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Alexandre Henrique Reis (Organizador)
TECENDO AS REDES DA (DES) ESPERANÇA NAS ÁGUAS DO VELHO CHICO
Representações Sociais e Preservação Ambiental: um estudo sobre a perspectiva de continuidade da pesca artesanal entre as populações tradicionais do semiárido sanfranciscano
	LOGOTIPOS DAS INSTITUIÇÔES CNPq UNIVASF FAPESB 
 FACEPE 
PREFÁCIO
APRESENTAÇÃO
	
A exploração desenfreada da natureza e dos seres humanos com a finalidade de implementar o modelo de desenvolvimento econômico vigente, tem acelerado os riscos ambientais na sociedade pós moderna, tornando-se urgente a consolidação do desenvolvimento sustentável como enfrentamento da crise ecológica global,voltado para o equilíbrio homem/natureza e pela busca da justiça social e valorização da vida. 
No Brasil, embora a atual Constituição de 1988 tenha concedido ênfase especial ao Princípio da Sustentabilidade, tanto no Artigo 225, que garante o direito a um meio ambiente equilibrado para todos, impondo a co-responsabilidade da coletividade em defendê-lo e preservá-lo, quanto no Artigo 170, que versa sobre a defesa do meio ambiente como um pressuposto para o desenvolvimento econômico, a Lei tem se mostrado incapaz para frear, controlar e regular a destruição dos recursos naturais e a poluição ambiental, fazendo-se necessária uma mudança de atitudes.
Nesse contexto, a educação ambiental ganha força, por estabelecer um modelo de desenvolvimento que considera as potencialidades de cada região e a cultura do seu povo, a fim de torná-lo sujeito da sua história. Para tanto, a participação dos atores envolvidos no processo é imprescindível, não apenas pelo seu aspecto subjetivo, mas para sentir o tipo de mundo que eles desejam construir. O espaço público é a instância em que os homens se reconhecem como iguais, discutem e decidem em comum. A sua exclusão, conforme Acselrad(2001), “decompõe a realidade, reduzindo-a e simplificando-a, não dando conta da compreensão de sua complexidade e sòmente possibilitando intervenções parciais e fragmentadas”. 
Esta produção é resultado da pesquisa “REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E PRESERVAÇÃO AMBIENTAL: Um Estudo Sobre As Perspectivas De Continuidade Da Pesca Artesanal Entre As Populações Tradicionais Na Região Do Sub-Médio São Francisco”, executada nos anos 2008 e 2009, nos municípios Juazeiro, Casa Nova, Sobradinho, Remanso, Sento-Sé, Pilão Arcado, Xique-Xique, Curaçá e Paulo Afonso no Estado da Bahia e Petrolina, Santa Maria da Boa Vista, Orocó, Cabrobó, Jacaré e Petrolândia no Estado de Pernambuco, com financiamento do CNPq e bolsistas da FAPESB – Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado da Bahia e da FACEPE – Fundação de Apoio à Pesquisa no Estado de Pernambuco.
O seu objetivo foi investigar as representações sociais dos pescadores e seus filhos em relação à pesca artesanal no Rio São Francisco e as perspectivas de continuidade da atividade como profissão, a fim de sugerir alternativas que viabilizem a pesca como atividade produtiva geradora de trabalho e renda com preservação do meio ambiente.
Como essa população desenvolve estilo de vida baseado em relações de proximidade com a natureza, apresenta baixo padrão de consumo e densidade populacional e não tem outras fontes de renda, é de fundamental importância para a sua sobrevivência o uso sustentável dos recursos naturais, de forma a não esgotá-los. O meio ambiente se gera e se constrói no processo histórico das interrelações entre sociedade e natureza, portanto, a mentalidade consumidora gerada pelo modelo econômico vigente é a causa imediata dos problemas ambientais, uma vez que o que se valoriza na sociedade capitalista é o ter e não o ser. 
O meio ambiente como a casa de todos, precisa ser compreendido por inteiro e de forma interdisciplinar, para se construir uma visão holística da realidade.Os cientistas têm um papel importante na definição de políticas ambientais consistentes, mas, entre os pescadores artesanais são as práticas sociais que contam, daí a importância do diálogo entre a tradição e a modernidade, entre os saberes popular e acadêmico. 
A pesca artesanal no Rio São Francisco exige dos pescadores um domínio de conhecimentos especializados sobre o vento, a cor das águas, o local onde os peixes se escondem para não serem capturados, a influência da lua, enfim, sobre o meio ambiente, construídos no dia a dia de quem, sem pressa, espera pacientemente a presa cair na rede, enquanto observa e aprende, sozinho, sem professor, sem livro, sem escola, na vida. Mas outros saberes se fazem necessários, para agregar valor ao que é feito.
Nenhuma estratégia de desenvolvimento sustentável terá efeito se não for acompanhada por políticas, programas e projetos de formação, informação e conscientização dessa população tradicional. A educação ambiental para a libertação, a cidadania e a sustentabilidade, introduzirá nos pescadores do semiárido brasileiro a preocupação com a situação ambiental e a busca do entendimento sobre os fatores econômicos, sociais, culturais, políticos e ecológicos que interferem na sua preservação, de forma que esses atores sociais participem das soluções dos problemas que os atingem diretamente. 
PESCADORES ARTESANAIS: OS MITOS, OS RITOS, OS SABERES E AS EXPECTATIVAS DA SUA (DES) CONTINUIDADE NO SEMIÁRIDO BAIANO
Lúcia Marisy Souza Ribeiro de Oliveira¹
Jackeline Maria Silva²
A HISTÓRIA
 Desde as nascentes a bacia do São Francisco vem sofrendo degradações com sérios impactos sobre as águas e, consequentemente, sobre os peixes. A maioria dos povoados não possui tratamento de esgotos domésticos e industriais, lançando-os diretamente nos rios. O desmatamento para a produção de carvão vegetal tem reduzido as matas ciliares e o uso intensivo de fertilizantes e defensivos agrícolas, têm contribuído para a poluição das suas águas.
A irrigação e as barragens hidrelétricas são responsáveis pelo desvio do leito do rio, redução da vazão, alteração da intensidade e época das enchentes, transformação do rio em lagos, com impactos diretos sobre os recursos pesqueiros. Segundo Zellhuber e Siqueira (2007), atualmente o Rio São Francisco possui apenas dois trechos de águas correntes: 1.100 km entre as barragens de Três Marias e Sobradinho e 280 km da barragem de Sobradinho até a entrada do reservatório de Itaparica. Daí para baixo, transforma-se em uma cascata de reservatórios da CHESF, (Itaparica, Complexo Moxotó com Paulo Afonso I,II,III,IV e Xingó).
Toda essa situação decorre de um modelo de civilização que se impôs na segunda metade do século XX, alicerçado na industrialização com sua forma de produção e organização do trabalho, a mecanização da agricultura, o uso intenso de agrotóxicos e a concentração populacional nas cidades. A exploração dos recursos naturais se intensificou muito e adquiriu outras características a partir da revolução industrial e do desenvolvimento de novas
_____________________________
¹ Profa. Dra. da UNIVASF, pesquisadora do CNPq
² Aluna de Graduação de Psicologia – Bolsista de Iniciação Científica do CNPq
tecnologias, associadas a um processo de formação de um mercado mundial que transforma desde a matéria prima até os mais sofisticados produtos em demandas mundiais, surgindo tensões e conflitos quanto ao seu uso. Muitas vezes, para utilizar um recurso natural, perde-se outro de maior valor, como tem sido o caso da irrigação, que tem contribuído para a devastação da mata ciliar do Rio São Francisco e da poluição de suas águas com agrotóxicos, rareando a fauna antes ali abundante. 
 Das 152 espécies de peixes nativos da bacia, muitas já não existem ou são localizadas muito raramente, como é o caso do surubim, curvina, pocomon e outras. As espécies mais comuns hoje na região são oriundas de outras bacias hidrográficas, ou mesmo espécies exóticas, introduzidas no sistema a partir de experimentos de cultivo quesão predadoras das espécies nativas e possuem menor valor comercial, ampliando o estado de pobreza dos pescadores, estes sim, os grandes perdedores nessas disputas, com poucas possibilidades de escolherem o próprio destino e construírem a sua história.
Do confronto inevitável entre o modelo de desenvolvimento econômico vigente, que valoriza o aumento de riqueza em detrimento da conservação dos recursos naturais e a necessidade vital de conservação do meio ambiente, surge a discussão sobre como viabilizar o crescimento econômico das comunidades, explorando os recursos naturais de forma racional, e não predatória, estabelecendo-se visões muito diversificadas sobre o tema. 
De qualquer forma, é fundamental a sociedade impor regras ao crescimento, a exploração e à distribuição dos recursos de modo a garantir a qualidade de vida daqueles que deles dependam e dos que vivem no espaço do entorno em que são extraídos ou processados. Portanto, deve-se cuidar, para que o uso econômico dos bens da Terra pelos seres humanos tenha caráter de conservação, gerando menor impacto possível e respeitando as condições de máxima renovabilidade dos recursos, tarefa à qual a Universidade deve cumprir, por ser um dos seus principais pressupostos a formação do cidadão coletivo, crítico e construtivo, empenhado em projetos solidários. 
Pescadores artesanais, segundo Diegues (1996), via de regra, são portadores de profundos conhecimentos sobre a natureza e sua dinâmica e os utilizam como suportes para as estratégias que adotam de uso e de manejo dos recursos naturais. As noções de território e de espaço construídas por eles, traduzem-se no apego ao local em que habitam. A ocupação de seus territórios se estende por várias gerações, muito embora possa ocorrer que alguns membros individuais desloquem-se para centros urbanos e, posteriormente, voltem para o território de seus ancestrais. De forma geral, as relações dessas populações com o mercado externo ao seu meio, embora existentes, são reduzidas, pois suas atividades econômicas visam basicamente à produção de formas de subsistência.
