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1 APOSTILA DE ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO BÁSICA Prof. MSc. Karina Gomes Cerquinho Prof. Esp. Wesley Marques dos Santos 2 LISTA DE SIGLAS CF – Constituição Federal CNE – Conselho Nacional de Educação DCN – Diretrizes Curriculares Nacionais LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional MEC – Ministério da Educação PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais PNE – Plano Nacional de Educação 3 LISTA DE ANEXOS ANEXO A - ORIENTAÇÕES PEDAGÓGICAS PARA A EDUCAÇÃO FÍSICA – SEDUC/AM ANEXO B - PROPOSTAS CURRICULARES DA EDUCAÇÃO FÍSICA - SEDUC/AM - Educação Física – Ensino Fundamental - 1º ao 5º ano ANEXO C - PROPOSTAS CURRICULARES DA EDUCAÇÃO FÍSICA - SEDUC/AM - Educação Física – Ensino Fundamental- 6º ao 9º ano ANEXO D - PROPOSTAS CURRICULARES DA EDUCAÇÃO FÍSICA - SEDUC/AM - Educação Física – Ensino Médio - 1º ao 3º ano 4 SUMÁRIO UNIDADE I ..................................................................................................................................... 6 SISTEMA EDUCACIONAL BRASILEIRO ........................................................................................... 6 1.1 Um panorama da educação do Brasil colonial aos dias atuais ............................................... 6 1.2 A educação nas Constituições Federais ................................................................................ 10 1.3 As Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional ............................................................. 13 1.4 Plano Nacional de Educação ................................................................................................. 15 1.5 A criação e evolução do Ministério da Educação .................................................................. 20 UNIDADE II .................................................................................................................................. 23 EDUCAÇÃO BÁSICA NO BRASIL .................................................................................................. 23 2.1 Estrutura e Organização do Ensino no Brasil ........................................................................ 23 2.2 Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica .................................................... 25 2.2.1 Educação Infantil ................................................................................................................ 30 2.2.2 Ensino Fundamental .......................................................................................................... 34 2.2.3 Ensino Médio ...................................................................................................................... 36 2.4 Modalidades da Educação Básica.......................................................................................... 40 2.3.1 Educação de Jovens e Adultos ............................................................................................ 40 2.3.2 Educação Especial .............................................................................................................. 42 2.3.4 Educação Profissional e Tecnológica .................................................................................. 43 2.3.5 Educação Básica do Campo ................................................................................................ 44 2.3.6 Educação escolar indígena ................................................................................................. 44 2.3.7 Educação Escolar Quilombola ............................................................................................ 45 2.3.8 Educação a Distância ......................................................................................................... 46 2.4 Outras situações que são regidas pelas Diretrizes e Bases da Educação Nacional ............... 46 2.4.1 Educação para Jovens e Adultos privativos de liberdade ................................................... 46 2.4.2 Educação de crianças e jovens em situação de itinerância ................................................ 48 UNIDADE III ................................................................................................................................. 49 EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO BÁSICA ................................................................................ 49 3.1 A Trajetória da Educação Física no contexto nacional ......................................................... 49 3.2 A Educação Física nas Leis de Diretrizes e Bases da Educação ........................................... 55 3.3 Propostas para a Educação Física na Educação Infantil ........................................................ 58 5 3.4 Propostas para a Educação Física no Ensino Fundamental ................................................... 60 3.5 Propostas atuais para a Educação Física no Ensino Médio ................................................... 67 3.6 A Educação Física no Amazonas .......................................................................................... 70 REFERÊNCIAS .............................................................................................................................. 73 ANEXOS ....................................................................................................................................... 76 6 UNIDADE I SISTEMA EDUCACIONAL BRASILEIRO 1.1 Um panorama da educação do Brasil colonial aos dias atuais Fonte: escolaeducacao.com.br A história da educação brasileira remota desde a colonização, com a presença dos europeus impondo a sua estrutura educacional. Como relata Villalta (2002) apud Batista (2014) supunham os jesuítas que os índios, por não terem em seu falar as o som das letras F, L, nem R, não possuíam ‘Fé, Lei, nem Rei’ e viviam ‘desordenadamente’. Impuseram, assim, a “ordem” deles através da obediência a um Rei, difundindo uma Fé e estabelecendo uma Lei, uma norma de vida a partir daquele momento. A História da Educação no Brasil, que de início pretendia converter os índios à fé católica, mascarando a imposição dos costumes europeus, se traduzia na “pedagogia jesuítica”. A pedagogia jesuítica era fundamentada no cristianismo e direcionada pelo Ratio Studiorum (conjunto de regras e métodos educacionais que regia as práticas 7 pedagógicas dos jesuítas) e que tinha como finalidade difundir a fé cristã e converter os nativos ao cristianismo. A educação oferecida pelos colégios jesuítas aos filhos dos colonos portugueses era diferente da educação dada aos curumins, a estes era ministrada uma espécie de aculturação. Com a chegada de D. João VI ao Brasil em 1808, o Brasil se tornou sede da coroa portuguesa e algumas medidas foram implantadas no campo da educação, como a criação da Biblioteca Real, do Museu Nacional e de várias faculdades na área de Medicina, Engenharia, Direito e Artes, dentre outras que deram uma nova roupagem à educação brasileira. No entanto, esse incentivo dado à educação superior só contemplou a classe aristocrática que não precisava mais enviar seus filhos para estudar na universidade de Coimbra ou Lisboa. Os demais níveisde ensino continuaram esquecidos pelo governo, reforçando o caráter excludente da educação brasileira. Com a independência do Brasil de Portugal em 1822, Dom Pedro I faz inúmeras promessas de impulsionar a educação no Brasil. Porém, somente em 1824 é criada a primeira Constituição do Brasil, constituição esta que pregoava que a instrução primária seria gratuita a todos: Art. 179. A inviolabilidade dos Direitos Civis, e Politicos dos Cidadãos Brazileiros, que tem por base a liberdade, a segurança individual, e a propriedade, é garantida pela Constituição do Imperio, pela maneira seguinte. XXXII. A Instrucção primaria, e gratuita a todos os Cidadãos. XXXIII. Collegios, e Universidades, aonde serão ensinados os elementos das Sciencias, Bellas Letras, e Artes.” No entanto, logo em seguida que esse direito não era pra todos, de verdade, pois alguns não eram considerados cidadãos. “Art. 6. São Cidadãos Brazileiros I. Os que no Brazil tiverem nascido, quer sejam ingenuos, ou libertos, ainda que o pai seja estrangeiro, uma vez que este não resida por serviço de sua Nação. II. Os filhos de pai Brazileiro, e os illegitimos de mãi Brazileira, nascidos em paiz estrangeiro, que vierem estabelecer domicilio no Imperio. III. Os filhos de pai Brazileiro, que estivesse em paiz estrangeiro em serviço do Imperio, embora elles não venham estabelecer domicilio no Brazil. IV. Todos os nascidos em Portugal, e suas Possessões, que sendo já residentes no Brazil na época, em que se proclamou a Independencia nas Provincias, onde 8 habitavam, adheriram á esta expressa, ou tacitamente pela continuação da sua residencia. V. Os estrangeiros naturalisados, qualquer que seja a sua Religião. A Lei determinará as qualidades precisas, para se obter Carta de naturalisação”. Observar que os escravos não eram considerados cidadãos. O que prevalecia, nesse período, eram as iniciativas privadas e as importações de preceptoras estrangeiras para educar os filhos da elite em suas casas. Enquanto que à população era oferecida uma educação elementar nas raras