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PUC-SP- Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Integração Escola de Negócios TThhiiaaggoo TThhiimmootteeoo ESTRATÉGIA COMPETITIVA PARA PEQUENAS EMPRESAS DE CONTABILIDADE São Paulo Setembro de 2010 1 TThhiiaaggoo TThhiimmootteeoo ESTRATÉGIA COMPETITIVA PARA PEQUENAS EMPRESAS DE CONTABILIDADE Trabalho apresentado como exigência parcial para obtenção do certificado de conclusão do curso de MBA em Controladoria e Gestão Estratégica de Negócios da PUC/SP – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Orientador: Professor MS Adhemar A. De Caroli São Paulo Setembro de 2010 2 Termo de Aprovação ESTRATÉGIA COMPETITIVA PARA PEQUENAS EMPRESAS DE CONTABILIDADE Thiago Thimoteo Banca Orientador: Professor: MS Adhemar A.De Caroli Nota: Convidado 1: Professor: Giovanni B. Colacicco Nota: Convidado 2: Professor: Daniel J. Machado Nota: 3 Declaração de Ética e Respeito aos Direitos Autorais Declaro para os devidos fins, que a pesquisa foi elaborada por mim, e que não há, nesta monografia, cópias de publicações de trechos de títulos de outros autores sem a respectiva citação, nos moldes da NBR 10.520 de ago/2002. Thiago Thimoteo Assinatura 4 Dedicatória Ao Senhor Jesus Cristo Que deu Sua vida para que eu tivesse vida e jamais deixou de me guiar, livrar, compreender e sustentar e por seu sangue me deu o perdão dos pecados. 5 Agradecimentos A realização deste trabalho só foi possível graças à colaboração direta ou indireta de muitas pessoas. Manifesto minha gratidão a todas elas e de forma particular: Ao meu pai, Sr. Norival Thimoteo, que me ajudou financeiramente durante o curso e também com diversos conselhos - meu orientador de vida. À minha esposa, pela paciência, confiança, carinho e companheirismo que apresentou durante todo o período em que estive longe para me dedicar aos estudos. A todo o departamento de engenharia de chassis da General Motors do Brasil que me incentivaram e apoiaram na realização do curso de MBA. Ao pessoal da CONTRI que abriu sua empresa para entrevistas, observações e troca de experiências. 6 Epígrafe “E, se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente, e o não lança em rosto, e ser-lhe-á dada.”. Bíblia Sagrada – Livro de Tiago capítulo 1, verso 5 7 Resumo Atualmente no Brasil, existem diversos pequenos escritórios de contabilidade que disponibilizam serviços contábeis a seus clientes. Nota-se que o mercado se encontra saturado e novos negócios são cada vez mais raros e muitos dos negócios existentes se encontram estagnados ou vão à falência. No mundo contábil, as informações e relatórios a serem entregues são normalizados pelos órgãos governamentais e, com o advento da informática e da facilidade dos meios de comunicação do início do século XXI, a velocidade e a qualidade da prestação do serviço deixaram de ser vantagens competitivas neste mercado restrito. Este trabalho se propõe levantar alternativas de estratégias competitivas que levem as pequenas empresas de contabilidade a alcançarem destaque, lucro e sustentabilidade. Analisa diferenças entre abordagens de clientes e formas de gerenciamento da informação, propondo uma abordagem de negócio mais ampla que agregue valor à relação cliente – fornecedor. Palavras-chave: Pequenas empresas. Estratégia competitiva. Controladoria. Sustentabilidade. Contabilidade. 8 Abstract Currently in Brazil, there are several small accounting offices that offer standard services to their clients. Though the market is over-occupied and new business are whether rarer each day, or many of them are stunk or go to bankrupt. In this accounting market, the information and reports to be delivered to the legal institutions are normalized and, with the growth of the computing technology and the spread of the main communication channels in this beginning of the 21st. Century, the speed and quality of the standard accounting services are not competitive advantages anymore. This study proposes to raise competitive strategic alternatives that drive the small accounting offices to reach success, profit and sustainability. It analyzes the differences between diverse client´s approach and information managing methods, proposing a business approach wider that adds value to the relationship client – supplier. Key-word: Small companies. Competitive strategy. Accounting. Sustainability. Controller. 9 Sumário Termo de Aprovação ................................................................................................. 2 Declaração de Ética e Respeito aos Direitos Autorais .......................................... 3 Dedicatória ................................................................................................................. 4 Agradecimentos ........................................................................................................ 5 Epígrafe ...................................................................................................................... 6 Resumo ...................................................................................................................... 7 Abstract ...................................................................................................................... 8 Relação das Figuras ............................................................................................... 11 Relação de Tabelas ................................................................................................. 11 Relação de Gráficos ................................................................................................ 12 Introdução ................................................................................................................ 13 1 Visão atual da contabilidade como ferramenta de gestão ........................... 15 1.1 Contabilidade e o profissional contador ...................................................... 15 1.2 Principais Serviços Prestados pelo Contador ............................................. 16 1.3 O mercado do início do século XXI ............................................................. 16 1.4 Definição de Microempresa e Empresa de pequeno porte (MPE) .............. 21 1.5 Situação das MPE´s de contabilidade do Estado de São Paulo ................. 23 1.6 O Sistema Público de Escrituração Digital .................................................. 23 2 A Contabilidade como instrumento de planejamento estratégico............... 26 2.1 Contabilidade gerencial ............................................................................... 26 2.1.1 Índices financeiros e econômicos ............................................................ 27 2.1.2 Análise horizontal e vertical ..................................................................... 31 2.1.3 O estudo da alavancagem operacional ................................................... 32 2.2 Estratégias competitivas ............................................................................. 35 2.2.1O objetivo que se espera alcançar com a estratégia ............................... 36 2.2.2 Análise do ambiente externo e interno .................................................... 36 2.2.3 Diagnóstico dos produtos / serviços atuais ............................................. 42 2.2.4 Análise de cenários alternativos .............................................................. 44 10 2.2.5 Definição da estratégia ............................................................................ 45 2.2.6 Implementação e controle ....................................................................... 48 3 Estratégia competitiva em MPE’s de contabilidade ...................................... 50 3.1 Análise de dados da pesquisa das MPE´s de contabilidade ....................... 50 3.2 Identificação da empresa como MPE .......................................................... 51 3.3 Gestão financeira ........................................................................................ 51 3.4 Conhecimento do mercado ......................................................................... 52 3.5 Produtos / serviços ...................................................................................... 54 3.6 Organização e planejamento empresarial ................................................... 56 4 Estudo de caso: Contri Assessoria Contábil Ltda ........................................ 57 4.1 Objetivo da empresa ................................................................................... 57 4.2 Estudo dos produtos/serviços ..................................................................... 57 4.3 Estudo financeiro ........................................................................................ 59 4.4 Estudo de produtividade ............................................................................. 60 4.5 Estudo dos Recursos Humanos .................................................................. 61 4.6 Análise de cenários alternativos ................................................................. 61 4.7 Análise S.W.O.T.......................................................................................... 62 4.8 Proposta de plano de ações ....................................................................... 64 Considerações Finais ............................................................................................. 