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Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ Prof Denise M Gerscovich Compressibilidade e Adensamento 25/10/11 1 PGECIVPGECIV COMPRESSIBILIDADE E ADENSAMENTO CONTEÚDO 1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................. 3 2. COMPRESSIBILIDADE .............................................................................................................. 4 2.1.1. Tipo de Solo .................................................................................................................... 6 2.1.2. Estrutura.......................................................................................................................... 6 2.1.3. Nível de Tensões ............................................................................................................ 7 2.1.4. Grau de Saturação .......................................................................................................... 8 2.2. HISTÓRIA DE TENSÕES .......................................................................................................... 8 3. ADENSAMENTO - ANALOGIA HIDROMECÂNICA ................................................................ 10 3.1. TEMPO DE CONSOLIDAÇÃO .................................................................................................. 12 3.2. MAGNITUDE DAS PORO-PRESSÕES ...................................................................................... 14 3.2.1. Solicitação Não Drenada Solicitação Drenada .......................................................... 15 3.2.2. Magnitude dos Acréscimos de Poro-Pressão .............................................................. 19 4. RECALQUES............................................................................................................................. 22 4.1. RECALQUE INICIAL ............................................................................................................... 25 4.2. RECALQUE PRIMÁRIO OU DE ADENSAMENTO ......................................................................... 27 4.2.1. Recalque Primário para Carregamentos Finitos........................................................... 33 4.3. RECALQUE SECUNDÁRIO ..................................................................................................... 35 5. TEORIA DE ADENSAMENTO OU CONSOLIDAÇÃO UNIDIMENSIONAL ............................ 42 5.1. SOLUÇÃO DA EQUAÇÃO DE ADENSAMENTO ........................................................................... 44 5.1.1. Porcentagem de Adensamento .................................................................................... 45 5.1.1.1. Excesso Inicial de PoroPressão Variável com a Profundidade ............................................ 52 5.1.2. Porcentagem Média de Adensamento: ........................................................................ 56 5.2. CURVA RECALQUE X TEMPO ................................................................................................ 61 6. ENSAIO DE ADENSAMENTO .................................................................................................. 64 6.1. ENSAIO CONVENCIONAL OU ENSAIO OEDOMÉTRICO .............................................................. 64 6.1.1. Procedimento de Ensaio ............................................................................................... 65 6.1.2. Parâmetros Obtidos ...................................................................................................... 65 6.1.2.1. Parâmetros Iniciais ............................................................................................................... 66 Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ Prof Denise M Gerscovich Compressibilidade e Adensamento 25/10/11 2 PGECIVPGECIV 6.1.2.2. Índice de Vazios Final (ef) .................................................................................................... 66 6.1.2.3. Coeficientes de Compressibilidade ...................................................................................... 67 6.1.2.4. Tensão Efetiva de Pré-Adensamento (‟vm ) ........................................................................ 69 6.1.2.5. Coeficiente de Adensamento (cv) ......................................................................................... 70 6.1.2.6. Exemplos de Resultados Experimentais .............................................................................. 76 6.1.2.7. Coeficiente de Compressão Secundária (C) ....................................................................... 79 6.1.2.8. Coeficiente de Permeabilidade (k) ........................................................................................ 81 6.2. ENSAIO DE ADENSAMENTO COM VELOCIDADE DE DEFORMAÇÃO CONSTANTE (CRS) ................ 83 6.2.1. Procedimento de Ensaio ............................................................................................... 88 6.2.2. Resultados Experimentais ............................................................................................ 89 6.2.2.1. Influência da velocidade dos Ensaios CRS .......................................................................... 90 7. CASOS PARTICULARES ....................................................................................................... 108 7.1. CARREGAMENTO NÃO INSTANTÂNEO ................................................................................... 108 7.2. CAMADAS DE ESPESSURA ELEVADA .................................................................................... 110 7.3. ADENSAMENTO UNIDIMENSIONAL COM GRANDES DEFORMAÇÕES ........................................ 113 7.4. O EFEITO DA SUBMERSÃO DE ATERROS ............................................................................ 115 8. ACELERAÇÃO DE RECALQUES .......................................................................................... 116 8.1. DRENOS VERTICAIS ........................................................................................................... 116 8.2. SOBRECARGA .................................................................................................................... 122 9. INTERPRETAÇÃO DE MEDIDAS DE RECALQUE ............................................................... 123 9.1. MÉTODO DE ASAOKA, (1978) MODIFICADO POR MAGNAN E DEROY (1980) ........................... 123 9.1.1.1. Resultado Experimental...................................................................................................... 126 9.2. MÉTODO DE ORLEACH ....................................................................................................... 131 10. INFLUENCIA DA AMOSTRAGEM ..................................................................................... 133 10.1. PROCESSO DE AMOSTRAGEM ............................................................................................. 133 10.2. PARÂMETROS DE COMPRESSIBILIDADE ............................................................................... 136 11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS RECOMENDADAS .................................................. 143 12. APENDICE I - SOLUÇÃO ANALÍTICA DA EQUAÇÃO DE TERZAGHI ........................... 144 13. APÊNDICE III– INTERPRETAÇÃO DO ENSAIO CRS ...................................................... 