 Em função disso, os participantes dessas comunidades tendem a apresentar, quando o fazem, processos limitados de acumulação de capital. Ali,
segundo o mesmo autor, a unidade familiar, doméstica ou comunal e as relações de parentesco ou de compadrio recebem grande importância, pois geralmente sustentam o exercício das atividades econômicas, sociais e culturais. No decorrer da sua operacionalidade, ganham também importância os mitos, os rituais e as simbologias, já que a tecnologia utilizada por elas é relativamente simples, com limitado impacto sobre o ambiente. 
 A divisão técnica e social do trabalho também é reduzida, destacando-se as práticas artesanais, nas quais o produtor e sua família dominam todo o processo de trabalho. Em sua luta pela subsistência, essas populações tendem a combinar várias atividades econômicas, como a criação de animais para consumo próprio, os pequenos cultivos e a pesca, como atividade principal.
 Os conhecimentos construídos por essas populações são compartilhados cotidianamente e fornecem a base da convivência daqueles indivíduos entre si e com seu ambiente, todavia, a sua percepção sobre a natureza e a origem da poluição, assim como da qualidade da água que consome e usa, pode oscilar entre uma dimensão muito localizada dos problemas e uma dimensão excessivamente generalizada pelos veículos de comunicação.Como conseqüência, aparece ela difusa, distanciada do cotidiano e insuficiente para mobilizar questões ambientais que lhe afeta diretamente. 
OS CAMINHOS PERCORRIDOS
A população objeto deste estudo foi constituída por pescadores artesanais e filhos de pescadores que praticam essa mesma atividade econômica e que residem nos municípios de Juazeiro, Sobradinho, Casa Nova e Remanso no Estado da Bahia, todos localizados na região do Sub-Médio São Francisco, que engloba uma planície de inundação formada pelo Lago de Sobradinho.
A importância dessa região encontra-se na ampla heterogeneidade de habitats e no fato de abrigar rica diversidade de formas animais e vegetais. Entretanto, Almeida (1971), tem chamado atenção para os estoques pesqueiros e sua diminuição a cada ano, salientando que esses desempenham papel decisivo sobre a área social e econômica, mais especificamente sobre os destinos das populações de pescadores artesanais que subsistem nesse trecho do rio São Francisco.
Segundo o autor, os pescadores da região não se dedicavam originalmente à pesca como atividade profissional, mas tiravam sua subsistência fundamentalmente do trato com a terra. São pessoas que, anteriormente às transformações econômicas ocorridas na região, tais como a mecanização da terra e a absorção das pequenas propriedades pelos latifúndios, dedicavam-se à agricultura, como meeiros ou arrendatários. Mesmo tendo chegado à região como trabalhadores em terras alheias, o trabalho lhes permitia uma autonomia e identidade cultural. Hoje, entretanto, conclui o autor que não apenas a forma inicial de subsistência ligada à terra, como também a pesca e todo aquele estilo de vida e ainda aquela cultura tradicionais tendem a ser inviabilizadas na região. Diante de tais afirmativas, buscou-se nessa pesquisa respostas para as seguintes indagações:
Como os pescadores mais jovens percebem a situação da pesca, uma vez que são eles a dar continuidade à atividade? 
Estarão eles valorizando a cultura herdada de seus antepassados e resistindo à cultura dominante? 
Pretendem eles utilizarem a pesca como atividade geradora de trabalho e renda?
A pesquisa foi de abordagem qualitativa com enfoque teórico-metodológico nas representações sociais. Investigar as representações sociais de um grupo ou de uma população é investigar os conhecimentos que essa população construiu a respeito de seu ambiente. Diegues (1996), ao discorrer sobre os conhecimentos e as práticas das populações tradicionais, afirma que “... nenhuma ação intencional do homem sobre a natureza pode começar sem a existência de representações (...). Torna-se, assim, necessário analisar o sistema de representações que os indivíduos e grupos fazem, pois é com base nelas que eles agem sobre o mundo”.
As representações sociais, segundo definição clássica apresentada por Jodelet (1985), são modalidades de conhecimento prático orientadas para a comunicação e para a compreensão do contexto social, material e ideativo em que vivemos. São, conseqüentemente, formas de conhecimento que se manifestam como elementos cognitivos — imagens, conceitos, categorias, teorias —, mas que não se reduzem jamais aos componentes cognitivos. Sendo socialmente elaboradas e compartilhadas, contribuem para a construção de uma realidade comum, que possibilita a comunicação. Deste modo, as representações são, essencialmente, fenômenos sociais que, mesmo acessados a partir do seu conteúdo cognitivo, têm de ser entendidos a partir do seu contexto de produção. Ou seja, a partir das funções simbólicas e ideológicas a que servem e das formas de comunicação onde circulam.
Ao tratar do assunto, Moscovici (1981), propõe a superação dos modelos que consideram as representações como meras variáveis mediadoras entre o estímulo e a resposta para considerá-las como variáveis independentes, que estão na origem não só das respostas comportamentais, mas também da forma como são percebidos os estímulos. A representação é assim, entendida, como “construção de um objeto e expressão de um sujeito”, (Vala, J: 1993) tendo uma forte ressonância social, pois que se trata de uma modalidade de conhecimento socialmente elaborada e partilhada, com um objetivo prático, contribuindo para a construção de uma realidade comum a um conjunto social. 
Nessa perspectiva, só o olhar interdisciplinar, substanciado em múltiplos conhecimentos e perspectivas de leitura da realidade tornou possível apreender as múltiplas facetas do fenômeno das representações sociais entre os jovens pescadores no Rio SãoFrancisco, especialmente por se tratar de um local de enormes transformações sociais, econômicas e culturais. 
Na interpretação da vida social dos pescadores e dos seus descendentes face à precarização do trabalho, procurou-se desenvolver um processo de interação pesquisador/pesquisado, com valorização do encontro, do diálogo e da representação, considerando que o objeto do estudo tem também o seu sujeito. As categorias analíticas foram definidas previamente, tomando-se por base as representações de meio ambiente definidas por Barzano (2000), sendo elas: Naturalista, Antropocêntrica, Biocêntrica e Contextualizada. 
Além das categorias mencionadas, outras foram estabelecidas referentes à representação positiva ou negativa do ambiente retratado, bem como, no que diz respeito aos aspectos culturais relacionados à concepção local, tais como: religiosidade, musicalidade, lendas, mitos e festejos. A análise adotou, portanto, a subjetividade como instrumento de conhecimento e as representações sociais como eixo condutor. 
 Para isso, buscou-se o limite entre o psicológico e o social, onde se inserem as representações sociais e a estrutura de cada representação desdobrada em suas faces figurativa e simbólica, que contêm dois processos intrinsecamente associados: objetivação e ancoragem. O processo de objetivação sendo aquele que transforma algo abstrato em algo concreto, como o faz PADILHA (2001), que o descreve como “o processo que dá materialidade às idéias, tornando-as objetivas, concretas, palpáveis (...)”. 
A ancoragem como sendo o processo que “permite compreender a forma como os elementos contribuem para exprimir e constituir as relações sociais” (MOSCOVICI, 1961), ou seja, a ancoragem contribui para dar sentido aos acontecimentos, pessoas, grupos e fatos sociais a partir da rede de significados oferecidos pelas representações sociais, transformando objeto estranho em algo familiar. 
 Foram entrevistados 152 pescadores, assim discriminados por município: seis em Juazeiro; trinta em Sobradinho; setenta e um em Casa Nova e quarenta e cinco em Remanso. 
OS MUNICÍPIOS - SUA TRAJETÓRIA HISTÓRICA, SOCIAL, CULTURAL E ECONÔMICA
JUAZEIRO 
Juazeiro está localizada na margem direita do Rio São Francisco, no extremo norte da Bahia, na zona do médio São Francisco, fazendo divisa ao norte com o município de Petrolina, Estado de Pernambuco; a nordeste com o município de Curaçá; a sudeste com o de Jaguararí; ao sul com o de Campo Formoso; a sudoeste com o de Sento-Sé e a noroeste com o município de Casa-Nova, todos no Estado da Bahia,distando 500 Km de Salvador. Seu nome veio da árvore do Juazeiro, cuja sombra dos seus galhos frondosos, servia de descanso para os tropeiros que transportavam o gado do sertão para o litoral, no ponto à época denominado “Passagem do Juazeiro”, pertencente à Casa da Torre dos Garcia D`Ávila, mas já habitado pelos índios Tamoquins.
Empenhados na catequese indígena, os Franciscanos chegaram à região no ano de 1706, edificando uma capela e um convento onde hoje se situa a rua 15 de novembro.
No ano de 1710, um índio vaqueiro encontrou nas grotas do rio uma imagem talhada em madeira, que trazida para a missão, foi colocada em nicho na primeira igreja construída pelos capuchinhos franciscanos onde hoje é a catedral de Nossa Senhora das Grotas, tendo o fato sido considerado um milagre e para cá atraído muitos romeiros.
A passagem do Juazeiro, depois Missão, foi elevada à categoria de Julgado, ficando sob a jurisdição da Comarca de Jacobina no ano de 1766, quando já contava com 156 casas. Em 09 de maio de 1833, o povoado foi elevado à categoria de Vila de Nossa Senhora das Grotas de Juazeiro, sendo transformada em cidade no dia 15 de julho de 1878. 
A sua população é de 243.896 habitantes (IBGE: 2007), distribuída numa área de 6.390 Km². O seu IDH – Índice de Desenvolvimento Humano é de 0,683 e seu PIB per Capta de R$ 4.347,47 (PNUD: 2007). Na sua organização administrativa possui os distritos de Abóbora, Carnaiba, Itamotinga, Junco, Juremal, Massaroca e Pinhões. No distrito de Junco, localizado no Vale do Rio Salitre – um afluente do São Francisco – encontram-se várias grutas e cachoeiras, que se constituem em fonte de renda para a população local, que serve de guia para os visitantes ávidos de aventuras.