66 Referência bibliográfica .......................................................................................... 67 Anexos ..................................................................................................................... 71 Apêndice A - Pesquisa aplicada às MPE´s de contabilidade: ............................. 73 11 Relação das Figuras Figura 1: Índices de liquidez – Fórmulas ................................................................... 28 Figura 2: Índices de endividamento – Fórmulas ........................................................ 29 Figura 3: Índices de atividades – Fórmulas ............................................................... 30 Figura 4: Índices de rentabilidade – Fórmulas........................................................... 31 Figura 5: Gráfico do ponto de equilíbrio .................................................................... 33 Figura 6: Alavancagem operacional - Fórmula .......................................................... 33 Figura 7: Componentes do ambiente ........................................................................ 37 Figura 8: Cinco forças de influência .......................................................................... 38 Figura 9: Processo estratégico de análise do ambiente ............................................ 41 Figura 10: A matriz BCG ........................................................................................... 43 Figura 11: Matriz análise SWOT ............................................................................... 47 Figura 12: Planejamento estratégico convencional ................................................... 47 Figura 13: Matriz análise SWOT para CONTRI ......................................................... 63 Relação de Tabelas Tabela 1: Elementos básicos das Contabilidades Financeiros e Gerenciais ............ 27 Tabela 2: Análise do ambiente direto ........................................................................ 41 Tabela 3: Matriz BCG modificada por fluxo de caixa ................................................. 44 Tabela 4: Análise de cenários alternativos ................................................................ 45 Tabela 5: Matriz BCG modificada da CONTRI .......................................................... 58 Tabela 6: Análise de índices financeiros da CONTRI ............................................... 59 Tabela 7: Análise dos cenários alternativos da CONTRI .......................................... 62 Tabela 8: Análise do ambiente interno da CONTRI .................................................. 62 Tabela 9: Análise do ambiente externo da CONTRI ................................................. 63 12 Relação de Gráficos Gráfico 1: Receita das empresas pesquisadas em 2009 .......................................... 51 Gráfico 2: Número de funcionários das empresas pesquisadas ............................... 51 Gráfico 3: Relação Lucro x endividamento sobre PL ................................................ 52 Gráfico 4: Fatores do macro ambiente ...................................................................... 53 Gráfico 5: Principais solicitações dos clientes das MPE´s ........................................ 54 Gráfico 6: Principais produtos/serviços das MPE´s de contabilidade ........................ 55 Gráfico 7: Principais atividades de planejamento das MPE´s em 3 anos .................. 56 13 Introdução Até meados de 1990, havia diversas pequenas empresas de contabilidade no Brasil que forneciam demonstrações e relatórios contábeis para os seus clientes de maneira eficaz e que mantinham seus negócios satisfatoriamente. O trabalho de contabilidade era específico e exigia grande esforço dos profissionais para consolidar as informações e gerar todo o material exigido pelos órgãos governamentais. As pequenas indústrias e empresas de serviço brasileiras decidiam entre os pequenos escritórios de contabilidade pela rapidez, qualidade e autenticidade das informações prestadas. Hoje, com o advento da informática e da internet e com o mundo globalizado, mudanças acontecem freqüentemente e os próprios órgãos governamentais buscam mudar suas leis e normas a fim de se enquadrarem a políticas e métodos internacionais. Os grandes conglomerados e as fusões empresariais são comuns neste início de século. A consolidação da informação e a emissão dos demonstrativos e relatórios contábeis exigidos podem ser feitas com a mesma rapidez, veracidade e qualidade por qualquer escritório de contabilidade com custos equivalentes, deixando de ser uma vantagem competitiva. Portanto, observa-se claramente que existe uma lacuna no mercado que pode ser preenchida pelas próprias empresas de contabilidade. Qual estratégia estas pequenas empresas de contabilidade devem utilizar para aproveitar esta oportunidade neste mercado do início do século XXI? O objetivo geral é mostrar que as pequenas empresas de contabilidade devem agregar valor às suas atividades comuns para alcançar maior lucro e sustentabilidade. Têm-se como objetivos específicos identificar áreas de atuação, serviços adicionais e estratégias que criem vantagens competitivas para as pequenas empresas de contabilidade. A contabilidade é vista, pormuito outros setores, como conservadora, limitada e de pouco relevância no Brasil, salvo sua importância para os órgãos governamentais. No entanto, nota-se que cada vez mais o profissional de contabilidade deve possuir um amplo conhecimento de diversos mecanismos de funcionamento de uma empresa para realização de suas funções. Este conhecimento pode ser utilizado gerencialmente em conjunto com outros setores e 14 podem gerar valor agregado ao negócio e às pessoas envolvidas. A disponibilização de ferramentas da contabilidade gerencial em conjunto com a estratégia empresarial pode gerar grandes oportunidades de crescimento sustentável para as pequenas empresas de contabilidade. A pesquisa adotada nesta monografia é de caráter qualitativo, em sua abordagem, já que não são utilizadas técnicas de medição e estatística para análise de dados. Quanto ao objetivo, a pesquisa é de caráter exploratório, pois busca o entendimento e o levantamento de hipóteses sobre as principais características das pequenas empresas de contabilidade e seus respectivos mercados. Através do estudo bibliográfico pode-se ter uma idéia teórica inicial sobre os principais fatores que influenciam no ramo e sobre as mais atuais metodologias de análise estratégicas. De posse destas informações, podem-se confrontar os dados com informações de pequenas empresas de contabilidade, como estrutura organizacional, serviço prestado, número de cliente, características dos clientes, etc. Para obtenção destes dados, foram realizadas pesquisas e entrevistas junto a profissionais de pequenas empresas de contabilidade da cidade de São Paulo e um estudo de caso em uma empresa específica. Finalmente, ações foram propostas para a empresa analisada no estudo de caso, confrontando a teoria levantada, a pesquisa de outras empresas e a utilização da contabilidade em conjunto com as técnicas de planejamento estratégico. O primeiro capítulo levanta teorias e pesquisas bibliográficas sobre a contabilidade e o profissional contador brasileiro, o mercado no início do século XXI. O segundo capítulo aborda as teorias de análise estratégica propostas para um crescimento sustentável neste mercado do início do século XXI. O terceiro capítulo apresenta a pesquisa da situação atual das MPE´s de contabilidade na cidade de São Paulo e as principais características dos respectivos profissionais e analisa os dados coletados no capítulo anterior e os confronta com as teorias apresentadas no primeiro capítulo e propõe ações para que as pequenas empresas de contabilidade sejam competitivas e sustentáveis, confirmando ou não a hipótese de que a integração da contabilidade gerencial com as estratégias das empresas pode ser uma vantagem competitiva. 15 1 Visão atual da contabilidade como ferramenta de gestão O mercado de trabalho sofreu diversas mudanças durante os últimos 20 anos, devido a diversos fatores nacionais e internacionais, de classe econômica, política e social. Estas mudanças, nem sempre são acompanhadas pelas corporações e pelas pessoas. Segundo Wind (2002 p.1), as corporações possuem muitas dificuldades em mudar. No entanto, neste mercado mutável do inicio do século XXI, as empresas e as pessoas que não se adaptarem estão fadadas ao fracasso e a tarefa de administrar uma empresa de maneira sustentável e lucrativa torna-se extremamente complexa. Neste oceano de mudanças, muitos fatores internos e externos influenciam nas decisões cotidianas e, normalmente não existe uma regra básica, uma maneira ideal, em que se possa adotar e garantir o sucesso da empresa. Nota-se que o profissional de contabilidade também está sujeito às mudanças freqüentes de mercado e também necessita se adaptar para alcançar sustentabilidade e lucratividade. Segundo Menão (2005 p.1) As mudanças ocorridas no cenário econômico mundial provocaram grande impacto no desempenho do profissional de contabilidade, principalmente daquele que exerce como proprietário, sócio ou titular de uma empresa de serviços contábeis. 