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1 ELETRICIDADE APLICADA 6 – NÚMEROS COMPLEXOS PROF. MARCELO MARÇULA 2 NÚMEROS COMPLEXOS Desde o início do estudo da matemática, existiu o conceito de que a raiz quadrada de um número negativo não existe. Tanto que Bhaskara (1114 – 1185) afirmou: “O quadrado de um positivo é positivo; e a raiz quadrada de um positivo é dupla: positiva e negativa. Não há raiz quadrada de um negativo, pois ele não é um quadrado”. Isso tem relação direta com a resolução de equações, por exemplo, do segundo grau. Para tratar essa questão da não existência da raiz quadrada de um número negativo, surgiu o conceito básico do Número Complexo1, tratado pela primeira vez por Gerolamo Cardano em 1545. A forma mais comum de se representar um número complexo é pela Representação Trigonométrica. Nela o número complexo é representado como sendo um vetor em um Plano Complexo ou Plano de Argand- Gauss2. Esse plano é formado por um eixo para representar os números reais (Re – horizontal) e um eixo para representar os números imaginários (Im – vertical)3. Dessa maneira, podemos compreender um número complexo como sendo formado por uma “parte” real e uma “parte” imaginária (não real). Figura 1: Representação trigonométrica de um número complexo Trigonometricamente o número complexo Z é: 𝑍 = |𝑍| × (𝑐𝑜𝑠𝜃 + 𝑖. 𝑠𝑒𝑛𝜃) O componente i indica que aquela parcela é imaginária e vale4: 𝑖 = √−1 1 O termo “número complexo” surgiu em 1832, cunhado por Carl Friederich Gauss. 2 Esse nome vem dos estudos, relacionados à essa representação gráfica, realizados por Jean-Robert Argand (1822) e Gauss (1831). 3 Os termos “real” e “imaginário” foram utilizados pela primeira vez em 1637 por Renè Descartes. 4 O símbolo “i” foi usado pela primeira vez em 1794 por Leonhard Euler, mas se tornou amplamente aceito depois que Gauss o utilizou em 1801. 3 Outra representação utilizada para representar os números complexos, utiliza somente o valor de cada “coordenada” do vetor (utiliza um número real) e i para denotar a parte imaginária5: 𝐴 + 𝑖𝐵 Onde A é a componente real do número complexo e B é a componente imaginária do mesmo número complexo. Como podemos perceber, a raiz de um número negativo não existe no domínio dos números reais. Por esse motivo isso representa um valor imaginário, que não é real. O número complexo é um vetor do plano complexo, portanto, podemos representá-lo de duas formas: Retangular e Polar. IMPORTANTE Como vamos utilizar os números complexos em eletricidade, não vamos mais utilizar o i para indicar o valor complexo, porque ele poderia ser confundido com uma corrente. Então, vamos utilizar o j para essa finalidade. FORMA RETANGULAR A forma retangular é aquela na qual o número complexo é representado pelas duas coordenadas do vetor no plano complexo: uma do eixo dos números reais e outra do eixo dos números imaginários. Sendo assim, temos que: Figura 2: Representação de um número complexo na forma retangular A representação retangular do número complexo é 𝑵 = 𝑨 + 𝒋𝑩 Nesse caso, A e jB são as coordenadas do vetor. 5 Essa representação dos números complexos, utilizando dois números reais só surgiu em 1837, criada por Sir William Rowan Hamilton. N = A + jB 4 FORMA POLAR A forma polar é aquela na qual o número complexo é representado pelo módulo do vetor e pelo ângulo que o vetor forma com o eixo horizontal (eixo dos reais). Figura 2: Representação de um número complexo na forma polar A representação polar do número complexo é 𝑵 = 𝑪∠𝜽 Nesse caso C é o módulo do vetor do número complexo e é o ângulo do vetor do número complexo. IMPORTANTE Na representação polar o módulo do vetor sempre terá valor positivo (ele representa o tamanho do vetor). IMPORTANTE Como os números complexos podem ser vistos como vetores e as tensões/correntes alternadas senoidais também podem ser representadas por vetores, vamos