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APOSTILA ORGANIZAÇÃO DO ESTADO

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1
 
I.A CONSTITUIÇÃO 
 
1.Constitucionalismo 
 O termo constitucionalismo designa o movimento político, 
jurídico e social que identifica a necessidade de norma constitucional como 
instrumento de limitação do poder. O constitucionalismo alia-se ao liberalismo 
que surgiu como resposta ao abuso do poder e caracterizou-se pela conquista 
das normas constitucionais. 
 Para André Ramos Tavares “fica absolutamente nítida, pois, a 
apresentação do constitucionalismo como movimento que, embora de grande 
alcance jurídico, apresenta feições sociológicas inegáveis. O aspecto jurídico 
revela-se pela pregação de um sistema dotado de um corpo normativo 
máximo, que se encontra acima dos próprios governantes – a Constituição. O 
aspecto sociológico está na movimentação social que confere a base de 
sustentação dessa limitação do poder, impedindo que os governantes passem a 
fazer valer seus interesses e regras na condução do Estado”.1 
 Constitucionalismo é limitação do poder pelo direito, tendo como 
base principal a Constituição Federal. Constitucionalismo é a antítese da 
arbitrariedade que teve seu apogeu na Idade Média. O termo 
constitucionalismo designa justamente a ruptura do absolutismo. Na Idade 
Moderna os Estados conheceram a limitação do poder por intermédio das 
Constituições. O constitucionalismo representou o advento do Estado Liberal, 
resultado direto da luta contra o absolutismo.2 “A partir do final do século 
XVIII, os Estados passaram a se organizar por constituições formais. Esses 
documentos teriam, então, a incumbência de estruturar juridicamente o poder 
político do Estado, definindo sua forma, a forma e o sistema de governo, a 
divisão e o funcionamento dos órgãos que prestam atividades do poder, o 
modelo econômico, bem como limitações ao poder político por meio de 
 
1
 TAVARES, André Ramos. Curso de direito constitucional. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 2. 
2
 PACHECO, José da Silva. O mandado de segurança e outras ações constitucionais típicas. 4ª ed. rev., 
atual. e ampl., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, pp. 52-53: “Com as lutas contra o absolutismo, ao se 
implantarem os governos liberais, surgiu o estado de direito, em que o poder se tornou função do 
consentimento popular, regulado pela Constituição, também originada da vontade do povo. O incremento do 
direito legislado, aumentando o prestígio do Legislativo, deu ao Estado condição de formulador e aplicador de 
todo o direito, a que, ele próprio se submete. Desse modo, apesar de modelar e garantir o direito, é dominado 
e limitado por ele com a Constituição delimitadora da tripartição dos poderes e das atribuições de cada um, 
assim como definidora dos direitos dos cidadãos e do homem, com as respectivas garantias, e restritiva do 
poder estatal e dos governantes”. 
 
 
2
 
direitos e garantias individuais. A esse movimento foi dado nome de 
constitucionalismo”.3 
“A passagem do Estado Absolutista para o Estado Liberal de 
Direito deu-se em razão do movimento iluminista surgido na Europa, tendo 
como principal centro a França. Locke, Montesquieu, Rosseau, dentro outros, 
sustentando os ideais iluministas no sentido da proteção dos indivíduos contra 
a insegurança e interferência dos Estados Unidos, ocorrida em 1776, que se 
consagrou com o nascimento, em 1787, da Constituição dos Estados Unidos, 
elaborada com a consagração da garantia da liberdade individual, da proteção 
dos direitos do cidadão e da propriedade privada. Esses ideais também 
inspiraram a Revolução Francesa de 1789 e a mudança de regime político na 
França, com a elaboração da Constituição de 1791. Tais movimentos 
iluministas espalharam-se por todo o mundo civilizado”.4 
Os Estados Unidos, em 1787, e a França, em 1791, se 
organizaram com a influência do constitucionalismo em Estados Liberais de 
Direito. Surge o Estado de Direito. O ponto primordial era a limitação do 
poder, constituindo-se como verdadeiras Constituições-garantia. Nesse 
sentido, Alexandre de Moraes afirma que “a origem formal do 
constitucionalismo está ligada às Constituições escritas e rígidas dos Estados 
Unidos da América, em 1787, após a Independência das 13 Colônias, e da 
França, em 1791, a partir da Revolução Francesa, apresentando dois traços 
marcantes: organização do Estado e limitação do poder estatal, por meio da 
previsão de direitos e garantias fundamentais”.5 “O constitucionalismo ganhou 
impulso a partir de então, difundindo-se por todo o mundo ocidental. A 
Constituição, norma formal e materialmente superior a todas as demais, 
limitadora do poder político e regulamentadora da atuação estatal, passou a ser 
base dos ordenamentos jurídicos nacionais. Numa etapa evolutiva 
subseqüente, o constitucionalismo incorporou também os Direitos 
Fundamentais, como garantias civis, ou seja, o respeito à dignidade humana 
como limite da autuação do estado, garantindo-se a privacidade, liberdade, 
democracia, acesso à jurisdição, dentre outros direitos fundamentais”.6 
 
3
 MANDELLI JUNIOR, Roberto Mendes. Argüição de descumprimento de preceito fundamental: 
instrumento de proteção dos direitos fundamentais e da constituição. São Paulo: Revista dos Tribunais, 
2003, p. 23. 
4
 ALMEIDA, Gregório Assagra de. Direito processual coletivo brasileiro: um novo ramo do direito 
processual. São Paulo: Saraiva, 2003, pp. 48-49. 
5
 MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 15ª ed., São Paulo: Atlas, 2004, p. 37. 
6
 JAYME, Fernando Gonzaga. Tribunal constitucional: exigência democrática. Belo Horizonte: Del Rey, 
1999, pp. 34-35. 
 
 
3
 
Manoel Gonçalves Ferreira Filho afirma que o constitucionalismo 
“visa estabelecer em toda parte regimes constitucionais, quer dizer, governos 
moderados, limitados em seus poderes, submetidos a Constituições escritas”.7 
André Ramos Tavares ressalta a idéia de constitucionalismo globalizado, que 
traduz-se na ampliação dos valores democráticos e tendo como conseqüência a 
universalidade desses ideais, ao afirmar que “nessa conhecida busca por maior 
integração insere-se uma tentativa de ampliação dos ideais e princípios 
jurídicos adotados pelo ocidente, de maneira que todos os povos reconheçam 
sua universalidade. Assim, a exigência de democracias, no modelo norte-
americano, de Estados que garantam e respeitem eles próprios os direitos 
humanos já consagrados, incluindo a liberdade de religião, bem como outros 
tantos princípios, foi disseminada como verdadeiro dogma, valor absoluto do 
qual não se pode desviar qualquer país. Ora, em síntese, tem-se uma fase final 
do constitucionalismo, que é justamente a de propagar-se e alcançar todas as 
nações, unificando os ideais humanos a serem consagrados juridicamente”.8 
 
2.Conceito e Natureza da Constituição 
 O termo Constituição vem do latim constituone, que significa 
firmar, formar. A Constituição é a organização de alguma coisa. O sentido 
jurídico não é diferente, na medida em que o termo designa formação e 
organização fundamental do Estado. A Constituição Federal constitui e 
estabelece as atribuições dos órgãos do Estado.9 
 Manoel Gonçalves Ferreira Filho define a Constituição como o 
“conjunto de regras concernentes à forma do Estado, à forma do governo, ao 
modo de aquisição e exercício do poder, ao estabelecimento de seus órgãos, 
aos limites de sua ação”.10 Para Michel Temer, em sentido mais restrito, 
 
7
 FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de direito constitucional. 22ª ed.atual. São Paulo: Saraiva, 
1995, p. 7. 
8
 TAVARES, André Ramos. Curso de direito constitucional. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 15. 
9
 ARAUJO, Luiz Alberto David; NUNES JÚNIOR, Vidal Serrano. Curso de direito constitucional.
São 
Paulo: Saraiva, 1998, p. 1: “A palavra constituição apresenta equívoco. Sua origem remonta o verbo 
constituir, que tem o significado de ser a base de; a parte essencial de; formar, compor, empregado em 
expressões triviais, como a constituição de uma cadeira ou a constituição de uma mesa. Logo, intuitivo que a 
palavra constituição traz em si uma idéia de estrutura, de como se organiza”. 
10
 FERREIRA, Manoel Gonçalves Filho. Curso de direito constitucional. 22ª ed. atual., São Paulo: Saraiva, 
1995, p. 10. 
 
 
4
 
“Constituição significa o “corpo”, a “estrutura” de um ser que se 
convencionou denominar Estado”.11 
 Konrad Hesse demonstra o conceito de Constituição afirmando 
que “a Constituição é a ordem fundamental jurídica da coletividade. Ela 
determina os princípios diretivos, segundo os quais deve formar-se unidade 
política e tarefas estatais ser exercidas. Ela regula procedimentos de 
vencimento de conflitos no interior da coletividade. Ela ordena a organização 
e o procedimento da formação da unidade política e da atividade estatal. Ela 
cria bases e normaliza traços fundamentais da ordem total jurídica. Em tudo, 
ela é o plano estrutural fundamental, orientado por determinados princípios de 
sentido, para a configuração jurídica de uma coletividade”.12 
 O conceito de Constituição apresentado pela doutrina 
constitucional revela o seu sentido de norma fundamental e organizacional do 
Estado: 
“O conjunto de normas fundamentais, constante de documentos 
escrito, solene e inalterável por lei ordinária, reguladoras da 
própria existência do Estado, sua estrutura, órgãos e funções, do 
modo de exercício e limites de soberania, dos seus fins e 
interesses fundamentais, das liberdades públicas, direitos e 
deveres dos cidadãos”.13 
“A constituição do Estado, considerada sua lei fundamental, seria, 
então, a organização dos seus elementos essenciais: um sistema 
de normas jurídicas, escritas ou costumeiras, que regula a forma 
do Estado, a forma de seu governo, o modo de aquisição e o 
exercício do poder, o estabelecimento de seus órgãos, os limites 
de sua ação, os direitos fundamentais do homem e as respectivas 
garantias. Em síntese, a constituição é o conjunto de normas que 
organiza os elementos constitutivos do Estado”.14 
 
11
 TEMER, Michel. Elementos de direito constitucional. 14ª ed. rev. ampl., São Paulo: Malheiros, 1998, p. 
15. 
12
 HESSE, Konrad. Elementos de direito constitucional da república federal da alemanha (Grundzüge 
des verfassungsrechts der bundesrepublik Deutschland). Trad. Luis Afonso Heck. Porto Alegre: Sergio 
Antonio Fabris Editor, 1998, p. 37. 
13
 TEIXEIRA, J.H. Meirelles. Curso de direito constitucional. São Paulo: Forense Universitária, 1991, p. 
44. 
14
 SILVA, José Afonso. Curso de direito constitucional positivo. 16ª ed. rev. e atual., São Paulo: Malheiros, 
1999, p. 40. 
 