1.1 Contabilidade e o profissional contador De acordo com Santos (2006, p.30), por definição, a Contabilidade é um sistema de informações para a tomada de decisão e de acordo com Costa (2006, p. 2), O sistema de contabilidade é um importante sistema de informação às organizações; provê informação com três principais objetivos: Relatórios internos para os gestores, para planejar e controlar operações de rotina. Relatórios internos para os gestores, para uso em decisões não rotineiras e na formulação dos principais planos e políticas. Relatórios para os acionistas, governo e outros interessados externos. Considerando ambas as definições, pode-se dizer que a contabilidade é um meio de se adquirir informações úteis para o correto gerenciamento da empresa, 16 através de decisões assertivas, e para se estudar o desempenho da empresa como um todo. Adicionalmente, o contador é uma pessoa chave que possui uma visão geral da empresa, com entendimento amplo do desempenho operacional, financeiro e econômico da mesma. Com isso, a contabilidade e o contador são essenciais no planejamento da estratégia da empresa, pois podem contribuir significativamente com informações claras e precisas que demonstram a real situação da empresa. 1.2 Principais Serviços Prestados pelo Contador Segundo SEBRAE-SC (2010, p.2), os principais serviços prestados pelos setores / escritórios de contabilidade podem ser divididos em: CONTÁBIL - Lucro Real, Lucro Presumido, Simples, ME, Balancetes, Razão Analítico, Diário, Livro-caixa, Lalur, etc.; FISCAL - Livros de Entrada, Livros de Saída, Livros de Apuração do IPI, Livros de Apuração do ICMS, entre outros; TRABALHISTA - Apontamento, Folha de Pagamento, GPS, SEFIP, DARFS, FGTS, Folhas de Pagamento, Concessão de Férias, etc.; OUTROS - Abertura, Transferência e Baixa de Empresas, DIRPF, Consultoria, Assessoria, Certidões Negativas, etc. Pode-se, ainda, exercer atividade de assessoria e auditoria específica em determinadas áreas de médias e grandes empresas. As atividades relacionadas aos relatórios externos (contábil, fiscal, trabalhista) demandam tempo para análise e requerem profissionais especializados. Muitas empresas decidem contratar escritórios de contabilidade que prestem este serviço, evitando assim gastos fixos maiores na contratação de funcionários especializados. 1.3 O mercado do início do século XXI O mercado empresarial no início do século XXI caracteriza-se pelo dinamismo e inovação. A cada dia, podem-se observar novas situações econômicas, sociais, novas necessidades, nichos, etc. A estabilidade, outrora comum, não faz mais parte do vocabulário dos principais gestores no mundo, e, logicamente, o Brasil também se enquadra neste cenário. Segundo Dalsasso (2010, p.1), O modus vivendi – do indivíduo, da sociedade e das organizações – será intensamente alterado, exigindo grande capacidade de adaptação e aprendizagem. A percepção e a flexibilidade na reação serão componentes 17 críticos. O mercado exige cada vez mais que as empresas e os indivíduos que fazem parte da mesma sejam flexíveis, inovadores e possuam uma visão sistêmica do negócio. A capacidade de se adaptar às diferentes circunstâncias é essencial para a sobrevivência do negócio. Mas, quais são os fatores que influenciam o mercado de forma que o mesmo seja tão volátil e mutante ? Segundo Fahey e Randall (1999, p.125), Uma das forças poderosas e precursoras que vêm influenciando as empresas desde a Segunda Guerra Mundial tem sido a globalização da competição. Os custos dos transportes e das comunicações despencaram,as infra-estruturas nacionais se tornaram mais semelhantes, e as barreiras comerciais ficaram mais tênues. Apesar dos pequenos escritórios de contabilidade brasileiros possuírem uma atuação e concorrência local, pode-se afirmar que a globalização também influenciou nos seus respectivos negócios, através da disponibilização do conhecimento e o impacto marcante em seus clientes, que ganharam novos concorrentes internacionais. Além disso, a globalização permitiu ao contador ter acesso a recursos internacionais com menor custo e maior praticidade. A globalização também contribuiu para a modificação das necessidades dos clientes. Segundo Wind (2002, p. 31), Os mercados mundiais estão se fundindo e se aquecendo. As menores barreiras comerciais, a disseminação da tecnologia da informação, a fusão dos gostos e necessidades dos clientes e a fácil movimentação de capital contribuíram para a criação de um mercado global. Com a globalização, o mercado empresarial se tornou mais exigente, com necessidades e atuações abrangentes que não podem ser esquecidas pelo profissional contador. Mesmo se uma pequena empresa de contabilidade atuar localmente, isso não impede que seu cliente tenha concorrentes globais e precise de informações gerenciais à altura. O mercado econômico brasileiro não se encontra mais alienado do resto do mundo, pelo contrário, alterações nas bolsas de valores, na política, guerras, fenômenos naturais, etc. de outros países influenciam diretamente o mercado econômico brasileiro e seus respectivos indexadores 18 econômicos. Logo, mesmo atuando localmente, o contador deve ser uma pessoa bem informada globalmente, reconhecendo ameaças e oportunidades globais, e aprendendo e se iterando de acontecimentos globais. Outro fator que transformou e ainda impacta o profissional de contabilidade é o crescimento do advento da informática. Com a implantação de processadores com maior capacidade de alocação de dados e maior rapidez de processamento, o trabalho que dantes demandava semanas, pode ser realizado em apenas alguns segundos. A informática permitiu uma mudança sensível na atuação do profissional contábil. Antes este perdia muito tempo com lançamentos e com isso estava mais sujeito a erros inadmissíveis nos dias atuais. A cada ano são lançados novos microprocessadores, mais rápidos e menores. Associados a estes, a capacidade de alocação de dados e o desenvolvimento de novos softwares com interface mais amigáveis e com maiores recursos de cálculo e relatórios são cada vez mais frequentes. Ainda segundo SANTOS, Luis (2010, p.4), A informatização da contabilidade propicia ao contador atuar em novas funções como gerenciador das informações, quer nos aspectos de planejamento e análise de desempenho, quanto nos de controle. Estará o contador liberado das rotinas burocráticas manuais, em que despende muito tempo, para gerar informações que possam subsidiar a alta administração no processo decisório. Graças ao computador, o contador pode se dedicar mais a atuar como um analista de contabilidade e consegue executar um trabalho mais preciso e seguro em um intervalo de tempo menor. Com a informática, o contador pode deixar atividades operacionais que exigiam grande parte do seu tempo, para se dedicar à leitura pertinente à área contábil e à atividades analíticas e estratégicas, considerando meios para gerar alternativas e soluções viáveis para as empresas analisadas e também para o seu próprio negócio. Logicamente, o grau de automação de um escritório de contabilidade depende do investimento em maquinário, infra-estrutura e pessoal adequadamente treinado. No início do século XXI, observa-se que o mundo inteiro se encontra conectado através da Internet. A capacidade e a velocidade de transmissão de dados crescem a cada dia com custos cada vez mais baixos. A comunicação “empresa-empresa” (business-to-business – B2B) e empresa-clientes (business-to- 19 consumer – B2C) aumentam a cada dia a velocidade de se fazer negócio no mundo. Em 2000, o Brasil se encontrava como 13° país do mundo em número de páginas na Internet, 3° país nas Américas (atrás dos EUA e Canadá) e 1° na América Latina (Fonte: Network Wizards – Jan. 2000). Na contabilidade, a Internet propicia um amplo e rápido acesso à informação, desde relatórios contábeis de empresas de capital aberto, à normas, pronunciamentos, informação macroeconômicas, informações logísticas, demográficas, etc. Tais informações podem ser obtidas por qualquer indivíduo, deixando de ser exclusiva e onerosa. Neste universo de informações, fica cada vez mais claro que o profissional precisa saber analisar qual informação é pertinente a determinado objetivo e como utilizá-la mais rapidamente e eficazmente possível. Este mercado mutável, dinâmico e global também influencia os órgãos governamentais brasileiros. Com o intuito de adaptar a contabilidade brasileira às normas internacionais, por meio da Instrução CVM nº 457, editada em julho de 2007, em alinhamento com o Comunicado nº 14.259 do Banco Central do Brasil, de março de 2006, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) determinou que as companhias brasileiras de capital aberto passassem a elaborar as demonstrações financeiras consolidadas com base nas International Financial Reporting Standards (IFRS) a partir do exercício de 2010. Segundo KPMG (2010, p.1), as principais vantagens da conversão são a transparência e a qualidade das informações contábeis para os acionistas, além da padronização e maior facilidade gerencial no tratamento de dados. Além disso, a recente aprovação da Lei 11638/07, Medida Provisória 449/08 e Deliberação CVM 565/08 demonstram a contribuição do fisco brasileiro à adaptação das normas contábeis ao mercado globalizado. O governo brasileiro também está usufruindo dos benefícios da Internet. A possibilidade de conceber um projeto eminentemente digital com a eliminação do