O Rio São Francisco no município de Juazeiro constitui fonte de lazer e turismo, através das ilhas Rodeador, Culpe o Vento, Amélia, Massangano, Nossa Senhora das Grotas, Maroto e a ilha do Fogo, cujo percurso pode ser feito por barcos de passeio, equipados com serviços de bordo, som ao vivo e bóias de segurança. Nas ilhas há restaurantes com comidas típicas e bebidas geladas, que atraem turistas de várias regiões do país, além de áreas destinadas a camping.
O clima do município é árido e semiárido e a sua temperatura média anual é de 27ºC. Possui vegetação típica de caatinga, embora em determinados trechos sejam encontradas árvores nativas de porte médio como umburana, umbuzeiro, baraúna, aroeira, macambira mandacaru e outras.
Até a década de sessenta no século XX, a economia do município era determinada pela pecuária extensiva, combinada com agricultura de subsistência. Entre as décadas de sessenta e meados de setenta, Juazeiro tornou-se importante entreposto de venda, tanto de importação como de exportação de produtos agrícolas como algodão, mamona, caroá e peles de caprinos e bovinos, dentre outros, formando forte capital comercial. A partir da segunda metade da década de setenta, com a introdução dos cultivos irrigados voltados para exportação, Juazeiro passou a ser alvo preferencial de movimentos migratórios, recebendo cumulativos assentamentos populacionais do Brasil e do exterior, o que tem gerado demandas sociais e de infraestrutura nem sempre disponibilizadas pela administração municipal, gerando desorganização, especialmente na periferia.
Hoje o município tem a sua base econômica na agricultura para exportação, produzindo hortaliças e frutas em abundância, com destaque para uvas de mesa e para produção de vinhos, manga, goiaba, coco, acerola, pinha, melão, melancia, além de possuir o maior rebanho caprino do estado da Bahia. O seu comércio é diversificado, mas a indústria insipiente.
No plano cultural, destaca-se na música, na literatura, no teatro e nas artes figurativas e simbólicas. Possui amplo calendário de festas populares, religiosas e profanas, que se iniciam com a Via Sacra, na Semana Santa, passando pelo carnaval, festivais de música, do folclore, maratonas esportivas, feiras, até o reveillon.
Possui duas universidades públicas, sendo uma estadual e uma federal, além de quatro instituições de ensino superior privadas; uma emissora de televisão, filiada da Rede Globo; oito emissoras de rádio Am e FM e quatro jornais locais. O seu povo cultiva a fé religiosa, bem como os mitos e os ritos ligados às várias denominações. Os símbolos das águas são cultuados com veneração, sendo muito forte a influência da cultura afrodescendente nas artes, na dança , na música e no jeito de SER.
CASA NOVA
Surgida às margens do riacho Casa Nova, hoje denominado riacho do Estreito, afluente do rio São Francisco na primeira metade de século XIX, a cidade de Casa Nova situa-se às margens do São Francisco, fazendo divisa com Remanso, no Estado da Bahia, com Petrolina e Afrânio em Pernambuco e Dom Inocêncio no Piauí. A população do município é de 62.862 habitantes (IBGE:2007) e a área total do município de 9.658 km². Além da sede, compõem o município os distritos de Santana do Sobrado, Pau a Pique, Bem Bom e Luiz Viana. A sua densidade demográfica é de 6,51 habitantes por Km².
O acesso ao município é rodoviário, no entanto, durante boa parte do século XX, era normal ir-se de Casa Nova a Juazeiro de barco ou vapor. A ligação Casa Nova - Salvador é feita pela BA 235 - de Casa Nova a Juazeiro, BR 407 - de Juazeiro a Capim Grosso e BR 324 - de Capim Grosso a Salvador. 
Entre os acontecimentos históricos marcantes na históriade Casa Nova, dois se destacam:o movimento religioso de Pau-de-Colher, em 1938, e a mudança, em 1976, da localização da cidade devido à construção da barragem de Sobradinho. 
O movimento de Pau-de-Colher, localidade do município, guarda várias semelhanças com o de Canudos, tendo terminado, assim como este, com a intervenção de tropas estaduais e federais e a morte de centenas dos participantes. 
Entre as festas municipais, destaca-se a Festa do Interior, com shows musicais, barracas de distritos e/ou povoados e parque de diversões. A festa favorece a cultura regional e aquece a economia municipal, em virtude de grande público presente.
Casa Nova está voltada, quase que exclusivamente, para as atividades relacionadas a uma zona rural dinâmica, com a instalação de numerosas empresas agrícolas, o que fez aumentar a renda da população e promoveu o crescimento da sede municipal. Nos seus primórdios destacou-se pelo comércio do sal, que era o seu produto mais importante.Hoje, destaca-se pelas agroindústrias, especialmente as de produção de vinhos de qualidade, além de cebola, manga e banana.O índice de alfabetização da população é de 60,4%.
REMANSO
Remanso nos seus primórdios fazia parte das terras do Município de Juazeiro e se originou do arraial pertencente a Manoel Félix da Veiga, para onde convergiam os que fugiam das lutas armadas travadas em Pilão Arcado, em fins do Século XVIII, entre Guerreiro e os Militão. O local, com seus terrenos férteis e vegetação adequada à criação de gado, progrediu rapidamente. O município recebeu esse nome em virtude das águas quase paradas que havia em frente à cidade e que formava um porto seguro de atracação. 
A região era primitivamente habitada pelos índios acoroazes. No começo do século XVII, o território integrava a sesmaria do Conde da Ponte. A fertilidade do solo e a pesca contribuíram para a fixação dos colonos, que formaram o Arraial de Nossa Senhora do Remanso. Em 1857, transferiu-se para ele a sede de Pilão Arcado, criando-se o município de Nossa Senhora do Remanso de Pilão Arcado, simplificando-se, depois para Remando em 1990, com a elevação da Vila à Cidade.
De acordo com o decreto federal nº 10/77, de 28 de janeiro de 1977, a sede municipal foi transferida para local distante sete quilômetros da cidade velha inundada pelas águas da Barragem Sobradinho, no Rio São Francisco. 
Com uma área territorial de 4.694 km², o município de Remanso faz parte da Microrregião Geográfica de Juazeiro, e da Mesorregião do Vale São Franciscano da Bahia. Limita-se com os municípios baianos de Pilão Arcado, Casa Nova, Sento-Sé e Campo Alegre de Lourdes. Em relação à Salvador, capital do Estado, a distância é de 694 km. A sua população é de 38.004 habitantes (IBGE :2007), sendo 68,7% alfabetizada.
A base da sua economia são as atividades agropecuárias e pesqueiras, além do comércio que é bastante diversificado e o turismo. Possui uma praia artificial com areias claras e infraestrutura adequada, com bares e restaurantes que servem comidas típicas muito apreciadas, especialmente peixes do São Francisco. A micareta é a maior festa popular, seguida da festa da padroeira e do Moto Cross, que reúne motoqueiros de todo nordeste.O artesanato é rico e diversificado. As mulheres de pescadores tecem redes que são comercializadas para os visitantes.
SOBRADINHO
Sobradinho teve sua história iniciada nos primórdios da colonização, mas em 1970 toda a dinâmica local sofreu modificações em função das desapropriações feitas pela CHESF – Companhia Hidrelétrica do São Francisco, para a construção da Barragem de Sobradinho pelo Ministério das Minas e Energia. O objetivo do empreendimento foi a regularização do curso do Rio São Francisco para manter a vazão mínima de 2.060 m³/s, a fim de garantir o funcionamento das usinas construídas à jusante do Rio São Francisco, especialmente a de Paulo Afonso. As populações que sofreram desapropriações foram relocadas, trazendo este episódio impactos e conflitos sociais, seja pela inadaptação ou pela não aceitação das novas moradias, seja pela perda da identidade cultural sofrida principalmente por pequenos agricultores e, sobretudo, pescadores. O processo de desapropriação foi difícil e até os dias atuais a dinâmica de transferência e ocupação não é aceita pelas populações. A construção da represa trouxe mudanças significativas para cerca de 70 mil pessoas e os problemas sociais resultantes desse processo são refletidos até os dias atuais. 
A emancipação do povoado de Sobradinho se deu em 24 de fevereiro de 1989, após realização de plebiscito favorável, através da Lei Estadual nº 4.843/89. Atualmente o município conta com uma área de 1.324 Km² e uma faixa de 1,27% de áreas inundadas pelo Lago de Sobradinho. Nele residem 21.315 habitantes conforme IBGE (2007). 
OS RESULTADOS
Do universo pesquisado, ficou evidenciado que a pesca ainda se constitui uma atividade masculina, conforme figura 1. Como esta atividade demanda um período fora de casa para cumprir a jornada de colocar a rede e esperar que o peixe fisgue a isca numa quantidade que atenda a expectativa dos que dela sobrevivem, explica-se a baixa procura das mulheres por ela, dado que, historicamente tem sido delas, especialmente no sertão, a responsabilidade pelo cuidado com os filhos menores. 
 Figura 01 – Sexo dos entrevistados.
Além disso, os códigos de ética que embasam as relações conjugais nas regiões pesquisadas, condicionam as atividades profissionais femininas ao ambiente doméstico e, quando muito, àquelas que são realizadas conjuntamente com a família e/ou que lhes possibilitem retornar ao final do dia para casa, a fim de que uma outra jornada de trabalho seja iniciada para assegurar a comodidade do grupo familiar: preparo da comida, limpeza da casa, lavagem da roupa suja, busca de água para consumo doméstico, compra de alimentos, etc.
Nesse contexto, a sua participação na atividade pesqueira se dá de forma indireta, através da confecção e reparo de redes, tratamento e salga do pescado para comercialização, como pode ser observado na figura 02.