 
5
 
“É uma ordem ou ordenação que determinam a posição, 
considerada em si mesma, e nas recíprocas relações que delas 
derivam, de vários elementos do Estado e, portanto, o seu 
funcionamento, a atividade, a linha de conduta desse mesmo 
Estado e dos que dele fazem parte ou dele dependem”.15 
 A Constituição Federal é a regra fundamental do Estado; estrutura 
o poder e assegura os direitos fundamentais do cidadão em face do Estado. A 
Constituição, como o próprio nome designa, constitui o Estado, trazendo em 
seu bojo os fatores, os anseios e os valores da sociedade. 
 A natureza da norma constitucional é normativa qualificada. A 
consequência dessa assertiva é que a Constituição é norma obrigatória, 
estando presente o binômio exigibilidade-obrigatoriedade. Mas, essa 
imperatividade é qualificada, pois a Constituição é norma fundamental e 
suprema. Em suma, a Constituição é norma jurídica (imperativa) fundamental 
(suprema). 
 A Constituição Federal é uma norma jurídica e sua essência é 
organizacional, fundamental e fundante. Em suma, a Constituição traz em seu 
conteúdo: 
1.a organização da competência dos órgãos do Estado, 
disciplinando o Poder (norma organizacional do Estado); 
2.a instituição e organização do sistema jurídico (norma 
fundante); 
3.o fundamento de validade e unidade do sistema jurídico, se 
configurando assim como suprema (norma fundamental). 
 A finalidade precípua da Constituição é regular a estrutura básica 
do Estado. Essa armação básica do Estado pode ser dividida, em sentido 
amplo, em três capítulos: 
1.a forma do Estado; 
2.a competência dos órgãos que compõem o Estado; 
3.os direitos fundamentais dos cidadãos do Estado. 
 
15
 ROMANO, Santi. Princípios de direito constitucional geral. Trad. Maria Helena Diniz. São Paulo: 
Revista dos Tribunais, 1977, p. 4. 
 
 
6
 
 A organização do Estado como limite de sua atuação e 
consequentemente importando em direitos que o cidadão possui em face do 
poder, é a própria concepção tradicional de Constituição. A Carta de 1988, 
além desse perfil traz em seu bojo prestações e ações positivas dirigidas ao 
Estado.16 
 No aspecto jurídico a Constituição tem por finalidade organizar o 
Estado, se configurando como sua norma fundamental, pois o alicerce do 
sistema jurídico é a Constituição. O próprio termo fundar, traz a idéia de criar, 
dar início e assentar, erguer, alicerçar. A Constituição cria o Estado e ao 
mesmo tempo organiza. No prisma político-jurídico, podemos afirmar que a 
Constituição cumpre três funções essenciais no Estado Democrático de 
Direito:17 
 1.consagrar e garantir os Direitos Fundamentais; 
 2.organizar e limitar o Poder; e 
 3.preservar a unidade política da nação. 
 Nesse plano, a Constituição é a manifestação política plena do 
povo, tendo por finalidade implementar o processo democrático propugnado 
pela nação. Representa o pacto nacional, ou seja, as regras organizacionais 
fundamentais eleitas pelo povo. 
 
2.1.Desdobramentos da Natureza e Essência da Constituição 
 A Constituição é norma jurídica qualificada. Dessa natureza, 
podemos afirmar que se trata de norma fundamental dotada de superioridade e 
centralidade no sistema jurídico que tem por finalidade precípua a organização 
do Estado. A normatividade, a centralidade da Constituição e o perfil do 
 
16
 CANOTILHO, J.J. Gomes; MOREIRA, Vital. Constituição da República portuguesa anotada. v. I. São 
Paulo: Revista dos Tribunais; Coimbra, Portugal: Coimbra, 2007, p. 55: “A típica concepção tradicional da 
constituição era caracterizada por três traços fundamentais: (a) a constituição era considerada apenas, ou 
fundamentalmente, como estatuto organizatório do Estado; (b) limite da actividade do Estado; (c) a 
constituição só interessava directamente aos cidadãos enquanto defesa da sua esfera de liberdade perante o 
Estado”. 
17
 FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Aspectos do direito constitucional contemporâneo. São Paulo: 
Saraiva, 2003, p. 64: “Pode-se indicar que as Constituições se desincumbem de, ao menos, dez funções 
diferentes: a função de garantia, a função organizativa ou estruturante, a função limitativa, a função 
procedimental, a função instrumental, a função conformadora da ordem sociopolítica, a função legitimadora 
(às vezes, legitimante), a função legalizadora, a função simbólica e, enfim, a função prospectiva”. 
 
 
7
 
Estado nela adotado influenciam o sistema jurídico, em especial, no que se 
refere à Hermenêutica Jurídica. A Constituição informa a norma jurídica tanto 
na sua elaboração como aplicação, pois o comando constitucional regula a 
criação legislativa pelas suas diretrizes e princípios e se configura em 
verdadeiro limite de preceitos futuros e ainda,
e por meio dos critérios 
constitucionais que se interpreta e se aplica o direito. 
 
2.1.1.Normatividade 
 Para Lassalle, a verdadeira essência da Constituição é a soma dos 
fatores reais do poder que regem uma nação.18 Konrad Hesse acrescenta que a 
Constituição assume, no constitucionalismo contemporâneo, a função de 
conjunto de valores fundamentais da sociedade e fronteira entre antagonismos 
jurídicos-políticos. O Direito Constitucional deve compreender a 
normatividade de uma Constituição vigente, concreta e historicamente situada. 
“A Constituição jurídica não significa simples pedaço de papel, tal como 
caracterizada por Lassalle. Ela não se afigura ‘impotente para dominar, 
efetivamente, a distribuição de poder’, tal como ensinado por Georg Jellinek e 
como, hodiernamente, divulgado por um naturalismo e sociologismo que se 
pretende cético. A Constituição não está desvinculada da realidade histórica 
concreta do seu tempo. Todavia, ela não está condicionada, simplesmente, por 
essa realidade. Em caso de eventual conflito, a Constituição não deve ser 
considerada, necessariamente, a parte mais fraca”.19 
 
18
 A obra “O que é uma Constitução?” de Ferdinand Lassale é um clássico no pensamento político 
constitucional, sendo publicada no Brasil com o título “A essência da Constituição”. A tese central da referida 
obra é que questões constitucionais não são questões jurídicas, mas sim questões políticas. É que a 
Constituição de uma nação espelha os fatores reais do poder que regem uma determinada sociedade. Os 
fatores reais do poder que atuam no seio de cada sociedade são essa força ativa e eficaz que informa todas as 
leis e instituições jurídicas vigentes, determinando que não possam ser, em substância, a não ser tal como elas 
são. Dessa forma, a Constituição de um país expressa os fatores e forças do poder dominantes: o poder 
militar, social, econômico e até mesmo o poder intelectual, que se exterioriza pela consciência cultural. As 
correlações desses fatores constituem a força ativa da Constituição. Esses fatores formam a Constituição real 
de uma nação, sendo que a Constituição Jurídica segundo o autor não passa de um pedaço de papel. Para 
Lassale a Constituição de um país só tem por base os poderes reais e efetivos de poder que vigem naquele 
país, e as constituições escritas não tem valor a não ser que exprimam fielmente os fatores reais que imperam 
na realidade social. Nesse sentido conclui o autor: “Os problemas constitucionais não são problemas de 
direito, mas do poder; a verdadeira Constituição de um país somente tem por base os fatores reais e efetivos 
do poder que naquele país vigem e as constituições escritas não têm valor nem são duráveis a não ser que 
exprimam fielmente os fatores do poder que imperam na realidade social: eis aí os critérios fundamentais que 
devemos lembrar” (LASSALE, Ferdinand. A essência da constituição. Prefácio Aurélio Wander Bastos, 4ª 
ed., Rio de Janeiro: Lumen Juris, 1998). 
19
 HESSE, Konrad. A força normativa da constituição (die normative kraft der verfassung). Trad. De 
Gilmar Ferreira Mendes. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 1991, p. 25. 
 