mundo fiscal em papel surgiu com a Certificação Digital, criada pela Medida Provisória 2.200-2, de 17/08/2001. (CFC, 2010, p.1). Dando prosseguimento a este projeto eletrônico, foi criado o SPED (Sistema Público de Escrituração Digital), oficializado em Janeiro de 2007, constitui-se em uma solução tecnológica para oficializar os arquivos digitais das escriturações fiscal e contábil dos sistemas 20 adotados pelas empresas reconhecendo um formato digital específico e padronizado; ele irá contribuir para a: 1. reduzir os custos com o armazenamento de documentos, 2. minimizar os encargos com o cumprimento das obrigações acessórias e 3. possibilitar uma maior segurança. Outra característica deste mercado mutável do século XXI são as pessoas que o regem. Segundo Wind (2002, p.116), os empregos em determinada área desaparecem à medida que o mercado muda ou a tecnologia aumenta a produtividade e isto é exatamente o que está acontecendo no mundo contábil. O mercado exige um profissional versátil, inovador, atualizado e com conhecimentos genéricos. Segundo Zanluca (2010, p.1) em O perfil do contabilista no século XXI, A principal característica desta profissão, no século XXI, será o conhecimento aplicado. Não menos importante, é que o contabilista precisa ser um profissional flexível, autodidata e preparado para enfrentar desafios de uma profissão na qual a competição e exigências crescem a cada dia. Sua função, neste século, pode ser considerada a de um gestor de informações. Seu conhecimento deve ser amplo, compreendendo as normas internacionais de contabilidade, legislação fiscal, comercial e correlatas. Outras habilidades imprescindíveis são: capacidade de se expressar de forma clara e sintética, ótima redação,domínio de recursos de informática (planilhas, textos, internet) e conhecimentos de estatística. O contabilista precisa conhecer e utilizar-se de relações humanas, além de técnicas de administração. Não pode ficar alheio ao mundo que o cerca, e precisará ler continuamente, tornando-se um autodidata por excelência. Precisa ser ético, ter capacidade de inovar e criar, desenvolvendo também sua capacidade de adaptação - pois mudanças fazem parte do cenário empresarial e corporativo. Ou seja, o contabilista deve ser uma pessoa multidisciplinar, um especialista em contabilidade, e um generalista no entendimento das diversas áreas que afetam a dinâmica de uma empresa, onde a iteração e o entendimento de outras disciplinas são fatores fundamentais para um maior sucesso. Associando o conhecimento interno da empresa, ou seja, as informações provenientes dos relatórios contábeis com suas outras habilidades (comunicação, relacionamento, conhecimento global, informática, etc.) o contador pode agregar muito valor no planejamento e desenvolvimento de qualquer empresa. Segundo o Conselho Federal de Contabilidade, em Fev.2010, há no Brasil 410.004 profissionais de contabilidade (nível técnico e superior), dentre estes 112.027 somente no Estado de São Paulo. Há 73.511 escritórios de contabilidade 21 no Brasil (individuais e sociedades), dentre estes 18.291 somente no Estado de São Paulo. Este enorme contingente não está isento às mudanças neste mercado e deve se adaptar e se educar continuamente para sobreviver. Segundo VEIGA, Windsor (2010, p.75), O grau de complexidade que envolve os aspectos avançados da Contabilidade torna o estudante de ensino superior em Ciências Contábeis e o profissional desta área, um elemento chave na gestão das organizações, o que contribui para a valorização da profissão. A Lei das S/As – Lei 11638/071 e 11941/092, as deliberações e instruções da CVM3, as Resoluções, Ementas e Normas do CFC4 – Conselho Federal de Contabilidade, bem como a Legislação de Leis, Decretos, Decretos-Lei, Resoluções, Normas Brasileiras de Contabilidade, Instruções Normativas e Súmulas, o CPC5 - Comitê de Pronunciamentos Técnicos, o IFRS, as Normas Internacionais de Contabilidade, a Teoria da Contabilidade, os aspectos da Contabilidade de Custos, os Tributos sobre as Compras e as Vendas, o Planejamento, Orçamento Empresarial, questões dos Encargos Sociais e Trabalhistas, as provisões da Folha de Pagamento, a Análise das Demonstrações Financeiras, a DVA – Demonstração do Valor Adicionado, o Balanço Social, os Controles Internos, o Imposto de Renda Pessoa Física e Jurídica, as retenções de Tributos e Encargos, entre outras atividades atinentes a essa Ciência Social, direciona para a Profissão do Presente e do Futuro, e seu reconhecimento no Mundo e no Brasil é uma realidade que estamos e estaremos vivenciando.[...] A valorização da Contabilidade e da profissão envolve necessariamente o discernimento que pudermos explicitar àqueles que não conhecem ou reconhecem o contexto envolvido de tal ciência. Logo, o contador que não se informar sobre os elementos de produção, os mecanismos financeiros, comerciais, logísticos, tributários, os acontecimentos locais e mundiais, as tendências e descobertas científicas e humanas, etc. está destinado ao obsoletismo e , consequentemente, ao fracasso. 1.4 Definição de Microempresa e Empresa de pequeno porte (MPE) Existem vários critérios utilizados para a definição das Micro e Pequenas empresas (MPE). Vemos definições que se baseiam no número de empregados, no capital social, na receita bruta, na receita operacional líquida, no grau de sofisticação tecnológica, etc. No Brasil, a Lei Complementar nº 123/06, o enquadramento de MPE's 22 configura-se conforme segue: Art.3º. Para os efeitos desta Lei Complementar, consideram-se microempresas ou empresas de pequeno porte a sociedade empresária, a sociedade simples e o empresário a que se refere o art. 966 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002, devidamente registrados no Registro de Empresas Mercantis ou no Registro Civil de Pessoas Jurídicas, conforme o caso, desde que: no caso das microempresas, o empresário, a pessoa jurídica, ou a ela equiparada, aufira, em cada ano-calendário, receita bruta igual ou inferior a R$ 240.000,00 (duzentos e quarenta mil reais); no caso das empresas de pequeno porte, o empresário, a pessoa jurídica, ou a ela equiparada, aufira, em cada ano-calendário, receita bruta superior a R$ 240.000,00 (duzentos e quarenta mil reais) e igual ou inferior a R$ 2.400.000,00 (dois milhões e quatrocentos mil reais). A lei complementar nº 123/06 instituiu o Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte, contemplando na essência o disposto nos arts. 146, 170 e 179 da Constituição Federal. Dentre os benefícios constantes da Lei Geral da Micro e Pequena Empresa, podem ser destacados: Criação do Simples Nacional, que é um sistema unificado de apuração, recolhimento e arrecadação dos impostos e contribuições da União, estados, Distrito Federal e municípios, com a simplificação das obrigações fiscais acessórias; Desoneração tributária das receitas de exportação e das receitas que se sujeitam ao regime de substituição tributária; Dispensa quanto ao cumprimento de algumas obrigações trabalhistas e previdenciárias; Simplificação do processo de abertura, alteração e baixa de empresa; Criação de estímulos ao crédito e à capitalização de recursos; Tratamento especial em licitações públicas; Estímulo à inovação tecnológica; Incentivos à formação de consórcios visando incrementar compras e vendas de bens e serviços; Estímulo à legalização do pequeno empresário, citado no art. 970 do Código Civil Brasileiro, pela dispensa de obrigações acessórias. 23 1.5 Situação das MPE´s de contabilidade do Estado de São Paulo Segundo o CFC (2010), existem no Estado de São Paulo, 8733 escritórios individuais e 9547 sociedades de contabilidade, que equivalem a 24,76% de todos os escritórios de contabilidade do Brasil. Devido à falta de valorização dos trabalhos de contabilidade, onde as empresas também não querem pagar o devido trabalho, os escritórios se acomodaram e fornecem o estritamente necessário para cumprir as obrigações fiscais e legais, deixando de orientar com relação à contabilidade gerencial, que são as informações analisadas para tomada de decisões; daí o alto índice de mortalidade das micro e pequenas empresas. (RAZA, 2010, p.1) Por estes números, tem-se a ideia de que a concorrência por novos negócios é bastante acirrada e a competição por preço predomina. Em tais circunstâncias, é mais do que necessário as MPE´s de contabilidades apresentarem aos seus clientes as vantagens provenientes de produtos/serviços que agreguem valor decisorial e possam cativá-lo. Segundo Laurentino (2008, p.53), 65% dos empresários que buscam auxílio para a gestão, procuram na contabilidade algum subsídio. Mas, as MPE´s e os respectivos profissionais de contabilidade estão se aproveitando desta oportunidade do mercado e possuem capacidade para atendê-los ? Com o intuito de esclarecer a realidade das MPE´s de contabilidade, este trabalho propõe uma pesquisa de campo que procure coletar dados sobre a utilização do planejamento estratégico, abordando o ambiente interno e externo à empresa, os produtos/serviços oferecidos e o ambiente em que a MPE se encontra. 