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96 AGOSTO/2005 PROTEÇÃO DE MÁQUINASPROTEÇÃO DE MÁQUINASARTIGOARTIGO Proteções coletivas em máquinas devem ser projetadas para garantir a máxima segurança do operador exposto ao risco de acidente Dá para confiar? uando falamos em máquina se- gura, imediatamente lembramos nos equipamentos de seguran- ça, no caso, Equipamentos de Proteção Coletiva (EPC) tais co- mo: cortina de luz, chaves de segurança, proteções mecânicas. Todos es- ses componentes foram desenvolvidos a fim de garantir a máxima segurança do opera- dor no caso de exposição ao risco de aciden- te. A segurança é uma preocupação funda- mental para os projetistas de máquinas, qualquer que seja sua destinação. As normas técnicas definem o conceito de categoria de risco, que deve ser conside- Engenheiro Gerson Cândido Saccardo Conselheiro Técnico do Inpame Engenheiro de desenvolvimento da Tecnopress Automação Industrial Engenheiro Carlos Lopes Presidente do Inpame Membro do Conselho de Certificação do INPAME Engenheiro Josebel Rubin Diretor Administrativo do Inpame Membro do Conselho de Certificação do Inpame Q rada em cada processo produtivo. Basica-mente e de forma simplificada podemos di-zer que a categoria de risco é a combinaçãode dois fatores:a) probabilidade da ocorrência do aciden- te (considera, dentre outras coisas, a maior ou menor exposição do trabalhador aos ris- cos existentes em seu trabalho). b) gravidade do risco (considera, dentre outras coisas, as conseqüências à saúde e integridade física do trabalhador. Isto é, se pode produzir danos irreversíveis, perda de capacidade de trabalho, parcial ou total, permanente ou temporária). As normas brasileiras (NBRs), publicadas pela ABNT, ao exemplo das principais nor- mas internacionais definem as categorias de riscos de 1 até 4. Para o caso do trabalho em máquinas, quando essa atividade envolve a interven- ção direta do trabalhador na máquina deve- mos sempre considerar a maior categoria de risco, a 4. PRIMEIRO PASSO O processo atual, essencialmente prati- cado nos países da Comunidade Euro- péia e que começa a ser adotado no Brasil, estabelece que o primeiro momento para pensar na proteção adequa- da ao trabalho em uma máquina é a sua concepção, a sua fase de projeto. Antes de pensar em instalar qualquer componente de segurança, primeiramente o projetista deverá avaliar o nível de risco para a escolha e aplicação correta do siste- ma de proteção. Se o risco for somente ma- terial, a classe poderá ser categoria 2 ou 4, dependendo do grau de necessidade. No caso de risco humano, a proteção deverá ser obrigatoriamente categoria 4 (confor- me expresso nas normas NBR 14152 / NBR 14154 / NBR NM 272 / NBR NM 273). É muito comum a correta especificação destes componentes, bem como a sua insta- lação mecânica, através de um consultor técnico. No entanto, uma análise mais crite- riosa deverá ser efetuada junto com o fabri- cante, pois alguns componentes originais da máquina que agregam a interligação com estes dispositivos de categoria 4 podem não ser de segurança e falhar durante a operação. Veja esse exemplo: uma prensa mecâni- ca com dispositivo de freio-embreagem protegida com cortina de luz categoria 4, visualmente aparenta ser segura, mas se a válvula de acionamento do freio-embrea- gem falhar, do que adianta o sistema garan- tir a interrupção do sinal elétrico? Se a me- Ar qu iv o Sp rin ge r Ca rri er 96 AGOSTO/2005 97AGOSTO/2005 cânica da válvula falhar e não cortar o ar que alimenta o funcionamento da máqui- na? É como se uma corrente mecânica que traciona uma determinada carga se rompesse pelo fato da mesma possuir um elo mais fraco. GARANTIA Afinal quando um EPC é efetivamente de segurança? Este é um tema que compor- taria um novo artigo, tal a riqueza de com- plexidade do tema. Contudo, há uma ca- racterística obrigatória em um EPC: sua eventual falha deverá atuar sempre em fa- vor da segurança (do trabalhador). Para o exemplo acima, a válvula de acionamento também precisa ser um EPC adequado, isto é, deverá ser uma válvula de segurança. Nes- te caso, sua eventual falha garantirá o pronto corte de alimentação do ar e, portanto, a pronta parada