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DIREITO PENAL HOMICIDIO

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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ/ ALCÂNTARA
DIREITO PENAL III
ROTEIRO DE AULA / 1
PROFESSORA DOUTORA MARIA CAROLINA DE A. DUARTE
DOS CRIMES CONTRA A VIDA
Tema: HOMICÍDIO 
1. Homicídio Simples art. 121. Matar alguém 
Bem jurídico – vida humana que segundo Cézar Roberto Bitencourt (2002, p. 381) começa com o início do parto, com o rompimento do saco aminiótico. Antes do início do parto, o crime será de aborto. Assim, a simples destruição da vida biológica, no início do parto, já constitui o crime de homicídio ou infanticídio, neste caso quando é praticado pela mãe em estado puerperal. 
Classificação doutrinária - crime comum, de dano, material, doloso ou culposo, instantâneo de efeitos permanentes, comissivo ou omissivo. 
Sujeitos – ativo – qualquer pessoa (crime comum).
 passivo- qualquer ser humano com vida 
Tipo objetivo - Matar alguém (outro ser humano) por qualquer meio. 
Tipo subjetivo – dolo direto ou eventual. 
Consumação e tentativa – Consumação – com a morte da vítima. 
Tentativa - é admissível. Segundo Ricardo Antônio Andreucci (2008, p. 162) admite-se a tentativa de homicídio quando, iniciada a execução do crime, com o ataque ao bem jurídico vida, o resultado morte não ocorrer por circunstâncias alheias à vontade do agente. Assinala ainda o autor que, chama-se tentativa branca quando o agente desfere golpe ou disparo em direção à vítima e não a atinge. É também chamada de tentativa incruenta, que se contrapõe à tentativa cruenta que é aquela na qual a vítima sofre ferimentos. 
Homicídio simples e crime hediondo – quando o homicídio simples é cometido em atividade típica de grupo de extermínio, mesmo por um único executor (art. 1º, I da Lei 8.072/90, com redação da Lei nº 8.930/94). Extermínio, nas palavras de Bitencourt (2002, p. 384) é a matança generalizada, é a chacina que elimina a vítima pelo simples fato de pertencer a determinado grupo ou determinada classe social ou racial. Caracteriza-se a ação de extermínio mesmo que seja morta uma única pessoa, desde que se apresente a impessoalidade da ação. 
1.1. Homicídio privilegiado
 
 Ocorre quando o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima (art. 121, § 1º). 
O homicídio privilegiado nas lições de Ricardo Antônio Andreucci (2008, p. 163) prevê causas especiais de diminuição de pena.Portanto, segundo Capez (2007, p. 31) a natureza jurídica do homicídio privilegiado é: causa especial de diminuição de pena )cf. art. 68, caput, do CP) [...] em virtude da presença de certas circunstâncias subjetivas que conduzem a menor reprovação social da conduta homicida, o legislador prevê uma causa especial de atenuação de pena. Capez (2007, p. 31) faz o seguinte questionamento: a redução da pena é obrigação ou faculdade do juiz, tendo em vista que a lei afirma que o juiz “pode” reduzir a pena? Responde o autor que há divergência doutrinária e jurisprudencial. Vejamos: 
a) a redução é obrigatória. Trata-se de um direito do réu, desse entendimento compartilha Damásio de Jesus, não obstante o emprego pelo Código Penal da expressão “pode” e o disposto no art. 492, § 1º, do Código de Processo Penal, que fala em “faculdade”. Reconhecido o privilégio pelos jurados, não fica ao arbítrio do julgador diminuir ou não a pena. No mesmo sentido leciona Celso Delmanto e o próprio Capez (2007, p. 32) que afirma: se o privilégio tiver sido reconhecido pelo júri popular, o juiz está obrigado a respeitar a soberania do veredicto, não havendo que se falar em faculdade. Porém em sentido contrário argumenta Magalhães Noronha, Frederico Marques e Julio Fabbrini Mirabete pois, a redação do artigo não admite dúvidas: poder não é dever (apud Capez, 2007, p. 32). 
 A primeira causa especial de diminuição de pena refere-se ao relevante valor social. 
Relevante valor social: é aquele que diz respeito aos interesses ou fins da vida coletiva. Exemplo: homicídio praticado contra um traidor da pátria ou contra um político corrupto que lesou os interesses da coletividade. 
A segunda causa especial de diminuição de pena é o relevante valor moral que diz respeito aos interesses particulares, individuais do agente, aos sentimentos de piedade, compaixão e comiseração. Ex: a prática de eutanásia que é o homicídio compassivo, misericordioso ou piedoso. Na eutanásia, afirma Andreucci (2008, p. 163), o agente elimina a vida de sua vítima com o intuito de poupá-la de intenso sofrimento e acentuada agonia, abreviando-se assim a existência. 
A terceira hipótese de causa especial de diminuição de pena no homicídio privilegiado é aquela do chamado homicídio emocional, que exige os seguintes requisitos: 
a) a existência de violenta emoção, intensa, na qual o homicida atua sob verdadeiro choque emocional; 
b) provocação injusta por parte da vítima, que há de ser antijurídica e sem motivo razoável; 
c) reação imediata, logo em seguida à provocação, não podendo haver espaço de tempo entre a provocação e o crime. 
Exemplos: réu cuja filha menor foi seduzida e corrompida por seu ex-empregador; réu que mata o ofensor da honra de sua mãe. 
 
1.2. - Homicídio qualificado 
Verifica-se quando cometido (art. 121, § 2º): 
mediante paga ou promessa de recompensa, ou por motivo torpe; 
por motivo fútil; 
com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; 
à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido; 
para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime; 
 contra a mulher por razões de condição de sexo feminino; 
contra autoridade ou agente descrito nos arts 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição; 
 § 2º A – Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve: I- violência doméstica e familiar; menosprezo ou discriminação à condição de mulher. 
Pena: reclusão de 12 a 30 anos – crime hediondo – Lei 8.072/90, alterada pelas Leis nº 8.930/94, 9.677/98, 9.695/98 e 11.464/ 2007. 
Cumpre-me ressaltar que a inclusão do crime de homicídio qualificado como crime hediondo deve-se ao Projeto de Lei nº 8.930, de 6 de setembro de 1994, incentivado por mais de um milhão de assinaturas, cuja campanha foi liderada pela escritora e novelista Glória Perez, mãe da atriz Daniella Perez, assassinada de forma brutal no dia 28 de dezembro de 1992, e por Jocélia Brandão, mãe da menina Miriam, seqüestrada e morta por dois rapazes em Belo Horizonte, no início de 1993. Obs: Sobre Crime hediondo vide texto anexo. 
Vale descrever sobre as hipóteses qualificadoras acima mencionadas: 
1- mediante paga ou promessa de recompensa ou outro motivo torpe –Para Andreucci (2008, p. 164) nesse caso responde pelo homicídio qualificado quem pagou, bem como o agente que recebeu o dinheiro ou recompensa, que não precisa, necessariamente, representar uma vantagem econômica. Nas lições de Regis Prado (2000, p. 46) a paga ou promessa de recompensa requerem a existência de dois sujeitos: aquele que oferece o pagamento ou recompensa e aquele que executa o delito. Indaga o autor, se a qualificadora seria aplicável aos dois ou apenas ao executor. Ele entende que é incabível a aplicação da qualificadora à pessoa que oferece a recompensa, já que este atua imbuído de motivação diversa. Portanto, a posição de Regis Prado é contrária à posição de Andreucci. 