escolas existentes, nas quais se ensinava apenas ler, escrever e contar. Marques de Pombal, ao expulsar os jesuítas do Brasil, implanta a Aulas Régias, que seria uma escola pública com pretensão pedagógica embasada nas ideias iluministas. A educação, então, passou a ser estabelecida em forma de leis: ensino primário para todos, curso secundário e universidade. As últimas décadas do século XIX foram marcadas por transformações sociais, econômicas, políticas e culturais que resultaram na Abolição da Escravidão em 13 de maio de 1888, seguida pela queda do Império e Proclamação da República pelo Marechal Deodoro da Fonseca em 15 de novembro de 1889, capitaneados por pessoas que estudaram na Europa e voltaram influenciados pelos ideais de liberdade. A República nasceu em um contexto marcado por importantes mudanças sócio- econômicas inéditas na história do país, com o fim da escravidão e a expansão da lavoura cafeeira. Nesse momento, com a chegada dos imigrantes europeus, trabalhadores livres e assalariados, a mão de obra escrava foi substituída pela assalariada, marcando o início de um novo modelo de produção no Brasil. As reformas defendidas no campo educacional, nesse período, contemplaram unicamente o ensino superior e secundário, que ficaram sob responsabilidade da União e estavam destinados à elite, por isso, recebiam maiores investimentos. Enquanto isso, o ensino elementar destinado à população continuava esquecido pelo poder público e suas políticas educacionais excludentes. Num outro momento posterior, no Governo Vargas, a primeira atitude assim que assumiu a presidência em 1930, foi criar o Ministério da Educação e Saúde Pública cargo ocupado por Francisco Campos que realizou a reforma educacional que recebeu seu nome. Essa reforma teve um importante papel na organização nacional do ensino, 9 estruturação das Universidades e criação do Conselho Nacional de Educação. Nesse período, promulga-se a Constituição de 1934, na qual a Educação aparece pela primeira vez na História do Brasil como direito de todos e dever da família e dos poderes públicos. No período denominado de Nova Republica (1940 a 1963) a educação formal no Brasil passou por grandes debates. Assim, destaca-se a Lei nº 4.024, de 1961 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) e, em 1962, a criação do Plano Nacional de Educação, inspirados no método Paulo Freire. Com o golpe militar em 1964 todas as tentativas de expansão da educação foram minimizadas. (PICKLER E ROCHA, 2011) Saviani (2004) faz uma análise da trajetória da escola pública em três períodos distintos, pontuando momentos especiais, ficando da seguinte forma: Período Características 1890 a 1931 A escola seria a solução para os problemas sociais da nação, com a instalação e manutenção de escolas em todos os Estados do Brasil. Instalam-se escolas-modelo de 2º e 3º graus, copiando experiências de países como Estados Unidos e outros da Europa. Esses modelos permeavam ideias como: 1) educação pública como elemento de progresso; 2) instrução primária bem difundida e convenientemente ensinada; 3) professores bem preparados e instruídos nos processos modernos da pedagogia. Para bem preparar professores para o ensino primários foram criadas escolas de formação. 1931 a 1961 Regulamentação Nacional do Ensino, por meio de Decretos: criação do Conselho Nacional de Educação, que regulamenta e organiza o Ensino Superior com o “regime universitário”; que organiza o ensino secundário; que organiza o ensino comercial e a profissão de contador dentre outras. Não houve preocupação com o ensino primário. Nesse período ainda não se tem a intenção de um sistema público de educação para as massas, ou nem mesmo as formas jurídicas de tais. O processo de educação brasileiro fica relegado às famílias e ao seu personalismo. A reforma do ensino primário fundamental destinado a crianças de 7 a 12 anos; o ensino primário supletivo com dois anos de duração para adolescentes e adultos que ficaram fora da escola na idade adequada; o ensino médio com 4 anos. O ensino secundário profissional foi dividido em industrial, agrícola, comercial e o normal que preparava para a prática docente com crianças. 1961 a 1996 Nos anos de 1960, com tantas reformas, a pedagogia fervilha. São criados colégios de aplicação, ginásios vocacionais, a Lei nº 4.024, de 1961 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional). Ensino pré-primário de sete anos, ensino primário de quatro a seis 10 anos; divisão do ensino médio em ginasial de quatro anos e colegial de três anos; ensino superior; Diversificação dos conteúdos curriculares com matérias obrigatórias. Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1996 é considerada a Carta Magna da Educação brasileira. 1.2 A educação nas Constituições Federais A legislação mais importante do país, a Carta Magna, a Constituição Federal (CF), nas suas várias versões, também foi evoluindo com a dinâmica da sociedade, incluindo entre os diversos temas, a educação. Vieira (2007) faz uma importante coleta de dados e informações sobre as constituições, abordando especialmente a trajetória da educação, bem como o contexto político de cada época. Vejamos: Constituição de 1824 Constituição de mais longa vigência em toda a história das constituições brasileiras, (65 anos). A primeira Carta Magna brasileira traz apenas dois parágrafos de um único artigo sobre a educação. Ao tratar da "inviolabilidade dos direitos civis e políticos dos cidadãosbrasileiros", estabelece que "A instrução primária é gratuita a todos os cidadãos" (art. 179, § 32). A segunda referência diz respeito aos "Colégios e universidades, onde serão ensinados os elementos das ciências, belas letras e artes" (art. 179, § 33). A presença desses dois únicos dispositivos sobre o tema no texto de 1824 é um indicador da pequena preocupação suscitada pela matéria educativa naquele momento político. É de se ressaltar, entretanto, a referência à idéia de gratuidade da instrução primária para todo. Constituição de 1891 Como signo fundante da República, traz inscrita em seu texto a bandeira da laicidade, assim como a separação entre os poderes. A nova Carta Magna define como atribuição do Congresso Nacional "legislar sobre [...] o ensino superior e os demais serviços que na capital forem reservados para o Governo da União" (art. 34, inciso 30); as atribuições da União em matéria de educação: o ensino superior no País e a instrução primária e secundária no Distrito Federa e Estados. Constituição de 1934 Momento rico para a educação, com vários Estados deflagrando reformas (Ceará, Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais). Cria-se o Ministério de Educação e Saúde (1930). A Carta de 1934 é a primeira a dedicar espaço significativo à 11 educação, com 17 artigos. Em linhas gerais, mantém a estrutura anterior do sistema educacional, cabendo à União "traçar as diretrizes da educação nacional" (art. 5º, XIX) e a organização e manutenção de sistemas educativos permanecem com os Estados e o Distrito Federal (art. 151). Entre as normas estabelecidas estão o "ensino primário integral e gratuito e de freqüência obrigatória extensivo aos adultos e tendências à gratuidade do ensino ulterior ao primário, a fim de o tornar mais acessível" (art. 150, parágrafo único, "a" e "b"). A proibição do voto aos analfabetos (art. 108). Finalmente, vale citar dispositivos relativos ao magistério: a isenção de impostos para a profissão de professor (art. 113, inciso 36) e a exigência de concurso público como forma de ingresso ao magistério oficial (art. 158). Constituição de 1937 O dever do Estado para com a educação é colocado em segundo plano, sendo-lhe atribuída uma função compensatória na oferta escolar destinada à "infância e à juventude, a que faltarem os recursos necessários à educação em instituições particulares" (art. 129). Nesse contexto, o "ensino pré-vocacional e profissional destinado às classes menos favorecidas" é compreendido como "o primeiro dever do Estado" em matéria de educação (art. 129). Ideia de gratuidade da Constituição de 1934 o texto de 1937 contrapõe uma concepção estreita e empobrecida. Embora estabeleça que "o ensino primário é obrigatório e gratuito" (art. 130) Constituição de 1946 Os anos quarenta caracterizam-se por reformas educacionais que passariam à história como as Leis Orgânicas do Ensino. Também durante este período é criado o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai). Também é instituído o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac). Estabelecida a competência da União para "legislar sobre as diretrizes e bases da educação nacional" (art. 5º, XV). "O ensino primário oficial é gratuito para todos: o ensino oficial ulterior ao primário sê-lo-á para quantos provarem falta ou insuficiência de recursos" (art. 168, II). Entre outros dispositivos a destacar no texto de 1946, cabe lembrar ainda a novidade da vinculação de recursos para a educação, estabelecendo que a União deva aplicar nunca menos de 10% e Estados, Municípios e Distrito Federal, nunca menos de 20% das receitas resultantes de impostos na "manutenção e desenvolvimento do ensino" (art. 169). Constituição de 1967 Concebida a reforma do ensino superior (Lei nº 5.540/68). Depois toma corpo a reforma da