 
8
 
 A Constituição é uma norma jurídica e como toda norma jurídica 
não se encontra dissociada de seu tempo.20 “A Constituição não deve ser 
entendida tão-somente no sentido jurídico, como um corpo codificado de leis 
fundamentais, porém ainda no sentido político-social, como o conjunto de 
costumes e usos sobre o exercício e a transmissão da autoridade, ou o valor 
das liberdades públicas, dentro de um determinado ambiente histórico”.21 
 Gomes Canotilho, ao comentar a Constituição da República 
Portuguesa (CRP), confirma a nossa tese da natureza normativa qualificada da 
Constituição afirmando que: “A CRP é, desde logo, um lei, revestindo a forma 
típica de qualquer lei. Sendo uma lei, ela compartilha com as leis em geral um 
certo conjunto de características (forma escrita, redacção articulada, 
publicação oficial, etc.). Mas a CRP é uma lei diferente das outras, é uma lei 
específica. Essa especificidade está logo na forma especial da sua elaboração – 
através de uma Assembléia Constituinte especialmente eleita para o efeito – e 
nas regras particularmente exigentes que presidem à sua alteração, 
estabelecidas por ela mesma (regras da revisão constitucional); depois, a CRP 
é uma lei necessária, no sentido de que não pode ser dispensada ou revogada, 
mas apenas modificada; finalmente, é uma lei hierarquicamente superior – a 
lei fundamental, a lei básica -, que se encontra no vértice da ordem jurídica à 
qual todas as leis e normas jurídicas em geral, têm de submeter-se”.22 
Samuel Meira Brasil Jr. destaca a normatividade constitucional e 
seu impacto da tutela de direitos afirmando que “Um dado, todavia, não pode 
passar despercebido nesse contexto: a força normativa da Constituição, 
 
20
 DINIZ, Maria Helena. As lacunas no direito. 5ª ed., atual., São Paulo: Saraiva, 1999, p. 72: “O direito 
deve ser visto em sua dinâmica como uma realidade que está em perpétuo movimento, acompanhando as 
relações humanas, modificando-se, adaptando-se às novas exigências e necessidades da vida, inserindo-se na 
história, brotando do contexto cultural. A evolução da vida social traz em si novos fatos e conflitos, de 
maneira que os legisladores, diariamente, passam a elaborar novas leis; juízes e tribunais constantemente 
estabelecem novos precedentes e os próprios valores sofrem mutações, devido ao grande e peculiar 
dinamismo da vida. Estamos envolvidos por um mundo circundante que, além de nós, contém inúmeros 
objetos, sendo o direito um deles. O direito é um dado que abrange diferentes experiências que se completam, 
sejam elas históricas, antropológicas, sociológicas, psicológicas, axiológicas etc. Grande é a sua 
complexidade constitutiva. A experiência jurídica contém uma imensidão de dados heterogêneos”. 
OLIVEIRA, José Sebastião de. Fundamentos constitucionais do direito de família. São Paulo: Revista dos 
Tribunais, 2002, pp. 76-77: “O sistema jurídico é dinâmico e o ordenamento jurídico, incompleto, mutável e 
prospectivo. Constituído por normas, fatos e valores, o ordenamento jurídico mostra-se lacunoso e em 
constante tentativa de adaptação às vicissitudes pelas quais a sociedade, diariamente, passa. (...) Está, de há 
muito tempo, superada a concepção de que o Direito seria constituído apenas por normas. Sua constituição é 
muito mais complexa do que simples redução a um conjunto normativo. Abrange diversas experiências 
(histórias, antropológicas, sociológicas, axiológicas) que se completam”. 
21
 FERREIRA, Pinto. Curso de direito constitucional. 9ª ed., São Paulo: Saraiva, 1998, p. 4. 
22
 CANOTILHO, J.J. Gomes; MOREIRA, Vital. Constituição da República portuguesa anotada. v. I. São 
Paulo: Revista dos Tribunais; Coimbra, Portugal: Coimbra, 2007, p. 57. 
 
 
9
 
embora seja manifesta, constitui fenômeno ainda recente. A história relata 
que, após determinados eventos que ficaram marcados no imaginário coletivo, 
sobreveio um fértil período de normatização constitucional, no qual se 
reconheceu às normas constitucionais, na esteira das demais normas jurídicas, 
o caráter de imperatividade, expandindo-se sobre todos os setores sociais. A 
imagem da Constituição como mero documento político, desprovido de 
mecanismos de coerção, cuja concretização era conferida exclusivamente aos 
Poderes Legislativo e Executivo, cede lugar, paulatinamente, a uma concepção 
normativa: os direitos constitucionais assumiram a condição de verdadeiros 
direitos subjetivos, judicializáveis direta e imediatamente pelos Tribunais”.23 
 A normatividade da Constituição é qualificada, pois se trata de 
uma norma central e fundamental
no sistema jurídico. Assim, do ponto de 
vista ontológico verifica-se três aspectos da Constituição: normatividade, 
fundamentalidade e centralidade. 
 
2.1.2.Fundamentalidade e Centralidade 
 A Constituição é a lei fundamental do Estado.24 A 
fundamentalidade da norma constitucional é o ponto nuclear da sua definição. 
“Na verdade a constituição precede o constitucionalismo. Em qualquer 
Estado, qualquer época, em qualquer lugar, houve e haverá sempre um 
conjunto de regras fundamentais que respeitem a sua estrutura, atividade e 
organização. A constituição poderá ser escrita ou não, simples ou complexa, 
mas será sempre uma ordem jurídica soberana”.25 
 A normatividade da Constituição possui reflexos no sistema 
jurídico, dotando a norma excelsa de centralidade. “Com isso, o delineamento 
de uma caracterização que configurou o ordenamento jurídico assentado em 
uma nova dimensão do princípio da legalidade, mediatizado, agora, desde a 
 
23
 BRASIL JR., Samuel Meira. O cumprimento coercitivo das decisões judiciais no tocante às políticas 
públicas. In GRINOVER, Ada Pellegrini; WATANABE, Kazuo (coords.). O controle jurisdicional de 
políticas públicas. Rio de Janeiro: Forense, 2011, pp. 468-469. 
24
 MARQUES, José Frederico. O processo penal na atualidade. In: PORTO, Hermínio Alberto Marques; 
SILVA, Marco Antonio Marques da. (orgs.). Processo Penal e Constituição. São Paulo: Acadêmica: 
APAMAGIS, 1993, p. 13: “A Constituição de um país, como dizia Pelegrino Rossi, é ‘tête de chapitre’ de 
todas as disciplinas do Direito, por trazer inscritas, em seus textos e cânones, normas reguladoras, de caráter 
geral, para os diversos setores da ordem jurídica. E o Direito Constitucional, sem invadir, propriamente, a 
zona particular de cada uma das ciências jurídica, representa, para elas, uma espécie de prefácio ou 
introdução, segundo disse Santi-Romano”. 
25
 FURQUIM, Maria Célia de Araújo. A constituição como sistema. Caderno de Direito Constitucional e 
Ciência Política. 20:130-139. São Paulo: Revista dos Tribunais, jul./set. 1997, p. 132. 
 
 
10
 
supremacia normativa da Constituição, exercerá um empuxo sobre todas as 
atividades do Estado, fazendo com que as mesmas fiquem submetidas à ‘força 
de atração’ da Constituição que regulará, inclusive, o caráter de validez da 
produção legislativa emanada de um parlamento democraticamente eleito, 
operacionalizado desde um eventual controle de constitucionalidade”.26 
Para Luis Manuel Fonseca Pires “as normas constitucionais não 
são simples recomendações políticas, mas comandos imperativos que se 
impõem no ápice e no centro do sistema jurídico, e que não se reduzem a 
prescrever competências, mas externam os valores juridicamente definidos 
como um consenso mínimo do que deve ser cumprido pelo Estado, então há a 
necessidade de percebermos de que algo e em alguma medida mínima é 
exigível judicialmente contra o próprio Estado em caso de descumprimento de 
comandos constitucionais”.27 
O impacto da Constituição causa reflexo em todo o sistema 
jurídico, alcançando inclusive as relações de Direito Privado. Trata-se de 
fenômeno indicado pela doutrina como a constitucionalização do Direito 
Privado. O Supremo Tribunal Federal já decidiu que a Constituição alcança as 
relações privadas: “EFICÁCIA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS NAS 
RELAÇÕES PRIVADAS. As violações a direitos fundamentais não ocorrem 
somente no âmbito das relações entre o cidadão e o Estado, mas igualmente 
nas relações travadas entre pessoas físicas e jurídicas de direito privado. 
Assim, os direitos fundamentais assegurados pela Constituição vinculam 
diretamente não apenas os poderes públicos, estando direcionados também à 
proteção dos particulares em face dos poderes privados”.28 
 Konrad Hesse ressalta que a função da Constituição não se refere 
somente ao Estado. “A função que cumpre o ordenamento jurídico não se 
aplica só ao Estado. Em sentido amplo, necessita-se do ordenamento jurídico 
para toda a convivência em comunidade dentro do território do Estado, 
convivência essa que, sem ordenamento jurídico, não seria possível”.29 
 Sayeg e Balera ressaltam que “a sociedade civil e o homem livre 
são supletivamente responsáveis quanto à responsabilidade do Estado no que 
 
26
 DUARTE, Écio Oto Ramos; POZZOLO, Susanna. Neoconstitucionalismo e positivismo jurídico: as 
faces da teoria do direito em tempos de interpretação moral da Constituição. São Paulo: Landy, 2006, p. 
22. 
27
 PIRES, Luis Manuel Fonseca. Controle judicial das discricionariedade administrativa: dos conceitos 
jurídicos indeterminados às políticas públicas. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009, p. 294. 
28
 STF, RE 201.819-8-RJ, rel. Min. Gilmar Mendes, j. 11.10.05, DJ 27.10.06. 
29
 HESSE, Konrad. Temas fundamentais de direito constitucional. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 6. 
 