1.6 O Sistema Público de Escrituração Digital A Constituição Federal determina que as administrações tributárias da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, atuarão de forma integrada,inclusive com o compartilhamento de cadastros e de informações fiscais. Para que isso ocorra, foi instituído o SPED (Sistema Público de Escrituração Digital), que compreende três atividades, dentre os quais se destaca a Escrituração Contábil Digital - ECD, que visa a substituição da emissão de livros e documentos contábeis em papel pela sua existência apenas digital, o que poderá beneficiar os contribuintes na forma de simplificação e racionalização de obrigações acessórias. A administração tributária também será beneficiada, tendo em vista a racionalização de custos e maior eficácia na fiscalização. 24 A ECD compreende a versão digital do livro Diário e seus auxiliares, do livro Razão e seus auxiliares e do livro Balancetes Diários, Balanços e fichas de lançamento comprobatórias dos assentamentos neles transcritos. Em relação às demais demonstrações contábeis, apesar de não haver obrigatoriedade expressa de sua inclusão, as mesmas poderão ser inseridas, pois o sistema da ECD está preparado para receber informações adicionais, a saber: notas explicativas, Balanço Patrimonial, Demonstração do Resultado do Exercício, bem como as demais demonstrações a que estão sujeitas as pessoas jurídicas. O arquivo com o conteúdo da ECD deve ser submetido ao SPED, através de um programa validador, com assinatura eletrônica e certificado digital que garante a segurança dos dados e do acesso ao mesmo. Diante deste novo cenário tecnológico, as MPE´s de contabilidade deixarão de apresentar os registros contábeis de seus clientes e de si próprias em formato físico (papel), o que exige grande quantidade de recursos, bem como, espaço físico propriamente dito. Mesmo com arquivos eletrônicos, em algumas empresas visitadas que já possuem um certo tempo no mercado, pode-se encontrar salas destinadas a estes arquivos físicos. Mas, este não é o principal impacto do SPED. As MPE´s de contabilidade devem apresentar dados que mostrem as operações reais dos seus clientes, ou seja, faturamento, movimentação de estoques, finanças, etc. O “jeitinho brasileiro” para burlar o fisco torna-se uma armadilha para as próprias empresas, e os contadores devem apresentar uma contabilidade coerente, real e íntegra, auditável eletronicamente pela empresa e pelo Fisco. A profissão do contador, então, torna-se mais do que nunca imprescindível. Duarte (2009, p.144) afirma: “Implicitamente, há uma sinalização da transformação do papel do contabilista, de gerador de guias a estrategista empresarial.” O futuro das empresas de contabilidade será promissor, se as mesmas, tiverem condições de fornecer a seus clientes, planejamento tributário, estratégias competitivas, análises de índices financeiros, e acima de tudo, participação ativa na implementação de sistemas de gestão empresarial – ERP (Enterprise Resource Planning). Outro impacto da implementação do SPED é a forma de comunicação entre as MPE´s de contabilidade e seus respectivos clientes. As empresas podem 25 simplesmente enviar periodicamente cópias de documentos que comprovem suas transações. O escritório contábil recebe arquivos eletrônicos com movimentos contábeis e realiza os ajustes e lançamentos para fechamento do processo. Assim, a partir do sistema contábil do escritório, ele gera a ECD, assina e envia à empresa para co-assinar e transmitir à base do SPED. Mas, os escritórios devem ter acesso aos documentos de seus clientes, e, muitos deles não possuem um sistema ERP, ou algo eletronicamente viável. Com isso, o relacionamento entre MPE´s de contabilidade e clientes deve se tornar transparente, ágil e completo. Clientes com transações não estruturadas, ou dados obscuros serão presas fáceis do fisco, e consequentemente, os escritórios de contabilidade devem propor soluções que estruturem as transações de seus clientes e evitem fraudes e, consequentemente, multas. Em pesquisa realizada por Duarte (2009, p. 293 e 294), pode-se comprovar o acima exposto: Em relação às consequências do SPED nos escritórios contábeis, as principais respostas foram: integração entre clientes e escritório contábil (67,1%); integração de software contábil, fiscal e folha de pagamentos (58,1%); capacitação profissional (50,7%); utilização de métodos para gerenciamento de documentos eletrônicos (35,5%); contratação de profissionais mais qualificados (35,3%) e investimentos em segurança da informação (30,5%). Logo, pode-se notar que o governo brasileiro, através do projeto SPED, busca adaptar todo o sistema contábil e fiscal à realidade do mercado no século XXI. Os dados tornam-se acessíveis, e as informações, fonte de conhecimento, análise e gestão. Consequentemente, as MPE´s de contabilidade devem se aprimorar, mais do que nunca, no exercício da profissão, devem se atualizar tecnologicamente e, acima de tudo, devem buscar coerência, transparência e eficiência nos serviços prestados a seus clientes. 26 2 A Contabilidade como instrumento de planejamento estratégico A contabilidade possui atuações diretas ou indiretas em praticamente todos os setores da empresa, desde a aquisição de materiais, linha de produção ou prestação de serviços, até a venda e controle das operações da mesma; com isso, consegue identificar as principais transações financeiras de uma empresa, além de possuir um claro fluxo de informações pertinentes a diversos processos internos e externos da mesma. Logo, a contabilidade é uma ferramenta que, se utilizada adequadamente, pode ser extremamente útil em identificar fatores estratégicos pertinentes ao ambiente interno da empresa e fornecer informações de tendências do mercado. 2.1 Contabilidade gerencial A contabilidade gerencial é de suma importância para as empresas. Através das informações contidas nos relatórios internos de contabilidade, pode-se diagnosticar alguns problemas na empresa e auxiliar na gestão da mesma. Segundo ZANLUCA (2010, p.1), “A gestão de entidades é um processo complexo e amplo, que necessita de uma adequada estrutura de informações - e a contabilidade é a principal delas.” Também, de acordo com o mesmo autor na mesma obra: […] dá-se o nome de Contabilidade gerencial à utilização dos registros e controles contábeis com o objetivo de gerir uma empresa. A contabilidade gerencial, normalmente, aborda as seguintes análises: projeção do fluxo de caixa, análise de indicadores, cálculo do ponto de equilíbrio, determinação de custos padrões, planejamento tributário, elaboração do orçamento e controle orçamentário. Ou seja, através da contabilidade gerencial, o empresário e o próprio contador conseguem realizar um diagnóstico suscinto e claro da empresa e, se desejado, dos diferentes departamentos da mesma. Através da contabilidade gerencial, os gestores possuem maior flexibilidade em definir e coletar informações que os auxiliem na tomada de decisões. A tabela a seguir resume as principais diferenças entre contabilidade financeira e a contabilidade gerencial. 27 Tabela 1: Elementos básicos das Contabilidades Financeiros e Gerenciais Fonte: Adaptado de Atkinson (1995; p. 6) Segundo Vasconcelos (2010, p.6): Medidas da condição econômica da empresa, como as de custo e lucratividade dos produtos, dos serviços, dos clientes e das atividades das empresas, são obtidas dos sistemas de contabilidade gerencial. Além disso, a informação gerencial contábil mede o desempenho econômico de unidades operacionais descentralizadas, como as unidades de negócios, as divisões e os departamentos. Essas medidas de desempenho econômico ligam a estratégia da empresa à execução da estratégia individual de cada unidade operacional. Segundo Marion(1998, p.454), as principais técnicas de análise das demonstrações financeiras são: Indicadores financeiros e econômicos; Análise horizontal e vertical; Margem de contribuição, ponto de equilíbrio e alavancagem operacional. 2.1.1 Índices financeiros e econômicos Os principais índices atualmente praticados são: a) Índices de liquidez: segundo Marion (1998, p.456), “São utilizados para avaliar a capacidade de pagamento da empresa, isto é, constituem uma apreciação Descrição Contabilidade Financeira Contabilidade Gerencial Público-alvo Externo: acionistas, credores, autoridades fiscais Interno: Funcionários, gerentes e executivos Objetivo Reportar o desempenho passado com finalidades externas; contratos com proprietários e credores. Informar para tomada de decisões internas feitas por empregados, gestores e executivos: feedback e controle do desempenho das operações Temporalidade Histórica; passada. Corrente; orientada p/ o futuro Restrições Reguladas: regras direcionadas por princípios gerais aceitos pela contabilidade e por autoridades governamentais. Sem regras estabelecidas: sistemas e informações determinadas por gerentes para encontro de necessidades estratégicas e operacionais Tipo de informação Medidas financeiras somente Financeiras mais medidas operacionais e físicas sobre processos, tecnologias, fornecedores, clientes e competidores. Natureza da informação Objetiva, auditável, confiável, consistente, precisa. Mais subjetiva e de juízos; válidas, relevantes, acuradas. Escopo Altamente agregado; relatórios sobre a organização inteira. Desagregado, de informação à ações e decisões locais. 