houver conflito entre o interesse público e o interesse particular das partes, deve prevalecer o interesse público. Art 2.035 do Código Civil . � O CONSENSUALISMO: o referido princípio diz que para a consumação do contrato basta o acordo de vontades, ou seja, quando a lei não estabelecer forma solene para a formação do contrato, qualquer forma que possa caracterizar a exteriorização da vontade de ambas as partes é suficiente para a formação do contrato. Este princípio é importante para os contratos eletrônicos, visto que a forma eletrônica para a celebração do contrato é permitida desde que a lei não exija forma solene para sua celebração. � A RELATIVIDADE DAS CONVENÇÕES: os contratantes possuem certa liberdade e, conseqüentemente, o contrato se tornará lei entre as partes. � A FORÇA VINCULANTE: O princípio da força vinculante das convenções consagra a idéia de que o contrato, uma vez obedecidos os requisitos legais, torna-se obrigatório entre as partes, que dele não se podem desligar senão por outra avença, em tal sentido. Pacta Sunt Servanda. 7 � A ONEROSIDADE EXCESSIVA: pois garante uma equidade posterior à celebração do contrato. Ele parte da idéia de que nenhuma das partes pode prever qualquer intempérie que possa tornar o contrato extremamente oneroso. � A BOA –FÉ: O contrato nada mais é do que uma conversão das vontades das partes em acordarem, visando-a um fim em comum. Posto isto, se torna lógico que exista um pressuposto para ambas as partes, qual seja, a boa-fé com relação aos termos do contrato. A boa-fé divide-se em objetiva e subjetiva. A boa-fé subjetiva é aquela oriunda do psicológico do sujeito, e no caso da boa-fé objetiva não existe a necessidade de se buscar a intenção do sujeito, seu estado psicológico. Contenta-se em vislumbrá-la nas atitudes, na forma exteriorizada da vontade, tratando-se de uma norma comportamental. 4. CONTRATOS ELETRÔNICOS SOB A ÓTICA DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR Os contratos eletrônicos de consumo são aqueles celebrados em uma relação entre consumidor e fornecedor (relação de consumo), utilizando-se de meios eletrônicos, principalmente da Internet. Sendo uma relação de consumo virtual, a ela se aplicam todos os requisitos e princípios norteadores de uma contratação tradicional, ou seja, aplicam-se os princípios da Publicidade, da Vinculação, da Veracidade, da Não-Abusividade, etc. Diante de uma pluralização das transações comerciais e contratuais, é mister a necessidade de uma norma específica que regulamente e proteja o direito dos consumidores. No nosso ordenamento jurídico atual, não encontramos normas especificamente voltadas para o e-commerce, entretanto o Código Civil e o Código de Defesa do Consumidor, são capazes de sanar quase que na totalidade as divergências e conflitos pertinentes ao tema. A grande maioria dos contratos eletrônicos de consumo é celebrada através de contratos já pré-estabelecidos, onde não há possibilidade do consumidor discutir com o 8 fornecedor as cláusulas contratuais. São os chamados Contratos de Adesão, onde o consumidor dirige-se à loja virtual, adquirindo produtos ou serviços com imposições já definidas. Em caso de existirem cláusulas abusivas, típicas de contratos de adesão, aplica-se o estabelecido no art. 51 do CDC. No que tange ao direito de arrependimento, o consumidor também está amparado pelo Código de Defesa do Consumidor. O art 49 do CDC aduz que: O consumidor pode desistir do contrato, no prazo de 07 (sete) dias a contar de sua assinatura ou do ato de recebimento do produto ou serviço, sempre que a contratação de fornecimento de produtos e serviços ocorrer fora do estabelecimento comercial, especialmente por telefone ou a domicílio. (...) Os contratos eletrônicos de consumo, muitas vezes são celebrados através de sites internacionais, entretanto a proteção do consumidor deixa a desejar devido aos conflitos inerentes as legislações que regulamentam as relações tanto no exterior quanto no brasil 5. COMPETÊNCIA TERRITORIAL PARA RESOLUÇÃO DE CONFLITOS DOS CONTRATOS ELETRÔNICOS Em decorrência das atividades e negociações entre empresas e pessoas,e do aumento exponencial deste mercado, faz-se necessária uma devida abordagem dos meios legais para resolver os impasses consequentes do cumprimento do contrato, bem como da lei aplicável, para garantir os direitos do consumidor . Apesar de toda