145 Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ Prof Denise M Gerscovich Compressibilidade e Adensamento 25/10/113 PGECIVPGECIV 1. INTRODUÇÃO Grande parte das obras de engenharia civil (prédio, pontes, viadutos, barragens, estradas, etc.) é assentada diretamente sobre o solo. A transferência dos esforços da estrutura para o solo é feita através de fundações rasas (sapatas, radiers) ou profundas (estacas, tubulões). No projeto geotécnico de fundações faz-se necessário avaliar se a resistência do solo é suficiente para suportar os esforços induzidos pela estrutura e, principalmente, se as deformações (recalques) estarão dentro dos limites admissíveis. Recalques diferenciais ou de magnitude elevada podem causar trincas na estrutura ou inviabilizar sua utilização. O Palácio de Belas Artes, na Cidade do México, é um caso clássico de recalque de fundação. Após sua construção, ocorreu um recalque diferencial de 2m, entre a rua e a área construída; o recalque geral desta região da cidade foi de 7m.. Um visitante, ao invés de subir alguns degraus para entrar no prédio, como estabelecido no projeto original, ele hoje tem de descer. A Figura 1.1 apresenta em esquema do que ocorreu com esta construção. Figura 1 Palácio de las Bellas Artes, na cidade do México. Recalque diferencial de 2m entre a estrutura e a rua1. 1 Lambe e Whitman, 1969 Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ Prof Denise M Gerscovich Compressibilidade e Adensamento 25/10/11 4 PGECIVPGECIV 2. COMPRESSIBILIDADE O solo é um sistema composto de grãos sólidos e vazios, os quais podem estar preenchidos por água e/ou ar. Quando se executa uma obra de engenharia, impõe-se no solo uma variação no estado de tensão que acarreta em deformações. A natureza das deformações pode ser subdividida em 3 categorias: deformações elásticas, plásticas ou viscosas. As deformações elásticas estão associadas a variações volumétricas totalmente recuperadas após a remoção do carregamento. Estas deformações causam em geral pequenas variações no índice de vazios. As deformações plásticas são aquelas que induzem a variações volumétricas permanentes; isto é, após o descarregamento o solo não recupera seu índice de vazios inicial. Já as deformações viscosas, também denominada fluência, são àquelas associadas a variações volumétricas sob estado de tensões constante. Essas deformações se devem a: deformação dos grãos individuais; compressão da água presente nos vazios (solo saturado); variação do volume de vazios, devido ao deslocamento relativo entre partículas. Considerando as faixas de tensões aplicadas pelas obras civis é razoável desprezar as parcelas relativas a compressão do grão individual e da água. Assim sendo, as deformações no solo ocorrem basicamente pela variação de volume dos vazios. Somente para casos em que os níveis de tensão são muito elevados, a deformação total do solo pode ser acrescida da variação de volume dos grãos. Define-se como Compressibilidade a relação entre a magnitude das deformações e a variação no estado de tensões imposta. No caso de solos, estas deformações podem ser estabelecidas através de variações volumétricas ou em termos de variações no índice de vazios. Dependendo da forma adotada, a compressibilidade do solo fica então definida a partir de diferentes parâmetros conhecidos como: módulo confinado (D) , coeficiente de variação volumétrica (mv), coeficiente de compressibilidade (av) e índices de compressibilidade (Cc, Cr, Cs). A Figura 2.1 mostra as diferentes formas de obtenção destes parâmetros. Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ Prof Denise M Gerscovich Compressibilidade e Adensamento 25/10/11 5 PGECIVPGECIV (a) (b) (c) Figura 2 Parâmetros de Compressibilidade Observa-se, ainda na Figura 2.1, que as curvas de compressibilidade não são lineares. Desta forma a magnitude dos parâmetros de compressibilidade dependerá da faixa de tensões de trabalho. Faz-se necessário, portanto na prática da engenharia, indicar os limites em termos de tensão efetiva inicial e tensão efetiva final e, neste trecho, calcular a tangente à curva. Uma vez determinado a compressibilidade do solo em função de qualquer um do parâmetros, é possível obter qualquer outro a partir das correlações apresentadas na Tabela 1. Tabela 1 - Parâmetros de Compressibilidade Módulo Confinado Coeficiente de Variação Volumétrica Coeficiente de Compressibilidade Índice de Compressão Módulo Confinado Coeficiente de Variação =H/Ho ’v ’v D’v / mv=1/D e ’v ’v e av=-e’v Cs e log’v log’v e Ci=-elog’v Cr Cc D v v D mv 1 D e av 1 0 D e C v c medio ( ) , 1 0 435 0 m Dv 1 mv v v m a ev v 1 0 m C ev c vmedio 0 435 1 0 , ( ) Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ Prof Denise M Gerscovich Compressibilidade e Adensamento 25/10/11 6 PGECIVPGECIV Volumétrica Coeficiente de Compressi bilidade Índice de Compressã o Os fatores que determinam a compressibilidade dos solos são: tipo de solo estrutura nível de tensões grau de saturação 2.1.1. TIPO DE SOLO A interação entre as partículas de solos argilosos (argilo-minerais) é feita através de ligações elétricas e o contato feito através da camada de água absorvida (camada dupla). Já os solos granulares transmitem os esforços diretamente entre partículas. Por esta razão, a compressibilidade dos solos argilosos é superior a dos solos arenosos, pois a camada dupla lubrifica o contato e portanto facilita o deslocamento relativo entre partículas. É comum referir-se aos solos argilosos como solos compressíveis. 2.1.2. ESTRUTURA A estrutura dos solos é um fator importante na definição da sua compressibilidade. Solos granulares podem ser arranjados em estruturas fofas, densas e favo de abelha (solos finos), conforme mostrado na Figura 3. Considerando que os grãos são admitidos como incompressíveis, quanto maior o índice de vazios, maior será a compressibilidade do solo. a e Dv 1 0 a e mv v ( )1 0 a e v v a C v c vmedio 0 435, C e Dc vmedio ( ) , 1 0 435 0 C e m c v vmedio ( ) , 1 0 435 0 C a c v vmedio 0 435, C e c v log Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ Prof Denise M Gerscovich Compressibilidade e Adensamento 25/10/11 7 PGECIVPGECIV Figura 3. Estrutura dos Solos Granulares Já os solos argilosos se apresentam segundo estruturas dispersas ou floculadas (Figura 4). Solos com estrutura floculada são mais compressíveis; com a compressão desses solos o posicionamento das partículas tende a uma orientação paralela (estrutura dispersa). Figura 4. Estrutura dos Solos Argilosos Devido a importância da estrutura na definição da compressibilidade dos solos, ensaios de laboratório para determinaçãodas características de compressibilidade devem ser sempre executados em amostras indeformadas. No caso dos solos granulares, de difícil amostragem, os ensaios devem ser realizados em amostras moldadas segundo o índice de vazios de campo. 2.1.3. NÍVEL DE TENSÕES O nível de tensões a que o solo está sendo submetido interfere na sua compressibilidade tanto no que diz respeito à movimentação relativa entre partículas, quanto na possibilidade de acarretar em processos de quebra de grãos. A Figura 5 ilustra a influência do nível de tensões. Nesta figura, quanto mais vertical é a tangente à curva, maior é a compressibilidade do material. Quando, por exemplo, um solo arenoso fofo é comprimido, as partículas vão se posicionando em arranjos cada vez mais densos, diminuindo a compressibilidade do solo. A medida que o nível de tensões é aumentado, elevam-se as tensões intergranulares acarretando em fraturamento e/ou esmagamento das partículas. Com a quebra de grãos, a compressibilidade aumenta sensivelmente. (a) fofa (b) densa (c) favo de mel (a) dispersa (b) floculada Argilo-mineral Camada dupla Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ Prof Denise M Gerscovich Compressibilidade e Adensamento 25/10/11 8 PGECIVPGECIV Figura 5. Curva Tensão-Deformação – solo arenoso Na maioria das obras de engenharia os níveis de tensão não atingem os patamares necessários para causar deformações ou quebra nos grãos. 2.1.4. GRAU DE SATURAÇÃO No caso de solos saturados, a variação de volume ocorre por uma variação de volume de água contida nos vazios (escape ou entrada). No caso de solos não saturados, o problema é mais complexo uma vez que, ao contrário da água, a compressibilidade do ar é grande e pode interferir na magnitude total das deformações. 