da máquina. Para garantirmos que realmente a máqui- na é segura, devemos avaliar: a) se cada um dos EPCs utilizados é efeti- vamente de segurança b) se o conjunto formado por eles, defi- nindo um sistema de proteção, é efetiva- mente de segurança c) se os circuitos estão corretamente confi- gurados e atendem as exigências de segu- rança definidas pelas normas técnicas. Assim, devemos avaliar se toda a linha de parada de emergência de uma máquina está de fato protegida diretamente com os contatos dos módulos de segurança. Ob- servando-se que é incorreto realimentar contatoras e relés comuns através desses módulos, criando novos contatos externos aos módulos. Devemos entender que fazen- do esse tipo de ligação, o “elo mais fraco” estará na contatora ou relé. Existem diver- sas possibilidades de integração segura com os dispositivos de segurança, levando em conta o bom senso para análise de risco e a aplicação severa das normas da ABNT. REDUNDÂNCIA Devemos lembrar que, para todos os com- ponentes que envolvem a segurança na ca- tegoria 4, o sistema deverá possuir redun- dância (aplicação de mais de um dispositi- vo de segurança, a fim de assegurar que no caso de falha de um deles, na execução de sua função, o outro estará disponível para realizar esta tarefa, conforme NBR NM 213- 1 / EN60204-1), auto check, duplo canal, tanto nos canais de entrada, quanto de saí- da. Isso é válido também para as válvulas de acionamento eletro-pneumático, entre outras. A questão de segurança é tão séria que quando projetamos uma máquina ou qualquer outro dispositivo que possa cau- sar danos físicos a uma pessoa, devemos analisar criteriosamente todos os passos possíveis de preparação e operação, crian- do procedimentos de intertravamento inte- ligente a fim de evitar erros que comprome- tam a segurança do operador e de qualquer pessoa que se aproxime do entorno da má- quina (conforme NBR 14009 – princípios para apreciação de risco). Equipamentos de uso doméstico também nos expõem a riscos. Um deles é o micro- ondas, que jamais pode falhar, tanto no va- zamento da radiação quanto no seu funcio- namento com a porta aberta. Na fase do pro- jeto, a preocupação do fabricante é tanta que a porta do microondas possui dois pa- res de interruptores com duplicidade de re- dundância e mais: dependendo do nível da falha desses interruptores, uma lógica de atuação elétrica interrompe o fusível do a- parelho, deixando-o inoperante por com- pleto. Devemos confiar apenas nos componen- tes projetados, já que a sua finalidade, para o caso dos módulos de categoria 4 de pro- teção humana fazem essa função com ex- trema confiabilidade. Contudo, é importan- te a sua correta ligação no comando de pa- rada da máquina. COMPROVAÇÃO A norma NR-12 detalha a exigência de que as máquinas tenham dispositivos ade- quados sob o ponto de vista técnico. A con- formidade das máquinas e dos componen- tes de segurança com as exigências essen- ciais é estabelecida no decurso de proces- sos de certificação cujos módulos são des- critos nas disposições das diretivas. Para o caso da Comunidade Européia, que é nos- sa principal referência, quando tratamos da proteção ao trabalho em máquinas, deve- mos sempre observar o graf ismo com a marcação “CE” no corpo dos componentes de segurança, garantindo a conformidade aos requisitos dessas diretivas, praticadas pela Comunidade Européia. No Brasil, o Projeto IAA, primeiro Pro- grama Brasileiro de Certificação de Segu- rança em Máquinas e Equipamentos, cria- do recentemente pelo Inpame, e que conta com a importante colaboração de institui- ções e empresas, produziuo denominado Selo Inpame (Certif icação de Segurança IAA, documentalmente atestada pela emis- são de um detalhado Memorial de Certifi- cação de Segurança). A iniciativa vem com- provando através de documento único e de vistoria técnica específica, se a máquina atende por completo todas as exigências obrigatórias, sejam exigências legais ou normativas brasileiras. Devemos lembrar que a eventual inexis- tência ou inaplicabilidade de uma norma NBR, implica no uso de uma norma EN (Eu- ropean Norm - norma européia). Isto é, de uma norma praticada pela Comunidade Eu- ropéia (CE). O Projeto IAA (Selo Inpame), de aplica- ção recente, decorre de um longo trabalho desenvolvido durante anos, do qual parti- cipam reconhecidos técnicos do segmento envolvendo o conhecimento detalhado e profundo sobre a estrutura construtiva de máquinas, componentes e dispositivos de segurança (especialmente os EPCs), legis- lação e normas técnicas específicas, proces- so de certificação, programa de avaliação técnica e de análise de riscos próprios do trabalho em máquinas e equipamentos. 