educação básica, que fixa as diretrizes e bases para o ensino de 1° e 2° graus (Lei nº 5.692/71). A reforma do ensino de 1° e 2° graus, por sua vez, pretende atingir um duplo objetivo: de um lado, conter a crescente demanda sobre o ensino superior; de outro, promover a profissionalização de nível médio. Permanece o ensino primário em língua nacional e a obrigatoriedade e a gratuidade do ensino primário. O ensino religioso, de matrícula facultativa como "disciplina dos horários normais das escolas oficiais de grau primário e médio (art. 176, § 3°, V). Inserido "o dever do Estado" (art. 176) à noção de educação como "direito de todos". Vale registrar o flagrante retrocesso representado pela desvinculação dos recursos para a educação. Enquanto pela Constituição de 1946, a União estaria obrigada a aplicar "nunca menos 12 de dez por cento, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios nunca menos de vinte por cento da renda resultante dos impostos na manutenção e desenvolvimento do ensino" (art. 169), na Carta de 1967 tal obrigação desaparece Constituição de 1988 A Constituição de 1988 é a mais extensa de todas em matéria de educação, sendo detalhada em dez artigos específicos (arts. 205 a 214). Outras conquistas asseguradas são: a educação como direito público subjetivo (art. 208, § 1º), e direito de todos (Art. 205), o princípio da gestão democrática do ensino público (art. 206, VI), o dever do Estado em prover creche e pré-escola às crianças de 0 a 5 anos de idade (art. 208, IV), a oferta de ensino noturno regular (art. 208, VI), o ensino fundamental obrigatório e gratuito, inclusive aos que a ele não tiveram acesso em idade própria (art. 208, I), o atendimento educacional especializado aos portadores de deficiências (art. 208, III), "gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais"; a "valorização dos profissionais do ensino, garantido, na forma da lei, plano de carreira para o magistério público, com piso salarial profissional e ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos, assegurado regime jurídico único para todas as instituições mantidas pela União"; e a "garantia de padrão de qualidade" (art. 206, II, III, IV, V e VII). Mantém-se a abertura de transferir recursos públicos ao ensino privado. As instituições passíveis de recebê-los são "escolas comunitárias, confessionais ou filantrópicas", as quais devem comprovar "finalidade não lucrativa" e aplicação de "excedentes financeiros em educação", assim como assegurar "a destinação de seu patrimônio a outra escola comunitária, filantrópica ou confessional, ou ao poder público, no caso de encerramento de suas atividades" (art. 212, I e II). A concessão de tais benefícios pode ser feita por meio de bolsas de estudo para o ensino fundamental e médio, na forma da lei (art. 212, § 1º). Concluindo o mapeamento das questões relativas à educação na Carta de 1988, cabe ainda mencionar a previsão de lei para estabelecer o plano nacional de educação (art. 214), assim como a concentração de esforços do Poder Público na eliminação do analfabetismo e na universalização do ensino fundamental Ao final, pode-se inferir que, o papel da educação nas Constituições Federais foi conforme a sua menor ou maior importância na história do Brasil. É um reflexo da sociedade de cada época, desejos e exigências, correndo paralelo a própria história do Brasil, de país colônia para República. Na CF atual, documento no qual houve mais contemplação da educação, ainda é possível ver situações não tão bem definidas, mas representa grandes conquistas, notadamente no ensino público de base. 13 1.3 As Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) foi citada pela primeira vez na Constituição Federal de1934 e foi criada com a missão de ordenar o Sistema Educacional Brasileiro. Desde então, três versões foram promulgadas: a primeira em 1961, Lei n. 4.024, de 20 de dezembro de 1961, a segunda em 1971, Lei n. 5.692, de 11 de agosto de 1971, e a última, que está em vigor, a Lei n. 9.394 de 20 de dezembro de 1996. O período de formulação da LDB de 1961 e sua tramitação política se deu entre os anos de 1947 e 1961 à sombra de um exasperado conflito de interesses envolvendo de um lado os liberais escolanovistas, que defendiam a escola pública e a centralização do processo educativo pela União e, por outro, os católicos, cuja defesa era a escola privada e a não interferência do estado nos negócios educacionais Foram necessários 13 anos de debate (1948 a 1961) para a aprovação da primeira LDB, Lei n. 4.024, de 20 de dezembro de 1961. O ensino religioso facultativo nas escolas públicas foi um dos pontos de maior disputa para a aprovação da lei. O pano de fundo era a separação entre o Estado e a Igreja. Destaca-se nesta primeira versão, a base curricular dos três graus de ensino por ela consignados: o primário, o médio e o superior. A finalidade do grau primário seria o desenvolvimento do raciocínio e das atividades de expressão da criança e a sua integração no meio físico e social, com um mínimo de 4 séries anuais subsequentes e interdependentes. A língua oficial era a nacional e foi estabelecida a obrigatoriedade de que todas as crianças ingressassem em turmas regulares a partir dos sete anos. Em prosseguimento à educação recebida na escola primária era oferecido o ensino de grau médio, que destinado à formação dos adolescentes compreendia dois ciclos: o ginasial e o colegial. O sistema educacional brasileiro, então, foi formulado na primeira LDB de acordo com a seguinte terminologia: grau primário, constituído por escolas maternais, jardins de infância e ensino primário de quatro anos; grau médio, compreendendo dois ciclos, o ginasial de quatro anos que abrangia o secundário e os cursos técnico- industrial, agrícola e comercial, vindo depois o ciclo colegial de três anos, com as modalidades de clássico e científico que complementavam o secundário, bem como as formações que finalizavam o primeiro ciclo de natureza técnica, além do curso normal 14 voltado para a formação de professores; e grau superior, compreendendo os cursos de graduação, pós-graduação, especialização, aperfeiçoamento e extensão. A educação no Brasil, em 1971, se vê diante de uma nova LDB. O ensino passa a ser obrigatório dos sete aos catorze anos. A segunda versão LDB de 71 fixou as Diretrizes e Bases para o ensino de 1° e 2° graus e estendeu o ensino de primeiro grau para 8 anos, tendo como objetivo, no que tange ao 2° grau, a formação integral do adolescente. O ensino primário e médio, por sua vez, foi reformado pela lei n° 5.692/71, que alterou a sua denominação para ensino de primeiro e segundo graus. Extensão da escolaridade obrigatória, compreendendo agora todo o denominado ensino de 1° grau, junção do primário com o ginásio e a generalização do ensino profissionalizante no nível médio ou 2° grau. No que tange ao currículo, a LDB de 71 determina currículos do ensino de 1º e 2º graus possuindo núcleo comum obrigatório em âmbito nacional, e uma parte diversificada para atender, conforme as necessidades e possibilidades concretas, às peculiaridades locais aos planos dos estabelecimentos e às diferenças individuais dos alunos. Assim, a parte de formação especial do currículo, tinha como objetivo a sondagem de aptidões e iniciação para o trabalho, no ensino de 1° grau e de habilitação profissional, no ensino de 2º grau A reforma universitária, em 1968, foi um marco importante para a LDB do ensino superior, assegurando autonomia didático-científica, disciplinar, administrativa e financeira às universidades. A reforma representou um avanço na educação superior brasileira, ao instituir um modelo organizacional único para as universidades públicas e privadas. Em 1996, surge a terceira versão, que é a LDB vigente, que busca descentralizar e flexibilizar os processos educacionais no país. Surgiu também nesta década no Brasil uma nova forma de aprendizagem, a corporativa, com ensino técnico e superior em nível de graduação e pós-graduação voltada para a missão e objetivos organizacionais, a fim de personalizar os cursos à realidade empresarial. A LDB de 1996 parametrizou a educação regular em dois níveis: educação básica composta pela educação infantil, ensino fundamental e médio; e, a educação superior responsável pela graduação e as pós-graduações (aperfeiçoamento, especialização, mestrado e doutorado). A educação básica tem por finalidades desenvolver o educando, assegurando a formação para o exercício da cidadania e meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores, conforme apregoa a LDB de 1996. 15 Nesse sistema de ensino educacional brasileiro é ressaltado que não devem ser esquecidos os aspectos culturais, regionais e locais, da realidade do indivíduo na sua formação. Neste sentido, a Educação Básica ultrapassa as fronteiras dos níveis Infantil, Fundamental e Médio, para incluir a Educação Profissional Técnica de Nível Médio e a Educação de Jovens e Adultos, a Educação indígena, Especial, entre outros. Outro aspecto a sublinhar do Ensino Regular é o enquadramento da Educação Especial, que deve ser oferecida pela rede regular de ensino aos portadores de necessidades especiais (LDB, 1996). 