2.2. HISTÓRIA DE TENSÕES No caso da utilização da curva e x log‟v (Figura 5c), observa-se, diferentemente dos outros gráficos (Figura 5a e b), uma mudança brusca de inclinação da tangente à curva de compressibilidade. Este fato se dá porque este tipo de gráfico permite observar claramente quando o solo muda de comportamento. No trecho inicial, de menor compressibilidade, o solo está, na realidade, sendo submetido a um processo de recompressão. No trecho seguinte, o solo está sendo carregado, pela primeira vez, para valores de tensão efetiva maiores do que os máximos que o depósito já foi submetido (Figura 6). Assim sendo, o limite entre os dois trechos é definido por um valor de tensão efetiva correspondente à máxima tensão efetiva que o solo foi submetido em toda sua história. A esta tensão efetiva dá-se o nome de tensão efetiva de pré- adensamento (‟m) Deformação Tensão Quebra de Grãos Arranjo Denso Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ Prof Denise M Gerscovich Compressibilidade e Adensamento 25/10/11 9 PGECIVPGECIV Figura 6. História de Tensões Na prática, a relação entre a tensão efetiva de pré-adensamento (’vm) e a tensão efetiva vertical de campo (’vo ) pode se dar de duas maneiras: ‟vm =‟vo Neste caso, o solo nunca foi submetido à uma tensão efetiva vertical maior a atual. Para esta condição diz-se que o solo é normalmente adensado e sua Razão de Pré-Adensamento (RPA) 2 ou OCR (“over consolidation ratio”), definida como sendo é igual à unidade. Durante a formação de um solo sedimentar, por exemplo, as tensões vão crescendo continuamente com a deposição de novas camadas e conseqüente o aumento da espessura do depósito. Para estes materiais, nenhum elemento foi submetido a tensões efetivas maiores do que as atuais. ‟vm >‟vo Neste caso, conclui-se que, no passado, o depósito já foi submetido a um estado de tensões superior ao atual. A Razão de Pré-Adensamento (RPA) será sempre maior do que 1 e a este material dá-se o nome de solo pré-adensado. Vários fatores podem causar pré-adensamento. A variação no estado de tensões ocasionado pela remoção de sobrecarga superficial, por exemplo, pode ser citada como uma das causas de pré-adensamento de um depósito. Esta remoção pode estar associada a um processo de erosão, à ação do homem ou mesmo o recuo das águas do mar. Outras causas de pré-adensamento podem estar relacionadas a variações 2 Na terminologia inglesa a RPA é denominado OCR („over consolidation ratio”) e Trecho de recompressão Trecho de compressão virgem log’v Tensão efetiva de pré-adensamento (’vm) Trecho de descarregamento vo vmRPA Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ Prof Denise M Gerscovich Compressibilidade e Adensamento 25/10/11 10 PGECIVPGECIV de poro-pressão (bombeamento, ressecamento superficial, etc) ou mesmo mudança da estrutura do solo por ação do tempo (fluência). 3. ADENSAMENTO - ANALOGIA HIDROMECÂNICA O solo é um material composto por grãos sólidos e vazios, os quais podem estar preenchidos por água e/ou ar. Quando todos os vazios estão preenchidos por água o solo é dito saturado. Quando um solo saturado é submetido a um carregamento, parte da carga é transmitida para o arcabouço sólido e parte é resistida pela água. A forma como esta divisão acontece na prática pode ser visualizada a partir da analogia hidromecânica apresentada na figura abaixo. A Figura 7(a) mostra um cilindro de solo saturado com uma pedra porosa no topo, que permite passagem de água. Considerando o arcabouço sólido como uma mola e a existência de uma válvula que regule a passagem de água é possível observar o comportamento das duas fases em separado. Quando uma carga é transmitida ao conjunto mola (solo) / água, as parcelas que serão resistidas, respectivamente, pela água e pelo arcabouço sólido irão depender da velocidade com que a água escapa. Imediatamente após a aplicação da carga (t = 0), toda a carga é suportada pela água. A medida que ocorre o escape da água (t = 0+), as cargas vão sendo transferidas para a mola, até que, ao final do processo (t = ), toda a carga passa a ser resistida pela mola, chegando-se a uma condição de equilíbrio. Nesta analogia, o deslocamento do pistão representa o recalque observado na superfície do solo devido à aplicação de uma tensão vertical. Define-se como Adensamento ou Consolidação o processo gradual de transferência de tensões entre a água (poro-pressão) e o arcabouço sólido (tensão efetiva). Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ Prof Denise M Gerscovich Compressibilidade e Adensamento 25/10/11 11 PGECIVPGECIV A Figura 8 apresenta esquematicamente o processo gradual de transferência de carga entre a mola (sólidos) e a água. Ao observar este processo através do modelo hidromecânico, verifica-se que a magnitude do deslocamento do pistão depende exclusivamente da compressibilidade da mola e não do conjunto mola + água. Respeitando-se a analogia, conclui-se portanto que a compressibilidade de um solo depende exclusivamente das Tensões Efetivas e não das Tensões Totais ( ). Figura 3.1 - Figura 7. Analogia Hidromecânica. (a) Modelo Real; (b) Modelo Físico; (c) Carga Aplicada com a Válvula Fechada (t=0); (d) Após Abertura da Válvula (t=0+); (e) Situação Final de Equilíbrio. u SOLO Pedra Porosa NA Mola (Solo) Pistão Válvula Água Pistão Válvula Fechada Água sob Pressão Pistão Válvula Aberta Mola Comprimida Pistão Água Força Água Escapando Força Força NA NA (a) (b) (c) (d) (e) Recalque Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ Prof Denise M Gerscovich Compressibilidade e Adensamento 25/10/11 12 PGECIVPGECIV Figura 8. Transferência Gradual de Carga Examinando-se ainda o gráfico da Figura 3.2, surgem outras questões adicionais: i) Em quanto tempo o equilíbrio é atingido? Em outras palavras, qual o tempo de consolidação da fundação? ii) Qual a magnitude do excesso inicial de poro-pressão? iii) Como a transferência entre a poro-pressão e a tensão efetiva ocorre ao longo do tempo? 3.1. TEMPO DE CONSOLIDAÇÃO Para responder a primeira questão é preciso avaliar as variáveis envolvidas no processo de transferência de carga. Quanto maior a velocidade de escape da água e menor o volume de água, mais rápido o adensamento ocorrerá; isto é: (3.1) Considerando que o volume de água que é expulso é proporcional à carga aplicada ( = força/área), à espessura da camada (H) e compressibilidade da mola/solo (m) e que a velocidade de escape3[2] depende da permeabilidade do 3[2] Segundo a Lei de Darcy, a velocidade de fluxo é definida como sendo v = k i , onde k é a permeabilidade e i o gradiente hidráulico (diferença de carga total / distância percorrida) Tensão Aplicada (F/A) tempo Água Mola t volume de água velocidade de escape Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ Prof Denise M Gerscovich Compressibilidade e Adensamento 25/10/11 13 PGECIVPGECIV solo (k) e do gradiente hidráulico (/H), pode-se rescrever a equação 3.1 da seguinte forma: (3.2) De acordo com a equação 3.2 o tempo de consolidação independe do carregamento aplicado e sua magnitude é proporcional à geometria e compressibilidade e inversamente proporcional à permeabilidade do solo de fundação. Ao contrário dos solos arenosos, solos com baixa permeabilidade e alta compressibilidade (solos argilosos), podem levar dezenas de anos para atingirem à condição de equilíbrio. Esta observação pode ser ilustrada pelos Exemplos 3.1 e 3.2. Exemplo 3.1 Considerando que a compressibilidade de um solo arenoso é 1/5 da compressibilidade do solo argiloso e o contraste de permeabilidade entre os dois materiais é de 10000 vezes, qual a relação entre os tempos necessários para que o adensamento ocorra nesses materiais, admitindo que a espessura da camada é a mesma? Solução: se então Exemplo 3.2 t H m k H H m k ( )( )( ) ( )( ) ( )( ) ( ) 2 areiailaarg ilaargareia ilaargilaarg areiaareia laarg areia km km kHm kHm t t 2 2 ilaargareia mm 5 1 00050000105 1 00010 . t t .t t k.k ilaarg areia laarg areia