 
11
 
tange à concretização multidimensional dos direitos humanos, porque o Artigo 
1º da Declaração Universal de Direitos Humanos insufla o espírito de 
fraternidade sobre todos”.30 
 
2.1.3.Organização do Estado 
 Historicamente, o termo Constituição é empregado para designar 
o conjunto de normas que organizam o Estado, ou leis supremas que 
organizam o poder. Na realidade são normas que organizam o Poder Social.31 
O próprio corpo social organiza o Poder. Um dos Pilares da Democracia é a 
criação, estabelecimento e organização do Governo pelos Governados. 
 “Na concepção que inspirou as primeiras cartas constitucionais, 
estas eram consideradas como solenes contratos estipulados entre os 
componentes da sociedade política ou entre o príncipe de um lado e o povo do 
outro, quase que como uma renovação do original e mítico contrato social, do 
qual se teria dessumido um caráter sagrado e de intangibilidade”.32 A 
Constituição é o pacto entre o soberano e o povo, que estabelece os princípios 
e alicerces do Estado. Nesse sentido, a Constituição é o limite do poder estatal. 
 “Qualquer Estado, seja qual for o tipo histórico a que se 
reconduza, tem Constituição, na medida em que necessariamente se 
acompanha de uma institucionalização jurídica do poder; em qualquer Estado 
podem recortar-se normas fundamentais em que assenta todo o seu 
ordenamento”.33 
O conceito de Constituição ganha força com o liberalismo. O art. 
16 da Declaração de 1789 dita: “Toda a sociedade na qual não está assegurada 
a garantia dos direitos nem determina a separação dos poderes, não tem 
 
30
 SAYEG, Ricardo; BALERA, Wagner. O capitalismo humanista. Petrópolis: KBR, 2011, p. 117. 
31
 FERREIRA, Manoel Gonçalves Filho. Curso de direito constitucional. 22ª ed., atual., São Paulo: Saraiva, 
1995, p. 3: “Data da Antiguidade a percepção de que, entre as leis, algumas há que organizam o próprio 
poder. São leis que fixam os órgãos, estabelecem as suas atribuições, numa palavra, definem a sua 
Constituição. Na célebre obra de Aristóteles, A política, está clara essa distinção entre leis constitucionais e 
leis outras, comuns ou ordinárias. Tal distinção, porém, somente veio a ser valorizada no século XVIII, na 
Europa ocidental. E isto ocorreu com o propósito de limitar o poder, afirmando a existência de leis que seriam 
a ele anteriores e superiores. É daí em diante que o ‘termo constituição’ passou a ser empregado para designar 
o corpo de regras que definem a organização fundamental do Estado”. 
32
 ROMANO, Santi. Princípios de direito constitucional geral. Trad. Maria Helena Diniz. São Paulo: 
Revista dos Tribunais, 1997, p. 44. 
33
 MIRANDA, Jorge. Manual de direito constitucional: Introdução à teoria da Constituição. tomo II, 2ª 
ed. rev., Coimbra, Portugal: Coimbra ed., 1988, p. 7.
12
 
Constituição”. Manoel Gonçalves Ferreira Filho anota que “para o 
liberalismo, Constituição é um documento escrito e solene que organiza o 
Estado, adotando necessariamente a separação dos poderes e visando garantir 
os direitos do homem”.34 
 O desdobramento da organização do Estado ganha relação direta 
com a interpretação constitucional, na medida em que o perfil de Estado 
adotado pelo texto constitucional influenciará em todo sistema jurídico. A 
feição política vai delinear a hermenêutica das normas constitucionais e 
infraconstitucionais. Ora, se o Estado é autoritário, a interpretação é 
autoritária. Se o Estado é liberal, a leitura é liberal. 
 Com o advento da Constituição Federal de 1988 surge o Estado 
Democrático e Social de Direito, que procurou conciliar os preceitos do 
liberalismo, da democracia e do Socialismo. A evolução histórica do Estado 
Liberal fez surgir o Estado Democrático e Social de Direito. Esse novo 
modelo é o plexo do Estado Liberal burguês e do Estado Social que surgiu 
com a Revolução Industrial. O Estado Democrático e Social de Direito 
procura conciliar os direitos individuais, que perdem o cunho burguês e 
egocêntrico de sua origem, com o bem-estar social. Esse modelo de Estado 
adota um sistema que se pauta pelo equilíbrio entre os interesses do Estado e a 
garantia da liberdade individual do cidadão. Nesse sentido, o Estado encontra-
se a serviço do Estado e da sociedade.35 
No século XXI percebe-se a tentativa de conciliação entre 
liberalismo, democracia e socialismo, surgindo inclusive a frase “nem com 
Marx, nem contra Marx”. Noberto Bobbio procurou estabelecer este 
contraponto na obra liberalismo e democracia, ensinando que “Enquanto a 
relação entre liberalismo e socialismo foi de clara antítese, tanto se o 
socioalismo fosse julgado à base de seu projeto de sociedade futura como se 
fosse considerado como a ideologia de uma classe destinada a suceder a classe 
burguesa no desenvolvimento progressivo da história, a relação entre 
socialismo e democracia foi bem mais, desde a origem, uma relação de 
complementariedade, assim como houvera sido até então a relação entre 
democracia e liberalismo (...) A ambigüidade do conceito de democracia surge 
em toda a sua evidência na assim chamada ‘democracia social’, que deu 
origem ao Estado de serviços (expressão mais apropriada do que aquelas, 
 
34
 FERREIRA, Manoel Gonçalves Filho. Curso de direito constitucional. 22ª ed. atual., São Paulo: Saraiva, 
1995, p. 7. 
35
 SIQUEIRA JR., Paulo Hamilton; OLIVEIRA, Miguel Augusto Machado de. Direitos humanos e 
cidadania. 3ª ed. rev. e atual., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010, p. 107. 
 
 
13
 
respectivamente falsas por excesso e por defeito, de ‘Estado-bem-estar’ e 
‘Estado assistencial’ (...) Para quem examina essa constante dialética de 
liberalismo e democracia de um ponto de vista de teoria política geral, fica 
claro que o contraste contínuo e jamais definitivamente resolvido (ao 
contrário, sempre destinado a se colocar em níveis mais altos) entre a 
exigência dos liberais de um Estado que governe o menos possível e a dos 
democratas de um Estado no qual o governo esteja o mais possível nas mãos 
dos cidadãos, reflete o contraste entre dois modos de entender a liberdade, 
costumeiramente chamados de liberdade negativa e de liberdade positiva, e 
em relação aos quais se dão, conforme as condições históricas, mas sobretudo 
conforme o posto que cada um ocupa na sociedade, juízos de valor opostos: os 
que estão no alto preferem habitualmente a primeira, os que estão embaixo 
preferem habitualmente a segunda. Como em toda sociedade sempre existiram 
até agora uns e outros, o contraste benéfico entre as duas liberdades não é do 
tipo das que podem ser resolvidas de uma vez para sempre, com as soluções 
por ele recebidas sendo muitas vezes soluções de compromisso. Infelizmente 
tal contraste nem sempre é possível: não é possível nos regimes em que, no 
posto da primeira, há um poder sem limites; no posto da segunda, um poder 
acima de qualquer controle. Mas contra um e contra outro, liberalismo e 
democracia se transformam necessariamente de irmãos inimigos em 
aliados”.36 
 O Estado Liberal se preocupou com os direitos individuais, se 
sedimentando a idéia de direito subjetivo e titularidade de direito. O Estado 
Democrático e Social de Direito ampliou a tutela dos direitos alcançando os 
direitos coletivos. “A Constituição de 1988 estabeleceu deveres fundamentais 
ligados às políticas públicas (v.g., saúde, educação, segurança pública e meio 
ambiente). Essa especial categoria de direitos subjetivos caracteriza-se por se 
exercida no interesse e benefício de terceiros especialmente determinados pela 
norma e/ou da própria coletividade, rompendo o círculo individualista dos 
direitos subjetivos clássicos, voltados unicamente para o interesse do titular”.37 
 A leitura da Constituição que tem por fundamento, o Estado 
Democrático e Social de Direito, que procura conciliar a democracia liberal 
como os anseios da sociedade, sempre calcados no Direito, na lei. Pois, 
indubitavelmente, não há liberdade fora da lei. Esse é o verdadeiro sentido do 
 
36
 BOBBIO, Noberto. Liberalismo e democracia. Trad. Marco Aurélio Nogueira. São Paulo: Brasiliense, 
2000, pp. 80-81, 84 e 97. 
37
 ZANETI JR., Hermes. A teoria da separação de poderes e o estado democrático constitucional: 
funções de governo e funções de garantia. In GRINOVER, Ada Pellegrini; WATANABE, Kazuo (coords.). 
O controle jurisdicional de políticas públicas. Rio de Janeiro: Forense, 2011, p. 36. 
 
 
14
 
Estado de Direito. No Estado Democrático e Social de Direito a relação 
comunidade-indivíduo não é nem do absolutismo nem do liberalismo, 
procura-se buscar o equilíbrio. 
Nessa construção pode-se verificar aparente conflito, que deverá 
ser solucionado na análise do caso concreto. Robert Alexy exemplifica este 
fato ao afirmar que “a ponderação como parte de um exame de 
proporcionalidade, porém, é o problema nuclear da dogmática dos direitos 
fundamentais e o fundamento principal para a abertura dos catálogos de 
direitos fundamentais. Em alguns casos, esse problema salta aos olhos 
abertamente, por exemplo, quando o art. 5º, XXII, garante a propriedade e 
então, de imediato, no inciso XXIII, é acrescentado que a propriedade deve 
servir à sua função social. Em outros casos, a necessidade de um exame de 
proporcionalidade primeiro em olhar circunstanciado fica claro, por exemplo, 
quando o artigo 5, XI, admite o entrar na habitação de dia em virtude de 
ordenação judicial. Isso não quer dizer que tribunais, por qualquer 
fundamento, devem admitir um adentrar na habitação”.38 
 O texto constitucional consagrou direitos aparentemente 
contraditórios, como por exemplo, direito ao trabalho e direito a greve, direito 
à intimidade e direito à informação, direito a livre concorrência e direito do 
consumidor, direito à propriedade e função social da propriedade. A 
ponderação destes direitos exige leitura axiológica da Constituição com o fito 
de consagrar o perfil político consagrado. 
 De outra feita, as Constituições contemporâneas não se limitam a 
organizar o Estado, elegendo outras matérias de interesse para a coletividade e 
trazendo prestações e ações positivas dirigidas ao Estado. “Não é apenas um 
estatuto organizatório do Estado-instituição ou do Estado-pessoa-colectiva; é 
também é também lei fundamental da sociedade, da colectividade política, 
incluindo regras de organização econômica e social. Não é apenas um limite 
negativo à actividade do Estado; é também um caderno de encargos do 
Estado, das suas tarefas e obrigações no sentido de satisfazer as necessidades 
económicas, sociais e
culturais dos cidadãos e dos grupos sociais. Não é 
apenas, para os cidadãos, uma barreira de defesa perante as intromissões do 
Estado; é também, em primeiro lugar, um catálogo de direitos à acção ou a 
prestações do Estado; em segundo lugar, uma imposição de deveres perante o 
 
38
 ALEXY, Robert. Constitucionalismo discursivo. Trad. Luís Afonso Heck. Porto Alegre: Livraria do 
Advogado, 2007, pp. 50-51. 
 