1.4 Plano Nacional de Educação As origens do Plano Nacional de Educação (PNE) vem desde 1934. Mas somente em 1962, surgiu o primeiro PNE, não sob a forma de lei, mas como uma iniciativa do Ministério da Educação e Cultura, aprovada pelo Conselho Federal de Educação. Esse plano foi objeto de revisões, conforme assinalaria mais tarde a Lei nº 10.172/2001, primeiro PNE aprovado por lei: era basicamente um conjunto de metas quantitativas e qualitativas a serem alcançadas num prazo de oito anos. Em 1965, sofreu uma revisão, quando foram introduzidas normas descentralizadoras e estimuladoras da elaboração de planos estaduais. Em 1966, uma nova revisão, que se chamou Plano Complementar de Educação, introduziu importantes alterações na distribuição dos recursos federais, beneficiando a implantação de ginásios orientados para o trabalho e o atendimento de analfabetos com mais de dez anos A Constituição seguinte, de 1988, previu expressamente o estabelecimento do PNE por lei. E, alguns anos depois, a LDB (Lei nº 9.394/1996) dispôs que a União deveria elaborar o PNE, em colaboração com os estados, o Distrito Federal e os 16 municípios e, no prazo de um ano, encaminhá-lo ao Congresso Nacional, com suas diretrizes e metas para os dez anos seguintes, em sintonia com a Declaração Mundial sobre Educação para Todos Pela primeira vez, o Plano Nacional de Educação era instituído por lei – a Lei nº 10.172, de 9 de janeiro de 2001, que vigorou de 2001 a 2010. Com isso, responsabilidade jurídica foi gerada e as ações para o alcance das metas passaram a ser exigíveis. Durante a elaboração do primeiro PNE, as discussões envolveram o governo federal, os parlamentares e os “interlocutores prioritários” – União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (UNDIME), Conselho Nacional de Secretários de Educação (CONSED) e Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE). O processo do segundo PNE seguiu esse padrão de discussão e mobilização. A Campanha Nacional pelo Direito à Educação, mais uma vez, constituiu um submovimento – o “PNE pra Valer!”. Outros atores ocuparam esse cenário, como o movimento Todospela Educação, fundado em 2008, e a Fineduca, Associação Nacional de Pesquisa em Financiamento da Educação, fundada em 2011. Em suma, diversos segmentos, com velhos e novos atores, frequentemente com visões, interesses e propostas distintas e conflitantes, passaram a se preocupar com uma participação mais qualificada nos debates e na proposição de políticas educacionais. Originalmente, o PNE seria plurianual, mas a Emenda Constitucional (EC) nº 59/2009 melhor qualificou o papel do PNE, ao estabelecer sua duração como decenal e aperfeiçoar seu objetivo: articular o sistema nacional de educação em regime de colaboração e definir diretrizes, objetivos, metas e estratégias de implementação para assegurar a manutenção e desenvolvimento do ensino, em seus diversos níveis, etapas e modalidades, por meio de ações integradas das diferentes esferas federativas O PNE determina diretrizes, metas e estratégias para a política educacional dos próximos dez anos. O Ministério da Educação divide em três grupos de metas: 17 Primeiro grupo - são metas estruturantes para a garantia do direito à educação básica com qualidade, e que assim promovam a garantia do acesso, à universalização do ensino obrigatório e à ampliação das oportunidades educacionais. Segundo grupo - metas que dizem respeito especificamente à redução das desigualdades e à valorização da diversidade, caminhos imprescindíveis para a equidade. Terceiro grupo – trata da valorização dos profissionais da educação, considerada estratégica para que as metas anteriores sejam atingidas Quarto grupo – refere-se ao ensino superior. No ano de 2001, foi aprovado o primeiro PNE, cuja lei foi originada de uma pressão social, com forte participação de entidades constituídas por educadores, pais de alunos e estudantes, com objetivo de num período de 10 anos, ou seja, de 2001 a 2010, dentre outras metas (BATISTA, 2014): 1) Ensino Fundamental de 9 anos (cumprido); 2) Atendimento de 50% da população de jovens e adultos sem ensino regular(apenas um terço de mais de 29 milhões de jovens e adultos que em 2010 não haviam chegado à 4ª. série); 3) Reduzir a repetência e o abandono em 50%(quanto ao abandono o resultado foi positivo, pois caiu de 9,6 para 4,8%. Quanto a reprovação aumentou de 11 para 12%): 4) Erradicar o analfabetismo (apenas caiu 3%, passando 13 para 10% da população); 5) Piso salarial e planos de carreira para professores (o piso foi estabelecido apenas em 2009. Considerado ainda muito baixo para uma carga horária de 40 horas. Alguns Estados já vem cumprindo essa meta, mas ainda encontram barreiras nas assembleias estaduais e câmaras municipais); 6) Aprimorar o sistema de avaliação(Essa meta foi atingida, destacando-se o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica-IDEB). Em sua edição para o decênio 2011-2020, o PNE traz entre suas diretrizes e metas: 18 Fonte: PNE, 2014 19 20 1.5 A criação e evolução do Ministério da Educação O Ministério da Educação foi criado em 1930, logo após a chegada de Getúlio Vargas ao poder. Com o nome de Ministério da Educação e Saúde Pública, a instituição desenvolvia atividades pertinentes a vários ministérios, como saúde, esporte, educação e meio ambiente. Até então, os assuntos ligados à educação eram tratados pelo Departamento Nacional do Ensino, ligado ao Ministério da Justiça. 21 Em 1932, um grupo de intelectuais preocupado em elaborar um programa de política educacional amplo e integrado lança o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, redigido por Fernando de Azevedo e assinado por outros conceituados educadores, como Anísio Teixeira. O manifesto propunha que o Estado organizasse um plano geral de educação e definisse a bandeira de uma escola única, pública, laica, obrigatória e gratuita. Nessa época, a igreja era concorrente do Estado na área da educação. Foi em 1934, com a nova Constituição Federal, que a educação passa a ser vista como um direito de todos, devendo ser ministrada pela família e pelos poderes públicos. De 1934 a 1945, o então ministro da Educação e Saúde Pública, Gustavo Capanema Filho, promove uma gestão marcada pela reforma dos ensinos secundário e universitário. Nessa época, o Brasil já implantava as bases da educação nacional. Até 1953, foi Ministério da Educação e Saúde. Com a autonomia dada à área da saúde, surge o Ministério da Educação e Cultura, com a sigla MEC. O sistema educacional brasileiro até 1960 era centralizado e o modelo era seguido por todos os estados e municípios. Com a aprovação da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), em 1961, os órgãos estaduais e municipais ganharam mais autonomia, diminuindo a centralização do MEC. Em 1985, é criado o Ministério da Cultura. Em 1992, uma lei federal transformou o MEC no Ministério da Educação e do Desporto e, somente em 1995, a instituição passa a ser responsável apenas pela área da educação. Uma nova reforma na educação brasileira foi implantada em 1996. Trata-se da mais recente LDB, que trouxe diversas mudanças às leis anteriores, com a inclusão da educação infantil (creches e pré-escola). A formação adequada dos profissionais da educação básica também foi priorizada com um capítulo específico para tratar do assunto. Ainda em 1996, o Ministério da Educação criou o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef) para atender ao Ensino Fundamental. Os recursos para o Fundef vinham das receitas dos impostos e das transferências dos estados, do Distrito Federal e dos municípios vinculados à educação. O Fundef vigorou até 2006, quando foi substituído pelo Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb). Agora, toda a educação básica, da creche ao ensino médio, passa a ser 22 beneficiada com recursos federais. Um compromisso da União com a educação básica, que se estenderá até 2020. É nessa trajetória de quase 80 anos que o Ministério da Educação busca promover ensino de qualidade. Com o lançamento do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), em 2007, o MEC vem reforçar uma visão sistêmica da educação, com ações integradas e sem disputas de espaços e financiamentos. No PDE, investir na educação básica significa investir na educação profissional e na educação superior. A construção dessa unidade só será possível com a participação conjunta da sociedade. Com o envolvimento de pais, alunos, professores e gestores, a educação se tornará um compromisso e uma conquista de todos. O Ministério da Educação, órgão da administração federal direta, tem como área de competência os seguintes assuntos: I - política nacional de educação; II - educação infantil; III - educação em geral, compreendendo ensino fundamental, ensino médio, ensino superior, educação de jovens e adultos, educação profissional, educação especial e educação a distância, exceto ensino militar; IV - avaliação, informação e pesquisa educacional; V - pesquisa e extensão universitária; VI - magistério; e VII - assistência financeira a famílias carentes para a escolarização de seus filhos ou dependentes. 