98 AGOSTO/2005 PROTEÇÃO DE MÁQUINASPROTEÇÃO DE MÁQUINASARTIGOARTIGO Muitos possuem a imagem de que uma cortina de luz de segurança implementada na face frontal de uma prensa é suficiente para garantir proteção adequada ao traba- lhador. Esclareçamos: uma cortina de luz de segurança é um recurso eletrônico con- fiável e seguro que quando bem dimensio- nado, instalado e devidamente certificado pode prover a segurança humana adequada e necessária à operação segura em uma pren- sa e ou similar. Entretanto, o sucesso da o- peração, isto é, a garantia completa de pro- teção dependerá de medidas periféricas e complementares. Um exemplo clássico de erro no empre- go de uma cortina de luz de segurança é a sua instalação em uma prensa excêntrica com acionamento por engate de chaveta (prensa de chaveta). Esta é uma máquina de ciclo completo, isto é, depois de inicia- do seu ciclo nada pode deter o movimento do martelo até o seu retorno ao ponto mor- to superior, onde ocorre o destrave da chave- ta pelos meios mecânicos. Assim, se não existe a garantia de parada do ciclo do mar- telo, que ação protetiva poderá exercer uma cortina de luz? Neste caso, nenhuma! Aí está um erro grave de “aplicação” de cortina de luz, um investimento absolutamente inú- til, portanto, um custo. Infelizmente esta é uma situação corri- queira e, o que é mais grave, muitas dessas aplicações foram sugeridas por “profissio- nais” que atuam na área de aplicação de EPCs óptico-eletrônicos, como é o caso da cortina de luz de segurança. Assim, prestam um desserviço para toda a sociedade. Essa atitude, além de ferir monetariamente a em- presa, fere totalmente o preceito de seguran- ça, representando uma ação não ética e pas- sando a falsa sensação de proteção. Esta ação é caracterizada por induzir a empresa usuária a “gastar recursos”, contrariamente à idéia de investir em proteção. ERROS Convém rebater uma frase clássica, mui- to repetida na proteção ao trabalho em má- quinas, “a cortina de luz de segurança efe- tua a parada da máquina”. A verdadeira ação desse EPC é outra: por ser um elemen- to eletrônico, a cortina de luz de segurança não detém nenhum movimento mecânico, apenas irá proporcionar um sinal elétrico de parada, devendo o conjunto mecânico da máquina, este sim, estar apto a efetuar a parada (frenagem) do martelo. Um terceiro e freqüente erro: instalar a cortina de luz em distância indevida, sem a utilização do cálculo de distância de segu- rança (conforme EN-999). Necessitamos ter a certeza que o tempo de reação da máqui- na em conjunto com o equipamento sensor de presença (cortina de luz de segurança) De olho no investimento O sucesso na aplicação de cortina de luz em prensas ou similares depende de medidas complementares permita que o conjunto mecânico do mar- telo da prensa esteja totalmente imóvel quando a ponta de um membro humano estiver em contato com o ponto de risco (ponto de corte e ou de esmagamento). As- sim, é justo concluir que instalar uma cor- tina de luz de segurança em uma distância insuficiente da linha de ação da ferramenta é perigoso e desumano. RESOLUÇÃO A resolução de uma cortina de luz de se- gurança está diretamente atrelada ao cál- culo da distância de segurança, pois quan- to menor sua resolução mais distante este dispositivo deverá ficar da área de risco. Como exemplo uma cortina de luz com re- solução de 14 milímetros instalada em uma prensa ficará situada bem mais próxima do ponto de esmagamento do que uma com resolução de 40 milímetros. Assim, de for- ma simplif icada, o conceito de resolução indica o nível de proteção que a cortina oferece. Existem dois tipos de medidas de prote- ção de segurança a serem implementados em uma