insegurança e desconfiança típica das ofertas virtuais, o brasileiro está se habituando a comprar via internet. Compra-se de livros a um imovel. Tal como no comércio tradicional os conflitos são inevitáveis na seara virtual. Porém a diferença reside, que nele o comprador pode retornar a empresa e reclamar sobre o bem adquirido, enquanto que neste, as reclamações também são virtuais. E não raro o vendedor eletrônico não ser mais encontrado após a venda. O ramo que disciplina o comércio é o Direito Comercial, sendo que o comércio eletrônico não se restringe apenas à compra e venda de mercadorias, mas também à aquisição de serviços por via eletrônica. Nestes casos, a relação deve ser regrada pelo 9 Direito Civil ou, quando estiver presente uma relação de consumo, pelo Direito do Consumidor. E, ainda, quando o comércio eletrônico ocasionar o cometimento de infrações penais, como normalmente é o caso da invasão de privacidade, difamação, calúnia, o Direito Penal será o Direito cabível para dirimir o conflito. Portanto, ora o comércio eletrônico é disciplinado pelo Direito Comercial, ora pelo Direito Civil, ora pelo Direito Internacional, ora pelo Direito do Consumidor, e assim por diante. Deve-se observar ainda, a Medida Provisória 2.200/2001, que foi criada para regular as relações jurídicas do comércio eletrônico. A lei por vezes ,apresenta várias lacunas, e o juiz, no momento da análise do caso concreto, não encontra no corpo das leis um preceito que solucione o problema, logo poderá utilizar de outros métodos para solucionar o conflito. Neste sentido a lei de Introdução ao Código Civil Brasileiro em seu artigo 4º dispõe que “quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais do direito”. Há divergencias ainda quanto ao foro competente dos contratos eletrônicos pelo Artigo 9º., da Lei de Introdução ao Código Civil, o foro será onde residir o proponente (quem oferta algo ) ou, conforme Artigo 111, do Código de Processo Civil, as partes podem escolher livremente o foro. No Brasil o Código de Defesa do Consumidor, para relações de consumo, elege o foro de domicílio do consumidor, mas este não é aplicável a outros países, por questão de soberania. Para doutrinadores, os contratos eletrônicos, sendo considerados contratos entre ausentes, o foro é o da residência do proponente. O Superior Tribunal de Justiça –STJ- definiu que, no caso da firma estrangeira com filial no Brasil, esta terá que responder pelos defeitos do negócio. Quanto a jurisdição dos contratos eletrônicos, as leis podem variar de jurisdição para jurisdição. Uma das formas de resolução é a obrigatoriedade da definição do foro de resolução dos conflitos e da legislação aplicável. Para o estudioso das relações virtuais de consumo , Ministro Ruy de Aguiar estes contratos somente têm valor quando utilizam os recursos criptográficos. Assim, além dos 10 requisitos gerais, os contratos eletrônicos têm que garantir a autenticidade, a integridade e a perenidade. Por sua vez, o Código de Defesa do Consumidor tem sua aplicação integral aos contratos eletrônicos. Caso a empresa possua sede no Brasil, esta poderá ser acionada no Brasil ou no país sede da empresa, pois está protegido pela Constituição Federal, Lei de Introdução ao Código Civil, normas de caráter processual e o Código de Defesa do Consumidor (Lei número 8.078/90). Em relação ao conteúdo dos contratos eletrônicos, é interessante notar que em geral eles se caracterizam pela predisposição de suas condições, especialmente quando celebrados on-line, através de homepages. Cabível, portanto, a aplicação do arts. 423 e 424 do Código Civil: Art. 423. Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente. Art. 424. Nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada do aderente a direito resultante da natureza do negócio. Art. 435. Reputar-se-á celebrado o contrato no lugar em que foi proposto”. Fazendo a interpretação do artigo supracitado temos que o negócio jurídico contratual reputa-se celebrado no lugar em que foi proposto, no mesmo local onde a proposta foi expedida, seja no território nacional, ou em território internacional (como dito anteriormente ). A Lei de Introdução ao Código Civil - LICC prescreve de forma semelhante em seu 4art. 9º, caput e § 2º, que a obrigação resultante do contrato reputa-se constituída no lugar em que residir o proponente, devendo ser aplicada a respectiva legislação; “Art. 9º - Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que constituírem. § 2º - A obrigação resultante do contrato reputa-se constituída no lugar em que residir o proponente”. 