ilaargareia Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ Prof Denise M Gerscovich Compressibilidade e Adensamento 25/10/11 14 PGECIVPGECIV Uma camada de argila de espessura H atingirá 90% de consolidação em 10 anos. Quanto tempo necessário caso a espessura da camada fosse 4H? Solução: 3.2. MAGNITUDE DAS PORO-PRESSÕES No caso do modelo hidromecânico, apresentado na figura 3.1, quando um acréscimo de tensão vertical v (= Fv/área do pistão) é aplicado, gera-se um incremento de poro-pressão u. A distribuição de poro-pressão no interior do cilindro, inicialmente hidrostática, passa a não estar mais em equilíbrio e um regime de fluxo se inicia. A água flui pela válvula até retornar à condição de equilíbrio. Neste instante, todo acréscimo de tensão, resistido inicialmente pela água, foi totalmente transferido para o arcabouço sólido. Este processo de fluxo é denominado Transiente, já que a vazão varia ao longo do tempo; as vazões são inicialmente altas no início do processo e nulas ao final. Sendo assim, a magnitude das poro-pressões (u), também variável ao longo do tempo, é determinada pela soma de uma parcela correspondente ao seu valor inicial (u0) e uma parcela variável, gerada pela carga aplicada (u); isto é: )t(uuu 0 (3.3) No modelo hidromecânico da Figura 3.1, a poro-pressão inicial é hidrostática (u0= zp ), onde zp é a profundidade do ponto considerado e ao peso específico da água. Já o acréscimo de poro-pressão (vide Figura 3.2), este é t t m H k m H k H H se t anos t anos H H H H 4 2 2 2 4 4 2 16 10 160 ( ) Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ Prof Denise M Gerscovich Compressibilidade e Adensamento 25/10/11 15 PGECIVPGECIV inicialmente igual à tensão vertical aplicada (v =Fv/A), tendendo a zero, quando a condição de equilíbrio é novamente atingida. Em outras palavras: Para t = 0 u = v u = u0 + v Para t = t1 0 < u < v u = u0 + u(t1) Para t = u = 0 u = u0 3.2.1. SOLICITAÇÃO NÃO DRENADA SOLICITAÇÃO DRENADA Em muitos problemas práticos, é possível separar os efeitos de um carregamento no solo em 2 fases: 1) não drenada àquela que ocorre imediatamente após o carregamento, quando nenhum excesso de poro-pressão foi dissipado; ou melhor, quando nenhuma variação de volume ocorreu na massa de solo. Esta fase representa, no modelo da Figura 7, a hipótese da válvula de escape de água estar fechada. 2) drenada àquela que ocorre durante a dissipação dos excessos de poro-pressão ou, melhor, durante o processo de transferência de carga entre a água e o arcabouço sólido. Nesta fase ocorrem as variações de volume e ,consequentemente, os recalques no solo. A Figura 9 exemplifica como o solo responde a essas fases. Considere que uma camada de solo é solicitada por um acréscimo de carga (), aplicado instantaneamente em toda a extensão da camada. Um elemento A, localizado no interior da massa, sofre um acréscimo de tensão vertical v, que gera imediatamente um acréscimo de poro-pressão u. Como a variação de poro- pressão é idêntica ao acréscimo de tensão vertical (v), não ocorre, neste instante, nenhuma variação no valor da tensão efetiva vertical . Somente quando a água inicia seu processo de drenagem, ocorre a transferência entre os esforços Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ Prof Denise M Gerscovich Compressibilidade e Adensamento 25/10/11 16 PGECIVPGECIV resistidos pela água para o arcabouço sólido, aumentando o valor da tensão efetiva. Uma vez que o comportamento do solo é determinado pelo valor da tensão efetiva, subdividir a resposta do solo nessas 2 etapas (não drenada drenada) é bastante útil para a elaboração de projetos geotécnicos. No caso do exemplo da Figura 9 menores valores de tensão efetiva ocorrem ao final da construção enquanto que, para situações a longo prazo, observa-se um ganho de tensão efetiva. * Figura 9. (a) Modelo Analisado : Carregamento Uniformemente Distribuído. (b) Tensões no Elemento A - (b.1) Variação da Tensão Vertical Total ; (b.2) Variação da Poro- Pressão - (b.3) Variação da Tensão Efetiva Quando se estuda a estabilidade de uma obra, deve-se avaliar a capacidade do solo de resistir à determinada variação em seu estado de tensões. O projeto deve então ser elaborado considerando-se a situação mais desfavorável, a partir Solo SaturadoA Tempo Tempo Tempo Fase Drenada Fase Não Drenada to to+ v o v f u0 u+u v o v f v u=v v (b.1) (b.2) (b.3) (a) Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ Prof Denise M Gerscovich Compressibilidade e Adensamento 25/10/11 17 PGECIVPGECIV da comparação entre a resistência do solo com as tensões atuantes na massa. No caso de solos, a resistência não é uma grandeza fixa; isto é, a resistência é diretamente proporcional ao valor da tensão efetiva (Figura 10). Quanto maior for o valor da tensão efetiva maiores serão as tensões que o solo é capaz de suportar. Figura 10. Envoltória de Resistência Assim sendo, deve-se sempre estudar o problema para situações em que os níveis de tensão efetiva são os mais baixos. Nestes casos é comum utilizar a nomenclatura final da construção a longo prazo para definição do tipo de análise mais adequado. Nesta terminologia estão embutidos os conceitos: Resposta do Solo Tipo de Análise Fase Crítica Variação de volume por escape de água Transferência u Final de construção não drenada não não Longo prazo drenada sim sim Resistência ‟)Tensão Efetiva Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ Prof Denise M Gerscovich Compressibilidade e Adensamento 25/10/11 18 PGECIVPGECIV É importante ressaltar que nem sempre a situação final de construção (quando as tensões totais foram modificadas pelo carregamento e nenhuma transferência de esforços ocorreu entre as poro-pressões e as tensões efetivas) representa a condição mais desfavorável. Para situações de descarregamento, por exemplo, a variação de poro-pressão inicial é negativa. Neste caso a situação mais desfavorável é a longo prazo, quando menores valores de tensão efetiva e, portanto de resistência, ocorrem no solo, conforme mostrado na Figura 11. Figura 11. Esquema de Variação das Tensões Totais, Poro-pressões e Tensões Efetivas para uma Situação de Descarregamento Uniforme Um outro aspecto importante a ser ressaltado é que nem só a permeabilidade do solo (kalta - areia ; kbaixa - argila) determina quando a análise drenada ou não drenada representa a condição mais desfavorável. O tempo de carregamento; isto é, o tempo de construção, também deve ser observado. Solos arenosos, quando solicitados pela ações dinâmicas (“tempo de carregamento” infinitamente pequeno), terremotos por exemplo, geram poro-pressões Tempo Tempo Tempo Longo Prazo Fase de Construção to to+ v o v f uo uo-u v v max v min Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ Prof Denise M Gerscovich Compressibilidade e Adensamento 25/10/11 19 PGECIVPGECIV instantaneamente. Nestes casos, deve-se estudar a situação mais desfavorável (final de construção - não drenado ou a longo prazo-drenado). No caso de solos argilosos os tempos usuais utilizados para execução de obras são, em geral, suficientemente pequenos (comparados com a permeabilidade desses materiais), sendo sempre necessário avaliar a resposta mais crítica do solo. Em resumo, a definição da condição mais desfavorável depende do contraste entre a permeabilidade do solo e o tempo de carregamento: Permeabilidade do Solo Tempo de Carregamento Tipo de Análise baixa usual infinitamente alto Avaliar condição mais desfavorável Drenada alta usual infinitamente pequeno Drenada Avaliar condição mais desfavorável 3.2.2. MAGNITUDE DOS ACRÉSCIMOS DE PORO-PRESSÃO O acréscimo de poro-pressão para um carregamento infinito, uniformemente distribuído na superfície de uma camada de solo saturado (Figura 12), é igual ao acréscimo de tensão vertical aplicado pelo carregamento. Neste caso as deformações ocorrem exclusivamente na direção vertical, após a expulsão da água presente nos vazios. Este modelo representa uma condição de adensamento unidimensional (fluxo e deformações verticais). Figura 12.