23 UNIDADE II EDUCAÇÃO BÁSICA NO BRASIL 2.1 Estrutura e Organização do Ensino no Brasil Com o desenvolvimento da humanidade, passaram a surgir instituições específicas dedicadas ao ensino: as escolas, que, com o tempo, passaram a ser o ambiente principal do processo educativo na sociedade, sem queas demais instituições sociais, como a família, a igreja e as organizações sociais em geral, deixassem de ter um papel muito importante na educação das pessoas. Ao conjunto de escolas é dado o nome de Sistema Escolar ou de Ensino, no Brasil, tanto pública quanto particular, de diferentes níveis, leigas ou confessionais, vinculadas à cultura brasileira, sob as diretrizes constitucionais e leis nacionais e intencionalmente visam alcançar objetivos instituídos para a nação brasileira. Para o bom funcionamento desse imenso conjunto de escolas, existe também ampla legislação, seguindo da esfera federal, estadual e municipal. Esferas essas que contam, também, com suas próprias hierarquias legislativas. Como visto anteriormente, o atual Sistema Educacional Brasileiro está organizado em Educação Básica e Educação Superior. Este documento irá contemplar e detalhar apenas a Educação Básica. Quanto às etapas correspondentes aos diferentes momentos constitutivos do desenvolvimento educacional, a Educação Básica compreende: I – a Educação Infantil, que compreende: a Creche, englobando as diferentes etapas do desenvolvimento da criança até 3 (três) anos e 11 (onze) meses; e a Pré-Escola, com duração de 2 (dois) anos, a partir dos 4 (quatro) anos. II – o Ensino Fundamental, obrigatório e gratuito, com duração de 9 (nove) anos, é organizado e tratado em duas fases: a dos 5 (cinco) anos iniciais e a dos 4 (quatro) anos finais; III – o Ensino Médio, com duração mínima de 3 (três) anos. 24 Estas etapas e fases têm previsão de idades próprias, as quais, no entanto, são diversas quando se atenta para alguns pontos como atraso na matrícula e/ou no percurso escolar, repetência, retenção, retorno de quem havia abandonado os estudos, estudantes com deficiência, jovens e adultos sem escolarização ou com esta incompleta, habitantes de zonas rurais, indígenas e quilombolas, adolescentes em regime de acolhimento ou internação, jovens e adultos em situação de privação de liberdade nos estabelecimentos penais. Ilustrativamente, a Educação Básica é formada: Fonte: crescercomunicando.blogspot Educação Básica Educação Infantil Ensino Fundamental Ensino Médio Objetivos da Educação Básica o desenvolvimento do aluno preparação para o exercício da cidadania qualificação para o mercado de trabalho. 25 Um dos grandes objetivos com a criação dessa estrutura foi fazer com que as pessoas passassem mais tempo frequentando os bancos escolares, demonstrando que a formação básica do cidadão só se daria ao final do Ensino Médio, diferentemente da situação que ocorria nas estruturas anteriores a LDB de 1996, o que facilitava a evasão entre esses diferentes níveis. Administrativamente, a Educação Nacional está dividida entre as três esferas de governo: federal, estadual e municipal. Cabe a elas, além de cuidar de seus próprios sistemas de ensino, agir de forma coordenada. Na esfera federal, alguns órgãos formulam, avaliam e acompanham a política nacional de educação, bem como zelar pela qualidade do ensino e velar pelo cumprimento das leis que o regem. O principal órgão é o Ministério da Educação - MEC, já visto anteriormente, que tem como principal função formular e avaliar a Política Nacional de Educação. Outro órgão federal é o Conselho Nacional de Educação – CNE, dividido em 2 câmaras, Câmara de Educação Básica e Câmara de Ensino Superior, que deliberam sobre seus respectivos níveis de ensino. 2.2 Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica Neste documento didático-pedagógico, serão apresentadas as novas Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica. São estas diretrizes que estabelecem a base nacional comum, responsável por orientar a organização, articulação, o desenvolvimento e a avaliação das propostas pedagógicas de todas as redes de ensino brasileiras. A necessidade da atualização das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) surgiu da constatação de que as várias modificações – como o Ensino Fundamental de nove anos e a obrigatoriedade do ensino gratuito dos quatro aos 17 anos de idade – deixaram as anteriores defasadas. Estas mudanças ampliaram consideravelmente os direitos à educação das nossas crianças e adolescentes e também de todos aqueles que não tiveram oportunidade de estudar quando estavam nessa fase da vida. Diante dessa nova realidade e em busca de subsídios para a formulação de Novas Diretrizes Curriculares Nacionais, a Câmara da Educação Básica do Conselho Nacional de Educação promoveu uma série de estudos, debates e audiências públicas, com a anuência e participação das entidades representativas dos dirigentes estaduais e 26 municipais, professores e demais profissionais da educação, instituições de formação de professores, mantenedoras do ensino privado e de pesquisadores da área. A necessidade de definição de Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica surgiu pela emergência da atualização das políticas educacionais que consubstanciem o direito de todo brasileiro à formação humana e cidadã e à formação profissional, na vivência e convivência em ambiente educativo. As Diretrizes por objetivos: I – sistematizar os princípios e diretrizes gerais da Educação Básica contidos na Constituição, na LDB e demais dispositivos legais, traduzindo-os em orientações que contribuam para assegurar a formação básica comum nacional, tendo como foco os sujeitos que dão vida ao currículo e à escola; II – estimular a reflexão crítica e propositiva que deve subsidiar a formulação, execução e avaliação do projeto político-pedagógico da escola de Educação Básica; III – orientar os cursos de formação inicial e continuada de profissionais – docentes, técnicos, funcionários – da Educação Básica, os sistemas educativos dos diferentes entes federados e as escolas que os integram, indistintamente da rede a que pertençam. Nesse sentido, as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica visam estabelecer bases comuns nacionais para a Educação Infantil, o Ensino Fundamental e o Ensino Médio, bem como para as modalidades com que podem se apresentar, a partir das quais os sistemas federal, estaduais, distrital e municipais, por suas competências próprias e complementares, formularão as suas orientações assegurando a integração curricular das três etapas sequentes desse nível da escolarização, essencialmente para compor um todo orgânico. Em relação às atribuições e responsabilidades, no tocante à Educação Básica, é relevante destacar que, entre as incumbências prescritas pela LDB aos Estados e ao Distrito Federal, está assegurar o Ensino Fundamental e oferecer, com prioridade, o Ensino Médio a todos que o demandarem. E ao Distrito Federal e aos Municípios cabe oferecer a Educação Infantil em Creches e Pré-Escolas, e, com prioridade, o Ensino Fundamental, e à União estabelecer, em colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os municípios, competências e diretrizes para a Educação Infantil, o Ensino Fundamental e o Ensino Médio, que nortearão os currículos e seus conteúdos mínimos, de modo a assegurar formação básica comum (BRASIL, 2010) 27 Nesse sentido, as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica visam estabelecer bases comuns nacionais para a Educação Infantil, o Ensino Fundamental e o Ensino Médio, bem como para as modalidades com que podem se apresentar, a partir das quais os sistemas federal, estaduais, distrital e municipais, por suas competências próprias e complementares, formularão as suas orientações assegurandoa integração curricular das três etapas sequentes desse nível da escolarização, essencialmente para compor um todo orgânico. Por exemplo, em relação ao Ensino Fundamental e Médio, a LDB definiu princípios e objetivos curriculares gerais para sob os aspectos: I – duração: anos, dias letivos e carga horária mínimos; II – uma base nacional comum; III – uma parte diversificada. Entende-se por base nacional comum, na Educação Básica, os conhecimentos, saberes e valores produzidos culturalmente, expressos nas políticas públicas e que são gerados nas instituições produtoras do conhecimento científico e tecnológico; no mundo do trabalho; no desenvolvimento das linguagens; nas atividades desportivas e corporais; na produção artística; nas formas diversas e exercício da cidadania; nos movimentos sociais, que assim se traduzem: I – na Língua Portuguesa; II – na Matemática; III – no conhecimento do mundo físico, natural, da realidade social e política, especialmente do Brasil, incluindo-se o estudo da História e Cultura Afro- Brasileira e Indígena, IV – na Arte em suas diferentes formas de expressão, incluindo-se a música; V – na Educação Física; VI – no Ensino Religioso. Na organização da matriz curricular, serão observados os critérios: I – de organização e programação de todos os tempos (carga horária) e espaços curriculares (componentes), em forma de eixos, módulos ou projetos, tanto no que se refere à base nacional comum, quanto à parte diversificada, sendo que a definição de tais eixos, módulos ou projetos deve resultar de amplo e verticalizado debate entre os atores sociais atuantes nas diferentes instâncias educativas; 28 II – de duração mínima anual de 200 (duzentos) dias letivos, com o