Alguns doutrinadores costumam chamar de homicídio mercenário. A lei menciona, também, outro motivo torpe, que é aquele imoral, desprezível, vil que contrastacom a moralidade média. 
Jurisprudência selecionada sobre motivo torpe – “É certo que a vingança, por si só, não torna torpe o motivo do delito, já que não é qualquer vingança que o qualifica. Entretanto, ocorre a qualificadora em questão se o acusado, sentindo-se desprezado pela amásia, resolve vingar-se, matando-a” (TJSP – RT, 598/310). 
2-Motivo fútil - é motivo insignificante, sem importância; significa a desproporção entre o motivo e a prática do crime. Luiz Regis Prado (2000, p. 45) informa que o motivo fútil não se confunde com a ausência de motivo ou com motivo injusto. 
3-Emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia ou outro meio insidioso ou cruel, ou que possa resultar perigo comum - Essas circunstâncias têm relação com os meios pelos quais o delito é cometido. 
Configura a qualificadora prevista no art. 121, § 2º, III, do CP está arrolada como agravante genérica (art. 61, II, d) como agravante genérica (art. 61, II, d). 
Meio insidioso – Segundo Regis Prado (2000, p. 46) é aquele dissimulado em sua eficiência maléfica (uso de veneno- que é qualquer substância mineral, animal ou vegetal, que, ingerida, inoculada ou introduzida no organismo, provoque lesão ou perigo de lesão à saúde ou à vida); o meio cruel, o que aumente inutilmente o sofrimento da vítima, ou revela uma brutalidade fora do comum, em contraste com o mais elementar sentimento de piedade; perigo comum é aquele capaz de afetar número indeterminado de pessoas ( p. ex: fogo, explosivo, inundação, desabamento). 
Com relação à tortura, vale consultar a Lei n. 9.455, de 7 de abril de 1997. 
Jurisprudência selecionada: “Bater em velho até este morrer configura, iniludivelmente, a qualificadora do meio cruel” (TJPS – RJTJSP, 99/443). 
4- À traição, emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido. Segundo Andreucci (2008, p. 165) traição é a deslealdade, a falsidade com que é cometido o fato criminoso. A traição pode ser material, quando por exemplo, a agente atinge a vítima pelas costas, e moral, como no caso, por exemplo, de o agente enganar a vítima, atraindo-a a determinado local para praticar o delito. 
Emboscada- significa tocaia, esconderijo, consiste no fato de o agente esperar dissimuladamente a vítima em local de passagem para cometimento de crime. 
Dissimulação – é a ocultação da vontade ilícita, visando a pegar o ofendido desprevenido Exemplo: o agente que finge ser amigo da vítima com intuito de apanhá-la desprevenida na prática do crime. O outro recurso mencionado pela lei deve ser apto a dificultar ou tornar impossível a defesa da vítima. Jurisprudência selecionada: surpresa “Age com a qualificadora da surpresa o marido que adentra o lar, quando sua esposa estava na cozinha, e a alveja, mortalmente, com diversos tiros de revólver, sem que a mesma pudesse esboçar qualquer defesa” (TJSC – RT, 523/438). 
Aliás, Cézar Roberto Bitencourt (2002, p. 293) afirma que por vezes, a surpresa confunde-se com a traição. Se, por exemplo, ao matar a vítima dormindo, estiver violando a confiança e a lealdade que a vítima lhe depositava, como é o caso de quem convive sob o mesmo teto (neste caso trata-se de traição). No entanto, haverá surpresa se o sujeito ativo, ao procurar a vítima para matá-la, encontra-a adormecida, exterminando-lhe a vida. 
5- Para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime. Essa qualificadora relaciona-se à conexão de crimes, que pode ser teleológica (quando o crime é praticado para assegurar a execução de outro) ou conseqüencial (quando o crime é praticado em conseqüência do outro, para assegurar-lhe ocultação, impunidade ou vantagem). 
6- Feminicídio - Em 9 de março de 2015, fruto do Projeto de Lei do Senado n. 8.305/2014, foi publicada a Lei n. 13.104, que criou, como modalidade de homicídio qualificado, o chamado feminicídio, que ocorre quando uma mulher vem a ser vítima de homicídio simplesmente por razões de sua condição do sexo feminino. O crime deverá ser praticado por razões de condição do sexo feminino, o que efetivamente ocorrerá quando envolver: I- violência doméstica e familiar; II- menosprezo ou discriminação a essa condição. Menosprezo, aqui pode ser entendido no sentido de desprezo, sentimento de aversão, repulsa, repugnância a uma pessoa do sexo feminino; discriminação tem o sentido de tratar de forma diferente, distinguir pelo fato da condição de mulher da vítima. Merece ser frisado, por oportuno, que o feminicídio, em sendo uma das modalidades de homicídio qualificado, pode ser praticado por qualquer pessoa, seja ela do sexo masculino ou feminino. Assim, não existe óbice à aplicação da qualificadora se, numa relação homoafetiva feminina, uma das parceiras, vivendo em um contexto de unidade doméstica, vier a causar a morte de sua companheira (Rogério Greco, 2016, p. 335). O mesmo autor assinala que em virtude dos precedentes dos Tribunais Superiores, nos casos de transexualismo, homossexualismo masculino e homossexualismo feminino é possível figurar o delito de feminicídio. 
7- A Lei n. 13.142, de 6 de julho de 2015, inseriu o inciso VII, § 2º do art. 121 do Código Penal criando mais uma modalidade qualificada, na hipótese em que o agente praticar crime de homicídio contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do Sistema Prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição. Assim, segundo Rogério Greco (2016, p. 337) são considerados sujeitos passivos os integrantes: 
das Forças Armadas – Exército, Marinha e Aeronáutica (art. 142 do C. Federal); 
da Polícia Federal (art. 144 do C. Federal); 
da Polícia Rodoviária Federal (art. 144, II da C. Federal); 
da Polícia Ferroviária Federal (art. 144 II, da C. Federal); 
das Polícias Civis (art. 144, V, da C. Federal); 
das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares (art. 144, V, da C. Federal); 
das Guardas Municipais (arr. 144, § 8º, da C. Federal); 
do Sistema Prisional; 
da Força Nacional de Segurança Pública (Lei n. 11.473/2007); 
da mesmo forma, serão considerados sujeitos passivos o cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição, ou seja, considerando seu vículo familiar com qualquer uma das autoridades ou agentes supramencionados (Rogério Greco, 2016, p. 337).
1.3- HOMICÍDIO CULPOSO 
O homicídio culposo, previsto no art. 121, § 3º, do Código Penal, caracteriza-se pela incidência do elemento subjetivo culpa, que tem sua essência na inobservância do cuidado objetivo necessário. 
Cuidado objetivo é a obrigação determinada a todos no convívio social, de realizar condutas de forma a não produzir danos a terceiros. 
Imprudência é a prática de um fato perigos. Ex: dirigir veículo em rua movimentada com excesso de velocidade. 
A negligência é a ausência de precaução ou indiferença em relação ao ato realizado. Ex: deixar arma de fogo ao alcance de criança. 