 
15
 
Estado e a sociedade; e, finalmente, uma fonte directa de disciplina das 
relações entre os próprios cidadãos”.39 
A Constituição Federal de 1988 declarou os direitos fundamentais 
e trouxe instrumentos para sua efetivação. Entretanto, o exercício dos direitos 
exige a atuação do Estado. “Do ponto de vista dos direitos, a Constituição de 
1988 consagra duas mudanças fundamentais: de um lado, reconhece, além dos 
direitos individuais, os denominados direitos sociais, como o direito ao 
trabalho, à moradia, à educação, à saúde, à Previdência Social; de outro, 
fortalece os mecanismos de tutela de direitos. Essas inovações podem ser 
consideradas um ponto de inflexão na história nacional, uma vez que tanto os 
novos direitos como os mecanismos para a sua tutela evocam a exigência de 
atuação estatal”.40 
 A problemática do contexto da Constituição dirigente é a sua 
efetividade. Eduardo Cambi indica que “os direitos fundamentais, previstos na 
Constituição Federal de 1988, reclamam maior efetividade. Aliás, é 
importante, desde já, distinguir a eficácia da efetividade das normas. A 
eficácia diz respeito à concretização do ‘programa condicional’, isto é, do 
vínculo ‘se-então, abstrata e hipoteticamente previsto na norma legal. Já a 
efetividade concerne à implementação do ‘programa finalístico’ que orientou 
a atividade legislativa ou a concretização do vínculo ‘meio-fim’ que decorre, 
abstratamente, do texto legal”.41 Assim, o desiderato do sistema jurídico é a 
implementação do perfil e programa de Estado previsto na Constituição 
Federal. 
 
3.Direito Constitucional 
 O direito constitucional é ramo do direito público que regula a 
organização do Estado. Pontes de Miranda o denomina como “a parte do 
direito público que fixa os fundamentos estruturais do Estado”.42 José Afonso 
da Silva o define “como o ramo do direito público que expõe, interpreta e 
 
39
 CANOTILHO, J.J. Gomes; MOREIRA, Vital. Constituição da República portuguesa anotada. v. I. São 
Paulo: Revista dos Tribunais; Coimbra, Portugal: Coimbra, 2007, p. 56. 
40
 SADEK, Maria Tereza. Judiciário e arena pública: um olhar a partir da ciência política. In 
GRINOVER, Ada Pellegrini; WATANABE, Kazuo (coords.). O controle jurisdicional de políticas públicas. 
Rio de Janeiro: Forense, 2011, p. 15. 
41
 CAMBI, Eduardo. Neoconstitucionalismo e neoprocessualismo: direitos fundamentais, políticas públicas e 
protagonismo judiciário. 2ª ed. rev. e atual., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, p. 20. 
42
 MIRANDA, Pontes de. Comentários à constituição de 1967 com a emenda nº 1 de 1969. 2ª ed. rev., São 
Paulo: Revista dos tribunais, 1970, p. 169. 
 
 
16
 
sistematiza os princípios fundamentais do Estado”.43 “Trata-se do ramo do 
Direito Público que estuda as normas que estruturam, basicamente, o 
Estado”.44 O Direito Constitucional tem como base de estudo a Constituição 
Federal, a Constituição Política do Estado. 
 “O Direito Constitucional é um ramo do Direito Público, 
destacado por ser fundamental à organização e funcionamento do Estado, à 
articulação dos elementos primários do mesmo e ao estabelecimento das bases 
da estrutura política”.45 
 É um ramo do Direito Público, na medida em que estuda a 
própria estrutura do Estado. José Afonso da Silva, ao tratar do objeto e 
conteúdo das Constituições, anota que têm elas por objeto “estabelecer a 
estrutura do Estado, a organização de seus órgãos, o modo de aquisição do 
poder e a forma de seu exercício, limites de sua atuação, assegurar os direitos 
e garantias dos indivíduos, fixar o regime político e disciplinar os fins 
socioeconômicos, sociais e culturais. Nem sempre tiveram as constituições 
objeto tão amplo. Este vem estendendo-se com o correr da história”.46 
 Do prisma científico, conceito que entendemos primordial, o 
Direito Constitucional é uma disciplina jurídico-científica que tem por objeto 
de estudo a Constituição. 
 O conhecimento científico é sistematizado. Assim, desse ponto de 
vista, o Direito Constitucional é o conhecimento sistematizado das regras 
constitucionais, ou seja, aquelas relativas à organização fundamental do 
Estado. No entender de Manoel Gonçalves Ferreira Filho, o Direito 
Constitucional é o “conhecimento sistematizado das regras jurídicas relativas 
à forma do Estado, à forma do governo, ao modo de aquisição e exercício do 
poder, ao estabelecimento de seus órgãos e aos limites de sua ação”.47 
 
 
43
 SILVA, José Afonso. Curso de direito constitucional positivo. 16ª ed. rev. e atual., São Paulo: Malheiros, 
1999, p. 36. 
44
 ACQUAVIVA, Marcus Cláudio. Notas introdutórias ao estudo do direito. 2ª ed., São Paulo: Ícone, 
1990, p. 68. 
45
 MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 15ª ed., São Paulo : Atlas, 2004, p. 37. 
46
 SILVA, José Afonso. Curso de direito constitucional positivo. 16ª ed. rev. e atual., São Paulo: Malheiros, 
1999, p.45. 
47
 FERREIRA, Manoel Gonçalves Filho. Curso de direito constitucional. 22ª atual., São Paulo: Saraiva, 
1995, p. 14. 
 
 
17
 
 A investigação científica do Direito Constitucional é feita em três 
planos ou disciplinas: 
 1.Direito Constitucional Positivo ou Particular; 
 2.Direito Constitucional Comparado; e 
3.Teoria do Direito Constitucional. 
 O Direito Constitucional Positivo estuda o texto da Constituição 
de determinado Estado, investigando a sua vigência e eficácia. 
 O Direito Constitucional Comparado investiga os pontos de 
contato entre os Direitos Positivos de Estados diversos. Como o próprio nome 
designa, essa disciplina compara vários aspectos dos textos constitucionais. 
 A Teoria do Direito Constitucional estuda a teoria ou 
sistematização dos preceitos constitucionais, servindo de roteiro básico ao 
intérprete. Estuda conceitos, princípios e instituições presentes em várias 
Constituições, trazendo uma visão unitária ao estudo científico do Direito 
Constitucional. Como ensina Manoel Gonçalves Ferreira Filho, “da 
comparação entre os direitos positivos extrai-se o que há de comum a todos 
eles, reunindo-se assim os princípios universalmente respeitados em matéria 
constitucional. A sistematização desses princípios constitui o Direito 
Constitucional Geral ou Teoria Geral do Direito Constitucional, que serve ao 
mesmo tempo de roteiro para o constituinte e para o intérprete”.48 
 Nesse sentido, a investigação do Direito Constitucional tem uma 
vertente dogmática, a qual estuda uma ordem jurídica concreta, ou seja, as 
leis constitucionais positivas de determinado Estado; e teórica, quando estuda 
os conceitos do Direito Constitucional construídos pela ciência e experiências 
constitucionais de diversas leis positivas. 
 No contexto dogmático e teórico, o Direito Constitucional busca 
compreender os fundamentos básicos da organização política do Estado. A 
evolução do seu estudo e conteúdo seguiu a evolução do próprio Estado. A 
grande maioria dos textos constitucionais contemporâneos encontra-se calcada 
e procura organizar o Estado Democrático e Social de Direito. “As funções do 
Estado moderno viram-se reformuladas no decorrer do processo histórico, 
 
48
 FERREIRA, Manoel Gonçalves
Filho. Curso de direito constitucional. 22ª atual., São Paulo: Saraiva, 
1995, p. 15. 
 
 
18
 
devido à mudança dos paradigmas do Estado liberal para o Estado social, 
evoluindo para o Estado democrático de direito”.49 
 
4.Classificação das Constituições 
 São inúmeras as classificações apontadas pela doutrina. Dessa 
forma, trazemos as principais, utilizando os seguintes critérios: 
 
4.1.Quanto à forma 
 No que se refere à forma as Constituições são: escritas e não-
escritas. 
 A Constituição escrita é aquela codificada e sistematizada em um 
único documento proclamado de forma solene. Na Constituição não-escrita 
não inexiste um texto único proclamado de forma solene, pois as normas 
constitucionais encontram-se em leis esparsas, costume, jurisprudência e 
convenções. O exemplo típico é a Constituição Inglesa, em que uma parte das 
normas de organização política é consuetudinária. “A Inglaterra, embora 
Cromwell dela tivesse tido a ideia, nunca teve uma constituição escrita, salvo 
alguns textos fragmentários nos quais estão consagrados princípios basilares; 
entretanto, quando a ordenação inglesa foi transplantada para outros lugares, 
no sentido e nos limites que serão mencionados, prevaleceu, por exemplo, na 
América do Norte e na França, o sistema de redigir o direito constitucional, 
resumindo-o em cartas ou estatutos”.50 
 Nesse sentido, o documento escrito onde se inserem ou se 
depositam normas constitucionais é a Constituição em sentido instrumental. 
Assim, “Constituição instrumental é o texto denominado Constituição ou 
elaborado como Constituição, seja ou não o único texto do documento donde 
constem normas constitucionais”.51 
 
49
 SOARES, Mário Lúcio Quintão. Teoria do Estado : o substrato clássico e os novos paradigmas como 
pré-compreensão para o direito constitucional. Belo Horizonte : Del Rey, 2001, p. 15. 
50
 ROMANO, Santi. Princípios de direito constitucional geral. Trad. Maria Helena Diniz. São Paulo: 
Revista dos Tribunais, 1997, p. 45. 
51
 MIRANDA, Jorge. Manual de direito constitucional: Introdução à teoria da Constituição. tomo II, 2ª 
ed. rev., Coimbra, Portugal: Coimbra ed., 1988, p. 12. 
 