total de, no mínimo, 800 (oitocentas) horas, recomendada a sua ampliação, na perspectiva do tempo integral, sabendo-se que as atividades escolares devem ser programadas articulada e integradamente, a partir da base nacional comum enriquecida e complementada pela parte diversificada, ambas formando um todo; III – da interdisciplinaridade e da contextualização, que devem ser constantes em todo o currículo, propiciando a interlocução entre os diferentes campos do conhecimento e a transversalidade do conhecimento de diferentes disciplinas, bem como o estudo e o desenvolvimento de projetos referidos a temas concretos da realidade dos estudantes; IV – da destinação de, pelo menos, 20% do total da carga horária anual ao conjunto de programas e projetos interdisciplinares eletivos criados pela escola, previstos no projeto pedagógico, de modo que os sujeitos do Ensino Fundamental e Médio possam escolher aqueles com que se identifiquem e que lhes permitam melhor lidar com o conhecimento e a experiência. Tais programas e projetos devem ser desenvolvidos de modo dinâmico, criativo e flexível, em articulação com a comunidade em que a escola esteja inserida; V – da abordagem interdisciplinar na organização e gestão do currículo, viabilizada pelo trabalho desenvolvido coletivamente, planejado previamente, de modo integrado e pactuado com a comunidade educativa; VI – de adoção, nos cursos noturnos do Ensino Fundamental e do Médio, da metodologia didático-pedagógica pertinente às características dos sujeitos das aprendizagens, na maioria trabalhadores, e, se necessário, sendo alterada a duração do curso, tendo como referência o mínimo correspondente à base nacional comum, de modo que tais cursos não fiquem prejudicados; VII – do entendimento de que, na proposta curricular, as características dos jovens e adultos trabalhadores das turmas do período noturno devem ser consideradas como subsídios importantes para garantir o acesso ao Ensino Fundamental e ao Ensino Médio, a permanência e o sucesso nas últimas séries, seja em curso de tempo regular, seja em curso na modalidade de Educação de Jovens e Adultos, tendo em vista o direito à frequência a uma escola que lhes dê uma formação adequada ao desenvolvimento de sua cidadania; 29 VIII – da oferta de atendimento educacional especializado, complementar ou suplementar à formação dos estudantes público-alvo da Educação Especial, previsto no projeto político-pedagógico da escola. A título de conhecimento e para uma visão inicial do que compõe o documento As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica, estão listados abaixo os tópicos abordados, relativos à educação brasileira Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) Ensino Fundamental de 9 (nove) anos Ensino Médio Jovens e adultos em situação de privação de liberdade nos estabelecimentos penais Modalidade Educação Especial Educação do Campo Educação Profissional Técnica de Nível Médio Educação Escolar Quilombola Educação Escolar Crianças, adolescentes e jovens em situação de itinerância Educação Escolar Indígena Diretrizes Operacionais para a EJA Revisão das DCN para a Educação Infantil 30 2.2.1 Educação Infantil A concepção que se tem hoje de infância como uma etapa de nossas vidas simplesmente não existia. Essa concepção, esse olhar diferenciado sobre a criança teria começado a se formar com o fim da Idade Média, sendo inexistente na sociedade desse período: as crianças eram “adultos em miniaturas” à espera de adquirir a estatura normal. Áries (1978) apud Mathias e Paula (2009) diz que o olhar diferenciado em relação a criança não é algo comum na Idade Média, o sentimento de família começa a se desenvolver a partir dos séculos XV e XVI, a família em si não existia. O que se observa nessa época é a família como algo público, onde a intimidade não era preservada. A idéia de creche surge na Europa, no final do século XVIII e início do século XIX, a com a proposta de guardar crianças de 0 a 3 anos, durante o período de trabalho das famílias, ou seja, é uma resposta a uma necessidade que surge com o capitalismo e urbanização. No Brasil, é colocado o final do século XIX como data para o surgimento das creches. É importante registrar que, nesse período, as instituições que trabalhavam com crianças tinham caráter filantrópico. A expansão da Educação Infantil tem ocorrido desde o final da década de 1960, na Europa e na América e, no Brasil, a partir de 1970. Os principais fatores são: crescente urbanização, participação e inserção cada vez maior da mulher no mercado de trabalho, luta dos movimentos sociais, nivelamento de oportunidades para reafirmar a Teoria de Privação Cultural, entre outros. No Brasil, somente na década de 90 que a educação infantil foi reconhecida como direito da criança, das famílias, como dever do Estado e como primeira etapa da Educação Básica. Em 1996, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB evidenciou a importância da Educação Infantil, que passou a ser considerada como primeira etapa da Educação Básica. Dessa forma, afirma Machado (2005), o trabalho pedagógico com a criança de 0 a 5 anos adquiriu reconhecimento e ganhou uma dimensão mais ampla no sistema educacional: atender às especificidades do desenvolvimento das crianças dessa faixa etária e contribuir para a construção e o exercício de sua cidadania. 31 Existem alguns dispositivos legais que garantem à criança dessa idade a apropriação da cultura num espaço socializador, acolhedor e, sobretudo, que respeite seu tempo de ser criança, como na legislação vigente Constituição Federal de 1988, Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de nº 9.394 de 1996, que então se constituem objeto deimportante análise, dos quais alguns artigos referem-se estas especificidades As instituições que oferecem Educação Infantil, integrantes dos sistemas de ensino público, são as creches e as pré-escolas, nas quais o publico divide-se pelo critério de faixa etária (zero a três anos na creche e quatro a cinco anos na pré-escola). É obrigatória a matrícula na Educação Infantil de crianças que completam 4 ou 5 anos. As vagas em creches e pré-escolas devem ser oferecidas próximas às residências das crianças. É considerada Educação Infantil em tempo parcial, a jornada de, no mínimo, quatro horas diárias e, em tempo integral, a jornada com duração igual ou superior a sete horas diárias, compreendendo o tempo total que a criança permanece na instituição. A Educação Infantil tem por objetivo o desenvolvimento integral da criança até 5 (cinco) anos de idade, em seus aspectos físico, afetivo, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade. Dizendo de outro modo, nessa etapa deve-se assumir o cuidado e a educação, valorizando a aprendizagem para a conquista da cultura da vida, por meio de atividades lúdicas em situações de aprendizagem (jogos e brinquedos), depositando ênfase: I – na gestão das emoções; II – no desenvolvimento de hábitos higiênicos e alimentares; III – na vivência de situações destinadas à organização dos objetos pessoais e escolares; IV – na vivência de situações de preservação dos recursos da natureza; V – no contato com diferentes linguagens representadas, predominantemente, por ícones – e não apenas pelo desenvolvimento da prontidão para a leitura e escrita –, como potencialidades indispensáveis à formação do interlocutor cultural. 32 fonte: www.atividadesparaprofessores.com.br Para efetivação de seus objetivos, as propostas pedagógicas das instituições de Educação Infantil deverão prever condições para o trabalho coletivo e para a organização de materiais, espaços e tempos que assegurem: (BRASIL, 2010) A educação em sua integralidade, entendendo o cuidado como algo indissociável ao processo educativo; A indivisibilidade das dimensões expressivomotora, afetiva, cognitiva, linguística, ética, estética e sociocultural da criança; A participação, o diálogo e a escuta cotidiana das famílias, o respeito e a valorização de suas formas de organização; O estabelecimento de uma relação efetiva com a comunidade local e de mecanismos que garantam a gestão democrática e a consideração dos saberes da comunidade; O reconhecimento das especificidades etárias, das singularidades individuais e coletivas das crianças, promovendo interações entre crianças de mesma idade e crianças de diferentes idades; Os deslocamentos e os movimentos amplos das crianças nos espaços internos e externos às salas de referência das turmas e à instituição; A acessibilidade de espaços, materiais, objetos, brinquedos e instruções para as crianças com deficiência, transtornos globais de desenvolvimento e altas habilidades/ superdotação; A apropriação pelas crianças das contribuições histórico-culturais dos povos indígenas, afrodescendentes, asiáticos, europeus e de outros países da América. 