Imperícia é a falta de aptidão para exercício de arte ou profissão. 
No caso de ter sido o homicídio praticado na direção de veículo automotor, aplica-se do Código de Trânsito, Lei 9.503 de 23 de setembro de 1977. 
Homicídio culposo de erro médico – Assinala Capez (2007, p. 68) que o médico poderá ser responsabilizado penalmente na hipótese em que a morte do paciente advier de culpa, ou seja, desde que ele se omita ou atue em desacordo com o procedimento médico. Essa quebra do dever de cuidado pode acontecer de diversas formas: quando o médico ministra dose excessiva de determinado medicamento; realiza intervenção médico-cirúrgica sem exigir os exames necessários, e na realidade o paciente não poderia sofrer tal espécie de intervenção, vindo a falecer; diagnostica incorretamente a doença por não ter solicitado os exames de rotina, sucedendo o óbito do paciente;conceder alta aos pacientes sem a devida cautela. No entanto, se o médico se vê obrigado a utilizar-se de técnicas não aperfeiçoadas no meio científico ou então, tendo em vista a falta do avanço nas pesquisas de determinadas doenças, não as diagnosticam corretamente, procedimentos estes que culminam com a morte do paciente – em tais hipóteses não deve o médico ser responsabilizado por erro médico. 
1.4. HOMICÍDIO CULPOSO: majorantes 
Nas lições de Cézar Roberto Bitencourt (2007, p. 82) a majorante representa um plus de culpabilidade, ao contrário da qualificadora que integra a tipicidade. As majorantes e minorantes não se confundem com qualificadoras ou agravantes e atenuantes genéricas. Elas funcionam como modificadoras da pena, na terceira fase do cálculo de sua aplicação. Ademais, as majorantes e minorantes estabelecem o quantum, fixo ou variável, de aumento ou diminuição de pena ao contrários das demais operadoras. O § 4º prevê as majorantes. 
Majorante para homicídio culposo e doloso (§ 4º, 1ª e 2ª partes). Para o homicídio culposo o Código Penal brasileiro distingue quatro modalidades de circunstâncias que determinam a majoração da pena:
 
inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício: esta majorante não se confunde com a imperícia (modalidade de culpa). Na majorante o agente conhece a regra técnica, mas não a observa, há displicência a respeito da regra técnica. Explica Capez (2007, p. 71) que não se confunde inobservância de regra técnica com imperícia. No caso de aumento de pena, o agente conhece a regra técnica, porém, deixa de observá-la; enquanto na imperícia, que pressupõe inabilidade ou insuficiência profissional, ele não a conhece, não domina conhecimentos técnicos. Exemplo: o médico não providenciar a esterilização dos instrumentos que vai utilizar na cirurgia.
se o agente deixar de prestar imediato socorro à vítima: assinala Bitencourt (2007, p. 83) que aqui a omissão de socorro não constitui crime autônomo ( o crime continua a ser de resultado: morte, ao contrário do crime omissivo próprio), como ocorre com a previsão do art. 135, mas configura simples majorante. Ressalta o autor que essa majorante só pode ser aplicada quando o socorro omitido pudesse ser prestado. Assim, se ocorrer morte instantânea da vítima a punição irá constituir crime impossível, ou ainda no caso em que terceiros prestam socorro imediato à vítima etc. No caso de vítima socorrida por terceiros Capez (2007, p. 73) entende que subsiste a majorante, haja vista esta ter natureza subjetiva. Ensina o autor que se trata de crime qualificado pelo resultado, no qual há um antecedente culposo (o homicídio) e um subseqüente doloso (a omissão de socorro) [...] assim,, se após a ocorrência do evento, o seu causador se afasta do local e, na seqüência, a vítima é socorrida por terceiro, existe o crime. Evidente que não há delito quando, logo após o evento, terceira pessoa se adianta ao agente e presta socorro. Capez (2007, p. 72) exemplifica da seguinte maneira: o operário de uma obra em construção, em lugar ermo, que de forma culposa deixa cair o andaime sobre o seu único colega que se encontrava no local, e que se omite em prestar-lhe imediato socorro, deixando-o à própria sorte, o qual vem a falecer algumas horas depois. Ensina ainda Capez, que tal agravamento de pena comumente incidia no crime de homicídio culposo praticado na direção de veículo automotor, em que, após atropelar a vítima, o agente fugia deixando-a à própria sorte. Contudo, diante do Novo Código de Trânsito Brasileiro, essa disposição deixou de ser aplicável ao homicídio culposo praticado nessas condições. 
A presença de risco pessoal afasta a majorante. Por isso, no caso do agente que deixa o local do acidente temeroso de alguma represália por parte dos parentes da vítima ou de terceiros, que possuem condições de prestar socorro, não há que se falar em adequação típica da referida majorante, pela falta da elementar “sem risco pessoal”. Assim, se o sujeito ativo deixa de prestar socorro em razão de risco pessoal, configura-se, plenamente, a inexigibilidade de outra conduta, que é uma excludente supralegal da culpabilidade. 
Finalmente, vale repetir, que o crime de omissão de socorro (135 do C. Penal) não é igual ao crime de homicídio com a causa de aumento de pena (art. 121 § 4º). No art. 135 a pessoa está obrigada a prestar socorro, que não se confunde com quem causou a situação de perigo. Exemplo de Capez (2007, p. 72): diversos operários trabalham em uma obra e o operário Antonio deixa o andaime cair sobre o operário Bento. Os vários operários que lá estavam não deram causa à situação de perigo em que se encontrava a vítima, pois foi Antônio o autor do evento, contudo, se os operários presentes não prestarem socorro imediato à vítima (Bento), a omissão deles poderá ser enquadrada em crime autônomo, qual seja, de omissão de socorro (art. 135 do C. Penal). Observe que no referido exemplo, os autores da omissão de socorro não causaram o ferimento à vítima. 
c) o agente não procurar diminuir as conseqüências do comportamento: de acordo com as lições de Bitencourt (2007, p. 83) essa previsão não passa de uma especificação da previsão da norma mandamental que pune a omissão de socorro. Por isso, a referência é redundante, na medida em que não deixa de ser uma omissão de socorro. Assinala Capez (2008, p. 75) que quem omite socorro, logicamente, não diminui as conseqüências do seu ato. Por exemplo: não transportar a vítima para uma farmácia constitui omissão de socorro e, ao mesmo tempo, atitude de quem não procura diminuir as conseqüências do ato cometido. 
d) se o agente foge para evitar a prisão em flagrante: com essa medida o legislador visa a impedir que o agente deixe o local da infração, dificultando o trabalho da justiça e buscando a impunidade. 
1.5. PENA E AÇÃO PENAL 
Para homicídio simples a pena é de reclusão, de 6 a 20 anos; para a figura qualificada, de 12 a 30 anos. Na forma culposa a pena será de detenção, de 1 a 3 anos. Há a possibilidade da aplicação de minorantes (§1º) e majorantes (§4º), além da possibilidade do perdão judicial (5§). 