28 sobre se a empresa tem capacidade para saldar seus compromissos.” Índice de liquidez corrente (ILC): mostra a capacidade de pagamento da empresa a curto prazo. Índice de liquidez seca (ILS): mostra a capacidade de pagamento da empresa a curto prazo sem considerar os seus estoques. Índice de liquidez geral (ILG): mostra a capacidade de pagamento da empresa a longo prazo, considerando tudo que a empresa converterá em dinheiro, e relacionando com tudo o que a empresa já assumiu como dívida. Índice de liquidez imediata (ILI): mostra a capacidade disponível imediata de pagamento da empresa à curto prazo. Figura 1: Índices de liquidez – Fórmulas Fonte: Adaptado de Marion (1998, p.456 - 463) b) Índices de endividamento: segundo Marion (1998, p.464), “É por meio desses indicadores que apreciaremos o nível de endividamento da empresa.” Índice de endividamento geral (IEV): mostra o endividamento da empresa em relação ao passivo total, inclusive o Patrimônio Líquido. Composição do endividamento: mostra o endividamento baseado em capital de terceiros, e o endividamento baseado em capital próprio. 29 Figura 2: Índices de endividamento – Fórmulas Fonte: Adaptado de Marion (1998, p. 466) c) Índices de atividade: determina o ciclo operacional da atividade, mostrando a relação entre o prazo de recebimento de vendas e o prazo de pagamento de dívidas para renovar o seu estoque. Prazo médio de renovação do estoque: ou giro dos estoques, é o tempo decorrido entre a compra e a venda das mercadorias. Prazo médio de recebimento de contas a receber: O prazo médio de recebimentos retrata quanto tempo a empresa leva para receber dos clientes, indicando o tempo decorrido entre a venda e o efetivo ingresso dos recursos. Deve-se ressaltar que no montante de clientes deverão estar contidos os créditos de curto e longo prazo. Prazo médio de pagamento de contas a pagar: indica quanto tempo a empresa leva para pagar aos fornecedores suas obrigações decorrentes das compras de matérias-primas ou mercadorias. Ciclo Financeiro: mostra a diferença entre o prazo médio de recebimento e o prazo médio de pagamento. Com esse índice, pode-se verificar como o fluxo de caixa se modifica ao longo do tempo. Ciclo operacional: indica o período decorrido entre a compra da mercadoria ou matéria-prima e o recebimento efetivo referente às vendas efetuadas. 30 Figura 3: Índices de atividades – Fórmulas Fonte: Adaptado de Marion (1998, p. 470) d) Índices de rentabilidade: procuram evidenciar qual foi a rentabilidade dos capitais investidos, ou seja, o resultado das operações realizadas por uma organização, por isso, preocupam-se com a situação econômica da firma. Margem operacional: evidencia qual foi o retorno que a empresa obteve frente ao que conseguiu gerar de receitas. Em outras palavras: quanto o que sobrou para a empresa representa sobre o volume faturado. Rentabilidade do ativo: A rentabilidade do ativo é calculada quando se deseja ter uma idéia da lucratividade, como um todo, do empreendimento, venham de onde vierem os recursos, admitindo-se as aplicações realizadas. Rentabilidade do Patrimônio Líquido: permite saber quanto a administração, através do uso dos ativos, obteve de rendimento com a respectiva estrutura de despesas financeiras, considerando-se o nível de relacionamento percentual entre o capital próprio e o de terceiros. Em última instância: evidencia qual a taxa de rendimento do Capital Próprio. Giro do ativo: Demonstra quantas vezes o ativo girou como resultado ou efeito das vendas ou quanto a empresa vendeu para cada $ 1,00 de investimento total. 31 Figura 4: Índices de rentabilidade – Fórmulas Fonte: Adaptado de Marion (1998, p. 473) 2.1.2 Análise horizontal e vertical Análises verticais são aquelas que indicam a percentagem de um determinado item do ativo, ou do passivo, em relação aos seus respectivos montantes totais. Segundo Marion (1998, p. 481), as análises verticais são completas quando elaboradas simultaneamente em dois ou mais períodos. Um exemplo é a relação entre o ativo circulante sobre o ativo total. Análise horizontal, segundo Marion (1998, p. 483), é a observação de um índice ou valor ao longo do tempo. Portanto, só pode ser determinada com dados de pelo menos dois períodos. Através desta análise pode-se estudar a evolução do desempenho financeiro e econômico da empresa ao longo do tempo. Analisando o desempenho de cada índice e valor ao longo de períodos passados, e, considerando o significado financeiro e econômico de cada item, pode-se traçar planos de ação para se alcançar os objetivos previamente determinados. Como Marion (1998, p.488) afirma, “Baseando-se em dados ocorridos até o momento, é possível que se tenha uma ideia do que pode ocorrer no futuro.” 32 2.1.3 O estudo da alavancagem operacional Margem de Contribuição: Valor das Vendas, menos o Custo das Mercadorias Vendidas, menos as Despesas Variáveis (Impostos, Comissões). De acordo com Martins (2003, p.128), [...] conceito de Margem de Contribuição por Unidade, que é a diferença entre o preço de venda e o Custo Variável de cada produto; é o valor que cada unidade efetivamente traz à empresa de sobra entre sua receita e o custo que de fato provocou e que lhe pode ser imputado sem erro. No entanto, o mesmo autor afirma em sua mesma obra (p.130 e p.133), [...]o conceito de Margem de Contribuição é um pouco mais amplo do que o comentado anteriormente, já que é a diferença entre a Receita e a soma de Custos e Despesas Variáveis, e não apenas entre receita e custos variáveis. E deve-se lembrar, também, que a receita a considerar deve ser a líquida, isto é, já deduzidos os tributos incidentes sobre ela. […] A Margem de Contribuição, conceituada como diferença entre Receita e soma de Custo e Despesa Variáveis, tem a faculdade de tomar bem maisfacilmente visível a potencialidade de cada produto, mostrando como cada um contribui para, primeiramente, amortizar os gastos fixos, e, depois, formar o lucro propriamente dito. Comparando a margem de contribuição com os custos fixos, tem-se uma clara ideia se o negócio é rentável, ou se está no mínimo conseguindo se equiparar aos custos fixos praticados. Então, pode-se estabelecer um comparativo entre os diversos produtos / serviços oferecidos pela empresa e verificar qual é o item que traz mais retorno e qual o item que não é tão atrativo para o resultado da empresa. O Ponto de equilíbrio é o faturamento mínimo que a empresa tem que atingir para que não tenha prejuízo, mas que também não estará conquistando lucro neste ponto. O Ponto de Equilíbrio é um dos indicadores contábeis que informa ao executivo o volume necessário de vendas, no período considerado, para cobrir todas as despesas, fixas e variáveis, incluído-se o custo da mercadoria vendida ou do serviço prestado. 33 Figura 5: Gráfico do ponto de equilíbrio Fonte: MARTINS (2003; p. 186) Alavancagem operacional: segundo Teixeira (2010, p.2), A Alavancagem operacional pode ser entendida como a capacidade de uma empresa em utilizar-se de “variações” nos custos fixos para aumentar os efeitos da variação em vendas sobre o Lucro operacional. Estes custos fixos não variam com o volume da produção, e devem ser remunerados pelas receitas geradas, esta capacidade de remunerar os custos fixos pode ser entendida em uma das configurações da MS “margem de contribuição” Figura 6: Alavancagem operacional – Fórmula Fonte: Adaptado de Martins (2003; p. 187) A alavancagem operacional é uma ferramenta útil no processo decisório, pois o gestor entende claramente o quando qualquer acréscimo no volume de vendas trará em acréscimo de lucro para a sua empresa. Desta forma, se for necessário um esforço muito grande em aumentar a produção de determinado produto, mas a receita a ser gerada não for assim atrativa, o gestor pode tomar a decisão em investir seus esforços financeiros e de recursos humanos em outro projeto ou necessidade da empresa. Teixeira (2010, p.8) afirma: A alavancagem operacional, conforme observado ao longo do estudo, aufere sustentação técnica ao processo decisório. Contudo, é importante que a partir da análise da alavancagem operacional, o gestor possa ter a sensibilidade de perceber o enorme risco que passa a correr no momento em que obtém esta alavancagem pelo incremento dos custos fixos, no momento em que seja 34 imprescindível repassar estes custos aos preços. [...]a alavancagem não deve ser trabalhada em sua forma isolada, uma vez que incrementar custos não significa otimizar produção, até porque em mercados que apontam para a globalização, o que conta realmente, é o valor que o consumidor possa perceber em um determinado produto. Logo, além de auxiliar na decisão interna em investir ou não em determinado acréscimo de produção, a alavancagem operacional também pode fornecer subsídios para o gestor entender se o mercado absorverá o acréscimo de volume pretendido. Percebe-se que a contabilidade gerencial auxilia os administradores não apenas a entender como é o desempenho da empresa internamente, mas também fornece informações crucias que medem o desempenho departamental e identifica as discrepâncias entre o esperado e o realizado. Todavia, é comum observar empresas contratantes de escritórios de contabilidade que não levam em conta os fatores gerenciais e, apenas contratam os serviços da contabilidade financeira. Logo, muitos executivos deixam de utilizar uma ferramenta poderosa que auxiliar- los-iam na tomada de decisões. No entanto, alguns autores afirmam que tais informações gerenciais ainda não são totalmente eficazes para a tomada de decisões estratégicas. De acordo com Johnson e Kaplan (1993, p. 65): Os sistemas de Contabilidade Gerencial das empresas são inadequados para a realidade atual. Nesta era de rápida mudança tecnológica, de vigorosa competição global e doméstica e uma enorme expansão da capacidade de processamento das informações, os sistemas de Contabilidade Gerencial estão deixando de fornecer informações úteis, oportunas para as atividades de controle de processos, avaliação de custos dos produtos e avaliação de desempenho dos gerentes. A contabilidade gerencial pode ser otimizada, desde que sua ênfase seja direcionada às decisões estratégicas da empresa: […] Contabilidade Estratégica não é um ramo autônomo que está sendo criado ou defendido, mas uma subespécie da Contabilidade Gerencial, configurando-se como um ramo cuja especialidade seria coletar e interpretar dados extraídos do ambiente externo, ou seja, dos concorrentes, fornecedores, clientes, potenciais consumidores, para que sejam geradas informações que suportem de fato as decisões estratégicas da empresa, cabendo ao contador possuir habilidades para 35 desempenhar um papel estratégico na organização com vistas à criação de vantagens competitivas que agreguem valor ao negócio. (SILVA e SANTOS, 2007, p.47) Portanto, a contabilidade gerencial sozinha não consegue envolver todas as áreas pertinentes a um planejamento assertivo que gere lucro e sustentabilidade. No entanto, se juntarmos a contabilidade gerencial com os fatores e ferramentas do planejamento estratégico, ambas são convergentes e passam a ser uma ferramenta poderosa. A essência da contabilidade de planejamento e controle é essencial para uma boa gestão de qualquer organização. 2.2 Estratégias competitivas Como dito no capítulo anterior, a realidade do início do século XXI revela um mundo em constante mudança, dinâmico e desafiador. Neste cenário, Bennis (1999, p.36) afirma que a nossa realidade atual demonstra que técnicas tradicionais que funcionaram no passado, hoje, não são as mais adequadas. Essa realidade não é momentânea, mas sistêmica e permanente na sociedade e no mundo dos negócios. O delineamento de uma estratégia é essencial para a sobrevivência das empresas nesta nova realidade. De acordo com Oliveira (2001, p.32), O intenso aumento do nível de concorrência entre as empresas, provocado, principalmente, pela globalização, pela forte evolução tecnológica e pelo maior nível de exigência dos clientes, tem levado a intensificação no uso de estratégias pelas empresas. Os modernos modelos de gestão exigem, em elevada intensidade, o delineamento e operacionalização de fortes estratégias que consolidem vantagens competitivas reais, sustentadas e duradouras para as empresas. Segundo pesquisa do SEBRAE-SP em Out/2008, o índice de mortalidade das micro e pequenas empresas paulistas no primeiro ano de existência é de 27% e no quinto ano de existência, 64%. A falta de planejamento e gestão deficiente são os principais motivos que cooperam para esses resultados. Obviamente, as pequenas empresas de contabilidade se enquadram neste cenário. A fim de estabelecer um planejamento e implementar uma gestão eficiente através de uma estratégia empresarial, pode-se considerar as seguintes fases: 36 2.2.1 O objetivo que se espera alcançar com a estratégia Para a formulação da estratégia de pequenas empresas é necessário saber o objetivo principal do dono da empresa ou de seus sócios. Segundo Oliveira (2001, p.61), a formulação da estratégia, visando aos objetivos, é condição essencial para que o próprio objetivo seja alcançado. Pode ser informal, ou seja, não precisa ser oficializada por um relatório, mas precisa ser claramente entendida e incorporada. Ainda segundo Oliveira (2001, p.119), “toda e qualquer estratégia empresarial deveestar relacionada a algum resultado, o qual foi antecipadamente estabelecido, e é sua razão de ser.” A missão e a visão da empresa são essenciais para o estabelecimento dos objetivos. Mesmo em pequenas empresas, o empresário possui uma visão e uma missão, mesmo estas não sendo oficializadas e divulgadas para os demais funcionários da empresa. No entanto, se o empresário não concentrar o planejamento estratégico coerentemente à sua visão, certamente, o planejamento será falho. 2.2.2 Análise do ambiente externo e interno O conhecimento do ambiente empresarial permite ao executivo determinar como a empresa se enquadra no mercado, como é influenciada e como influencia. Segundo Oliveira (2001, p.122), Ambiente empresarial é o conjunto de todos os fatores externos à empresa que, de forma direta ou indireta, proporcionam ou recebem influência da referida empresa. […] A análise externa tem por finalidade estudar a relação existente entre a empresa e seu ambiente em termos de oportunidades e ameaças, bem como sua atual posição produto-mercado e, prospectivamente, quanto a sua posição produto-mercado desejada no futuro. Pode-se dividir o ambiente empresarial em macroambiente (economia nacional, mundial, variação cambial, índice de inflação, etc.), onde a empresa não influencia diretamente e não consegue alterá-lo; e ambiente direto (clientes, fornecedores, concorrentes diretos, entrantes potenciais, produtos substitutos), onde a empresa influencia diretamente. 37 Figura 7: Componentes do ambiente Fonte: Autor No setor contabilista, o ambiente externo no início do século XXI, como explicado anteriormente, se caracteriza por ser extremamente dinâmico, com mudanças constantes da legislação, dos procedimentos contábeis e das condições tecnológicas. Estes fatores regidos pelo ambiente macroeconômico não são influenciados apenas pelas empresas de contabilidade, mas por uma série de fatores econômicos e mundiais, políticos, culturais e sociais. Logo, o planejamento estratégico de uma empresa de contabilidade deve levá-los em conta como condicionantes da estratégia competitiva. Fahey & Randall (1999, p.214) afirmam, Não é surpreendente que as empresas concentrem no microambiente boa parte de sua atenção, mas é alarmante que poucas empresas sejam tão displicentes na observação do macroambiente. Muitas são as evidências dos riscos dessa desatenção; os relatos favoritos dos jornais e da imprensa especializada em negócios são sobre os eventos políticos, sociais, econômicos, legais e tecnológicos que, subitamente, comprometem decisões gerenciais fundamentadas no mais cuidadoso planejamento, criam ou eliminam oportunidades de mercado, e deflagram oscilações de montanha-russa nos preços das ações. 38 Através do monitoramento do macroambiente, o contador consegue identificar tendências do mercado que podem preveni-lo das transformações e descontinuidades dos diferentes setores, e com isso, alertar seus clientes; além de prever certos acontecimentos que são capazes de conquistar valiosa vantagem competitiva. A empresa que conseguir monitorar e diagnosticar melhor os acontecimentos do macroambiente, com certeza, será a empresa que obterá maiores sucessos em suas empreitadas. Com relação ao ambiente direto, o modelo das Cinco Forças de Porter (1986, p.14) pode ser utilizado como uma ferramenta que auxilia o executivo a determinar os principais fatores de influencia. Figura 8: Cinco forças de influência Fonte: Porter (1986, p.14) A idéia básica de qualquer estratégia é conseguir uma posição de privilégio. Os privilégios advindos da estratégia adotada pela empresa normalmente não eliminam a concorrência, mas representam vantagens competitivas que a empresa procura manter. Outro ponto importante a ser salientado é que o planejamento estratégico não deve se preocupar apenas com o mercado dos clientes. É fundamental ter sempre em mente que as empresas concorrem também por insumos, pelos recursos humanos e pelos recursos financeiros. Então, o modelo de Porter também procura considerar estes fatores e a identificar as oportunidade e ameaças presentes no ambiente. Segundo Oliveira (2001, p.123), O ambiente pode oferecer para a empresa oportunidades e ameaças. Nesse contexto, as empresas devem procurar aproveitar as oportunidades do ambiente, bem como procurar amortecer ou absorver as ameaças, ou simplesmente adaptar- se a elas. 39 Os fatores externos às empresas podem ser determinados através de fontes primárias, mediante pesquisas realizadas pela empresa diretamente no ambiente, ou através de empresas que obtém informações do ambiente por meio de agências governamentais(IBGE, etc.), universidades, Bolsa de Valores, sociedades de classes, etc. Oportunidades que são aproveitadas devidamente pela empresa proporcionam aumentos dos lucros da empresa, maior participação de mercado, etc. Por outro lado, as ameaças não consideradas podem proporcionar bloqueios para o desenvolvimento da empresa, ou até mesmo proporcionar a diminuição nos lucros previstos. Alguns fatores do ambiente externo à empresa que o contador precisa considerar para determinação das principais oportunidades e ameaças: Cadeia de fornecedores Possibilidade de junção com outras empresas do setor; Atualizações tecnológicas (TI); Atualização tributária e legislativa; Economia brasileira (inflação, PIB, variação cambial, etc.); Principais linhas de crédito e juros praticados; Conhecimento do cliente e sua respectiva cultura; Serviços e produtos oferecidos pelos concorrentes; Serviços e produtos necessários para os clientes; Novos serviços e produtos com potencial de entrada que exigem conhecimento