Fig.2 – Mulheres tecendo redes no município de Remanso -Ba
Quanto à pretensão de permanecerem na atividade pesqueira, os dois grupos pesquisados (pescadores idosos e filhos de pescadores) apresentaram pretensões distintas. Os mais velhos, que já estão exercendo a profissão há muito tempo, dizem do seu orgulho em serem pescadores, mas informam a sua decepção com a atividade, em virtude do esgotamento do Rio São Francisco. A totalidade dos pesquisados diz estar tendo dificuldade para reproduzir as suas famílias, inclusive com o próprio pescado, porque a cada pescaria menos peixes são conseguidos. E também por não saberem fazer outra coisa, não podem mudar de profissão com o avanço da idade.
A gravidade dessa situação é que isso impacta negativamente na nutrição dos mais jovens e dos mais idosos, fragilizando a sua saúde e favorecendo o surgimento de inúmeras doenças. A alimentação das famílias ribeirinhas com pescado sempre foi a tradição, porque os seus rendimentos mesmo em tempos mais alvissareiros jamais permitiram a aquisição de carnes bovina, caprina, suína e de aves no cotidiano. A fonte de proteína diária sempre foi o peixe, conforme figura 03. Com a sua escassez, essa fonte rareia, modificando o quadro nutricional na região. 
 Figura 03 - Consumo de Peixe na Semana.
Os filhos dos pescadores pesquisados, bem como os pescadores mais jovens, não desejam continuar na atividade, alegando a impossibilidade de manterem as suas famílias com a pesca. Tomam o exemplo dos seus pais, afirmando o estado de pobreza absoluta em que vivem, pela ausência de espécies antes existentes e hoje já desaparecidas no rio. Por ter acompanhado o pai na sua jornada, a grande maioria dos jovens não se preparou para outras profissões. Alguns são analfabetos, outros semi-alfabetizados e a grande maioria possui baixa escolaridade com pouca informação sobre o que o mercado demandados empregados. Com esse perfil, a tendência dos filhos de pescadores da região investigada é a reprodução do estado de pobreza absoluta das suas famílias. 
Nas entrevistas foi evidenciado uma insatisfação dos pescadores em relação à sua atividade, sendo que 67%, a maioria deles, relatam permanecer na pesca devido à falta de opção, que engloba a inexistência de outras alternativas de renda local; a baixa escolaridade e a idade avançada, não perspectivando assim outra possibilidade de trabalho, como mostra a figura 04. Em contraponto a isso, 14% sinalizam para pontos positivos que justificam sua permanência na pesca, sendo eles: gosto pela atividade (7%) e facilidades (7%), como, rápida comercialização do produto e a autonomia, pois todos trabalham por conta própria e podem assim controlar sua jornada. Apesar das adversidades apontadas, por falta de opções para a sua sobrevivência, a maioria dos que construíram a sua vida profissional na pesca, pretende continuar na mesma atividade.
 Figura 04 – Motivos para a permanência dos pescadores na atividade pesqueira.
 Figura 05 – Razões apontadas como prováveis para o abandono da 
 Atividade Pesqueira.
A insuficiência da renda advinda do pescado é apresentada como a principal razão da insatisfação dos pescadores com a atividade pesqueira (38%), seguida da baixa população de espécies nativas, tais como, Surubim, Dourado, Pirá, Matrinchã, Pocomon, Mandim, Piranha e Curvina, que são as mais apreciadas pelos consumidores. As espécies exógenas, trazidas de outras regiões, tais como, Tambaqui, Tucunaré, Tilápia e Pescada, se adaptaram as condições climáticas e de temperatura das águas do Rio São Francisco, sendo as que possibilitam aos pescadores maiores renda. As espécies Curimatá, Trairá e Cari, embora sejam encontradas em maior quantidade, não possuem valor de mercado, sendo comercializadas entre 0,25 e 0,80 para os atravessadores. 
	Um outro motivo apresentado como possibilidade de abandono da atividade pesqueira diz respeito à aposentadoria, já que 23% encontram-se próximos a se beneficiarem desse direito.
	No que tange ao despovoamento no número de espécies de peixes no Rio São Francisco, foram elencadas algumas possíveis justificativas para tal fenômeno, como mostra a figura 06. Dentre elas, a mais ressaltada diz respeito ao uso da malha miúda para a pesca (27,5%). Embora tal equipamento seja proibido por lei, alguns pescadores ainda se utilizam desse recurso, pescando peixes pequenos que ainda não atingiram a idade reprodutiva, impedindo assim que as espécies se perpetuem.
 Figura 06 – Motivos elencados para a redução das espécies nativas. 
 Obs.: Mais de uma resposta por pessoa
 Figura 07 – Peixes descartados da malha miúda.
	Como pode ser constatado, peixes com tamanho impróprio para a comercialização são fisgados, mortos e após descartados, numa visível agressão ao meio ambiente e um desrespeito às leis vigentes e à vida animal. O segundo motivo mais citado pelos pescadores foi à inserção de espécies exógenas no rio (20,6%), pois, uma vez que se tratam de peixes carnívoros, estes se alimentam das espécies nativas, contribuindo assim para o seu desaparecimento. Na seqüência destes motivos vieram: o número elevado de pescadores (14,7%) justificado pelo entrevistado com a fala: “Quando se tira de onde não se coloca, acaba.”; a construção de barragens (12,2%) que mudaram o curso do rio e impediram a passagem do peixe; a poluição (6,9%) decorrente dos agrotóxicos escoados pela chuva para dentro do rio; o assoreamento do rio (5,4%), que o deixou raso e impróprio para a passagem dos peixes. 
No imaginário dos pescadores há de considerar o fato folclórico dos peixes terem ficado “espertos” (3,9%) e hoje conseguirem escapar dos pescadores. Para eles, os peixes aprendem a ouvir a voz dos homens, a se prevenirem dos perigos e a desenvolver mecanismos de sobrevivência, escondendo-se para não serem mortos. E outros (3,9%), atribuem ao desrespeito ao período da piracema como um dos fatores responsável pela diminuição das espécies. Por fim, 4,9% não souberam responder ou não opinaram. 
De modo geral, pode-se inferir que todas essas justificativas giram em torno de ações humanas, exceto a atribuída à mudança de comportamento nos peixes. Isso pode ser afirmado uma vez que foi o homem o responsável pela construção de barragens, pela poluição, pelo desmatamento das margens do rio que provocou o seu aterramento, pela utilização da malha miúda, e pela inserção de espécies exógenas no rio.
	Além da redução no número de espécies de peixes encontrada atualmente no Rio São Francisco os entrevistados relataram outras mudanças observadas nesse meio, tais como, assoreamento, menor profundidade, mudança na coloração das águas, dentre outras alterações que fazem com que ele seja percebido como um recurso ambiental degradado. 
Figura 08 – Águas poluídas no porto da cidade de Remanso-BA.
	A construção de barragens (26,76), a poluição (38,15%) ocasionada pelo despejamento de resíduos contaminados por agrotóxicos e esgotos domésticos, aparecem como os principais responsáveis pelo estado de degradação do Rio São Francisco. Acreditam os entrevistados que a irrigação (1,23%) tem contribuído para reduzir o volume de água acumulada no lago de Sobradinho, já agravado naturalmente pela escassez de chuvas (12,3%) e o desmatamento das suas margens (15,69%). 
Nem todos os pescadores recebem o seguro no período do defeso, ou pelo fato de não estarem cadastrados junto ao IBAMA por não possuírem documentos, ou em alguns casos por não desejarem revelar a sua real identidade por questões com a justiça, o que justifica o descumprimento da lei por parte de 12% dos entrevistados. Nesse caso, como mostra a figura 08, eles também buscam a renda familiar como diaristas, prestando serviços para terceiros, ou trabalhando para si mesmos na agricultura. Mesmo aqueles que o recebem, devido ao atraso na sua liberação, acabam pescando além dos cinco quilos permitido pela lei no período proibido para arcar com as despesas da família, uma vez que há demora na sua liberação. 
Os demais, correspondente a 88% dos entrevistados, relataram respeitar o período de reprodução do peixe.
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Figura 08 - Fonte de Renda Alternativa Durante o Período de Proibição da Pesca.
	Todos os pescadores, os que agem na legalidade e os que burlam a lei, enfrentam a desvalorização do pescado pelo atravessador que lhes pagam preços ínfimos, colocando-os numa situação de extrema pobreza. A estrutura dos barcos utilizados na pesca sem compartimentos para armazenamento e conservação do pescado obriga-os a entregar diariamente o produto, sem qualquer possibilidade de barganha. Apenas 14% dos pescadores entrevistados conseguem vender o pescado nas feiras livres e mercados diretamente ao consumidor, conseguindo melhores preços conforme figura 09. 
Este fato merece uma reflexão a respeito da função das colônias de pescadores. O que fazem estas instituições pelos seus associados? Quais as políticas de apoio ao pescador são por elas implementadas? São elas realmente necessárias? Indagados sobre isso, 95,4% dos entrevistados consideram importante a sua existência, embora tenham dificuldade em justificar a sua percepção. Apenas 4,6% as consideram completamente desnecessárias, já que nenhum beneficio prático pode ser verificado através delas. Se considerarmos que a grande maioria dos pescadores é analfabeta ou possui baixa escolaridade, fica fácil compreender a importância dada ao pertencimento à uma organização que possui visibilidade política local, ainda que ineficaz. 
 Figura 09– Forma de Comercialização do Pescado.
	Conforme informação, 84% dos pescadores pagam as suas mensalidades como associados da colônia, mesmo não recebendo dela o apoio necessário para inovar as suas práticas, capacitar-se para o trabalho e valorizar o produto da pescapor transformações que venham agregar valor ao mesmo;72% jamais fizeram um curso para aperfeiçoamento na sua atividade profissional, tampouco acreditam que o Estado possa se preocupar em melhorar a sua qualidade de vida.