4 4 As regras de competência internacional se dão com vistas a garantir a soberania e a efetividade de suas decisões, ou seja, efetividade de executar aquilo que foi decidido. Também deve ser considerado no momento da fixação da competência nacional se a decisão importa à Nação, ou seja, se esta decisão é relevante, a conveniência e a viabilidade. Competência nacional pode ser concorrente com a de outra nação estrangeira, não havendo efeito de litispendência como ocorre quando as ações concorrentes se dão no território nacional (art. 90 do CPC). A outra hipótese é ser exclusiva, hipóteses elencadas no art. 89 do CPC. 11 Conclui-se que se o sítio estiver hospedado na Inglaterra, onde lá reside o proponente, e supomos que uma pessoa acesse o contrato do Brasil, o contrato aperfeiçoou-se naquele país, o que conseqüentemente submeterá o contrato à legislação inglesa. A localização dos servidores utilizados pouco importará nessa questão de competência territorial. Ainda no que diz respeito a este tópico, ressalta-se que o foro competente poderá ser deliberado pelas partes. Os contratantes têm liberdade para tomar esta decisão, podendo, entretanto, instituir o juízo arbitral (Lei nº. 9.307 de 1996) como forma preponderante de resolução de litígios. Essa possui exceções legais que são, a exemplo, no caso de relação de consumo, conforme dispões o artigo 101, inciso I, do Código de defesa do Consumidor a seguinte; “Na ação de responsabilidade civil do fornecedor de produtos e serviços, sem prejuízo do disposto nos Capítulos I e II deste título, serão observadas as seguintes normas: I - a ação pode ser proposta no domicílio do autor”; A lei é responsável po definir a competência contratual, ficando as partes incumbidas de escolher o foro competente quando a lei não o faz. Os casos de competência interna estão previstos nos artigos de 91 a 100 do Código de Processo Civil, onde se verifica a Competência em Razão do Valor e da Matéria, a Competência Funcional, a Competência Territorial. Quando se tratar de competência internacional, deve-se observar os artigos de 88, 89 e 90 do Código de Processo Civil como o já visto também o artigo 12 da Lei de Introdução ao Código Civil. Como se fará comum este tipo de competência territorial nos contratos eletrônicos, é necessário fazer um breve estudo do Código de Processo Civil, que disciplina a matéria da seguinte forma: “Art. 88. É competente a autoridade judiciária brasileira quando: I - o réu, qualquer que seja a sua nacionalidade,estiver domiciliado no Brasil; II - no Brasil tiver de ser cumprida a obrigação; III - a ação se originar de fato ocorrido ou de ato praticado no 12 Brasil. Parágrafo único. Para o fim do disposto no no I, reputa-se domiciliada no Brasil a pessoa jurídica estrangeira que aqui tiver agência, filial ou sucursal. 5 Art. 89. Compete à autoridade judiciária brasileira, com exclusão de qualquer outra: I - conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil; II - proceder a inventário e partilha de bens, situados no Brasil, ainda que o autor da herança seja estrangeiro e tenha residido fora do território nacional. Art. 90. A ação intentada perante tribunal estrangeiro não induz litispendência, nem obsta a que a autoridade judiciária brasileira conheça da mesma causa e das que Ihe são conexas”. Conclui-se apartir de então que, a autoridade será brasileira sempre que o réu, qualquer que seja sua nacionalidade, estiver domiciliado no Brasil, quando a obrigação tiver de ser cumprida no Brasil, mesmo se o proponente residir no exterior e nos casos que envolvem imóveis localizados no Brasil, bem como quando a demanda decorre de fato ou ato ocorrido no Brasil. Tais exceções se dão na forma de claramente proteger o consumidor residente no Brasil. Ultrapassadas estas exceções, o foro competente será o do país onde o contrato se constituiu, excluindo-se, portanto, a competência da justiça brasileira. Ressalta-se ainda que o direito contratual contemporâneo procura evitar o instabilidade, resguardando a eqüidade contratual. Nessa tônica, é necessário interpretar as normas do CC/2002 e do CDC, aplicáveis às transações realizadas na Internet, em consonância com os princípios da função social do contrato, da boa-fé e da proteção à parte mais vulnerável. 