33 As práticas pedagógicas que compõem a proposta curricular da Educação Infantil devem ter como eixos norteadores as interações e a brincadeira e garantir experiências que: Promovam o conhecimento de si e do mundo por meio da ampliação de experiências sensoriais, expressivas, corporais que possibilitem movimentação ampla, expressão da individualidade e respeito pelos ritmos e desejos da criança; Favoreçam a imersão das crianças nas diferentes linguagens e o progressivo domínio por elas de vários gêneros e formas de expressão: gestual, verbal, plástica, dramática e musical; Possibilitem às crianças experiências de narrativas, de apreciação e interação com a linguagem oral e escrita, e convívio com diferentes suportes e gêneros textuais orais e escritos; Recriem, em contextos significativos para as crianças, relações quantitativas, medidas, formas e orientações espaço temporais; Ampliem a confiança e a participação das crianças nas atividades individuais e coletivas; Possibilitem situações de aprendizagem mediadas para a elaboração da autonomia das crianças nas ações de cuidado pessoal, auto-organização, saúde e bem-estar; Possibilitem vivências éticas e estéticas com outras crianças e grupos culturais, que alarguem seus padrões de referência e de identidades no diálogo e conhecimento da diversidade; Incentivem a curiosidade, a exploração, o encantamento, o questionamento, a indagação e o conhecimento das crianças em relação ao mundo físico e social, ao tempo e à natureza; Promovam o relacionamento e a interação das crianças com diversificadas manifestações de música, artes plásticas e gráficas, cinema, fotografia, dança, teatro, poesia e literatura; Promovam a interação, o cuidado, a preservação e o conhecimento da biodiversidade e da sustentabilidade da vida na Terra, assim como o não desperdício dos recursos naturais; Propiciem a interação e o conhecimento pelas crianças das manifestações e tradições culturais brasileiras; Possibilitem a utilização de gravadores, projetores, computadores, máquinas fotográficas, e outros recursos tecnológicos e midiáticos. 34 Fonte: www.novaescola.com.br 2.2.2 Ensino Fundamental De acordo com as DCN, o Ensino Fundamental de 9 (nove) anos tem duas fases com características próprias, chamadas de: anos iniciais, com 5 (cinco) anos de duração, em regra para estudantes de 6 (seis) a 10 (dez) anos de idade; e anos finais, com 4 (quatro) anos de duração, para os de 11 (onze) a 14 (quatorze) anos. A carga horária mínima anual do Ensino Fundamental regular será de 800 (oitocentas) horas relógio, distribuídas em, pelo menos, 200 (duzentos) dias de efetivo trabalho escolar. O Ensino Fundamental é de matrícula obrigatória para as crianças a partir dos 6 (seis) anos completos até o dia 31 de março do ano em que ocorrer matrícula, conforme estabelecido pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) no Parecer CNE/CEB nº 22/2009 e Resolução CNE/CEB nº 1/2010. Conforme o Parecer CNE/CEB nº 6/2005, a ampliação do Ensino Fundamental obrigatório a partir dos 6 (seis) anos de idade requer de todas as escolas e de todos os educadores compromisso com a elaboração de um novo projeto político-pedagógico, bem como para o consequente redimensionamento da Educação Infantil. Respeitadas as marcas singulares antropoculturais que as crianças de diferentes contextos adquirem, os objetivos da formação básica, definidos para a Educação Infantil, prolongam-se durante os anos iniciais do Ensino Fundamental, de tal modo que os aspectos físico, afetivo, psicológico, intelectual e social sejam priorizados na sua formação, complementando a ação da família e da comunidade e, ao mesmo tempo, ampliando e intensificando, gradativamente, o processo educativo com qualidade social, mediante: I – o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo; 35 II – foco central na alfabetização, ao longo dos três primeiros anos, conforme estabelece o Parecer CNE/CEB nº4/2008, de 20 de fevereiro de 2008, que apresenta orientação sobre os três anos iniciais do Ensino Fundamental de nove anos; III – a compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da economia, da tecnologia, das artes e da cultura dos direitos humanos e dos valores em que se fundamenta a sociedade; IV – o desenvolvimentoda capacidade de aprendizagem, tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a formação de atitudes e valores; V – o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de solidariedade humana e de respeito recíproco em que se assenta a vida social. Como medidas de caráter operacional, impõe-se a adoção: I – de programa de preparação dos profissionais da educação, particularmente dos gestores, técnicos e professores; II – de trabalho pedagógico desenvolvido por equipes interdisciplinares e multiprofissionais; III – de programas de incentivo ao compromisso dos profissionais da educação com os estudantes e com sua aprendizagem, de tal modo que se tornem sujeitos nesse processo; IV – de projetos desenvolvidos em aliança com a comunidade, cujas atividades colaborem para a superação de conflitos nas escolas, orientados por objetivos claros e tangíveis, além de diferentes estratégias de intervenção; V – de abertura de escolas além do horário regular de aulas, oferecendo aos estudantes local seguro para a prática de atividades esportivo-recreativas e socioculturais, além de reforço escolar; VI – de espaços físicos da escola adequados aos diversos ambientes destinados às várias atividades, entre elas a de experimentação e práticas botânicas; VII – de acessibilidade arquitetônica, nos mobiliários, nos recursos didático- pedagógicos, nas comunicações e informações. Nessa perspectiva, no geral, é tarefa da escola, palco de interações, e, no particular, é responsabilidade do professor, apoiado pelos demais profissionais da educação, criar situações que provoquem nos estudantes a necessidade e o desejo de pesquisar e experimentar situações de aprendizagem como conquista 36 individual e coletiva, a partir do contexto particular e local, em elo com o geral e transnacional. Os componentes curriculares obrigatórios do Ensino Fundamental serão assim organizados em relação às áreas de conhecimento: I – Linguagens: a) Língua Portuguesa b) Língua materna, para populações indígenas c) Língua Estrangeira moderna d) Arte e) Educação Física II – Matemática III – Ciências da Natureza IV – Ciências Humanas: a) História b) Geografia V – Ensino Religioso Os três anos iniciais do Ensino Fundamental devem assegurar: a) a alfabetização e o letramento; b) o desenvolvimento das diversas formas de expressão, incluindo o aprendizado da Língua Portuguesa, a Literatura, a Música e demais artes, a Educação Física, assim como o aprendizado da Matemática, de Ciências, de História e de Geografia; c) a continuidade da aprendizagem, tendo em conta a complexidade do processo de alfabetização e os prejuízos que a repetência pode causar no Ensino Fundamental como um todo, e, particularmente, na passagem do primeiro para o segundo ano de escolaridade e deste para o terceiro. 2.2.3 Ensino Médio O Ensino Médio é a etapa final da Educação Básica, podendo ocorrer, com a duração mínima é de 3 (três) anos, com carga horária mínima total de 2.400 (duas mil e quatrocentas) horas, tendo como referência uma carga horária anual de 800 (oitocentas) horas, distribuídas em pelo menos 200 (duzentos) dias de efetivo trabalho escolar; 37 Os princípios e as finalidades que orientam o Ensino Médio, para adolescentes em idade de 15 (quinze) a 17 (dezessete), preveem, como preparação para a conclusão do processo formativo da Educação Básica: I – a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no Ensino Fundamental, possibilitando o prosseguimento de estudos; II – a preparação básica para o trabalho, tomado este como princípio educativo, e para a cidadania do educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de enfrentar novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores; III – o aprimoramento do estudante como um ser de direitos, pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico; IV – a compreensão dos fundamentos científicos e tecnológicos presentes na sociedade contemporânea, relacionando a teoria com a prática. Deste modo, essa etapa do processo de escolarização se constitui em responsável pela terminalidade do processo formativo do estudante da Educação Básica, e, conjuntamente, pela preparação básica para o trabalho e para a cidadania, e pela prontidão para o exercício da autonomia intelectual. Na perspectiva de reduzir a distância entre as atividades escolares e as práticas sociais, o Ensino Médio deve ter uma base unitária sobre a qual podem se assentar possibilidades diversas: no trabalho, como preparação geral ou, facultativamente, para profissões técnicas; na ciência e na tecnologia, como iniciação científica e tecnológica; nas artes e na cultura, como ampliação da formação cultural. Assim, o currículo do Ensino Médio deve organizar-se de modo a assegurar a integração entre os seus sujeitos, o trabalho, a ciência, a tecnologia e a cultura, tendo o trabalho como princípio educativo, processualmente conduzido desde a Educação Infantil. A organização da base nacional comum e da parte diversificada no currículo do Ensino Médio tem sua base na legislação, que apresentam elementos fundamentais para subsidiar diversos formatos possíveis. Cada escola/rede de ensino pode e deve buscar o diferencial que atenda as necessidades e características sociais, culturais, econômicas e a diversidade e os variados interesses e expectativas dos estudantes, possibilitando formatos diversos na organização curricular do Ensino Médio, garantindo sempre a simultaneidade das dimensões do trabalho, da ciência, da tecnologia e da cultura. 