O direito de ação penal nas palavras de Cézar Roberto Bitencourt (2007, p. 91) consiste na faculdade de exigir a intervenção do poder jurisdicional para que se investigue a procedência da pretensão punitiva do Estado-Administração, nos casos concretos. Ação é, pois o direito de invocar a prestação jurisdicional, isto é, o direito de requerer em juízo a reparação de um direito violado. Cumpre lembrar que a ação penal constitui apenas uma fase da persecução penal, que pode iniciar com as investigações policiais (inquérito policial), sindicância administrativa, Comissão Parlamentar de inquérito. Essas investigações preliminares são meramente preparatórias de uma futura ação penal. A ação penal propriamente somente nascerá em juízo com o oferecimento da denúncia pelo Ministério Público, em caso de ação pública, ou de queixa, pelo particular, quando se tratar de ação privada. O recebimento de uma ou de outra marcará o início efetivo da ação penal. Ricardo Antonio Andreucci (2008, p. 136) ensina que a ação pública apresenta duas espécies: a) a ação pública incondicionada, quando o seu exercício não se subordina a qualquer requisito, podendo ser iniciada sem manifestação de vontade de qualquer pessoa. A peça que inicia essa ação chama-se denúncia, sendo privativamente oferecida por um membro do Ministério Público (promotor de justiça ou procurador de justiça, conforme o caso), devendo conter a exposição do fato criminoso, com todas as circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol de testemunhas (art. 41 do CPP).O prazo para o oferecimento da denúncia, estando o réu preso, será de 5 dias, contado da data em que o MP receber os autos do inquérito policial. Se o réu estiver solto ou afiançado, o prazo para oferecimento da denúncia passa a serde 15 dias (art. 46 do CPP); b) ação pública incondicionada, quando o seu exercício depende do preenchimento de condições, que podem ser: representação do ofendido – requisição do Ministro da Justiça. Assim, temos a ação pública condicionada à representação do ofendido e a ação penal pública condicionada à requisição do Ministério da Justiça. A representação é o ato pelo qual o ofendido ou seu representante legal expressam o a vontade de que a ação penal seja instaurada. O direito de representação poderá ser exercido, pessoalmente ou por procurador com poderes especiais, mediante declarações, escrita ou oral, feita ao juiz, ao MP ou à autoridade policial (art. 39 do CPP), dentro do prazo de 6 (seis) meses, contado da data em que vier a saber quem é o autor do crime, sob a pena de decadência (art. 38 do CPP). No caso de ação penal pública condicionada à requisição do Ministro da Justiça, a lei confere a ele a análise da conveniência de se iniciar a ação penal. Existem apenas dois casos no Código Penal em que a ação é pública condicionada à requisição do Ministro da Justiça: arts 7, § 3º, b, e 145, parágrafo único; c) ação penal privada: nesse caso, o interesse do particular, ofendido pelo crime, sobrepõe-se ao interesse público, que também existe. Ocorre, assim, verdadeira hipótese de substituição processual, em que o particular defende interesse alheio (interesse público na repressão dos delitos) em nome próprio. Espécies: a) ação penal privada exclusiva, que somente pode ser proposta pelo ofendido; b) ação penal privada subsidiária, que tem lugar nos crime de ação penal pública, quando o Ministério Público não oferece denúncia no prazo legal. Denomina-se queixa-crime a peça pela qual se inicia a ação penal privada. Não se pode confundir esta com a notitia criminis, que é o ato por meio do qual qualquer pessoa noticia a ocorrência de uma infração penal, seja à autoridade policial ou judiciária, seja ao Ministério Público. O prazo para o exercício do direito de queixa é de 6 (seis) meses, contando da data em que vier o ofendido a saber quem é o autor do crime, sob pena de decadência (art. 38 do CPP). 
REFERÊNCIAS 
ANDREUCCI, Ricardo Antônio. Manual de Direito Penal, 4. ed. reformulada, São Paulo: Saraiva, 2008, 620 p. 
BITENCOURT, Cezar Roberto. Código Penal comentado. São Paulo: Saraiva, 2002, 1275 p. 
______. Tratado de Direito Penal: parte especial, v. 2. , 7. ed. rev. e atual., São Paulo: Saraiva, 2007, 462 p. 
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal: parte especial, v. 2., 7. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2007, 649 p. 
GRECO, Rogério. Códio Penal comentado. 10. ed. rev. ampl. e atual. Niterói/ Rio de Janeiro: Impetus, 2016. 
UNIVERSIDADE IGUAÇU
DIREITO PENAL III- PARTE ESPECIAL / 4º PERÍODO /Tarde 
PROFª DOUTORA MARIA CAROLINA DE A. DUARTE
ROTEIRO DE AULA / 2
TEMA: INDUZIMENTO, INSTIGAÇÃO OU AUXÍLIO A SUICÍDIO 
Art. 122 do CP. Induzir, instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça. Pena- reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se consuma; ou reclusão, de 1 (uma) a 3 (três) anos, se da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave. 
1- Conceito de suicídio - segundo Luiz Regis Prado (2000, p. 58, 59) modernamente, o suicídio é entendido como a deliberada destruição da própria vida. Tanto o suicídio como a tentativa de suicídio não são punidos pelo Direito Penal brasileiro, embora, a participação em atos dessa natureza seja punível segundo grande parte das legislações penais. 
No Direito Romano eram punidos os herdeiros do suicida. A pena era o confisco dos bens. Aos soldados que tentassem o suicídio era aplicada, em geral, a pena de morte. O direito Canônico equiparava o suicídio ao homicídio. Os suicidas eram excomungados e a eles era negada a sepultura cristã. 
Importante frisar que, embora atípico, o suicídio é um fato ilícito, de modo que não constitui constrangimento ilegal a coação exercida para impedi-lo (art. 146, § 3º, II do C. P). 
2- Princípio da Lesividade - nos ensinamentos de Rogério Greco (2005, p. 90, 91) de acordo com o princípio da lesividade o Direito Penal só pode, proibir comportamentos que extrapolem o âmbito do próprio agente, que venham atingir bens de terceiros. Adiante o autor afirma que seria inviável o legislador tipificar o crime de suicídio ou a tentativa do mesmo, por existir uma barreira principialógica, uma vez que a conduta daquele que atenta contra a própria vida não é lesiva, pois não atinge bem jurídico de terceiros. O autor ainda lembra que em razão do princípio da lesividade está impedido de proibir, por exemplo, a automutilação, pois a conduta daquele que se quer mutilar não ultrapassa a pessoa do agente e não atinge, portanto, bens de terceiros.
No mesmo sentido Nilo Batista (1996, p. 35) assinala que existem 4 (quatro) vertentes que envolvem o princípio da lesividade, a saber: 
a) proibições de incriminações de comportamentos que não digam respeito a uma atitude interna do agente; 
b) proibição de incriminações de comportamentos que não excedam ao âmbito do próprio autor; 
c) proibição de incriminações de simples estados ou condições existenciais; 
d) proibição de incriminações de condutas desviadas que não afetem qualquer bem jurídico. 
2-Bem jurídico protegido 
Com a tipificação da conduta daquele que induz, instiga ou auxilia outrem a suicidar-se, tutela-se a vida humana. A proteção da vida humana segundo Luiz Regis Prado (2000, p. 59) como bem jurídico é de incontestável magnitude e justifica plenamente a previsão insculpida no art. 122 do Código Penal. 