	Para os entrevistados, a solução para os seus problemas serão resolvidos pelas soluções apontadas na figura 10, destacando a extinção da malha miúda na pesca, o repovoamento do rio com alevinos nativos, o aumento do período da piracema, a utilização de tecnologias de criação de peixes em tanque rede, maior fiscalização por parte das autoridades competentes do cumprimento da lei e, finalmente o respeito ao meio ambiente.
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 Figura 10– Possíveis alternativas para o aumento da capacidade de peixes no Rio. 
 Obs: Mais de uma resposta por entrevistado.
	Enquanto profissionais influenciados diretamente pelas mudanças sofridas no meio ambiente, os pescadores foram questionados em relação a transposição do Rio São Francisco. Evidenciou-se que 76% dos mesmos são contra tal projeto, sob alegação de que “o rio esta morrendo” e chamando atenção para a necessidade de uma revitalização. Porém, 14% dos entrevistados relataram ser a favor da transposição das águas do São Francisco, pois segundo eles, todos têm direito a água. No entanto, vale ressaltar que embora o tema esteja diretamente relacionado à realidade desse público-alvo, eles ainda possuem uma baixa informação em relação ao mesmo, dificultando assim uma opinião crítica em relação às políticas que envolvem tal projeto.
CONCLUSÕES
A análise dos dados evidencia a fragilidade da pesca artesanal nos municípios pesquisados, dado a baixa expectativa dos mais idosos em relação a sua continuidade e a desmotivação dos mais jovens em aderir a uma profissão cujos resultados financeiro e social não apresentam-se atrativos.
A degradação ambiental do Rio São Francisco tem agravado a situação de pobreza das populações tradicionais, considerando que desde a década de 70 com o advento da agricultura irrigada na região, as suas águas passaram a receber resíduos químicos poluentes que comprometem a sua qualidade tanto para o homem como para os peixes, reduzindo as espécies nativas em mais de 50% (Diegues:1968).
As tentativas de repovoamento das águas do São Francisco com populações exóticas não tem representado os resultados desejados, tendo em vista serem elas predadoras das espécies nativas e não agradarem ao paladar dos ribeirinhos, o que significa menor renda para os pescadores.
O despreparo dos pescadores para a comercialização, bem como, a falta de infraestrutura para armazenagem do pescado, os colocam nas mãos dos atravessadores,que lhes pagam preços muito abaixo do mínimo necessário para uma vida com dignidade. A colônia, que é a organização representativa dos seus interesses, apresenta-se desaparelhada para reivindicar junto aos órgãos públicos o apoio necessário através de políticas públicas coerentes com a sua realidade.Contudo, pela visibilidade política do órgão, a maioria a ela se associa, pagando da sua baixa renda a mensalidade por ela cobrada.
O Rio São Francisco precisa de um programa abrangente de revitalização que parta de uma visão ecossistêmica dos problemas da Bacia e ataque de forma igualmente sistemática as principais causas de degradação do Rio, porque ações pontuais e paliativas não atingem as raízes dos problemas.
Além das ações de saneamento básico propostas pelo programa do governo através do PAC – Programa de Aceleração do Crescimento, um projeto de revitalização abrangente deve ser implementado, como a conservação de lençóis freáticos e das nascentes.Todo esforço de recuperação da Bacia será em vão se o modelo de produção agrícola não for modificado, incorporando práticas de conservação de solo e água.
A recomendação deste estudo é no sentido de que os órgãos governamentais ampliem as políticas voltadas para o incentivo à pesca artesanal, desenvolvendo um amplo programa de educação ambiental; financiamento com juros baixos para a compra de barcos modernos e equipamentos de pesca; freezers, além da possibilidade dos pescadores passarem a produzir peixe em cativeiro como alternativa econômica sustentável, perpassando pela Revitalização do Rio São Francisco, com envolvimento direto dos atores que dependem dele para viver.
 
REFERÊNCIAS
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BARZANO, M.A.L. Concepções de Meio Ambiente: um olhar sobre um curso de licenciatura em Ciências Biológicas. 2000. 175 f. Dissertação (Mestrado em Educação), Universidade Federal Fluminense. Niterói, 2000.
DIEGUES, A. C. S. O Mito Moderno da Natureza Intocada.São Paulo, Hucitec,1996.
LAVILLE, C.; DIONNE, J. A construção do saber: manual de metodologia da 
pesquisa em Ciências Humanas. Porto Alegre:ARTMED, 1999.
JODELET,D.Representación social: Fenómenos, concepto y teoría. In:
Psicologia Social (S. Moscovici, org.), pp. 469-494, Barcelona: Paídos, 1985.
MOSCOVICI, S. La psychanalyse son image et son public. Paris: Presses Universitaires de France, 1961.
_____.Social Representations, Social Cognition. Ed. J. Forgas : London, Academic Press, 1981.
PADILHA, M.I.C.S. Representações sociais: aspectos teórico metodológicos. Passo Fundo – RS: Universidade Passo Fundo, 2001.
VALA, J.“Representações Sociais - Para Uma Psicologia Social do Pensamento Social”,Psicologia Social., J. Vala & M. Monteiro (Eds.), Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1993.
ZELLHUBER, Andrea & SIQUEIRA, Ruben. Rio São Francisco em Descaminho:degradação e revitalização. Cadernos CEAS, 227. Salvador, Centro de Estudos e Ação Social, jul-set, 2007, p.7-32.
A PESCA ARTESANAL COMO SOBREVIVÊNCIA DAS POPULAÇÕES TRADICIONAIS NO SÃO FRANCISCO
Lucia Marisy Souza Ribeiro de Oliveira¹
Jackeline Maria Souza²
Andrews Rafael de Araújo Cunha³
A HISTÓRIA
Populações tradicionais são definidas como “populações de pequenos produtores que se constituíram no período colonial, freqüentemente nos interstícios da monocultura e dos ciclos econômicos, as quais, pelo isolamento em que viviam foram obrigadas a desenvolver estratégias de sobrevivência particulares (Diegues:1996). Conforme o autor, o estilo de vida dessas populações apresenta características que as diferenciam das populações típicas dos meios urbanos mais industrializados, porque suas atividades econômicas apresentam forte dependência em relação à natureza e aos recursos naturais renováveis, os quais são os mantenedores de seu modo particular de vida. Essa dependência, entretanto, longe de apresentar características de predação, aproxima-se, segundo o mesmo autor, dos processos biológicos de simbiose.
Após a Segunda Guerra Mundial, principalmente a partir da década de 60, intensificou-se a percepção de a humanidade caminhar aceleradamente para o esgotamento ou a inviabilização de recursos indispensáveis à sua própria sobrevivência. A constatação desse fato gerou o movimento em defesa do ambiente, que luta para diminuir o acelerado ritmo de destruição dos recursos naturais ainda existentes e busca alternativas que conciliem, na prática, a conservação da natureza com a qualidade de vida das populações que dela dependem.
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¹ Professora Adjunta III da UNIVASF – Pesquisadora do CNPq
² Aluna de Graduação em Psicologia – Bolsista de Iniciação Científica da FAPESB
³ Aluno de Graduação em Psicologia – Bolsista da FAPESB
Toda essa situação colocou em xeque a idéia desenvolvimentista de que a qualidade de vida dependia unicamente do avanço da ciência e da tecnologia. Com isto, faz-se necessário repensar o conceito de sustentabilidade, que implica o uso dos recursos renováveis de forma qualitativamente adequada e em quantidades compatíveis com sua capacidade de renovação, soluções economicamente viáveis de suprimento das necessidades, e relações sociais que permitam qualidade adequada de vida para todos.
Essa mesmapesquisa foi realizada nos municípios de Juazeiro, Sobradinho, Casa Nova e Remanso, na Bahia, com resultados preocupantes. Os pescadores vivem em estado de absoluta miséria, tendo que entregar o seu pescado aos atravessadores pelo preço aviltante de 0,40 centavos a R$ 1,00 o quilo, em virtude da ausência de infra-estrutura para armazenamento e comercialização do produto. As espécies nativas nobres, como surubim, dourado, pacu, já não são encontradas nesses municípios há mais de 07 anos, ficando para eles as espécies exóticas de menor valor comercial. 
As experiências com criação em tanque-rede são pontuais e ainda não apresentam resultados convincentes para os envolvidos com a inovação. Embora alguma consciência ecológica já se faça sentir entre os mais idosos, o desrespeito ao período da piracema é freqüente, dado que são muitos os que não recebem o seguro desemprego por não possuírem documentos. A pesca com malha fina contribui para a escassez do pescado, ampliando o problema existente.
Esses dados, ampliados com a replicabilidade da pesquisa nesses novos municípios que tradicionalmente tiveram na pesca fonte de geração de trabalho e renda para um enorme contingente populacional, contribuirão para a tomada de decisões pelos órgãos públicos quanto ao assunto, na perspectiva da melhoria do meio ambiente e da qualidade de vida dessa população.
OS CAMINHOS PERCORRIDOS
A população objeto deste estudo foi constituída pelos pescadores artesanais e seus filhos que praticam essa mesma atividade econômica e que residem nos municípios de Pilão Arcadao, Sento-Sé e Xique-Xique, todos localizados na região do São Francisco no Estado da Bahia.
A pesquisa foi de abordagem qualitativa com enfoque teórico-metodológico nas Representações Sociais, entendendo-se por pesquisa qualitativa “aquela que é capaz de incorporar a questão do Significado e da Intencionalidade como inerentes aos atos, às relações, e às estruturas sociais, sendo essas últimas tomadas tanto no seu advento quanto na sua transformação, como construções humanas significativas” (MINAYO:1994). 