38 A base nacional comum é complementada em cada sistema de ensino e em cada estabelecimento escolar por uma parte diversificada. Esta enriquece aquela, planejada segundo estudo das características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da comunidade escolar, perpassando todos os tempos e espaços curriculares constituintes do Ensino Médio, independentemente do ciclo da vida no qual os sujeitos tenham acesso à escola. Os conteúdos sistematizados que fazem parte do currículo são denominados componentes curriculares, os quais, por sua vez, se articulam com as áreas de conhecimento, a saber: Linguagens, Matemática, Ciências da Natureza e Ciências Humanas. Os componentes definidos pela LDB como obrigatórios são: I – o estudo da Língua Portuguesa e da Matemática, o conhecimento do mundo físico e natural e da realidade social e política, especialmente do Brasil; II – o ensino da Arte, especialmente em suas expressões regionais, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos estudantes, com a Música como seu conteúdo obrigatório, mas não exclusivo; III – a Educação Física, integrada à proposta pedagógica da instituição de ensino, sendo sua prática facultativa ao estudante nos casos previstos em Lei; IV – o ensino da História do Brasil, que leva em conta as contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação do povo brasileiro, especialmente das matrizes indígena, africana e européia; V – o estudo da História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena, no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de educação artística e de literatura e história brasileiras; VI – a Filosofia e a Sociologia em todos os anos do curso; VII – uma língua estrangeira moderna na parte diversificada, escolhida pela comunidade escolar, e uma segunda, em caráter optativo, dentro das disponibilidades da instituição. Em termos operacionais, os componentes curriculares obrigatórios decorrentes da LDB que integram as áreas de conhecimentosão os referentes a: I – Linguagens: a) Língua Portuguesa. b) Língua Materna, para populações indígenas. 39 c) Língua Estrangeira moderna. d) Arte, em suas diferentes linguagens: cênicas, plásticas e, obrigatoriamente, a musical. e) Educação Física. II – Matemática. III – Ciências da Natureza: a) Biologia; b) Física; c) Química. III – Ciências Humanas: a) História; b) Geografia; c) Filosofia; d) Sociologia. Em decorrência de legislação específica, são obrigatórios: I – Língua Espanhola, de oferta obrigatória pelas unidades escolares, embora facultativa para o estudante (Lei nº 11.161/2005). II – Tratados transversal e integradamente, permeando todo o currículo, no âmbito dos demais componentes curriculares: a) a educação alimentar e nutricional (Lei nº 11.947/2009, que dispõe sobre o atendimento da alimentação escolar e do Programa Dinheiro Direto na Escola aos alunos da Educação Básica, altera outras leis e dá outras providências); b) o processo de envelhecimento, o respeito e a valorização do idoso, de forma a eliminar o preconceito e a produzir conhecimentos sobre a matéria (Lei nº 10.741/2003: Estatuto do Idoso); c) a Educação Ambiental (Lei nº 9.795/99: Política Nacional de Educação Ambiental); d) a educação para o trânsito (Lei nº 9.503/97: Código de Trânsito Brasileiro). e) a educação em direitos humanos (Decreto nº 7.037/2009: Programa Nacional de Direitos Humanos – PNDH). 40 Fonte: muitochique.com 2.4 Modalidades da Educação Básica Pode ser compreendida como uma modalidade na medida em que possui um modo próprio de fazer educação nos níveis da Educação Básica e Superior e em sua articulação com outras modalidades educacionais. Na oferta de cada etapa pode corresponder uma ou mais modalidades de ensino: Educação de Jovens e Adultos, Educação Especial, Educação Profissional e Tecnológica, Educação Básica do Campo, Educação Escolar Indígena, Educação Escolar Quilombola e Educação a Distância. 2.3.1 Educação de Jovens e Adultos A instituição da Educação de Jovens e Adultos (EJA) tem sido considerada como instância em que o Brasil procura saldar uma dívida social que tem para com o cidadão que não estudou na idade própria. Destina-se, portanto, aos que se situam na faixa etária superior à considerada própria, no nível de conclusão do Ensino Fundamental e do Ensino Médio. O inciso I do artigo 208 da Constituição Federal determina que o dever do Estado para com a educação será efetivado mediante a garantia de Ensino Fundamental 41 obrigatório e gratuito, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ele não tiverem acesso na idade própria. Este mandamento constitucional é reiterado pela LDB, no inciso I do seu artigo 4º, sendo que, o artigo 37 traduz os fundamentos da EJA ao atribuir ao poder público a responsabilidade de estimular e viabilizar o acesso e a permanência do trabalhador na escola, mediante ações integradas e complementares entre si, mediante oferta de cursos gratuitos aos jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os estudos na idade regular, proporcionando-lhes oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames. Esta responsabilidade deve ser prevista pelos sistemas educativos e por eles deve ser assumida, no âmbito da atuação de cada sistema, observado o regime de colaboração e da ação redistributiva, definidos legalmente Na organização curricular dessa modalidade da Educação Básica, a mesma lei prevê que os sistemas de ensino devem oferecer cursos e exames supletivos, que compreenderão a base nacional comum do currículo, habilitando ao prosseguimento de estudos em caráter regular. Entretanto, prescreve que, preferencialmente, os jovens e adultos tenham a oportunidade de desenvolver a Educação Profissional articulada com a Educação Básica. Cabe a cada sistema de ensino definir a estrutura e a duração dos cursos da Educação de Jovens e Adultos, respeitadas as Diretrizes Curriculares Nacionais, a identidade dessa modalidade de educação e o regime de colaboração entre os entes federativos. Quanto aos exames supletivos, a idade mínima para a inscrição e realização de exames de conclusão do Ensino Fundamental é de 15 (quinze) anos completos, e para os de conclusão do Ensino Médio é a de 18 (dezoito) anos completos. Para a aplicação desses exames, o órgão normativo dos sistemas de educação deve manifestar-se previamente, além de acompanhar os seus resultados. A certificação do conhecimento e das experiências avaliados por meio de exames para verificação de competências e habilidades é objeto de diretrizes específicas a serem emitidas pelo órgão normativo competente, tendo em vista a complexidade, a singularidade e a diversidade contextual dos sujeitos a que se destinam tais exames. 42 2.3.2 Educação Especial A Educação Especial é uma modalidade de ensino transversal a todas etapas e outras modalidades, como parte integrante da educação regular, devendo ser prevista no projeto políticopedagógico da unidade escolar. Os sistemas de ensino devem matricular todos os estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação, cabendo às escolas organizar-se para seu atendimento, garantindo as condições para uma educação de qualidade para todos, devendo considerar suas necessidades educacionais específicas, pautando-se em princípios éticos, políticos e estéticos, para assegurar: I – a dignidade humana e a observância do direito de cada estudante de realizar seus projetos e estudo, de trabalho e de inserção na vida social, com autonomia e independência; II – a busca da identidade própria de cada estudante, o reconhecimento e a valorização das diferenças e potencialidades, o atendimento às necessidades educacionais no processo de ensino e aprendizagem, como base para a constituição e ampliação de valores, atitudes, conhecimentos, habilidades e competências; III – o desenvolvimento para o exercício da cidadania, da capacidade de participação social, política e econômica e sua ampliação, mediante o cumprimento de seus deveres e o usufruto de seus direitos. Na organização desta modalidade, os sistemas de ensino devem observar as seguintes orientações fundamentais: I – o pleno acesso e efetiva participação dos estudantes no ensino regular; II – a oferta do atendimento educacional especializado (AEE); III – a formação de professores para o AEE e para o desenvolvimento de práticas educacionais inclusivas; IV – a participação da comunidade escolar; V – a acessibilidade arquitetônica, nas comunicações e informações, nos mobiliários e equipamentos e nos transportes; VI – a articulação das políticas públicas intersetoriais. 43 2.3.4 Educação Profissional e Tecnológica A EPT na Educação Básica ocorre na oferta de cursos de formação inicial e continuada ou qualificação profissional, e nos de Educação Profissional Técnica de nível médio ou, ainda, na Educação Superior, conforme o § 2º do artigo 39 da LDB: A Educação Profissional e Tecnológica abrangerá os seguintes cursos: I – de formação inicial e continuada ou qualificação profissional; II – de Educação Profissional Técnica de nível médio; III – de Educação Profissional Tecnológica de graduação e pós-graduação. A Educação Profissional Técnica de nível médio, nos termos do artigo 36-B da mesma Lei, é desenvolvida nas seguintes formas: I – articulada