Elementos do tipo e classificação doutrinária 
Nas palavras de Capez (2007, p. 88) o núcleo do tipo é composto por três verbos: induzir, instigar ou auxiliar. Trata-se de um tipo misto alternativo (crime de ação múltipla ou de conteúdo variado) O agente, ainda que realize todas as condutas, responde por um só crime. Bitencourt (2007, p. 100) esclarece que por se tratar de um tipo penal de conteúdo variado, isto é, ainda que o agente pratique, cumulativamente, todas as condutas descritas nos verbos nucleares, em relação à mesma vítima, praticará um mesmo crime. 
Classificação doutrinária - material (embora Nélson Hungria (1979, p. 237, 236 entenda que é crime formal) Bitencourt (2007, p. 108) ensina que o crime de participação em suicídio é comum, comissivo, excepcionalmente omissivo (auxílio), de dano, material, instantâneo, doloso, de conteúdo variado e plurissubsistente. Regis Prado (2000, p. 68) assinala que é um delito instantâneo e de mera conduta. 
Com respeito ao crime omissivo no crime em tela, importante ressaltar a posição de Bitencourt (2007, p. 110) em relação à greve de fome. Afinal, questiona o autor, o médico q	ue tem o dever de assistir e velar pela vida do grevista de fome, especialmente, num sistema prisional, poderá ser penalmente responsabilizado? Bitencourt assinala que é vedado ministrar forçadamente, alimentação ao grevista, desde que se encontre em “pleno uso de suas faculdades mentais” e não haja “grave risco de vida”. [...] O médico, na hipótese de greve de fome de prisioneiros, tem o dever de velar pela saúde e, por extensão, pela vida dos grevistas. Há determinado momento em que a não-intervenção, com alimentação, permitirá que o grevista sofra lesões irreversíveis.Ademais, o médico ocupa a posição, nesse caso, de garantidor, de acordo com o art. 13 do C. P, o médico responderá pela morte do grevista, na forma omissiva imprópria. O mesmo pode ocorrer com as “Testemunhas de Jeová”, especialmente, nas transfusões de sangue, cuja negativa decorre de motivos religiosos. A transfusão determinada pelo médico esta, igualmente, amparada pelo disposto no art. 146, § 3º, do C. P. Eventual violação da liberdade de consciência ou da liberdade religiosa cede ante um bem jurídico superior que é a vida, na inevitável relação de proporcionalidade entre bens jurídicostutelados. 
2.1 DIFERENÇAS ENTRE INDUZIMENTO, INSTIGAÇÃO E AUXÍLIO AO SUICÍDIO 
Nas palavras de Ricardo Antônio Andreucci (2008, p. 167) são as seguintes diferenças: 
induzimento: é a criação de um propósito inexistente. O agente cria na mente da vítima o desejo de suicídio quando esta ainda não pensava nele; 
instigação: é o reforço de um propósito já existente. O agente reforça, estimula a idéia preexistente de suicídio; 
o auxílio ao suicídio: pressupõe a participação material ao suicídio, no fornecimento de meios para alcançar o objetivo desejado, como o empréstimo do punhal, do revólver etc. 
Exemplos: Induzir: indivíduo que perde o emprego e é sugestionado pelo seu colega a suicidar-se por ser a única forma de revolver o problema (Capez, 2007, p. 89). 
Instigação: o pai que, ciente do desígnio suicida da filha seduzida, lhe conta que assim, também, agiu determinada mulher, revelando honra e brio (Noronha, p. 33). 
Auxílio: o auxílio é eminentemente acessório, limitando-se o agente a fornecer meios ( a arma, o veneno etc.), a ministrar instruções sobre o modo de empregá-los, a criar condições de viabilidade do suicídio, a frustrar a vigilância de outrem, a impedir ou dificultar o imediato socorro (Capez, 2007, p. 89). Frederico Marques, Damásio de Jesus e Delmanto que prestar auxílio é sempre uma conduta comissiva. No entanto, Capez (2007, p. 90), Mirabete, Magalhães Noronha e Nélson Hungria entendem que é perfeitamente cabível o auxílio por omissão. Por exemplo, alguém que, atendendo as súplicas de um suicida, concorda em auxiliá-lo, não comunicando o fato à polícia, não impedindo a sua ação, nem fazendo barulho para não chamar atenção de vizinhos ou familiares. Se, todavia, o omitente tiver o dever jurídico de agir (CP art. 13, § 2º) responderá por homicídio (crime omissivo impróprio) (Capez, 2007, p. 90) 
Sujeitos ativo e passivo 
3.1- Sujeito ativo: qualquer pessoa que tenha capacidade de induzir, instigar ou auxiliar alguém, de modo eficaz e consciente, a suicidar-se. 
3.2- Sujeito passivo: nas palavras de Capez (2007, p. 90) qualquer pessoa pode ser vítima do crime em tela, desde que possua capacidade de resistência e discernimento. Nos casos de ausência de capacidade de entendimento da vítima (louco, criança), o autor será considerado autor mediato de homicídio, uma vez que a vítima, em face da ausência de capacidade penal, serviu como mero instrumento para que o agente lograsse o seu propósito criminoso, qual seja, eliminar a vida do inimputável; por exemplo: fornecer a arma a um louco e determinar que este atire contra si próprio. 
Ensina ainda Capez (2007, p. 91) que a vítima será determinada, ainda que haja mais de uma. A instigação, a indução ou o auxílio de caráter geral, que atinjam pessoa (s) incerta (s), por meio de livros, discos, espetáculos, não tipifica a conduta de que se cuida. 
Elemento Subjetivo do tipo 
O elemento subjetivo do delito em questão é somente o dolo direto ou eventual. O primeiro é a vontade livre e consciente de concorrer para que a vítima se suicide. Já o dolo eventual, neste crime, pode ser exemplificado da seguinte maneira: maus-tratos efetuados contra a vítima. A questão se resume à previsibilidade do suicídio da vítima por parte do autor dos maus-tratos. 
Não há previsibilidade de modalidade culposa. 
Consumação e tentativa 
Ricardo Antônio Andreucci (2008, p. 168) informa que o crime consuma-se com o resultado morte ou lesão corporal de natureza grave. É crime material. A natureza jurídica da morte e das lesão corporal grave é tema de discussão jurídica. Pergunta-se: a morte e a lesão corporal grave é condição de punibilidade ou elemento do delito? Nélson Hungria entende que se trata de condição de punibilidade. O crime se consuma com a ação ou omissão descrita no preceito legal, mas a punição fica subordinada ao advento (concomitante ou sucessivo) de um certo resultado ou dano. É o que acontece com o crime de participação em suicídio: embora o crime se apresente consumado com o simples induzimento, instigação ou prestação de auxílio, a punição está condicionada à superveniente consumação do suicídio. Se não se segue, sequer, a tentativa, ou não há lesão alguma ou lesão de natureza leve, a participação ficará impune. Essa é, portanto uma inovação do C. Penal quanto a punibilidade desse crime, mesmo de simples tentativa do suicídio, desde que desta resulte lesão corporal grave, isto é quaisquer das lesões previstas nos §§ 1º e 2º do art. 129. 