- Adensamento / Recalque Unidimensional v hor.=0 h=0 vert.0 v0 Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ Prof Denise M Gerscovich Compressibilidade e Adensamento 25/10/11 20 PGECIVPGECIV Para situações em que as deformações horizontais não são nulas (Figura 13) a magnitude dos acréscimo de poro-pressão pode ser calculada pela expressão sugerida por Skempton, em que: 313 ABu (3.4) onde A e B são denominados parâmetros de poro-pressão e 1 e 3 os acréscimos de tensão total nas direções principais maior e menor, respectivamente. Os parâmetros de poro-pressão podem ser calculados através de ensaios de laboratório, sendo que o parâmetro B varia de 0 a 1 em função do grau de saturação (S=0 B=0 e S=100% B=1) Figura 13. Exemplo de Casos que o Solo Apresenta Deformações Verticais e Horizontais No caso de problemas de carregamento vertical em solo saturado, em que as deformações horizontais são nulas a expressão de Skempton reduz-se a: (3.5) conforme demonstrado abaixo. Cálculo da Variação de Poro-pressão para a Condição de Adensamento Unidimensional Pela TE as deformações () na direções x, y e z são definidas pelas expressões abaixo, onde E é o Módulo de Elasticidade e o Coeficiente de Poisson, Solo Solo F (a) Sapata (b) Aterro u 3 1 Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ Prof Denise M Gerscovich Compressibilidade e Adensamento 25/10/11 21 PGECIVPGECIV )( E 1 )( E 1 )( E 1 yxzz zxyy zyxx sendo a deformação volumétrica a soma das deformações nas três direções: . zyxvol V V isto é, )(2)( E 1 zyxzyxvol zyxvol E )21( No caso do processo de adensamento unidimensional, as deformações no plano horizontal (direções x e y) são iguais e nulas. Considerando a igualdade das deformações, verifica-se que os acréscimos de tensão nas direções x e y são idênticos: yxyx xyyx zxyzyxyx )1()1( )( E 1 )( E 1e, como as deformações são nulas, determina-se a relação entre o acréscimo de tensão vertical (z) e os demais (x e y ): )1( 0)(0)( 1 0)(0)( 1 0 z zzxyy zzyxx yx E E O acréscimo de poro-pressão imediatamente após a aplicação do carregamento, ocorre na fase não-drenada, quando não houve nenhuma variação de volume do solo. Neste caso, o Coeficiente de Poison é 0,5, conforme demonstrado abaixo: Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ Prof Denise M Gerscovich Compressibilidade e Adensamento 25/10/11 22 PGECIVPGECIV 5,021 ] )1( 2[2] )1( 2[ 0)2(2)2( E 1 0 zzvol vol = Sendo assim, verifica-se que para a condição de adensamento unidimensional os acréscimos de tensão total são iguais em todas as direções ( zyx ) e iguais à carga aplicada. A magnitude da variação de poro-pressão, segundo a equação de Skempton, fica então reduzida a: )(BuABu 313 Como no caso de solos saturados B=1, tem-se que a variação da poro-pressão devido a um carregamento infinito, uniformemente distribuído na superfície de um solo saturado (), é, no instante inicial, idêntico à magnitude da carga aplicada. u 4. RECALQUES Na prática, os recalques () observados no campo podem ser subdivididos em três fases:inicial, primário e secundário, conforme mostrado na Figura 14. Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ Prof Denise M Gerscovich Compressibilidade e Adensamento 25/10/11 23 PGECIVPGECIV Figura 14. Evolução dos Recalques O recalque primário ou recalque de adensamento ocorre durante o processo de transferência de esforços entre a água e o arcabouço sólido, associado à expulsão da água dos vazios. Nesta fase, as variações de tensão total, aplicadas pelo carregamento e absorvidas pela água, vão sendo transmitidas para o arcabouço sólido, causando uma variação no valor inicial de tensões efetivas (vide Figura 8). Os recalques iniciais ou não-drenados ocorrem imediatamente após a aplicação de carga e são denominados não-drenados pelo fato das deformações ocorrem sem a expulsão de água; isto é, sem drenagem. Quando observa-se o modelo hidro-mecânico, apresentado na Figura 7, verifica-se que as deformações na mola (recalques) só ocorrem quando a água é expulsa do modelo. Este comportamento só é possível porque as deformações horizontais são nulas. Quando a largura do carregamento em relação à espessura da camada não é grande (carregamentos finitos, vide Figura 13), os recalques ocorrem tanto por deslocamentos horizontais do solo da fundação (recalques iniciais) quanto Inicial ou Não-drenado Primário ou de Adensamento Secundário tempo Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ Prof Denise M Gerscovich Compressibilidade e Adensamento 25/10/11 24 PGECIVPGECIV por expulsão de água (recalques por adensamento). Este comportamento é facilmente visualizado pela Figura 15. Em geral, esses dois tipos ocorrem simultaneamente, preponderando em determinadas condições um ou outro. Figura 15. Analogia Hidromecânica para a Condição de Deformação Lateral. (a) Recalque Imediato ou Não Drenado ; (b) Início Recalque de Adensamento; (c) Após Dissipação dos Excessos de Poro-Pressão Ressalta-se, portanto, que, tanto para o recalque imediato ou não drenado quanto para o recalque primário ou de adensamento, estes ocorrem devido a variações nas tensões efetivas, fisicamente observada através da deformação da mola. No primeiro caso, a tensão efetiva varia em função da existência de deformações laterais; já no segundo caso, os excessos de poro-pressão são transferidos para tensão efetiva durante o processo de escape de água. O recalque secundário ou consolidação secundária, também chamado de fluência, representado na Figura 14 como as deformações observadas no solo após o final do processo de adensamento, ocorre após as tensões efetivas terem se estabilizado. Isto é, ao contrário dos recalques imediato e de adensamento, a consolidação secundária ocorre mesmo com tensões efetivas constantes, pelo fato da relação entre o índice de vazios e tensão efetiva ser uma função do tempo. Pistão Pistão Válvula Aberta Pistão For ça Água Escapando For ça For ça NA Recalque Adensamento Recalque Inicial (a) (b) ( c) Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ Prof Denise M Gerscovich Compressibilidade e Adensamento 25/10/11 25 PGECIVPGECIV Segundo Ladd, as deformações durante a compressão secundária ocorrem pelo fato das partículas de solo, ao final do adensamento primário, estarem posicionadas em um equilíbrio instável. Assim sendo, estas continuam a se movimentar se restabelecer uma estrutura estável. Num tempo infinito, a compressão secundária tende a zero. Na maioria dos solos, a compressão secundária tem menor importância porque a sua magnitude é inferior à dos outros tipos de recalque, sendo por esta razão desconsiderada na maioria das análises. Em argilas muito plásticas e solos orgânicos o recalque secundário é significativo e deve ser incorporado no projeto. 