 
19
 
 A Constituição escrita apresenta vantagens e desvantagens. “O 
caráter consuetudinário do direito público inglês e a multiplicidade de seus 
documentos escritos beneficia a sua estabilidade, opondo aos inovadores e aos 
revolucionários uma resistência longa e continuada de trincheiras; o direito 
constitucional escrito, pelo contrário, apresenta-se como um fácil e próximo 
alvo aos seus adversários, quase que um convite e um concurso perpétuo a 
quem souber escrever uma melhor”.52 “A reivindicação de que haja uma 
Constituição escrita equivale, antes de mais, à reivindicação de que as normas 
constitucionais se contenham num texto ou documento visível, com as 
inerentes vantagens de certeza e de prevenção de violações”.53 
 
4.2.Quanto ao modo de elaboração 
Como base no modo de elaboração as Constituições são: 
dogmáticas e históricas. 
 A Constituição dogmática emana do poder constituinte, sendo 
sistematizada em dogmas fundamentais escritos, ao passo que a Constituição 
histórica surge da tradição de determinado povo através de um longo e 
contínuo processo histórico, como, por exemplo, a Inglaterra. Ao tratar das 
instituições constitucionais da Inglaterra, Santi Romano anota que “trata-se de 
instituições que tiveram uma evolução histórica muito lenta e progressiva, ou 
melhor, espontânea e natural, que não se encontra, em medida análoga, em 
nenhum outro ordenamento jurídico, senão no direito romano e no direito 
canônico. Elas constituem um edifício que não surgiu subitamente, mas que 
resultou de uma série de ampliações, adaptações, modificações de um 
primeiro edifício de proporções menores, que todavia não mudou de estilo e 
que tem conservado, constantemente, seus traços essenciais. A constituição 
inglesa, que Jorge III dizia ser a mais perfeita das criações humanas e que 
outros consideravam um mistério sagrado da ciência governamental”.54 
 
 
52
 ROMANO, Santi. Princípios de direito constitucional geral. Trad. Maria Helena Diniz. São Paulo: 
Revista dos Tribunais, 1977, p. 45. 
53
 MIRANDA, Jorge. Manual de direito constitucional : Introdução à teoria da Constituição. tomo II, 2ª 
ed. rev., Coimbra, Portugal: Coimbra ed., 1988, p. 12. 
54
 ROMANO, Santi. Princípios de direito constitucional geral. Trad. Maria Helena Diniz. São Paulo: 
Revista dos Tribunais, 1977, p. 43. 
 
 
20
 
 “O conceito de constituição dogmática é conexo com o de 
constituição escrita, como o de constituição histórica o é com constituição não 
escrita. Constituição dogmática, sempre escrita, é a elaborada por um órgão 
constituinte, e sistematiza os dogmas ou idéias fundamentais da teoria política 
e do Direito dominantes no momento. Constituição histórica ou costumeira, 
não escrita, é, ao contrário, a resultante de lenta formação histórica, do lento 
evoluir das tradições, dos fatos sócio-políticos, que se cristalizam como 
normas fundamentais da organização de determinado Estado, e o exemplo 
ainda vivo é a da Constituição inglesa”.55 
 
4.3.Quanto à Origem 
 De acordo com a origem as Constituições são: promulgadas e 
outorgadas. 
 As Constituições promulgadas, também denominadas de 
democráticas e populares), são elaboradas pela Assembleia Nacional 
Constituinte (órgão constituinte) composta por representantes eleitos pelo 
povo com a finalidade de elaborar o texto constitucional. As Constituições 
Outorgadas são elaboradas por um poder sem a participação popular, sendo 
consequentemente impostas pelo Poder Ditatorial, seja um imperador, rei ou 
ditador. 
 Quanto à origem, a doutrina aponta ainda, as denominadas 
constituições cesaristas, que são aquelas outorgadas, mas submetidas ao povo 
por intermédio do referendo popular. 
 No Brasil as Constituições de 1891, 1934, 1946 e 1988 foram 
promulgadas e as Constituições de 1824, 1937, 1967 e EC nº 01/1969 foram 
outorgadas. 
 
4.4.Quanto à Estabilidade ou Mutabilidade 
No que se refere à estabilidade ou mutabilidade as Constituições 
são: imutáveis, rígidas, flexíveis e semiflexíveis ou semirrígidas. 
 
55
 SILVA, José Afonso. Curso de direito constitucional positivo. 16ª ed. rev. e atual., São Paulo: 
Malheiros, 1999, p. 43. 
 
 
21
 
 
 Nas Constituições imutáveis não se permite qualquer alteração no 
texto constitucional. Na maioria dos casos a imutabilidade é relativa, na 
medida em que estabelecem um prazo fixado onde não se admitirá reforma. 
São as chamadas limitações temporais dirigidas ao legislador constituinte 
reformador. As Constituições rígidas são aquelas que apresentam um processo 
legislativo especial para a reforma constitucional, em regra mais solene e 
dificultoso do que o estabelecido para as normas legais ordinárias. As 
Constituições flexíveis são aquelas que podem ser alteradas mediante processo 
legislativo ordinário. Nas Constituições semirrígidas ou semiflexíveis algumas 
normas constitucionais são alteradas mediante procedimento legislativo 
ordinário e outras mediante procedimento legislativo especial (mais 
dificultoso), como ocorria na nossa Constituição de 1824, que em seu art. 178 
dispunha que “É só Constitucional o que diz respeito aos limites e atribuições 
respectivas dos Poderes Políticos e aos Direitos Políticos e individuais dos 
cidadãos. Tudo o que não é Constitucional pode ser alterado sem as 
formalidades referidas pelas Legislaturas ordinárias”. 
 “A denominação flexível, por sua vez, parece indicar 
instabilidade, no sentido
de que as constituições flexíveis seriam instáveis. 
Não possuindo garantia de solidez e permanência, pois promulgadas pela 
autoridade legislativa ordinária e capazes de por ela serem alteradas, são de 
fato objeto de mudanças extensas e frequentes. Se for feito um breve 
retrospecto histórico, porém, ver-se-á que, embora com toda carga de 
instabilidade própria de sua natureza, tal não sucedeu, já que – só a título de 
ilustração, considerando a Inglaterra um exemplo típico ora tratado – 
constatamos que as principais características do governo inglês continuam 
sendo as mesmas desde 1689 e 1701. Tal raciocínio, então, nem sempre 
corresponde totalmente a uma representação da realidade concreta, e a 
estabilidade de uma Constituição não depende tanto da forma, mas do 
equilíbrio das forças sociais e econômicas que a apoiam e sustentam. Sua 
característica, portanto, é sua elasticidade, e não sua instabilidade, já que pode 
adaptar-se sem haver ruptura em sua estrutura”.56 
 A Constituição Federal de 1988 é rígida na medida em que só 
pode ser emendada mediante processo legislativo especial (art. 60). Ainda, 
entendemos que é imutável em parte, haja vista as cláusulas pétreas (art. 60, § 
4º). 
 
56
 FERRARI, Regina Maria Macedo Nery. Efeitos da declaração de inconstitucionalidade. 4ª ed. rev., São 
Paulo: Revista dos Tribunais, 1999, pp. 47-48. 
 
 
22
 
4.5.Quanto à Extensão ou Finalidade 
Tomando-se como critério à extensão ou finalidade as 
Constituições são: garantia e dirigente. 
 As Constituições garantia, também chamadas de sintéticas ou 
negativas, contém as regras e princípios básicos referentes a organização e 
limites do Estado. A limitação do poder do Estado verifica-se por intermédio 
dos direitos e garantias individuais. Essa espécie de Constituição tem a 
preocupação básica de contemplar os princípios norteadores do Estado e do 
sistema jurídico. A principal preocupação da Constituição garantia é o 
impedimento oposto à autoridade. 
 As Constituições dirigentes, também chamadas de analíticas, são 
compostas de várias espécies normativas, eleitas de acordo com os anseios do 
povo do Estado. Essa espécie de Constituição disciplina todos assuntos que 
entendem relevantes ao Estado, mas que poderiam ser inseridos na legislação 
ordinária. A Constituição dirigente se preocupa com programas futuros. 
 José Afonso da Silva, no prefácio de seu curso, escreve que “o 
constituinte fez uma opção muita clara por uma Constituição abrangente. 
Rejeitou a chamada constituição sintética, que é constituição negativa, porque 
construtora apenas de liberdade-negativa ou liberdade-impedimento, oposta à 
autoridade, modelo de constituição que, às vezes, se chama de constituição-
garantia (ou constituição-quadro). A função garantia não só foi preservada 
como até ampliada na Constituição, não como mera garantia do existente ou 
como simples garantia das liberdades negativas ou liberdades-limite. Assumiu 
ela a característica de constituição-dirigente, enquanto define fins e programa 
de ação futura, menos no sentido socialista do que no de uma orientação social 
democrática, imperfeita, reconheça-se. Por isso, não raro, foi minuciosa e, no 
seu compromisso com a garantia das conquistas liberais e com um plano de 
evolução política de conteúdo social, nem sempre mantém uma linha de 
coerência doutrinária firme. Abre-se, porém, para transformações futuras, 
tanto seja cumprida. E aí está o drama de toda constituição dinâmica: ser 
cumprida”.57 
 A Constituição garantia que tem por finalidade limitar o poder, 
garantindo a liberdade e a Constituição dirigente indica a direção a ser seguida 
pelo Governo, ou seja, se constrói um projeto de Estado. Ao lado da 
 
57
 SILVA, José Afonso. Curso de direito constitucional positivo. 16ª ed. rev. e atual., São Paulo: Malheiros, 
1999, p. 6. 
 