Magalhães Noronha (1994, p. 35) entende que se trata de elemento do delito a conseqüência lesiva não é condição objetiva de punibilidade, por ser querida pelo agente, por ser o fim que tem em mira, ou noutras palavras o resultado do dolo. Assim entendem Damásio de Jesus, Heleno Cláudio Fragoso e Capez (2007, p. 94). Afirma este último que, a participação em suicídio do qual não resulte morte ou lesão corporal de natureza grave é um fato atípico, sem enquadramento no modelo incriminador. Falta-lhe subsunção, correspondência formal. O problema não é de punibilidade, mas sim, de atipicidade. 
Não se admite a tentativa de participação em suicídio. Isto porque o legislador condiciona a imposição de pena à ocorrência do resultado morte ou lesão corporal de natureza grave. Se não ocorrer esses resultados, ainda que a conduta seja interrompida por circunstâncias alheias à vontade do agente, não há crime. 
Ressalta Capez (2007, p. 95) que não se deve confundir as figuras da tentativa de suicídio e da tentativa de participação em suicídio. A primeira é perfeitamente admissível e ocorre na hipótese em que o agente é impedido por circunstâncias alheias de suicidar-se; a segunda diz respeito à hipótese estudada, ou seja, tentativa de participação em suicídio, a qual não é admitida haja vista o nosso Código Penal que considera atípico o fato se o agente auxilia de qualquer forma a vítima e o suicídio não vem a se consumar ou não advém lesão corporal de natureza grave. 
 
6-Ação penal 
 
A ação penal no crime de participação em suicídio é pública incondicionada, com iniciativa privativa do Ministério Público. Toda ação pública admite ação penal privada subsidiária, desde que haja inércia do Ministério Público. 
7-Formas qualificadas 
A participação em suicídio qualificada, nos termos do disposto no art. 122 § único, do C. Penal, ocorre nas seguintes hipóteses: 
a) quando o crime é praticado por motivo egoístico, que seria, por exemplo, o caso do agente induzir a vítima a suicidar-se para ficar com sua herança; 
b) quando a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência. No caso de menoridade da vítima, a doutrina não é unânime em estabelecer qual será a idade, havendo orientação majoritária no sentido de tratar-se de maior de 14 e menor de 18. Afirma Capez (2007, p. 96) que por questão de lógica jurídica, a idade mínima para incidência da agravante do delito em estudo é 14 anos, pois abaixo desse limite o crime cometido será de homicídio. No tocante à idade limite máxima de 18 anos, adotou-se esse entendimento tendo em vista que a menoridade penal cessa aos 18 anos (art. 27 do C. P). Assinala ainda o autor, que tal critério não é absoluto, nem sempre incidindo a agravante se a vítima for menor de 18 anos, na medida em que esta pode ser dotada de maturidade, fato que afasta o agravamento da pena. 
c) capacidade de resistência diminuída por qualquer outra causa, exemplos: embriaguez, idade avançada, enfermidade física ou mental. Se qualquer desses fatores anular completamente a capacidade de resistência aplica-se o delito de homicídio (hipótese de vítima portadora de insanidade mental completa e criança menor de 14 anos). 
8-Suicídio não consumado e “aberratio ictus” 
Na aberratio ictus há um verdadeiro erro na execução do crime, ou seja, desvio no golpe. Assim, se por não saber manusear a arma de fogo, Antônio ao atirar-se sem si próprio erra o alvo e atingeterceira pessoa, responderá pelo delito de homicídio culposo. 
Duelo americano ou roleta russa 
No duelo americano tem-se duas armas e apenas uma delas está carregada. Na roleta-russa há uma arma, com um só projétil, que deverá ser disparada sucessivamente pelos participantes, rolando o tambor cada um em sua vez. Em ambos os casos, os sobreviventes respondem por participação em suicídio. Bitencourt (2007, p. 112) informa que, se, no entanto, algum dos contendores for coagido a participar da “aposta”, sobrevivendo quem coagiu, este responderá por homicídio doloso. 
Suicídio a dois ou pacto de morte 
Verifica-se o “pacto de morte” quando duas pessoas combinam, por qualquer razão, o duplo suicídio. Nessa hipótese, o sobrevivente responderá por homicídio, quando tiver praticado ato executório. No entanto, se somente houver induzido, instigado ou auxiliado seu parceiro, responderá pelo suicídio, na forma do art. 122. Se nenhum morrer, aquele que realizou a atividade executória contra o parceiro responderá por tentativa de homicídio, e aquele que ficou somente na “contribuição” responderá pela tentativa qualificada, se houver pelo menos lesão corporal de natureza grave (Bitencourt, 2007, p. 112)
Referências 
ANDREUCCI, Ricardo Antônio. Manual de Direito Penal. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. 
BATISTA, Nilo. Introdução crítica ao Direto Penal. Rio de Janeiro: Revan, 1996. 
BITENCOURT, Cézar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte especial, v. 2. 7. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2007. 
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal: parte especial. v. 2., 7. ed. rev. e atual., São Paulo: Saraiva, 2007. 
GRECO, Rogério. Direito Penal do equilíbrio: uma visão minimalista do Direito Penal. Niterói/ RJ: Impetus, 2005. 
HUNGRIA, Nélson. Comentários ao Código Penal. v. 5., 5. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1979. 
NORONHA, Edgard Magalhães. Direito Penal: parte especial. v. 2., 15. ed. São Paulo: Saraiva, 1979. 
PRADO, Luiz Regia. Curso de Direito Penal brasileiro: parte especial, v. 2. , São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2000. 
UNIVERSIDADE IGUAÇU
DIREITO PENAL / PARTE ESPECIAL/ 4º PERÍODO / TARDE
PROFESSORA DOUTORA MARIA CAROLINA DE A. DUARTE
ROTEIRO DE AULA / 3
TEMA: INFANTICÍDIO
Conceito – crime previsto no art. 123 do C. Penal, é a supressão da vida do nascente ou neonato, pela própria mãe, durante ou logo após o parto, sob influência do estado puerperal.
 
Natureza jurídica – Trata-se de uma espécie de homicídio doloso privilegiado, cujo privilégio é concedido em virtude da “influência do estado puerperal”, sob o qual se encontra a parturiente (Capez, 2007, p. 100).
 
Classificação doutrinária: crime material, de dano, comum, próprio, comissivo ou omissivo impróprio, plurissubsistente e instantâneo. 
Bem jurídico – o bem jurídico tutelado é a vida humana. Para Bitencourt (2007, p. 114) protege-se aqui a vida do nascente e do recém-nascido 
Sujeitos do delito 
3.1 – Sujeito ativo do infanticídio é a mãe, que mata o próprio filho durante o parto ou logo após, sob a influência do estado puerperal. Para Luiz Regis Prado (2000, p. 73) trata-se de crime próprio. 
3.2 – Sujeito passivo – para o referido autor, é o ser nascente – na etapa de transição da vida uterina para a extra-uterina – ou recém-nascido (elemento normativo do tipo).[...] a vida extra-uterina autônoma é aferida através das denominadas docimasias, divididas em dois grupos fundamentais: 
a) docimasias respiratórias: podem ser diretas ou indiretas. As docimasias diretas investigam a efetiva penetração de ar nos pulmões ou em outras cavidades do organismo, examinando as modificações – volumétricas, de peso ou histológicas – que os atos respiratórios produzem nesses órgãos. As docimasias indiretas analisam as demais atividades fisiológicas do neonato, decorrentes do início da respiração. 