Assim, este estudo procurou elaborar as Representações Sociais como um processo dinâmico, considerando a inserção do pescador e dos seus descendentes num contexto sociocultural definido e também a sua história pessoal e social, visando apreender a representação social sobre a degradação ambiental, e entender as formas como eles elaboram esse conhecimento e convivem com essa problemática no seu cotidiano.
Em um primeiro momento foram feitos contatos com representantes dos pescadores, a fim de se vislumbrar um panorama geral a respeito da pesca artesanal no município, além de se obter informações práticas acerca do acesso ao público-alvo. Assim, foi realizada uma explanação a respeito dos objetivos da pesquisa para os diretores presentes na colônia de pescadores seguida da realização de entrevistas individuais com todos os sujeitos presentes no local. 
Num segundo momento foram feitas entrevistas semi-estruturadas com pescadores e seus filhos também pescadores, contendo na primeira parte itens referentes à identificação sócio-demográfica dos participantes e na segunda parte questões norteadoras estruturadas de acordo com o referencial teórico adotado. A pesquisa realizada teve como representação do seu universo cento e três entrevistados, sendo trinta e cinco no município de Pilão Arcado, trinta em Sento-Sé e trinta e oito em Xique-Xique.
Para registro dos dados, utilizou-se gravação em MP3, com consentimento dos participantes. Os dados foram analisados à luz do referencial teórico adotado, seguindo os passos metodológicos sugeridos por PADILHA (2001): 1º Momento – Objetivação, com a formação dos núcleos figurativos que expressam a concretude da idéia. 2º Momento – Ancoragem, com a interpretação dos participantes sobre o material por eles produzido.
OS MUNICÍPIOS – SUA TRAJETÓRIA HISTÓRICA, SOCIAL, CULTURAL E ECONÔMICA
PILÃO ARCADO
(COLOCAR FOTO DA CIDADE)
Pilão Arcado é uma das cidades relocadas pela inundação da barragem de Sobradinho, sendo a única nesse episódio que não tem a sua sede à beira do lago. Possui uma população de 32.844 habitantes, distribuída numa área de 11.700 Km², sendo que 74% localizam-se na zona rural (IBGE:2007). Limita-se com os municípios baianos de Remanso e Campo Alegre de Lourdes, sendo a sua densidade demográfica de 2,81 habitantes por Km².
 A cidade originou-se de um arraial fundado em fins do século XVIII, por ordem do Vice Rei Dom João de Lancaster, com a finalidade de colocar fim aos constantes roubos de gado feitos pelos índios Mocoazes e Acoroazes na região. Há controvérsias quanto a origem do seu nome, entretanto, em todas as versões há a presença de um pilão feito com galho de árvore em forma de arco, utilizado pelos índios para pilar o sal usado na salga de peixes. 
 Numa outra versão se conta que os portugueses chegando à localidade encontraram um orifício em uma rocha, que tinha forma de um pilão feito pelos índios. Essa rocha ficava localizada quase defronte a um meandro do rio, que faz um formato de um arco. Vale ressaltar que Pilão Arcado foi um grande produtor de sal, extraído de suas salinas, e um dos maiores exportadores desse produto para a região do Vale do São Francisco e adjacências. 
 O sítio ficou conhecido como pescaria do Pilão Arcado, que deu origem ao município. Com esse movimento vieram famílias, que começaram a fazer moradias e dar vida à cidade.
 A economia do município tem como base a pesca e o comércio. A colônia de pescadores possui uma sede pomposa, com infraestrutura para encontros e até alojamento, entretanto, não atua na perspectiva da organização e defesa dos pescadores, limitando-se ao registro dos profissionais da pesca para o pagamento do seguro defeso.
 As festas religiosas constituem as principais fontes de aglomeramento populacional e de manifestações populares. O artesanato é insipiente.
SENTO - SÉ
Sento Sé está situada na região do baixo médio São Francisco, na borda do Lago de Sobradinho, no Estado da Bahia. Foi fundada em 1832, tendo como fronteira os municípios de Campo Formoso, Casa Nova, Itaguaçu da Bahia, Jussara, Morro do Chapéu, Pilão Arcado, Remanso, Sobradinho, Umburanas e Xique-Xique. Possui uma área de 12.871 Km2e é o terceiro maior município do estado, segundo dados da SEI – Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia. A sua população é de 36.517 habitantes (IBGE:2007), sendo a sua densidade demográfica de 2,8 habitantes por Km².
Foi criado pela Lei 628 de 30 de dezembro de 1953. Tem em sua composição as vilas: Amaniú, Cajuí, Minas do Mimoso e Piçarrão. Dotado de grande potencial hidrográfico na bacia do São Francisco, Sento Sé possui além do Lago formado pela Barragem, o rio Jacaré ou Vereda do Romão Gramacho e o Riacho do Mulungú. 
Sua economia é a agropecuária, com destaque para a produção de banana, uva e manga, mas detem grandes riquezas minerais que precisam de infraestrutura pública para serem exploradas industrialmente. 59,8% da sua população é alfabetizada.
XIQUE – XIQUE
(COLOCAR FOTO)
O Município de Xique-Xique fica situado na região do Vale do São Francisco na Micro Região Administrativa de Irecê e está a 587 Km de Salvador, capital do Estado da Bahia.A sua população é de 45.700 habitantes (IBGE:2007) e a sua área de 5.671 Km². 
 Durante a administração do Governador Tomé de Souza passou pela região uma expedição exploradora e no século XVII um grupo de garimpeiros já se instalava na ilha do Miradouro, formando ali o primeiro núcleo populacional deeuropeus. Na mesma época surgiu a fazenda Praia Cabo da Ipueira de propriedade do português Theobaldo Miranda Pires de Carvalho, construindo nas suas proximidades a igreja Senhor do Bonfim.
   Em 1714, Dom Sebastião Monteiro da Vide, arcebispo da Bahia, assinou um ato que elevava a capela de Chique-Chique à categoria de freguesia. Em pouco tempo a comunidadeera um arraial em franco crescimento.
   Quando o Brasil separou-se politicamente de Portugal, a área que se tornaria município de Chique-Chique contribuía com a economia do império do Brasil, principalmente com a produção de ouro e pedras preciosas dos garimpos da serradoAssuruá. Em 06 de julho de 1832, foi a área desmembrada de Jacobina com o nome de Senhor do Bonfim. Em 23 de outubro de 1837, o nome foi mudado para Xique-Xique.Em 12 de junho de 1928 foi elevado à categoria de cidade, passando a ser administrado pelo poder legislativo, formado por sete vereadores para um mandato de dois anos. O presidente da câmara era responsável pela gestão do município.A partir da proclamação da república em 1889, e da constituição republicana em fevereiro de 1891, foi instituída a figura do intendente, posteriormente denominado prefeito. 
   A partir de 1930, com a ditadura Vargas, os interventores da Bahia, nomearam o coronel José de Souza Nogueira (1930/1934) e o Coronel Francisco Xavier Guimarães (1934 a 1934) para prefeito de Chique-Chique, mas o primeiro prefeito eleito foi o comerciante Aurélio Gomes Miranda.
O município possui uma área de proteção ambiental nas dunas e veredas do baixo e médio São Francisco, crida em 1997, com área de 1.085.000 hectares, bem como da Lagoa de Itaparica, com 78.550 hectares, conhecida pela sua beleza natural, sua biodiversidade e presença constante dos carnaubais e plantas aquáticas como a vitória régia.
Há também o Parque Aquático Ponta das Pedras, que propicia muitas diversões aos visitantes. Com toda essa infraestrutura, o município dispõe de condições favoráveis para o turismo ecológico, cada vez mais explorado por turistas nacionais e internacionais. O aeroporto com pista asfáltica, facilita a chegada dos visitantes à cidade, além do terminal rodoviário com linhas de ônibus diárias para Salvador.
Existem no município duas instituições de ensino superior, sendo uma delas pública estadual, com oferta de vários cursos. Conta também com vários órgãos públicos, organizações não governamentais, filantrópicos, de serviços, além da academia Xiquexiquense de Letras.
OS RESULTADOS 
 A pesquisa realizada teve como representação do seu universo cento e três entrevistados, 16% dos quais do sexo feminino,nenhuma com ocupação em cargo diretivo. 
Figura 01 – Sexo dos entrevistados.
Tal fato pode ser justificado pela cultura predominante do sexo masculino como referencia na sociedade, conseqüência de arranjos culturais que por muito tempo foi predominantemente patriarcal e ainda hoje apresenta seus vestígios. Seguindo essa lógica, no espaço público deve a mulher adotar uma postura de submissão diante do homem, assumindo, contudo no espaço privado do lar as maiores responsabilidades com a sua manutenção. Como a atividade pesqueira demanda um esforço físico e um período relativamente grande de tempo fora de casa para a realização da jornada, se torna, segundo relatos, inviável para a maioria delas. 
 Considerando ainda a cultura na qual os sujeitos da pesquisa estão inseridos e o afastamento da mulher das atividades no rio, questionou-se a possibilidade de haver uma relação entre tal distanciamento e a crença de que a mulher no período da menstruação traz azar para a pesca. Embora todos tenham reconhecido essa crença, 81% afirmaram não acreditar nela. Contudo, embora ainda seja reduzido o número de mulheres na pescaria molhada, estas participam da atividade de forma indireta, quer no tratamento do pescado – limpeza e salga – quer na confecção e conserto das redes, daí o sentimento de injustiça que permeia o seu imaginário por não serem beneficiadas com o seguro defeso. 
Figura 02 - Responsável pelo conserto das redes de pesca.
Contudo, muitas outras tradições ainda continuam a ser mantidas, dentre elas, o respeito pelos mestres, pescadores mais velhos, detentores de excelente memória, que foram lapidados pelo tempo de vida nas águas, sendo capazes de compreender o movimento dos ventos; o local adequado para se deixar a rede;os lugares seguros para o percurso da embarcação, num mundo cercado por riscos, armadilhas e medos. 
