Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
O QUE SE ENTENDE POR AMPLA DEFESA E CONTRADITÓRIO, NA VISÃO O Art. 35 § 1º E 2º. DO DECRETO 4.346. Irineu Ozires Cunha, Maj QOPM, Chefe do SJD/DP Nossa Lei Maior situou os destacados princípios conjuntamente em seu Inciso LV, artigo 5.º: "Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e a ampla defesa, com meios e recursos a ela inerentes." O Princípio do Contraditório contém o enunciado de que todos os procedimentos e termos processuais, ou de natureza procedimental devem primar pela ciência bilateral das partes, e pela possibilidade de tais atos serem contrariados com alegações e provas. O art. 35, do Dec. 4.346, (Regulamento Disciplinar do Exército), captou a inteireza do 5º, LV, da Constituição Federal, no que concerne a ampla defesa e contraditório definindo que, para que o julgamento e a aplicação da punição disciplinar sejam feitos com justiça, serenidade e imparcialidade, e o punido fique consciente e convencido de que ela, a punição que sofreu, se infunde no cumprimento exclusivo do dever1, na preservação da disciplina e que o que se quer é a sua educação e da coletividade a que pertence, é necessário o processo disciplinar. Em seu § 1o afirma que nenhum castigo disciplinar será imposto sem que ao transgressor sejam assegurados o contraditório e a ampla defesa, entendendo, inclusive, por ampla defesa o direito de ser ouvido pela autoridade competente para aplicar a pena. De sorte que no § 2o dirimiu qualquer incerteza do que se entende por ampla defesa e contraditório não lhe podendo ser, em hipótese alguma, negado em qualquer tipo de processo administrativo militar, até mesmo naqueles em que a transgressão seja de natureza simples, esse inarredável direito. Portanto, deverá: I - ter conhecimento e acompanhar todos os atos de apuração, julgamento, aplicação e cumprimento da punição disciplinar, de acordo com os procedimentos adequados para cada situação; II - ser ouvido; III - produzir provas; IV - obter cópias de documentos necessários à defesa; V - ter oportunidade, no momento adequado, de contrapor-se às acusações que lhe são imputadas; VI - utilizar-se dos recursos cabíveis, segundo a legislação; VII - adotar outras medidas necessárias ao esclarecimento dos fatos; e VIII - ser informado de decisão que fundamente, de forma objetiva e direta, o eventual não-acolhimento de alegações formuladas ou de provas apresentadas. Segundo PORTANOVA, o contraditório tem duplo fundamento, afigurando-se tanto em seu sentido lógico, quanto político. O lógico é justamente a natureza bilateral da pretensão que gera a bilateralidade do processo. No político, tem-se, simplesmente, o sentido comum de que ninguém poderá ser julgado sem ser ouvido. Por isso mesmo nos processos administrativo o decreto estabelece que é um direito do militar o de ser ouvido em qualquer processo disciplinar. O contraditório é tido, portanto, como o princípio norteador do próprio conceito da função jurisdicional. No entanto, o texto constitucional foi claro ao expressar o seu alcance para fora do âmbito processual civil. Assim é que a bilateralidade passa a ser necessária, não apenas para os procedimentos judiciais, mas também para os administrativos, até por que esses pleitos com o advento da nova Carta ficaram jurisdicionalizados. Nesse mesmo debuxamento2, exsurge-se o Princípio da Ampla Defesa, que traduz a liberdade inerente ao indivíduo, em defesa de seus interesses, alegar fatos e propor provas. Neste aspecto, mostra-se evidente a correlação entre a Ampla Defesa e o Princípio do Contraditório, não sendo possível imaginar, falar-se em um sem pressupor a existência do outro – daí a men legis do inciso LV, do art. 5.º Constitucional, em reuni-los em um único dispositivo. A ampla defesa abre espaço para que o militar exerça, sem qualquer restrição, seu direito de proteção. Garanti-la nos processos da caserna, é preciso entender, não é uma prodicidade, generosidade, nobreza da autoridade que tem competência para punir, mas um interesse público. O direito de se defender é essencial a todo os envolvidos no processo. O Princípio da ampla defesa é aplicável em qualquer tipo de pendenga que envolva o poder punitivo. Não se concebe mais hoje, qualquer espécie de pena em que não se garantam mais os direitos dos envolvidos, até por que quando se apresentarem com a eiva da ilegalidade não resta outra alternativa, senão anulá-lo determinando que seja refeito e garantido os direitos de quem os reclama, e se possuídos de injustiça essa anulação extinguirá necessariamente a pena que se lhe aplicou. Os processos administrativos em geral, atraem a aplicação inexorável dos princípios constitucionais positivos, na medida em que são elementares para o funcionamento e a própria realização do Estado Democrático de Direito (art. 1.º, V, CF). Dessa maneira, não se poderia conceber justiça, serenidade e imparcialidade sem que houvesse essa harmonia que parte do pressuposto inquestionável de que o Contraditório e a Ampla Defesa são princípios inerentes à própria natureza do Estado Democrático de Direito e que são seus alicerces fundamentais. Como se vê, alguns princípios constitucionais, como os aqui estudados, trazem para si a própria natureza do Estado de Direito. A autoridade competente, no seu labor de realizar justiça, submete-se, em uma escala quantitativa relativamente menor, às diretrizes fundamentais do art. 5º, LV e do due processo of law, incluindo-se, aí os constitucionais inerentes aos princípios do Contraditório e da Ampla Defesa que, aliados ao do Controle Jurisdicional (inciso XXXV, art. 5.º, CF), estabelecem os limites de ingerência e fiscalização do Poder Judiciário em relação aos Processo Disciplinares, nas Organizações Militares, não de forma a restringir a autonomia das autoridades, mas de maneira a garanti-la coerentemente inserta dentro do Ordenamento Jurídico Democrático. Essa, a inevitável conscientização de todos aqueles que comandam e que têm sob sua autoridade toda uma comunidade de policiais-militares sequiosos de justiça, por que de seus atos ressalta a sua liderança cada vez mais sólida. Jamais devem escudadas sob o manto da disciplina e hierarquia aviltar os direitos dos policiais que justamente deles esperam serenidade, prudência e amparo.
Compartilhar