São exemplos de docimasias respiratórias a pulmonar-hidrostática (ou galênica) e a gastrointestinal (ou de Breslau). Pela primeira colocam-se os pulmões em um recipiente com água com a temperatura de 15º C a 20º C: se os pulmões flutuam, comprova-se a respiração. Contudo, esta não é uma prova absoluta, pois é possível que os pulmões flutuem por outras causas que não o ar respirado (ex: gases advindo da putrefação). 
A docimasia gastrointestinal: consiste em colocar o estômago e o intestino, devidamente unidos, no recipiente com água, caso flutuem, é possível que a criança respirou. E isso porque, com a respiração, ingere-se certa quantidade de ar, que penetra naqueles órgãos e os deixam mais leves que a água. 
b)docimasias não-respiratórias: ainda nas lições de Luiz Regis Prado (2000, p. 76) essas docimasias atestam a existência de atividades vitais não relacionadas, direta ou indiretamente, com o início da respiração. 
A distinção entre vida autônoma e vida biológica revela-se hodiernamente desnecessária. Haverá infanticídio a partir do início do parto se a criança tiver biologicamente viva. Não há que se indagar da capacidade de vida autônoma. A ausência de vitalidade para Regis Prado (2000, p. 76) é irrelevante, de forma que pouco importa as condições de maturidade, de desenvolvimento, de conformação ou de força do neonato vivo.
 
4- Tipicidade objetiva 
Segundo Ricardo Antônio Andreucci (2008, p. 169) a conduta típica é expressa pelo verbo matar, como acontece no homicídio. 
O verbo matar pode encerrar uma conduta comissiva, com a ação do sujeito ativo voltada à supressão da vida do nascente ou neonato, e pode, também encerrar uma conduta comissiva por omissão, no caso de a mãe privar a criança de alimentação, de cuidados indispensáveis. 
Nesse sentido a jurisprudência que selecionamos: “Responde por infanticídio a progenitora que, após o nascimento do filho, não presta os cuidados indispensáveis à criança, deixando de fazer a ligadura do cordão umbilical seccionado” (JTACrim, 49/187). 
É necessário para a caracterização do infanticídio não só que a mãe tenha agido sob influência do estado puerperal, mas, também, que o fato ocorra durante o parto ou logo após. 
O parto inicia com a contração do útero e o deslocamento do feto, terminando com a expulsão da placenta. 
Para Bitencourt (2007, p. 116) temporalmente ficou bem delimitado o momento fronteiriço entre o aborto e o infanticídio: antes de iniciado o parto, a morte do feto é aborto; após a aquele ter começado, o crime é infanticídio, desde que seja sob a influência do estado puerperal.
4.1 Estado puerperal como elementar normativa 
Segundo Bitencourt (2007, p. 116) os dois critérios fundamentais que fundamentam o crime de infanticídio são: o psicológico e o fisiológico. O critério psicológico pretende justificar o desejo de preservar a honra pessoal, como por exemplo, a necessidade de ocultar a maternidade. O critério fisiológico, por sua vez, que foi adotado pelo nosso Código Penal. Regis Prado (2000, p. 72) fala em critério psicológico e critério fisiopsíquico neste, que é adotado pelo C. Penal brasileiro, que abandona qualquer consideração acerca da legitimidade da gravidez, não se busca o motivo determinante da pratica delituosa em questão. De acordo com essa segunda orientação, o privilégio só será concedido se a morte dada ao filho sob a influência do estado puerperal. O nosso C. Penal adotou esse critério. Buscou-se, então, fundamentar o privilégio em uma perturbação de ordem fisiopsíquica, capaz de atenuar a magnitude da culpabilidade. Como afirma Andreucci (2208, p. 168) não basta que a mulher realize a conduta durante o período do estado puerperal. É necessária uma relação de causalidade entre a morte do nascente ou neonato e o estado puerperal. Essa relação não é meramente objetiva, mas, também subjetiva, porque o C. Penal exige que o crime seja cometido pela mãe sob a influência do estado puerperal. 
Capez (2007, p. 104) afirma que é necessário sempre avaliar no caso concreto através dos peritos-médicos, se o puerpério acarretouo desequilíbrio psíquico, de modo a diminuir a capacidade de entendimento e auto-inibição da parturiente. Havendo dúvida sobre esse estado, aplica-se o princípio do “indubio pro reo”, ou seja, na dúvida deve prevalecer a solução mais favorável a ele. 
4.2 Elemento normativo temporal 
A circunstância de tempo – durante o parto ou logo após – é elemento normativo do tipo. O Código Penal de 1940 delimitou, assim, o período de influência do estado puerperal. Questiona Bitencourt (2007, p. 118) o seguinte: qual é o verdadeiro sentido e real alcance da elementar durante o parto ou logo após? Qual a interpretação que deve ser dada a essa expressão? 
Bitencourt cita Fragoso dizendo: esta expressão significa logo em seguida, imediatamente após, prontamente, sem intervalo. A doutrina, de modo geral, tem sustentado que se deve dar uma interpretação mais ampla, para poder abranger todo o estado puerperal. Nelson Hungria (1979, p 264) assinala que deve existir o termo-limite dessa liberalidade, destacando que era fundamental “que a parturiente ainda não tenha entrado na fase da bonança e quietação”, quando predomina o instinto maternal. 
Tipo subjetivo 
O dolo – direto e eventual – é o elemento subjetivo do tipo que consiste na vontade livre e consciente de matar o próprio filho, durante o parto ou logo após. Esse tipo penal não prevê a modalidade culposa. Afirma Bitencourt (2007, p. 121) que alguns sustentam que a mãe que matar o próprio filho durante o parto ou logo após, por não observar o dever objetivo de cuidado que, nas circunstâncias, se impõem, responderá por homicídio culposo, enquanto para outros esse fato é atípico. [...] suprimir a vida de alguém – independentemente do momento cronológico em que esse fato ocorra – por imprudência, negligência ou imperícia tipifica homicídio culposo. 
Consumação e tentativa 
Consuma-se o infanticídio com a morte do filho nascente ou recém-nascido levada a efeito pela própria mãe. 
Como crime material que é, o crime de infanticídio admite tentativa, e esta se aperfeiçoa quando, apesar da ação finalista do sujeito ativo, a morte do filho não sobrevém por circunstâncias alheias à vontade daquele. Iniciada a ação de matar, esta pode ser interrompida por alguém que impede sua consumação. 
Haverá crime impossível quando a mãe, supondo estar viva, pratica o fato com a criança já morta. 
 
Pena e ação penal 
A pena é a detenção de dois a seis anos, para crime consumado. Segundo Bitencourt (2007, p. 127) não há previsão de qualificadoras, majorantes ou minorantes especiais nem modalidade culposa. A ação penal é pública incondicionada, com iniciativa privativa do Ministério Público. Como toda a ação pública, admite a ação privada subsidiária, nos termos da Constituição Federal, desde que haja inércia do Ministério Público. O processo segue o rito estabelecido para os crimes de competência do júri, previstos nos arts. 406 e seguintes do Código de Processo Penal.
REFERÊNCIAS 
ANDREUCCI, Ricardo Antônio. Manual de Direito Penal, 4. ed. reformulada., São Paulo: Saraiva, 2008. 