utilizar a notação e a aritmética dos números complexos com as tensões e correntes alternadas. N 5 CONVERSÕES ENTRE REPRESENTAÇÕES DE NÚMEROS COMPLEXOS Vamos considerar o mesmo número complexo N, apresentado nas figuras acima: Figura 3: Número complexo Lembre-se que as representações retangular e polar, nesse exemplo, representam exatamente o mesmo número complexo. CONVERSÃO RETANGULAR PARA POLAR Na representação polar necessitamos descobrir o módulo do vetor e o ângulo que ele forma com o eixo real. Vamos enxergar isso como um problema com triângulo retângulo. Então, temos um número complexo representado como retangular, A + jB e vamos obter a representação do mesmo número em polar. Módulo Sabemos que: 𝐶2 = 𝐴2 + 𝐵2 Portanto: 𝑪 = √𝑨𝟐 + 𝑩𝟐 Ângulo Sabemos que: 𝑡𝑔𝜃 = 𝐵 𝐴 Portanto: 𝜽 = 𝒂𝒓𝒄𝒕𝒈 𝑩 𝑨 N 6 Então concluímos que: 𝑵 = 𝑨 + 𝒋𝑩 = 𝑪∠𝜽 = (√𝑨𝟐 + 𝑩𝟐) ∠ (𝒂𝒓𝒄𝒕𝒈 𝑩 𝑨 ) 6 CONVERSÃO POLAR PARA RETANGULAR Na representação retangular necessitamos descobrir as coordenadas horizontal (real) e vertical (imaginária). Vamos novamente enxergar isso como um problema com triângulo retângulo. Então, temos um número complexo representado como polar, 𝐶 = ∠𝜃 e vamos obter a representação do mesmo número em retangular. Coordenada Real Sabemos que: 𝑐𝑜𝑠 𝜃 = 𝐴 𝐶 Portanto 𝑨 = 𝑪 × 𝒄𝒐𝒔 𝜽 Coordenada Imaginária Sabemos que: 𝑠𝑒𝑛 𝜃 = 𝐵 𝐶 Portanto: 𝑩 = 𝑪 × 𝒔𝒆𝒏 𝜽 Então concluímos que: 𝑵 = 𝑪∠𝜽 = 𝑨 + 𝒋𝑩 = (𝑪 × 𝒄𝒐𝒔 𝜽) + 𝒋(𝑪 × 𝒔𝒆𝒏 𝜽)7 OPERAÇÕES ARITMÉTICAS COM NÚMEROS COMPLEXOS Realizar operações aritméticas com números complexos é trabalhar com operações aritméticas de polinômios. Mas, como nosso objetivo é utilizar os números complexos como ferramenta, vamos utilizar outra abordagem. Utilizando as diferentes representações dos números complexos (retangular e polar) vamos utilizar uma representação específica para cada operação aritmética. Por esse motivo é importante saber realizar a conversão entre as representações (o que foi apresentado anteriormente). Vejamos como funciona. 6 Essa conversão pode ser realizada diretamente pela calculadora. Observe o anexo, no final desse documento. 7 Essa conversão pode ser realizada diretamente pela calculadora. Observe o anexo, no final desse documento. 7 ADIÇÃO DE NÚMEROS COMPLEXOS Para realizar a adição de números complexos utilizamos a representação retangular. Então somamos todos os argumentos reais dos números complexos, obtendo o argumento real do número complexo soma e somamos todos os argumentos imaginários dos números complexos, obtendo o argumento imaginário do número complexo soma. Observe: 𝑁1 = 𝐴1 + 𝑗𝐵1 𝑁2 = 𝐴2 + 𝑗𝐵2 𝑵𝟏 + 𝑵𝟐 = (𝑨𝟏 + 𝑨𝟐) + 𝒋(𝑩𝟏 + 𝑩𝟐) IMPORTANTE Sempre leve em consideração o sinal do componente real e imaginário. Exemplo 1: N1 = 5 + j2 N2 = 3 + j4 N1 + N2 = (5 + 3) + j(2 + 4) = 𝟖 + 𝐣𝟔 Exemplo 2: N1 = 5 − j2 N2 = −4 + j6 N1 + N2 = (5 − 4) + j(−2 + 6) = 𝟏 + 𝐣𝟒 SUBTRAÇÃO DE NÚMEROS COMPLEXOS Para realizar a subtração de números complexos utilizamos também a representação retangular. Então subtraímos os argumentos reais dos dois números (argumento real da subtração) e subtraímosos argumentos imaginários dos dois números (argumento imaginário da subtração). Observe: 𝑁1 = 𝐴1 + 𝑗𝐵1 𝑁2 = 𝐴2 + 𝑗𝐵2 𝑵𝟏 − 𝑵𝟐 = (𝑨𝟏 − 𝑨𝟐) + 𝒋(𝑩𝟏 − 𝑩𝟐) IMPORTANTE Sempre leve em consideração o sinal do componente real e imaginário. 8 Exemplo 1: N1 = 5 + j6 N2 = 3 + j4 N1 − N2 = (5 − 3) + j(6 − 4) = 𝟐 + 𝐣𝟐 Exemplo 2: N1 = 4 + j2 N2 = 1 + j4 N1 − N2 = (4 − 1) + j(2 − 4) = 𝟐 + 𝐣(−𝟐) = 𝟐 − 𝐣𝟐 MULTIPLICAÇÃO DE NÚMEROS COMPLEXOS Para realizar a multiplicação de números complexos utilizamos a representação polar. Então multiplicamos os módulos dos números complexos (módulo do vetor representação) para obtermos o módulo do número complexo multiplicação. E somamos os ângulos dos números complexos para obtermos o ângulo do número complexo multiplicação. Observe: 𝑁1 = 𝐶1∠𝜃1 𝑁2 = 𝐶2∠𝜃2 𝑵𝟏 × 𝑵𝟐 = (𝑪𝟏 × 𝑪𝟐)∠(𝜽𝟏 + 