contábil. Oliveira (2001, p.130) afirma, “Outro aspecto que deve ser considerado na análise ambiental corresponde às crises econômicas, as quais não são um fenômeno novo.” No segundo semestre de 2008, o mundo viveu uma crise financeira. Naquele momento, as empresas brasileiras que não levaram em conta essa ameaça, não conseguiram sobreviver e aquelas que estavam preparadas, conseguiram se preparar para a falta de crédito no mercado financeiro. Além disso, os contadores que estavam cientes da situação financeira mundial e que acompanhavam a “bolha econômica” apresentada pelas ações das Bolsas de Valores no mundo, conseguiram avisar seus clientes sobre os perigos, e 40 recomendar que os mesmos fizessem provisões de caixa no período de 2008. Também conseguiram identificar oportunidades de negócios, onde produtos, antes esquecidos ou de menor relevância, puderam ser mais bem negociados. Um exemplo pode ser a consideração de índices de liquidez e endividamento como ferramentas de análise e decisão, frente à situação de falta de crédito no mercado. No contexto do ambiente interno da empresa, devem-se levar em conta os pontos fortes e fracos, ou seja, aquilo que a empresa faz bem e aquilo que precisa ser melhorado. Durante a análise do ambiente interno de uma empresa de contabilidade, podem-se considerar algumas áreas da empresa em questão. As divisões mais comuns são: Marketing: mix de produtos e serviços contábeis oferecidos, como Balanço Patrimonial, Demonstrativo de Resultados e Exercícios, Fluxo de caixa, Contas a pagar e a receber, análise financeira dos clientes, crescimento de clientes ao longo do tempo, etc. Finanças: Análise dos principais índices financeiros, disponibilidade de caixa, pagamento de dividendos, faturamento, endividamento, etc. Produção: tempo para finalizar o trabalho contratado, qualidade dos relatórios, índice de satisfação dos clientes,custos empregados, etc. Recursos humanos: aprendizado pessoal e de funcionários (quando houverem), índice de satisfação dos funcionários (quando houverem), etc. 41 Tabela 2: Análise do ambiente direto Fatores internos Pontos fortes / Forças Vantagens internas da organização em relação aos objetivos Pontos fracos / Fraquezas Desvantagens internas da organização em relação aos objetivos Fatores externos Oportunidades Aspectos positivos do ambiente que envolve a organização com potencial de trazer-lhe vantagens Ameaças Aspectos negativos do ambiente que envolve a organização com potencial para comprometer as vantagens que ela possui. Fonte: PUC-SP. Notas de aula, curso MBA Controladoria, disciplina Planejamento estratégico. Figura 9: Processo estratégico de análise do ambiente Fonte: Autor Assim, de posse dessas informações, o contador pode iniciar o processo de planejamento estratégico de sua empresa, seguido de um plano de ações a fim de aproveitar as oportunidades, potencializando os pontos fortes e suprimindo ou 42 eliminado os pontos fracos da empresa, de maneira que as ameaças do mercado não surpreendem a mesma. Dentro deste contexto, a maioria das variáveis de competição já foi estabelecida: as negociações de preço, os canais de comunicação, a tecnologia utilizada, as formas através das quais produtos e serviços podem ser diferenciados, etc.. Contudo, existem oportunidades ainda não identificadas, onde estas variáveis ainda precisam ser definidas. A competição pelo futuro é uma competição pela participação nas oportunidades, e não pela participação no mercado, gerando necessidades de habilidades e recursos adicionais. Mas, para identificar as competências que devem ser desenvolvidas, os responsáveis pela elaboração de políticas e estratégias empresariais precisam prever a ampla estrutura de oportunidades do futuro e a análise do ambiente empresarial permite ao executivo enxergar a realidade atual da empresa e o mercado em que ela está inserida. 2.2.3 Diagnóstico dos produtos / serviços atuais No setor de contabilidade, pode-se dizer que as pequenas empresas lidam com inúmeros concorrentes, que oferecem o mesmo serviço e possuem o mesmo conhecimento básico. Então, o contador precisa saber precisamente qual portfólio de produtos / serviços que gerarão o melhor retorno sobre os investimentos. Mintzberg, apud Ansoff (1965, p.12) enfatizam essa ideia, O produto final de decisões estratégicas é enganosamente simples; uma combinação de produtos e mercados é selecionada pela firma. Chega-se a essa combinação pela adição de novos produtos-mercados, renúncia a outros antigos e expansão da posição presente. Para auxiliar o contador nesta determinação de produtos / serviços, propõe-se a utilização da matriz BCG (Boston Consulting Group), Segundo Oliveira (2001, p.252), a matriz BCG está baseada na curva de experiência de um produto / serviço e no histórico da demanda do mesmo. Também afirma que possui duas premissas, o caixa gerado pelas empresas é função do custo unitário e a necessidade de investimento em ativos fixos e capital de giro é função do crescimento da demanda. A matriz BCG considera ainda que o volume de vendas é representado pela área de círculos, quando maior a área, maior o volume de vendas; a participação relativa ao concorrente é representada pela posição horizontal do círculo na matriz e o crescimento da demanda no eixo vertical. 43 Figura 10: A matriz BCG Fonte: Adaptado de Boston Consulting Group (http://www.bcg.com/documents/file13255.pdf , acessado em 15/mai./2010) Cada um dos quatro quadrantes da matriz identifica um tipo de produto, conforme segue: ESTRELA: é líder em um mercado de alto crescimento, mas, não produz, necessariamente, um fluxo de caixa positivo. A empresa deve gastar recursos substanciais para acompanhar a alta taxa de crescimento e repelir os ataques dos concorrentes; VACA LEITEIRA: alta participação no mercado e baixa taxa de crescimento de vendas e geradores de caixa acima de suas necessidades de investimento; EM QUESTIONAMENTO: são negócios que operam em mercados de alto crescimento, mas que tem baixas participações relativas. A maioria dos negócios inicia como ponto de interrogação quando a empresa tenta entrar em um mercado de alto crescimento em que já existe um líder. Um ponto de interrogação exige muito investimento; ABACAXI: baixa participação no mercado e baixo crescimento, não geram a lucratividade desejada, não exigem investimentos significativos, apresentam desvantagens de custos e tem poucas oportunidades de evolução a curto prazo. A empresa deve avaliar se está mantendo esses negócios por boas razões (como uma esperada reviravolta na taxa de crescimento de mercado 44 ou uma nova chance para conseguir a liderança) ou por razões sentimentais Para pequenas empresas de contabilidade, é difícil conhecer qual a sua posição no mercado em relação à concorrência. Como, o uso de caixa e a geração de caixa são proporcionais ao crescimento do mercado e à participação no mercado, Oliveira (2001, p.270) propõe a seguinte matriz BCG: Tabela 3: Matriz BCG modificada por fluxo de caixa USO DE CAIXA (Taxa de crescimento) ALTO FLUXO DE CAIXA + OU – MODESTO (Estrela) FLUXO DE CAIXA NEGATIVO (Em questionamento) BAIXO FLUXO DE CAIXA POSITIVO (Vaca leiteira) FLUXO DE CAIXA + OU – MODESTO (Abacaxi) ALTO BAIXO GERAÇÂO DE CAIXA (Parcela de mercado) Fonte: Adaptado de Oliveira (2001, p.270) De posse das informações de cada produto/serviço e da sua respectiva posição relativa na matriz BCG, o contador consegue identificar quais produtos deve investir seus esforços de vendas, aprendizado, caixa, etc.; e quais não devem receber atenção e esforço. 2.2.4 Análise de cenários alternativos É uma maneira de planejar o curso da empresa considerando diferentes cenários futuros, ou seja, prevê-se alguns possíveis cenários futuros e interliga-os à diferentes planos de ação empresarial. Trata-se de diferentes cursos de ação que o executivo pode utilizar para alcançar os resultados esperados. É uma abordagem complementar à implementação da estratégia empresarial através de técnicas convencionais, mas é muito útil em ambientes turbulentos e incertos. Segundo Oliveira (2001, p.180) abud Nair & Sarin (1979:57), o planejamento estratégico, desenvolvido adequadamente, considerando diferentes cenários futuros, permite à empresa sobreviver em diferentes situações e prever alertas contra ameaças e 45 eventos inesperados. No entanto, segundo Oliveira (2001, p.180), não se deve abrir muitos cenários alternativos, baseados em julgamentos pessoais, pois os mesmos podem apresentar incoerências e conflitos. Logo, o executivo deve levar em conta os seguintes fatores: Ambiente empresarial: para evitar especulações inúteis, ao se tratar de problemas que não fazem parte do escopo da empresa. Normalmente, são considerados 3 cenários do ambiente, mais provável, otimista e pessimista; e apenas a trajetória mais provável do ambiente mundial e do local. Sistema de informações: escolha, priorização e escalonamento dos fatores de maior importância para a análise. Existem diversas técnicas de determinação dos fatores relevantes, que sugerem análises intuitivas, qualitativas e quantitativas (estatísticas). Estruturação e elaboração dos cenários alternativos: escolha de temas para os cenários e elaboração matricial considerando temas x fatores, considerando a interação entre diferentes fatores e, consequentemente,
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