BITENCOURT, Cézar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte especial, v. 2., 7. ed., São Paulo: Saraiva: 2007. 
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal: parte especial, v. 2., 7. ed., São Paulo: Saraiva, 2007. 
HUNGRIA, Nélson. Comentários ao Código Penal. 5. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1979. 
PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal brasileiro: parte especial, v. 2., Saão Pulo: Editora Revista dos Tribunais, 2000. 
UNIVERSIDADE IGUAÇU
ROTEIRO DE AULA 4 
Direito penal especial
4º PERÍODO
PROFESSORA DOUTORA MARIA CAROLINA DE ALMEIDA DUARTE 
TEMA: ABORTO
1-Conceito
Nas palavras de Rogério Greco (2008, p. 238) o nosso Código Penal não define claramente o significado de aborto, usando tão-somente a expressão provocar aborto, ficando a cargo da doutrina e da jurisprudência o esclarecimento dessa expressão. 
Comenta o referido autor sobre as discussões travadas sobre o tema. Talvez o aborto seja um dos crimes que levantam as mais controvertidas opiniões. Muitos doutrinadores são favoráveis a sua revogação, outros pela manutenção da sua tipificação no Código Penal brasileiro. 
Rogério Greco (2008, p. 238 e 239) posiciona-se favorável a manutenção do crime de aborto e busca para a sua argumentação citações bíblicas do Antigo Testamento, especificamente, no Livro de Jeremias, Capítulo 1, versículos 5 e 6 (“Antes que eu te formasse no ventre materno, eu te conheci, e, antes que saísse da madre, te consagrei, e te constitui profeta às nações” e ainda, no livro de Salmos (139). Afirma o autor que a vida deve ser protegida, independentemente do seu tempo e lança o seguinte questionamento: qual a diferença entre causar a morte de um ser que possui apenas 10 dias de vida, mesmo no útero materno, e matar outro com 10 anos de idade? Nenhuma, pois a vida sempre será vida, independente da quantidade de tempo.
Aliás, Fernando Capez (2007, p. 110) ressalta que a lei penal não faz distinção entre óvulo fencundado (3 primeiras semanas de gestação), embrião (3 primeiros meses), ou feto (a partir de 3 meses), pois em qualquer fase da gravidez estará configurado o delito de aborto, isto é entre a concepção e o início do parto. Rogério Greco (2008, p.245) tem entendimento diferente, para ele existe o aborto ovular (se cometido até os dois primeiros meses de vida), embrionário (praticado no terceiro ou quarto mês de gravidez) e o fetal (quando o produto da concepção já atingiu os cinco meses de vida uterina). Vale lembrar que, após o início do parto ou logo após poderemos estar diante do crime de infanticídio ou homicídio, como estudamos anteriormente. 
 Ricardo Antonio Andreucci (2008, p. 170) conceitua aborto como a interrupção da gravidez com a destruição do produto da concepção.
2- Bem jurídico protegido e objeto material 
Para Rogério Greco (2008, p. 244) o crime de aborto está previsto no Capítulo I do Título 1 do Código Penal, correspondente aos crimes contra a vida, assim, o bem jurídico protegido é a vida humana intra-uterina. O objeto material do referido crime pode ser o óvulo fecundado, o embrião ou feto. 
Importante frisar que existem os bens jurídicos protegidos de forma secundária, por ex: a vida e a incolumidade física e psíquica da mulher grávida, nos casos de aborto não consentido (art. 125 do C. P) ou qualificado pelo resultado (art. 127 do CP), (Luiz Regis Prado, 2000, p. 88). 
3- Sujeito Ativo e Sujeito Passivo 
Os sujeitos ativo e passivo no crime de aborto devem ser analisados de forma individualizada, de cada figura típica dos arts. 124, 125, 126 do Código Penal. Esse é o entendimento de Fernando Capez (2007, p. 113): 
SUJEITO ATIVO 
O art. 124 do CP tipifica o aborto provocado pela gestante (auto-aborto) ou o aborto provocado com o seu consentimento – nesses casos, somente a gestante pode ser autora desses crimes, pois, trata-se de crime de mão própria; 
no aborto provocado por terceiro, com ou sem consentimento da gestante (arts. 125 e 126) por tratar-se de um crime comum, o sujeito ativo pode ser qualquer pessoa. 
SUJEITO PASSIVO 
No auto-aborto ou aborto consentido (CP art. 124) é o feto que é o detentor, desde a sua concepção, dos chamados “direitos civis do nascituro” (CC, art. 4º) A uma primeira análise tem-se a impressão de que a gestante também seria sujeito passivo do delito em estudo, no entanto, não se concebe a possibilidade de alguém ser ao mesmo tempo sujeito ativo e passivo de um crime. Aliás, Luiz Regis Prado (2000, p. 89) salienta que nos casos de auto-aborto/ aborto/consentido/ aborto consensual não será a mulher, a um só tempo, sujeito ativo e passivo ao mesmo tempo, pois não existe crime na auto-lesão. ( Maria Carolina de Almeida Duarte esclarece que existe crime de auto-lesão nos casos em que o sujeito ativo pratica o ato para se beneficiar de seguro) 
No abortoprovocado por terceiro sem consentimento da gestante: os sujeitos passivos são a gestante e o feto. Trata-se de crime de dupla subjetividade passiva. 
3-Espécies de aborto 
Para Ricardo Antônio Andreucci existem várias espécies de aborto: 
aborto natural- também chamado de aborto espontâneo, onde há interrupção espontânea da gravidez, como no caso, por exemplo, de problemas de saúde da gestante; 
aborto acidental- que ocorre geralmente em consequência de traumatismos, como nos casos de queda ou atropelamento; 
aborto criminoso, também chamado aborto provocado, que é punido pela lei penal. Este tipo de aborto é dividido da seguinte forma: 
- auto-aborto – que é aquele provocado pela própria gestante em si mesma. Este crime está tipificado na primeira parte do art. 124 do CP; 
- aborto consentido – vem previsto na segunda parte do art. 124 do C. Penal. Este ocorre quando a gestante consente que outra pessoa lhe provoque o aborto. Neste caso, responde a gestante criminalmente e, também, o terceiro que praticou o aborto. 
- aborto provocado por terceiro sem o consentimento da gestante – essa modalidade está prevista no art. 125 do C. P e incrimina conduta do agente que provoca o aborto sem o consentimento da gestante, podendo empregar a força, violência, ameaça ou fraude. Nesse sentido a jurisprudência: Quem desfere violento pontapé no ventre de mulher visivelmente grávida, acarretando-lhe a expulsão e a morte do feto, comete delito de aborto provocado e não lesão corporal de natureza gravíssima, previsto no art. 129 § 2º, V do CP (TJSP – RT, 578/305). 
- aborto provocado por terceiro com consentimento da gestante – esta modalidade está prevista no art. 126 do CP e incrimina a conduta do agente que pratica o aborto com o consentimento da gestante. Neste caso, a gestante, também, responde criminalmente por aborto consentido. 
Discute-se se o terceiro que se limita a concorrer para o evento, auxiliando a gestante ou a instigando, mesmo a ela fornecendo os recursos necess�����������������������������������������������������������������������������������������������s recursos necessrceiro que se limita a concorrer para o evento, auxiliando a gestante ou a instigando, mesmo a ela fornecendo

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