𝜽𝟐) Exemplo 1: N1 = 6∠30 o 𝑁2 = 3∠50 o N1 × N2 = (6 × 3)∠(30 o + 50o) = 𝟏𝟖∠𝟖𝟎𝐨 Exemplo 2: N1 = 4∠30 o 𝑁2 = 2∠−70 o N1 × N2 = (4 × 2)∠(30 o − 70o) = 𝟖∠−𝟒𝟎𝐨 DIVISÃO DE NÚMEROS COMPLEXOS Para realizar a divisão de números complexos utilizamos também a representação polar. Então dividimos os módulos dos números complexos (módulo do vetor representação) para obtermos o módulo do número complexo divisão. E subtraímos o ângulo do número complexo do dividendo do ângulo do número complexo do divisor (sempre e levando em consideração o sinal) para obtermos o ângulo do número complexo divisão. Observe: 𝑁1 = 𝐶1∠𝜃1 𝑁2 = 𝐶2∠𝜃2 𝑵𝟏 𝑵𝟐 = 𝑪𝟏∠𝜽𝟏 𝑪𝟐∠𝜽𝟐 = ( 𝑪𝟏 𝑪𝟐 ) ∠(𝜽𝟏 − 𝜽𝟐) 9 Exemplo 1: N1 = 8∠90 o N2 = 4∠30 o N1 N2 = 8∠90o 4∠30o = ( 8 4 ) ∠(90o − 30o) = 𝟐∠𝟔𝟎𝐨 Exemplo 2: N1 = 12∠40 o N2 = 3∠−50 o N1 N2 = 12∠40o 3∠−50o = ( 12 3 ) ∠(40o − (−50o)) = ( 12 3 ) ∠(40o + 50o) = 𝟒∠𝟗𝟎𝐨 A próxima etapa é associar o conceito dos números complexos com os conceitos de fasores de corrente alternada. 10 BIBLIOGRAFIA ALEXANDER, Charles K.; Sadiku, Matthew N. O. Fundamentos de Circuitos Elétricos. 5 ed. Porto Alegre: AMGH, 2013. BOYLESTAD, Robert L. Introdução à Análise de Circuitos. Rio de Janeiro: Prentice-Hall do Brasil, 1998. GUIMARÃES, Caio dos Santos. Matemática em Nível IME/ITA – Volume 1: Números Complexos e Polinômios. São José dos Campos: Vestseller, 2008. GUSSOW, Milton. Eletricidade Básica. São Paulo: Makron Books, 1997. HAYT Jr. William H.; KEMMERLY, Jack E.; DURBIN, Steven M. Análise de Circuitos em Engenharia. São Paulo: McGraw-Hill, 2008. MARKUS, Otávio. Circuitos Elétricos: Corrente Contínua e Corrente Alternada. São Paulo: Érica, 2004. MILIES, Francisco César Polcino. A Introdução dos Números Complexos. Imática. Acesso em 15/04/2016. Em <http://www.matematica.br/historia/complexos.html>. O’MALLEY, John. Análise de Circuitos. 2a ed. São Paulo: Makron Books, 1993. 11 APÊNDICE 1 – CONVERSÃO DE REPRESENTAÇÕES DE NÚMEROS COMPLEXOS COM CALCULADORA Vamos utilizar como exemplo a calculadora CASIO fx-82MS8 (observe a figura abaixo): CONVERSÃO DE RETANGULAR PARA POLAR Converter 3 + j4 para a representação polar: Indica a representação que desejamos obter: polar (POL) Em primeiro lugar entre com a parte real do número complexo Cuidado! É a vírgula de função e não o ponto decimal Agora deve ser colocada a parte imaginária do número complexo Fechar parênteses para encerrar a sintaxe da função Solicita o processamento da conversão de retangular para polar Aparecerá na tela o número 5. Esse é o módulo do número complexo em polar. Indica que a calculadora deve procurar algo armazenado em alguma posição de memória Aparecerá 53,13010235. Esse é o ângulo do número complexo em polar. Observe a letra F acima da tecla tan. Ela indica que esse ângulo estava armazenado na posição F da memória da calculadora. 553,13° 8 Para realizar essa operação em outros modelos de calculadora, procurar o manual da calculadora. 12 CONVERSÃO DE POLAR PARA RETANGULAR Converter 260° para a representação retangular: Indica para a calculadora que desejamos utilizar uma segunda função de uma tecla. Indica a representação que desejamos obter retangular (REC) Em primeiro lugar entre com o módulo do número complexo Cuidado! É a vírgula de função e não o ponto decimal Agora deve ser colocado o ângulo do número complexo Fechar parênteses para encerrar a sintaxe da função Solicita o processamento da conversão de retangular para polar Aparecerá na tela o número 1. Essa é a parte real do número complexo em retangular. Indica que a calculadora deve procurar algo armazenado em alguma posição de memória Aparecerá 1,732050808. Essa é a parte imaginária do número complexo em retangular. Observe a letra F acima da tecla tan. Ela indica que a parte imaginária estava armazenado na posição F da memória da calculadora. 1 + j1,73
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