Medo dos donos do rio, como o Nego D`Água, a Mão DÀgua, a Caipora, que se zangados são capazes de virar o barco e desaparecer com os peixes, ficando os pescadores de mãos vazias.São os mestres que ensinam os mais jovens a se protegerem ao pisarem nas águas, sempre pedindo licença para entrar na sua casa.
São eles que, pelo aguçado senso de observação aprimorado no cotidiano, identificam sinais de peixes em determinados locais, como a presença de aves sobrevoando as águas; árvores nas margens do rio, cujos frutos são apreciados por determinadas espécies de peixes para alimentação; a cor das águas, porque o tempo de esperar o peixe, é também o tempo de aprender com a natureza, de contemplar e de proteger os equipamentos do ofício.
Como afirma Edgar Morin (1999), a cultura enquanto conhecimento e, o conhecimento enquanto cultura são a dialética que movimenta, interage e dá sentido à vida e as práticas na pesca, que por sua vez reflete-se em saberes que permitem ao pescador se relacionar com o meio onde estão inseridos de maneira íntima, proporcionando a criatividade e a sabedoria. É o que Gohn (1999) chama de educação não formal adquirida pelos cidadãos ao longo da vida pela interpretação e assimilação dos fatos, em contato com grupos e organizações. 
Os saberes da tradição, que são acúmulos de experiências vividas, condensadas com outras tantas que se apresentam no cotidiano dessas populações, representam maneiras de se relacionar e de interpretar a natureza, num processo educativo calcado pela observação e pelos ensinamentos de gerações mais experientes, daí a valorização dos mais velhos pelos iniciantes nesse espaço de vida e de trabalho. 
Ao discorrer sobre as populações tradicionais, Faria (2002) as descrevem como grupos sociais que vivem a proximidade e dependência em relação aos diversos ambientes naturais, possuindo como característica fundante um profundo conhecimento do meio natural e uma utilização sustentável do mesmo.
Outra tradição mantida é a religiosidade, que influi diretamente nas atitudes e comportamentos do pescador. Em datas consideradas santas, como os dias dedicados a São Francisco, Santa Luzia, Finados e na Semana Santa, as atividades são paralizadas, sob a justificativa de guardar “os dias grandes” para receber as recompensas e não ser punido. Há a crença generalizada de que pescar no dia de Santa Luzia, pode-se ficar cego; pescar no dia de São Francisco seca a rede o ano todo e não respeitar a Semana Santa é pactuar com Satanás. Na comemoração aos mortos, a crença é que os seus espíritos nesse dia ficam vagando, rondando a todos e tentando as pessoas a fazerem o mal. Só os denominados evangélicos afirmam não acreditarem em nada disso.
Também é prática rotineira entre os pescadores os rituais antes de entrarem no rio. 67% dos entrevistados relataram rezar ou se benzer em busca de proteção e ajuda; não entram calçado no barco (5%); ofertam bebida e comida para as entidades das águas (13%). Os demais, nada fazem. 
Foi também pela tradição familiar que 92% dos entrevistados ingressaram na pesca artesanal ainda na infância, seguindo os passos dos ancestrais. Hoje, pelo incentivo do Bolsa Família e a atuação mais intensa do Ministério do Trabalho, a participação de crianças nas jornadas de pesca é rara. 
Figura 03 - Período em que começou a pescar.
Figura 04 - Razões para o ingresso na atividade pesqueira.
Quanto à pretensão de permanecerem na atividade pesqueira, os dados foram bastante homogêneos e 97% afirmam a sua intenção em continuar exercendo a profissão, o que não significa satisfação com a atividade. A falta de opção de trabalho na região, bem como a desqualificação para outros ofícios, foram motivos elencados para a permanência na pesca. Os mais idosos, colocam a proximidade da aposentadoria como forte razão para continuarem no rio. Apenas 2% manifestaram gostopelo que fazem e 3% alegaram deixar a atividade após o benefício da aposentadoria que se aproxima, justamente pela desvalorização da atividade na relação com os riscos para a saúde, como, alterações na visão causadas pelo espelho d’água, desvios na coluna, decorrentes dos movimentos bruscos no jogar e retirar a rede, além dos acidentes naturais.
Figura 05 – Pretensão de continuidade na atividade pesqueira.
Figura 06 – Motivos para a permanência dos pescadores na atividade pesqueira.
Em relação à continuidade da pesca pelos jovens, 68% dos pais afirmam não desejar este destino para os seus filhos. Alegam que na pesca só vale a pena ser atravessador, porque ganha-se bem, podendo ter conforto, casa boa, carro, moto e conta no banco. Todos manifestam interesse pelo estudo dos filhos, com a consciência de que no mundo de hoje essa é a condição para se conseguir emprego, ideal muito presente no imaginário popular. Os que afirmaram desejar essa atividade para o futuro dos filhos (32%), acreditam na predestinação. “Nascemos para ser pescador; essa é a profissão para o pobre. Não adianta querer ser uma coisa quando Deus já escolheu outra.O melhor é se conformar” ( D.G.F, 56 anos). “É bem verdade que a nossa vida é dura. Mas fome a gente não passa, porque nem que seja uma piabinha a gente pega, trata, passa no sal e assa na brasa.Outros pobres às vezes fica dependendo de alguém lhe dar o que comer.Nós, não, a gente tem este orgulho de não pedir nada a ninguém( J.S.O. 63 anos).” 
“A gente é pobre mas é livre.Ninguém manda na gente.Se eu não quiser ir para o rio hoje eu não vou, porque não tenho patrão. Eu sou o meu patrão.Então isso é muito bom” (F.R.T, 48 anos). “Eu vejo vizinho meu que trabalha em firma e mesmo doente tem de ir trabalhar pra não ser mandado embora.É tratado como cachorro sem dono. Tem uns que para sair do trabalho tem até de tirar a roupa na vista dos outros pra mostrar que não roubou nada.Ta vendo que eu não ia aceitar esta desmoralização? Por isso que eu digo que ser pescador é a melhor coisa para pobre” ( J.L.P, 57 anos). Nessas falas, está evidente o sentimento de liberdade e resistência, pois a pesca artesanal sempre se caracterizou, para seus profissionais, como uma não subordinação à sociedade capitalista de consumo, tornando seu trabalho e seu modo de vida uma arte feita de simbologias, por ser exercida num ambiente livre de pressões e fora da terra. Ali é o próprio pescador que tem de decidir o que fazer, para assegurar a sua sobrevivência com segurança. 
por ser exercida num ambiente livre de pressões e fora da terra. Ali é o próprio pescador que tem de decidir o que fazer, para assegurar a sua sobrevivência com segurança. 
Além disso, como bem analisa Diegues (1983), o imaginário sobre a liberdade que o pescador possui emerge sempre em oposição a outros trabalhadores. Até mesmo quando o pescador não é proprietário de embarcação e rede, isso não faz com que ele deixe de dominar todas as etapas ligadas à processualidade do seu trabalho, revestindo sua atividade de uma qualidade incomum, pois o mesmo se sente sujeito ativo das decisões de seu trabalho. Ademais, a repartição do resultado do trabalho e o destino dado à produção pesqueira, guardando parcela para o consumo doméstico, acabam resguardando o pescador artesanal de situações mais desfavoráveis, fato inexistente em atividades produtivas assalariadas .
O fato de a cada dia menos pescados serem capturados tem repercutido não apenas no aspecto econômico, mas também ocasionando impacto negativo na nutrição dos mais jovens e dos mais idosos, fragilizando a sua saúde e favorecendo o surgimento de inúmeras doenças. 
Figura 08 - Consumo de Peixe Por Dias na Semana.
	Em relação a jornada de pesca destes profissionais, observou-se que em sua maioria (70%), a duração é entre dois e dez dias, sendo baixo o índice daqueles que retornam diariamente aos seus lares (10%). Essa atividade por sua vez, é realizada em grupos de até 10 pessoas, sendo duas pessoas por canoa. O custo diário desta atividade varia entre dez reais (6%), até quarenta reais (3%), sendo que (61%) tem custo de quinze reais com a jornada.
Esse valor foi calculado incluindo alimentação, combustível, isca e outros materiais de pesca. A quantidade diária de peixes capturada varia muito, entretanto, muito raramente ultrapassa vinte quilos. No seu imaginário, há a interferência da lua, da chuva e da vontade dos peixes, evidenciada na sua luta para manterem-se vivos, o que segundo Silva (1989), os aproximam do homem na sua luta pela sobrevivência. 
Para conservação do pescado, estes são deixados em caixas de isopor com gelo por 84% dos pescadores. Outra ação adotada neste caso,é a entrega do material para o atravessador que passa recolhendo o material ainda no meio do rio. 	
Tabela 01 - Materiais utilizados na atividade pesqueira nas cidades de Pilão Arcado, Sento-Sé e Xique-Xique
	Materiais utilizados na pesca
	Pilão Arcado
	Sento-Sé
	Xique-Xique
	Rede
	100%
	100%
	92%
	Anzol
	89%
	100%
	82%
	Tarrafa
	83%
	97%
	79%
	Covos
	3%
	0%
	0%
	Fisgos
	0%
	0%
	50%
	Carretilha
	0%
	0%
	47%
	Arpão
	0%
	0%
	5%
No que tange ao despovoamento no número de espécies de peixes no Rio São Francisco, algumas possíveis justificativas para esse fenômeno – que segundo os pescadores artesanais tem se intensificado há cerca de 10 anos – foram elencados pelos entrevistados, como mostra a figura 09. Dentre elas, a mais ressaltada diz respeito à variação das águas do São Francisco, que pode ter origem nas mais diversas justificativas – mudança nos índices e períodos das chuvas na região, a construção de barragens e o controle dessas águas. 