4.1. RECALQUE INICIAL O recalque inicial ocorre em situações de carregamento finito. Nestes casos, após a aplicação da carga, o solo sofre tanto deformações verticais quanto horizontais. A existência de deformações horizontais faz com que a variação no estado de tensões, gerada pelo carregamento, seja transmitida em parte ao arcabouço sólido e em parte à água. Assim sendo, os excessos iniciais de poro- pressão gerados pelo carregamento não se igualam à variação de tensão vertical e uma variação da tensão efetiva ocorre imediatamente. Face a esta variação no estado de tensões efetivas, o solo varia de volume resultando em recalques denominados imediatos ou não drenados. Os recalques imediatos ou não drenados podem ser calculados executando-se o somatório das deformações verticais causadas pelas variações de tensão {} geradas pelo carregamento. No caso de um corpo elástico, com um carregamento aplicado na superfície, o recalque pode ser calculado pela integração direta das deformações verticais; isto é: Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ Prof Denise M Gerscovich Compressibilidade e Adensamento 25/10/11 26 PGECIVPGECIV (4.1) Nestes casos utiliza-se a teoria da elasticidade tanto para determinação das tensões induzidas quanto para o cálculo das deformações, as quais podem ser escritas de acordo com as equações abaixo (4.2) (4.3) (4.4) onde E é o módulo de elasticidade ou módulo de Young , o coeficiente de poisson e i as variações nas tensões na direção i. As soluções obtidas são então representadas por equações cujos termos são função da magnitude do carregamentoe dimensões da fundação. No caso de carregamentos circulares o recalque imediato pode ser expresso por: (4.5) onde q é a tensão vertical aplicada na superfície, R o raio da área carregada, E o módulo de Young e Ip(,x) um coeficiente de influência que depende do coeficiente de Poisson () e da distância horizontal ao eixo de simetria do carregamento (vide Figura 16). Desta forma esta expressão permite calcular os recalques não somente sob a área carregada, mas também em pontos mais afastados. Em geral o recalque na borda do carregamento é da ordem de 70% do recalque no centro. dz Z v 0 )( E zyxx 1 )( E zxyy 1 )( E xyzz 1 )x,(I E R q p Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ Prof Denise M Gerscovich Compressibilidade e Adensamento 25/10/11 27 PGECIVPGECIV Figura 16. Distribuição de Recalques sob Fundação Circular Flexível No caso de uma fundação circular flexível, aplicada na superfície, o recalque no eixo de simetria pode ser obtido diretamente pela expressão: (4.6) Para situações em que o carregamento é aplicado a uma determinada profundidade, os recalques tendem a ser menores. Nestes casos, coeficientes de correção são introduzidos nas equações acima (Budhu, 2000) 4.2. RECALQUE PRIMÁRIO OU DE ADENSAMENTO O cálculo de recalques gerados pelo adensamento primário é feito a partir da seguinte expressão: (4.7) onde e é a variação do índice de vazios, sendo eo e Ho o índice de vazios e espessura inicial da camada. A equação 4.7 baseia-se no fato de que os recalques ocorrem por uma variação no volume de vazios. Assim sendo, observando a Figura 4.4, o recalque pode ser escrito a partir da variação do índice de vazios, isto é: (4.8) ou melhor, X )( E R q 212 e )e( H o o 1 s v s v H H V V e Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ Prof Denise M Gerscovich Compressibilidade e Adensamento 25/10/11 28 PGECIVPGECIV (4.9) A equação 4.9 mostra, então, que o recalque é o resultado do produto da variação do índice de vazios e da altura de sólidos (Hs), a qual pode ser estabelecida em função das condições iniciais da camada, conforme demonstrado no conjunto de equações (4.10) Figura 17. Subdivisão de Fases (4.10) Assim sendo os recalques provenientes da variação do estado de tensões são diretamente proporcionais à variação do índice de vazios, já o termo Ho/(1+eo), da equação 4.7, representa a altura de sólidos, sendo considerado portanto uma constante nesta expressão. A estimativa da variação de índice de vazios é feita com base nos parâmetros de compressibilidade do solo, os quais correlacionam variações volumétricas com variações de tensão efetiva. Assim sendo, dependendo do parâmetro adotado para definir a compressibilidade do solo, a expressão para cálculo do recalque primário fica definida como: i) Coeficiente de Compressibilidade (4.11) ii) Coeficiente de Variação Volumétrica (4.12) eHH sv Hvo Hs água sólidos h Ho )e/(HH e H)e(HHeH então HeH H H AreaH AreaH V V e mas HHH oos sossoo sovo s v s vo s v o svoo 1 1 v v e a vv o o a )e( H 1 01 e a m v v v vvomH Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ Prof Denise M Gerscovich Compressibilidade e Adensamento 25/10/11 29 PGECIVPGECIV iii) Índice de Compressão No caso dos parâmetros de compressibilidade estarem definidos em função dos índices de compressão; isto é: (4.13) O cálculo dos recalques dependerá da faixa de tensões efetivas associadas ao projeto; isto é, da história de tensões do depósito. No caso de solos normalmente adensados (RPA ou OCR=1), a tensão efetiva de pré-adensamento, por definição, é igual à tensão efetiva vertical de campo. Nestes casos, qualquer acréscimo de tensão efetiva estaria associada a uma variação do índice de vazios prevista no trecho de compressão virgem, conforme mostrado na Figura 18. Neste caso o recalque é calculado a partir das seguintes expressões, dado que ’vf=’vo+’v: Figura 18. Solo Normalmente adensado (4.14) ou (4.15) ou (4.16) No caso de solos pré-adensados, o trecho da curva de compressibilidade a ser considerado dependerá dos limites das tensões envolvidas. Se a faixa de tensões estiver contida exclusivamente no trecho de recompressão; isto é, se ’vf <’vm (Figura 19) tem-se (’vf <’vm ) (4.17) v rrc log e CouCouC log ’v e ’vm = ’vo ’vf Cr Cc Cs vc o o logC )e( H 1 ]log[logC )e( H ofc o o 1 o f c o o logC )e( H 1 o f r o o logC )e( H 1 Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ Prof Denise M Gerscovich Compressibilidade e Adensamento 25/10/11 30 PGECIVPGECIV Caso a tensão efetiva vertical final ultrapasse a tensão efetiva de pré- adensamento; isto é, se ’vf >’vm (Figura 4.6b) tem-se (’vf <’vm ) (4.18) Quando esta situação ocorre, a tensão efetiva de pré-adensamento, que representa a máxima tensão efetiva que o elemento foi submetido na história do depóstito, passa a ser igual à tensão efetiva final induzida pelo carregamento (’vf =’vm ) (a) ’vf <’vm (b) ’vf >’vm Figura 19. Solo Pré-Adensado Para situações de descarregamento, a expansão do solo é calculada em função da compressibilidade definida pela inclinação Cs, da curva de compressibilidade; isto é: (4.19) Exemplo 4.1 Sobre o perfil abaixo serão lançados 2 aterros de grandes dimensões em um intervalo de 6 meses. O primeiro aterro terá 1m de altura e o segundo 2m de altura. Ambos serão construídos com solo local e atingirão um peso específico após a compactação de 18,1 KN/m3. Estime o vm vf c o vm r o o logClogC )e( H 1 log ’v e ’vm ’vf’vo log ’v e ’vm ’vf’vo o f s o o logC )e( H 1 Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ Prof Denise M Gerscovich Compressibilidade e Adensamento 25/10/11 31 PGECIVPGECIV recalque de adensamento primário considerando o coeficiente de compressibilidade médio na camada de argila de av = 1x10-4m2/KN. Solução i) cálculo do acréscimo de tensão vertical, considerado aterro infinito aterro 1:v= 18,7 X 1 = 18,7 kN/m 2 aterro 2: v = 18,7 X 2 = 37,4 kN/m 2 ii) A expressão para cálculo do recalque em função do coeficiente de compressibilidade é nesta expressão, o termoHo/(1+eo) representa a altura de sólidos, sendo portanto constante para ambos os carregamentos. Assim sendo: Exemplo 4.2 Uma camada de argila de 1,5m de espessura está localizada entre 2 camadas de areia. No centro da camada de argila, a tensão total vertical é de 200kPa e a poro pressão é 100kPa. O aumento de tensão vertical causado pela construção de uma estrutura, no centro da camada de argila será de 100kPa. Assumi solo saturado, Cr = 0,05, Cc = 0,3 e e = 0,9. Estimar o recalque primário da argila, considerando as situações (i) solo normalmente adensado, (2) solo pré- adensado (OCR = 2), (3) solo pré-adensado (OCR = 1,5). Solução: Condições iniciais: vo = 200 kPa uo = 100 kPa ‟vo = 100kPa Condições finais: 7m argila eo=0,9 vv o o a )e( H 1 mmm,,,x ),( 210210437718101 901 7 4 Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ Prof Denise M Gerscovich Compressibilidade e Adensamento 25/10/11 32 PGECIVPGECIV vf =vo+v = 200 + 100 kPa Uf = 100 kPa ‟vf = 200 kPa solo normalmente adensado OCR = 1 = 100kPa solo pré adensado OCR = 2 ‟vm = 200 kPa (iii) solo pré adensado OCR = 1,5 ‟vm=150 kPa Exemplo 4.3 O elemento localizado no centro de uma camada de argila normalmente adensada encontra-se sob tensão efetiva de 200kPa e apresenta um índice de vazios de 1,52. Quais recalques seriam esperados se a camada sofresse um incremento de tensão de 150 kPa e em seguida sofresse um