 
23
 
Constituição garantia e dirigente Manoel Gonçalves Ferreira Filho cita a 
Constituição balanço que indicaria um projeto socialista: “Modernamente , é 
frequente designar a Constituição de tipo clássico de Constituição-garantia, 
pois esta visa a garantir a liberdade, limitando o poder. Tal referência se 
desenvolveu pela necessidade de contrapô-la à Constituição-balanço. Esta, 
conforme a doutrina soviética que se inspira em Lassalle é a Constituição que 
descreve e registra a organização política estabelecida. Na verdade, segundo 
essa doutrina, a Constituição registraria um estágio das relações de poder. Por 
isso é que a URSS, quando alcançado novo estágio na marcha para o 
socialismo, adotaria nova Constituição, como o fez em 1924, 1936 e 1977. 
Cada uma de tais Constituições fatia o balanço do novo estágio”.58 
 
4.6.Quanto ao Conteúdo 
No que tange ao conteúdo as Constituições são classificadas em: 
material e formal. 
 A Constituição material é composta de regras materialmente 
constitucionais, ou seja, referentes a organização do poder, podendo ou não 
constar de um único texto constitucional. A Constituição formal é oriunda de 
um único texto escrito estabelecido de forma solene pelo Poder Constituinte 
Originário. Assim, são materiais quando a matéria contida na Constituição for 
constitucional; e formais quando a Constituição não tiver conteúdo 
constitucional, mas for considerada como tal por estar contida no texto 
constitucional. 
 “Há duas perspectivas por que pode ser considerada a 
Constituição: uma perspectiva material – em que se atende ao seu objeto, ao 
seu conteúdo ou à sua função; e uma perspectiva formal – em que se atende à 
posição das normas constitucionais em face das demais normas jurídicas e ao 
modo como se articulam e se recortam no plano sistemático do ordenamento 
jurídico”.59 
 “Os países com Constituição material são também países com 
Constituição em sentido formal. A quase única e, aliás, decisiva excepção é a 
Inglaterra, que possui Constituição em sentido material e não tem Constituição 
 
58
 FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de direito constitucional. 22ª ed. atual. São Paulo: 
Saraiva, 1995, pp. 12-13. 
59
 MIRANDA, Jorge. Manual de direito constitucional: Introdução à teoria da Constituição. tomo II, 2ª 
ed. rev., Coimbra, Portugal: Coimbra ed., 1988, pp. 9-10. 
 
 
24
 
em sentido formal. No continente encontram-se no interior da ordem jurídica 
de cada país normas qualificadas como constitucionais, inscritas em leis com 
esse nome; em Inglaterra, nada disso, nenhumas normas se diferenciam uma 
das outras por serem constitucionais e nenhuma lei se chama Constituição”.60 
 A ampliação do conteúdo da Constituição gerou a distinção entre 
Constituição material e formal. 
 
4.7.Classificação da Constituição Federal de 1988 
Com fulcro na Classificação apresentada podemos classificar a 
Constituição de 1988 como: escrita, dogmática, promulgada, rígida, dirigente 
e formal. 
 
5.Efetivação da Constituição 
 No plano fático verifica-se uma descrença na efetividade das 
normas constitucionais, que se substancia na impossibilidade de concretização 
imediata de determinados preceitos, em especial, os direitos que exigem uma 
atuação positiva do Estado, como é a realização das políticas públicas. 
 A primeira indagação que se verifica é se os direitos sociais, 
culturais e econômicos elencados na Constituição configuram-se como 
direitos subjetivos públicos do cidadão do Estado? A Constituição tem uma 
força normativa? Estatui verdadeiros direitos ou alguns de seus preceitos, em 
especial, os direitos sociais trazem apenas diretrizes dirigidas ao próprio 
Estado ou sugestões ao legislador para construção normativa? O princípio 
constitucional pode ser aplicado
ao caso concreto ou apenas a norma 
elaborada com fundamento no princípio constitucional pode ser aplicado ao 
caso concreto? A norma constitucional ganha força normativa apenas quando 
se exterioriza no direito infraconstitucional? 
 A resposta a esta e outras indagações são claras: A Constituição é 
uma norma jurídica. O texto constitucional não é apenas um documento 
político, mas sobretudo jurídico, ou seja, a Constituição possui a natureza de 
norma jurídica. Logo, todo o seu conteúdo possui força normativa, obrigando 
 
60
 MIRANDA, Jorge. Manual de direito constitucional : Introdução à teoria da Constituição. tomo II, 2ª 
ed. rev., Coimbra, Portugal: Coimbra ed., 1988, p. 27. 
 
 
25
 
o Estado e seus cidadãos. Não são meras recomendações desprovidas de 
vinculação. Os preceitos constitucionais constituem direitos subjetivos 
públicos, podendo sua concretização ser exigida por intermédio dos institutos 
de direito processual constitucional. 
 Direito Fundamental consagrado na Constituição configura-se 
como direito subjetivo público. Essa assertiva vale também, em certo sentido, 
para as denominadas normas programáticas, que regrou os anseios políticos e 
sociais do povo. O administrador público na realização de seu mister deve 
observar as normas constitucionais, leia-se, regras e princípios. 
 Direitos de segunda geração ao contrário dos direitos individuais 
exigem apenas uma atividade negativa do Estado, são dotados de inúmeras 
variáveis para sua realização. A efetividade dos direitos sociais não é tão 
simples, e tem como obstáculo a falta de recursos para implementação das 
políticas públicas, denominada de reserva do possível. Indubitavelmente, em 
alguns casos, falta mesmo é a vontade política. 
 A dificuldade da realização das normas programáticas leva ao 
questionamento da própria natureza jurídica dessas normas, sendo afirmado 
que a falta de imperatividade conduz a uma natureza meramente ética ou 
política. “Até meados do século XX, um largo setor da doutrina negava a 
natureza jurídica das normas programáticas, reduzindo-as a um mero 
programa de normas jurídicas futuras, com valor puramente político ou 
ético”.61 Nesse sentido José Carlos Vasconcellos dos Reis conclui que “o 
problema central do constitucionalismo contemporâneo consiste na 
determinação do caráter jurídico das normas programáticas e da eficácia e 
aplicabilidade de todas as normas constitucionais”.62 
 Constituição não é apenas um pedaço de papel como afirmou 
Lassalle ao refletir sobre os fatores reais do poder. O pacto constitucional traz 
em seu bojo os objetivos que devem ser alcançados pela nação. Esse objetivo 
é obrigatório, pois foi construído por intermédio de um documento normativo. 
 Preceito constitucional é força normativa. Todo o texto 
constitucional apresenta a característica da normatividade. Konrad Hesse 
defende a força normativa da Constituição. Rui Barbosa afirma que “não há, 
numa Constituição, clausulas, a que se deva atribuir meramente o valor moral 
 
61
 REIS, José Carlos Vasconcellos dos. As normas constitucionais programáticas e o controle do Estado. 
Rio de Janeiro : Renovar, 2003, p. 23. 
62
 REIS, José Carlos Vasconcellos dos. As normas constitucionais programáticas e o controle do Estado. 
Rio de Janeiro : Renovar, 2003, p. 24. 
 
 
26
 
de conselhos, avisos ou lições. Todas têm a força imperativa de regras, ditadas 
pela soberania nacional ou popular aos seus órgãos. Muitas porém, não 
revestem dos meios de acção assenciaes ao seu exercício dos direitos, que 
outorgam, ou os encargos, que impõem: estabelecem competências, 
attribuições, poderes, cujo uso tem de aguardar que a Legislatura, segundo o 
seu critério, os habilite a se exercerem”.63 
 A Constituição não é um programa, um documento retórico, um 
manifesto. É um conjunto de normas jurídicas de hierarquia superior. 
Qualquer norma inserida na Constituição é jurídica dotada de imperatividade 
superior em relação aos demais preceitos do sistema jurídico, inclusive as 
normas programáticas. “Uma das características das normas programáticas, é 
o fato de que participam da mesma natureza de todas as outras que integram 
um diploma constitucional rígido, isto é, são dotadas de imperatividade 
suprema frente ao ordenamento jurídico por ele fundado; são normas jurídicas 
que compartilham da mesma hierarquia, pois que todas as normas 
constitucionais encontram-se no mesmo plano, de tal modo que as normas 
infraconstitucionais que com ela conflitem, quando posteriores, padecem de 
invalidade ou inconstitucionalidade, quando anteriores, são automaticamente 
revogadas, e isso em virtude da necessária harmonia que deve reger um 
sistema jurídico. Isso impede que as normas consideradas como 
programáticas, mas tidas por incômodas para a realização de políticas 
públicas, venham a não ser observadas, sob a alegação de que pela densidade 
de seu conteúdo possam a vir a ser descartadas”.64 Assim, há um caráter 
vinculativo também das normas ditas programáticas. Para José Afonso da 
Silva, as normas programáticas possuem força normativa e “sua juridicidade, 
contudo, deve ser afirmada só pelo fato de constarem de um texto de lei, sendo 
de repelir a pretensa injuricidade de regras pertencentes a uma constituição, e 
especialmente a uma constituição rígida”.65 
A Constituição é um documento jurídico, dotado de força e 
efetividade própria. A norma constitucional apresenta um atributo próprio que 
é a fundamentalidade. A Constituição é norma fundamental. O valor 
constitucional centra-se na personalidade e dignidade da pessoa humana. Esse 
é o seu fim, reafirmar a condição do homem. 
 