prensa, que proporcionam seguran- ça à integridade física do operador e de- mais trabalhadores que atuam no entorno da máquina, a proteção da área de esmaga- mento ou de trabalho, onde ocorre a carga e descarga do ferramental e a proteção das partes móveis da máquina. As proteções das partes móveis de uma prensa constituem, em sua maioria, de pro- teções mecânicas (fixas e ou móveis) que impossibilitam o contato humano nas áre- as de risco (polias, engrenagens, cremalhei- ras, áreas aquecidas, etc). Essas áreas são mais freqüentemente acessadas em etapas de preparação e ou manutenção. As prote- ções na área de esmagamento ou de traba- lho podem ser constituídas por proteções físicas (grades, portas, etc) e ou proteções virtuais como exemplo a cortina de luz de segurança. CUSTO-BENEFÍCIO A necessidade de se utilizar a cortina de luz está atrelada única e exclusivamente à produtividade. Portanto, um profissional da área não pode impor a utilização de uma cortina de luz sem o prévio conhecimento do processo produtivo. Exemplif icando, uma prensa mecânica utilizada no corte e conformação de chapas de aço, terá o seu tempo de carga e descarga manual consi- derado como gargalo produtivo. Desta for- ma, a utilização de uma cortina de luz de segurança irá auxiliar a diminuir esta per- da, resultando assim, em um verdadeiro in- vestimento. Neste caso, o empresário usuá- rio da máquina estará garantindo a condi- ção de segurança e de respeito com a inte- gridade física e saúde dos seus trabalhado- res, ao mesmo tempo em que estará soman- do os benefícios justos e desejáveis do au- mento de produtividade Já uma prensa hidráulica utilizada na vulcanização de borracha onde seu tempo de carga e descarga é sobrepujado por seu tempo de processo, uma proteção mecâni- ca móvel (grade de proteção, com intertra- vamento de segurança) surtirá um efeito me- lhor, pois além do tempo de carga e descar- ga não ser tão crítico conseguiremos prote- ger o trabalhador do contato com as partes aquecidas do ferramental. Áreas periféricas como, por exemplo, aberturas laterais, su- periores ou inferiores ao ponto de fixação do ferramental, devem ser protegidas de for- ma a não permitir o ingresso de nenhuma parte do corpo humano, em suas áreas de risco, sem a passagem efetiva por um dis- positivo de segurança adequado (como é o caso de uma cortina de luz de segurança). RESPONSABILIDADE A garantia de que uma cortina de luz de segurança atenda a todas as exigências nor- mativas é a sua certificação por órgão res- peitável, idôneo e devidamente credencia- do. A certificação deve também ser solicita- da aos fornecedores de equipamentos de segurança (não somente aos fabricantes), pois tal medida visa eliminar qualquer dú- vida sobre a confiabilidade e/ou aplicabi- lidade do correto dispositivo protetor. Um aspecto importante da certificação é o fato de que na medida em que representa a afirmação documentada do atendimento de normas e leis e a declaração de que o equipamento certificado foi submetido aos ensaiose testes igualmente exigidos, enseja a responsabilização das partes, ante a ocor- rência de acidentes comprovadamente vin- culados ao equipamento protetivo. Além disso, permite ao usuário requerer maior atenção do fabricante e/ou fornecedor, nos aspectos de assistência técnica e de instala- ção. Como este item (certificação) tem gera- do muitas polêmicas, e recomendável en- trar em contato com o Inpame e solicitar a correta informação. É adequado dizer que o principal custo de um equipamento não certificado é a responsabilidade que recai sobre a empresa usuária, sobre a integrida- de física e sobre a vida de um trabalhador. O advento do PPRPS têm agido como um catalisador, um divisor de águas, contribu- indo para eliminar as condutas erradas e perigosas nas operações em prensas e simi- lares. Infelizmente, pessoas apenas orgulho- sas das cifras, acabam esquecendo que o único lugar onde dinheiro deve vir antes de vida é o dicionário, ao menos para o caso da língua portuguesa. Marcelo Del Vechio Diretor de EPC e membro do Conselho de Certificação do Inpame; gerente de aplicação da Sensor do Brasil.
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