descarregamento de 200 kPa? Descreva a história de tensões após esta sequência de eventos. A camada tem 4m de espessura , está saturada e seus parâmetros de compressibilidade são: Cr = 0,08, Cc = 0,37. Solução: Condições iniciais OCR = 1 = 200 kPa e = 1,52 i) Cálculo de recalques: i.1) ao final do adensamento (fase de carregamento) ‟vf =‟vo + v = 200 + 150 = 350 kPa i.2)ao final do adensamento (fase de descarregamento) mmm,log, ),( , logC )e( H o f c o o 710710 100 200 30 901 51 1 mmm,log, ),( , logC )e( H o f r o o 120120 100 200 050 901 51 1 vm f rr o o vm f r vo vm r o o logC)OCRlog(C )e( H logClogC )e( H 11 mmm,log,log, ),( , 370370 150 200 30 100 150 050 901 51 cm,m,log, ),( logC )e( H o f c o o 3141430 200 350 370 5211 4 1 Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ Prof Denise M Gerscovich Compressibilidade e Adensamento 25/10/11 33 PGECIVPGECIV ‟vo = 350 kPa vf =vo -v= 350 – 200 = 150 kPa m vi v c e H r o o 047,0 350 150 log08,0 52,11 4 log 1 ii) História de tensões (vide figura) condições iniciais OCR = 1 ‟vo =‟vm = 200 kPa qo final do adensamento (fase de carregamento) ‟vf = 350 kPa – nova tensão efetiva de campo (‟vo) - nova tensão efetiva máxima (‟vm) OCR = ‟vm / ‟vo= 1 solo normalmente adensado ao final do adensamento (fase de descarregamento) ‟vf= 150 kPa – nova tensão efetiva de campo (‟vo) ‟vo(máxima tensão efetiva) – 350 kPa OCR - ‟vm/‟vo = 2,33 solo pré adensado 4.2.1. RECALQUE PRIMÁRIO PARA CARREGAMENTOS FINITOS A teoria de adensamento unidimensional se aplica para situações em que as deformações horizontais são nulas e, consequentemente, a geração de poro- pressão inicial é constante ao longo da profundidade e igual à tensão vertical aplicada; isto é uo=z. Na prática, deformações horizontais nulas ocorrem em situações em que a espessura da camada é muito pequena ou em situações em log ’v e ’vm =’vo ’vf (1ª fase)’vf (2ª fase) Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ Prof Denise M Gerscovich Compressibilidade e Adensamento 25/10/11 34 PGECIVPGECIV que a relação entre a espessura da camada e a largura do carregamento é muito pequena. Nos casos em que o acréscimo inicial de poro-pressão varia com a profundidade, a teoria de adensamento pode ser estendida a partir da subdivisão da camada compressível em sub-camadas, admitindo-se um acréscimo poro-pressão constante em cada sub-camada. A Figura 20 ilustra esta solução. Figura 20. Carregamento variável com a profundidade Utilizar esta teoria para situações em que as deformações laterais não são nulas pode acarretar em erros de mais de 20% na estimativa dos recalques. (Budhu, 2000) Exemplo 4.4 A seção vertical da fundação de uma estrutura está apresentada na figura abaixo. A fundação possui 10m de largura e 20m de comprimento. O coeficiente de variação volumétrica médio na camada de argila é mv = 5x10 -5 m2/kN. Estime o recalque de adensamento primário causado pelo carregamento. H Ho H H1 H H2 H H3 H H4 Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ Prof Denise M Gerscovich Compressibilidade e Adensamento 25/10/11 35 PGECIVPGECIV Solução: Para calcular o recalque é preciso inicialmente determinar os acréscimos de tensão vertical causados pelo carregamento, a partir das soluções da teoria da elasticidade que fornecem equações/ábacos para cálculo de tensão induzida por carregamentos retangulares. Para o problema em questão, os acréscimos de tensão vertical, no eixo de simetria da fundação estão apresentados na tabela abaixo: Sub- camada Z(m) F(m,n) (kPa) = F(m,n) x q 0 – 2 m 1 0,992 198,4 2 m – 4 m 3 0,951 190,2 4 m – 6 m 5 0,876 175,2 6 m – 8 m 7 0,781 156,2 8 m – 10 m 9 0,686 137,2 O recalque pode ser então calculado a partir do somatório dos recalques estimados em cada sub-camada: Assumindo vu 4.3. RECALQUE SECUNDÁRIO O recalque secundário ou consolidação secundária, também chamado de fluência („creep”) está associado a deformações observadas após o final do processo de adensamento primário, quando as tensões efetivas já se estabilizaram. Com isso, ao contrário dos recalques imediato e de adensamento, a consolidação secundária ocorre para tensões efetivas constantes. Este 10m 10m 1m pedregulho argila 200kPa mmm,,,,,,mH i vivi 860860213721562175219041981052 5 1 5 Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ Prof Denise M Gerscovich Compressibilidade e Adensamento 25/10/11 36 PGECIVPGECIV processo pode ser atribuído a uma mudança no posicionamento das partículas em busca de um arranjo mais estável, após a dissipação dos excessos de poro pressão.O fenômeno do adensamento secundário é encontrado em todos os solos, mas se mostra mais pronunciado naqueles que contêm matéria orgânica. A Figura 21 mostra os efeitos da compressãosecundaria na curva de compressibilidade e variação do índice de vazios após o recalque primário. Nesta figura, tp corresponde o tempo final de recalque primário e estão apresentados 2 estágios de carga num período de 24h. Como o excesso de poro- pressão é praticamente nulo, as deformações AD e CF correspondem à parcela de compressão secundaria. A expressão para cálculo do recalque é: (4.20) onde eo e Ho são, respectivamente, o índice de vazios e espessura da camada iniciais, C o coeficiente de compressão secundária, tt o tempo final e tp o tempo correspondente ao final do adensamento primário Em geral tf corresponde ao tempo associado à vida útil da obra. Figura 21. Relação entre e x ´ e e x log t A expressão acima assume que o recalque por compressão secundaria evolui linearmente ao longo do tempo; isto é, considera C constante. . Esta abordagem é fisicamente incorreta já p f o o s t t logC )e( H 1 Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ Prof Denise M Gerscovich Compressibilidade e Adensamento 25/10/11 37 PGECIVPGECIV que não impede que com o tempo o solo chegue a um índice de vazios nulo. De fato, o coeficiente de compressão secundária varia com o tempo e tais variações afetam Cc, de forma a manter a relação C /Cc constante. Isso faz com que a relação entre índice de vazios x log x tempo se apresente como mostrado na Figura 22.. Segundo Mesri e Godlewski (1977), os valores da relação (Cα / Cc) situam entre 0,025 e 0,1 Figura 22. Relação entre e x ´x t (Mesri e Godlewski, 1977)4 Partindo-se da curva e x log , obtida no ensaio de adensamento convencional, e determinando-se C para cada estagio de carga, é possível traçar as curvas de compressibilidade associada aos diferentes tempos pós recalque primário, mantendo-se Cα / Cc = cte, como mostra a Figura 23. Se o tempo para determinação da variação o índice de vazios na consolidação secundaria é o mesmo; isto é adotando-se um tempo de 10 x tempo de consolidação primária (t=10tp) define-se a nova curva de compressibilidade, a partir da qual pode-se estimar e para tempos maiores, desde que a relação Cα / Cc seja mantida constante. 