63
 BARBOSA, Rui. Comentários à Constituição Federal Brasileira. v. II, São Paulo: Saraiva, 1932, p. 489. 
64
 FERRARI, Regina Maria Macedo Nery. Normas constitucionais programáticas: normatividade, 
operatividade e efetividade. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001, p. 182. 
65
 SILVA, José Afonso da. Aplicabilidade das normas constitucionais. 3ª ed. São Paulo: Malheiros, 1998, 
p. 153. 
 
 
27
 
 O direito é um instrumento de transformação da realidade social. 
“No Direito Constitucional, o papel do jurista é o de interpretar as normas 
constitucionais e investigar os meios capazes de torná-las efetivas, como 
verdadeiros preceitos jurídicos”.66 
 A tese de que a norma programática exclui direito subjetivo não é 
verdadeira. Meirelles Teixeira analisa a problemática das normas 
programáticas afirmando que “durante muito tempo, conforme assinalamos, 
ligou-se a idéia de norma programática à da impossibilidade de produzir 
direitos subjetivos, ou, dito por outras palavras, procurou-se criar uma relação 
necessária entre direito subjetivo e aplicabilidade das normas constitucionais, 
no sentido de que a noção mesma de norma programática excluía, desde logo, 
a existência de direitos subjetivos. (...) Mas daí a negar-se, de modo absoluto, 
possam elas, em determinadas circunstâncias, produzir verdadeiros direitos 
subjetivos, a distância é muito grande”.67 
Toda norma jurídica tem força independente da necessidade de 
regulamentação normativa. Não há no texto constitucional simples 
declarações ou exortações morais. Dessa feita, as normas programáticas são 
vinculadas, sendo possível seu controle pelo Poder Judiciário. 
 Norma programática possui eficácia imediata em face da atuação 
estatal, ou seja, o poder discricionário do Estado alia-se ao conteúdo da norma 
constitucional. A norma programática é um direito subjetivo público e não 
apenas um objetivo do Estado. Regina Maria Macedo Nery Ferrari ao tratar da 
aplicabilidade imediata das normas programáticas,
cita, como exemplo, o AC 
106.872-1, da 7ª Câmara Civil do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo: 
“Mesmo as normas constitucionais de eficácia limitada, instituidoras de 
princípios programáticos, podem ser aplicadas imediatamente, ainda que 
inexistente norma posterior. Isto porque são elas dotadas de um mínimo de 
eficácia, podendo por exemplo criar situações jurídicas subjetivas de 
vantagem ou desvantagem, isto é, direitos subjetivos originados de atos que 
pretendem contrariá-los”.68 
 As normas programáticas caracterizam-se pela possibilidade 
financeira do Estado, pela relativa discricionariedade do legislador e do 
 
66
 REIS, José Carlos Vasconcellos dos. As normas constitucionais programáticas e o controle do Estado. 
Rio de Janeiro: Renovar, 2003, p. 29. 
67
 TEIXEIRA, J.H. Meirelles. Curso de direito constitucional. Texto revisto e atualizado por Maria Garcia. 
Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1991, p. 355. 
68
 FERRARI, Regina Maria Macedo Nery. Normas constitucionais programáticas: normatividade, 
operatividade e efetividade. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001, p. 195. 
 
 
28
 
administrador público. A possibilidade de controle judicial surge da 
contradição entre o preceito constitucional e as normas infraconstitucionais 
emanadas do Poder Legislativo e das políticas públicas executadas pelo Poder 
Executivo. Dessa feita, essas normas podem indicar um objetivo a ser atingido 
pelo Estado ou estabelecer verdadeiro direito subjetivo. No primeiro caso 
verifica-se um maior poder discricionário do poder público e na segunda 
hipótese vislumbra-se uma obrigação de promoção da política pública. 
 O direito subjetivo é a faculdade, a prerrogativa, o poder que o 
indivíduo possui de invocar a norma jurídica. É a autorização para que o 
sujeito possa agir. É o reconhecimento de um direito. A ação do sujeito de 
direito ou uma pretensão efetiva, prevista no modelo abstrato da norma, faz 
surgir às situações subjetivas, de várias espécies, sendo certo que não 
podemos reduzir ou classificar todas as ações dos sujeitos de direito em um 
único instituto ou a uma mesma natureza jurídica.69 Miguel Reale, refere-se, 
genericamente, a situação subjetiva, que abrange várias categorias: o direito 
subjetivo, o interesse legítimo e o poder. O mesmo autor define a situação 
subjetiva como “a possibilidade de ser, pretender ou fazer algo, de maneira 
garantida, nos limites atributivos das regras de direito”.70 
 “Quando os meios jurídicos postos à disposição do indivíduo para 
a realização de um interesse permitem uma exigência direta, plena e 
específica, surge a figura do direito subjetivo, diretamente relacionada com a 
intensidade do interesse protegido, pois, a grosso modo, o direito subjetivo 
nada mais é do que o reflexo material do dever jurídico de outro. Várias são as 
formas de conceituar o direito subjetivo, bem como a operacionalidade de tais 
conceitos, porém, aqui, por direito subjetivo deve-se entender o poder de ação 
que, como base no direito objetivo, destina-se à satisfação de um interesse”.71 
 O direito subjetivo é espécie de situação subjetiva. “Poderíamos 
conceituar situação jurídica subjetiva como a especial situação da vontade 
individual, determinada pela norma ou por atos e fatos jurídicos, relativamente 
à maior ou menor possibilidade de realizar certo interesse, seja por ato 
próprio, seja exigindo ação ou omissão de terceiros. Este conceito, 
evidentemente, é o de situação subjetiva, isto é, de vantagem, à qual 
corresponde sempre uma situação subjetiva passiva, de dever, ou vínculo, 
 
69
 SIQUEIRA JR., Paulo Hamilton. Lições de introdução ao direito. 5ª ed., rev, aum. e atual., São Paulo: 
Juarez de Oliveira, 2003, pp. 275-277; SIQUEIRA JR., Paulo Hamilton. Teoria do direito. São Paulo: 
Saraiva, 2009, pp. 174-177. 
70
 REALE, Miguel. Lições preliminares de direito. 27ª ed., São Paulo: Saraiva, 2002, p. 259. 
71
 FERRARI, Regina Maria Macedo Nery. Normas constitucionais programáticas: normatividade, 
operatividade e efetividade. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001, p. 227. 
 
 
29
 
consistente na obrigação, para com terceiro, de certa prestação, ou de uma 
abstenção. Se os meios jurídicos (coação) postos à disposição da vontade 
individual para a realização de um certo interesse permitem uma exigência 
direta, plena, específica, teremos a figura do direito subjetivo; se tais meios 
forem apenas indiretos, limitados, genéricos, teremos outras figuras de 
situações subjetivas, como o interesse simples, o interesse legítimo, a 
expectativa de direito, etc.”.72 
 A Constituição Federal como toda norma jurídica traz verdadeiros 
direitos subjetivos públicos. O texto constitucional, por exemplo, quando 
estatui o direito a saúde e a educação, criou verdadeiro direito subjetivo 
público, podendo o particular dentro dos critérios de razoabilidade exigir a 
atuação positiva do Estado para fazer valer o direito a prestações existenciais 
mínimas. 
 Regina Maria Macedo Nery Ferrari ao tratar do assunto afirma 
que “tal entendimento não foge à reserva do possível, da efetiva 
disponibilidade de recursos na hora da prestação, entretanto, mesmo dentro 
dela, é necessário evitar que a autoridade se furte ao dever que lhe é imposto 
pelo comando constitucional. O que não é aceitável é que, em nome da reserva 
do possível, isto é, sob o argumento da impossibilidade de realizá-lo por 
questões financeiras, materiais ou políticas, o comando constitucional acabe 
destituído, completamente, de eficácia. É o princípio do razoável, da 
proporcionalidade que deve reger a sua observância e efetividade”73. 
As normas programáticas previstas na Constituição têm uma 
função jurídica, na medida em que indicam conduta a ser observada pelo 
Estado na construção das políticas públicas. Trata-se de um preceito jurídico, 
sendo que a partir dessa natureza que deve ser interpretada. 
 José Carlos Vasconcellos dos Reis traz as características das 
normas programáticas no sistema jurídico afirmando que: “(a) apresentam 
uma dimensão prospectiva, oriunda de sua função positiva de orientar toda a 
atividade do Estado para a consecução de certos objetivos; (b) desempenham 
uma função negativa ao tornar inconstitucionais as normas jurídicas de menor 
hierarquia que lhes sejam contrárias; (c) possuem uma importante eficácia 
interpretativa do Direito vigente; (d) constituem, como os princípios, 
 
72
 TEIXEIRA, J.H. Meirelles. Curso de direito constitucional. Texto revisto e atualizado por Maria Garcia. 
Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1991, p. 347. 
73
 FERRARI, Regina Maria Macedo Nery. Normas constitucionais programáticas: normatividade, 
operatividade e efetividade. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001, p. 235. 
 
 
30
 
comandos de otimização, ao ordenar que um fim seja alcançado na maior 
medida possível, dentro das possibilidades jurídicas e fáticas existentes; (e) 
podem entrar em colisão entre si, que será resolvida de maneira casuística, 
tomando-se em conta as suas condições concretas de aplicação e o projeto que 
o Estado pretenda realizar; (f) servem, como normas jurídicas, de fundamento 
e base para quaisquer decisões tomadas pelo Estado, inclusive as formalmente 
jurisdicionais”.74 
 Para Gomes Canotilho, os direitos sociais previstos na 
Constituição vinculam o administrador público, argumentando que “A função 
de prestação dos direitos fundamentais anda associada a três núcleos 
problemáticos dos direitos sociais, económicos e culturais; (1) ao problema 
dos direitos sociais originários, ou seja, se os particulares podem derivar 
directamente das normas constitucionais pretensões

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