O uso da malha miúda para a pesca foi levantada como a segunda justificativa mais presente nos discursos dos pescadores. Embora esse equipamento seja proibido por lei, alguns pescadores ainda se utilizam desse recurso, pescando peixes pequenos que ainda não atingiram a idade reprodutiva, impedindo assim que as espécies se perpetuem. E uma vez pescados em tamanho impróprio para a comercialização, são descartados, numa visível agressão ao meio ambiente e um desrespeito às leis vigentes e à vida animal.
Figura 09 - Motivo Pela Redução no Número de Espécies de Peixes. 
 Obs.: Houve mais de uma resposta por entrevistado. 
Não havendo diferença significativa entre as cidades pesquisadas, foram identificadas as espécies facilmente encontradas e aqueles consideradas por eles em extinção. Em ordem decrescente as seguintes espécies foram classificadas como facilmente encontradas, a saber: Curimatá, Piranha, Tucunaré, Pescada e Piau. Na mesma ordem foram classificadas como extintas as seguintes espécies: Surubim, Pirá, Curvina, Pocomon e Matrinchã. Ressalta-se que as espécies caboge e cari ainda são encontradas na região, porém não são apreciadas pelos consumidores locais e portanto não são capturadas para comercialização. 
Observou-se, portanto, que hoje, as espécies mais comuns na região são oriundas de outras bacias hidrográficas, ou mesmo espécies exóticas, como os tucunarés Cichla spp e a pescada Plagioscion sp., introduzidos em Sobradinho pelo DNOCS no final da década de 70, além de diversas outras espécies introduzidas no sistema a partir de experimentos de cultivo como carpas, tilápias, tambaqui Colossoma macropomum, pacu-caranha Piaractus mesopotamicus, apaiari Astronotus ocellatus e o bagre-africano Clarias lazera.
Desconsiderando os meses de desova dos peixes, nos quais segundo portaria 142 de 30 de outubro (BRASIL, 2002) é proibida a atividade pesqueira acima de 5 quilos diários mais um exemplar que pode possuir qualquer peso, e que devem ser pescados de anzol, os pescadores relataram ser entre os meses de junho a setembro o melhor período para a pesca. 
Além da redução no número de espécies de peixes encontrada atualmente no Rio São Francisco os entrevistados relataram outras mudanças observadas nesse meio, taiscomo, assoreamento, menor profundidade, diminuição da mata ciliar, maior poluição, dentre outras alterações que fazem com que ele seja percebido como um recurso ambiental degradado. 
Como demonstrado na figura 10, a construção de barragens, a ação humana, a poluição de esgotos domésticos e industriais, aparecem como os principais responsáveis pelo estado de degradação do Rio São Francisco. Assim, importante se faz propor políticas de co-responsabilização e educação aos empresários e à população em geral, como forma de frear a sua destruição. 
Figura 10 - Motivos Atribuídos as Mudanças/Degradação Observadas no Rio São Francisco.
Obs.: Houve mais de uma resposta por entrevistado.
	No que tange às possíveis medidas a serem adotadas a fim de reverter esse quadro, os entrevistados, mais uma vez, citam a participação não apenas do governo (figura 11), mas também da população (figura 12) nesse processo. Dentre as ações citadas como de responsabilidade do Estado, a revitalização, assim como a recomposição da mata ciliar – que é uma das etapas da revitalização – aparecem como as mais mencionadas. 
Já a incumbência principal da população na preservação ambiental é não depositar lixo nas águas e nas margens do Rio São Francisco. Ainda na mesma figura, embora menos citada, porém de grande relevância, destaca-se a “reivindicação” como importante instrumento para a população alcançar seus direitos e os direitos ambientais junto aos seus representantes. No entanto, isto exige do povo uma consciência crítica e conhecimento a respeito de como fazê-e muita vezes essa autonomia lhe é podada pela falta de acesso a informação e educação ou por toda uma organização social alienante. 
	
Figura 11 – possíveis ações a serem desenvolvidas pela população 
para cuidados com o meio ambiente
No que se refere à transposição das águas do São Francisco 71% posicionaram-se contrários, sob a alegação de que o rio está morrendo.Os demais entendem que todas as populações têm direito a um bem que foi doado por Deus, acreditando que a água do São Francisco nunca acabará.
Dos sujeitos entrevistados, 92% estão vinculados às colônias de pescadores e destes, 100% afirmam estar satisfeitos com as colônias das cidades de Sento-Sé e Pilão Arcado, havendo uma pequena diferença no município de Xique-Xique, onde 36% confessaram estar insatisfeitos com a sua atuação. A visão dos pescadores sobre as atribuições das colônias são reduzidas a aposentadoria, licença maternidade e ao seguro defeso, que é também motivo de conflito, já que todos olham esse benefício como objeto de desejo, capaz de satisfazer necessidades antes impensáveis, como compra e reforma de imóvel, aquisição de bens de consumo e a possibilidade de visitar parentes.Como as regras são estabelecidas pelo Ministério da Pesca, muitos ficam de fora, colocando as responsabilidades no gestor local.Não se cogita para elas ações de capacitação e organização coletiva, nem a definição de políticas que assegurem a sustentabilidade da ocupação.
Nesses municípios a presença do atravessador é menor. Muitos pescadores vendem o seu produto diretamente aos consumidores nas feiras livres e nos mercados locais, o que lhes assegura preços médios que variam de R$ 2,00 a R$ 2,50 o quilo, exceção feita para o surubim que pode custar até R$ 9,00 reais, porém, por tratar-se de espécie em extinção, só raramente é encontrada. Esses valores, embora baixos, são maiores do que os praticados em municípios onde a presença do atravessador é constante.
 Com renda tão baixa, a situação de pobreza dos pescadores é generalizada. O seguro defeso constitui a oportunidade para adquirir alguns bens duráveis, como móveis, televisão, bicicleta e outros, mesmo com o atraso na sua liberação, fazendo com que muitos tenham de buscar solução para as suas necessidades junto ao agiota. Os que afirmem ter conseguido comprar ou construir suas casas com a renda da pesca, nomeiam as residências como “barracos”, por serem normalmente de chão batido, sem qualquer comodidade, deixando os seus usuários vulneráveis a doenças. 
Figura 14- Bens adquiridos com o dinheiro oriundo da pesca.
Há uma compreensão da parte de todos de que uma ação mais efetiva do Estado modificaria este quadro de carências a que estão submetidos, tais como:instalação de câmaras frias nas colônias, para possibilitar a armazenagem do produto, eliminando-se o atravessador; financiamento a juros baixos de embarcações maiores com freezers; capacitações continuadas para tratamento adequado do pescado e industrialização da sua carne; apoio à comercialização nos centros urbanos; fiscalização para evitar a pesca nos períodos proibidos e com malha fina; revitalização da bacia com peixamento de espécies nativas.
Figura 16 – Apoio governamental necessário
CONCLUSÕES
O Rio São Francisco tem uma tradição de pesca artesanal de pequeno porte. No entanto, décadas de desenvolvimento agro-industrial e hidrelétrico, poluição e desmatamentos têm afetado profundamente populações de peixes que levaram a um declínio na captura, conflitos na regulamentação da pesca e alocação de recursos, além de muitas dificuldades nas comunidades de pescadores. Trata-se do quinto maior rio da América do Sul, surgindo na alta floresta atlântica no estado de Minas Gerais e fluindo por quase três mil quilômetros em direção ao Atlântico, e a terceira bacia hidrográfica do Brasil. Drena uma área de 640.000 Km² e ocupa 8% do território nacional, envolvendo os Estados Bahia, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Minas Gerais e o Distrito Federal.
Os resultados apontados nesse estudo demonstraram uma fragilidade da pesca tradicional entre os ribeirinhos dos municípios de Pilão Arcado, Xique-Xique e Sento-Sé, dado a baixa expectativa dos mais idosos em relação a sua continuidade e a desmotivação dos mais jovens em aderir a uma profissão cujos resultados financeiro e social não apresentam-se atrativos. Achados esses que corroboram com o observado na primeira pesquisa nos municípios de Juazeiro, Casa Nova, Sento-Sé e Sobradinho, e que fomentaram essa ampliação da população na presente pesquisa.
	As tentativas de repovoamento das águas do São Francisco com populações exóticas não tem representado os resultados desejados, tendo em vista serem eles predadores das espécies nativas e não agradarem ao paladar dos ribeirinhos, o que significa menor renda para os pescadores. 
 A colônia, que é a organização representativa dos seus interesses, apresenta-se desaparelhada para reivindicar junto aos órgãos públicos o apoio necessário em infra-estrutura, capacitação, política pública, financiamento e comercialização. Contudo, pela burocracia para adesão do seguro de pesca esses profissionais de aliam a tal órgão, pagando da sua baixa renda a mensalidade por ela cobrada, embora tenha sido relatado pela colônia um alto nível de inadimplência. 
	A recomendação deste estudo é no sentido de que os órgãos governamentais ampliem as políticas voltadas para o incentivo à pesca artesanal, com financiamentos de juros baixos que possibilitem a esse grupo um melhor equipamento para o armazenamento do pescado e assim não necessitarem mais repassar o produtor por preços insuficientes, implementação de tecnologias de cultivos de peixes em cativeiro, perpassando pela revitalização do Rio São Francisco e um amplo programa de educação ambiental que oriente as populações ribeirinhas quanto à preservação dos seus recursos naturais, com vistas a sua sustentabilidade. 
Além desses, há outros direitos básicos de todo cidadão que não é gozado por tal população, como direito a segurança – visto que constantemente os pescadores sobre furtos do seu material de trabalho – e acesso ao serviço de saúde, assim como uma educação de qualidade.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Manuel José de. O drama do São Francisco. Gráfica do Senado Federal: Brasília,1991.
BAUER, M. A Popularização da Ciência como“Imunização Cultural”: a função de resistência das representações sociais. In JOVCHELOVITCH,

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