4 Mesri e Godlewski, 1977) Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ Prof Denise M Gerscovich Compressibilidade e Adensamento 25/10/11 38 PGECIVPGECIV Figura 23. Previsão de recalque secundário admitindo-se Cα / Cc = cte (Mesri e Godlewski, 1977) O fato é que no campo ou laboratório, o fenômeno do adensamento secundário faz aparecer um efeito de pre-adensamento, como mostrado na Figura 24a. Ao se realizar um estágio de carga de 24 horas, alcançado o fim do adensamento primário, o excesso de poro-pressão é praticamente nulo (ponto A). Sob tensão vertical efetiva constante com o processo de adensamento secundario, o solo segue trajetória AD. Para um novo carregamento, haverá um trecho de recompressao DB, até se atingir a reta virgem. Com isso, quanto maior for a duração do estágio de carga, maior será a parcela da deformação provocada pelo adensamento secundário e, portanto,maior será o incremento de tensão Δσ necessário a para retornar a curva de compressão virgem; ou melhor, para curva de compressão correspondente ao fim do primário. Em outras palavras, a taxa de incremento de carga adotada em ensaio interfere na forma da curva de adensamento, como mostra a Figura 24. Se no ponto D (Figura 24a) for aplicado um incremento de tensão equivalente à distância horizontal DC, o caminho a ser seguido será DBCF e a curva de adensamento será do tipo I Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ Prof Denise M Gerscovich Compressibilidade e Adensamento 25/10/11 39 PGECIVPGECIV (Figura 24b). Entretanto, se no ponto D for aplicado um incremento menor, correspondente à distancia horizontal DB, o caminho a ser seguido, DBE, tocará na linha de fim do primário e prosseguirá em direção ao ponto E. Nesse caso, praticamente não haverá adensamento primário mas só secundário e a curva de adensamento será do tipo III como ilustrado na Figura 24b Figura 24. Relação entre e x ´ e e x log t para diferentes relações de / Resultados experimentais em amostras de caulin e mentonita, mostrados na Figura 25, comprovam claramente o efeito da taxa de carregamento na evolução dos recalques. Quanto maior é a taxa de carregamento maior é a parcela de recalque primário e menor o efeito do recalque secundário. Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ Prof Denise M Gerscovich Compressibilidade e Adensamento 25/10/11 40 PGECIVPGECIV Figura 25. Influência das diferentes relações de / Com isso, Feijó e Martins (1993) propusessem um novo método de determinação da parcela de compressão secundária. Observando a Figura 26, os autores propuseram que a variação do índice de vazios fosse obtida calculando-se o recalque virgem no trecho ´vf a 2x´vf e descontando-se a parcela de recompressao. Com isso, considerou-se o OCR igual a 2 como adequado para o local estudado (4.20) onde Cc Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ Prof Denise M Gerscovich Compressibilidade e Adensamento 25/10/11 41 PGECIVPGECIV Figura 26. Construção da linha de recalque secundáro (Feijó e Martins 1993). Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ Prof Denise M Gerscovich Compressibilidade e Adensamento 25/10/11 42 PGECIVPGECIV 5. TEORIA DE ADENSAMENTO OU CONSOLIDAÇÃO UNIDIMENSIONAL O processo de adensamento, em um solo saturado, envolve uma transferência gradual de esforços entre a água e o arcabouço sólido. Como esta transferência só é possível pela dissipação dos excessos de poro-pressão através da drenagem da água, utiliza-se a equação de fluxo para estudar analiticamente este processo. De acordo com as equações de continuidade e validade da lei de Darcy, a equação geral de fluxo unidimensional é definida como: (5.1) onde kz é a permeabilidade na direção vertical, h a carga total, e o índice de vazios, S o grau de saturação e t o tempo. No caso de solos saturados o grau saturação é constante e igual a 100%. Sendo assim, , a equação reduz-se a: (5.2) Admitindo que compressibilidade do solo definida pelo coeficiente de compressibilidade (ver Tabela 1); isto é pela relação entre a variação do índice de vazios e tensão efetiva; tem-se: (5.3) Substituindo a Eq. (3.3) em Eq. (3.2) tem-se: ) t a( e1 1 z h k t a t e t e v2 2 z v (5.4) Por outro lado, a tensão efetiva é uma definição representada pela diferença entre a tensão total () e a poro-pressão (u = uo+u). Sendo assim, „ = - u0 - u t u t u tt 0 , (5.5) k h z e e S t S e tz 2 2 1 1 ( ) ( ) S t 0 k h z e e tz 2 2 1 1 ( ) a e v Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ Prof Denise M Gerscovich Compressibilidade e Adensamento 25/10/11 43 PGECIVPGECIV Substituindo a Eq.(3.5) em Eq. (3.4), tem-se } tt u { e1 a z h k v 2 2 z (5.6) Com relação ao lado esquerdo da equação h = he + hp , onde he é a carga de elevação e hp a carga de pressão. Sendo assim, w 0 uuzh (5.7) Derivando a carga total em função da posição, tem-se z u z 1 z u z 1 z z zz h w 0 w 2 2 (5.8) Considerando que z z =1 e z u0 = cte , tem-se que os dois primeiros termos da Eq. (5.8) são nulos . Substituindo, então a Eq. (5.8) na Eq. (5.6) chega-se a tt u e1 a z uk v 2 2 w z tt u z u .a e1k 2 2 wv .z (5.9) denominando o termo wv z .a )e1.(k de coeficiente de adensamento cv , isto é: wv z v .a )e1.(k c (5.10) chega-se à: tt u z u .c 2 2 v (5.11) conhecida como Equação de Adensamento de Terzaghi Admitindo, como hipótese que o carregamento é instantaneamente aplicado, isto é, este não varia no tempo, o último termo da equação t passa a ser nulo e a equação fica então reduzida à: t u z u .c 2 2 v (5.12) Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ Prof Denise M Gerscovich Compressibilidade e Adensamento 25/10/11 44 PGECIVPGECIV 5.1. SOLUÇÃO DA EQUAÇÃO DE ADENSAMENTO A solução da equação 3.13 possibilita a determinação do excesso de poro- pressão em determinada profundidade e determinado tempo. Esta equação incorpora as seguintes hipóteses: homogeneidade do solo; saturação total; compressão dos grãos sólidos e da água desprezíveis; compressão e fluxo unidimensional; validade da lei de Darcy; compressibilidade constante e carregamento Instantâneo. A solução analítica pode ser obtida introduzindo-se duas variáveis adimensionais, a saber : Fator de profundidade: (5.13) onde z é distância do topo da camada compressível até o ponto considerado e Hd o comprimento de drenagem, ou seja, o comprimento de maior trajetória vertical percorrida por uma partícula de água até atingir a fronteira drenante. Fator tempo: (5.14) onde t é o tempo expresso em unidades compatíveis com o cv. Substituindo as equações (5.13) e (5.14) na eq. (5.12) : 5[3] (5.15) (5.16) 5[3] Z z Hd T c t Hd v . 2 z Hd Z . 2 2 2 2 2 1 u z Hd u Z . t Hd c T v 2 . u t Hd c u T v 1 2 . u z u Z Z z u Z Hd . . 1 Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ Prof Denise M Gerscovich Compressibilidade e Adensamento 25/10/11 45 PGECIVPGECIV Tem-se a equação. de adensamento em função dos fatores de profundidade e tempo: (5.17) Para casos em que o excesso inicial de poro-pressão é constante ao longo da profundidade e a drenagem é permitida em ambas extremidades, tem-se a solução analítica da equação acima: , sendo: (5.18) cujo desenvolvimento matemático está apresentado no apêndice I. 5.1.1. PORCENTAGEM DE ADENSAMENTO A solução da equação de adensamento possibilita a determinação do excesso de poro-pressão em um determinado instante a uma determinada profundidade. Na prática, entretanto, é mais importante conhecer o quanto de dissipação de poro-pressão ocorreu, ao invés da quantidade de excesso de poro-pressão que ainda existe no solo, já que a evolução das deformações está relacionada à porcentagem de poro-pressão dissipada. Define-se como porcentagem de adensamento (Uz) a relação entre o excesso de poro-pressão dissipado em um determinado tempo e o excesso inicial; isto é: (5.19) onde u(t) é o excesso de poro-pressão em um tempo qualquer t , e u0 o excesso de poro-pressão no tempo t=0. 2 2 u Z u T u q A AZ e m A T 2 0 2 .(sen ). A m 2 2 1.( ) 0 1 u )t(u U z Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ Prof Denise M Gerscovich Compressibilidade e Adensamento 25/10/11 46 PGECIVPGECIV A porcentagem de adensamento (Uz) varia entre 0 e 1; no início do processo, a porcentagem de adensamento é nula (5.20) e, ao final, quando o excesso é nulo (u (t=) = 0) (5.21) Substituindo a equação (5.18) na equação (5.19) chega-se à solução analítica para o cálculo da porcentagem de adensamento. , sendo: (5.22) Esta equação pode ser representada graficamente pelo ábaco da Figura 27. Nesta figura, cada uma das curvas representa a solução da equação de adensamento, expressa em termos de porcentagem de adensamento e fator de profundidade, para um determinado fator tempo. Observa-se que teoricamente, a dissipação total dos excessos de poro-pressão ocorrerá em um tempo infinito. Estas curvas são denominadas isócronas e sua forma irá depender da distribuição do excesso inicial de poro-pressão e das condições de drenagem. U u t u tz 1 0 0 0
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