5 As regras de competência internacional se dão com vistas a garantir a soberania e a efetividade de suas decisões, ou seja, efetividade de executar aquilo que foi decidido. Também deve ser considerado no momento da fixação da competência nacional se a decisão importa à Nação, ou seja, se esta decisão é relevante, a conveniência e a viabilidade. Competência nacional pode ser concorrente com a de outra nação estrangeira, não havendo efeito de litispendência como ocorre quando as ações concorrentes se dão no território nacional (art. 90 do CPC). A outra hipótese é ser exclusiva, hipóteses elencadas no art. 89 do CPC. 13 5. CONCLUSÃO Nos contratos eletrônicos , são utilizadas várias fontes legais para determinar a sua validade, ou para resolver conflitos decorrentes deste tipo de contrato e em outras situações que se apresentam no decorrer da vigência de tal contrato. Diante dos argumentos expostos, o presente artigo, demonstra a possibilidade de aplicação da legislação brasileira vigente, em especial as normas que regulam os contratos em geral, aos contratos eletrônicos. Tais contratos são firmados utilizando a internet como meio de comunicação, tendo em vista que o contrato eletrônico não é uma nova modalidade de contrato, mas sim, um contrato como outro qualquer, efetivado de forma virtual, possuindo suas peculiaridades. Como ficou evidenciado, o contrato eletrônico preenche todos os requisitos e pressupostos aplicáveis aos contratos tradicionais, devendo ser tomados alguns cuidados quanto à segurança dos procedimentos pré-contratuais, tendo em vista a vulnerabilidade do ambiente digital. Questões como a assinatura eletrônica e a validade (e prova) dos documentos eletrônicos são de grande interesse para todos aqueles que pretendem estar aptos a compreender o fenômeno comercial do próximo milênio. Melhor regulamentação é necessária para estes aspectos do fenômeno do comércio eletrônico, de modo a garantir a segurança tão idealizada nessas operações (talvez através da significativa adoção da lei-modelo da UNCITRAL). Mas ao mesmo tempo em que se necessita de maior normatização, também deve- se deixar espaço para a criatividade comercial. Uma legislação inflexivel, engessaria o comércio eletrônico. Os contratos celebrados por meio eletrônico são perfeitamente válidos pela legislação brasileira em vigor, deve-se garantir apenas a inviolabilidade dessas mensagens. Neste sentido pode-se falar de uma face contemporânea do instituto do contrato, e da necessidade de sua adequação com a exigência de interpretação destes antigos institutos. O instituto do contrato, assim como o Direito civil está abrangido dentro de um ordenamento jurídico cujo fundamento de validade é a Constituição. Nesta medida possui, 14 o jurista, o dever de atender aos ditames da magna carta e passar a compreender o direito civil enquanto obediente às garantias constitucionais. As profundas mudanças pelas quais passou o instituto do contrato demonstram que se por um lado possui um sentido puramente econômico, também é instrumento de justiça social, obediente aos ditames constitucionais, garantidor da dignidade humana e possuidor de uma função social. De um modo geral, podemos concluir que o ordenamento jurídico brasileiro contempla normas que dão fundamento aos contratos eletrônicos como uma forma válida de firmar negócios jurídicos. É bem verdade que, em alguns casos, o profissional operador do direito se utilizará de mecanismos de interpretação e de integração da lei para justificar este posicionamento, mas, assim procedendo, certamente terá sucesso em comprovar que não há qualquer obstáculo legal que impeça a validade jurídica dos contratos celebrados através da rede mundial de computadores. 15 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ABNT- Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR ISO 9000/2000 - Sistema de Gestão da Qualidade: Fundamentos e Vocabulário. Rio de Janeiro, ABNT, 2004. AGUIAR JUNIOR, Ruy Rosado. Projeto do Código civil: as obrigações e os contratos. Revista dos Tribunais, São Paulo, v. 775, p. 18-31, maio 2000. BESSONE, Darcy. Do contrato: teoria geral. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 1997. BRASIL. Constituição (1988). 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